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Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE
DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
_____________________________________________________________________________________________
CONDICIONANTES MACROECONÔMICOS
DA COMPETITIVIDADE
Nota Técnica do Bloco Temático I
O conteúdo deste documento é de
exclusiva responsabilidade da equipe
técnica do Consórcio. Não representa a
opinião do Governo Federal.
Campinas, 1993
A Comissão de Coordenação - formada por Luciano G. Coutinho (IE/UNICAMP), João Carlos Ferraz (IEI/UFRJ), Abílio dos Santos
(FDC) e Pedro da Motta Veiga (FUNCEX) - considera que o conteúdo deste documento está coerente com o Estudo da Competitividade da Indústria
Brasileira (ECIB) e servirá para a elaboração do Relatório Final do Estudo.
A Coordenação do ECIB agradece ao consultor José Carlos Miranda (Professor do Instituto de Economia/UNICAMP e Diretor do Centro
de Estudos de Relações Econômicas Internacionais - CERI/IE/UNICAMP) pela elaboração deste documento e pelos trabalhos de coordenação das
Notas Técnicas Temáticas do Bloco "Condicionantes Macroeconômicos da Competitividade".
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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CONSÓRCIO
Comissão de Coordenação
INSTITUTO DE ECONOMIA/UNICAMP
INSTITUTO DE ECONOMIA INDUSTRIAL/UFRJ
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FUNDAÇÃO CENTRO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO EXTERIOR
Instituições Associadas
SCIENCE POLICY RESEARCH UNIT - SPRU/SUSSEX UNIVERSITY
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NÚCLEO DE POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA - NACIT/UFBA
DEPARTAMENTO DE POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA - IG/UNICAMP
INSTITUTO EQUATORIAL DE CULTURA CONTEMPORÂNEA
Instituições Subcontratadas
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Instituição Gestora
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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EQUIPE DE COORDENAÇÃO TÉCNICA
Coordenação Geral: Luciano G. Coutinho (UNICAMP-IE)
João Carlos Ferraz (UFRJ-IEI)
Coordenação Internacional: José Eduardo Cassiolato (SPRU)
Coordenação Executiva: Ana Lucia Gonçalves da Silva (UNICAMP-IE)
Maria Carolina Capistrano (UFRJ-IEI)
Coord. Análise dos Fatores Sistêmicos: Mario Luiz Possas (UNICAMP-IE)
Apoio Coord. Anál. Fatores Sistêmicos: Mariano F. Laplane (UNICAMP-IE)
João E. M. P. Furtado (UNESP; UNICAMP-IE)
Coordenação Análise da Indústria: Lia Haguenauer (UFRJ-IEI)
David Kupfer (UFRJ-IEI)
Apoio Coord. Análise da Indústria: Anibal Wanderley (UFRJ-IEI)
Coordenação de Eventos: Gianna Sagázio (FDC)
Contratado por:
Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT
COMISSÃO DE SUPERVISÃO
O Estudo foi supervisionado por uma Comissão formada por:
João Camilo Penna - Presidente Júlio Fusaro Mourão (BNDES)
Lourival Carmo Mônaco (FINEP) - Vice-Presidente Lauro Fiúza Júnior (CIC)
Afonso Carlos Corrêa Fleury (USP) Mauro Marcondes Rodrigues (BNDES)
Aílton Barcelos Fernandes (MICT) Nelson Back (UFSC)
Aldo Sani (RIOCELL) Oskar Klingl (MCT)
Antonio dos Santos Maciel Neto (MICT) Paulo Bastos Tigre (UFRJ)
Eduardo Gondim de Vasconcellos (USP) Paulo Diedrichsen Villares (VILLARES)
Frederico Reis de Araújo (MCT) Paulo de Tarso Paixão (DIEESE)
Guilherme Emrich (BIOBRÁS) Renato Kasinsky (COFAP)
José Paulo Silveira (MCT) Wilson Suzigan (UNICAMP)
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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SUMÁRIO
RESUMO EXECUTIVO ......................................... 1
INTRODUÇÃO ............................................... 19
1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS ............................. 23
2. DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO BRASILEIRA .................... 26
3. ESTRATÉGIAS ABRUPTAS DE ESTABILIZAÇÃO: CARACTERIZAÇÃO
E PROBLEMAS À LUZ DA EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL ........ 34
3.1. Caracterização das Estratégias Alternativas ...... 34
3.2. Problemas de Implementação de Estratégias Abruptas 39
4. PRINCIPAIS CONDICIONANTES MACROECONÔMICOS DA COMPETI-
TIVIDADE E DA REESTRUTURAÇÃO SISTÊMICA: ALGUMAS SU-
GESTÕES DE POLÍTICAS. .................................. 43
5. INDICADORES ........................................... 57
5.1. Política Macroeconômica .......................... 57
5.2. Custo de Capital ................................. 57
5.3. Taxa de Câmbio ................................... 58
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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RESUMO EXECUTIVO
1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
As peculiaridades da crise e do posterior ajustamento de
algumas das principais economias latino-americanas na década de
oitenta colocam-nas como as principais referências internacionais
ao estudo dos condicionantes macroeconômicos da competitividade
da economia brasileira. As diversas tentativas - ortodoxas ou
heterodoxas - para estabilizar e superar a estagnação não
resultaram, até o segundo lustro dos anos oitenta, em economias
ajustadas, que transitaram de forma bem-sucedida e automática da
estabilidade para o crescimento auto-sustentado.
Do malogro das experiências latino-americanas emergiram
análises e propostas no âmbito do Banco Mundial centradas na
necessidade de acoplar às políticas de estabilização reformas
estruturais destinadas a liberalizar o comércio exterior e o
sistema financeiro doméstico; a desregulamentar os mercados
internos e os fluxos externos de capitais; a privatizar o setor
produtivo estatal; enfim a reduzir o tamanho e a abrangência das
atividades estatais. Neste contexto, os ajustes fiscal e
patrimonial do Estado seriam uma precondição às demais reformas
estruturais e à estabilidade (ou reforma) monetária e estas, por
sua vez, à retomada do crescimento.
Desde já cabe salientar que, no caso chileno, as políticas
implementadas de 1974 a 1984, centradas na liberalização do
comércio e do sistema financeiro, na desregulamentação dos fluxos
externos de capitais e na sobrevalorização do câmbio, não
lograram o ajuste macroeconômico pretendido. Este iniciou-se a
partir de 1985 e baseou-se em políticas de gasto público e de
financiamento de caráter anti-cíclico, acopladas às políticas
liberalizantes iniciadas em 1974. Só em tal contexto, os ajustes
fiscal e do balanço de pagamentos realizaram-se sem provocar
efeitos recessivos no mercado interno. A poupança pública
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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derivou-se da expansão econômica e, sobretudo, da exportação
estatal de cobre, que representa, em média, 12% do PIB e 46% das
receitas de exportação daquele país. Esta peculiaridade aliada à
não interrupção dos fluxos externos de capitais tornou possível a
geração de um excedente público potencialmente inversível e capaz
de ser convertido em excedente financeiro para absorver os custos
do ajuste macroeconômico em termos de níveis de renda e emprego.
Os logros da Argentina e do México, nos últimos anos, não
podem ser somente creditados aos ajustes patrimoniais
(privatizações) e fiscais (cortes no gasto público e elevação
recente da carga tributária). O emprego da política cambial, em
condições de liberalização financeira e comercial, foi
fundamental para conter a inflação. Esta política manteve-se até
agora, dando aos dois países novamente uma âncora cambial (ainda
que com deslizamentos no caso do México) graças às condições de
abundante liquidez e às baixas taxas de juros que predominam no
mercado internacional da área do dólar, o que permitiu absorver
recursos financeiros externos para fechar os desequilíbrios em
conta corrente do balanço de pagamentos.
No caso mexicano, a política de ajuste iniciou-se, em
dezembro de 1987, com a pactação de preços e salários (política
de rendas), e com a adoção de paridade fixa para a taxa de câmbio
nominal (com posterior deslizamento, sempre em nível inferior ao
diferencial de preços entre o México e os EUA). Objetivava-se com
essa medida estabelecer uma regra monetária-fiscal que
circunscrevesse o estoque de pesos em circulação aos limites das
reservas internacionais mexicanas e que interditasse o
financiamento do Estado através de emissão de moeda.
Paralelamente, iniciou-se um ajuste fiscal do Estado, mantendo-se
a política monetária como elemento ativo daquela estratégia. Foi
somente com a absorção de recursos externos e com a aceleração
das privatizações a partir de 1990, que o governo mexicano pôde
rebaixar o patamar dos juros, diminuindo o ativismo monetário.
Durante o início do plano de estabilização - entre 1988 e 1989 -,
as taxas reais de juros eram de 30% ao ano. Em 1990 e 1991 elas
diminuíram, tornando-se até negativas em alguns meses de 1992,
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quando telefonia, portos, mineração e os bancos acabaram de ser
privatizados. Aquelas privatizações, em quatro anos, renderam US$
21 bilhões, compensando os déficits em conta corrente e
permitindo um rebaixamento das taxas de juros sem fuga de
capitais. Entretanto, tal estratégia tem limites claros. Em 1993,
com o fim do ajuste patrimonial, as taxas de juros voltaram a
subir para evitar a fuga de capitais, evitar pressões no mercado
monetário-financeiro e garantir o financiamento do déficit em
conta corrente via entrada de capitais.
A estabilização argentina no contexto do Plano Cavallo não
pode ser compreendida na ausência de duas hiperinflações, que
levaram os agentes econômicos e políticos a aceitar a adoção de
um regime monetário, em que a moeda nacional se ancorou no dólar,
como garantia de estabilidade. Isto significa que o Banco Central
somente emite dinheiro para comprar reservas cambiais, tirando
moeda de circulação no caso de perder reservas. A regra fiscal
derivada é que o setor público não pode ser financiado com
emissão monetária não-lastreada. Logo, um ajuste fiscal e
patrimonial do Estado torna-se condição necessária.
Do ponto de vista monetário-financeiro, a adoção de âncora
cambial como estratégia abrupta de estabilização foi viabilizada
pela composição da riqueza na Argentina antes do Plano Cavallo. A
participação dos ativos financeiros em moeda doméstica era de
9,5% do PIB, enquanto que dos ativos em dólar de 52,1%, não
gerando com isso, para as autoridades monetárias, problemas de
prevenção de transformações de ativos financeiros denominados em
moeda nacional em ativos em dólar. Em segundo lugar, no caso da
Argentina era indiferente tornar a base monetária ou M1
conversível dado que o multiplicador monetário era unitário. E,
por fim, a conversibilidade não foi de 100%, pois 15% do lastro
pôde ser constituído em Bonex, ou seja, em um título indexado ao
dólar e que paga juros em dólares. Além disso, cerca de 10% a 15%
das reservas que compõem o lastro são de ativos ilíquidos.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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2. DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO BRASILEIRA
Os principais indicadores da economia brasileira para
janeiro-maio de 1993 reforçam a tendência observada em 1992: o
nível das reservas internacionais do BACEN era de US$ 18,6
bilhões (conceito de caixa), a dívida líquida total do setor
público manteve-se em US$ 150 bilhões e a dívida interna no mesmo
patamar de US$ 75 bilhões. Em percentagem do PIB, obteve-se um
superávit primeiro de 2,5% e operacional de 1,0% devido ao
pagamento de juros reais de 1,5%. Note-se que, a partir de
fevereiro, assiste-se à retomada dos influxos de capital que se
colocaram, em 1992, como um dos mais importantes propulsores do
déficit operacional do setor público. Está, até o momento, em
aberto o impacto monetário-fiscal do financiamento das garantias
para implementar a redução da dívida externa brasileira. O
financiamento de tais garantias envolverá a contratação de novas
dívidas externas e a imobilização de parte das reservas do Banco
Central.
