RESUMO
Staphylococcus aureus é um dos principais agentes de infecção
humana, especialmente em indivíduos hospitalizados. Cepas MRSA (Methicillin
Resistant Staphylococcus aureus) constituem um grave problema em hospitais de
todo o mundo, aumentando a morbidade e mortalidade de indivíduos infectados. A
vancomicina é uma das únicas opções terapêuticas. No entanto, o uso excessivo
desse antibiótico pode selecionar cepas resistentes, agravando ainda mais o
problema. Trabalhadores hospitalares podem carrear S. aureus nas narinas
anteriores e pele e, assim, constituem um importante elo na epidemiologia das
infecções nosocomiais. Nesse trabalho foram coletadas amostras das mãos e
narinas de 100 trabalhadores do Hospital Universitário “Dr. Domingos Leonardo
Cerávolo” da Universidade do Oeste Paulista - UNOESTE, em Presidente Prudente
(SP). Desse total, 68% não eram portadores de S. aureus, 27% carreavam S. aureus
sensível a meticilina, 4% carreavam MRSA e 1% carreava BORSA (Borderline
Oxacillin Resistant Staphylococcus aureus). No mesmo período (julho a dezembro
de 2002), 54,3% das infecções estafilocócicas em pacientes internados nessa
Instituição tinham como agente MRSA. A técnica da PCR (Polymerase Chain
Reaction) Multiplex para a detecção do gene femA (gene espécie-específico), mecA
(resistência à meticilina) e ileS-2 (resistência à mupirocina) foi comparada com o
método da difusão com discos e provas convencionais de identificação. Os
resultados da PCR Multiplex apresentaram completa concordância com os
resultados obtidos com os testes fenotípicos convencionais. Para verificar a relação
genética entre as 30 cepas MRSA, 5 isoladas de trabalhadores e 25 de pacientes,
foram realizadas a antibiotipagem e tipagem molecular através da técnica RAPD
(Random Amplified Polymorphic DNA). Pela antibiotipagem as cepas MRSA foram
agrupadas em 4 antibiotipos (A a D), sendo que 87% pertenciam ao antibiotipo A.
Após a análise do padrão de bandas gerado pelo RAPD, 8 grupos (I a VIII) foram
definidos por apresentarem 100% de similaridade. Apenas 2 cepas não foram
consideradas geneticamente relacionadas pelo RAPD, e apresentaram maior perfil
de sensibilidade aos antimicrobianos (antibiotipo B). Por outro lado, 90% das cepas
MRSA puderam ser consideradas fortemente relacionadas por apresentarem 90%
ou mais de similaridade entre si. Os dados obtidos nesse estudo mostram que no
hospital pesquisado existem cepas MRSA com grande similaridade genética,
podendo ser isoladas em alguns trabalhadores hospitalares e provocando doença
em pacientes. Nessa instituição, MRSA parece ser endêmico uma vez que, desde
sua inauguração, há uma alta incidência de infecções por essas cepas. De acordo
com a literatura, a medida mais eficaz em diminuir o número de infecções por MRSA
em ambientes endêmicos é o isolamento do paciente. Todos os microrganismos
isolados nesse estudo apresentaram sensibilidade a mupirocina. O uso de
mupirocina pode ser uma medida profilática importante para erradicação nasal de
MRSA em portadores assintomáticos, no entanto, a literatura relata experiências
sem sucesso em instituições onde há alta incidência de infecções por MRSA e, além
disso, pode ocorrer seleção de cepas resistentes a mupirocina. O perfil de
sensibilidade aos antimicrobianos, apresentado pela maioria das cepas isoladas
nesse estudo, é semelhante àquele encontrado no clone multi-resistente brasileiro
presente em diversos hospitais do país. Entretanto, somente a aplicação de técnicas
de tipagem com maior poder discriminatório poderia confirmar essa hipótese.
Palavras-chave: MRSA; tipagem molecular; RAPD; epidemiologia molecular; S.
aureus