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Estudo genético da qualidade de carne em
linhagem macho de frangos de corte
LEILA DE GENOVA GAYA
Pirassununga
2006
Universidade de São Paulo
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos
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Estudo genético da qualidade de carne em
linhagem macho de frangos de corte
LEILA DE GENOVA GAYA
Tese apresentada à Faculdade de Zootecnia e
Engenharia de Alimentos da Universidade de
São Paulo, como parte dos requisitos para a
obtenção do Título de Doutor em Zootecnia.
Á
rea de Concentração: Qualidade e
Produtividade Animal
Orientador: Prof. Dr. José Bento Sterman Ferraz
Pirassununga
2006
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FICHA CATALOGRÁFICA
preparada pela
Biblioteca da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São
Paulo
Gaya, Leila de Genova
G285e Estudo genético da qualidade de carne em linhagem macho de
frangos de corte / Leila de Genova Gaya – Pirassununga, 2006.
127 f.
Tese (Doutorado) -- Faculdade de Zootecnia e Engenharia
de Alimentos – Universidade de São Paulo.
Departamento de Ciências Básicas.
Área de Concentração: Qualidade e Produtividade Animal.
Orientador: Prof. Dr. José Bento Sterman Ferraz.
Unitermos: 1. Correlações genéticas 2. Correlações fenotípicas
3. Herdabilidade 4. Parâmetros genéticos I. Título.
Aos meus avós Magdolina e José de Genova (in memorian),
por todo o amor que sempre recebi.
À minha mãe Rosa,
meu porto seguro e meu exemplo de vida.
Ao meu noivo Joca,
que me ensina a ser uma pessoa melhor a cada dia.
Com muito amor,
DEDICO
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. José Bento Sterman Ferraz, de quem recebi a confiança para a
realização deste trabalho, o que levou ao meu amadurecimento pessoal e profissional.
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, pela concessão de
bolsa de Doutorado.
À Agroceres Ross Melhoramento Genético de Aves S.A., pelo apoio ao
desenvolvimento deste estudo.
Aos amigos Elisângela e Gerson, incansáveis na minha ajuda e no meu incentivo.
Ao Tércio e aos Professores Júlio, Albino, Joanir e Paulo Sobral pelo auxílio
técnico e pela estrutura disponibilizada.
Às amigas Rosane, Alessandra, Sandra, Andrezza Felício, Andrezza Marcovig,
Fernanda, Daniele, Rachel, Aline, Erica e Juliane, com quem compartilhei tantos
momentos importantes e inesquecíveis.
Aos formidáveis e indispensáveis estagiários Maria Elisa, Sidnei, André, Luiza,
Natalia, Bruna e Ana Paula.
Aos funcionários do Matadouro-escola da Prefeitura do Campus de
Pirassununga da Universidade de São Paulo, que com muito zelo contribuíram para a
coleta dos dados deste estudo e a quem sou especialmente grata.
A todos os Professores da Faculdade de Zootecnia de Engenharia de Alimentos da
Universidade de São Paulo, que contribuíram para minha formação.
Aos funcionários da Faculdade de Zootecnia de Engenharia de Alimentos da
Universidade de São Paulo, especialmente Aldo, Giovana, Conceição e Mônica, sempre
muito prestativos.
À grande amiga de toda e qualquer hora, Luciana.
Às amigas Marjorie, Mônica, Andréa, Lilian, Kiyumi, Caroline, Eliz, Angelita e
Marilena, que estiveram sempre presentes.
Aos Professores do curso de Zootecnia da UDESC, especialmente Dimas, Edir,
Leandro, Marcio e Gatiboni, que muito me ajudam durante esta nova etapa da minha vida, e
à Professora Maria Luísa pela compreensão durante a fase final de confecção da tese.
À minha monitora Stéfani, que me auxilia com muita dedicação.
A todos que de alguma maneira contribuíram para a realização deste trabalho.
EPÍGRAFE
“Não importa onde você parou, em que momento da vida você cansou,
o que importa é que sempre é possível e necessário recomeçar.
Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo.
É renovar as esperanças na vida, e, o mais importante: acreditar em você de novo.
Sofreu muito nesse período?
Foi aprendizado.
Chorou muito?
Foi limpeza da alma.
Ficou com raiva das pessoas?
Foi para perdoá-las um dia.
Sentiu-se só por diversas vezes?
É por que fechaste a porta até para os anjos.
Acreditou que tudo estava perdido?
Era o início da tua melhora.
(...)
Onde você quer chegar?
Ir alto?
Sonhe alto, queira o melhor do melhor, queira coisas boas para a vida.
Pensamentos assim trazem para nós aquilo que desejamos.
Se pensarmos pequeno, coisas pequenas teremos.
Já se desejarmos fortemente o melhor, e, principalmente lutarmos pelo melhor,
o melhor vai se instalar na nossa vida.
“Porque sou do tamanho daquilo que vejo,
e não do tamanho da minha altura.” Fernando Pessoa
Adaptado de Recomeçar, de Paulo Roberto Gaefke
RESUMO
GAYA, L. G. Estudo genético da qualidade de carne em linhagem macho de frangos de
corte. 2006, 127 f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos,
Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2006.
O presente trabalho teve como objetivo estimar os parâmetros genéticos e fenotípicos
das características de qualidade de carne e de características de desempenho, carcaça e
composição corporal em uma linhagem macho de frangos fornecida pela Agroceres Ross
Melhoramento Genético de Aves S. A. As aves faziam parte do programa denominado sib
test, ou teste de irmãos, aonde são coletadas informações de carcaça dos irmãos dos
indivíduos a serem selecionados na referida linhagem, estes chamados de rebanho elite. As
características de desempenho analisadas foram peso à seleção (PS), peso ao abate (PA) e
medidas de ultra-sonografia de músculo peitoral (US). As características de carcaça
analisadas foram o peso de peito (PPEI), o peso eviscerado (PE) e o peso de pernas (PPER) e
as características de composição corporal analisadas foram o peso da gordura abdominal
(GOR), o peso do fígado (FIG) e o peso do coração (COR). As características de qualidade de
carne analisadas foram: medida de pH inicial (pH
i
), medida de pH em 6 horas após o abate
(pH
6
), medida de pH final (pH
f
), amplitude inicial de queda de pH (AM
i
), amplitude final de
queda de pH (AM
f
), teor de luminosidade (L*), teor de vermelho (a*), teor de amarelo (b*),
perdas de água por exsudação (EXSU), perdas de água por descongelamento (CONG), perdas
de água por cozimento (COZ) e força de cisalhamento (FC). Os componentes de (co)
variância foram estimados por verossimilhança restrita, utilizando-se o programa
MTDFREML. A matriz de parentesco foi composta por 107.154 animais. Para as
características pH
6
, pH
f
e L* foram estimados coeficientes de herdabilidade moderados; para
as demais características estes coeficientes foram baixos. As estimativas de correlações
genéticas obtidas não foram indicativas de associações importantes entre as características de
qualidade de carne e as características de desempenho, carcaça e composição corporal, exceto
pela seleção a favor de PS, que pode reduzir as perdas de água da carne. As estimativas de
correlações genéticas encontradas entre as características de qualidade de carne puderam
contribuir para o entendimento dos mecanismos relacionados à qualidade da carne na
linhagem analisada, de modo que CONG, FC e L* foram características capazes de trazer
respostas correlacionadas favoráveis às demais e em maior ou menor grau apresentarem
capacidade de resposta à seleção, recomendando-se sua utilização como critério de seleção
quando na existência de necessidade de melhoria na qualidade da carne na linhagem estudada.
Contudo, esta necessidade não foi aparente, uma vez que as tendências genéticas das
características de qualidade de carne, além de terem sido de pequena magnitude, foram em
sua maioria favoráveis à qualidade da carne da linhagem analisada.
Palavras-chave: correlações genéticas, correlações fenotípicas, herdabilidade, parâmetros
genéticos, tendências genéticas.
ABSTRACT
GAYA, L. G. Genetic study of meat quality traits in a male broiler line. 2006. 127 f. PhD.
Thesis – Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo,
Pirassununga, 2006.
This research was conducted to estimate genetic and phenotypic parameters of meat
quality, performance, carcass and body composition traits in a male broiler line provided by
Agroceres Ross Melhoramento Genético de Aves S. A. Broilers measured belonged to a sib
test program, in which data from sibs of the individuals to be selected in this line, called elite
flock, are collected. Performance traits analyzed were body weight at selection (PS), body
weight at slaughter (PA) and ultrasound records of pectoral muscle (US). Carcass traits
analyzed were meat breast weight (PPEI), eviscerated body weight (PE) and leg weight
(PPER) and the body composition traits analyzed were abdominal fat weight (GOR), liver
weight (FIG) and heart weight (COR). Meat quality traits analyzed were: initial pH measure
(pH
i
), pH measure at 6 hours after slaughter (pH
6
), final pH measure (pH
f
), initial range of pH
fall (AM
i
), final range of pH fall (AM
f
), lightness (L*), redness (a*), yellowness (b*), weep
losses (EXSU), drip losses (CONG), shrink losses (COZ) and shear force (FC). (Co) variance
components were estimated by restricted maximum likelihood method, using the software
MTDFREML. The numerator relationship matrix was composed by 107.154 individuals. For
pH
6
, pH
f
and L*, moderate heritability coefficients were estimated; for the other traits these
coefficients were low. Genetic correlation estimates obtained indicated a small association
among meat quality traits and performance, carcass and body composition traits, except for
the selection to PS, which seemed to be able to reduce water losses of meat. Genetic
correlations estimates among meat quality traits could orientated the understanding of the
mechanisms related to meat quality in the analyzed line; CONG, FC and L* seemed to be able
to bring favorable correlationed responses, so it was recommended its use as selection
criterion if existing the necessity of improving the meat quality in the analyzed line. However,
this necessity was not apparent, since the genetic trends of meat quality traits were small and
favorable to meat quality in the analyzed broiler line.
Key-words: genetic correlations, genetic parameters, genetic trends, heritability, phenotypic
correlations.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 -
Aferição por ultra-sonografia da profundidade do músculo peitoral, no
sentido longitudinal...................................................................................
53
Figura 2 -
Registro do peso ao abate da ave..............................................................
54
Figura 3 -
Peitos desossados, sem pele......................................................................
55
Figura 4 -
Moela com a gordura aderida....................................................................
55
Figura 5 -
Placa de gordura abdominal (à esquerda) mais gordura removida da
moela.........................................................................................................
55
Figura 6 -
Aferição do pH e da temperatura iniciais da carne...................................
56
Figura 7 -
Registro da cor da carne............................................................................
57
Figura 8 -
Amostras de carne envoltas por malha para posterior determinação das
perdas de água por exsudação...................................................................
58
Figura 9 -
Amostras de carne envoltas por malha e suspensas por sacos plásticos
para determinação das perdas de água por exsudação..............................
58
Figura 10 -
Amostra de carne envolta por malha e suspensa por saco plástico
repleto de ar. Observa-se água proveniente de exsudação da carne ao
fundo do saco plástico, após refrigeração por 24 horas............................
58
Figura 11-
Amostras de carne acondicionadas em sacos plásticos para posterior
congelamento e determinação das perdas de água por
descongelamento.......................................................................................
59
Figura 12 -
Amostras de carne congeladas para determinação das perdas de água
por descongelamento.................................................................................
59
Figura 13 -
Descongelamento das amostras destinadas à determinação das perdas
por descongelamento em refrigerador.......................................................
60
Figura 14 -
Pesagem de amostra de carne descongelada.............................................
60
Figura 15 -
Amostras de carne assando em forno elétrico...........................................
61
Figura 16 -
Amostra de carne depois de assada em forno elétrico. Observa-se água
proveniente de perdas por cozimento ao fundo da bandeja de
alumínio....................................................................................................
61
Figura 17 -
Paralelepípedos retirados das amostras de carne após assadas para
determinação da força de cisalhamento....................................................
62
Figura 18 -
Determinação da força de cisalhamento da carne por lâmina tipo
Warner Bratzler........................................................................................
62
Figura 19 -
Leitura ótica da anilha da ave, a qual contém todas as informações para
sua identificação e de seu pedigree...........................................................
64
Figura 20 -
Equipamentos utilizados para coleta dos dados, que permitiram a
utilização do software desenvolvido para este estudo..............................
64
Figura 21 -
Tela de apresentação do software desenvolvido para coleta dos dados
deste estudo...............................................................................................
65
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 -
Número de observações (N), média (M), desvio-padrão (DP),
coeficiente de variação (CV) e valores mínimo (MIN) e máximo
(MAX) das características analisadas......................................................
72
Tabela 2 -
Classes de idade da mãe à eclosão dos animais testadas como efeito
fixo e sua distribuição no banco de dados................................................
73
Tabela 3 -
Classes de tipos de ração fornecidas aos animais testadas como efeito
fixo e sua distribuição no banco de dados................................................
74
Tabela 4 -
Classes de estação do ano ao abate dos animais testadas como efeito
fixo e sua distribuição no banco de dados................................................
74
Tabela 5 -
Classes de operador testadas como efeito fixo e sua distribuição no
banco de dados.........................................................................................
74
Tabela 6 -
Classes de sexo testadas como efeito fixo e sua distribuição no banco
de dados....................................................................................................
75
Tabela 7 -
Distribuição das idades à seleção testadas como covariável....................
75
Tabela 8 -
Distribuição das idades ao abate testadas como covariável.....................
75
Tabela 9 -
Número de observações (N), média (M), desvio-padrão (DP),
coeficiente de variação (CV) e valores mínimo (MIN) e máximo
(MAX) das medidas de temperatura testadas como covariável...............
75
Tabela 10 -
Número de observações (N), média (M), desvio-padrão (DP),
coeficiente de variação (CV) e valores mínimo (MIN) e máximo
(MAX) do peso inicial de exsudação, do peso inicial de congelamento,
do peso final de congelamento e do peso final de cozimento, testados
como covariáveis.....................................................................................
75
Tabela 11 -
Números de pais e de mães e números de lotes dos animais dos quais
foram coletadas as características analisadas...........................................
79
Tabela 12 -
Componentes de covariância genéticas obtidas através do uso do
programa MTDFREML entre as características de desempenho,
carcaça e composição corporal e as características de qualidade de
carne.........................................................................................................
80
Tabela 13 -
Componentes de variância (na diagonal) e covariância genéticas
(abaixo da diagonal) obtidas através do uso do programa MTDFREML
entre as características de qualidade de carne..........................................
81
Tabela 14 -
Componentes de covariância ambientais obtidas através do uso do
programa MTDFREML entre as características de desempenho,
carcaça e composição corporal e as características de qualidade de
carne.........................................................................................................
81
Tabela 15 -
Componentes de variância (na diagonal) e covariância ambientais
(abaixo da diagonal) obtidas através do uso do programa
MTDFREML entre as características de qualidade de carne..................
82
Tabela 16 -
Componentes de covariância fenotípicas obtidas através do uso do
programa MTDFREML entre as características de desempenho,
carcaça e composição corporal e as características de qualidade de
carne.........................................................................................................
82
Tabela 17 -
Componentes de variância (na diagonal) e covariância fenotípicas
(abaixo da diagonal) obtidas através do uso do programa MTDFREML
entre as características de qualidade de carne..........................................
83
Tabela 18 -
Estimativas de herdabilidade das características de qualidade de carne
e seus respectivos erros-padrão obtidas através do programa
MTDFREML...........................................................................................
84
Tabela 19 -
Estimativas de correlações genéticas entre as características de
qualidade de carne e características de desempenho, carcaça e
composição corporal obtidas através do programa MTDFREML...........
86
Tabela 20 -
Estimativas de correlações fenotípicas entre as características de
qualidade de carne e características de desempenho, carcaça e
composição corporal obtidas através do programa MTDFREML...........
87
Tabela 21 -
Estimativas de correlações genéticas (abaixo da diagonal) e fenotípicas
(acima da diagonal) obtidas através do programa MTDFREML entre
as características de qualidade de carne...................................................
96
Tabela 22 -
Estimativas de tendências genéticas (em valor absoluto e como
percentual em relação à média) para as características de qualidade de
carne.........................................................................................................
111
Tabela 23 -
Estimativas de progresso genético esperado (em valor absoluto e como
percentual em relação à média) para as características de qualidade de
carne.........................................................................................................
113
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AM
i
amplitude inicial de queda de pH
AM
f
amplitude final de queda de pH
b coeficiente de regressão
CONG perdas de água por descongelamento
COR peso do coração
COZ perdas de água por cozimento
CV coeficiente de variação
DP desvio-padrão
EXSU perdas de água por exsudação
FIG peso do fígado
FC força de cisalhamento
g gramas
GOR peso da gordura abdominal
kg quilogramas
M média
MAX valor máximo
MIN valor mínimo
mm milímetros
MTDFREML
multiple trait derivative free restricted maximum likelihood
N número de observações
PA peso ao abate
PE peso eviscerado
PS peso à seleção juvenil
pH potencial hidrogeniônico
pH
i
pH inicial
pH
6
pH em 6 horas após o abate
pH
f
pH final
PPEI peso do peito
PPER peso de pernas
PROC GLM procedimento general linear models
PROC REG procedimento regression analysis
PROC VARCOMP procedimento variance components
REML
restricted maximum likelihood
SAS
Statistical Analysis System
US medida de ultra-sonografia de profundidade de músculo peitoral
LISTA DE SÍMBOLOS
L* L* – teor de luminosidade
a* a* – teor de vermelho
b* b* – teor de amarelo
°C °C – graus Celsius
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 20
2 REVISÃO DE LITERATURA...................................................................................... 22
2.1 Características de qualidade de carne............................................................................ 23
2.1.1 Cor............................................................................................................................... 23
2.1.2 Capacidade de retenção de água.................................................................................. 24
2.1.3 Maciez......................................................................................................................... 25
2.2 Transformação do músculo em carne............................................................................. 25
2.3 A carne PSE.................................................................................................................... 27
2.4 Fatores não-genéticos que influenciam a condição PSE................................................ 31
2.5 A carne DFD................................................................................................................... 33
2.6 Efeitos da seleção na qualidade da carne........................................................................ 33
2.7 Estimativas de herdabilidade das características de qualidade de carne........................ 35
2.7.1 pH................................................................................................................................ 36
2.7.2 Parâmetros de cor........................................................................................................ 36
2.7.3 Perdas de água por exsudação..................................................................................... 36
2.8 Estimativas de correlações entre características de qualidade de carne e
características de desempenho, carcaça e composição corporal...........................................
37
2.8.1 pH e características de desempenho e carcaça............................................................ 37
2.8.2 Luminosidade e características de desempenho e carcaça.......................................... 38
2.8.3 Teor de vermelho e características de desempenho e carcaça..................................... 39
2.8.4 Teor de amarelo e características de desempenho e carcaça....................................... 39
2.8.5 Perdas de água por exsudação e características de desempenho e carcaça................. 40
2.8.6 pH e peso da gordura abdominal................................................................................. 40
2.8.7 Parâmetros de cor e peso da gordura abdominal......................................................... 40
2.8.8 Perdas de água por exsudação e peso da gordura abdominal...................................... 41
2.9 Estimativas de correlações entre as características de qualidade de carne..................... 41
2.9.1 pH e luminosidade....................................................................................................... 41
2.9.2 pH e teor de vermelho................................................................................................. 42
2.9.3 pH e teor de amarelo.................................................................................................... 43
2.9.4 pH e perdas de água por exsudação............................................................................. 44
2.9.5 pH e perdas de água por cozimento............................................................................. 45
2.9.6 pH e força de cisalhamento......................................................................................... 45
2.9.7 Perdas de água por exsudação e parâmetros de cor..................................................... 45
2.9.8 Perdas de água por cozimento e parâmetros de cor..................................................... 46
2.9.9 Parâmetros de cor e força de cisalhamento................................................................. 46
2.9.10 pH e pH...................................................................................................................... 46
2.9.11 Parâmetros de cor e parâmetros de cor...................................................................... 47
2.10 Tendência genética....................................................................................................... 48
2.11 Considerações sobre a seleção para características de qualidade de carne.................. 48
3 HIPÓTESES
50
4 OBJETIVOS.................................................................................................................... 51
5 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................................ 52
5.1 Coleta dos dados............................................................................................................ 52
5.2 Controle de pedigree e automatização do sistema......................................................... 63
5.3 Realização das análises genéticas.................................................................................. 65
5.3.1 Manipulação dos dados e análises estatísticas preliminares....................................... 65
5.3.2 Metodologia de análise............................................................................................... 66
5.3.3 Efeitos fixos e covariáveis testados............................................................................ 68
5.3.4 Estimativas de correlações fenotípicas....................................................................... 71
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................... 72
6.1 Manipulação do banco de dados.................................................................................... 72
6.2 Estatística descritiva....................................................................................................... 72
6.3 Formação de grupos de contemporâneos e análise de covariáveis................................ 73
6.4 Análises genéticas.......................................................................................................... 79
6.4.1 Componentes de (co) variância................................................................................... 80
6.4.2 Estimativas de herdabilidade...................................................................................... 83
6.4.3 Estimativas de correlações entre as características de qualidade de carne e
características de desempenho, carcaça e composição corporal..........................................
86
6.4.4 Estimativas de correlações entre as características de qualidade de carne................. 95
6.4.5 Tendências genéticas das características de qualidade de carne................................. 110
6.4.6 Análise do potencial seletivo das características de qualidade de carne..................... 112
6.4.7 Análise das respostas correlacionadas das características recomendadas para
seleção..................................................................................................................................
115
7 CONCLUSÕES............................................................................................................... 119
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 121
- 20 -
1 INTRODUÇÃO
O Brasil é o terceiro maior produtor de carne de frango do mundo, sendo o primeiro
exportador mundial de carne de frango. A avicultura é a atividade da pecuária que apresentou
os maiores índices de evolução nas últimas décadas. Essa evolução é decorrente,
principalmente, do intenso processo de seleção realizado desde os primórdios do uso do
cruzamento entre raças. A escassez de alimentos, durante e após a segunda guerra mundial,
fez da avicultura brasileira e mundial um negócio bastante atraente. Nesse contexto, a procura
por um produto destinado ao corte aumentou, e a partir de então até os dias atuais tem havido
um intenso processo de seleção e cruzamentos.
Cada vez mais esse processo de seleção se aprimorou, resultando na descaracterização
das raças e originando linhagens específicas, com características próprias. As aves destinadas
à produção de carne, conhecidas como frangos de corte, foram selecionadas principalmente
para características de desempenho, o que proporcionou avanços na taxa de crescimento dos
animais. Contudo, a seleção intensa para essas características pode ter levado também a
alterações nos atributos de qualidade da carne.
A qualidade da carne tem sido reconhecida como um dos principais aspectos a serem
considerados pela indústria da carne de frango atual, pois tem representado muitas perdas para
a indústria processadora, além de interferir diretamente na escolha e na compra da carne pelo
consumidor.
Os parâmetros genéticos (herdabilidade e correlações genéticas) das características
utilizadas em programas de seleção em uma linhagem macho de frango de corte têm como
objetivo orientar, conduzir e até avaliar a eficiência da seleção empregada nas gerações que
compuseram essa linhagem, e se essa seleção está sendo adequada às exigências atuais do
mercado e da indústria. Além disto, estimativas de parâmetros genéticos em frangos de corte
- 21 -
raramente são descritas na literatura científica pertinente, especialmente no que diz respeito às
características de qualidade de carne, o que torna ainda mais importantes as determinações e o
monitoramento desses itens num programa de seleção.
Desta forma, os objetivos deste trabalho foram estimar os parâmetros genéticos
(herdabilidade e correlações genéticas) e fenotípicos (correlações fenotípicas) das
características de qualidade de carne e de características de desempenho, carcaça e
composição corporal em uma linhagem macho de frango de corte, bem como estimar as
tendências genéticas das características de qualidade de carne nesta linhagem. Desta forma,
ter-se-á:
- a caracterização da qualidade da carne nesta linhagem de frangos de corte através do
estudo da relação entre estas características;
- a identificação de critérios de seleção relacionados à qualidade da carne;
- a identificação de associações entre a composição corporal das aves e as características
de qualidade de carne.
- 22 -
2 REVISÃO DE LITERATURA
O Brasil é o terceiro maior produtor de carne de frango do mundo com cerca de 9,2
milhões de toneladas produzidas (ABEF, 2006), sendo o primeiro exportador mundial de
carne de frango com 1,7 milhão de tonelada exportada (AVISITE, 2006). A avicultura é a
atividade agropecuária que apresentou os maiores índices de evolução nos últimos anos, e,
segundo Campos e Pereira (1999) os pilares do desenvolvimento avícola estão sustentados na
utilização de genética avançada.