Apesar das incertezas acerca da renegociação da dívida
externa e da instabilidade política, que também afeta
negativamente as expectativas dos agentes econômicos, o volume
das reservas é confortável e não há perspectivas de crise
cambial. Também não há pressões de demanda; os salários estão
deprimidos; a taxa de poupança interna é elevada e superior a de
investimento; e os indicadores das finanças públicas não se
alteraram drasticamente desde 1992. O comportamento de tais
variáveis não explica, assim, os níveis prevalecentes de
inflação, ou sua acomodação num patamar médio de 29% ao mês, em
1993.
Cabe notar, entretanto, que, nas condições atuais da
economia brasileira, a existência de um estoque de dívida pública
de curto prazo indexada e pagando juros reais faz com que o
montante de financiamento necessário ao setor público seja função
direta da inflação corrente e da taxa de juros. Nestas
circunstâncias, uma crise financeira do Estado pode emergir mesmo
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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se o setor público apresentar superávits primários e déficits
operacionais diminutos. Para tal é suficiente que algum
acontecimento desfavorável altere a confiança em relação aos
títulos públicos; ou que as expectativas dos agentes líquidos
sejam de elevação progressiva, ao longo do tempo, do déficit
público (dada a inevitalidade dos gastos na área social e em
infra-estrutura) frente a condições políticas adversas à elevação
da carga tributária macroeconômica. Quanto a esse aspecto deve-
se, ainda, salientar que em condições de inflação crônica e
elevada, de moeda indexada e de recessão não existem
possibilidades reais de promover uma reestruturação duradoura dos
sistemas tributário e fiscal, nem, tampouco, tomar a eliminação
do déficit público como precondição suficiente à estabilidade da
moeda.
A manutenção das altas taxas de inflação deve-se ao forte
componente inercial resultante da indexação geral da economia. A
indexação monetária desempenha papel particular na manutenção do
patamar elevado da taxa de inflação e dificulta a execução de
qualquer política monetária com intento de estabilização. A
questão central, do ponto de vista da política monetária, é que
as aplicações de curto prazo dos agentes econômicos destinadas a
financiar o carregamento de títulos públicos pelo setor
financeiro, são virtualmente moeda indexada. O valor da massa
monetária indexada à inflação corrente auto-expande-se e
dificulta o controle da liquidez da economia. E quanto maior for
a liquidez em posse dos agentes econômicos, tanto mais qualquer
elevação de preços nominais é referendada pelo mercado.
Além disso, a inflação no Brasil, hoje, não é puramente
inercial, mas tem caráter expectacional. Vale dizer, a
antecipação dos aumentos de preços em função da avaliação do
custo de oportunidade da produção corrente e da reposição de
estoques não se faz apenas em função da inflação passada mas,
também, através de antecipações da taxa de inflação futura. Os
preços mais relevantes para essa previsão são as tarifas públicas
e as taxas de câmbio e de juros. As tarifas públicas e a taxa de
câmbio, na ausência de choques exógenos, tendem a seguir um
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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comportamento inercial. Já a taxa de juros é particularmente
sensível às tentativas de restrição de liquidez interna que as
autoridades monetárias desejam impor à economia para conter a
inflação, e às necessidades de financiamento do setor público.
A sensibilidade da taxa de juros nominal à política
monetária e à necessidade de financiamento público é, atualmente
no Brasil, potencializada pelas peculiaridades da TR. Trata-se de
uma taxa de juros que funciona como indexador, transformando, a
cada dia, as expectativas de inflação futura em piso presente das
taxas de juros nominais de mercado. Hoje a TR é fixada
diariamente com base no custo médio de captação dos CDBs de
trinta dias emitidos pelos grandes bancos. Através da TR, os
demais instrumentos financeiros - todos de curtíssimo prazo -
rapidamente incorporam as inflações corrente e esperada às taxas
de juros nominais.
Agentes privados líquidos, impossibilidade de
compatibilização intertemporal de receitas e despesas públicas,
existência de instrumentos financeiros de curto prazo e indexados
por uma taxa esperada de inflação, e emissão de títulos públicos
para financiar o estoque da dívida e para comprar cambiais - são
elementos suficientes para gerar taxas crescentes de inflação com
grande independência do real comportamento das variáveis
macroeconômicas fundamentais à formação de preços. Neste sentido,
a inflação brasileira hoje é um fenômeno monetário-financeiro em
que a intermediação bancária transforma a dívida pública em moeda
e os detentores desta moeda arbitram - segundo suas expectativas
sobre o custo de oportunidade de seus capitais - o preço de sua
retenção. Em tal contexto, um programa de combate à inflação
exige soluções simultâneas para as variáveis monetária,
financeira, cambial e fiscal, capaz de compatibilizar
estabilidade e crescimento a longo prazo e, assim, combinar
virtuosamente aplicação em ativos financeiros e imobilização do
capital produtivo.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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3. PROPOSIÇÕES
A essência de um programa de ataque simultâneo e abrangente
às causas do processo inflacionário, socialmente respaldado, está
na criação de um jogo de soma positiva, só alcançável pela
transição da estabilização em retomada do crescimento. Nas
condições brasileiras, nenhum tipo de programa de estabilização
pode lograr êxito sem uma reversão coordenada de expectativas e
sem a adesão dos agentes econômicos, especialmente dos price
makers e dos exportadores. Para tal, há, de saída, um conjunto de
medidas e uma agenda de reformas indispensáveis para viabilizar a
estabilidade de preços, salários e câmbio e oferecer à riqueza
financeira estocada sob a forma de quase-moeda ancoragem real no
investimento.
1. Ajuste fiscal: desde logo é essencial caminhar em direção
a um ajuste fiscal duradouro, de forma consensual, inclusive
quanto ao timing e etapas de sua implementação visando: a) elevar
significativamente a receita tributária macroeconômica, por
etapas; b) efetuar uma profunda reestruturação do gasto e do
investimento público privilegiando as dimensões social e da
competitividade sistêmica.
Em contraste com a estrutura tributária internacional, a
brasileira destaca-se pela constância da carga tributária como
proporção do PIB e pela pequena participação dos tributos sobre
rendimentos e lucros. É, também, menor a participação das
contribuições sociais e a participação dos impostos indiretos
sobre bens e serviços é relativamente elevada quando comparada a
dos países da OCDE. A comparação das cargas tributárias do Brasil
e da OCDE revela que o nosso problema não é o nível excessivo de
tributação, mas a inadequação da composição da carga e da
natureza dos impostos face aos requisitos de financiamento.
Superar estas especificidades e, ao mesmo tempo, apontar para a
possibilidade de recuperação da receita fiscal macroeconômica ao
longo do tempo, constituem precondições essenciais à adequação da
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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capacidade de financiamento do Estado aos desafios de
competitividade sistêmica.
2. Equacionamento das dívidas intra-setor público: o acerto
organizado das dívidas intra-setor público, interrompendo-se o
expediente das inadimplências voluntárias, é essencial para
desbloquear as condições de financiamento dos grandes blocos de
infra-estrutura, a começar pelas dívidas cruzadas dentro do setor
elétrico (concessionárias estaduais, Eletrobrás, Tesouro).
3. Saneamento Patrimonial dos Bancos Públicos: definir
estratégia efetiva de saneamento patrimonial dos bancos públicos
para que estes desempenhem papel de fomento da reestruturação
sistêmica. De um modo geral, estas instituições apresentam uma
concentração excessiva de créditos contra o setor público, em
muitos casos junto ao próprio acionista controlador, suas
empresas e autarquias.
Em face da situação precária das finanças públicas, estes
créditos em geral foram renegociados em prazos longos, o que
afeta os índices de liquidez dos bancos oficiais, impedindo que
atuem mais efetivamente no fomento à atividade econômica e
pressionando as taxas de juros.
Neste sentido, entende-se como fundamental:
- avançar nas tentativas de "encontro de contas" intra-setor
público, nas esferas federal, estadual e municipal, a exemplo das
iniciativas atualmente em debate no Congresso Nacional;
- transformação dos ativos financeiros de longo prazo contra
o setor público em ativos contra o setor privado, melhorando o
risco e reduzindo o giro dos ativos dos bancos oficiais; isto tem
sido viabilizado pelo programa federal de privatizações, mas
também pode ser feito aceitando-se estes créditos para
recolhimento de tributos no caso de empresas com projetos de
investimento. Cabe destacar que o crescimento do mercado
secundário de moedas de privatização ("moedas podres") permite o
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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desenvolvimento de engenharias financeiras que pode gerar
financiamentos de longo prazo para o setor privado; a viabilidade
de todas estas alternativas exige a securitização (registro na
CETIP) dos ativos contra o setor público, para garantir a
negociabilidade dos mesmos;
- comprometimento dos retornos operacionais dos ativos de
longo prazo dos bancos oficiais com operações de fomento, sendo
para tanto necessário que estas instituições tenham a
possibilidade de acesso ao redesconto do Banco Central em bases
não-punitivas, desde que efetivamente estejam comprometidas com o
financiamento de longo prazo a novos investimentos, privados e
público-privados (parcerias);
- aperfeiçoamento dos mecanismos de gestão dos bancos de
forma que se imponha limites claros aos empréstimos por esses
concedidos a seus controladores e que se desenvolva funções de
fomento da atividade produtiva até agora pretendidas pelo
objetivo de financiamento aos Tesouros Estaduais.
4. Financiamento menos oneroso para o Tesouro: a
implementação dos ajustes anteriores abre espaço para a montagem
de alternativas menos onerosas para a dívida pública com efeito
duplamente benéfico: a) reduz a massa de encargos financeiros do
Tesouro que vem esterilizando o superávit primário; b) permite
reduzir a taxa básica de juros no mercado monetário e apontar
para uma estrutura de termo de taxas de juros positivamente
inclinada. A remonetização que acompanha a estabilização conduz à
redução dos encargos e tende a aumentar os graus de liberdade da
política monetária, especialmente se as expectativas evoluírem de
forma satisfatória, vis-à-vis a estabilização. Transitoriamente
deve-se estudar mecanismos alternativos tais como: permissão para
operações pós-fixadas em prazos curtos, fixação de indexador
oficial, indexação à taxa de câmbio.
5. Privatização e engenharias financeiras para acelerar o
ajuste patrimonial do Estado: a aceleração do ajuste patrimonial
do Estado é essencial para os três pontos supracitados pois
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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viabiliza a transformação de créditos e ativos financeiros contra
o setor público em ativos (securitizados ou não) contra o setor
privado. As privatizações e a efetivação mais rápida de outras
engenharias financeiras intra-setor público e entre este e o
setor privado não apenas viabilizam o ajuste do setor público
mas, também, ajudam a ancorar a liquidez da economia, reduzindo o
grau de instabilidade potencial.
6. Banco Central ágil e capaz de neutralizar pressões: um
aprimoramento político-institucional com a consolidação das
contas entre Tesouro Nacional e Banco Central (e.g. transferência
para o Tesouro da dívida externa e redução dos títulos do Tesouro
Nacional na carteira do Banco Central) deve contribuir para uma
gestão ágil e estabilizadora do Bacen sobre quaisquer
desequilíbrios nos mercados monetário, de crédito e de câmbio.
Dentro de certos limites, através de títulos de sua própria
emissão, especialmente lastreados, o Banco Central deve
neutralizar pressões de curto-prazo sem transferir o ônus ao
Tesouro. As iniciativas do Banco Central devem estar articuladas
coerentemente ao programa macroeconômico abrangente. Portanto, a
sua atividade estabilizadora deve estar submetida à orientação
geral da política econômica.
7. Política monetária austera no curto prazo com perspectiva
de juros declinantes: o ajuste fiscal, o equacionamento das
dívidas intra-setor público, o saneamento das instituições
financeiras públicas, as engenharias financeiras e as
privatizações são condições fundamentais para neutralizar e
minorar as pressões monetárias expansionistas, infundir confiança
quanto à solidez das contas públicas e ancorar a liquidez do
sistema financeiro. São, todas, condições para eficácia da
política monetária.
