I – INTRODUÇÃO AOS CRISTAIS LÍQUIDOS
No cotidiano temos a noção de que a matéria se apresenta em três estados fundamentais:
sólido, líquido e gasoso [1]. No entanto esta afirmação não corresponde à realidade, tendo
em vista que existem substâncias que, quando são aquecidas a partir da fase sólida, podem
apresentar antes de passarem para a fase líquida, uma ou diversas fases intermediárias
separadas entre si por mudanças bruscas, demarcadas por temperaturas de transição bem
definidas, e portadoras de características dos dois estados extremos. Estas substâncias são
conhecidas como cristais líquidos [2,3].
Geralmente classificamos como “sólido” a tudo que é duro e possui forma própria e
“líquido” ao que escorre e toma a forma do recipiente. De fato esta afirmação serve para
muitas situações praticas, no entanto, do ponto de vista molecular ela apresenta sérias
limitações. As estruturas moleculares do gelo e do vidro são completamente diferentes,
apesar da sua grande dureza. No gelo, as moléculas formam uma estrutura regular e
altamente organizada denominada rede cristalina. Quando aquecida esta imponente
arquitetura vai sendo sacudida cada vez mais pela agitação térmica, até desmoronar-se na
temperatura crítica do zero grau Celsius, ocorrendo então a fusão [1]. Na fase liquida, ao
contrario da fase sólida, as moléculas encontram-se em perpétua agitação e perdem
totalmente a sua organização. No caso do vidro é muito diferente. Apesar de ser uma
substância com certo grau de dureza, do ponto de vista molecular, ele é desorganizado. Sua
estrutura é bem mais parecida com a água do que a do gelo. Esta desordem torna o vidro
um líquido extremamente viscoso [1]. Nos cristais líquidos as moléculas podem apresentar
arranjos estruturais com ordem translacional, orientacional ou ambas [3,4,5]. A
denominação de cristal líquido para essas substâncias está relacionada ao fato de que elas
apresentam simultaneamente propriedades de líquidos (fluidez) e cristais (ordenamento
molecular). Os cristais líquidos apresentam anisotropia óptica, exibindo padrões ópticos
característicos quando colocados entre dois polarizadores cruzados [6].
Os cristais líquidos são classificados em duas categorias de acordo com os parâmetros
principais responsáveis pelas transições de fase: os termotrópicos e os liotrópicos. A história
dos cristais líquidos termotrópicos [2] começa em 1888 com o botânico austríaco Friedrich
Reinitzer (figura 1-a), da Universidade Germânica de Praga. Reinitzer ao estudar
determinados ingredientes vegetais observou que uma substancia conhecida como
benzoato de colesterila apresentava um comportamento enigmático, ou seja, a existência de
dois pontos de fusão distintos e reversíveis ( C
o
145 e C
o
179 ). A C
o
145 o benzoato de
colesterila derretia se transformando em um fluido turvo. Quando aquecida a
C179
o
sofria
uma nova transformação tornando-se uniformemente transparente [3]. Buscando obter
uma maior compreensão a respeito deste fenômeno Reinitzer solicitou ao físico alemão