No caso da indústria de frangos de corte, as mudanças de mercado são bastante
comuns, o que requer uma melhoria contínua no esquema e nas ferramentas dos programas de
melhoramento genético (YANG et al., 1999). A genética deve buscar aves compatíveis com
as exigências altamente competitivas dos mercados produtivo, industrial e consumidor
(CAMPOS e PEREIRA, 1999). Até recentemente, o foco para seleção era apenas na taxa de
crescimento, todavia, de acordo com Park et al. (2002), as características relacionadas à
qualidade da carne vêm tendo crescente importância tanto para a indústria processadora como
para os consumidores. Presume-se, inclusive, que a intensa seleção a favor do de critério de
crescimento levou a problemas relacionados à qualidade da carne destes animais
(DRANSFIELD; SOSNICKI, 1999), além de um aumento na deposição de gordura nos
frangos (KESSLER; SNIZEK JUNIOR; BRUGALLI, 2000; GAYA et al., 2005; GAYA et
al., 2006) e a alterações nos órgãos e na fisiologia das aves (RANCE; McENTEE;
McDEVITT, 2002; GAYA et al., 2006), determinando que estas características passassem a
ser consideradas como objeto de estudo nos programas de melhoramento genético.
A carne utilizada em produtos processados deve possuir propriedades funcionais
excelentes, com padrões de qualidade estáveis, que garantam um produto final de boa
qualidade e rentabilidade, além de visar à satisfação e à segurança do consumidor (BARBUT,
- 23 -
1993; BRESSAN, 1998). As propriedades sensoriais da carne possuem importante influência
na decisão de compra pelos consumidores e na sua aceitação, entretanto, segundo Dirinck et
al. (1996), um dos maiores desafios para a indústria de carnes é oferecer produtos macios,
suculentos e com cor e sabor agradáveis.
Segundo Anthony (1998) o progresso genético alcançado para a taxa de crescimento
dos frangos tem resultado em uma redução na qualidade da carne e, de acordo com Sams
(1999), não é interessante incrementar a deposição muscular das aves se esta for de pouca
qualidade.
Os principais atributos avaliados na carne para determinar sua qualidade são cor,
capacidade de retenção de água e maciez.
2.1 Características de qualidade de carne
2.1.1 Cor
A cor é um dos fatores mais importantes na percepção do consumidor quanto à
qualidade da carne, pois é uma característica que influencia tanto a escolha inicial do produto
pelo consumidor como a aceitação no momento do consumo (FLETCHER, 1999), visto que,
de acordo com Anadón (2002), as pessoas a relacionam com o frescor e à qualidade do
produto como um todo.
De acordo com Olivo, Guarnieri e Shimokomaki (2001), a cor observada na superfície
das carnes é o resultado da absorção seletiva da luz pela mioglobina e por outros importantes
componentes presentes, como as fibras musculares e suas proteínas, sendo também
influenciada pela quantidade de líquido livre presente na carne. Segundo os mesmos autores, a
carne é um complexo sistema ótico, mas a mioglobina é considerada o seu principal agente de
cor, sendo a intensidade da cor vermelha diretamente relacionada com o teor de mioglobina
- 24 -
da carne, embora, de acordo com Le Bihan-Duval, Millet e Rémignon (1999) a mioglobina
esteja em pequena quantidade em fibras glicolíticas, predominantes no músculo do peito dos
frangos.
Os parâmetros utilizados para avaliação da cor da carne segundo o Sistema CIELab
consistem em luminosidade (L*), teor de vermelho (a*) e teor de amarelo (b*). O valor L*
representa a luminosidade (eixo perpendicular), o qual varia de zero a 100, sendo zero o preto
e 100 o branco. O valor a* representa a faixa de cor no eixo da horizontal, variando do verde
(-60) para o vermelho (+60). O valor b* trata-se do eixo vertical, o qual varia do azul (-60) ao
amarelo (+60). L* é o principal parâmetro determinante da análise da cor da carne em aves.
Para carne de frango e peru, a faixa ideal de luminosidade está em torno do valor 50 (OLIVO;
GUARNIERI; SHIMOKOMAKI, 2001). Todavia, segundo Fletcher (1999) existe uma ampla
variação da cor da carne na produção comercial de frangos.
2.1.2 Capacidade de retenção de água
A capacidade de retenção de água é um termo originalmente usado para descrever a
capacidade do músculo e dos produtos cárneos em manter a água ligada a si (FENNEMA,
1990). A água no músculo é retida em sua maior parte intracelularmente, mas também entre
as miofibrilas (OFFER; KNIGHT, 1988). A fixação da água pelas proteínas musculares
acontece de várias formas: água ligada quimicamente aos grupos polares dos aminoácidos das
cadeias miofibrilares, água atraída pelos grupos hidrófilos de proteínas presentes na estrutura
muscular e ainda moléculas de água que podem ser imobilizadas pela configuração protéica,
mas não se ligam diretamente a ela (LAWRIE, 1991). A capacidade de retenção de água está
entre as propriedades funcionais mais importantes da carne (ANADÓN, 2002), pois influencia
seu aspecto, sua palatabilidade e está diretamente relacionada às suas perdas de água antes e
- 25 -
durante o cozimento (BRESSAN, 1998), além de interferir diretamente na qualidade dos
produtos processados (BARBUT, 1993).
Os métodos de referência para determinar a capacidade de retenção de água da carne
indicados por Honikel (1998) consistem nas perdas de água por exsudação da carne crua e as
perdas de água durante o cozimento.
2.1.3 Maciez
A maciez é outro fator bastante importante na percepção do consumidor quanto à
qualidade da carne (BRESSAN, 1998; LI; TAN; SHATADAL, 2001). A maciez da carne está
intimamente relacionada à quantidade de água intramuscular e, portanto, à capacidade de
retenção de água da carne, de modo que quanto maior o conteúdo de água no músculo, maior
a maciez da carne (ANADÓN, 2002). Além disso, a maciez da carne em aves parece estar
relacionada também a fatores como variações de voltagem do atordoamento por choque
elétrico (PAPINAHO; FLETCHER, 1995) e temperatura de resfriamento das carcaças
(BILGILI; EGBERT; HOFFMAN, 1989; DUNN; KILPATRICK; GAULT, 1995). A maciez
da carne pode ser determinada através de sua força de cisalhamento (BRESSAN, 1998).
2.2 Transformação do músculo em carne
O processo de conversão do músculo esquelético em carne é complexo e envolve
modificações metabólicas, físicas e estruturais (KUBOTA; OLIVO; SHIMOKOMAKI,
1993). Segundo Sams (1999), embora o animal morra em questão de minutos após a sangria,
suas células continuam a metabolizar e a responder por horas após a cessão da respiração e a
morte cerebral. Durante este período, as células musculares continuam a utilizar a respiração
aeróbica para produzir e consumir ATP (adenosina trifosfato), o qual funciona como
transportador de energia para as atividades celulares básicas. Quando acaba o oxigênio
- 26 -
celular, a célula passa a depender apenas do metabolismo anaeróbico (glicólise) para a
produção de suas necessidades de ATP (LAWRIE, 1991), utilizando-se das reservas de
glicogênio muscular (VIEIRA, 1999). Assim, o músculo mantém a capacidade de contrair e
relaxar (VIEIRA, 1999). De acordo com Sams (1999), o glicogênio é convertido em ácido
lático, produto final do metabolismo anaeróbico, que se acumula devido à falta de fluxo
sanguíneo para removê-lo, o que segundo Vieira (1999), reduz o pH original que é de cerca de
7,4 para 5,6, quando se estabiliza. Desta forma, a glicólise é inibida e a produção de ATP
cessa. O músculo passa, então, a perder a capacidade de relaxamento, ficando em permanente
contração entre actina e miosina (complexo actomiosina), no que se chama de rigor mortis
propriamente dito, até que outros processos enzimáticos sejam iniciados. Segundo Dransfield
e Sosnicki (1999), a instalação do rigor mortis em frangos leva cerca de 1 hora, entretanto a
velocidade de queda de pH pode variar entre linhagens e indivíduos. Tipicamente valores de
pH aferidos em 15 minutos após o abate variam de 6,2 a 6,6 em aves (DRANSFIELD;
SOSNICKI, 1999).
Em aves são descritos principalmente três tipos de fibras musculares: βR, o qual é
vermelho, de contração lenta e mais adaptado ao metabolismo oxidativo, αW, o qual é branco,
de contração rápida e mais adaptado ao metabolismo glicolítico e αR, o qual é vermelho, de
contração rápida e adaptado aos dois tipos de metabolismo. Em frangos, o tipo predominante
de fibras musculares é o αW, o qual possui alta capacidade de estoque de glicogênio (ADDIS,
1986).
Após a instalação do rigor mortis, ocorre a degradação de proteínas responsáveis pela
estrutura miofibrilar por um sistema enzimático proteolítico dependente de cálcio, composto
pela enzima calpaína e seu inibidor calpastatina, liberando a tensão muscular e levando ao
aumento da maciez da carne (VIEIRA, 1999).
- 27 -
2.3 A carne PSE
Segundo Dirinck et al. (1996), um dos maiores problemas enfrentados pela indústria
processadora é a questão da carne PSE, cujo termo tem origem nas iniciais das palavras
inglesas pale, soft e exudative, que significam carne pálida, flácida e exsudativa. O fenômeno
PSE é prognosticado pela presença de alterações nas características relacionadas à qualidade
da carne, como cor, capacidade de retenção de água e força de cisalhamento. Froning, Babji e
Mather (1978) foram os primeiros a descrever a condição PSE em aves, todavia, de acordo
com Le Bihan-Duval et al. (2003), os mecanismos fundamentais deste fenômeno ainda não
foram bem elucidados em frangos, para os quais a denominação PSE é aplicada por analogia
com a síndrome PSE dos suínos, já bastante estudada. Entretanto, segundo Vieira (1999)
alguns autores acreditam que este problema em aves não possua as mesmas causas que em
suínos, sendo chamado por eles de PSE aparente. De acordo com Oda et al. (2004), em
suínos, a ocorrência do PSE está relacionada com o funcionamento de uma proteína
reguladora da liberação do cálcio do retículo sarcoplasmático para o sarcoplasma, o receptor
rianodina. Uma mutação de ponto na seqüência de DNA que codifica a proteína receptora da
rianodina tipo 1 (RYR1) foi encontrada, sugerindo que falhas no funcionamento do canal de
cálcio possam levar ao aparecimento do PSE. A participação da proteína RYR na ocorrência
de carne PSE em aves ainda não está comprovada, mas sua existência foi reportada
recentemente em perus e frangos (STRASBURG; CHIANG, 2003), o que pode sugerir uma
influência semelhante à que ocorre em suínos. Desta forma, pode existir um fator genético
importante no desenvolvimento da condição PSE da carne das aves.
De acordo com Solomon, Van Laack e Eastridge (1998), a predominância de fibras
brancas (αW) nos músculos do peito é outro fator que pode estar relacionado à condição da
qualidade da carne de aves, pois estas fibras possuem um metabolismo principalmente
anaeróbico/glicolítico, favorecendo a glicólise post-mortem. As fibras brancas possuem alta
- 28 -
velocidade de contração, queimam ATP rapidamente e são mais adaptadas a atividades de
curta duração Além disto, segundo os mesmos autores, estas fibras possuem menor
vascularização, o que limita seu suporte sangüíneo, pois é através do sangue que as células
retiram energia e são removidos os produtos do metabolismo celular, como o lactato, o que
aumenta o risco de acidose celular.
A carne PSE apresenta as propriedades funcionais comprometidas face à rápida
glicólise post mortem (WISMER-PEDERSEN, 1959), a qual acelera a queda de pH muscular
enquanto a temperatura da carcaça ainda está alta (BARBUT, 1997; FERNANDEZ et al.,
2002). A combinação destas duas variáveis pode levar à desnaturação de proteínas musculares
(MOLETTE; RÉMIGNON; BABILE, 2003). Segundo Dransfield e Sosnicki (1999), com
relação à temperatura da carcaça durante o declínio de pH, um aumento de 10ºC aumenta a
desnaturação de proteínas musculares em 20 vezes. De acordo com os mesmos autores, tende-
se a obter uma carne sem defeitos relacionados à condição PSE estando a temperatura da
carcaça com cerca de 10ºC enquanto o pH da carne estiver em torno de 6,2. Segundo Sosnicki
et al. (1998), a condição PSE poderá ser encontrada quando o pH da carne estiver abaixo de
5,8 e sua temperatura maior que 35ºC. Segundo Artega e Nakai (1992), a miosina encontrada
nos músculos das aves é mais sensível à temperatura do que a de mamíferos.
O problema PSE em frangos provavelmente não é novo, entretanto o mercado
competitivo e o aumento da demanda de produtos processados levaram à maior atenção da
indústria aos aspectos do processamento e à qualidade da matéria-prima (BARBUT, 1998).
Além de interferir na qualidade dos produtos processados, de acordo com Barbut (1997) e
Lara et al. (2002), a carne PSE interfere na apresentação do produto ao consumidor. A cor é
um dos fatores mais importantes na apreciação do consumidor quanto à qualidade da carne e,
segundo Anadón (2002), a cor da carne depende principalmente de sua estrutura muscular. De
acordo com este autor, a dispersão de luz de uma superfície muscular é diretamente
- 29 -
proporcional à sua quantidade de desnaturação protéica, o que, segundo Lawrie (1991) e Le
Bihan-Duval et al. (2003), interfere na aparência física da carne, influenciando a quantidade
de luz que lhe é refletida. Segundo Olivo, Guarnieri e Shimokomaki (2001), quanto maior o
grau de desnaturação protéica, menos luz é transmitida através das fibras e mais luz acaba
sendo dispersa, o que leva à palidez da carne. De acordo com Le Bihan-Duval, Millet e
Rémignon (1999) valores de L* acima de 50 tendem à tonalidade pálida, o que é indicativo de
carne com baixo pH (abaixo de 5,6), fatores característicos da condição PSE. Já valores de L*
abaixo de 50 representam luminosidade escura, indicativo de carne com pH elevado (acima de
5,9). Além da condição PSE, segundo Boulianne e King (1998), a palidez da carne em frangos
está relacionada também com menores concentrações de mioglobina e ferro.
Segundo Offer e Knight (1988), o pH também influencia a capacidade de retenção de
água da carne, pois o declínio de pH post mortem altera a composição celular e extracelular
das fibras musculares (OFFER; KNIGHT, 1988), resultando em redução de grupos reativos
disponíveis para reter água nas proteínas musculares (WISMER-PEDERSEN, 1986). Segundo
Fletcher (1999), a ocorrência de PSE está relacionada com acúmulo excessivo de fluido em
carnes embaladas, devido à sua menor capacidade de retenção de água, o que diminui a
aceitação do produto pelo consumidor. O comprometimento das propriedades funcionais da
carne PSE pode resultar em produtos industrializados defeituosos e de pequeno rendimento
(LARA et al., 2002), devido à liberação de exsudato, o que interfere na padronização durante
a industrialização (BARBUT, 1997; 1998). Desta forma, segundo Fernandez et al. (2002), o
rendimento após o processamento da carne é altamente relacionado com a velocidade da
queda de pH post mortem, de modo que uma diferença de uma unidade a menos no pH
aferido aos 20 minutos post mortem corresponde a cerca de 2% a menos no rendimento após o
processamento da carne.
- 30 -
A capacidade de retenção de água da carne, por sua vez, exerce grande influência na
maciez da carne (BRESSAN, 1998), já que na carne PSE a capacidade de retenção de água é
menor, e quanto menor a quantidade de água no músculo, menor a maciez da carne
(ANADÓN, 2002).
Molette, Rémignon e Babile (2003) desenvolveram um estudo com dois grupos de
perus: um com glicólise post mortem considerada normal e outro grupo com glicólise post
mortem rápida. Quanto maior a velocidade de queda de pH, menor a maciez e a capacidade de
retenção de água da carne. Entretanto a cor da carne não diferiu entre os dois grupos; ainda
assim, estas alterações foram consideradas pelos autores similares às do PSE. Em outros
estudos encontraram-se também maiores perdas por cozimento (McKEE; SAMS, 1998) e
menor rendimento após o processamento (PIETRZAK; GREASER; SOSNICKI, 1997;
RATHGEBER; BOLES; SHAND, 1999) da carne para animais de rápida glicólise post
mortem em comparação a indivíduos considerados com glicólise normal. McKee e Sams
(1998) também reportaram a condição PSE resultante de acelerado rigor mortis associado a
altas temperaturas da carcaça em perus.
De acordo com Dransfield e Sosnicki (1999), a carne PSE possui também menor
potencial proteolítico post mortem, o que diminui a maciez da carne. O rápido declínio de pH
a altas temperaturas da carcaça inativa o sistema calpaína e reduz o amaciamento post mortem
da carne.
O fenômeno PSE, portanto, é prognosticado pela combinação de análises de pH, cor e
capacidade de retenção de água nos músculos do peito (SWATLAND, 1995; QUEIRÓZ et
al., 2005). De acordo com Lara et al. (2002) o fenômeno PSE pode ser detectado pela
combinação dos valores de pH (abaixo de 5,8) e cor (valor L* acima de 52,0) aferidos em 24
horas após o abate.
- 31 -
De acordo com Oda et al. (2003) a incidência de carne PSE no Brasil é de cerca de
22%. Considerando-se que a condição PSE determina uma redução média no rendimento da
carne de 1,5%, o prejuízo anual estimado devido a este problema estaria em torno de 12 mil
toneladas de carne, o que representa aproximadamente US$ 9 milhões por ano.
2.4 Fatores não-genéticos que influenciam a condição PSE
O estresse é descrito como um fator desencadeante do processo que leva à carne PSE
(OLIVO, 1999; McKEE; SAMS, 1998). De acordo com McKee e Sams (1998), Anadón
(2002), Oda et al. (2004), o estresse pode ser resultante tanto do manejo como do calor aos
quais as aves são submetidas antes do abate, e leva à condição PSE por provocar uma maior
taxa de metabolismo post mortem e aceleração da glicólise. A estação do ano durante o
crescimento das aves ou ao abate é um fator que parece levar ao desenvolvimento da condição
PSE da carne, segundo Barbut (1998). De acordo com McKee, Hargis e Sams (1998) e
Sosnicki et al. (1998), a seleção para rápido crescimento aplicada às aves de corte pode ter
aumentado a suscetibilidade destes animais ao estresse. Segundo Olivo, Guarnieri e
Shimokomaki (2001) o tempo e a temperatura de escaldagem também podem influenciar na
diminuição do pH e na desnaturação protéica da carne.
Segundo Sams (1999), o atordoamento é um fator ante mortem que pode trazer efeitos
importantes na qualidade da carne. Segundo este autor, a agitação do animal no momento da
sangria acelera o desenvolvimento do rigor mortis, sendo que o atordoamento elétrico pode
prevenir esta agitação. O efeito do atordoamento elétrico na qualidade da carne e os danos
causados por ele à carcaça dependem das condições elétricas utilizadas, sendo que altas
voltagens (150 Volts, 125 miliamperes por ave) produzem maiores danos à carcaça do que
baixas voltagens (15 a 60 Volts, 10 a 45 miliamperes por ave), segundo Papinaho e Fletcher
(1995).
- 32 -
Usualmente, segundo Sams (1999), as carcaças de frangos são resfriadas por imersão
em temperaturas abaixo de 4ºC dentro de uma hora e meia após a morte. De acordo com este
autor, o resfriamento rápido tem como objetivo reduzir o crescimento microbiano e também
aumentar a firmeza dos músculos, facilitando a desossa. Entretanto, a exposição a baixas
temperaturas quando o ATP ainda está presente na célula muscular tende a deixar a carne
mais dura, num fenômeno conhecido como cold shortening, no qual, a baixas temperaturas, a
membrana do retículo sarcoplasmático se torna menos eficiente em seqüestrar Ca
2+
e o
permite vazar para o espaço miofibrilar. Se o ATP está presente, o Ca
2+
inicia o ciclo de
contração muscular (Sams, 1999). Embora o músculo dos frangos seja composto
principalmente por fibras brancas, que são menos suscetíveis ao cold shortening do que as
vermelhas (SMITH et al., 1993), há relatos de cold shortening em frangos (BILGILI;
EGBERT; HOFFMAN, 1989; DUNN; KILPATRICK; GAULT, 1995). Segundo Vieira
(1999), como as reações bioquímicas têm velocidade reduzida a baixas temperaturas, o
resfriamento rápido imediatamente após o abate também pode levar à redução na velocidade
dos processos de amaciamento post mortem da carne. Por outro lado, McKee e Sams (1998) e
Rathgeber, Boles e Shand (1999) e recomendam um rápido resfriamento nas carcaças das
aves, pois assim haveria uma desaceleração do metabolismo celular e conseqüentemente da
glicólise post-mortem no músculo. Estes autores encontraram menores palidez e perdas por
cozimento da carne submetida ao resfriamento rápido em comparação à carne submetida ao
resfriamento lento.
De acordo com Sams (1999), outro fator que pode causar alterações na qualidade da
carne é a desossa. Recomenda-se estocar carcaças inteiras a temperaturas inferiores a 4ºC por
pelo menos quatro horas antes da desossa, caso contrário a manipulação da carcaça irá causar
o endurecimento da carne, devido à estimulação do músculo antes da finalização do rigor
mortis (ZOCCHI; SAMS, 1999).
- 33 -
Segundo Le Bihan-Duval et al. (2003), quando as condições experimentais são
padronizadas, garantindo a consistência das mensurações, controlam-se os fatores externos
que desencadeiam a expressão dos defeitos relacionados ao fenômeno PSE, ajudando a
identificar os fatores genéticos dos atributos de qualidade de carne e a estabelecer as
estratégias para selecionar as aves para estas características.
2.5 A carne DFD
O fenômeno DFD (do inglês dark, firm, dry, que significa carne escura, dura e seca)
também é prognosticado pela presença de alterações nas características relacionadas à
qualidade da carne, como cor, capacidade de retenção de água e força de cisalhamento. A
condição DFD ocorre devido à baixa concentração de glicogênio no momento do abate,
conduzindo a uma glicólise lenta com pouca formação de ácido lático e, conseqüentemente,
com pH final mais elevado. Sua incidência depende essencialmente de condições de manejo
pré-abate (baixas temperaturas ambientais, privação de ração, tempo de transporte, etc.), que
levam à baixa concentração de glicogênio muscular. Desta forma, a carne DFD tem suas
proteínas miofibrilares com sua capacidade de reter água potencializada, de modo que a
superfície da carne se torna seca e a presença da água intracelular traz como conseqüência um
aspecto avermelhado. Os filés de frango com a condição DFD tendem a apresentar menor
perda de água após o cozimento que filés normais ou PSE (ODA et al., 2003).
2.6 Efeitos da seleção na qualidade da carne
Segundo Dransfield e Sosnicki (1999) os problemas que vêm ocorrendo com a
qualidade da carne de aves estão relacionados com a seleção destes animais para rápido
crescimento, entretanto, os resultados encontrados na literatura muitas vezes divergem a este
respeito. Le Bihan-Duval, Millet e Rémignon (1999) sugeriram uma relação entre a seleção
- 34 -
para as características de desempenho que vem sendo empregada e a qualidade da carne em
frangos. Estes autores utilizaram aves de linhagem selecionada para o peso vivo e o peso do
peito e as compararam com aves de linhagem não-selecionada, encontrando que a capacidade
de retenção de água foi maior em aves selecionadas para maior peso de peito, mas que, no
entanto, a seleção para o peso vivo e para o peso de peito resultou em maior palidez da carne.
Santé et al. (1991) encontraram um rápido declínio de pH em carne de perus selecionados
para alto desempenho, com velocidade de queda de pH 1,4 vezes maior nestes animais do que
em animais controle. Segundo Debut et al. (2003) aves selecionadas para alta taxa de
crescimento tiveram maior velocidade de queda de pH post mortem e carne mais pálida,
contudo a carne destas aves apresentou menores perdas de água por exsudação e maiores
rendimentos após o processamento. Segundo Fernandez et al. (2001), a velocidade e a
amplitude da queda de pH post mortem não foram afetadas pela seleção para alta taxa de
crescimento. Entretanto, de acordo com estes autores, em 24 horas post mortem, aves
selecionadas para alta taxa de crescimento apresentaram carne mais pálida, mas menores
perdas de água por exsudação e por cozimento e menor força de cisalhamento. De acordo com
Berri et al. (2001), a seleção para maiores peso vivo e peso de peito e menor deposição de
gordura abdominal resultou em maior teor de proteína, e menores teores de umidade e
mioglobina no músculo do peito dos frangos. Segundo estes autores, aves selecionadas
exibiram menores perdas de água por exsudação e apresentaram menor velocidade e
amplitude de queda de pH post mortem. Entretanto, a carne do peito destas aves foi mais
pálida, com menor teor de vermelho e de amarelo do que aves não-selecionadas, condizendo
com os menores teores de mioglobina encontrados no músculo destes animais. Segundo
Dransfield e Sosnicki (1999), a seleção para altas taxas de crescimento pode influenciar na
velocidade e na amplitude da queda do pH e conseqüentemente no desenvolvimento do rigor
mortis. Segundo Santé et al. (1995), em perus selecionados para alta taxa de crescimento a
- 35 -
velocidade de declínio de pH foi cerca de 0,04 unidade por minuto, duas vezes a velocidade
de aves não selecionadas. Entretanto, de acordo com Rémignon, Desrosiers e Marche (1996),
não foram observadas diferenças na qualidade em termos de pH, cor e perdas de água por
exsudação em aves selecionadas a favor do peso do peito quando comparadas com aves não-
selecionadas.