8. Política creditícia, reforma financeira e mercado de
capitais: para que o controle da expansão do crédito, no contexto
da estabilização, não seja estéril é preciso combiná-lo com
medidas de direcionamento dos empréstimos para os setores
prioritários da política industrial, com operações de prazos mais
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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longos e juros reduzidos. A formulação e possibilidade de
execução de uma política creditícia, simultânea ao processo de
remonetização, deve ser vista como instrumento-chave para induzir
decisões de investimento produtivo (portanto, instrumento-chave
da política industrial). Para isso é necessário que a lei
complementar em discussão no Congresso Nacional (art. 192)
permita não apenas a imposição de controles quantitativos ao
crédito mas, também, a fixação de obrigatoriedades em termos de
prazos, tipos de operação e prioridades setoriais. A
regulamentação de formas de redesconto seletivo aos bancos
privados, permitindo ao Bacen oferecer suporte a empréstimos de
longo prazo dentro das prioridades (da política industrial),
inclusive em operações de cofinanciamento com o BNDES, poderia
ser muito útil. É mister, porém, atentar para o risco de criação
ad hoc de subsídios financeiros, sem controle e previsão.
Operações com taxas subsidiadas devem ser explicitamente
previstas no orçamento e consolidadas numa lei monetário-
financeira anual.
Paralelamente, a reforma financeira deve incentivar
fortemente a expansão dos investidores institucionais (fundos de
pensão e seguros) e do mercado de capitais, através do avanço dos
processos de securitização e da criação de um sistema de
garantias de operações, com o objetivo de absorver a
sobreliquidez sistêmica e criar alternativas de financiamento e
capitalização das empresas. O desenvolvimento de fontes estáveis
de poupança é básico para viabilizar suporte aos créditos,
financiamentos e capitalizações de longo prazo.
8.1. O papel dos investidores institucionais: dado o papel
fundamental dos investidores institucionais (fundos de pensão,
seguradoras, fundos de investimento de curto prazo) na
alavancagem do mercado de capitais - notadamente com o
crescimento do processo de securitização, e face ao reduzido peso
dos ativos destes investidores no Brasil relativamente ao PIB) -,
propõem-se as seguintes iniciativas:
12
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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- implementar um sistema de previdência complementar em
regime de capitalização, de modo a alavancar o mercado de
capitais a médio e longo prazos;
- estimular (inclusive com incentivos fiscais) os regimes de
previdência complementar abertos e fechados nos segmentos de
renda média e alta;
- vincular parte dos ativos de fundos de pensão de
servidores públicos (em estudo em alguns estados da federação) a
políticas de desenvolvimento;
- garantir os direcionamentos de crédito existentes no Fundo
de Aplicações Financeiras para o financiamento industrial e no
Fundo de Investimento em Commodities para o crédito ao setor
agropecuário e agroindustrial, face à relevância dos recursos
destes fundos.
8.2. O mercado de capitais: ao lado do crescimento da base
de investidores institucionais, o fortalecimento do mercado de
capitais (títulos de renda fixa e emissão de ações) pode ser
adicionalmente impulsionado a partir de um conjunto de
iniciativas já delineadas no Plano Diretor do Mercado de
Capitais, tais como:
- medidas de desburocratização e desregulamentação do setor,
com maior integração entre BACEN e CVM;
- maior transparência do mercado e proteção dos acionistas
minoritários, envolvendo: demonstrativos financeiros mais
completos, valorização das ações ordinárias (com mudança na
proporção destas em detrimento das ações preferenciais),
preservação do valor real dos dividendos e exigência de um
dividendo mínimo para as preferenciais, entre outros, o que
implica revisão da lei das sociedades anônimas;
- flexibilização das condições de emissão de debêntures,
mediante abolição dos limites de emissão, maior liberdade na
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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definição do tipo de prêmio e possibilidade de convertibilidade
em qualquer tipo de bem ou serviço;
- estímulo ao crescimento de fundos mútuos de ações e da
participação dos empregados no lucro sobre a forma de ações;
- aumento do rigor quanto a práticas lesivas ao mercado,
revisão da lei de falências e concordatas, lei do colarinho
branco, aumento da punição aos administradores, reformulação do
Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional.
A partir da observação da experiência internacional, propõe-
se também a constituição de legislação rigorosa para punição do
"insider trading".
O avanço e aperfeiçoamento do processo de securitização é um
mecanismo importante para alavancar capital com custos reduzidos
para investimentos e capital de giro para a indústria.
Particularmente importante é o conceito de securitização de
recebíveis (asset-backed securities), operação mediante a qual
parte de ativos de uma empresa (os recebíveis) de excelente risco
e liquidez servem como lastro para emissão de uma debênture a
custos mais reduzidos do que se fosse emitida pela própria
empresa.
Ao permitir a emissão de uma dívida dissociada do risco da
empresa originadora dos recebíveis, esta operação abre um campo
muito importante de possibilidades, inclusive podendo viabilizar
o financiamento a empresas públicas.
8.3. O redesconto de liquidez: à medida que seja delineada
uma política financeira voltada para o longo prazo, cabendo
especialmente aos bancos públicos sustentar ativos longos de
liquidez mais reduzida, é importante definir um mecanismo de
acesso ao redesconto da autoridade monetária em bases não-
punitivas.
14
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
De modo a não repetir a sistemática pouco transparente e
anti-democrática do antigo Orçamento Monetário, acredita-se ser
possível viabilizar o instrumento a partir das seguintes
características:
- as instituições financeiras públicas e privadas só poderão
redescontar créditos de longo prazo (acima de três anos, por
exemplo) concedidos ao setor privado;
- os limites serão definidos em consonância com a
programação monetária; a utilização deste mecanismo dar-se-ia em
um contexto de recuperação da demanda real por base monetária,
que se verifica em momentos de queda da taxa de inflação; trata-
se de definir o apoio ao crédito de longo prazo como uma forma
preferencial de reintrodução da liquidez monetária na economia;
- a modalidade de créditos elegíveis para o redesconto seria
definida pelo BNDES, em consonância com os objetivos da política
industrial; poderiam ser eleitos em primeiro lugar as carteiras
de FINAME e POC-automático dos agentes financeiros do BNDES;
- poderia ser adotado um formato onde os créditos de longo
prazo contra o setor privado figurariam como os recebíveis que
serviriam de lastro para a emissão de um título negociável que
seria redescontado;
- o recurso a este mecanismo seria transitório, perdendo
importância a partir do crescimento da poupança financeira e
particularmente dos ativos dos investidores institucionais; a
garantia de redesconto do Banco Central aos títulos securitizados
permitiria que se tornassem atraentes para compor,
voluntariamente, o portafólio dos investidores institucionais.
8.4. Aspectos de riscos e garantias: a definição de uma
política financeira como a proposta apresenta alguns requisitos
em termos de sua consistência com a política macroeconômica de
curto prazo, pois não deve ter efeitos instabilizadores sobre o
processo econômico. Neste sentido, propõe-se:
15
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
- intensificação da regulamentação preventiva e supervisão
sobre as instituições financeiras, estudando-se a hipótese de
criação de uma instituição pública especialmente para este fim, a
exemplo do verificado no Chile (Superintendência de Bancos e
Instituições Financeiras);
- definição anual ou ligada ao plano plurianual de
investimentos de um programa oficial de crédito, nos moldes do
Programa Fiscal de Investimento e Crédito japonês, dando
consistência à ação das instituições oficiais e apontando as
prioridades dos recursos do FAT, fundos constitucionais,
redesconto de liquidez e outras fontes;
- constituição de comissão para classificação de riscos dos
instrumentos financeiros (especialmente no caso dos novos títulos
securitizados), nos moldes da Comisión Clasificadora de Riesgo
chilena, ao lado do estímulo a entidades privadas voltadas para a
classificação e padronização dos riscos de crédito de empresas e
bancos, com padrões internacionais.
No tocante à concessão de garantias a projetos de infra-
estrutura de grande porte, em regime de concessão ao setor
privado, é necessário avançar nas seguintes definições:
- emissão de títulos vinculados ao próprio projeto, com
garantia bancária, e prêmio ligado à rentabilidade do projeto. A
garantia bancária poderia ter seu custo reduzido caso o título
fosse elegível para redesconto junto ao Banco Central; a
contragarantia dos avais bancários seriam os recebimentos do
projeto (tarifas, fretes, pedágios, etc.);
- no caso da colocação de títulos no mercado externo, seria
criado um sistema de garantias do principal com base em parte das
reservas internacionais, convertidas em títulos do Tesouro norte-
americano; adicionalmente, poderia ser negociado com instituição
multilateral uma garantia aos juros dos títulos, o que
viabilizaria captações em prazos longos e em taxas compatíveis
com investimentos de infra-estrutura.
16
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
No caso de projetos de concessionárias públicas, o caminho
seria avançar no sentido da securitização de recebíveis,
vinculando parte das receitas do projeto ao pagamento dos
financiamentos. Neste sentido, seria necessária uma revisão das
excepcionalidades constantes da Res.1.718/90 do Banco Central, na
medida em que os empréstimos fossem garantidos por recebíveis.
Cabe aqui analisar a viabilidade de special purpose companies,
criadas especificamente para a gestão de um determinado projeto.
Cabe também destacar os problemas resultantes da
constituição de garantias para financiamentos a micro, pequenas e
médias empresas. Dada a importância do processo de terceirização
para a modernização competitiva da indústria, é importante a
constituição de fundos (com recursos públicos e privados) para
fornecer garantias ao crédito (ou securitização) para este
segmento empresarial, seguindo o exemplo dos países
desenvolvidos e em desenvolvimento de renda média (como México e
Coréia do Sul).
9. A gestão das reservas e da taxa de câmbio: a gestão do
nível da taxa de câmbio real é extremamente relevante para a
estabilização. O elevado volume atual das reservas de divisas é
benfazejo para a estabilização à medida que permite ao Banco
Central esfriar qualquer movimento especulativo sobre a taxa de
câmbio. Este fato constitui um pólo de estabilização de
expectativas, na vertente cambial - e representa um trunfo
importante para um programa de estabilização. A possível
ancoragem de preços, salários e câmbio pode basear-se no atual
patamar da taxa de câmbio real, considerado satisfatório pela
Nota Técnica Temática "Câmbio, Custos e Competitividade: Política
Cambial e Estabilidade Macroeconômica", e deve sinalizar
claramente que uma trajetória de sobrevalorização não será
referendada no futuro. Se a fixação temporária da taxa de câmbio
implicar um certo grau de sobrevalorização, regras previamente
negociadas de correção da defasagem devem ser explicitadas.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
4. INDICADORES
4.1. Política Macroeconômica
As principais variáveis para monitorar os impactos da
política macroeconômica sobre a competitividade sistêmica da
indústria são: o custo de capital e a taxa de câmbio real.
4.2. Custo de Capital
a) Curto Prazo
O monitoramento dos impactos do custo do crédito de curto
prazo sobre a competitividade sistêmica da indústria brasileira
requer que sejam apurados os custos das operações de crédito nas
modalidades de hot money e de capital de giro nas agências,
discriminando taxas médias, nos dois casos e de acordo com o
porte do tomador, prazo e setor de atividade.
b) Longo Prazo
O monitoramento dos impactos do custo de capital (crédito de
longo prazo e captação no mercado de capitais) sobre a
competitividade industrial pode ser realizado mediante os
seguintes indicadores:
- custo, prazos e carências praticados em financiamentos de
longo prazo e na emissão de debêntures/bônus, nos mercados
interno e internacional;
- relação volume de crédito concedido aos setores público e
privado/PIB (estoque e variação anual); relação volume dos
ativos financeiros/PIB (estoque);
- quantidade e valor das emissões primárias de ações e
debêntures/bônus, no Brasil e no exterior (variação
anual);
- volume negociado em bolsa de valores (turnover);
18
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
- relação patrimônio dos investidores institucionais/PIB
(fundos de pensão, seguradoras e fundos de investimento de
curto prazo).
4.3. Taxa de Câmbio
As taxas de câmbio reais e efetivas reais, tanto as globais
quanto as desagregadas por setores, são as variáveis-chave a
serem monitoradas para avaliar os efeitos da política cambial
sobre a competitividade sistêmica da indústria. Recomendações
metodológicas e de coleta de informações para o cálculo das taxas
setoriais são apresentadas na Nota Técnica Temática "Câmbio,
Custos e Competitividade: Uma análise a partir dos preços e dos
custos de produção setoriais".
