201
Eu considero que o meu objetivo foi alcançado, com resultados positivos...
eu tenho também depoimentos registrados [...] que enriquecem a nossa
própria existência particular, de um ideal pessoal e dessa realização da arte
com a criança, dando oportunidade a ela, que está fora do contexto do
mercado, de se expressar, de ser reconhecida no seu meio escolar, no seu
meio familiar e cultural. (ELTON, EFO).
A fala de Elton, embora demonstre uma satisfação particular, expressa o
sentimento de isolamento no projeto CRIAR, que é complementado quando diz que
não teve nenhuma avaliação da empresa e denuncia que “o próprio espírito da
empresa é antagônico à questão social”. E continua seu discurso crítico:
Eu acho que para a empresa desenvolver um projeto contemplando essas
questões sociais e de instrução, exigiria muito mais sensibilidade e
conhecimento dessa matéria. E às vezes você tem na empresa
administradores que estão com a visão num processo de produção, de
lucro, de resultados [...] num ritmo, numa dinâmica, numa forma de relação
completamente defasados da vida real, da vida dos ritmos, da vida das
emoções, etc. Não se pode transportar esse modelo industrial e
administrativo para um projeto artístico, dinâmico. Eu acho que aí está a
essência da questão. (ELTON, EFO).
Percebe-se, na expressão de Elton, uma inquietação pela forma inadequada
como a empresa se relaciona com os projetos incentivados por ela mesma e, ao
mesmo tempo, um desejo de que houvesse uma dinâmica interativa entre a empresa
e os atores envolvidos no projeto CRIAR, confirmando as falas dos outros
entrevistados.
Passando para a entrevista de Carol, percebe-se também um posicionamento
crítico em relação ao projeto CRIAR, quando diz:
Eu considero que o objetivo do meu projeto foi alcançado em parte, porque
a minha proposta era trabalhar com todas as escolas da rede pública, e
atendemos somente a metade. Eu acho muito complicado um projeto de
relacionamento com a comunidade trabalhar com 50% de um espectro da
comunidade. Ele deveria atender não somente a todas as escolas, mas com
todos os espectros da sociedade, com a classe trabalhadora, com os
professores, com os estudantes, com donas de casa, com ações amplas,
com ações direcionadas. Mas se você vai fazer um trabalho mais intenso
com as escolas, isto gera uma baixa estima aos que não participam, gera
competição desnecessária, gera um ciúme desnecessário, e o que pode ser
produtivo, por um lado, pode agravar de outro lado, gera problema de outro
lado. Acho que fica uma balança muito desigual. Tem que se tratar
igualmente todas as escolas. Não há que se fazer amostragem de 50%,
numa cidade com 20 escolas... Não tem sentido! Há que se dividir as ações
com todas. Se fossem 200 escolas, trabalhar com 20, tudo bem, mas 20 [...]
não tem por quê. (CAROL, ECP).