De acordo com Rémignon et al. (1995), as características das fibras musculares podem
ser alteradas devido à seleção dos animais para alta taxa de crescimento. Aves selecionadas
para alta taxa de crescimento possuíram fibras musculares maiores e em maior número do que
aves não selecionadas, entretanto a proporção de tipos de fibras musculares não se alterou
entre estes animais (RÉMIGNON et al., 1995; SANTIAGO, 2001). Segundo Dransfield e
Sosnicki (1999) a seleção para maiores taxas de crescimento pode resultar em maior diâmetro
das fibras musculares, mas também em maior proporção de fibras glicolíticas no músculo do
peito, assim como no estudo de Klosowska, Rosinski e Elminowska-Wenda (1993), aonde
gansos selecionados para produção de carne tiveram o músculo do peito com maior proporção
de fibras brancas e de maior diâmetro do que as selecionadas para produção de ovos. Também
segundo Swatland (1989), a seleção para crescimento rápido resulta em aumento de número
de fibras brancas, de contração rápida.
2.7 Estimativas de herdabilidade das características de qualidade de carne
A herdabilidade (h
2
) constitui a expressão da variância total que é atribuível aos
efeitos médios aditivos dos genes, ou seja, à variância genética aditiva (FALCONER, 1960).
Desta forma, segundo Euclides Filho (1999), sua principal função é seu caráter preditivo, ou
seja, ela expressa o grau de confiança do valor fenotípico como indicador do valor genético.
A genética possui grande impacto nos processos bioquímicos durante o rigor mortis e
no desenvolvimento do fenômeno PSE em frangos (ANTHONY, 1998; SOLOMON; VAN
- 36 -
LAACK; EASTRIDGE, 1998; SAMS, 1999). A qualidade da carne das aves é influenciada
por um grande número de fatores, mas principalmente pela genética, uma vez que níveis
significantes de herdabilidade foram obtidos para várias características de qualidade em
recentes estudos (LE BIHAN-DUVAL et al., 2003; GAYA; FERRAZ, 2006).
2.7.1 pH
De acordo com Le Bihan-Duval et al. (2001) a estimativa de herdabilidade para o pH
aferido em 15 minutos após o abate em frangos foi de 0,49±0,01 e segundo Le Bihan-Duval et
al. (2003) a estimativa de herdabilidade do pH aferido em 20 minutos após o abate em perus
foi de 0,21±0,04. As estimativas de herdabilidade para o pH aferido em 24 horas após o abate
em aves foram de 0,49±0,11, 0,35±0,03 e 0,16± 0,04 (LE BIHAN-DUVAL; MILLET;
RÉMIGNON, 1999; LE BIHAN-DUVAL et al., 2001; 2003). Assim, segundo estes estudos,
as medidas de pH nos tempos estudados, de modo geral, podem ser capazes de apresentar uma
boa resposta à seleção.
2.7.2 Parâmetros de cor
Em relação aos parâmetros de cor da carne de aves, Le Bihan-Duval, Millet e
Rémignon (1999) e Le Bihan-Duval et al. (2001; 2003) encontraram estimativas de
herdabilidade de 0,75±0,08, 0,50±0,03 e 0,12±0,04 para a luminosidade, de 0,81±0,04,
0,57±0,02 e 0,21±0,05 para o teor de vermelho e de 0,64±0,06, 0,55±0,04 e 0,14±0,04 para o
teor de amarelo, respectivamente.
2.7.3 Perdas de água por exsudação
Para as perdas de água por exsudação da carne de frangos, a estimativa de
herdabilidade descrita na literatura foi de 0,39±0,04 (LE BIHAN-DUVAL et al., 2001).
- 37 -
Desta forma, parece haver um predominante papel da genética no controle do pH, da
cor e da capacidade de retenção de água da carne, indicando que estas características podem
apresentar uma satisfatória resposta à seleção.
2.8 Estimativas de correlações entre características de qualidade de carne e
características de desempenho, carcaça e composição corporal
A correlação genética entre duas características é a correlação entre os efeitos dos
genes que as influenciam (PIRCHNER, 1983). De acordo com Falconer (1960) ela representa
a correlação entre os valores genéticos de um indivíduo para as características sob
consideração. Segundo Van Vleck, Pollak e Oltenacu (1987) se algum gene afeta duas
características, então estas características são correlacionadas geneticamente. De acordo com
Campos e Pereira (1999) a correlação mede a probabilidade de duas características diferentes
serem afetadas pelos mesmos genes, ou seja, é a correlação entre o valor genético de duas
características. O coeficiente de correlação fenotípica é o coeficiente de correlação entre os
valores fenotípicos do indivíduo, para as duas características (ELER, 2001).
Uma vez considerada a possibilidade de efeitos da seleção para taxa de crescimento na
qualidade da carne das aves, o estudo das correlações genéticas entre as características de
qualidade de carne e as características normalmente utilizadas como critério nos programas de
melhoramento genético faz-se necessário para a identificação das respostas correlacionadas à
qualidade da carne.
2.8.1 pH e características de desempenho e carcaça
O pH aferido em 15 minutos após o abate possuiu baixas estimativas de correlações
genéticas com o peso vivo e o peso dos frangos, tendo sido obtidas por estes autores
estimativas que variaram entre -0,06±0,02 e 0,12±0,03 (LE BIHAN-DUVAL et al., 2001). Da
- 38 -
mesma forma, o pH aferido em 24 horas após o abate não esteve relacionado geneticamente
com o peso vivo, o peso de peito e o rendimento de peito em frangos, uma vez que as
estimativas de correlações genéticas entre estas características descritas por Le Bihan-Duval,
Millet e Rémignon (1999) e Le Bihan-Duval et al. (2001) estiveram entre -0,12±0,04 e
0,13±0,03. Entretanto, em perus, foi encontrada uma associação genética entre os pHs
aferidos em 20 minutos e em 24 horas após o abate e o peso vivo e o rendimento de peito,
tendo em vista as estimativas de correlações genéticas entre estas características, que variaram
entre 0,23±0,14 e 0,62±0,10 (LE BIHAN-DUVAL et al., 2003). Le Bihan-Duval, Millet e
Rémignon (1999) e Le Bihan-Duval et al. (2001; 2003) utilizaram o método da máxima
verossimilhança restrita em suas análises.
A seleção a favor do peso vivo, do peso de peito e do rendimento de peito pouco
poderia interferir nos valores de pH, de acordo com Le Bihan-Duval, Millet e Rémignon
(1999) e Le Bihan-Duval et al. (2001). Todavia, segundo Le Bihan-Duval et al. (2003), a
seleção para estas características poderia incrementar estes valores.
2.8.2 Luminosidade e características de desempenho e carcaça
A luminosidade foi diretamente correlacionada com o peso vivo e o rendimento de
peito de frangos, tendo sido encontradas na literatura estimativas de correlações genéticas de
0,51±0,08 e 0,37±0,05 entre estas características (LE BIHAN-DUVAL; MILLET;
RÉMIGNON, 1999). Já de acordo com Le Bihan-Duval et al. (2001) houve pequena
associação entre a luminosidade e o peso vivo e o rendimento de peito de frangos, com base
nas estimativas de correlações genéticas entre estas características, que foram de 0,16±0,01 e -
0,07±0,03, respectivamente. Entretanto, a luminosidade da carne em perus foi associada
geneticamente e antagonicamente com o peso vivo e o rendimento de peito, uma vez que as
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estimativas de correlações genéticas entre estas características foram de -0,24±0,17 e -
0,41±0,19, respectivamente (LE BIHAN-DUVAL et al., 2003).
2.8.3 Teor de vermelho e características de desempenho e carcaça
Segundo Le Bihan-Duval, Millet e Rémignon (1999) e Le Bihan-Duval et al. (2001) o
teor de vermelho foi relacionado geneticamente e antagonicamente com o peso vivo e o
rendimento de peito de frangos, tendo em vista as estimativas de correlações genéticas entre
estas características, que variaram entre -0,51±0,04 e -0,25±0,05. Contudo, o teor de vermelho
em perus possuiu estimativas de correlações genéticas com o peso vivo e o rendimento de
peito de 0,13±0,11 e -0,18±0,12, respectivamente, não parecendo estarem estas características
muito relacionadas geneticamente (LE BIHAN-DUVAL et al., 2003).
2.8.4 Teor de amarelo e características de desempenho e carcaça
Segundo os estudos encontrados na literatura o teor de amarelo possuiu uma
associação genética antagônica com o peso vivo, o peso de peito e o rendimento de peito das
aves, tendo sido descritas entre estas características estimativas de correlações genéticas
variando entre -0,49±0,15 e -0,13±0,05 (LE BIHAN-DUVAL; MILLET; RÉMIGNON, 1999;
LE BIHAN-DUVAL, 2001; 2003), exceto por um dos resultados do estudo de Le Bihan-
Duval, Millet e Rémignon (1999), que encontraram uma estimativa de correlação genética
positiva e baixa entre o teor de amarelo e o peso vivo dos frangos, com valor de 0,11±0,06.
Desta forma, a seleção a favor do peso vivo, do peso de peito e do rendimento de peito
pode ser capaz de aumentar a palidez da carne, através do aumento da luminosidade, segundo
Le Bihan-Duval, Millet e Rémignon (1999), da redução dos teores de vermelho, segundo Le
Bihan-Duval, Millet e Rémignon (1999) e Le Bihan-Duval et al. (2001) e dos teores de
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amarelo, segundo Le Bihan-Duval, Millet e Rémignon (1999) e Le Bihan-Duval et al. (2001;
2003). Entretanto, segundo Le Bihan-Duval et al. (2001), a seleção a favor do peso vivo e do
rendimento de peito não teria efeito na luminosidade da carne, e de acordo com Le Bihan-
Duval et al. (2003), tal seleção poderia, inclusive, reduzir a luminosidade da carne.
2.8.5 Perdas de água por exsudação e características de desempenho e carcaça
As perdas de água por exsudação da carne foram correlacionadas com o peso vivo e o
rendimento de peito de frangos em pequena intensidade, tendo sido encontradas na literatura
estimativas de correlações genéticas de -0,04±0,05 e -0,16±0,04 entre estas características (LE
BIHAN-DUVAL et al., 2001). Assim, a seleção a favor destas características de desempenho
e carcaça pouco poderia interferir nas perdas de água por exsudação da carne.
2.8.6 pH e peso da gordura abdominal
Le Bihan-Duval et al. (2001) encontraram estimativa de correlação genética próxima
de zero entre o pH aferido em 15 minutos após o abate e o peso da gordura abdominal em
frangos. Entre o peso da gordura abdominal e o pH aferido em 24 horas após o abate as
estimativas de correlações genéticas encontradas por Le Bihan-Duval, Millet e Rémignon
(1999) e Le Bihan-Duval et al. (2001) foram de -0,64 e -0,54±0,04, respectivamente. Desta
forma, segundo estes autores, a seleção contra a deposição de gordura abdominal parece ser
capaz de incrementar o pH aferido em 24 horas após o abate.
2.8.7 Parâmetros de cor e peso da gordura abdominal
No estudo de Le Bihan-Duval, Millet e Rémignon (1999), a deposição de gordura
abdominal foi associada geneticamente com a luminosidade e os teores de vermelho e
amarelo, tendo em vista as estimativas de correlações genéticas entre estas características, que
- 41 -
foram de 0,48±0,16, 0,13±0,05 e 0,36±0,11, respectivamente, relatando que a seleção contra a
deposição de gordura abdominal poderia reduzir a luminosidade da carne. A estimativa de
correlação genética entre o peso da gordura abdominal e a luminosidade da carne foi de
0,50±0,05 entre o peso da gordura abdominal e os teores de vermelho e amarelo foram de -
0,24±0,03 e -0,02±0,04, respectivamente (LE BIHAN-DUVAL et al., 2001), indicando que a
seleção contra a deposição de gordura abdominal nos frangos pode contribuir para diminuir a
luminosidade da carne.
2.8.8 Perdas de água por exsudação e peso da gordura abdominal
As perdas de água por exsudação foram associadas geneticamente com a deposição de
gordura abdominal em frangos, tendo sido encontrada estimativa de correlação genética de
0,29±0,06 entre estas características (LE BIHAN-DUVAL et al., 2001). Assim, a seleção
contra a deposição de gordura abdominal nos frangos pode contribuir para reduzir as perdas
de água por exsudação.
2.9 Estimativas de correlações entre as características de qualidade de carne
De acordo com Swatland (1995), pode-se prognosticar a condição PSE pela
combinação dos resultados de pH, cor e capacidade de retenção de água da carne, tornando-se
importante, desta forma, o estudo das correlações entre estas características para uma melhor
caracterização deste fenômeno.
2.9.1 pH e luminosidade
Segundo Debut et al. (2003), o pH aferido em 15 minutos após o abate das aves não
teve relação fenotípica com a luminosidade da carne. Da mesma forma, o pH aferido em 15
minutos após o abate teve pequena correlação genética com a luminosidade em frangos, com
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estimativa de 0,13±0,03 (LE BIHAN-DUVAL et al., 2001). Já Le Bihan-Duval et al. (2003)
encontraram estimativa de correlação genética antagônica entre o pH aferido em 20 minutos
após o abate e a luminosidade da carne de perus, com valor de -0,80±0,10, o que, segundo
estes autores, é um indicativo da condição PSE. Debut et al. (2003) encontraram associação
fenotípica antagônica entre luminosidade da carne de aves e o pH aferido em 24 horas após o
abate, tendo sido obtidos valores de correlação fenotípica de -0,64 e -0,66 em diferentes
linhagens. Do mesmo modo, Barbut (1993) e Fletcher (1999) encontraram um antagonismo
entre o pH aferido em 24 horas após o abate e a luminosidade da carne de aves, tendo obtido
estimativas de correlação fenotípica de -0,71 e -0,63. Barbut (1997) também afirma existir tal
antagonismo em aves. Existiu uma associação genética antagônica entre o pH aferido em 24
horas após o abate e a luminosidade da carne das aves, tendo sido obtidas estimativas de
correlações genéticas de -0,65±0,10, -0,91±0,02 e -0,53±0,19, respectivamente, entre estas
características (LE BIHAN-DUVAL; MILLET; RÉMIGNON, 1999; LE BIHAN-DUVAL et
al., 2001; 2003).
2.9.2 pH e teor de vermelho
Debut et al. (2003) encontraram um antagonismo entre o teor de vermelho da carne de
aves e o pH aferido em 15 minutos após o abate, tendo sido encontradas estimativas de
correlações fenotípicas de -0,27 e -0,51 entre estas características em diferentes linhagens,
havendo, assim, um aumento do teor de vermelho da carne face a uma rápida glicólise post
mortem. Os pHs aferidos em 15 e 20 minutos após o abate, respectivamente, foram
correlacionados geneticamente com o teor de vermelho da carne das aves, tendo sido
estimadas correlações genéticas entre estas características de -0,23±0,03 e -0,25±0,11,
respectivamente (LE BIHAN-DUVAL et al., 2001; 2003). De acordo com Le Bihan-Duval,
Millet e Rémignon (1999) e Le Bihan-Duval et al. (2001) a associação entre o pH aferido em
- 43 -
24 horas após o abate e o teor de vermelho da carne de frangos foi pequena, tendo em vista as
estimativas de correlações genéticas encontradas entre estas características, de 0,11±0,08 e
0,14±0,06, respectivamente.
2.9.3 pH e teor de amarelo
O pH aferido em 15 minutos após o abate não foi correlacionado geneticamente com o
teor de amarelo da carne de frangos, tendo sido estimada correlação genética entre estas
características próxima de zero (LE BIHAN-DUVAL et al., 2001). Entretanto, de acordo com
Le Bihan-Duval et al. (2003), o teor de amarelo esteve geneticamente e antagonicamente
relacionado com o pH aferido em 20 minutos após o abate, com base na estimativa de
correlação genética entre estas características obtida por estes autores, que foi de -0,35±0,20.
Debut et al. (2003) encontraram um antagonismo entre o teor de amarelo da carne de aves e o
pH aferido em 24 horas após o abate, tendo obtido estimativas de correlação fenotípica de -
0,40 e -0,56 entre estas características em diferentes linhagens. A estimativa de correlação
genética entre o pH aferido em 24 horas após o abate e o teor de amarelo na carne de frangos
foi de -0,43±0,04 (LE BIHAN-DUVAL et al., 2001). Contudo, de acordo com Le Bihan-
Duval, Millet e Rémignon (1999), a associação entre o pH aferido em 24 horas após o abate e
o teor de amarelo da carne de frangos foi pequena, tendo em vista a estimativa de correlação
genética encontrada entre estas características, de -0,11±0,11, embora o erro-padrão desta
estimativa tenha sido alto.
Com base na maior parte destes estudos, portanto, pode-se concluir que carnes com
maior luminosidade, de modo geral, estão associadas a baixos pHs. Da mesma forma, baixos
pHs estiveram associados, de modo geral, com maiores teores de vermelho e amarelo.
- 44 -
2.9.4 pH e perdas de água por exsudação
Menores medidas de pH aferidas em 20 minutos após o abate estiveram associadas
com menores rendimentos após o processamento da carne, uma vez que parecem ser
relacionadas com maiores perdas de água por exsudação (FERNANDEZ et al., 2002). Debut
et al. (2003) encontraram um antagonismo entre o pH aferido em 15 minutos após o abate e as
perdas de água por exsudação da carne de aves, tendo sido obtidas correlações fenotípicas de -
0,21 e -0,31 entre estas características por estes autores em diferentes linhagens. A estimativa
de correlação genética entre o pH aferido em 15 minutos após o abate e as perdas de água por
exsudação da carne de frangos foi de -0,29±0,04 (LE BIHAN-DUVAL et al., 2001). Segundo
estes estudos, quanto mais ácida a carne, maiores suas perdas de água por exsudação. O pH
aferido em 24 horas após o abate está relacionado com a capacidade de retenção de água da
carne de aves (BARBUT, 1993; 1997). Debut et al. (2003) encontraram em aves correlações
fenotípicas entre o pH aferido em 24 horas após o abate e o rendimento após o processamento
da carne de 0,43 e 0,58 em diferentes linhagens. Os mesmos autores encontraram correlações
fenotípicas de -0,52 e -0,60 entre o pH aferido em 24 horas após o abate e as perdas de água
por exsudação em diferentes linhagens. Le Bihan-Duval et al. (2001) encontraram alta
correlação genética entre o pH aferido em 24 horas após o abate e as perdas de água por
exsudação da carne de frangos, tendo obtido estimativa de correlação genética de -0,83±0,04
entre estas características. Desta forma, estes autores sugeriram que a seleção para o pH
aferido em 24 horas após o abate poderia ser útil em prevenir carnes excessivamente
exsudativas.
- 45 -
2.9.5 pH e perdas de água por cozimento
Existiu um antagonismo entre o pH aferido em 24 horas após o abate e as perdas de
água por cozimento da carne, uma vez que encontrada estimativa de correlação fenotípica de -
0,67 entre estas características (BARBUT, 1993).
2.9.6 pH e força de cisalhamento
De acordo com Fernandez et al. (2002) altos valores de pH aferidos em 24 horas após
o abate estariam relacionados com menor força de cisalhamento da carne de perus.
2.9.7 Perdas de água por exsudação e parâmetros de cor
Carnes mais pálidas estão associadas com baixa capacidade de retenção de água em
aves (BARBUT, 1993; 1997). Segundo Debut et al. (2003) uma maior luminosidade da carne
esteve relacionada com um maior rendimento após o processamento da carne do peito de
aves, com base nas estimativas de correlações fenotípicas obtidas, de 0,45 e 0,66 em
diferentes linhagens. Entretanto, maiores perdas de água por exsudação estiveram
relacionadas geneticamente com uma maior luminosidade da carne de frangos, com base na
estimativa de correlação genética encontrada na literatura entre estas características, que foi
de 0,80±0,03 (LE BIHAN-DUVAL et al., 2001). Segundo estes autores, a seleção para menor
luminosidade poderia diminuir as perdas de água por exsudação da carne. De acordo com este
estudo, a luminosidade esteve relacionada às perdas de água por exsudação da carne não
apenas indiretamente, por meio de sua alta correlação com o pH aferido em 24 horas após o
abate, o qual, por sua vez, é correlacionado com estas perdas, conforme já mencionado. Ainda
segundo este estudo, a luminosidade pareceu relacionar-se com as perdas de água por
exsudação também diretamente, motivo pelo qual estes autores indicaram a seleção contra a
luminosidade como critério para reduzir as perdas de água por exsudação, uma vez que esta
- 46 -
característica teve alta herdabilidade (LE BIHAN-DUVAL; MILLET; RÉMIGNON, 1999;
LE BIHAN-DUVAL et al., 2001).
As perdas de água por exsudação estiveram relacionadas antagonicamente com o teor
de vermelho e associadas com o teor de amarelo da carne de frangos em pequeno grau, com
base nas estimativas de correlações genéticas obtidas entre estas características, que foram de
-0,25±0,07 e 0,16±0,07, respectivamente (LE BIHAN-DUVAL et al., 2001).
2.9.8 Perdas de água por cozimento e parâmetros de cor
Houve uma associação fenotípica importante entre as perdas de água por cozimento da
carne e o parâmetro L, uma vez que a estimativa de correlação fenotípica entre estas
características obtida por Barbut (1993) foi de 0,70.
2.9.9 Parâmetros de cor e força de cisalhamento
Segundo Fletcher (1999), não houve efeito dos parâmetros de cor da carne de frangos
sobre a medida de força de cisalhamento.
2.9.10 pH e pH
De acordo com Le Bihan-Duval et al. (2001) os pHs aferidos em 15 minutos e em 24
horas após o abate em frangos parecem ser controlados por genes diferentes, pois neste estudo
foi estimada uma correlação genética próxima de zero entre estas características. Segundo
Sosnicki et al. (1998) estes parâmetros são controlados por mecanismos distintos: o pH
aferido em 24 horas após o abate é principalmente determinado pela reservas iniciais de
glicogênio do músculo ao abate, enquanto o pH aferido logo após o abate é mais dependente
da atividade das enzimas glicolíticas post mortem. Em suínos, a reserva de glicogênio
muscular foi geneticamente relacionada com o pH aferido em 24 horas após o abate, de modo
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que maiores pHs estariam relacionados com menores reservas de glicogênio muscular
(LARZUL et al., 1999). Entretanto, segundo estes autores, a reserva de glicogênio não se
apresentou relacionada com o pH aferido em 30 minutos após o abate.
Por outro lado, os pHs aferidos em 15 minutos e em 24 horas após o abate foram
geneticamente correlacionados, tendo sido obtida estimativa correlação genética de 0,59±0,10
entre estas características em perus (LE BIHAN-DUVAL et al., 2003).
2.9.11 Parâmetros de cor e parâmetros de cor
Segundo Le Bihan-Duval, Millet e Rémignon (1999) e Le Bihan-Duval et al. (2001),
as estimativas de correlações genéticas entre a luminosidade e o teor de vermelho da carne de
frangos foram de -0,45±0,05 e -0,48±0,05, respectivamente, havendo desta forma um
antagonismo entre estas características. Contudo, a estimativa de correlação genética entre a
luminosidade e o teor de vermelho da carne de perus foi de 0,12±0,04, não existindo uma
associação genética importante entre estas características (LE BIHAN-DUVAL et al., 2003).
Segundo Le Bihan-Duval, Millet e Rémignon (1999) a luminosidade não foi
correlacionada geneticamente com o teor de amarelo em frangos, tendo sido obtida uma
estimativa de correlação genética próxima de zero entre estas características. Entretanto, as
estimativas de correlações genéticas entre a luminosidade e o teor de amarelo foram de
0,20±0,04 e 0,54±0,18, respectivamente, indicando haver uma associação genética entre estas
características em aves (LE BIHAN-DUVAL et al., 2001; 2003).
De acordo com Le Bihan-Duval, Millet e Rémignon (1999) e Le Bihan-Duval et al.
(2001) as estimativas de correlações genéticas entre os teores de vermelho e amarelo em
frangos foram de 0,72±0,06 e 0,54±0,04, respectivamente, indicando que estas características
estariam associadas geneticamente. Todavia, a estimativa de correlação genética entre estas
características em perus foi próxima de zero (LE BIHAN-DUVAL et al., 2003).
- 48 -
A maior parte destes estudos foi indicativo de que carnes com maior luminosidade
tendem a apresentar menores teores de vermelho e maiores teores de amarelo. Além disso,
maiores teores de vermelho parecem estar associados geneticamente a maiores teores de
amarelo.