19
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
INTRODUÇÃO
Processo inflacionário crônico, produção industrial
estagnada, investimentos cadentes e ausência de financiamentos
interno e externo de longo prazo constituem constrangimentos
macroeconômicos incompatíveis com a necessidade imperativa de
competitividade sistêmica. As recorrentes políticas
macroeconômicas de restrição do crédito interno e do investimento
público, a inexistência de um padrão interno de financiamento
não-inflacionário e o racionamento dos fluxos de investimento
direto do exterior constituem impedimentos à implementação de
políticas industriais e tecnológicas voltadas à modernização do
parque produtivo. Ademais, a incerteza quanto aos resultados das
políticas de estabilização adotadas desde 1982 não vem
propiciando ambiente favorável ao investimento em expansão e
atualização tecnológica da capacidade instalada, nem permitindo
ao Governo efetuar os investimentos infra-estruturais necessários
à elevação da competitividade da economia brasileira.
Ainda com relação ao comportamento da inversão, cabe
salientar que os ajustes macroeconômicos de cunho recessivo, a
liberalização do comércio exterior sem o apoio de políticas
industriais e tecnológicas compensatórias e a inexistência de
mercados de crédito de longo prazo e de capital desenvolvidos
afetaram o comportamento e as estratégias empresariais. Tais
fatores aumentaram a incerteza dos empresários quanto à
oportunidade e à rentabilidade dos investimentos e ao custo do
capital e, por isso, ensejaram uma reestruturação microeconômica
defensiva e, em alguns momentos, antagônica ao ajuste
macroeconômico perseguido pelo Governo.
Neste contexto, o objetivo desta nota técnica é sublinhar os
principais condicionantes e restrições macroeconômicos à
competitividade e à reestruturação da indústria brasileira. Não
se trata de detalhar ou de propor um mix de políticas que
garantam estabilidade com crescimento. Mas, sobretudo, chamar
atenção para os possíveis dilemas ou contradições existentes
20
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
entre o uso de um mesmo instrumento de política econômica para
atingir objetivos ou metas distintas. Por exemplo, é consenso
entre os economistas que o nível da taxa de câmbio nominal é
essencial a qualquer programa consistente de estabilização pois é
referência para a formação de preços pelos agentes privados e
para a fixação de juros pelas autoridades monetárias. Todavia, a
taxa de câmbio real é crucial para o resultado da balança
comercial e para a competitividade externa. Influi no nível de
atividade e do emprego. É determinante da alocação dos
investimentos nos setores de tradables e de non-tradables. Como
encaminhar este trade-off?
As conclusões da presente nota técnica não pretendem
detalhar uma proposta de política cambial para o país, mas
alertar que o patamar atual (setembro de 1993) da taxa de câmbio
real é satisfatório em termos da balança comercial,
possibilitando, assim, uma eventual fixação temporária da taxa
nominal vigente no contexto de um plano global de estabilização.
Entretanto, caso tal fixidez implicasse sobrevalorização
prejudicial à competitividade, regras previamente negociadas de
correção da defasagem deveriam ser explicitadas. No bojo de um
plano de estabilização, idealmente, a política cambial deveria
ser mais ativa no curto prazo para auxiliar a ancoragem, cabendo
à política monetária um papel mais acomodatício. À medida que se
fixe a estabilização e as decisões de investimento ganhem corpo,
ensejando a redução das taxas de juros, seria desejável que a
política cambial se tornasse mais passiva pelas seguintes razões:
pelas pressões que a elevação do nível de utilização da
capacidade produtiva exerce sobre o resultado da balança
comercial; pela necessidade de sustentar níveis de reservas que
dissuadam a especulação cambial até que se consolide a
estabilização; e pela necessidade de sinalizar incentivos à
competitividade internacional da indústria brasileira, tornando
mais sólidas e permanentes as estratégias de exportação no
momento em que o mercado interno retomar seu dinamismo.
21
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
Este mesmo tratamento metodológico é dado às demais
variáveis macroeconômicas consideradas centrais à competitividade
sistêmica. Neste sentido, a presente nota técnica sintetiza os
estudos realizados sobre a formação e o comportamento dos juros,
a evolução do crédito interno e externo, o custo do capital e
sobre as instituições privadas e públicas de crédito. Tais
pesquisas objetivaram, como colocado anteriormente, apontar as
possibilidades e as restrições ao emprego dos principais
instrumentos de política econômica com objetivos de promoção da
estabilidade e da competitividade sistêmica. As questões fiscal e
tributária não foram desenvolvidas nesta nota técnica porque,
dada a importância crucial enquanto condicionantes
macroeconômicos da competitividade, mereceram estudos
específicos.
O aporte do estudo dos condicionantes macroeconômicos da
competitividade da indústria brasileira é salientar a necessidade
de uma ancoragem múltipla (cambial, monetária e fiscal), para
debelar nosso processo inflacionário crônico, acoplada a uma
profunda reestruturação do sistema financeiro, entendida esta
como a reforma estrutural básica a ser efetivada no Brasil. As
discussões sobre estabilização no Brasil centram-se, hoje,
basicamente na disjuntiva âncora cambial ou dolarização e âncora
monetária com Banco Central independente. Ambas as propostas
tendo como pré-requisito um agente fiscal do Estado. Entretanto,
nenhuma das propostas discute a transição da estabilidade para o
crescimento. A presente nota técnica entende que, por mais
essencial que seja caminhar em direção a um ajuste fiscal
duradouro - que efetue uma profunda reestruturação do gasto e da
receita públicos -, este não será exeqüível sem uma reforma do
padrão monetário e na ausência de um processo de crescimento do
produto. Qualquer reforma monetária para introduzir uma nova
unidade de conta confiável no país deve passar pela fixação
temporária da taxa de câmbio nominal e pela superação da situação
de regressão financeira em que se encontra atualmente a economia
brasileira. Em tal situação, não é garantido que o processo de
estabilização induza, de imediato, decisões de investimento e
financiamento de longo prazo.
22
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
A política monetário-creditícia deve, também, tentar
compatibilizar controle da liquidez e incentivo a setores
industriais prioritários. Para que o controle da expansão do
crédito não seja estéril, é preciso combiná-lo com medidas de
direcionamento seletivo dos empréstimos para setores, com
operações de prazos mais longos e juros reduzidos. A formulação e
possibilidade de uma política creditícia, simultânea ao processo
de remonetização, deve ser vista como instrumento-chave para
induzir decisões de investimento produtivo. O ponto central está
na compreensão de que sem a retomada do investimento produtivo
não há saída possível para qualquer programa de estabilização e
crescimento organizado da economia.
Neste contexto, os agentes econômicos se disporiam a alongar
o perfil de seus ativos, progressiva e voluntariamente, o que,
como contrapartida, viabilizaria a extensão dos prazos de
vencimento da dívida pública mobiliária. Esta opção pela
necessidade de uma política de estabilização abrangente, com
ataque simultâneo a várias frentes, não é acidental mas deriva do
objetivo de integrar política macroeconômica e política
industrial, ou seja de fixar como eixo central da política de
estabilização a retomada organizada e sólida do crescimento. Por
crescimento organizado entenda-se um crescimento inicialmente
moderado; sustentável pela recomposição dos investimentos público
e privado; financiado por fontes não-inflacionárias; e baseado na
cooperação pactuada entre os agentes sob a supervisão do Estado,
na forma de um jogo-de-soma-positiva, que facilite a coordenação
das expectativas.
23
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
As peculiaridades da crise e do posterior ajustamento de
algumas das principais economias latino-americanas na década de
oitenta colocam-nas como as principais referências internacionais
ao estudo dos condicionantes macroeconômicos da competitividade
da economia brasileira. As diversas tentativas - ortodoxas ou
heterodoxas - para estabilizar e superar a estagnação não
resultaram, até o segundo lustro dos anos oitenta, em economias
ajustadas, que transitaram de forma bem-sucedida e automática da
estabilidade para o crescimento auto-sustentado.
Do malogro das experiências latino-americanas emergiram
análises e propostas no âmbito do Banco Mundial centradas na
necessidade de acoplar às políticas de estabilização reformas
estruturais destinadas a liberalizar o comércio exterior e o
sistema financeiro doméstico; a desregulamentar os mercados
internos e os fluxos externos de capitais; a privatizar o setor
produtivo estatal; enfim a reduzir o tamanho e a abrangência das
atividades estatais. Neste contexto, os ajustes fiscal e
patrimonial do Estado seriam uma precondição às demais reformas
estruturais e à estabilidade (ou reforma) monetária e estas, por
sua vez, à retomada do crescimento.
Desde já cabe salientar que, no caso chileno, as políticas
implementadas de 1974 a 1984, centradas na liberalização do
comércio e do sistema financeiro, na desregulamentação dos fluxos
externos de capitais e na sobrevalorização do câmbio, não
lograram o ajuste macroeconômico pretendido. Este iniciou-se a
partir de 1985 e baseou-se em políticas de gasto público e de
financiamento de caráter anti-cíclico, acopladas às políticas
liberalizantes iniciadas em 1974. Só em tal contexto, os ajustes
fiscal e do balanço de pagamentos realizaram-se sem provocar
efeitos recessivos no mercado interno. A poupança pública
derivou-se da expansão econômica e, sobretudo, da exportação
estatal de cobre, que representa, em média, 12% do PIB e 46% das
receitas de exportação daquele país. Esta peculiaridade aliada à
24
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
não interrupção dos fluxos externos de capitais tornou possível a
geração de um excedente público potencialmente inversível e capaz
de ser convertido em excedente financeiro para absorver os custos
do ajuste macroeconômico em termos de níveis de renda e emprego.
Os logros da Argentina e do México, nos últimos anos, não
podem ser somente creditados aos ajustes patrimoniais
(privatizações) e fiscais (cortes no gasto público e elevação
recente da carga tributária). O emprego da política cambial, em
condições de liberalização financeira e comercial, foi
fundamental para conter a inflação. Esta política manteve-se até
agora, dando aos dois países novamente uma âncora cambial (ainda
que com deslizamentos no caso do México) graças às condições de
abundante liquidez e às baixas taxas de juros que predominam no
mercado internacional da área do dólar, o que permitiu absorver
recursos financeiros externos para fechar os desequilíbrios em
conta corrente do balanço de pagamentos.
No caso mexicano, a política de ajuste iniciou-se, em
dezembro de 1987, com a pactação de preços e salários (política
de rendas), e com a adoção de paridade fixa para a taxa de câmbio
nominal (com posterior deslizamento, sempre em nível inferior ao
diferencial de preços entre o México e os EUA). Objetivava-se com
essa medida estabelecer uma regra monetária-fiscal que
circunscrevesse o estoque de pesos em circulação aos limites das
reservas internacionais mexicanas e que interditasse o
financiamento do Estado através de emissão de moeda.
Paralelamente, iniciou-se um ajuste fiscal do Estado, mantendo-se
a política monetária como elemento ativo daquela estratégia. Foi
somente com a absorção de recursos externos e com a aceleração
das privatizações a partir de 1990, que o governo mexicano pôde
rebaixar o patamar dos juros, diminuindo o ativismo monetário.
Durante o início do plano de estabilização - entre 1988 e 1989 -,
as taxas reais de juros eram de 30% ao ano. Em 1990 e 1991 elas
diminuíram, tornando-se até negativas em alguns meses de 1992,
quando telefonia, portos, mineração e os bancos acabaram de ser
privatizados. Aquelas privatizações, em quatro anos, renderam US$
21 bilhões, compensando os déficits em conta corrente e
25
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
permitindo um rebaixamento das taxas de juros sem fuga de
capitais. Entretanto, tal estratégia tem limites claros. Em 1993,
com o fim do ajuste patrimonial, as taxas de juros voltaram a
subir para evitar a fuga de capitais, evitar pressões no mercado
monetário-financeiro e garantir o financiamento do déficit em
conta corrente via entrada de capitais.