2.10 Tendência genética
O estudo das tendências genéticas das características é um elemento importante no
monitoramento do processo de seleção. Ela corresponde a uma estimativa da mudança
observada nas médias dos valores genéticos dos animais para determinada característica ao
longo do seu trabalho de seleção (FERRAZ; ELER, 2000). De acordo com Costa et al. (2001)
o estudo das tendências genéticas permite visualizar a mudança ocasionada pelo processo de
seleção em determinada característica ao longo dos anos. Dessa forma, é possível quantificar
a mudança genética que vêm ocorrendo nas características de qualidade de carne,
possibilitando a correção de eventuais erros no direcionamento da seleção que porventura
possam estar depreciando a qualidade da carne das aves.
Alguns estudos sobre tendências genéticas em aves têm sido realizados (COSTA et al.,
2005; GAYA et al., 2005; REZENDE et al., 2005), entretanto, com relação à análise de
tendências genéticas de características de qualidade de carne não são encontrados trabalhos na
literatura.
2.11 Considerações sobre a seleção para características de qualidade de carne
Apesar dos prejuízos da indústria devidos a problemas com a qualidade da carne,
pouca atenção vem sendo dada ao problema PSE, especialmente em frangos (BARBUT,
1997; 1998). O estudo dos parâmetros genéticos e fenotípicos das características relacionadas
à condição PSE pode favorecer a obtenção de produtos de melhor qualidade sensorial
- 49 -
(OLIVO, 1999) e de maior rentabilidade (ANADÓN, 2002). Bressan (1998) afirma que uma
medida importante é a identificação dos frangos que desenvolvem a condição PSE para um
possível controle. Le Bihan-Duval et al. (1998) afirmam que a seleção de frangos de corte
deve levar em consideração a qualidade do produto final, devendo haver um monitoramento
dos atributos de qualidade da carne e até mesmo sua inclusão nos índices de seleção de um
programa de melhoramento genético (SANCEVERO; ANTUNES, 1998). Devem-se
identificar características associadas à qualidade da carne e também analisar os atributos de
qualidade em genótipos utilizados comercialmente, para que se obtenham informações que
levem à redução da condição PSE nestas linhagens (RATHGEBER; BOLES; SHAND, 1999;
ANADÓN, 2002). De acordo com Souza (2000), nas próximas décadas, aumentará ainda
mais a importância a ser dada a características ligadas à qualidade da carne nos programas de
melhoramento genético, todavia, faz-se necesrio um entendimento do processo de seleção
comercial para identificar os benefícios e limitações de uma solução genética para o problema
PSE (ANTHONY, 1998).
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3 HIPÓTESES
- Existe variabilidade genética nas características ligadas à qualidade de carne em
frangos.
- Esta variabilidade torna possível a obtenção de resultados expressivos nas respostas à
seleção para estas características, especialmente se considerado o intenso uso dessa carne na
indústria de alimentos.
- 51 -
4 OBJETIVOS
Os objetivos deste trabalho foram estimar os parâmetros genéticos (herdabilidade e
correlações genéticas) e fenotípicos (correlações fenotípicas) das características de qualidade
de carne e de características de desempenho, carcaça e composição corporal em uma
linhagem macho de frango de corte, bem como estimar as tendências genéticas das
características de qualidade de carne nesta linhagem. Desta forma, ter-se-á:
- a caracterização da qualidade da carne nesta linhagem de frangos de corte através do
estudo da relação entre estas características;
- a identificação de critérios de seleção relacionados à qualidade da carne;
- a identificação de associações entre a composição corporal das aves e as características
de qualidade de carne.
- 52 -
5 MATERIAL E MÉTODOS
5.1 Coleta dos dados
Foram utilizadas informações do rebanho elite (também chamado rebanho de
pedigree) de aves pertencentes à Agroceres Ross Melhoramento de Aves S. A., no qual é
realizado o processo de seleção para composição de uma linhagem macho de frango de corte
da Empresa. Foram utilizadas também informações dos irmãos completos dessas aves, os
quais têm seus desempenhos de carcaça avaliados, podendo, assim, auxiliar no processo de
seleção dos seus irmãos, programa este que é denominado sib test.
As aves foram alojadas em galpões da Granja de Pedigree desta Empresa e criadas
com programas de vacinação e manejo nutricional semelhantes aos preconizados para frangos
de corte, com a diferença de estarem em um ambiente rigidamente controlado, para garantir a
saúde e o desempenho das aves.
Foram fornecidos pela Agroceres Ross Melhoramento de Aves S. A. cerca de 50 mil
dados de peso à seleção juvenil (PS), em gramas, e de 30 mil dados de medidas de ultra-
sonografia da profundidade do músculo peitoral (US), em milímetros, ambos registrados no
momento da seleção juvenil, ainda na granja. A característica de ultra-sonografia de músculo
peitoral foi considerada como a média das medidas aferidas no sentido longitudinal (Figura 1)
e transversal. O banco de pedigree das aves também foi fornecido pela empresa, com um total
de 107.154 indivíduos e no qual constam todos os animais utilizados nesta pesquisa.
- 53 -
Figura 1 – Aferição por ultra-sonografia da profundidade
do músculo peitoral, no sentido longitudinal
A coleta dos dados de peso ao abate e as informações de carcaça e vísceras dos
animais foi realizada no Matadouro Escola do Campus da USP em Pirassununga, no período
de maio de 2005 a março de 2006. Ao atingirem os 44 dias de idade, cada lote de animais do
sib test, composto por machos e fêmeas, foi sexado e alojado em caixas, sendo, então,
transportados ao matadouro. O transporte das aves até o matadouro levou em torno de seis
horas. As aves permaneceram em restrição hidro-alimentar por um período de pelo menos dez
horas. A voltagem utilizada para o choque elétrico de insensibilização das aves foi de 40
Volts, com corrente de 60 Hertz e média de dois Amperes por ave, durante nove segundos. A
escaldagem foi realizada a uma temperatura de 57ºC por dois minutos. A sangria das aves
ocorreu por um período de três minutos.
Foram coletados dados de peso ao abate, carcaça e composição corporal de cerca de
3.500 aves e, destas, cerca de 2.200 foram submetidas à coleta de informações de qualidade
de carne, as quais foram realizadas no referido matadouro e no Laboratório de Carnes da
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP. Os abates foram realizados
quinzenalmente, conforme cronograma fornecido pela empresa. Adicionalmente, foram
utilizados dados de desempenho, carcaça e composição corporal, cujo banco vem sendo
- 54 -
constituído e gerenciado desde o ano de 2002 pelo Grupo de Melhoramento Animal da
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP, com cerca de 12.500
informações de desempenho e carcaça e 8.500 informações de composição corporal. Estas
aves são ligadas por laços de parentesco àquelas nas quais dados de qualidade de carne,
desempenho, carcaça e composição corporal foram coletados nesta pesquisa, uma vez que
pertencem à mesma linha de seleção.
Após cada abate, as carcaças foram armazenadas em câmara fria a 0ºC, onde
permaneceram até o dia seguinte, quando acontecia a desossa. Também as vísceras foram
acondicionadas em sacos plásticos em câmara fria a 0ºC e pesadas em dois a três dias
subseqüentes aos abates.
As informações coletadas dos indivíduos do sib test são descritas a seguir.
• Característica de desempenho: peso ao abate (PA), registrado no abatedouro, antecedendo o
abate, em gramas (Figura 2);
Figura 2 – Registro do peso ao abate da ave
• Características de carcaça: peso do peito (PPEI), desossado e sem pele, registrado após
refrigeração da carcaça, em gramas (Figura 3), peso eviscerado (PE), correspondente ao peso
- 55 -
da carcaça quente, eviscerada, sem pescoço e pés, em gramas, e peso de pernas (PPER),
correspondente ao peso da coxa mais a sobrecoxa com pele e ossos, em gramas;
Figura 3 – Peitos desossados, sem pele
• Característica de composição corporal: peso da gordura abdominal (GOR), correspondente
ao peso da placa de gordura abdominal mais o peso da gordura aderida à moela, em gramas
(Figuras 4 e 5), peso do fígado (FIG), em gramas, e peso do coração (COR), em gramas.
Figura 4 – Moela com a gordura aderida Figura 5 – Placa de gordura abdominal (à
esquerda) mais gordura removida da moela
• Características de qualidade de carne
- pH
A aferição de pH da carne foi realizada no músculo Pectoralis major em sua porção
crânio-ventral e metade superior, utilizando-se um peagâmetro digital (modelo TCO-01,
- 56 -
marca Onda Científica). O aparelho foi sempre calibrado com dois padrões (pH 4,0 e pH 7,0).
O pH foi aferido de 15 a 30 minutos após o abate (pH inicial, ou pH
i
) (Figura 6), em 6 horas
após a medida de pH inicial (pH
6
) e em 24 horas após medida de pH inicial (pH final, ou pH
f
).
Após a aferição do pH
i
, as carcaças foram submetidas a um resfriamento por imersão em
tanque de inox contendo água e gelo, com temperatura padronizada a 10ºC (SILVA et al.,
2005) e armazenadas em câmara fria a 0ºC. As carcaças eram retiradas e imediatamente
recolocadas na câmara fria para a aferição do pH
6
. Após a mensuração do pH
6
as carcaças
ficaram na câmara fria até o dia seguinte, no momento da desossa, quando então foi aferido o
pH
f
. A temperatura da carne foi aferida concomitantemente às mensurações de pH.
Figura 6 – Aferição do pH e da temperatura iniciais da carne
- amplitudes de queda do pH
A partir das medidas de pH realizadas foram calculadas duas medidas de amplitude
que queda do pH: amplitude inicial, ou AM
i
(pH
i
menos o pH
6
) e amplitude final, ou AM
f
(pH
menos o pH
f
).
- cor
- 57 -
A cor da carne foi avaliada pelo Sistema CIELab, com determinação dos parâmetros
L* (luminosidade), a* (teor de vermelho) e b* (teor de amarelo), com fonte de luz D
65
, ângulo
de observação de 10° e abertura da célula de medida de 30 mm. A determinação da cor foi
realizada com o auxílio de um colorímetro portátil (modelo MiniScan XE, marca HunterLab).
O aparelho foi sempre calibrado com um padrão branco (L*=93,80, a*=-0,89, b*=0,95) e
outro preto (L*=1,19, a*=1,27, b*=1,92). As medidas de cor foram realizadas em 24 horas
após o abate, também no músculo Pectoralis major em sua superfície ventral, tomando-se três
pontos de leitura por amostra e registrando-se a média como o valor determinado (Figura 7).
Figura 7 – Registro da cor da carne
- perdas de água por exsudação (EXSU)
Em 24 horas após o abate, uma amostra do músculo Pectoralis major foi pesada,
sendo a seguir apoiada em uma malha e envolta e suspensa por um saco plástico repleto de ar
(Figuras 8, 9 e 10). As amostras foram submetidas à refrigeração (0ºC) e após 24 horas foram
pesadas novamente. A diferença em porcentagem entre o peso inicial e o final correspondeu à
perda de água por exsudação.
- 58 -
Figura 8 – Amostras de carne envoltas por malha para posterior
determinação das perdas de água por exsudação
Figura 9 – Amostras de carne envoltas por malha e suspensas por
sacos plásticos para determinação das perdas de água por
exsudação
Figura 10 – Amostra de carne envolta por malha e suspensa por saco
plástico repleto de ar. Observa-se água proveniente de
exsudação da carne ao fundo do saco plástico, após
refrigeração por 24 horas.
- 59 -
- perdas de água por descongelamento (CONG)
Em 24 horas após o abate, amostras do músculo Pectoralis major foram
acondicionadas em saco plástico e armazenadas em freezer a -18ºC (Figuras 11 e 12). As
amostras foram descongeladas em refrigerador (Figura 13) a 4ºC e então pesadas (Figura 14).
A diferença em porcentagem entre o peso inicial e o final correspondeu à perda de água por
descongelamento.
Figura 11 – Amostras de carne acondicionadas em sacos plásticos para posterior
congelamento e determinação das perdas de água por
descongelamento
Figura 12 – Amostras de carne congeladas para determinação das
perdas de água por descongelamento
- 60 -
Figura 13 – Descongelamento das amostras destinadas à
determinação das perdas por descongelamento em
refrigerador
Figura 14 – Pesagem de amostra de carne descongelada
- perdas de água por cozimento (COZ)
As mesmas amostras destinadas às perdas por descongelamento após descongeladas e
pesadas foram assadas em forno elétrico até que atingissem a temperatura interna em torno de
72ºC (Figuras 15 e 16). As amostras foram então resfriadas em temperatura ambiente e
- 61 -
pesadas novamente. A diferença em porcentagem entre o peso inicial e o final correspondeu à
perda de água por cozimento.
Figura 15 – Amostras de carne assando em forno elétrico
Figura 16 – Amostra de carne depois de assada em forno elétrico.
Observa-se água proveniente de perdas por cozimento
ao fundo da bandeja de alumínio.
- força de cisalhamento (FC)
As mesmas amostras utilizadas para determinação de perdas de água ao cozimento,
depois de assadas e resfriadas em temperatura ambiente, foram utilizadas para a análise de
- 62 -
força de cisalhamento. Destas amostras, foram retirados quatro paralelepípedos de 2 x 2 x 1
cm (Figura 17), que foram cisalhados com uma lâmina tipo Warner Bratzler (Figura 18).
Figura 17 – Paralelepípedos retirados das amostras de carne após
assadas para determinação da força de cisalhamento
Figura 18 – Determinação da força de cisalhamento da carne por
lâmina tipo Warner Bratzler
A média das medidas dos quatro paralelepípedos foi tomada como o valor da força de
cisalhamento da amostra, e foi dado em kg. As amostras foram colocadas com as fibras
orientadas no sentido perpendicular com relação à lâmina.
- 63 -
5.2 Controle de pedigree e automatização do sistema
Para o controle do pedigree desses indivíduos, ao seu nascimento, há a colocação de
uma anilha (fixada na asa) com um número e um código de barras correspondente. Esse
número identifica a ave com relação à linhagem, grupo de acasalamento dos pais, pai, mãe e
indivíduo em questão, ou seja, através da anilha têm-se todas as informações necessárias para
a identificação da ave e seu pedigree (Figura 19).
A identificação de cada ave, no momento da coleta de cada dado, foi automatizada, o
que permite a formação de um conjunto de dados com informações completas e praticamente
isento de erros. As informações correspondentes ao peso ao abate e de peito foram coletadas
através de terminais portáteis com leitores de códigos de barra e balanças pertencentes à
Agroceres Ross Melhoramento de Aves S. A. Os dados foram eletronicamente transferidos
aos terminais e, após cada atividade, esses dados foram descarregados dos terminais
diretamente para o computador, por meio de softwares específicos. No entanto, para o registro
de outras informações durante o abate, tornou-se necessário o uso de uma metodologia
independente. Para coleta e pesagem das vísceras, foi utilizado o software apresentado por
Gaya et al. (2003). Foi confeccionado, no mesmo grupo de pesquisa, um outro programa
computacional capaz de registrar as informações de qualidade de carne das aves, como pH e
temperatura (MATTOS et al., 2006) que foi utilizado neste estudo, para o qual foram
utilizados equipamentos (microcomputador portátil com entradas para comunicação com
peagâmetro, colorímetro e balança) que permitiram o registro automático das informações
(Figuras 20 e 21).
- 64 -
Figura 19 – Leitura ótica da anilha da ave, a qual contém todas as
informações para sua identificação e de seu pedigree
Figura 20 – Equipamentos utilizados para coleta dos dados, que
permitiram a utilização do software desenvolvido para
este estudo
- 65 -
Figura 21 – Tela de apresentação do software desenvolvido para
coleta dos dados deste estudo
5.3 Realização das análises genéticas
Após a coleta das informações, iniciou-se a montagem do banco de dados. Os dados
foram processados no Grupo de Melhoramento Animal, do Departamento de Ciências Básicas
da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo, em
Pirassununga-SP.
5.3.1 Manipulação dos dados e análises estatísticas preliminares
Para manipulação dos dados foi utilizado o programa Visual Fox Pro, versão 6.0
(VIDAL, 1994). A conferência dos dados é uma etapa importante de qualquer análise
genética. Todo processo de avaliação genética conta com a entrada e a conferência dos dados
em um sistema computacional, fase essencial, pois dela dependerá a integridade das
avaliações, de acordo com Trovo e Razook (1995). Segundo os mesmos autores é
fundamental a confiabilidade dos registros, com a correta identificação dos animais. De
- 66 -
acordo com Josahkian (1998) a qualidade dos resultados obtidos nas avaliações genéticas é
diretamente relacionada à qualidade e à idoneidade das informações fornecidas ao sistema.
Além disto, pôde-se identificar os outliers para cada característica através do uso do
box-plot utilizando-se o Statistical Analysis System (SAS INSTITUTE, 1999), os quais foram
removidos do banco de dados. Segundo Hopkins, Hopkins e Glass (1996) os outliers
freqüentemente são informações de qualidade duvidosa, podendo consistir em falhas tanto no
momento da coleta como na entrada dos dados no sistema computacional.
Foi calculada a estatística descritiva das características estudadas (médias, desvios-
padrão, coeficientes de variação, valores mínimo e máximo) através do Statistical Analysis
System (SAS INSTITUTE, 1999), por intermédio do procedimento PROC MEANS.
Adicionalmente, realizou-se o cálculo do número de gerações contidas no arquivo de
pedigree, fornecido pela Agroceres, por meio do programa CALGERA (MOURÃO;
FIGUEIREDO; MATTOS, 2004), constatando-se que este arquivo compunha-se de seis
gerações de animais.
5.3.2 Metodologia de análise
Foram realizadas análises genéticas uni e bi-características. As estimativas dos
componentes de (co) variância foram obtidas pelo método de máxima verossimilhança restrita
(REML), utilizando-se o programa MTDFREML (Multiple trait derivative-free restricted
maximum likelihood), desenvolvido por Boldman et al. (1993), o qual faz uso da inversa da
matriz de parentesco e modelo animal, que considera todas as informações genealógicas
disponíveis. Os erros-padrão das estimativas de herdabilidade foram calculados pelo mesmo
programa, utilizando-se metodologia descrita por Searle, Casella e Mcculloch (1992).
O modelo matemático genérico utilizado nas análises uni-características foi:
- 67 -
y = Xb + Zu + e
em que:
y = vetor das variáveis dependentes (observações);
X = matriz de incidência dos efeitos fixos, associando elementos de b a y;
b = vetor dos efeitos fixos;
Z = matriz de incidência dos efeitos aleatórios, associando elementos de u a y;
u = vetor dos efeitos aleatórios de valor genético;
e = vetor de efeitos do resíduo, NID (0,σ
2
) para cada variável dependente.
O modelo genérico utilizado para as análises bi-características foi:
em que:
y
1
= vetor dos registros de medidas da característica 1;
y
2
= vetor dos registros de medidas da característica 2;
b
1
= vetor de efeitos fixos para a característica 1;
b
2
= vetor de feitos fixos para a característica 2;
u
1
= vetor de efeitos aleatórios de valor genético para a característica 1;
u
2
= vetor de efeitos aleatórios de valor genético para a característica 2;
X
1
(X
2
) = matriz de incidência associando elementos de b
1
(b
2
) a y
1
(y
2
);
Z
1
(Z
2
) = matriz de incidência associando elementos de u
1
(u
2
) a y
1
(y
2
);
e
1
(e
2
) = vetor de efeitos do resíduo, NID (0,σ
2
) para cada variável dependente.
+
+
=
2
1
2
1
2
1
2
1
2
1
2
1
0
0
0
0
e
e
u
u
Z
Z
b
b
X
X
y
y
- 68 -
A avaliação dos efeitos fixos (grupos de contemporâneos) e das covariáveis das
características estudadas foi determinada pelo procedimento PROC GLM do Statistical
Analysis System (SAS INSTITUTE, 1999). Para tanto, assumiu-se um nível de significância
estatística de 5%. Como aleatório foi considerado o efeito genético aditivo direto.
Os componentes de variância iniciais foram calculados através do Statistical Analysis
System (SAS INSTITUTE, 1999), por intermédio do procedimento PROC VARCOMP
(REZENDE et al., 2003). Já os componentes de covariância iniciais utilizados foram
calculados utilizando-se os componentes de variância estimados através do PROC
VARCOMP e assumindo-se como 0,50 as correlações entre as características, por ser este um
valor intermediário.
As tendências genéticas das características de qualidade de carne foram estimadas por
intermédio da regressão dos valores genéticos das aves em relação à unidade de tempo
(gerações). O coeficiente de regressão obtido foi considerado como a tendência genética
média da característica. Estas análises de regressão foram realizadas utilizando-se o
procedimento PROC REG do Statistical Analysis System (SAS INSTITUTE, 1999).
5.3.3 Efeitos fixos e covariáveis testados
Para montagem dos grupos de contemporâneos para as características analisadas,
foram testados os efeitos fixos de lote, grupo de acasalamento dos pais, classe de idade da
mãe à eclosão, tipo de ração fornecida, estação do ano ao abate, operador e sexo. Cada lote
possuía as mesmas condições de criação e data de abate, que representaram as condições
ambientais a que esses lotes foram submetidos durante sua vida e ao abate. Os grupos de
acasalamento dos pais corresponderam aos lotes dos quais os pais dos indivíduos foram
originados, representando as condições ambientais a que estes lotes de pais foram submetidos,
podendo exercer alguma influência no desenvolvimento das progênies. Diversas foram as
- 69 -
idades das mães à eclosão das progênies, dadas em semanas, as quais foram distribuídas em
diferentes classes, permitindo o teste desta informação como efeito fixo. As informações de
desempenho e carcaça foram coletadas em aves que consumiam ração farelada, entretanto as
informações pertencentes ao banco de dados do Grupo de Melhoramento Animal, coletadas
anteriormente a esta pesquisa, eram de aves que consumiam ração peletizada. Para tanto,
criou-se um campo denominado “tipo de ração”, para isolamento deste efeito e seu teste como
efeito fixo. Foi também criado o campo “estação do ano ao abate” para teste como efeito fixo,
com o objetivo de isolar os efeitos de estresse das aves provenientes da temperatura ambiente.
Como mais de uma pessoa foi responsável pela pesagem da gordura e das vísceras, criou-se
um campo denominado “operador” para isolamento deste efeito e seu teste como efeito fixo.
Os efeitos fixos de lote, grupo de acasalamento dos pais, classe de idade da mãe à
eclosão, tipo de ração e sexo foram testados para todas as características analisadas. Já o
efeito da estação do ano ao abate foi testado apenas para informações de carcaça, composição
corporal e qualidade de carne e o efeito de operador para informações de composição
corporal.
Foram testados os efeitos lineares e quadráticos das covariáveis idade da mãe à
eclosão, idade à seleção, idade ao abate, temperatura da carne, peso inicial de exsudação, peso
inicial de congelamento, peso final de congelamento e peso final de cozimento. A informação
de idade da mãe à eclosão, além de ter sido testada como efeito fixo quando distribuída em
classes, também foi testada como covariável, utilizando-se seu valor em semanas. Alguns
animais do banco de dados tiveram a seleção juvenil realizada aos 38 dias de idade da ave, e
outros entre 27 e 30 dias. Para isolamento deste efeito e seu teste como covariável, foi criado
um campo denominado “idade à seleção” no banco de dados. As informações de desempenho
e carcaça coletadas foram coletadas com aves de 44 dias de idade, entretanto as informações
pertencentes ao banco de dados do Grupo de Melhoramento Animal, coletadas anteriormente
- 70 -
a esta pesquisa, eram de aves com 42 dias de idade. Para isolamento deste efeito e seu teste
como covariável, foi criado um campo denominado “idade ao abate” no banco de dados. Foi
também registrada a temperatura da carne paralelamente a cada medida de pH, uma vez que a
temperatura da carne pode influenciar na medida de pH, pois pode alterar a velocidade do
metabolismo celular, segundo Rathgeber, Boles e Shand (1999). A temperatura da carne foi
medida concomitantemente às medidas iniciais, 6 horas e finais de pH.
A idade da mãe à eclosão foi testada como covariável para todas as características
analisadas. A idade à seleção e a idade ao abate foram testadas para todas as características,
exceto para as características de qualidade de carne, para as quais só havia uma classe destas
idades. A temperatura da carne foi testada para as medidas de pH (no caso das temperaturas
inicial, 6 horas e final) e para os parâmetros de cor e as perdas de água por exsudação,
descongelamento e cozimento (no caso da temperatura final). O peso inicial de exsudação foi
testado como covariável apenas para as perdas por exsudação, o peso inicial de congelamento
foi testado como covariável apenas para as perdas por descongelamento, o peso final de
congelamento foi testado como covariável apenas para as perdas por cozimento e o peso final
de cozimento foi testado como covariável apenas para força de cisalhamento, uma vez que
houve discrepância entre o tamanho inicial das amostras levadas à determinação das
respectivas perdas.
Foi calculada a estatística descritiva (médias, desvios-padrão, coeficientes de variação,
valores mínimo e máximo) dos efeitos fixos e covariáveis testados para as características
através do Statistical Analysis System (SAS INSTITUTE, 1999), por intermédio do
procedimento PROC MEANS.
- 71 -
5.3.4 Estimativas de correlações fenotípicas
As estimativas de correlações fenotípicas foram calculadas utilizando-se os
componentes de (co) variância fenotípica obtidos pelo método da máxima verossimilhança
restrita.
- 72 -
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
6.1 Manipulação do banco de dados
Dentre os problemas detectados durante a manipulação dos dados, pode-se citar a
existência de animais sem nenhuma informação, de animais duplicados e de animais com
identificação problemática, registros que foram removidos do banco de dados, além da
remoção dos outliers para cada característica.
6.2 Estatística descritiva
A estatística descritiva das características após a manipulação do banco de dados é
apresentada na Tabela 1.
Tabela 1 – Número de observações (N), média (M), desvio-padrão (DP), coeficiente de
variação (CV) e valores mínimo (MIN) e máximo (MAX) das características
analisadas
Característica
1
N M DP CV (%) MIN MAX
PS (g) 49.483 2069,21 425,01 20,54 860,00 3.300,00
PA (g) 15.950 2.656,11 395,51 14,89 1.408,00 3.874,00
US (mm) 28.155 25,40 2,93 11,55 17,50 33,50
PPEI (g) 15.868 512,93 89,47 17,44 245,00 770,00
PE (g) 15.949 1.869,91 286,18 15,30 960,00 2.776,00
PPER (g) 15.945 647,17 114,23 17,65 294,00 986,00
GOR (g) 11.866 54,12 10,73 19,83 39,00 88,20
FIG (g) 15.576 51,37 9,58 18,65 21,80 78,60
COR (g) 15.248 14,95 3,26 21,78 9,00 28,20
pH
i
938 6,12 0,19 3,02 5,64 6,62
pH
6
932 5,96 0,18 2,94 5,56 6,45
pH
f
2107 5,80 0,13 2,32 5,44 6,20
AM
i
618 0,26 0,16 61,06 0,01 0,78
AM
f
777 0,32 0,15 46,05 0,01 0,59
continua
- 73 -
L* 2.130 56,07 3,00 5,30 47,62 63,98
a* 2.116 5,35 1,10 20,59 2,26 8,54
b* 2.098 13,59 2,12 15,59 7,77 19,20
EXSU (%) 2.030 2,06 0,58 28,21 0,30 3,70
CONG (%) 2.125 6,46 3,22 49,82 0,40 18,30
COZ (%) 2.122 21,26 4,17 19,62 8,80 32,60
FC (kg) 2.113 1,21 0,41 33,94 0,30 2,50
1
PS = peso à seleção juvenil; PA = peso ao abate; US = medida de ultra-sonografia de músculo peitoral; PPEI =
peso de peito; PE = peso eviscerado; PPER = peso de pernas; GOR = peso da gordura abdominal; FIG = peso do
fígado; COR = peso do coração; pH
i
= pH inicial; pH
6
= pH em 6 horas após o abate; pH
f
= pH final; AM
i
=
amplitude inicial de queda de pH; AM
f
= amplitude final de queda de pH; L* = luminosidade; a* = teor de
vermelho; b* = teor de amarelo; EXSU = perdas por exsudação; CONG = perdas por descongelamento; COZ =
perdas por cozimento; FC = força de cisalhamento.
6.3 Formação de grupos de contemporâneos e análise de covariáveis
Com relação à distribuição dos efeitos fixos testados, os lotes distribuíram-se em 52
classes, variando de 692 a 2.263 animais em cada uma delas, e os grupos de acasalamento dos
pais foram distribuídos em 38 classes, variando de 284 a 3.408 animais em cada classe. Com
relação aos demais efeitos fixos testados, são apresentadas nas Tabelas 2, 3, 4, 5 e 6 suas
estatísticas descritivas.
Com relação à distribuição das covariáveis testadas, a idade da mãe à eclosão foi
distribuída em 22 diferentes idades, as quais variaram entre 32 e 59 semanas, embora grande
parte dos animais não tivesse esta informação. Com relação às demais covariáveis testadas,
são apresentadas nas Tabelas 7, 8, 9 e 10 suas estatísticas descritivas.
Tabela 2 – Classes de idade da mãe à eclosão dos animais testadas como efeito fixo e sua
distribuição no banco de dados
Idade da mãe em semanas
Classe de idade da mãe à
eclosão
Número de animais por
classe
Sem informação 0 2345
32 a 34 1 422
35 a 36 2 2847
continua
ç
ão
continua
- 74 -
37 a 38 3 3708
39 e 41 4 9655
42 e 43 5 4881
45 e 46 6 2340
47 e 48 7 493
49 e 50 8 15
51 e 52 9 853
53 e 55 10 287
56 e 59 11 309
Tabela 3 – Classes de tipos de ração fornecidas aos animais testadas como efeito fixo e sua
distribuição no banco de dados
Tipo de ração Classe Número de animais por classe
Peletizada 1 17.907
Farelada 2 10.248
Tabela 4 – Classes de estação do ano ao abate dos animais testadas como efeito fixo e sua
distribuição no banco de dados
Estação do ano ao abate Classe Número de animais por classe
Primavera 1 4.392
Verão 2 4.028
Outono 3 3.971
Inverno 4 3.559
Tabela 5 – Classes de operador testadas como efeito fixo e sua distribuição no banco de
dados
Operador Número de animais por classe
1 4.502
2 1.851
3 1.088
4 3.630
5 795
continua
ç
ão
- 75 -
Tabela 6 – Classes de sexo testadas como efeito fixo e sua distribuição no banco de dados
Sexo Classe Número de animais por classe
Machos 1 18.146
Fêmeas 2 10.009
Tabela 7 – Distribuição das idades à seleção testadas como covariável
Idade à seleção Número de animais por idade à seleção
27 a 30 dias 10.117
37 a 38 dias 18.038
Tabela 8 – Distribuição das idades ao abate testadas como covariável
Idade ao abate Número de animais por idade ao abate
42 dias 12.558
44 dias 3.392
Tabela 9 – Número de observações (N), média (M), desvio-padrão (DP), coeficiente de
variação (CV) e valores mínimo (MIN) e máximo (MAX) das medidas de
temperatura testadas como covariável
Medida de temperatura N M DP CV (%) MIN MAX
Inicial (ºC) 938 31,5 2,0 6,2 26,0 36,7
6 horas (ºC) 932 14,3 1,7 12,2 9,0 18,5
Final (ºC) 2.130 13,3 2,1 15,8 8,0 19,2
Tabela 10 – Número de observações (N), média (M), desvio-padrão (DP), coeficiente de
variação (CV) e valores mínimo (MIN) e máximo (MAX) do peso inicial de
exsudação, do peso inicial de congelamento, do peso final de congelamento e
do peso final de cozimento, testados como covariáveis
Covariáveis testadas N M DP CV (%) MIN MAX
Peso inicial de exsudação (g) 2.030 56,03 10,32 18,43 14,80 85,80
Peso inicial de congelamento (g) 2.125 170,45 49,25 28,89 74,80 2032,60
Peso final de congelamento (g) 2.122 159,27 33,41 20,97 69,00 963,40
Peso final de cozimento (g) 2.113 125,94 27,60 21,92 11,80 251,00
- 76 -
Depois de identificados os efeitos fixos significativos para as características estudadas,
deu-se a montagem dos grupos de contemporâneos para cada uma delas. Os grupos de
contemporâneos e as covariáveis de efeito significativo para as características são descritos a
seguir.
• PS, US, PA, PPEI, PE, PPER, FIG, COR e pH
6
Para estas características os grupos de contemporâneos foram formados pelos efeitos
de lote, grupo de acasalamento dos pais e sexo. Não houve covariável de efeito significativo
para estas características.
• GOR e pH
f
Para GOR e pH
f
os grupos de contemporâneos foram formados pelos efeitos de lote e
grupo de acasalamento dos pais. Também não houve covariável de efeito significativo para
estas características.
• pH
i
Para pH
i
os grupos de contemporâneos foram formados pelos efeitos de lote e grupo
de acasalamento dos pais. A temperatura inicial da carne teve efeito linear significativo sobre
pHi, com coeficiente de regressão linear b = 0,012.
• AM
i
Para AM
i
os grupos de contemporâneos foram formados pelos efeitos de lote, grupo de
acasalamento dos pais e estação do ano ao abate. A temperatura inicial da carne teve efeito
quadrático significativo sobre esta característica, com coeficientes de regressão linear b
1
=
0,011 e coeficiente de regressão quadrático b
2
= 0,0012.
- 77 -
• AM
f
Para AM
f
os grupos de contemporâneos foram formados pelos efeitos de lote, grupo
de acasalamento dos pais e estação do ano ao abate. As temperaturas inicial e final da carne
tiveram efeito linear significativo sobre AM
f
, com coeficientes de regressão linear b = 0,009 e
b = 0,002, respectivamente.
• L* e a*
Para L* e a* os grupos de contemporâneos foram formados pelos efeitos de lote,
grupo de acasalamento dos pais e sexo. Sobre ambas as características, a temperatura final da
carne teve efeito quadrático significativo. Para L*, foram encontrados os coeficientes de
regressão linear b
1
= -0,07 e coeficiente de regressão quadrático b
2
= 0,02. Para a* foram
encontrados os coeficientes de regressão linear b
1
= -0,08 e coeficiente de regressão
quadrático b
2
= -0,01.
• b*
Para b* os grupos de contemporâneos foram formados apenas pelo efeito de lote, e
não houve covariável de efeito significativo para esta característica.
• EXSU
Para EXSU os grupos de contemporâneos foram formados pelos efeitos de lote e sexo.
A temperatura final da carne teve efeito quadrático significativo sobre EXSU, com
coeficientes de regressão linear b
1
= 0,07 e coeficiente de regressão quadrático b
2
= -0,001.
- 78 -
• CONG
Para CONG os grupos de contemporâneos foram formados pelos efeitos de lote, grupo
de acasalamento dos pais e sexo. A temperatura final da carne teve efeito linear significativo
sobre CONG, com coeficiente de regressão linear b = 0,23. O peso inicial de congelamento
teve efeito quadrático significativo sobre CONG, com coeficientes de regressão linear b
1
= -
0,02 e coeficiente de regressão quadrático b
2
= 0,0002.
• COZ
Para COZ os grupos de contemporâneos foram formados pelos efeitos de lote e sexo.
A temperatura final da carne e o peso final de congelamento tiveram efeito linear significativo
sobre COZ, com coeficientes de regressão linear b = 0,14 e b = -0,09, respectivamente.
• FC
Para FC os grupos de contemporâneos foram formados pelos efeitos de lote e sexo. O
peso final de cozimento teve efeito linear significativo sobre FC, com coeficiente de regressão
linear b = -0,002.
O efeito de grupo de acasalamento dos pais foi testado utilizando-se a estratégia de
aninhamento ao lote, uma vez que os grupos de acasalamento encontravam-se distribuídos
ordenadamente dentro dos lotes, isolando-se assim algum confundimento entre estas
características, o que poderia interferir nos resultados dos testes.
Os dados dos indivíduos cujo grupo de contemporâneos possuísse menos de dois pais
ou menos de cinco aves foram eliminados para a característica em questão, uma vez que
constituíam informação de qualidade duvidosa, não sendo computados nas análises genéticas.
Estes grupos variaram de 5 a 13 para as características analisadas.
- 79 -
6.4 Análises genéticas
Para fins de análise da estrutura da família que originou os dados, calculou-se o
número de pais e de mães e números de lote dos animais dos quais foi coletada cada
característica, conforme apresentado na Tabela 11. De modo geral, os animais analisados
eram filhos de 505 pais e 3.979 mães diferentes, com uma média de 13 filhos por casal.
Observa-se que mesmo no caso de características com menos informações, como no caso de
pH
i
e de pH
6
, houve uma boa quantidade de pais e mães, além de uma boa quantidade de lotes
em que os dados estiveram distribuídos, o que pode favorecer a confiabilidade das
estimativas.
Tabela 11 – Números de pais e de mães e números de lotes dos animais dos quais foram
coletadas as características analisadas
Característica
1
Número de pais Número de mães Número de lotes
PS 504 3975 50
PA 484 3394 45
US 491 3561 40
PPEI 484 3392 45
PE 484 3394 45
PPER 484 3391 45
GOR 475 3158 44
FIG 484 3383 44
COR 483 3359 44
pH
i
83 444 9
pH
6
82 437 8
pH
f
84 561 9
AM
i
82 374 8
AM
f
83 411 9
L* 84 566 9
a* 84 564 9
b* 84 566 9
continua
- 80 -
EXSU 84 564 9
CONG 84 567 9
COZ 84 566 9
FC 84 566 9
1
PS = peso à seleção juvenil; PA = peso ao abate; US = medida de ultra-sonografia de músculo peitoral; PPEI =
peso de peito; PE = peso eviscerado; PPER = peso de pernas; GOR = peso da gordura abdominal; FIG = peso do
fígado; COR = peso do coração; pH
i
= pH inicial; pH
6
= pH em 6 horas após o abate; pH
f
= pH final; AM
i
=
amplitude inicial de queda de pH; AM
f
= amplitude final de queda de pH; L* = luminosidade; a* = teor de
vermelho; b* = teor de amarelo; EXSU = perdas por exsudação; CONG = perdas por descongelamento; COZ =
perdas por cozimento; FC = força de cisalhamento.
6.4.1 Componentes de (co) variância
Os componentes de (co) variância obtidos através do uso do programa MTDFREML
são apresentados nas Tabelas 12, 13, 14, 15, 16 e 17.
Tabela 12 – Componentes de covariâncias genéticas obtidas através do uso do programa
MTDFREML entre as características de desempenho, carcaça e composição
corporal e as características de qualidade de carne
PS PA US PPEI PE PPER GOR FIG COR
pH
i
2,60 -0,16 0,02 0,49 0,14 -0,24 -0,04 0,03 0,02
pH
6
13,41 1,36 -0,01 0,15 1,22 0,09 0,14 0,13 0,02
pH
f
-8,08 -1,05 0,02 0,04 -0,45 -0,47 0,02 0,05 0,01
AM
i
-4,18 -0,43 0,04 0,23 -0,26 -0,06 -0,13 -0,03 0,01
AM
f
-3,51 -0,27 0,01 0,28 0,97 0,57 -0,02 0,04 -0,01
L*
42,45 2,76 0,26 -0,33 4,78 6,93 -1,61 -1,12 -0,01
a*
-21,81 7,67 0,06 0,79 4,62 1,85 -0,12 0,14 -0,07
b*
30,44 20,56 0,36 8,13 17,04 3,05 0,16 0,18 -0,14
EXSU
-47,66 -3,53 0,03 -0,90 -3,43 -1,32 -0,08 -0,20 0,01
CONG
-181,06 23,21 0,25 4,71 15,39 6,98 -0,28 -0,96 0,01
COZ
-285,97 20,74 -0,24 4,36 18,78 9,59 -1,13 -0,95 0,29
FC
4,59 0,38 0,05 0,65 0,42 0,45 0,11 -0,15 -0,01
PS = peso à seleção juvenil; PA = peso ao abate; US = medida de ultra-sonografia de músculo peitoral; PPEI =
peso de peito; PE = peso eviscerado; GOR = peso da gordura abdominal; FIG = peso do fígado; COR = peso do
coração; pH
i
= pH inicial; pH
6
= pH em 6 horas após o abate; pH
f
= pH final; AM
i
= amplitude inicial de queda
de pH; AM
f
= amplitude final de queda de pH; L* = luminosidade; a* = teor de vermelho; b* = teor de amarelo;
EXSU = perdas por exsudação; CONG = perdas por descongelamento; COZ = perdas por cozimento; FC = força
de cisalhamento.
continua
ç
ão
- 81 -
Tabela 13 – Componentes de variância (na diagonal) e covariância genéticas (abaixo da
diagonal) obtidas através do uso do programa MTDFREML entre as
características de qualidade de carne
pH
i
pH
6
pH
f
AM
i
AM
f
L* a* b* EXSU CONG COZ FC
pH
i
0,007
pH
6
0,003 0,01
pH
f
0,002 0,01 0,05
AM
i
0,02 -0,004 -0,004 0,003
AM
f
0,002 0,001 0,001 0,0002 0,00001
L*
-0,014 0,04 -0,04 0,05 -0,01 2,13
a*
0,06 -0,02 0,04 0,01 0,003 -0,23 0,24
b*
0,33 -0,03 -0,01 0,02 0,001 0,35 0,06 0,54
EXSU
-0,004 -0,10 -0,01 0,01 0,001 0,05 0,05 0,0001 0,04
CONG
-0,05 -0,09 -0,08 0,02 -0,01 0,93 0,31 -0,01 0,11 2,13
COZ
-0,01 -0,04 -0,03 -0,01 0,001 1,34 -0,16 0,24 0,08 0,73 1,27
FC
0,003 -0,01 -0,01 0,001 -0,001 0,11 0,01 0,01 0,02 0,15 0,20 0,02
pH
i
= pH inicial; pH
6
= pH em 6 horas após o abate; pH
f
= pH final; AM
i
= amplitude inicial de queda de pH;
AM
f
= amplitude final de queda de pH; L* = luminosidade; a* = teor de vermelho; b* = teor de amarelo; EXSU
= perdas por exsudação; CONG = perdas por descongelamento; COZ = perdas por cozimento; FC = força de
cisalhamento.
Tabela 14 – Componentes de covariância ambientais obtidas através do uso do programa
MTDFREML entre as características de desempenho, carcaça e composição
corporal e as características de qualidade de carne
PS PA US PPEI PE PPER GOR FIG COR
pH
i
2,88 4,14 0,45 0,71 2,85 1,02 0,06 0,10 0,01
pH
6
-8,05 2,37 0,02 0,77 1,94 0,89 0,04 -0,05 -0,01
pH
f
8,18 1,78 0,02 0,55 1,52 0,66 0,01 -0,01 -0,01
AM
i
-0,46 -0,31 -0,02 -0,08 0,25 -0,24 0,03 0,04 0,01
AM
f
3,46 -0,22 0,03 -0,02 0,22 0,23 0,05 0,01 0,02
L*
-49,33 6,26 -0,55 -8,10 0,29 5,21 0,09 0,06 -0,18
a*
-18,81 -12,99 -0,13 -1,08 -9,50 -4,62 -0,08 -0,17 0,14
b*
-41,01 -3,50 -0,53 2,33 -1,69 -2,21 0,63 -0,69 0,04
EXSU
4,28 -7,71 -0,13 -2,45 -5,28 -1,20 -0,33 -0,18 -0,01
CONG
25,75 -51,34 -0,56 -19,00 -36,53 -11,33 0,02 -0,49 -0,01
COZ
-194,76 56,06 0,34 11,79 51,67 17,84 0,22 0,64 -0,01
continua
- 82 -
FC
-5,29 0,76 -0,03 -0,37 0,66 0,10 -0,21 0,10 -0,01
PS = peso à seleção juvenil; PA = peso ao abate; US = medida de ultra-sonografia de músculo peitoral; PPEI =
peso de peito; PE = peso eviscerado; PPER = peso de pernas; GOR = peso da gordura abdominal; FIG = peso do
fígado; COR = peso do coração; pH
i
= pH inicial; pH
6
= pH em 6 horas após o abate; pH
f
= pH final; AM
i
=
amplitude inicial de queda de pH; AM
f
= amplitude final de queda de pH; L* = luminosidade; a* = teor de
vermelho; b* = teor de amarelo; EXSU = perdas por exsudação; CONG = perdas por descongelamento; COZ =
perdas por cozimento; FC = força de cisalhamento.
Tabela 15 – Componentes de variância (na diagonal) e covariância ambientais (abaixo da
diagonal) obtidas através do uso do programa MTDFREML entre as
características de qualidade de carne
pH
i
pH
6
pH
f
AM
i
AM
f
L* a* b* EXSU CONG COZ FC
pH
i
0,02
pH
6
0,002 0,01
pH
f
0,001 0,003 0,01
AM
i
0,0001 -0,01 -0,001 0,02
AM
f
0,0001 -0,002 -0,01 0,13 0,02
L*
-0,001 -0,10 -0,05 0,01 0,04 4,89
a*
-0,04 0,01 0,02 0,001 -0,01 -0,72 0,67
b*
0,01 0,01 -0,02 0,03 0,02 0,34 0,51 2,95
EXSU
-0,02 -0,01 -0,01 -0,01 -0,01 0,22 0,01 0,08 0,27
CONG
-0,06 -0,06 -0,03 0,14 0,01 1,03 0,06 0,49 0,17 6,14
COZ
-0,04 -0,03 0,004 0,01 -0,02 0,62 -0,06 -0,19 0,12 1,79 6,72
FC
-0,003 -0,01 -0,01 0,003 0,002 0,05 0,003 0,01 0,02 0,11 -0,01 0,06
pH
i
= pH inicial; pH
6
= pH em 6 horas após o abate; pH
f
= pH final; AM
i
= amplitude inicial de queda de pH;
AM
f
= amplitude final de queda de pH; L* = luminosidade; a* = teor de vermelho; b* = teor de amarelo; EXSU
= perdas por exsudação; CONG = perdas por descongelamento; COZ = perdas por cozimento; FC = força de
cisalhamento.
Tabela 16 – Componentes de covariância fenotípicas obtidas através do uso do programa
MTDFREML entre as características de desempenho, carcaça e composição
corporal e as características de qualidade de carne
PS PA US PPEI PE PPER GOR FIG COR
pH
i
5,48 3,98 0,65 1,20 2,99 0,78 0,01 0,13 0,03
pH
6
5,36 3,72 0,01 0,91 3,16 0,97 0,18 0,09 0,02
pH
f
0,10 0,73 0,35 0,59 1,07 0,19 0,03 0,05 0,01
AM
i
-4,64 -0,12 0,03 0,15 -0,01 -0,30 -0,09 0,01 0,01
AM
f
-0,05 -0,07 0,04 0,26 1,18 0,28 0,04 0,05 0,02
L*
-6,88 9,02 -0,29 -8,43 5,07 12,14 -1,52 -1,06 -0,19
continua
ç
ão
continua
- 83 -
a*
-40,62 -5,32 -0,07 -0,29 -4,89 -2,77 -0,20 -0,03 0,07
b*
-10,56 17,07 -0,17 10,46 15,35 0,84 0,79 -0,51 -0,10
EXSU
-43,38 -11,24 -0,10 -3,35 -8,71 -2,53 -0,41 -0,38 -0,01
CONG
-155,31 -28,13 -0,31 -14,29 -21,14 -4,35 -0,26 -1,45 0,01
COZ
-480,73 76,80 0,10 16,16 70,44 27,42 -0,90 -0,30 0,19
FC
-0,69 1,14 0,03 0,28 1,09 0,55 -0,10 -0,05 -0,02
PS = peso à seleção juvenil; PA = peso ao abate; US = medida de ultra-sonografia de músculo peitoral; PPEI =
peso de peito; PE = peso eviscerado; PPER = peso de pernas; GOR = peso da gordura abdominal; FIG = peso do
fígado; COR = peso do coração; pH
i
= pH inicial; pH
6
= pH em 6 horas após o abate; pH
f
= pH final; AM
i
=
amplitude inicial de queda de pH; AM
f
= amplitude final de queda de pH; L* = luminosidade; a* = teor de
vermelho; b* = teor de amarelo; EXSU = perdas por exsudação; CONG = perdas por descongelamento; COZ =
perdas por cozimento; FC = força de cisalhamento.
Tabela 17 – Componentes de variância (na diagonal) e covariância fenotípicas (abaixo da
diagonal) obtidas através do uso do programa MTDFREML entre as
características de qualidade de carne
pH
i
pH
6
pH
f
AM
i
AM
f
L* a* b* EXSU CONG COZ FC
pH
i
0,02
pH
6
0,01 0,02
pH
f
0,003 0,01 0,01
AM
i
0,02 -0,01 -0,01 0,02
AM
f
0,002 -0,001 -0,01 0,14 0,02
L*
-0,02 -0,06 -0,09 0,06 0,03 7,01
a*
0,01 -0,01 0,06 0,01 -0,002 -0,94 0,91
b*
0,39 -0,02 -0,04 0,05 0,02 0,69 0,57 3,50
EXSU
-0,02 -0,02 -0,02 0,002 -0,01 0,27 0,06 0,08 0,30
CONG
0,11 -0,15 -0,11 0,03 0,004 1,96 0,38 0,48 0,28 8,27
COZ
-0,05 -0,07 -0,03 -0,003 -0,02 1,99 -0,22 0,05 0,19 2,53 7,99
FC
-0,06 -0,01 -0,01 0,004 0,002 0,15 0,02 0,02 0,03 0,27 0,19 0,08
pH
i
= pH inicial; pH
6
= pH em 6 horas após o abate; pH
f
= pH final; AM
i
= amplitude inicial de queda de pH;
AM
f
= amplitude final de queda de pH; L* = luminosidade; a* = teor de vermelho; b* = teor de amarelo; EXSU
= perdas por exsudação; CONG = perdas por descongelamento; COZ = perdas por cozimento; FC = força de
cisalhamento.