A estabilização argentina no contexto do Plano Cavallo não
pode ser compreendida na ausência de duas hiperinflações, que
levaram os agentes econômicos e políticos a aceitar a adoção de
um regime monetário, em que a moeda nacional se ancorou no dólar,
como garantia de estabilidade. Isto significa que o Banco Central
somente emite dinheiro para comprar reservas cambiais, tirando
moeda de circulação no caso de perder reservas. A regra fiscal
derivada é que o setor público não pode ser financiado com
emissão monetária não-lastreada. Logo, um ajuste fiscal e
patrimonial do Estado torna-se condição necessária.
Do ponto de vista monetário-financeiro, a adoção de âncora
cambial como estratégia abrupta de estabilização foi viabilizada
pela composição da riqueza na Argentina antes do Plano Cavallo. A
participação dos ativos financeiros em moeda doméstica era de
9,5% do PIB, enquanto que dos ativos em dólar de 52,1%, não
gerando com isso, para as autoridades monetárias, problemas de
prevenção de transformações de ativos financeiros denominados em
moeda nacional em ativos em dólar. Em segundo lugar, no caso da
Argentina era indiferente tornar a base monetária ou M1
conversível dado que o multiplicador monetário era unitário. E,
por fim, a conversibilidade não foi de 100%, pois 15% do lastro
pôde ser constituído em Bonex, ou seja, em um título indexado ao
dólar e que paga juros em dólares. Além disso, cerca de 10% a 15%
das reservas que compõem o lastro são de ativos ilíquidos.
26
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
2. DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO BRASILEIRA
A economia brasileira apresentou, em 1992, uma queda real do
PIB de 1,4% e de 5,1% do produto industrial, levando a taxa de
investimento a 14,8% do PIB. Não obstante o quadro recessivo, a
taxa de inflação anual foi de 1.158%, tomando o IGP-DI da FGV. O
setor público apresentou, em percentagem do PIB, um superávit
primário de 1,5%, despendeu em pagamento de juros reais 3,5%,
gerando, assim, um déficit operacional da ordem de 2,0% do
produto interno. A dívida interna líquida do setor público passou
de US$ 53 bilhões em 1991 para US$ 75 bilhões, em 1992, 12,4% e
15,7% do PIB, respectivamente. A principal causa da elevação da
dívida foi o volume de títulos colocado pelo Banco Central como
contrapartida do aumento das reservas cambiais. A dívida
mobiliária de mercado (fora do Banco Central) passou de US$ 11
bilhões para US$ 36,4 bilhões, em 1992).
O nível de reservas foi de US$ 19 bilhões (conceito de
caixa), explicado pela magnitude do superávit da balança
comercial (US$ 15,5 bilhões) e pelo saldo de US$ 6,4 bilhões do
movimento de capitais. A dívida externa líquida caiu de US$ 91,4
bilhões para US$ 76 bilhões. E a dívida líquida total do setor
público evoluiu de US$ 144,7 bilhões para US$ 150 bilhões, entre
1991 e 1992.
Os principais indicadores para janeiro-maio de 1993 reforçam
a tendência observada em 1992: a dívida líquida total do setor
público manteve-se em US$ 150 bilhões e a dívida interna no mesmo
patamar de US$ 75 bilhões. Em percentagem do PIB, obteve-se um
superávit primeiro de 2,5% e operacional de 1,0% devido ao
pagamento de juros reais de 1,5%. Note-se que, a partir de
fevereiro, assiste-se à retomada dos influxos de capital que se
colocaram, em 1992, como um dos mais importantes propulsores do
déficit operacional do setor público. Está, até o momento, em
aberto o impacto monetário-fiscal do financiamento das garantias
para implementar a redução da dívida externa brasileira. O
financiamento de tais garantias envolverá a contratação de novas
27
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
dívidas externas e a imobilização de parte das reservas do Banco
Central.
Estimativas, realizadas por Paulo Nogueira Batista Jr.
1
, com
base em dados do governo brasileiro, indicam que a implementação
do acordo negociado pelo Ministro Marcilio Marques Moreira
exigiria inicialmente a imobilização de 8 a 9% das reservas
atuais para financiar as garantias exigidas pelos credores. A
imobilização total de reservas a ser implementada ao longo de
dois anos alcançaria 20% das reservas atuais. O governo admite
que o custo das garantias alcançaria US$ 4,6 bilhões na hipótese
de uma distribuição equilibrada dos credores entre os
instrumentos do acordo. Entretanto, como reconhece Pedro Malan,
uma questão ainda não está clara: como ficarão as garantias ao
bônus da dívida externa se não houver acerto com o FMI?
Apesar das incertezas acerca da renegociação da dívida
externa e da instabilidade política, que também afeta
negativamente as expectativas dos agentes econômicos, o volume
das reservas é confortável e não há perspectivas de crise
cambial. Também não há pressões de demanda; os salários estão
deprimidos; a taxa de poupança interna é elevada e superior a de
investimento; e os indicadores das finanças públicas não se
alteraram drasticamente desde 1992. O comportamento de tais
variáveis não explica, assim, os níveis prevalecentes de
inflação, ou sua acomodação num patamar médio de 29% ao mês, em
1993.
Cabe notar, entretanto, que, nas condições atuais da
economia brasileira, a existência de um estoque de dívida pública
de curto prazo indexada e pagando juros reais faz com que o
montante de financiamento necessário ao setor público seja função
direta da inflação corrente e da taxa de juros. Nestas
circunstâncias, uma crise financeira do Estado pode emergir mesmo
se o setor público apresentar superávits primários e déficits
operacionais diminutos. Para tal é suficiente que algum
acontecimento desfavorável altere a confiança em relação aos
1
BATISTA JR., P.N. (1992) Nota Técnica n. 18; CEF/AEAI, mimeo.
28
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
títulos públicos; ou que as expectativas dos agentes líquidos
sejam de elevação progressiva, ao longo do tempo, do déficit
público (dada a inevitalidade dos gastos na área social e em
infra-estrutura) frente a condições políticas adversas à elevação
da carga tributária macroeconômica. Quanto a esse aspecto deve-
se, ainda, salientar que em condições de inflação crônica e
elevada, de moeda indexada e de recessão não existem
possibilidades reais de promover uma reestruturação duradoura dos
sistemas tributário e fiscal, nem, tampouco, tomar a eliminação
do déficit público como precondição suficiente à estabilidade da
moeda.
Uma qualificação adicional em relação à necessidade de
financiamento do setor público refere-se à poupança nacional. Em
que pesem as diferenças de estimativas da participação da
poupança privada no PIB a preços correntes (Tabelas 1 e 2), uma
análise integrada das fontes de financiamento da formação bruta
de capital e das necessidades de financiamento do setor público
revela que o ajuste dos anos oitenta se caracterizou por uma
elevação da poupança do setor privado, contrapartida de seu
crédito acumulado junto ao setor público, da redefinição de mark-
ups ante expectativas inflacionárias e da aplicação financeira de
seus saldos líquidos.
Embora a poupança interna tenha diminuído durante a fase
inicial do ajuste do balanço de pagamentos (1981-1983),
recuperou-se a partir de 1984. Aquela primeira tentativa de
ajuste deflacionário refletiu-se tanto na queda da poupança
quanto numa substancial redução da taxa de investimento. Em 1984,
o investimento privado teve sua menor participação no PIB a
preços correntes, o mesmo acontecendo com o investimento público.
A partir daquele ano, exceto em 1986, a poupança interna elevou-
se de forma sustentada até 1989 e voltou a cair em 1990. O mesmo
comportamento pode ser verificado para o investimento a preços
correntes, especialmente o privado, que duplica sua participação
no PIB entre 1984 e 1989, voltando a cair em 1990.
29
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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TABELA 1
BRASIL: FONTES DE POUPANÇA PARA A FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL
1980-1990
(% PIB a preços correntes)
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
POUPANÇA INTERNA POUPANÇA
ANO ----------------------------------------
Privada Pública Total EXTERNA FBKF
(1) (2)
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
1980 17,0 0,9 17,9 5,4 23,3
1981 17,5 1,1 18,6 4,4 23,0
1982 15,6 -0,3 15,3 5,8 21,1
1983 14,7 -1,4 13,3 3,4 16,7
1984 18,5 -2,8 15,7 0,0 15,7
1985 27,3 -8,2 19,1 0,1 19,2
1986 24,2 -7,1 17,1 2,0 19,1
1987 27,9 -6,1 21,8 0,5 22,3
1988 36,3 -12,5 24,1 -1,3 22,8
1989 45,1 -20,0 25,1 -0,2 24,9
1990 31,3 -10,0 21,2 0,5 21,7
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
Fonte: IBGE, Contas Consolidadas para a Nação: 1980-1990, jul. 1991.
(1)Calculada como resíduo: poupança interna bruta - poupança em conta corrente das administrações
públicas. Importante salientar que a poupança relativa ao setor produtivo estatal está classificada
no setor privado pelo conceito das contas nacionais.
(2)Corresponde às transferências reais (X-M) e à renda líquida enviada pelo exterior.
Todavia, a esta maior poupança não correspondeu uma elevação
das taxas de acumulação, segundo os dados das contas nacionais a
preços constantes (Tabela 3); ou seja, apesar da maior
participação do investimento e da poupança no PIB nominal, o
investimento real não recuperou o nível de 1982. A preços
correntes, conforme Tabela 2, o investimento público teve uma
grande inflexão no ano de 1980, quando sua participação no PIB
caiu de 11,3% em 1979, para 6,9%; de 1981 a 1990 flutuou em torno
de 6% do PIB. A preços de 1980 caiu continuamente durante toda a
década passada: 7,2% do PIB real em 1981 para 3,8% em 1990. O
investimento privado a preços correntes (Tabela 2) caiu entre
1980 (16,4%) e 1984 (10,5%) e a partir daquele ano elevou sua
participação no PIB até 1989 (19,2%). A preços constantes (Tabela
30
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
3), o investimento total caiu entre 1981 e 1984, estabilizou-se
em 1985 e 1986, voltando a cair a partir de 1987.
Esta discrepância entre a poupança interna a preços
correntes e o investimento real, em termos da macroeconomia
convencional, significa que o financiamento potencial da inversão
foi direcionado ao exterior em função do pagamento da dívida
externa e do afluxo de capitais privados e da geração de
superávits da balança comercial. A estes fatores superpuseram-se,
nos últimos dois anos (1989-1990), a elevação dos preços dos bens
de capital acima da taxa média de inflação e os overheads
praticados pelo setor de edificações e infra-estrutura, ambos
onerando o custo da formação de capital fixo.
TABELA 2
BRASIL: POUPANÇA E INVESTIMENTO
1980-1990
(% do PIB a preços correntes)
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
POUPANÇA BRUTA NACIONAL
---------------------------------------- POUPAN- INVEST. BRUTO INT.
Pública ÇA --------------------------------
------
ANO Privada ------------------------------- EXTER- Públi-. Priva
Total
(1) SPE Resto Total NA (2) do (3)
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
1980 17,76 nd nd 0,14 5,45 6,94 16,41
23,34
1981 17,04 2,40 -0,80 1,60 4,44 7,90 15,19
23,09
1982 15,39 1,26 -1,35 -0,09 5,79 7,21 13,08
21,09
1983 12,15 0,84 0,33 1,17 3,37 5,57 18,12
16,68
1984 13,22 2,24 0,30 2,54 -0,02 5,24 10,50
15,74
1985 18,04 0,82 0,22 1,05 0,11 5,45 13,75
19,20
1986 14,82 1,43 0,88 2,31 1,97 5,91 13,18
19,09
1987 20,88 2,52 -1,59 0,93 0,49 6,63 15,67
22,30
1988 22,77 2,55 -1,23 1,32 -1,28 6,12 16,69
22,81
31
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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1989 26,41 0,19 -1,57 -1,38 -0,28 5,52 19,28
24,86
1990 14,73 nd nd 6,45 0,50 5,15 16,53
21,67
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
Fonte: Frenkel, R. & Fanelli, J.M. (1991) Shock Externo y Desequilibrio Fiscal, CEDES, dez.