6.4.2 Estimativas de herdabilidade
As estimativas de herdabilidade para as características de qualidade de carne são
apresentadas na Tabela 18.
continua
ç
ão
- 84 -
Tabela 18 – Estimativas de herdabilidade das características de qualidade de carne e seus
respectivos erros-padrão obtidas através do programa MTDFREML
Característica
1
Estimativa de herdabilidade Erro-padrão da estimativa
pH
i
0,03 0,05
pH
6
0,34 0,05
pH
f
0,37 0,06
AM
i
0,13 0,08
AM
f
0,00 0,05
L*
0,30 0,05
a*
0,27 0,05
b*
0,16 0,04
EXSU
0,12 0,04
CONG
0,26 0,05
COZ
0,16 0,04
FC
0,21 0,04
1
pH
i
= pH inicial; pH
6
= pH em 6 horas após o abate; pH
f
= pH final; AM
i
= amplitude inicial de queda de pH;
AM
f
= amplitude final de queda de pH; L* = luminosidade; a* = teor de vermelho; b* = teor de amarelo; EXSU
= perdas por exsudação; CONG = perdas por descongelamento; COZ = perdas por cozimento; FC = força de
cisalhamento.
A estimativa de herdabilidade obtida para pH
i
, de 0,03±0,05, foi menor do que as
descritas por Le Bihan-Duval et al. (2001) em frangos e por Le Bihan-Duval et al. (2003), em
perus, que foram de 0,49±0,01 e 0,21±0,04, respectivamente, em 15 e 20 minutos após o
abate. Já a estimativa obtida para pH
f
, de 0,37±0,06, foi semelhante à encontrada por Le
Bihan-Duval et al. (2001), que foi de 0,35±0,03. A estimativa de herdabilidade obtida para
pH
6
foi de 0,34±0,05. As estimativas das medidas de pH
6
e pH
f
foram indicativas da
existência de um importante efeito genético aditivo na expressão destas características na
linhagem estudada. Já para pH
i
, não houve um efeito genético aditivo que levasse à expressão
desta característica. As estimativas de herdabilidade para as amplitudes de queda de pH
estudadas, que foram de 0,13±0,08 para AM
i
e 0,00±0,05 para AM
f
, não foram indicativas da
existência de um controle genético aditivo destas características.
- 85 -
A estimativa de herdabilidade obtida para o parâmetro de cor L*, de 0,30±0,05, foi
intermediária aos valores obtidos por Le Bihan-Duval et al. (2003) em perus, e Le Bihan-
Duval et al. (2001), em frangos, para este parâmetro, que foram de 0,12±0,04 e 0,50±0,03,
respectivamente. Já a estimativa obtida para o parâmetro de cor a*, que foi de 0,27±0,05, foi
semelhante ao descrito por Le Bihan-Duval et al. (2003) em perus, cujo valor foi de
0,21±0,05. Da mesma forma, a estimativa obtida para o parâmetro de cor b*, que foi de
0,16±0,04, foi semelhante ao descrito por Le Bihan-Duval et al. (2003) em perus, cujo valor
foi de 0,14±0,04. As estimativas de herdabilidade obtidas foram indicativas de que os
parâmetros de cor L* e a* possuem grande parte de efeito genético aditivo em sua expressão.
O mesmo não parece ocorrer para o parâmetro de cor b*, tendo em vista sua baixa estimativa
de herdabilidade.
A estimativa de herdabilidade obtida para EXSU, de 0,12±0,04 foi menor do que a
encontrada por Le Bihan-Duval et al. (2001) em frangos para esta característica, cujo valor foi
de 0,39±0,04, e foi indicativa da pouca influência de fatores genéticos aditivos na expressão
desta característica. Da mesma forma, as estimativas para CONG, COZ e FC foram baixas,
com valores de 0,26±0,05, 0,16±0,04 e 0,21±0,04, respectivamente, indicando haver pouca
influência de fatores genéticos aditivos sobre estas características.
Portanto, de modo geral, as características de qualidade de carne de maior efeito
genético aditivo dentre as características estudadas seriam pH
6
, pH
f
e L*, o que poderia vir a
contribuir para a resposta à seleção destas características caso houvesse interesse em sua
utilização como critério de seleção.
As diferenças entre as estimativas obtidas neste trabalho e as encontradas na literatura,
relatadas ao longo desta pesquisa, devem-se possivelmente a diferenças entre as linhagens ou
mesmo às espécies analisadas, uma vez que se trata do mesmo método de estimação de
parâmetros genéticos para este estudo e para os estudos de Le Bihan-Duval, Millet e
- 86 -
Rémignon (1999) e Le Bihan-Duval et al. (2001; 2003), aos quais os resultados obtidos foram
comparados.
6.4.3 Estimativas de correlações entre as características de qualidade de carne e
características de desempenho, carcaça e composição corporal
As estimativas de correlações genéticas e fenotípicas para as características de
qualidade de carne e características de desempenho, carcaça e composição corporal são
apresentadas nas Tabelas 19 e 20, respectivamente.
Tabela 19 – Estimativas de correlações genéticas entre as características de qualidade de
carne e características de desempenho, carcaça e composição corporal obtidas
através do programa MTDFREML
PS PA US PPEI PE PPER GOR FIG COR
pH
i
0,60 -0,07 0,52 0,55 0,08 -0,33 -0,25 0,32 0,98
pH
6
0,74 0,15 -0,07 0,05 0,18 0,03 0,27 0,42 0,16
pH
f
-0,66 -0,15 0,16 0,02 -0,08 -0,21 0,03 0,21 0,12
AM
i
-0,45 -0,08 0,57 0,37 -0,06 -0,03 0,12 -0,15 0,16
AM
f
-0,98 0,63 0,52 0,98 0,98 0,98 -0,16 0,47 -0,08
L*
0,20 0,02 0,15 -0,01 0,04 0,15 -0,18 -0,22 0,00
a*
-0,29 0,15 0,11 0,05 0,12 0,12 -0,04 0,08 -0,10
b*
0,28 0,27 0,40 0,32 0,28 0,13 0,04 0,07 -0,13
EXSU
-0,51 0,18 0,12 -0,14 -0,22 -0,21 -0,06 -0,29 0,03
CONG
-0,64 0,16 0,15 0,10 0,13 0,15 -0,03 -0,18 0,00
COZ
-0,85 0,18 -0,18 0,11 0,21 0,21 -0,16 -0,23 0,18
FC
0,24 0,03 0,34 0,15 0,04 0,10 0,14 -0,31 -0,07
PS = peso à seleção juvenil; PA = peso ao abate; US = medida de ultra-sonografia de músculo peitoral; PPEI =
peso de peito; PE = peso eviscerado; PPER = peso de pernas. GOR = peso da gordura abdominal; FIG = peso do
fígado; COR = peso do coração; pH
i
= pH inicial; pH
6
= pH em 6 horas após o abate; pH
f
= pH final; AM
i
=
amplitude inicial de queda de pH; AM
f
= amplitude final de queda de pH; L* = luminosidade; a* = teor de
vermelho; b* = teor de amarelo; EXSU = perdas por exsudação; CONG = perdas por descongelamento; COZ =
perdas por cozimento; FC = força de cisalhamento.
- 87 -
Tabela 20 - Estimativas de correlações fenotípicas entre as características de qualidade de
carne e características de desempenho, carcaça e composição corporal obtidas
através do programa MTDFREML
PS PA US PPEI PE PPER GOR FIG COR
pH
i
0,18 0,01 0,00 0,15 0,13 0,09 0,00 0,14 0,10
pH
6
0,18 0,01 0,06 0,12 0,14 0,11 0,12 0,09 0,05
pH
f
0,01 0,05 0,32 0,11 0,07 0,03 0,03 0,07 0,03
AM
i
-0,15 -0,01 0,12 0,02 0,00 -0,03 -0,06 0,01 0,04
AM
f
0,00 0,00 0,15 0,03 0,05 0,03 0,03 0,05 0,05
L*
-0,01 0,02 -0,06 -0,05 0,01 0,08 -0,06 -0,06 -0,03
a*
-0,20 -0,04 -0,04 -0,01 -0,03 -0,05 -0,02 -0,01 0,03
b*
-0,03 0,07 -0,05 0,10 0,05 0,01 0,04 -0,04 -0,02
EXSU
-0,37 -0,15 -0,10 -0,10 -0,09 -0,08 -0,08 -0,10 0,00
CONG
-0,25 -0,07 -0,06 -0,09 -0,05 -0,02 0,00 -0,07 0,00
COZ
-0,79 0,20 0,00 0,00 0,15 0,16 -0,03 -0,02 0,03
FC
-0,01 0,03 0,06 0,00 0,02 0,03 -0,04 -0,02 -0,03
PS = peso à seleção juvenil; PA = peso ao abate; US = medida de ultra-sonografia de músculo peitoral; PPEI =
peso de peito; PE = peso eviscerado; PPER = peso de pernas. GOR = peso da gordura abdominal; FIG = peso do
fígado; COR = peso do coração; pH
i
= pH inicial; pH
6
= pH em 6 horas após o abate; pH
f
= pH final; AM
i
=
amplitude inicial de queda de pH; AM
f
= amplitude final de queda de pH; L* = luminosidade; a* = teor de
vermelho; b* = teor de amarelo; EXSU = perdas por exsudação; CONG = perdas por descongelamento; COZ =
perdas por cozimento; FC = força de cisalhamento.
A seleção a favor de PS pode ser capaz de influenciar em pH
i
, pH
6
e pH
f
, uma vez
obtidas estimativas de correlações genéticas de 0,60, 0,74 e -0,66 entre estas características,
respectivamente. Assim, aves com um maior PS tendem a possuir maiores pH
i
e pH
6
e, por
outro lado, um menor pH
f
. A seleção a favor de PS pode também reduzir AM
i
e AM
f
, de
modo que quanto maior o PS das aves, menores as quedas de pH inicial e final, tendo em vista
as estimativas de correlações genéticas encontradas entre PS e AM
i
, que foi de -0,45, e entre
PS e AM
f
, que foi de -0,98. Com base nas estimativas mencionadas, observa-se que o uso de
PS como critério de seleção pode ser capaz de exercer grande influência sobre a queda do pH
da carne na linhagem analisada.
- 88 -
Entre PS e os parâmetros de cor, existiu uma pequena associação genética, tendo sido
encontradas estimativas de correlações genéticas de 0,20 entre PS e L*, de -0,29 entre PS e
a*, e de 0,28 entre PS e b*. Assim, nesta linhagem, a seleção a favor de PS pode ser capaz de
aumentar L* e b* em pequeno grau e trazer um pequeno decréscimo em a*.
Os resultados indicam uma importante associação genética entre PS e as perdas de
água da carne. Foram obtidas estimativas de correlações genéticas de -0,51 entre PS e EXSU,
de -0,64 entre PS e CONG e de -0,85 entre PS e COZ, ou seja, aves com maior PS tendem a
possuir menores EXSU, CONG e COZ. Assim, os resultados sugerem que a seleção a favor
de PS resultaria em impactos significativos e favoráveis nestas características de qualidade de
carne. Todavia, a estimativa de correlação genética entre PS e FC foi baixa, de 0,24, o que
indica uma pequena associação genética entre estas características.
A seleção a favor de PA não parece afetar pH
i
e pode ser capaz de afetar em pequena
intensidade pH
6
e pH
f
, tendo em vista as estimativas de correlações genéticas obtidas entre
estas características, de –0,07, 0,15 e –0,15, respectivamente. Os valores das estimativas entre
PA e pH
i
e entre PA e pH
f
foram semelhantes aos descritos por Le Bihan-Duval, Millet e
Rémignon (1999) e Le Bihan-Duval et al. (2001) entre peso vivo e as medidas de pH aos 15
minutos e às 24 horas após o abate, cujos valores estiveram entre –0,12±0,04 e 0,13±0,03. Da
mesma forma, a estimativa entre PA e AM
i
, que foi de –0,08, não foi indicativa de associação
genética entre estas características. Já a estimativa de correlação genética entre PA e AM
f
foi
de 0,63, indicando uma importante associação entre estas características. Desta forma, a
seleção a favor do peso ao abate pode ser capaz de aumentar a amplitude final de queda de
pH, ou seja, aumentar a diferença entre o pH inicial e o pH final da carne ou, em outras
palavras, aumentar a queda de pH neste período, o que não necessariamente traz prejuízos à
qualidade da carne, a qual está mais associada à queda inicial de pH.
- 89 -
Não houve associação genética entre PA e L*, tendo em vista a estimativa de
correlação genética obtida entre estas características, próxima de zero, resultado que divergiu
das estimativas de correlações genéticas encontradas por Le Bihan-Duval, Millet e Rémignon
(1999) e Le Bihan-Duval et al. (2001) em frangos, que foram de 0,51±0,08 e 0,16±0,01,
respectivamente. Existiu uma pequena associação genética entre PA e a*, com base na
estimativa de correlação genética obtida entre estas características, de 0,15, resultado
semelhante ao encontrado por Le Bihan-Duval et al. (2003) em perus, de 0,13±0,11. Já entre
PA e b* esta associação foi de 0,27, resultado que divergiu daqueles obtidos por Le Bihan-
Duval, Millet e Rémignon (1999) e Le Bihan-Duval et al. (2001) em frangos e por Le Bihan-
Duval et al. (2003) em perus para estas características, os quais variaram entre –0,49±0,15 e
0,11±0,06. A seleção a favor de PA pode incrementar a* em pequeno grau, e b* em grau um
pouco maior, mas não é capaz de interferir em L* na linhagem analisada.
A seleção a favor de PA pode aumentar EXSU, CONG e COZ em pequena
intensidade, uma vez que as estimativas de correlações genéticas entre estas características
foram de 0,18, 0,16 e 0,18, respectivamente. Já Le Bihan-Duval et al. (2001) encontraram
estimativa próxima de zero entre o peso vivo e as perdas de água por exsudação da carne em
frangos. A estimativa encontrada entre PA e FC foi próxima a zero, não indicando uma
associação genética entre estas características, portanto. Desta forma, a seleção a favor de PA
não pode influenciar na força de cisalhamento da carne na linhagem estudada.
A seleção a favor de US, assim como a seleção a favor de PPEI pode ser capaz de
afetar pH
i
, aumentando-o, uma vez que a estimativa de correlação genética encontrada entre
US e pH
i
foi de 0,52, e entre PPEI e pH
i
foi de 0,55. Estes resultados não confirmam as
afirmações de Santé et al. (1995) e Dransfield e Sosnicki (1999), de que a seleção a favor de
maiores pesos de peito tende a reduzir o pH inicial da carne e conseqüentemente desencadear
uma maior freqüência de carne PSE. A estimativa de correlação genética entre PPEI e pH
i
foi
- 90 -
semelhante à estimativa encontrada por Le Bihan-Duval et al. (2003) entre pH em 20 minutos
após o abate e rendimento de peito em perus, que foi de 0,62±0,10.
A seleção a favor de US e PPEI, entretanto, pode influenciar em pH
6
e em pH
f
em
pequena intensidade, tendo em vista as estimativas de correlações genéticas obtidas entre
estas características, que variaram entre –0,07 e 0,16. Da mesma forma, Le Bihan-Duval,
Millet e Rémignon (1999) e Le Bihan-Duval et al. (2001) não encontraram uma associação
genética importante entre o pH em 24 horas após o abate e o peso e o rendimento do peito em
frangos, cujas estimativas estiveram entre –0,12±0,04 e 0,13±0,03 entre estas características.
Foram encontradas importantes associações genéticas entre US e PPEI e as amplitudes
de queda de pH. As correlações genéticas obtidas entre estas características foram de 0,57
entre US e AM
i
, de 0,52 entre US e AM
f
, de 0,37 entre PPEI e AM
i
e de 0,98 entre PPEI e
AM
f
. Assim, a seleção a favor de US e PPEI, apesar de aumentarem pH
i
, tendem a aumentar a
queda do pH tanto nas primeiras 6 horas, como nas 24 horas.
As características US e PPEI possuíram pequena associação genética com os
parâmetros de cor L* e a*, tendo em vista as estimativas de correlações genéticas encontradas
para estas características, que estiveram entre (-0,01 e 0,15). Entretanto, US e principalmente
PPEI estiveram associadas geneticamente com b*, pois a estimativa de correlação genética
entre US e b* foi de 0,27 e entre PPEI e b*, de 0,40. Desta forma, a seleção a favor de US e
PPEI pode incrementar o teor de amarelo da carne na linhagem analisada, mas não pareceu
ser capaz de interferir na luminosidade e no teor de vermelho. A estimativa encontrada para
PPEI e L* foi semelhante à descrita por Le Bihan-Duval et al. (2001) em frangos, de –
0,07±0,03 entre luminosidade e rendimento de peito. A estimativa encontrada para PPEI e a*
diferiu das descritas na literatura por Le Bihan-Duval, Millet e Rémignon (1999) e Le Bihan-
Duval et al. (2001; 2003) em aves, que foram antagônicas e variaram entre –0,51±0,04 e –
0,18±0,12. Da mesma forma, a estimativa encontrada para PPEI e b* diferiu das descritas na
- 91 -
literatura por Le Bihan-Duval, Millet e Rémignon (1999) e Le Bihan-Duval et al. (2001;
2003) em aves, as quais estiveram entre -0,49±0,15 e 0,11±0,06.
A seleção a favor de US e PPEI não pode interferir em EXSU, CONG e COZ, uma
vez que as estimativas de correlações genéticas entre US e PPEI e estas características de
perdas de água estiveram entre –0,18 e 0,15. Le Bihan-Duval et al. (2001), também
encontraram pouca associação genética entre perdas de água por exsudação e rendimento de
peito em frangos, tendo obtido estimativa de correlação genética de -0,16±0,04 entre estas
características. Deste modo, a seleção a favor das medidas de ultra-sonografia de músculo
peitoral e peso de peito não pode afetar as perdas de água por exsudação, por
descongelamento e por cozimento da carne na linhagem estudada. Estes resultados divergem
dos descritos na literatura, que afirmam que a seleção a favor de maiores pesos de peito tende
a aumentar a condição PSE nos frangos, e diante disso, as perdas de água da carne (SANTÉ at
al., 1995; DRANSFIELD e SOSNICKI, 1999). Contudo, existiu uma associação genética
entre US e FC, uma vez que a estimativa de correlação genética obtida entre estas
características foi de 0,34. Assim, a seleção a favor das medidas de ultra-sonografia de
músculo peitoral pode ser capaz de aumentar a força de cisalhamento da carne, ou seja, tornar
a carne mais dura, embora os mecanismos descritos na literatura para endurecimento da carne
estejam estritamente relacionados a maiores perdas de água (ANADÓN, 2002), e não
diretamente a uma medida de desempenho dos animais. Apesar disto, a seleção a favor de
PPEI não pode interferir em FC, tendo em vista a estimativa de correlação genética obtida
entre estas características, de 0,15.
A seleção a favor de PE não pode afetar as medidas pH
i
, pH
6
e pH
f
na linhagem
analisada, tendo sido obtidas estimativas de correlações genéticas de -0,08 a 0,18 entre estas
características. Da mesma forma, a estimativa de correlação genética obtida entre PE e AM
i
foi próxima de zero. Entretanto, a seleção a favor de PE pode trazer grande aumento na queda
- 92 -
de pH da carne nas 24 horas após o abate, tendo sido encontrada estimativa de correlação
genética de 0,98 entre PE e AM
f
.
Entre PE e os parâmetros de cor, assim como entre PE e as medidas de perdas de água
e entre PE e FC, não existiu uma importante associação genética, pois as estimativas de
correlações genéticas obtidas entre PE e estas características estiveram entre -0,22 e 0,21, à
exceção da estimativa de correlação genética encontrada entre PE e b*, que foi de 0,28,
indicando que a seleção a favor de PE pode trazer um certo incremento em b*.
A seleção a favor de PPER pode trazer um decréscimo em pH
i
, uma vez encontrada
estimativa de correlação genética de -0,33 entre estas características. Contudo, a seleção a
favor de PPER não parece influenciar pH
6
, pH
f
e AM
i
, tendo sido encontradas estimativas de
correlações genéticas entre -0,21 e 0,03 entre estas características. Entretanto, entre PPER e
AM
f
a estimativa de correlação genética obtida foi de 0,98, o que indica que a seleção a favor
de PPER tende a levar a um importante aumento na queda do pH em 24 horas após o abate,
assim como a seleção para a maior parte das características de desempenho e carcaça
estudadas.
A seleção a favor de PPER não pode ter grande influência sobre os parâmetros de cor,
as perdas de água e FC na linhagem analisada, uma vez obtidas estimativas de correlações
genéticas que variaram entre -0,21 e 0,21 entre PPER e estas características.
Nas aves analisadas, a seleção contra GOR pode ser capaz de causar leve incremento
em pH
i
, tendo em vista a estimativa de correlação genética de –0,25 encontrada entre estas
características. Le Bihan-Duval et al. (2001) encontraram correlação genética próxima de zero
entre estas características em frangos, divergindo dos resultados obtidos neste estudo.
A estimativa de correlação genética entre GOR e pH
6
foi de 0,27, indicando haver uma
associação genética entre estas características. Desta forma, a seleção contra a deposição de
gordura abdominal pode ser capaz de reduzir o pH em 6 horas após o abate.
- 93 -
A estimativa de correlação genética entre GOR e pH
f
encontrada, a qual foi próxima
de zero, foi um indicativo da não existência de associação genética entre estas características.
Esta estimativa diferiu das altas e antagônicas estimativas de correlação genética entre estas
características obtidas por Le Bihan-Duval, Millet e Rémignon (1999) e Le Bihan-Duval et al.
(2001) em frangos, que foram de –0,64 e –0,54±0,04, respectivamente. Na linhagem
analisada, portanto, a seleção contra a deposição de gordura abdominal não pode afetar o pH
final da carne.
Observa-se que logo após o abate GOR está antagonicamente associada com o pH,
relação que se inverte em 6 horas após o abate e se torna praticamente nula em 24 horas após
o abate.
As estimativas de correlações genéticas entre GOR e os parâmetros de cor da carne
foram baixas ou praticamente nulas, com valores de –0,18 entre GOR e L*, de –0,04 entre
GOR e a* e de 0,04 entre GOR e b*. Le Bihan-Duval, Millet e Rémignon (1999) e Le Bihan-
Duval et al. (2001) encontraram fortes associações entre GOR e os parâmetros L* e a* em
frangos, com valores de 0,48±0,16 e 0,50±0,05, respectivamente, divergindo dos resultados
obtidos neste estudo. Entretanto, GOR e a*, segundo estes autores apresentaram pequena
associação genética, tendo obtido estimativas de correlações genéticas de 0,13±0,05 e –
0,24±0,03, mas ainda com valores maiores do que os encontrados neste estudo. Entre GOR e
b*, segundo Le Bihan-Duval et al. (2001), em frangos, esta estimativa foi próxima de zero,
assim como neste estudo. A seleção contra a deposição de gordura abdominal influencia em
pequena intensidade a luminosidade e não causar influência nos teores de vermelho e amarelo
da carne na linhagem de frangos analisada.
A estimativa de correlação genética entre GOR e EXSU também foi próxima de zero,
tendo sido menor do que a estimativa de correlação genética apresentada por Le Bihan-Duval
et al. (2001) entre estas características em frangos, de 0,29±0,06. Desta forma, a seleção
- 94 -
contra a deposição de gordura abdominal não pode influenciar nas perdas de água por
exsudação na linhagem estudada.
Houve uma pequena associação genética entre GOR e as características CONG, COZ
e FC, com base nas estimativas de correlações genéticas encontradas entre estas
características, que estiveram entre –0,16 a 0,14. Assim, a seleção contra a deposição de
gordura abdominal não parece exercer grande influência nestas características, na linhagem
analisada.
FIG esteve associado geneticamente com pH
i
e pH
6
, tendo sido obtidas estimativas de
correlações genéticas de 0,32 e de 0,42 entre estas características, respectivamente. Desta
forma, fígados mais pesados podem estar relacionados com maiores pH
i
e pH
6
. Já com pH
f
e
AM
i
, FIG esteve associado em pequena intensidade, tendo sido obtidas estimativas de
correlações genéticas de 0,21 e de -0,15 entre estas características, respectivamente. Contudo,
a estimativa de correlação genética entre FIG e AM
f
foi de 0,47, o que indica que fígados
mais pesados, apesar de estarem associados a maiores pH
i
s, estiveram relacionados
geneticamente a maiores quedas de pH em 24 horas após o abate. As estimativas de
correlações genéticas entre FIG e os parâmetros de cor e entre FIG e as perdas de água da
carne, que variaram entre -0,23 e 0,08 não foram indicativas de importante associação
genética entre estas características, exceto pela estimativa de correlação genética entre FIG e
EXSU, que foi de -0,29, o que sugere que fígados mais pesados podem estar relacionados a
uma menor EXSU. A estimativa de correlação genética entre FIG e FC foi de -0,31,
indicativo de que fígados mais pesados podem estar associados a uma carne mais macia.
COR esteve bastante associado geneticamente com pH
i
, uma vez encontrada
estimativa de correlação genética de 0,98 entre estas características. Entretanto, COR esteve
associado em pequena intensidade com pH
6
, pH
f
, AM
i
e AM
f
, tendo sido encontradas
estimativas de correlações genéticas variando entre -0,08 e 0,16 entre estas características. Da
- 95 -
mesma forma, COR não esteve associado geneticamente com os parâmetros de cor, as perdas
de água e a FC da carne, pois as estimativas de correlações genéticas entre COR e estas
características variaram entre -0,13 e 0,18.
Com relação às correlações fenotípicas entre as características, PS esteve associado
fenotipicamente com as perdas de água da carne, uma vez obtidas estimativas de correlações
fenotípicas de -0,37 entre PS e EXSU, de -0,25 entre PS e CONG e de -0,79 entre PS e COZ.
US possuiu uma associação fenotípica de grau médio com pH
f
, tendo em vista a estimativa de
correlação fenotípica obtida entre estas características, que foi de 0,32. Não existiu uma
associação fenotípica importante entre as características de qualidade de carne e as demais
características de desempenho, carcaça e composição corporal na linhagem analisada.
6.4.4 Estimativas de correlações entre as características de qualidade de carne
As estimativas de correlações genéticas e fenotípicas para as características de
qualidade de carne são apresentadas na Tabela 21.
Pôde-se observar uma intensa associação genética entre as medidas de pH analisadas.
A estimativa de correlação genética entre pH
i
e pH
6
foi de 0,96, entre pH
i
e pH
f
foi de 0,99, e
entre pH
6
e pH
f
foi de 0,96. O resultado obtido entre pH
i
e pH
f
concorda com aquele obtido
por Le Bihan-Duval et al. (2003) em carne de perus, em que o pH em 20 minutos e em 24
horas após o abate estiveram associadas geneticamente, contudo com estimativa de 0,59±0,10.
Por outro lado, os resultados obtidos divergem daqueles descritos por Le Bihan-Duval et al.
(2001) em frangos, em que as medidas de pH inicial e final da carne não estiveram associadas
geneticamente. Estes autores obtiveram estimativa de correlação genética próxima de zero
entre estas características, o que, segundo Larzul et al. (1999), seria causado por mecanismos
independentes de controle dos pHs inicial e final. Isto não se verificou na linhagem analisada,
na qual, o aumento em uma das medidas de pH pareceu acarretar em aumentos nas outras
- 96 -
medidas de pH. Da mesma forma, a diminuição em uma das medidas de pH pode acarretar em
diminuição das outras medidas de pH analisadas.
Tabela 21 – Estimativas de correlações genéticas (abaixo da diagonal) e fenotípicas (acima da
diagonal) obtidas através do programa MTDFREML entre as características de
qualidade de carne
pH
6
pH
f
AM
i
AM
f
L* a* b* EXSU CONG COZ FC
pH
i
- 0,50 0,21 1,00 0,10 -0,05 0,08 0,97 0,25 0,23 -0,13 -0,90
pH
6
0,96 - 0,71 -0,50 -0,05 -0,16 -0,07 -0,07 -0,25 -0,90 -0,17 -0,90
pH
f
0,99 0,96 - -0,71 -0,71 -0,35 0,35 0,21 -0,40 -0,38 -0,10 -0,35
AM
i
0,90 -0,82 -0,84 - 0,99 0,16 0,08 0,18 0,03 0,08 0,00 0,01
AM
f
0,98 0,50 0,47 0,99 - 0,08 0,00 0,08 -0,12 0,01 -0,05 0,05
L*
-0,14 0,23 -0,40 0,57 -0,33 - -0,37 0,14 0,19 0,25 0,26 0,20
a*
0,62 -0,52 0,46 0,26 0,45 -0,32 - 0,32 0,12 0,14 -0,08 0,08
b*
0,98 -0,40 -0,29 0,50 0,11 0,33 0,17 - 0,07 0,09 0,00 0,04
EXSU
-0,71 -0,65 -0,70 0,66 0,49 0,19 0,50 0,00 - 0,18 0,12 0,20
CONG
-0,98 -0,77 -0,85 0,24 -0,24 0,43 0,45 -0,01 0,47 - 0,31 0,33
COZ
-0,41 -0,39 -0,38 -0,16 0,04 0,88 -0,28 0,29 0,36 0,44 - 0,24
FC
-0,75 -0,55 -0,66 0,09 -0,14 0,58 0,21 0,14 0,64 0,77 0,80 -
pH
i
= pH inicial; pH
6
= pH em 6 horas após o abate; pH
f
= pH final; AM
i
= amplitude inicial de queda de pH;
AM
f
= amplitude final de queda de pH; L* = luminosidade; a* = teor de vermelho; b* = teor de amarelo; EXSU
= perdas por exsudação; CONG = perdas por descongelamento; COZ = perdas por cozimento; FC = força de
cisalhamento.
A característica pH
i
teve pouca associação fenotípica com pH
f
, com base na estimativa
de correlação fenotípica encontrada entre estas características, de 0,21. Já pH
i
e pH
f
foram
associadas fenotipicamente com pH
6
, tendo sido obtidas estimativas de 0,50 e 0,71 entre estas
características, respectivamente. Desta forma, um incremento em pH
i
pode ser capaz de
incrementar pH
f
em pequena intensidade, logo um incremento em pH
6
pode ser capaz de
trazer incremento a pH
i
e a pH
f
.
As medidas de pH estudadas apresentaram, de modo geral, algum tipo de associação
com os parâmetros de cor da carne avaliados. Geneticamente, pH
i
e L* possuíram pequena
- 97 -
associação, uma vez obtida estimativa de correlação genética de –0,14 entre estas
características. Da mesma forma, Le Bihan-Duval et al. (2001), encontrou pequena associação
genética entre pH em 15 minutos após o abate e L*, tendo obtido estimativa de 0,13±0,03
entre estas características em frangos. Já pH
f
e L* estiveram associados geneticamente e
antagonicamente, tendo em vista a estimativa de correlação genética de –0,40 obtida entre
estas características. Esta estimativa foi semelhante à descrita por Le Bihan-Duval et al.
(2003), de –0,53±0,19, entre estas características em perus. Houve ainda uma pequena
associação genética entre pH
6
e L*, tendo sido obtida uma estimativa de 0,23 entre estas
características. Assim, quanto maior o pH final da carne, menor tende a ser sua luminosidade
na linhagem analisada. Já os pHs inicial e 6 horas foram capazes de influenciar na
luminosidade da carne em pequena intensidade. De acordo com Olivo, Guarnieri e
Shimokomaki (2001) menores pH
i
s deveriam estar relacionados com maiores L*, uma vez
que a luminosidade da carne deve ser proporcional à quantidade de água em sua superfície, a
qual está relacionada antagonicamente com a queda do pH da carne logo após o abate.
Segundo os mesmos autores, quando muito baixo, o pH inicial da carne é capaz de causar
desnaturação protéica e conseqüentemente diminuir a capacidade de retenção de água da
carne, o que faz com que maior quantidade de água seja encontrada em sua superfície,
aumentando sua luminosidade. Todavia, esta relação não foi encontrada neste estudo, pois o
pH inicial da carne não esteve associado com o teor de luminosidade. Contudo, o pH final
pareceu ser uma medida capaz de influenciar na luminosidade da carne. A seleção genética a
favor do pH final, portanto, pode reduzir a luminosidade da carne, melhorando, desta forma,
seu aspecto diante do consumidor, pois a luminosidade da carne indica sua palidez, o que é
um dos fatores que leva à rejeição da carne de frango pelo consumidor (FLETCHER, 1999).
As associações fenotípicas entre L* e pH
i
e entre L* e pH
6
foram pequenas, tendo sido
obtida estimativas de correlações fenotípicas de –0,05 e de –0,16 entre estas características,
- 98 -
respectivamente. Contudo, a estimativa de correlação fenotípica entre L* e pH
f
foi de –0,35,
existindo uma associação antagônica entre estas características, assim como descrito por
Barbut (1993) e Fletcher (1999), entretanto com menos intensidade do que as associações
apresentadas por estes autores, que obtiveram estimativas de –0,71 e de –0,63,
respectivamente, entre estas características em aves. Neste sentido, quanto maior o pH final
da carne, menor tende a ser sua luminosidade na linhagem analisada, e os pHs inicial e 6
horas influenciaram na luminosidade da carne em pequena intensidade.
As estimativas de correlações genéticas encontradas entre o parâmetro de cor a* e as
medidas de pH avaliadas foram indicativas de uma associação genética entre estas
características, de modo que a* foi associado diretamente com pH
i
e pH
f
, mas
antagonicamente associado com pH
6
, tendo em vista as estimativas de correlações genéticas
entre a* e estas medidas de pH, que foram de 0,62, 0,46 e –0,52, respectivamente. Desta
forma, quanto maiores as medidas de pH inicial e final da carne, maior tende a ser a* na
linhagem estudada. Entretanto, quanto maior o pH
6
, menor tende a ser a* nesta linhagem.
Estes resultados divergiram dos apresentados por Le Bihan-Duval et al. (2001; 2003), que
encontraram associação genética pequena e antagônica entre a* e as medidas de pH em 15 e
20 minutos após o abate, com estimativas de –0,23±0,03 e –0,25±0,11 entre estas
características, respectivamente, em aves. Os resultados encontrados também foram diferentes
dos descritos por Le Bihan-Duval, Millet e Rémignon (1999) e Le Bihan-Duval et al. (2001),
que encontraram pequena associação genética entre a* e a medida de pH final da carne, com
estimativas de 0,11±0,08 e 0,14±0,06 entre estas características, respectivamente, em frangos.
Foram encontradas pequenas associações fenotípicas entre a* e os pHs inicial e 6
horas, tendo sido encontradas estimativas de correlações fenotípicas próximas de zero entre
estas características. Entretanto, a estimativa de correlação fenotípica entre a* e pH
f
foi de
0,35, indicando neste sentido a existência de uma associação entre estas características na
- 99 -
linhagem analisada. Neste sentido, quanto maior o pH final da carne, maior tende a ser seu
teor de vermelho na linhagem estudada. Segundo Debut et al. (2003), em aves, o pH em 15
minutos após o abate e o parâmetro de cor a* foram associados antagonicamente, uma vez
que estes autores obtiveram estimativas de correlações fenotípicas de –0,27 e –0,51 em
diferentes linhagens, resultados que divergem dos obtidos neste estudo.
Geneticamente, o parâmetro de cor b* foi intensamente associado com pH
i
e
moderadamente e antagonicamente associado com pH
6
e pH
f
, com base nas estimativas de
correlações genéticas encontradas entre b* e estas medidas de pH, que foram de 0,98, –0,40 e
–0,29, respectivamente. Desta forma, maiores pHs iniciais pareceram ser fortemente capazes
de determinar maiores teores de amarelo. Todavia, maiores pHs 6 horas e finais puderam ser
capazes de determinar menores teores de amarelo. Assim, o teor de amarelo da carne pareceu
receber uma intensa influência genética do processo de queda de pH da carne logo após o
abate. Em aves, Le Bihan-Duval et al. (2001; 2003) encontraram estimativas próximas de zero
e de –0,35±0,20 entre b* e os pHs em 15 e 20 minutos após o abate, respectivamente,
divergindo, portanto, dos resultados encontrados neste estudo. Já a associação entre b* e pH
f
apresentou tendência semelhante à descrita por Le Bihan-Duval et al. (2001), que
encontraram estimativa de –0,43±0,04 entre estas características em frangos.
O parâmetro de cor b* apresentou intensa associação fenotípica com pH
i
e possuiu
pequena associação com pH
f
, uma vez encontradas estimativas de correlações fenotípicas de
0,97 e 0,21 entre estas características, respectivamente, na linhagem analisada. A estimativa
encontrada entre b* e pH
6
foi próxima de zero. Neste sentido, altos pHs iniciais podem
determinar maiores teores de amarelo da carne. As estimativas de correlações fenotípicas
entre b* e o pH final da carne descritas por Debut et al. (2003) foram de –0,40 e –0,56 em
diferentes linhagens de aves, divergindo, portanto, dos resultados encontrados neste estudo
para estas características.
- 100 -
A estimativa de correlação genética entre pH
i
e EXSU foi de –0,71, indicando uma
importante e antagônica associação genética entre estas características, de modo que quanto
menor o pH inicial, maiores as perdas de água por exsudação da carne na linhagem analisada,
o que concorda com Offer e Knight (1988), que afirmam terem as perdas de água por
exsudação uma relação direta com a queda de pH da carne logo após o abate, de modo que
baixos pHs logo após o abate causam desnaturação protéica e em conseqüência uma menor
capacidade de retenção de água da carne. Da mesma forma, pH
6
e pH
f
foram geneticamente
intensamente e antagonicamente associados com EXSU. Assim, para aumentos em quaisquer
medidas de pH analisadas, existiu uma tendência de diminuição das perdas de água por
exsudação da carne. Le Bihan-Duval et al. (2001) encontraram também, em frangos, uma
estimativa antagônica entre o pH em 15 minutos após o abate e as perdas de água por
exsudação da carne, de –0,29±0,04, e entre o pH final da carne e estas perdas, de –0,83±0,04.
A seleção genética a favor de pH
i
, pH
6
ou de pH
f
pode, portanto, de prevenir ou reduzir o
aparecimento de carne exsudativas, o que pode ser interessante para a indústria processadora,
pois as perdas por exsudação da carne representam grandes perdas para esta indústria,
segundo Lara et al. (2002) e Oda et al. (2003).
A estimativa de correlação fenotípica encontrada entre pH
i
e EXSU foi de 0,25,
divergindo das estimativas encontradas entre estas características por Debut et al. (2003), de –
0,21 e –0,31, em aves, em diferentes linhagens. As estimativas de correlações fenotípicas
obtidas entre pH
6
e EXSU e entre pH
f
e EXSU foram de –0,25 e –0,40, respectivamente, esta
última apresentando tendência semelhante à descrita por Debut et al. (2003), que encontraram
estimativas entre o pH final da carne e as perdas por exsudação de –0,52 e –0,60, em aves, em
diferentes linhagens. Desta forma, existiu uma pequena associação fenotípica entre EXSU e
as medidas de pH inicial e 6 horas, mas uma associação moderada, além de antagônica, entre
- 101 -
EXSU e pH
f
. Assim, neste contexto, um aumento no pH final da carne pode levar à
diminuição das perdas de água por exsudação da carne, na linhagem analisada.
As estimativas de correlações genéticas obtidas entre as medidas de pH e as perdas de
água por descongelamento da carne foram indicativas de uma associação genética intensa e
antagônica entre estas características, tendo em vista que tais estimativas entre CONG e pH
i
,
entre CONG e pH
6
e entre CONG e pH
f
tiveram valores de –0,98, –0,77 e –0,85,
respectivamente. Também existiu uma associação genética moderada e antagônica entre as
medidas de pH e as perdas de água por cozimento da carne, uma vez que as estimativas de
correlações genéticas obtidas entre estas COZ e pH
i
, entre COZ e pH
6
e entre COZ e pH
f
tiveram valores de –0,41, –0,39 e –0,38, respectivamente. As estimativas de correlações
genéticas obtidas entre as medidas de pH e a força de cisalhamento da carne foram indicativas
de uma associação genética intensa e antagônica entre estas características, uma vez que estas
estimativas tiveram valores de –0,75, –0,55 e –0,66 entre FC e pH
i
, pH
6
e pH
f
,
respectivamente. Desta forma, a seleção genética a favor de quaisquer das medidas de pH
pode ser capaz de levar à diminuição das perdas de água por descongelamento e cozimento da
carne, além da diminuição de sua força de cisalhamento. Menores pHs logo após o abate estão
relacionados com a desnaturação protéica da carne, levando à diminuição de sua capacidade
de retenção de água, o que determina conseqüentemente maiores perdas de água não só por
exsudação, mas também por descongelamento e cozimento (OFFER; KNIGHT, 1988). Estas
perdas, por sua vez, levam à redução da maciez da carne, em outras palavras, ao aumento de
sua força de cisalhamento. Esta situação é confirmada neste estudo por meio das estimativas
de correlações genéticas obtidas entre pH
i
e as medidas CONG, COZ e FC. A seleção
genética a favor de pH
i
, pH
6
ou de pH
f
pode prevenir ou reduzir as perdas por
descongelamento e por cozimento da carne na linhagem analisada, além de melhorar sua
maciez, o que pode ser interessante para o mercado consumidor, pois as perdas de água da
- 102 -
carne e sua maciez, neste estudo representada por sua força de cisalhamento, são fatores que
podem levar o consumidor à rejeição da carne de frango, segundo Li, Tan e Shatadal (2001).
As estimativas de correlações fenotípicas entre CONG e as medidas de pH
i
, pH
6
e pH
f
foram de 0,23, –0,90 e –0,38, respectivamente, havendo uma associação fenotípica antagônica
entre as perdas por descongelamento da carne e as medidas de pH 6 horas, principalmente, e
pH final. As estimativas de correlações fenotípicas entre COZ e as medidas de pH
i
, pH
6
e pH
f
foram de –0,13, –0,17 e –0,10, respectivamente, não indicando uma associação fenotípica
importante entre estas características. De acordo com Barbut et al. (1993), em perus, a
estimativa entre o pH final da carne e suas perdas por cozimento foi de –0,67, divergindo,
portanto, do resultado encontrado neste estudo para estas características. As estimativas de
correlações fenotípicas entre FC e as medidas de pH
i
, pH
6
e pH
f
foram de –0,90, –0,90 e –
0,35. Assim, existiu uma intensa e antagônica associação fenotípica importante entre a força
de cisalhamento da carne e as medidas de pH inicial e 6 horas, e uma associação fenotípica
moderada e antagônica entre a força de cisalhamento e a medida de pH final, resultado que
concorda com a afirmação de Fernandez et al. (2002), de que altos valores de pH final
deveriam estar relacionados com uma maior maciez da carne. Portanto, as medidas de pH
estiveram associadas fenotipicamente com as perdas de água por descongelamento da carne e
também com sua força de cisalhamento, em intensidades variáveis, exceto pelas
características CONG e pH
i
, uma vez que a associação encontrada entre elas foi baixa.
Portanto, considerando-se esta exceção, fenotipicamente, maiores valores de pH tendem a
determinar menores perdas de água por descongelamento e menores forças de cisalhamento
da carne na linhagem analisada.
As medidas de amplitude de queda de pH foram altamente associadas tanto genética
como fenotipicamente, com ambas as correlações estimadas em 0,99. Desta forma, a
tendência é de que quanto maior seja a queda inicial de pH, ou seja, a queda de pH nas
- 103 -
primeiras 6 horas, medida aqui representada por AM
i
, maior também seja a queda total do pH,
em 24 horas, medida representada por AM
f
. Assim, os mecanismos de queda inicial e final de
pH estariam relacionados tanto geneticamente como fenotipicamente, não havendo, por
exemplo, uma queda acelerada de pH logo após o abate seguida de um mecanismo
independente de queda ou uma estabilização do pH até serem completadas as 24 horas após o
abate. Em outras palavras, caso exista uma queda de pH exacerbada logo após o abate, esta
queda tende a ser intensa também ao longo de todas as 24 horas após o abate, com base na
estimativa de correlação genética entre AM
i
e AM
f
encontrada.
As estimativas de correlações genéticas entre AM
i
e as medidas pH
i
, pH
6
e pH
f
foram
de 0,90, –0,82 e –0,84, respectivamente. Desta forma, houve uma intensa associação genética
entre AM
i
e estas medidas de pH, sendo esta associação de modo diretamente proporcional
entre AM
i
e pH
i
e de modo antagônico entre AM
i
e as medidas pH
6
e pH
f
. Com base nestes
valores, entendeu-se que, primeiramente, quanto maior o pH logo após o abate, maior tendeu
a ser sua queda nas primeiras 6 horas após o abate. Assim, pHs iniciais mais altos podem ser
capazes de determinar maiores quedas de pH nas primeiras 6 horas após o abate. Por outro
lado, uma menor queda de pH nas primeiras 6 horas após o abate, logicamente, determinou
um pH
6
maior. Da mesma forma, uma menor queda de pH nas primeiras 6 horas após o abate
determinou um pH
f
maior.
As estimativas de correlações genéticas entre AM
f
e as medidas pH
i
, pH
6
e pH
f
foram
de 0,98, 0,50 e 0,47, respectivamente. Tendo em vista tais estimativas, observou-se que
quanto maior pH
i
, maior tendeu a ser sua queda ao longo das 24 horas após o abate, assim
como sua queda nas primeiras 6 horas após o abate, conforme descrito anteriormente. Da
mesma forma, portanto, o pH inicial da carne pode ser capaz de determinar sua queda não só
nas primeiras 6 horas após o abate, mas também ao longo das 24 horas após o abate. Além
disto, geneticamente, houve uma tendência moderada de maiores medidas pH
6
estarem
- 104 -
relacionadas a maiores quedas de pH ao longo das 24 horas após o abate, tratando-se de um
resultado contraditório, uma vez que uma maior queda de pH ao longo das 24 horas após o
abate deveria estar relacionada com uma maior queda de pH desde os primeiros momentos
após o abate, compreendendo, conseqüentemente, menores medidas de pH em 6 horas após o
abate. Este resultado foi indicativo de que talvez o comportamento de queda de pH ao longo
das 24 horas após o abate não seja constante. Em outras palavras, em algum ponto após as
primeiras 6 horas após o abate, a velocidade de queda de pH pareceu se alterar, ou seja,
embora existindo um alto pH
6
, uma grande queda de pH em 24 horas após o abate foi obtida.
Estes resultados divergem da afirmação de Dransfield e Sosnicki (1999), de que a queda de
pH nas aves tende a se estabilizar em poucas horas após o abate. Da mesma maneira,
geneticamente, houve uma tendência moderada de maiores medidas pH
f
estarem relacionadas
a maiores quedas de pH ao longo das 24 horas após o abate, resultado que também foi
contraditório, pois, havendo a existência de uma grande queda de pH ao longo das 24 horas
após o abate, menores pHs nas mesmas 24 horas deveriam ter sido obtidos, o que não foi
encontrado neste estudo.
AM
i
foi totalmente associada com pH
i
, moderadamente e antagonicamente associada
com pH
6
e intensamente a antagonicamente associada com pH
f
, tendo sido obtidas estimativas
de correlações fenotípicas de 1,00, –0,50 e –0,71 entre estas características, respectivamente,
e seguindo a mesma lógica encontrada para as estimativas de correlações genéticas entre estas
características. Por outro lado, não houve importante associação fenotípica entre AM
f
e as
medidas pH
i
e pH
6
, uma vez obtidas estimativas de 0,10 e –0,05 entre estas características,
respectivamente. Já a estimativa entre AM
f
e pH
f
foi de –0,71, indicando uma intensa e
antagônica associação fenotípica entre estas características. Desta forma, logicamente,
maiores quedas de pH em 24 horas após o abate determinam menores pHs em 24 horas após o
abate.
- 105 -
AMi possuiu uma associação genética importante com L* e b*, uma vez encontradas
estimativas de correlações genéticas de 0,57 e 0,50 entre estas características,
respectivamente. Desta forma, quanto maior a queda de pH inicial, maiores a luminosidade e
o teor de amarelo da carne. De acordo com Olivo, Guarnieri e Shimokomaki (2001) grandes
quedas de pH estão associadas com maiores teores de luminosidade da carne, devido ao fato
de que menores pHs causam desnaturação protéica e conseqüentemente queda na capacidade
de retenção de água da carne, ocorrendo liberação de água para a superfície da carne, o que
provoca aumento de sua luminosidade. Este evento foi confirmado neste estudo através da
estimativa de correlação genética encontrada entre AM
i
e L*, uma vez que a queda inicial de
pH é aqui representada por AM
i
. Assim, a seleção genética contra a luminosidade da carne
pode ser capaz de reduzir a amplitude de queda de pH nas primeiras 6 horas após o abate na
linhagem analisada. Entretanto, AM
i
foi associada geneticamente com a* em pequena
intensidade, pois foi encontrada estimativa de correlação genética de 0,26 entre estas
características. AM
f
foi associada genética e antagonicamente com L*, tendo em vista a
estimativa de correlação genética de –0,33 encontrada entre estas características.