(1) Inclui variação total de estoques e o total da inversão fixa do setor público consolidado, estimado
pelo Banco Central do Brasil, pelo IBGE. Deve-se chamar a atenção sobre os problemas que esta
estimativa apresenta devido às diferentes metodologias das duas fontes mencionadas.
(2) Inclui o setor produtivo estatal. A estimativa deste é realizada subtraindo-se o déficit
operacional das empresas estatais, estimado pelo Banco Central do Brasil, do investimento das
empresas públicas estimado pela SEST.
Tal dinâmica refletiu-se em mudanças significativas nos
coeficientes de participação dos financiamentos privado, público
e externo no investimento. Elevou-se a participação do setor
privado, que responde de 1982 a 1992 por 80% dos financiamentos;
e diminuíram sensivelmente as participações pública (10%) e
externa (10%). Estas mudanças retratam uma diminuição absoluta da
poupança pública (provocando o aumento considerável da
necessidade de financiamento do setor público) e os superávits da
balança comercial, e não a elevação do investimento real. Se o
governo envia recursos ao exterior e financia-se com o setor
privado interno; se o giro da dívida pública consome a
possibilidade de superávits primários disponíveis à realização de
poupança fiscal relevante; e se, ademais, conjunturas recessivas
e sonegação fiscal deprimem o volume das receitas públicas, o
valor da poupança privada nas contas nacionais tende a elevar-se,
sem que necessariamente se eleve a formação bruta de capital do
país.
TABELA 3
AGREGADOS MACROECONÔMICOS
1975-1990
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
PIB IBI IPu IPri SBI BC PF SBN SBNPri SBNPu IBI BC CF
YBI
PERÍODOS (1) (2a) (2b) (2c) (3) (4) (5) (6a) (6b) (6c) (7) (8) (9)
(10)
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
1975-80 7,54 23,30 9,69 13,67 21,35 -2,05 -2,11 19,23 --- --- --- --- ---
---
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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1981-84 -0,57 19,15 6,47 12,67 20,90 1,75 -5,15 15,75 14,45 1,3 17,95 1,25 79,15
-1,85
1985-86 7,70 19,05 5,68 13,47 23,00 3,90 -4,80 18,10 16,43 1,68 17,60 4,60 77,30
-0,60
1987-90 0,84 22,92 6,09 17,21 26,25 3,37 -3,27 23,07 21,19 1,83 16,90 5,07 76,52
-1,50
1981-90 1,54 20,37 6,07 14,25 22,87 1,74 -3,83 19,03 17,35 1,60 17,41 3,64 77,65
-1,31
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
(1 ) Taxa de crescimento real (%)
(2a) Investimento Bruto Interno a preços correntes como porcentagem do PIB = 3 - 4
(2b) Investimento Público a preços correntes como porcentagem do PIB
(2c) Investimento Privado a preços correntes como porcentagem do PIB
(3 ) Poupança Interna Bruta a preços correntes como porcentagem do PIB
(4 ) Saldo da Balança Comercial a preços correntes como porcentagem do PIB
(5 ) Pagamento líquido de fatores a preços correntes como porcentagem do PIB
(6a) Poupança Nacional Bruta a preços correntes como porcentagem do PIB = 3 + 5
(6b) Poupança Nacional Bruta privada a preços correntes como porcentagem do PIB
(6c) Poupança Nacional Bruta pública a preços correntes como porcentagem do PIB
(7 ) Investimento Bruto Interno a preços constantes de 1980, como porcentagem do PIB
(8 ) Balança Comercial a preços constantes de 1980, como porcentagem do PIB
(9 ) Consumo final a preços constantes de 1980, como porcentagem do PIB
(10) Renda Interna Bruta a preços constantes de 1980, taxa de crescimento (%)
Fonte: IBGE, Contas Consolidadas para a Nação: 1980-1990, jul. 1991.
BACEN, Brasil Programa Econômico, vários números.
Este contexto de exigüidade de financiamento público tende a
gerar crises fiscais potenciais recorrentes. Estas tornam-se
explícitas (1989 e 1992) quando o déficit público só pode ser
financiado através de uma elevação desmesurada da dívida interna
ou pela emissão de moeda. O aumento da dívida interna leva a um
aumento da taxa de juros e, conseqüentemente, a um crescimento
ainda maior do déficit público. Este círculo vicioso valida e
amplia a taxa de inflação vigente em uma economia indexada.
A manutenção das altas taxas de inflação deve-se ao forte
componente inercial resultante da indexação geral da economia. A
indexação monetária desempenha papel particular na manutenção do
patamar elevado da taxa de inflação e dificulta a execução de
qualquer política monetária com intento de estabilização. A
questão central, do ponto de vista da política monetária, é que
as aplicações de curto prazo dos agentes econômicos destinadas a
financiar o carregamento de títulos públicos pelo setor
financeiro, são virtualmente moeda indexada. O valor da massa
monetária indexada à inflação corrente auto-expande-se e
33
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
dificulta o controle da liquidez da economia. E quanto maior for
a liquidez em posse dos agentes econômicos, tanto mais qualquer
elevação de preços nominais é referendada pelo mercado.
Além disso, a inflação no Brasil, hoje, não é puramente
inercial, mas tem caráter expectacional. Vale dizer, a
antecipação dos aumentos de preços em função da avaliação do
custo de oportunidade da produção corrente e da reposição de
estoques não se faz apenas em função da inflação passada mas,
também, através de antecipações da taxa de inflação futura. Os
preços mais relevantes para essa previsão são as tarifas públicas
e as taxas de câmbio e de juros. As tarifas públicas e a taxa de
câmbio, na ausência de choques exógenos, tendem a seguir um
comportamento inercial. Já a taxa de juros é particularmente
sensível às tentativas de restrição de liquidez interna que as
autoridades monetárias desejam impor à economia para conter a
inflação, e às necessidades de financiamento do setor público.
A sensibilidade da taxa de juros nominal à política
monetária e à necessidade de financiamento público é, atualmente
no Brasil, potencializada pelas peculiaridades da TR. Trata-se de
uma taxa de juros que funciona como indexador, transformando, a
cada dia, as expectativas de inflação futura em piso presente das
taxas de juros nominais de mercado. Hoje a TR é fixada
diariamente com base no custo médio de captação dos CDBs de
trinta dias emitidos pelos grandes bancos. Através da TR, os
demais instrumentos financeiros - todos de curtíssimo prazo -
rapidamente incorporam as inflações corrente e esperada às taxas
de juros nominais.
Agentes privados líquidos, impossibilidade de
compatibilização intertemporal de receitas e despesas públicas,
existência de instrumentos financeiros de curto prazo e indexados
por uma taxa esperada de inflação, e emissão de títulos públicos
para financiar o estoque da dívida e para comprar cambiais - são
elementos suficientes para gerar taxas crescentes de inflação com
grande independência do real comportamento das variáveis
macroeconômicas fundamentais à formação de preços. Neste sentido,
34
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
a inflação brasileira hoje é um fenômeno monetário-financeiro em
que a intermediação bancária transforma a dívida pública em moeda
e os detentores desta moeda arbitram - segundo suas expectativas
sobre o custo de oportunidade de seus capitais - o preço de sua
retenção. Em tal contexto, um programa de combate à inflação
exige soluções simultâneas para as variáveis monetária,
financeira, cambial e fiscal, capaz de compatibilizar
estabilidade e crescimento a longo prazo e, assim, combinar
virtuosamente aplicação em ativos financeiros e imobilização do
capital produtivo.
35
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
3. ESTRATÉGIAS ABRUPTAS DE ESTABILIZAÇÃO: CARACTERIZAÇÃO E
PROBLEMAS À LUZ DA EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL
3.1. Caracterização das Estratégias Alternativas
Em termos teóricos, existem as seguintes alternativas de
políticas de estabilização: ancoragem cambial, monetária, e
política de rendas. Vejamos, sucintamente, os fundamentos e os
problemas de adoção das três formas mais usuais de estabilização
contemporâneas.
Um plano de estabilização a partir do estabelecimento de
âncora cambial assentar-se-ia no seguinte elemento básico:
fixação de uma regra de conversibilidade cruzeiro-dólar
americano, formando-se uma norma monetária-cambial similar a
quando da vigência do padrão ouro. O Banco Central comprometer-
se-ia a comprar ou vender dólares a uma taxa nominal de câmbio
fixa, nas quantidades desejadas pelos agentes econômicos e
manteria o estoque de moeda nacional em circulação em valor
proporcional ao volume de reservas cambiais. Isso significa que
o Banco Central somente emite dinheiro para comprar reservas
cambiais, tirando moeda de circulação no caso de perder reservas.
A regra fiscal derivada é que o setor público não pode ser
financiado com emissão monetária.
Em conseqüência, um ajuste fiscal e patrimonial do Estado
torna-se condição necessária, embora não suficiente. As medidas
usuais têm sido: elevação da carga tributária, reestruturação dos
prazos do estoque da dívida interna, acertos patrimoniais e
creditícios intra-setor público, privatização de empresas
estatais e a definição dos termos de pagamento da dívida externa.
Entretanto, o ajuste fiscal não garante per se o equilíbrio do
balanço de pagamentos a longo prazo na ausência de influxos
externos estáveis de capital. A regra de câmbio fixo pode, ainda,
tornar-se vulnerável por duas razões: instabilidade no mercado de
câmbio ligada a avaliações por parte dos agentes de sobreva-
lorização cambial, desencadeando expectativas de desvalorização
36
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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cambial; ou devido a desequilíbrios na balança comercial, dado
que a âncora cambial só estabiliza mais rapidamente o preço
interno dos tradables. Os non-tradables (serviços privados e
utilidades públicas privatizadas) não se ajustam automática e
espontaneamente à regra cambial. Estas parecem questões de
complicada equação em países com grande fragilidade financeira e,
por isso, com grande potencial inflacionário.
A adoção de âncora cambial no Brasil é, também, problemática
porque o dólar não é meio de troca e por ser a poupança
financeira interna virtualmente moeda indexada, contrariamente à
realidade argentina anterior ao Plano Cavallo. Além disso, embora
o valor atual das reservas cubram folgadamente o da base
monetária
2
, existe, hoje, uma massa de quase-moeda, que ao se
monetizar, pode exercer pressão desestabilizante sobre o mercado
monetário-cambial. Nestas circunstâncias, entrar-se-ia num
sistema altamente especulativo. Este poderia ser temporariamente
controlado por variações na taxa de juros, mas explodiria em
função de eventuais desequilíbrios no balanço de pagamentos.
Uma variante da fixação da taxa de câmbio nominal pelo Banco
Central é o estabelecimento de um sistema de currency board. Este
define-se pela obrigação do board emissor de converter a uma taxa
fixa, a qualquer momento e sem restrições, a moeda de sua emissão
pela moeda-lastro (dólar americano). Para assegurar a
conversibilidade, o board obriga-se a manter pelo menos 100% de
ativos financeiros líquidos e realizáveis em moeda-reserva para
lastrear a emissão de sua moeda. O board seria uma instituição
independente do Banco Central e somente este e o sistema bancário
transacionariam com ele para compra ou venda da sua moeda contra
pagamento em moeda-reserva. Esta alternativa comporta, além das
questões específicas à âncora cambial, os problemas decorrentes
da simultaneidade de duas moedas de curso legal com cotação entre
elas feita pelo mercado. Como a taxa de câmbio entre o cruzeiro
real e o dólar não é fixa poderá haver, num primeiro momento, uma
grande desvalorização do cruzeiro cuja intensidade dependerá do
2
O valor das reservas internacionais correspondia, em dezembro de 1992, a três vezes o valor da
base monetária, ao dobro de M
1
, a 35% de M
2
e 17% de M
4
.
37
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
nível de rejeição ao cruzeiro real (ou adesão à moeda do board).
A inflação (em cruzeiros reais) acelerar-se-ia tanto pelo impacto
da desvalorização, quanto porque os agentes econômicos tentariam
se desfazer rapidamente dos cruzeiros reais e o governo não
conseguiria mais financiar-se pela emissão de moeda ou de títulos
indexados denominados em cruzeiros reais.