Diferentemente do ocorrido com a queda inicial de pH, uma maior queda de pH durante as 24
horas após o abate, aqui representada por AM
f
, pareceu ser capaz de levar a menores teores de
luminosidade da carne, com base na estimativa encontrada entre AM
f
e L*. AM
f
esteve
também associada com a*, uma vez encontrada estimativa de correlação genética de 0,45
entre estas características. Todavia, AM
f
não possuiu associação genética importante com b*,
uma vez encontrada estimativa de 0,11 entre estas características.
Tanto AM
i
como AM
f
possuíram pequena associação fenotípica com os parâmetros de
cor analisados, tendo sido obtidas estimativas de correlações fenotípicas entre 0,00 e 0,18
entre estas características.
- 106 -
AM
i
esteve associada geneticamente com EXSU, uma vez encontrada estimativa de
correlação genética de 0,66 entre estas características. Já as estimativas de correlações
genéticas entre AM
i
e CONG, AM
i
e COZ e AM
i
e FC, que foram de 0,24, -0,16 e 0,09,
respectivamente, foram indicativas de pouca associação genética entre estas características.
Desta forma, uma maior queda de pH nas primeiras 6 horas após o abate pareceu determinar
apenas maiores perdas de água por exsudação, interferindo em pequeno grau nas perdas de
água por descongelamento e por cozimento e na força de cisalhamento da carne. Segundo
Offer e Knight (1988) maiores quedas de pH após o abate podem causar desnaturação
protéica e conseqüentemente diminuir a capacidade de retenção de água da carne, o que foi
comprovado neste estudo através da estimativa de correlação genética encontrada entre AM
i
e
EXSU. Da mesma forma, AM
f
também esteve associada geneticamente com EXSU, com base
na estimativa de correlação genética encontrada entre estas características, de 0,49. Assim,
maiores quedas de pH nas 24 horas após o abate também podem causar aumento nas perdas
de água por exsudação da carne. A associação genética entre AM
f
e CONG foi pequena e a as
associações genéticas entre AM
f
e COZ e entre AM
f
e FC praticamente nulas, tendo em vista
as estimativas encontradas entre estas características, que foram de –0,24, 0,04 e –0,14,
respectivamente.
Tanto AM
i
quanto AM
f
possuíram uma pequena associação fenotípica com EXSU,
CONG, COZ e FC, tendo sido encontradas estimativas de correlações fenotípicas que
variaram entre –0,12 e 0,08 entre estas características.
O parâmetro de cor L* esteve geneticamente e antagonicamente associado com a*,
uma vez obtida estimativa de correlação genética de –0,32 entre estas características. Le
Bihan-Duval, Millet e Rémignon (1999) e Le Bihan-Duval et al. (2001) encontraram em
frangos correlações genéticas entre L* e a* de –0,45±0,05 e de –0,48±0,05, respectivamente.
L* também esteve associado com b*, tendo em vista a estimativa de correlação genética entre
- 107 -
estas características, de 0,33, valor que foi intermediário aos descritos por Le Bihan-Duval et
al. (2001; 2003) em aves, cujas estimativas foram de 0,20±0,04 e 0,54±0,18 entre estas
características, respectivamente. Desta forma, a seleção genética a favor da luminosidade da
carne pode reduzir seu teor de vermelho e aumentar seu teor de amarelo. A estimativa de
correlação genética entre a* e b* foi de 0,17, não indicando uma importante associação
genética entre estas características. Le Bihan-Duval et al. (2003) também encontraram pouca
associação genética entre a* e b*, em perus, tendo obtido estimativa entre a* e b* próxima de
zero.
A característica L* esteve antagonicamente associada fenotipicamente com a*, possuir
pequena associação fenotípica com b* e existiu uma associação fenotípica entre a* e b*, pois
as estimativas de correlações fenotípicas entre estas características foram de –0,37, 0,14 e
0,32, respectivamente.
A estimativa de correlação genética encontrada entre EXSU e a*, de 0,50, foi
indicativa de uma associação genética entre estas características, divergindo da estimativa
encontrada por Le Bihan-Duval et al. (2001) em frangos para estas características, de –
0,25±0,07. As estimativas de correlações genéticas encontradas entre EXSU e L* e entre
EXSU e b*, de 0,19 e de 0,00, respectivamente, não foram indicativas de associação genética
importante entre estas características. Le Bihan-Duval et al. (2001) também encontraram
pouca associação genética entre as perdas por exsudação e o teor de amarelo da carne em
frangos, tendo obtido estimativa de 0,16±0,07 entre estas características. Entretanto, os
mesmos autores encontraram estimativa de 0,80±0,03 entre as perdas por exsudação e a
luminosidade da carne em frangos, divergindo, portanto, da estimativa encontrada para estas
características na linhagem estudada. Desta forma, a seleção genética contra a luminosidade
da carne não pode diminuir suas perdas de água por exsudação, ao contrário da afirmação de
Le Bihan-Duval, Millet e Rémignon (1999) e Le Bihan-Duval et al. (2001), de que a seleção
- 108 -
contra a luminosidade da carne poderia ser eficiente em diminuir suas perdas de água por
exsudação. Seria de se esperar uma associação genética entre L* e EXSU, pois ambas as
características seriam conseqüência do grau de desnaturação protéica da carne em função da
velocidade de queda de pH logo após o abate, e, portanto, seriam relacionadas entre si, de
acordo com Swatland (1995), o que não foi encontrado através deste estudo. Fenotipicamente,
a associação entre EXSU e os parâmetros de cor foi baixa, tendo sido encontradas estimativas
de correlações genéticas de 0,19 entre EXSU e L*, de 0,12 entre EXSU e a*, e de 0,07 entre
EXSU e b*. Neste sentido, os parâmetros de cor não podem afetar as perdas de água por
exsudação da carne na linhagem analisada.
As características CONG, COZ e FC estiveram associadas geneticamente com L*,
uma vez que as estimativas de correlações genéticas encontradas entre estas características
foram de 0,43, 0,88 e 0,58, respectivamente. Desta forma, a seleção genética contra L* pode
ser capaz de diminuir as perdas por descongelamento e cozimento da carne, além da sua força
de cisalhamento, o que pode ser interessante para a indústria avícola, uma vez que as perdas
de água por descongelamento e cozimento da carne de frango, além de sua maciez, aqui
representada pela sua força de cisalhamento, constituem fatores que podem levar o
consumidor à rejeição da carne de frango. Ainda, a mensuração de L* nas carcaças seria de
fácil realização, pois esta é uma medida simples e rápida, dada através de um equipamento
portátil, o que tornaria viável a utilização deste parâmetro de cor como critério de seleção,
caso fosse de interesse da indústria de aves.
A característica CONG esteve associada geneticamente com a*, mas associada
geneticamente com b* em pequena intensidade, tendo em vista as estimativas de correlações
genéticas obtidas entre estas características, que foram de 0,45 e –0,01, respectivamente.
Desta forma, quanto maior o teor de vermelho carne, maiores suas perdas de água por
descongelamento na linhagem estudada. A característica COZ esteve em certo grau
- 109 -
relacionada genética e antagonicamente com a*, uma vez obtida estimativa de correlação
genética de –0,28 entre estas características. Houve também certo grau associação genética
entre COZ e b*, uma vez obtida estimativa de correlação genética de 0,29 entre estas
características. Existiu também uma pequena associação entre FC e a*, uma vez obtida
estimativa de –0,21 entre estas características, e pouca associação entre FC e b*, tendo sido
obtida estimativa de 0,14 entre estas características.
As estimativas de correlações fenotípicas entre L* e as medidas CONG, COZ e FC
foram de 0,25, 0,26 e 0,20, indicando uma pequena associação fenotípica entre estas
características. Barbut (1993) encontrou estimativa de 0,70 entre a luminosidade e as perdas
por cozimento da carne de perus, divergindo, portanto, do resultado obtido neste estudo para
estas características. Já as estimativas de correlações fenotípicas entre os parâmetros de cor a*
e b* e as medidas CONG, COZ e FC foram baixas ou praticamente nulas, variando entre –
0,08 e 0,14, não indicando uma associação importante entre estas características, neste
sentido.
As estimativas de correlações genéticas encontradas entre as medidas de perdas de
água da carne entre si foram indicativas de associação genética importante entre estas
características. Os valores encontrados para estas estimativas foram de 0,47 entre EXSU e
CONG, de 0,36 entre EXSU e COZ e de 0,44 entre CONG e COZ. Desta forma, qualquer
aumento em quaisquer das medidas de perdas de água pode acarretar em aumento nas demais.
Assim, a seleção genética que favorece a diminuição de uma das medidas de perdas de água
pode conseqüentemente ser capaz de favorecer a diminuição das demais na linhagem
analisada. Todas as medidas de perdas de água estiveram associadas geneticamente com a
maciez da carne, tendo em vista as estimativas de correlações genéticas encontradas entre
EXSU e FC, de 0,64, entre CONG e FC, de 0,77 e entre COZ e FC, de 0,80. Desta maneira, a
seleção genética para redução das perdas de água da carne pode também reduzir a força de
- 110 -
cisalhamento ou aumentar a maciez da carne. Esta associação condiz com o processo descrito
por Anadón (2002), no qual a maciez da carne é uma conseqüência de suas perdas de água, de
modo que quanto maior o conteúdo de água na carne, maior sua maciez.
Não existiu, entretanto, uma associação fenotípica entre EXSU e as medidas, CONG,
COZ e FC, uma vez que foram encontradas estimativas de correlações fenotípicas entre 0,12 e
0,20 entre estas características. CONG possuiu uma associação fenotípica moderada com
COZ e com FC, tendo sido obtidas estimativas de correlações fenotípicas de 0,31 e de 0,33
entre estas características. COZ esteve associada fenotipicamente com FC em pequeno grau,
tendo em vista a estimativa de correlação fenotípica encontrada entre estas características, de
0,24.
6.4.5 Tendências genéticas das características de qualidade de carne
Na Tabela 22 encontram-se as estimativas de tendências genéticas médias por geração
para as características de qualidade de carne.
No caso de pH
i
, pH
6
, pH
f
, as tendências genéticas obtidas foram positivas,
representando uma tendência de incremento nestas características, o que num primeiro
momento parece favorável em se tratando de medidas de pH, uma vez que para o
desenvolvimento da condição PSE da carne é requisito uma tendência de diminuição do pH
inicial. Da mesma forma, as tendências de a*, b* e COZ foram positivas, o que parece
desfavorável para COZ, pois seria interessante que esta característica fosse diminuída.
No caso de AM
i
, AM
f
, L*, EXSU, CONG e FC, as tendências genéticas foram negativas,
representando uma tendência de diminuição nestas características, o que parece uma situação
favorável, uma vez que a redução de AM
i
e AM
f
pode contribuir para evitar o
desenvolvimento da condição PSE da carne, pois a grande e rápida queda de pH é um fator
que pode ser determinante para o desenvolvimento desta condição (BARBUT, 1997;
- 111 -
FERNANDEZ et al., 2002). Além disto, a redução de L* está relacionada a uma menor
palidez da carne e a redução de EXSU, CONG e FC estão relacionadas a melhores
rendimento e maciez (BARBUT, 1993; ANADÓN, 2002).
Tabela 22 – Estimativas de tendências genéticas (em valor absoluto e como percentual em
relação à média) para as características de qualidade de carne
Característica
1
Tendência genética
(p<0,0001)
Tendência genética em relação à média
da característica (%/geração)
pH
i
+0,0003 +0,004
pH
6
+0,0015 +0,02
pH
f
+0,0032 +0,06
AM
i
-0,0003 -0,001
AM
f
-9,6620 x 10
-9
-0,000003
L*
-0,0027 -0,005
a*
+0,0058 +0,1
b*
+0,0003 +0,002
EXSU
-0,0007 % -0,03
CONG
-0,0378 % -0,6
COZ
+0,0154 % +0,07
FC
-0,0033 kg -0,3
1
pH
i
= pH inicial; pH
6
= pH em 6 horas após o abate; pH
f
= pH final; AM
i
= amplitude inicial de queda de pH;
AM
f
= amplitude final de queda de pH; L* = luminosidade; a* = teor de vermelho; b* = teor de amarelo; EXSU
= perdas por exsudação; CONG = perdas por descongelamento; COZ = perdas por cozimento; FC = força de
cisalhamento.
De modo geral, para as características de qualidade de carne analisadas foram obtidas
tendências genéticas aparentemente pequenas, havendo para CONG e FC uma tendência
genética mais relevante. A pequena magnitude das tendências genéticas encontradas pode ser
conseqüência da ausência de seleção para as características de qualidade de carne nesta
linhagem, embora tenham sido encontradas estimativas de correlações genéticas importantes
entre os critérios de seleção utilizados nestas aves e parte destas características, podendo vir a
trazer respostas correlacionadas neste sentido, o que não ocorreu.
- 112 -
As tendências genéticas encontradas foram indicativas de uma melhoria na qualidade
da carne da linhagem analisada, à exceção de CONG. Entretanto, independentemente da
utilização destas características como critério de seleção, é importante que estas tendências
sejam monitoradas constantemente neste programa de seleção, uma vez que existem
determinados limites ou faixas ideais para as características de qualidade de carne, quando
então um incremento nestas características pode passar a ser desfavorável. Por exemplo, pHs
iniciais muito altos ou perdas de água muito pequenas tendem a determinar uma carne dura e
seca (ODA et al., 2003). Além disto, um alto pH da carne favorece o crescimento microbiano
(SAMS, 1999), o que pode trazer, portanto, uma depreciação à qualidade desta carne.
6.4.6 Análise do potencial seletivo das características de qualidade de carne
Para que se possa avaliar com que eficiência uma característica pode responder à
seleção, ou seja, seu potencial seletivo, pode-se utilizar o cálculo do progresso genético, ou
resposta à seleção, que é dado por:
G = i σ
P
h
2
,
em que:
G = progresso genético ou resposta à seleção por geração de seleção;
i = intensidade de seleção;
σ
P
= desvio-padrão fenotípico;
h
2
= herdabilidade.
Desta forma, foram estimados os progressos genéticos esperados para as
características de qualidade de carne, bem como este potencial de resposta como percentual
em relação à média da característica, considerando-se como de valor 1 a intensidade de
- 113 -
seleção para todas as características, o que corresponde à seleção de cerca de 40% de machos
e fêmeas, e utilizando-se os desvios-padrão fenotípicos e as estimativas de herdabilidades
calculadas através do programa MTDFREML. As estimativas de progresso genético
calculadas são apresentadas na Tabela 23.
Tabela 23 – Estimativas de progresso genético esperado (em valor absoluto e como
percentual em relação à média) para as características de qualidade de carne
Característica
1
Progresso genético
esperado por geração
Progresso genético esperado em relação à
média da característica por geração (%)
pH
i
0,004 0,07
pH
6
0,034 0,57
pH
f
0,037 0,64
AM
i
0,018 7,07
AM
f
0,00 0,00
L*
0,79 1,42
a*
0,26 4,81
b*
0,30 2,20
EXSU (%)
0,07 3,15
CONG (%)
0,75 11,57
COZ (%)
0,45 2,13
FC (kg)
0,06 4,90
1
pH
i
= pH inicial; pH
6
= pH em 6 horas após o abate; pH
f
= pH final; AM
i
= amplitude inicial de queda de pH;
AM
f
= amplitude final de queda de pH; L* = luminosidade; a* = teor de vermelho; b* = teor de amarelo; EXSU
= perdas por exsudação; CONG = perdas por descongelamento; COZ = perdas por cozimento; FC = força de
cisalhamento.
Pode-se observar que a característica de maior potencial seletivo é CONG, apesar de
não ter sido a característica com maior estimativa de herdabilidade, apresentando um
progresso genético esperado de 11,57% em relação à sua média por geração de seleção. A
seleção contra CONG pode trazer benefícios para L*, EXSU, COZ e FC, entretanto CONG é
uma característica de difícil mensuração em linha industrial.
- 114 -
Outra característica de grande potencial seletivo parece ser AM
i
, cujo progresso
genético esperado é de 7,07% em relação à média da característica. Se aplicada seleção contra
esta característica, poderia ocorrer uma melhoria em L* e EXSU. Contudo, trata-se também
de uma característica de difícil mensuração em linha industrial de abate.
As características a* e FC também apresentaram uma boa capacidade de resposta à
seleção, com progresso genético esperado de 4,81 e 4,90%, respectivamente, em relação à
média das características. Todavia, a seleção a favor de a* poderia ser favorável para L* mas
seria desfavorável para EXSU e CONG. Já a seleção contra FC seria bastante favorável para
L* e as perdas de água da carne, contudo trata-se também de uma característica de difícil
mensuração em linha industrial. EXSU também apresentou um potencial seletivo razoável, de
3,15% em relação à média da característica, e a seleção contra esta característica poderia ser
favorável para CONG, COZ e FC, mas da mesma forma consiste em uma característica de
pouca viabilidade de mensuração.
As características b* e COZ possuem potenciais seletivos razoáveis, de 2,20 e 2,13%,
respectivamente. Contudo, b* não pode trazer incremento aos demais atributos de qualidade
de carne. Já a seleção contra COZ poderia ser favorável para L*, EXSU, CONG e FC, mas
também se trata de uma característica de difícil mensuração em linha industrial.
A seleção contra L* é uma alternativa que poderia ser adotada neste programa de
seleção, pois esta característica tem certo potencial seletivo, de 1,42% em relação à média da
característica e uma estimativa de herdabilidade moderada. Além disto, a seleção contra esta
característica pode trazer benefícios para CONG, COZ e FC, além de benefícios a EXSU, em
menor grau. Um fator importante é que L* corresponde a uma medida de grande viabilidade
de coleta em linha industrial.
Na linhagem analisada as medidas de pH não apresentaram bom potencial seletivo, os
quais variaram entre 0,07 e 0,64% em relação à média, embora estas medidas possam ser
- 115 -
capazes de trazer respostas correlacionadas interessantes para os atributos de qualidade de
carne, como a luminosidade, as perdas de água por exsudação, descongelamento e cozimento,
e a força de cisalhamento, e embora para pH
f
tenha sido encontrada uma estimativa de
herdabilidade moderada. Desta forma, a seleção para as medidas de pH da carne, assim como
para AM
f
, para a qual não houve progresso genético esperado, não parece ser indicada.
Na necessidade de uma melhoria urgente nos atributos de qualidade de carne desta
linhagem de frangos, recomenda-se para este programa de melhoramento genético o uso de
características de maior potencial seletivo como critério de seleção, como CONG ou FC,
ainda que estas características sejam de mensuração dispendiosa. Entretanto, a indústria pode
obter para os atributos da carne um progresso menos rápido, mas não menos eficiente,
utilizando-se L* como critério de seleção, com a principal vantagem de que esta é uma
característica de fácil mensuração em linha industrial de abate. Um ponto importante é que a
seleção visando uma melhoria urgente das características de qualidade de carne não parece
fundamental neste momento nesta linhagem, tendo em vista as tendências genéticas obtidas
para estas características.
6.4.7 Análise das respostas correlacionadas das características recomendadas para
seleção
O cálculo da resposta correlacionada é utilizado para o estudo de como a seleção para
uma característica é capaz de trazer mudanças em outra geneticamente relacionada. Sua
intensidade e direção dependerão das correlações existentes entre as características. A
resposta correlacionada é dada por:
RC
Y
= i
X
h
X
r
gXY
σ
gY,
- 116 -
em que:
RC
Y
= resposta correlacionada em Y;
i
X
= intensidade de seleção aplicada em X;
h
X
= raiz quadrada da herdabilidade de X;
r
gXY
= correlação genética entre X e Y;
σ
gY
= desvio-padrão genético de Y.
Para realização da simulação de resposta correlacionada, foram utilizadas como
critério de seleção as características CONG e FC, as quais apresentaram maior capacidade de
resposta à seleção neste estudo. Foram analisadas suas respostas correlacionadas sobre EXSU
e L*, e a intensidade de seleção considerada nesta simulação foi 1, o que corresponde à
seleção de cerca de 40% de machos e fêmeas. Além disto, simulou-se também a resposta
correlacionada de L*, uma característica de menor capacidade de resposta à seleção do que
CONG e FC, mas de grande viabilidade de coleta. Também se considerando intensidade de
seleção 1, simulou-se a resposta correlacionada de L* sobre EXSU e FC.
- Estudo da resposta correlacionada de CONG
A resposta correlacionada de CONG sobre EXSU foi de 0,05% por geração.
Considerando-se que em um ano há 1,5 geração de aves, tem-se uma redução de 0,07% ao
ano em EXSU quando se seleciona contra CONG. Considerando-se a produção de cerca de 9
milhões de toneladas de carne de frango no último ano no Brasil (ABEF, 2006), estima-se
com esta seleção proposta uma economia anual em perdas por exsudação da carne de cerca de
6,3 mil toneladas. Esta economia representa uma diminuição de 0,001% em EXSU em relação
à sua média ao ano.
- 117 -
A resposta correlacionada de CONG sobre L* foi de 0,48 ao ano, ou seja,
selecionando-se contra CONG pode-se reduzir em cerca de 0,3% o valor de L* em relação à
sua média por ano.
- Estudo da resposta correlacionada de FC
A resposta correlacionada de FC sobre EXSU foi de 0,06% por geração.
Considerando-se que em um ano há 1,5 geração de aves, tem-se uma redução de 0,09% ao
ano em EXSU quando se seleciona contra FC. Considerando-se a produção de cerca de 9
milhões de toneladas de carne de frango no último ano no Brasil (ABEF, 2006), estima-se
com esta seleção proposta uma economia anual em perdas por exsudação da carne de cerca de
8,1 mil toneladas. Esta economia representa uma diminuição de 0,002% em EXSU em relação
à sua média ao ano.
A resposta correlacionada de FC sobre L* foi de 0,6 ao ano, ou seja, selecionando-se
contra FC pode-se reduzir em cerca de 0,34% o valor de L* em relação à sua média por ano.
- Estudo da resposta correlacionada de L*
A resposta correlacionada de L* sobre EXSU foi de 0,02% por geração.
Considerando-se que em um ano há 1,5 geração de aves, tem-se uma redução de 0,03% ao
ano em EXSU quando se seleciona contra L*. Considerando-se a produção de cerca de 9
milhões de toneladas de carne de frango no último ano no Brasil (ABEF, 2006), estima-se
com esta seleção proposta uma economia anual em perdas por exsudação da carne de cerca de
2,8 mil toneladas. Esta economia representa uma diminuição de 0,0006% em EXSU em
relação à sua média ao ano.
A resposta correlacionada de L* sobre FC foi de 0,07 ao ano, ou seja, selecionando-se
contra L* pode-se reduzir em cerca de 5,6% o valor de FC em relação à sua média por ano.
- 118 -
Nos três casos pode-se observar que as respostas correlacionadas estudadas foram
favoráveis, em maior ou menor intensidade, devendo-se, portanto, estabelecer as estratégias
do programa de seleção conforme o interesse e a urgência da empresa em melhorar a
qualidade da carne, considerando a viabilidade da coleta do critério de seleção a ser utilizado.
- 119 -
7 CONCLUSÕES
A seleção a favor das características de desempenho, carcaça e composição corporal
na linhagem de frangos analisada de modo geral não interferiu de maneira relevante nas
características de qualidade de carne na linhagem analisada, embora grande parte destas
características pareça influenciar de forma significativa o pH inicial e a queda final de pH da
carne. Apenas a seleção a favor do peso à seleção juvenil pode ser capaz de afetar
significativamente a qualidade da carne, trazendo uma redução em suas perdas de água, o que
torna a seleção a favor desta característica favorável para a qualidade da carne da linhagem
analisada.
A seleção para a maior parte das características de desempenho e carcaça também
pode ser capaz de trazer certo incremento ao teor de amarelo da carne, apesar de este não
parecer ser um atributo fundamental neste momento para o mercado consumidor ou para a
indústria processadora.
A seleção contra CONG ou FC pode ser uma alternativa para melhorar rapidamente os
atributos de qualidade de carne na linhagem analisada, pois estas características possuem
grande potencial seletivo e são capazes de trazer melhorias à cor e às perdas de água da carne.
Entretanto, tratam-se de características de pequena viabilidade de mensuração em linha
industrial, recomendando-se sua utilização em caso de grande interesse ou necessidade de
incremento nos atributos de qualidade da carne, o que não parece ser o caso desta linhagem
neste momento, em virtude das tendências genéticas das características de qualidade de carne
analisadas serem favoráveis às mesmas.
A seleção contra a luminosidade da carne na linhagem de frangos analisada pode ser
outra estratégia a ser adotada neste programa de seleção, pois também pode trazer benefícios
para as perdas de água por descongelamento, cozimento e para a força de cisalhamento da
- 120 -
carne, além de benefícios às perdas de água por exsudação da carne em menor grau. A
luminosidade também apresentou certo grau de capacidade de resposta à seleção e, além disto,
corresponde a uma medida de grande viabilidade de coleta em linha industrial.
Ambas as estratégias de seleção sugeridas seriam capazes de trazer resultados
importantes tanto para o mercado consumidor, melhorando a cor e a maciez da carne, como
para a indústria processadora, melhorando sua capacidade de retenção de água.
- 121 -
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