A alternativa, em contexto teórico semelhante, seria a
adoção de âncora monetária nominal. Trata-se, a princípio, do
estabelecimento de uma regra estável e previsível de evolução da
base monetária à qual se ajustariam as taxas de juro e de câmbio
de mercado. A taxa de expansão da base monetária seria estável e
mantida a um nível compatível com as metas para a taxa de
inflação através do redesconto e do encaixe compulsório dos
bancos comerciais. O mecanismo de transmissão da estabilidade
iria da moeda para a renda e os preços através do efeito dos
saldos reais.
A regra fiscal derivada é que a necessidade de financiamento
do setor público deva ser rigorosamente controlada e compatível
com o crescimento projetado para a base monetária. E a regra
cambial supõe uma taxa de câmbio flutuante que compatibilize o
resultado do balanço de pagamentos (variação de reservas) e a
contrapartida em moeda nacional admitida pela regra monetária
nominal de estabilização. A taxa de câmbio flutuaria, com o Banco
Central intervindo no mercado cambial para garantir o nível
desejado para a variação de reservas.
A escolha de um ajuste essencialmente monetário coloca
alguns problemas importantes para o período de consolidação da
estabilidade de preços. Como resultado de uma estabilização
abrupta, as taxas de juros reais tornam-se, via de regra,
bastante elevadas enquanto que a velocidade da moeda se reduz.
Este corolário - decorrente da queda drástica da inflação, e não
atributo específico desta política de estabilização - coloca uma
questão central de grande dificuldade de encaminhamento: como
compatibilizar liquidez e juros sem comprometer a estabilidade a
médio prazo. Qualquer "erro" pode ser fatal no sentido de
38
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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comprometer a consolidação de expectativas não-inflacionistas, ou
de jogar a economia numa recessão de duração imprevisível.
Esta dificuldade complexifica-se, ainda mais, quando a
regulagem da remonetização assenta-se, primordialmente, no uso
intenso de uma política convencional de redesconto e encaixes
bancários. Trata-se de fixar objetivos para a evolução das
reservas bancárias e ajustar as taxas do open market e do
interbancário às metas preestabelecidas. Neste contexto, pode
haver uma elevação pronunciada da taxa de juros, cuja
volatilidade dependerá de overshooting ou undershooting no
crescimento efetivo da oferta de moeda em relação à meta prevista
pelo Banco Central.
No caso específico do Brasil existe, ainda, uma dificuldade
adicional: para que M
1
pudesse ser um agregado relevante ao
controle da liquidez, todas as outras formas de haveres
financeiros líquidos conversíveis em depósitos à vista deveriam
ser contingenciados. Isto é, deveria haver uma ampliação dos
períodos de capitalização dos fundos de renda fixa e da caderneta
de poupança, bem como acabar com o FAF e todos os fundos
assemelhados de liquidez diária. Esta não foi até agora uma
tarefa bem-sucedida no Brasil. A massa monetária - até então
indexada - tem uma capacidade rápida de reação, que ameaça a
estabilidade dos preços relativos e dos mercados monetário-
cambiais frente a quaisquer programas de estabilização.
Por fim, como a variação de reservas deve ficar subordinada
às metas monetárias, se as taxas de juros internas mantiverem-se
elevadas e houver liquidez no mercado internacional, ocorrerão
entradas de capital de curto prazo, reforçando a tendência à
sobrevalorização do cruzeiro. As alternativas seriam: controle da
entrada de capitais de curto prazo e aceleração da abertura
comercial, ajustando pelas importações o impacto do balanço de
pagamentos; ou o abandono das metas monetárias, reduzindo o
diferencial de juros e comprometendo a estabilidade.
39
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
A terceira estratégia de estabilização drástica seria
baseada em políticas de renda que objetivariam redefinir o viés
expectacional dos agentes privados, mudando suas avaliações
acerca do custo de oportunidade da imobilização do capital em
face do movimento esperado das taxas de juros e de câmbio, que
acaba por se tornar a inflação efetiva. Tal estratégia
pressuporia um congelamento temporário de todos os preços e dos
salários e a definição de regras monetária e fiscal de forma que
a remonetização da economia pós-ajuste não implicasse pressões
sobre a demanda agregada e especulação com ativos reais e
divisas; nem que a falta de consolidação do ajuste fiscal
ensejasse a volta às expectativas inflacionárias. Isto leva a
que, pelo menos a curto prazo, a política monetária tenha que ser
ativa, de juros reais positivos; que a política fiscal seja
austera e haja uma aceleração do ajuste patrimonial do estado
(privatizações). A regra cambial derivada seria de câmbio
temporariamente fixo. Como nas alternativas anteriores, o
resultado líquido do balanço de pagamentos dependerá dos níveis
da taxa de juros interna, do movimento internacional de capitais
e da política de liberalização do comércio exterior, e poderá,
por conseqüência, voltar a afetar as condições macroeconômicas de
equilíbrio e de estabilidade.
Esta alternativa acarreta alguns problemas semelhantes aos
das anteriores, e outros bem específicos. A questão preliminar é
como administrar a monetização da moeda indexada sem reintroduzir
expectativas inflacionárias, nem imobilizar a política monetária,
tornando-a cativa da necessidade de determinar um piso para a
taxa de juros que impedisse a especulação com ativos e divisas e
um teto dado pela recolocação da dimensão financeira do déficit
público. Conseqüentemente, recolocar-se-ia a necessidade de
manejar a liquidez das quase-moedas anteriores à adoção do plano
de estabilização pelo alongamento de seus prazos de carência.
A regra cambial de estabilização deve ser de taxa nominal
constante enquanto persistir o congelamento de salários e preços;
durante a fase de preços administrados. Esta administração
incluiria, também, a taxa de câmbio. Entretanto, é necessário
40
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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aqui admitir que dada a persistência de fatores inerciais nos
processos de inflação crônica após qualquer plano de
estabilização, uma taxa de câmbio fixa pode ensejar a rejeição da
nova configuração distributiva pelo segmento exportador. A
experiência brasileira passada mostra que as tentativas de
mudanças de preços relativos e de distribuição de renda e dos
lucros, durante os planos de estabilização, têm sido acompanhadas
pela aceleração inflacionária. No caso específico das
exportações, por adiamento de seus contratos de câmbio e queda do
superávit comercial, originando tendência especulativa com o
dólar.
3.2. Problemas de Implementação de Estratégias Abruptas
Uma questão comum a todas as estratégias abruptas de
estabilização diz respeito à garantia de eficácia da política
monetária. Os mercados tendem a reagir negativamente a qualquer
tipo de contingenciamento de liquidez. Os diversos planos de
estabilização até aqui realizados indicam que a possibilidade de
terem seus fundamentos internos destruídos, a curto prazo, pela
reação dos agentes econômicos é muito elevada. Isto porque os
mercados interbancário e de risco reagem contrariamente a
bloqueios, desvalorizações e alongamentos do prazo de giro da
dívida pública. Isto quer dizer que o encaminhamento do processo
de estabilização implicaria uma intervenção nos mercados
financeiros que, em determinadas circunstâncias, significou até
a estatização do sistema bancário, como no México (1982) e no
Chile (1983); ou, no mínimo, nas aplicações de curto prazo até
que as expectativas inflacionárias e o "curto-prazismo" fossem
superadas. Teria, ainda, como condição necessária e complementar
o alongamento do prazo do estoque da dívida pública, como fez
Cavallo na Argentina.
A colocação sucinta das alternativas em termos de políticas
abruptas de estabilização e de suas implicações sobre as
principais variáveis macroeconômicas objetiva sublinhar as
41
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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principais restrições e alguns impasses importantes para a
economia brasileira:
1. Nos casos de âncora cambial e política de rendas, é
necessária a manutenção da taxa de câmbio constante em termos
nominais para consolidar as expectativas não-inflacionistas dos
agentes. Entretanto, para isso torna-se vital o nível fixado para
o câmbio no momento de adoção do plano de estabilização. No caso
de ancoragem cambial, se predominar a avaliação de que a taxa
esteja sobrevalorizada e, em simultâneo, houver dúvidas sobre a
suficiência do volume de reservas para garantir a
conversibilidade, o programa está sujeito a graves riscos.
No caso de políticas de renda, o risco adviria das
expectativas elásticas dos agentes, que tendem a projetar nos
preços e valores esperados, com intensidade mais do que
proporcional, os efeitos percebidos de mudança dos preços-chave.
Por fim, no que tange à adoção de uma âncora monetária nominal, o
nível da taxa de câmbio dependerá do controle dos fluxos externos
de capitais e da variação da balança comercial, com o intuito de
evitar pressões monetárias incompatíveis com a sustentação da
âncora (em virtude das diferenças das taxas de juros interna e
internacional e da sobrevalorização da taxa de câmbio real
inerente à fase inicial desta política de estabilização).
2. A questão do nível da taxa de câmbio é extremamente
relevante, pois enseja crises no balanço de pagamentos,
especulação com ativos e divisas e, não menos importante, porque
valorizações ou desvalorizações não afetam somente os preços dos
tradables no Brasil. A taxa de câmbio afeta, também, os non-
tradables, tanto através do desequilíbrio patrimonial das
empresas de utilidade pública, fortemente endividadas em dólar,
quanto porque, embora as importações no Brasil estejam reduzidas
ao essencial (petróleo, insumos e bens de capital), elas afetam
os preços das commodities e os custos dos insumos produzidos
internamente e, especialmente, os bens de investimento.
42
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
3. A taxa de juros, por razões diversas, a curto prazo
deverá manter-se real e positiva. Nos casos de ancoragem cambial
e monetária nominal, porque a política monetária de tipo
convencional - através de mecanismos de encaixe bancário - acaba
por induzir taxas de juros elevadas e, provavelmente, voláteis.
No caso de políticas de renda, à política monetária caberá
impedir ataques especulativos contra o câmbio e impedir que a
monetização da economia pós-congelamento crie "bolhas" de consumo
e especulação com ativos reais e divisas. A política monetária
poderia ser menos ativa caso se acoplasse a absorção de recursos
financeiros externos de curto prazo ao processo de privatizações,
o que, dependendo da posição do balanço de pagamentos, pode
outorgar maior autonomia ao Banco Central para flexibilizar as
restrições de crédito interno e produzir um rebaixamento
gradativo dos juros.
4. Em qualquer das alternativas parece impossível, a curto
prazo, fugir de uma política de austeridade fiscal. Nos casos de
ancoragens cambial e monetária, porque a regra fiscal derivada
condiciona a necessidade de financiamento do setor público e o
resultado do balanço de pagamentos às metas quantitativas para a
oferta de moeda e a variação das reservas, respectivamente. No
caso de política de rendas, porque o resultado fiscal do governo
é elemento fundamental para a formação de expectativas dos
agentes econômicos. Se a emissão de dívida ensejar volta de
desconfiança nos títulos públicos, as expectativas inflacionárias
retornam, minando os graus de autonomia adquiridos pela política
monetária.
Em ambos os contextos, o ajuste fiscal e patrimonial do
Estado pode compensar, por algum tempo, a pressão que as taxas de
juros elevadas fazem sobre o resultado fiscal do governo. Na
ausência de esquemas de redefinição do perfil temporal do estoque
da dívida pública ou de financiamento externo ao governo, no
entanto, os problemas de instabilidade de médio prazo
permaneceriam. Quanto a este ponto, nenhuma das alternativas pode
prescindir de uma absorção estável de recursos externos e de uma
43
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
recuperação do crédito público que garantam, a longo prazo,
financiamento mais adequado ao governo.
Para o setor privado, a alternativa das privatizações, ainda
que vantajosa do ponto de vista patrimonial, não é suficiente
para viabilizar projetos de investimento que permitam uma
retomada sustentável do crescimento com estabilidade dos preços;
vale dizer, um processo virtuoso em que as equações fiscal, do
crédito (externo e interno) e do investimento se auto-
sustentassem.
Estas observações visam sublinhar que a escolha específica
de qualquer uma das alternativas de estabilização pode colocar a
curto e médio prazos restrições importantes à retomada do
crescimento e à reestruturação industrial, pois penaliza o custo
do capital e dificulta os investimentos infra-estruturais do
Estado, pré-requisitos à competitividade sistêmica. Mais
importante ainda, em uma economia com as características da
brasileira não há políticas isoladas, ortodoxas ou heterodoxas,
que possam fazer frente ao desafio da estabilização. Isto parece
indicar que somente um ataque conjunto e equilibrado, envolvendo
várias decisões e políticas simultâneas, poderia dar conta do
problema.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
4. PRINCIPAIS CONDICIONANTES MACROECONÔMICOS DA COMPETITIVIDADE
E DA REESTRUTURAÇÃO SISTÊMICA: ALGUMAS SUGESTÕES DE
POLÍTICAS
É indiscutível que o declínio da inflação é condição
necessária à diminuição do custo de capital. Entretanto, dada a
situação
de regressão financeira em que se encontra a economia
brasileira não é garantido que um processo de estabilização, de
imediato, induza decisões de investimento e financiamento de
longo prazo. A intermediação financeira tradicional fica
inviabilizada em face da diminuta demanda efetiva por créditos
(apesar do potencial de investimentos ser elevado) e uma oferta
de crédito inibida pela inflação elevada, pelos riscos de choques
macroeconômicos, pela falta de horizonte de longo prazo e pela
inexistência de projetos concretos de investimento.
Como colocado acima, as soluções de choque envolvem uma
contradição entre o curto prazo (elevação dos juros e controle
creditício) e o longo prazo (financiamento da reestruturação).
Acrescente-se, ainda, que qualquer uma das opções de política de
estabilização discutidas implica perdas para diferentes agentes
econômicos e o poder de veto ou de burla destes no atual contexto
político-institucional não é desprezível. Além disso, eleger a
estabilidade como critério incondicional de política
macroeconômica, sem balizá-lo pela necessidade de soluções para
as questões do financiamento e da competitividade, seria ancorar
a estabilidade em critérios precários e provisórios.
Tal assertiva deriva da conclusão
3
de que a redução dos
juros reais, por mais desejável que possa ser para a melhoria das
condições de competitividade da indústria brasileira, não pode
ser alcançada de forma isolada, sob pena de precipitar movimentos
especulativos capazes de levar à sua reversão em pouco tempo. A
redução dos juros deve ser parte de um programa de estabilização
3
Nota Técnica Temática "Custo de Capital, Condições de Crédito e Competitividade: Condições de
Financiamento de Curto Prazo".
45
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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que ofereça à riqueza financeira estocada sob a forma de quase-
moeda ancoragem real no investimento.
1. Ajuste fiscal: desde logo é essencial caminhar em direção
a um ajuste fiscal duradouro, de forma consensual, inclusive
quanto ao timing e etapas de sua implementação visando: a) elevar
significativamente a receita tributária macroeconômica, por
etapas; b) efetuar uma profunda reestruturação do gasto e do
investimento público privilegiando as dimensões social e da
competitividade sistêmica.
Como colocado na Nota Técnica Temática "Incidência
Tributária e Estímulo Competitivo", entre 1970 e 1990, a carga
tributária nos países da OCDE elevou-se de 30 para 38,8% do PIB.
Tal elevação deveu-se principalmente ao aumento da participação
dos tributos sobre rendimentos e lucros, sobre rendimentos das
pessoas físicas, das contribuições sociais e dos impostos sobre o
consumo. Em contrapartida, caíram as participações dos impostos
sobre bens e serviços e sobre os rendimentos das empresas,
mantendo-se constante a participação dos impostos sobre o
patrimônio.
Em contraste com a estrutura tributária internacional, a
brasileira destaca-se pela constância da carga tributária como
proporção do PIB e pela pequena participação dos tributos sobre
rendimentos e lucros. É, também, menor a participação das
contribuições sociais e a participação dos impostos indiretos
sobre bens e serviços é relativamente elevada quando comparada a
dos países da OCDE. A comparação das cargas tributárias do Brasil
e da OCDE revela que o nosso problema não é o nível excessivo de
tributação, mas a inadequação da composição da carga e da
natureza dos impostos face aos requisitos de financiamento.
Superar estas especificidades e, ao mesmo tempo, apontar para a
possibilidade de recuperação da receita fiscal macroeconômica ao
longo do tempo, constituem precondições essenciais à adequação da
capacidade de financiamento do Estado aos desafios de
competitividade sistêmica.
46
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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2. Equacionamento das dívidas intra-setor público: o acerto
organizado das dívidas intra-setor público, interrompendo-se o
expediente das inadimplências voluntárias, é essencial para
desbloquear as condições de financiamento dos grandes blocos de
infra-estrutura, a começar pelas dívidas cruzadas dentro do setor
elétrico (concessionárias estaduais, Eletrobrás, Tesouro).
3. Saneamento Patrimonial dos Bancos Públicos: definir
estratégia efetiva de saneamento patrimonial dos bancos públicos
para que estes desempenhem papel de fomento da reestruturação
sistêmica. De um modo geral, estas instituições apresentam uma
concentração excessiva de créditos contra o setor público, em
muitos casos junto ao próprio acionista controlador, suas
empresas e autarquias.
Em face da situação precária das finanças públicas, estes
créditos em geral foram renegociados em prazos longos, o que
afeta os índices de liquidez dos bancos oficiais, impedindo que
atuem mais efetivamente no fomento à atividade econômica e
pressionando as taxas de juros.
Neste sentido, entende-se como fundamental:
- avançar nas tentativas de "encontro de contas" intra-setor
público, nas esferas federal, estadual e municipal, a exemplo das
iniciativas atualmente em debate no Congresso Nacional;
- transformação dos ativos financeiros de longo prazo contra
o setor público em ativos contra o setor privado, melhorando o
risco e reduzindo o giro dos ativos dos bancos oficiais; isto tem
sido viabilizado pelo programa federal de privatizações, mas
também pode ser feito aceitando-se estes créditos para
recolhimento de tributos no caso de empresas com projetos de
investimento. Cabe destacar que o crescimento do mercado
secundário de moedas de privatização ("moedas podres") permite o
desenvolvimento de engenharias financeiras que pode gerar
financiamentos de longo prazo para o setor privado; a viabilidade
de todas estas alternativas exige a securitização (registro na
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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CETIP) dos ativos contra o setor público, para garantir a
negociabilidade dos mesmos;
- comprometimento dos retornos operacionais dos ativos de
longo prazo dos bancos oficiais com operações de fomento, sendo
para tanto necessário que estas instituições tenham a
possibilidade de acesso ao redesconto do Banco Central em bases
não-punitivas, desde que efetivamente estejam comprometidas com o
financiamento de longo prazo a novos investimentos, privados e
público-privados (parcerias);
- aperfeiçoamento dos mecanismos de gestão dos bancos de
forma que se imponha limites claros aos empréstimos por esses
concedidos a seus controladores e que se desenvolva funções de
fomento da atividade produtiva até agora pretendidas pelo
objetivo de financiamento aos Tesouros Estaduais.
4. Financiamento menos oneroso para o Tesouro: a
implementação dos ajustes anteriores abre espaço para a montagem
de alternativas menos onerosas para a dívida pública com efeito
duplamente benéfico: a) reduz a massa de encargos financeiros do
Tesouro que vem esterilizando o superávit primário; b) permite
reduzir a taxa básica de juros no mercado monetário e apontar
para uma estrutura de termo de taxas de juros positivamente
inclinada. A remonetização que acompanha a estabilização conduz à
redução dos encargos e tende a aumentar os graus de liberdade da
política monetária, especialmente se as expectativas evoluírem de
forma satisfatória, vis-à-vis a estabilização. Transitoriamente
deve-se estudar mecanismos alternativos tais como: permissão para
operações pós-fixadas em prazos curtos, fixação de indexador
oficial, indexação à taxa de câmbio.
5. Privatização e engenharias financeiras para acelerar o
ajuste patrimonial do Estado: a aceleração do ajuste patrimonial
do Estado é essencial para os três pontos supracitados pois
viabiliza a transformação de créditos e ativos financeiros contra
o setor público em ativos (securitizados ou não) contra o setor
privado. As privatizações e a efetivação mais rápida de outras
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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engenharias financeiras intra-setor público e entre este e o
setor privado não apenas viabilizam o ajuste do setor público
mas, também, ajudam a ancorar a liquidez da economia, reduzindo o
grau de instabilidade potencial.
6. Banco Central ágil e capaz de neutralizar pressões: um
aprimoramento político-institucional com a consolidação das
contas entre Tesouro Nacional e Banco Central (e.g. transferência
para o Tesouro da dívida externa e redução dos títulos do Tesouro
Nacional na carteira do Banco Central) deve contribuir para uma
gestão ágil e estabilizadora do Bacen sobre quaisquer
desequilíbrios nos mercados monetário, de crédito e de câmbio.
Dentro de certos limites, através de títulos de sua própria
emissão, especialmente lastreados, o Banco Central deve
neutralizar pressões de curto-prazo sem transferir o ônus ao
Tesouro. As iniciativas do Banco Central devem estar articuladas
coerentemente ao programa macroeconômico abrangente. Portanto, a
sua atividade estabilizadora deve estar submetida à orientação
geral da política econômica.
7. Política monetária austera no curto prazo com perspectiva
de juros declinantes: o ajuste fiscal, o equacionamento das
dívidas intra-setor público, o saneamento das instituições
financeiras públicas, as engenharias financeiras e as
privatizações são condições fundamentais para neutralizar e
minorar as pressões monetárias expansionistas, infundir confiança
quanto à solidez das contas públicas e ancorar a liquidez do
sistema financeiro. São, todas, condições para eficácia da
política monetária. É evidente que a redução dos juros reais é
delicada e não pode ser levada à prática de forma isolada para
não precipitar movimentos especulativos que levarão à sua
reversão em pouco tempo. O sucesso da estabilização (ainda que
por etapas) tende a provocar um rápido processo de remonetização
o que exigiria ação imediata do Bacen através do aumento do
compulsório sobre depósitos à vista e, eventualmente, controle
seletivo do crédito. Em suma, não adianta atacar só os fatores
que afetam a taxa de juros se, paralelamente, não se produzir uma
mudança nos fatores que influenciam a eficiência marginal do
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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capital, i.e. as perspectivas de rentabilidade futura dos ativos
reais. Este é o fator crítico para a fixação da estabilização.
Esta transição das expectativas em direção ao crescimento
sustentável, com efetivação de decisões de investimento, ditará o
ritmo de redução da taxa de juros compatível com o ajustamento
simultâneo da velocidade de circulação da moeda e do grau de
liquidez sistêmica. A transição das expectativas condiciona,
também, a possibilidade de desdobrar um espectro temporal
positivamente inclinado para as taxas de juros. A indução das
decisões de investimento, por outro lado, requer a formulação de
uma política creditícia e reformas financeiras, descritas a
seguir.
8. Política creditícia, reforma financeira e mercado de
capitais: para que o controle da expansão do crédito, no contexto
da estabilização, não seja estéril é preciso combiná-lo com
medidas de direcionamento dos empréstimos para os setores
prioritários da política industrial, com operações de prazos mais
longos e juros reduzidos. A formulação e possibilidade de
execução de uma política creditícia, simultânea ao processo de
remonetização, deve ser vista como instrumento-chave para induzir
decisões de investimento produtivo (portanto, instrumento-chave
da política industrial). Para isso é necessário que a lei
complementar em discussão no Congresso Nacional (art. 192)
permita não apenas a imposição de controles quantitativos ao
crédito mas, também, a fixação de obrigatoriedades em termos de
prazos, tipos de operação e prioridades setoriais. A
regulamentação de formas de redesconto seletivo aos bancos
privados, permitindo ao Bacen oferecer suporte a empréstimos de
longo prazo dentro das prioridades (da política industrial),
inclusive em operações de cofinanciamento com o BNDES, poderia
ser muito útil. É mister, porém, atentar para o risco de criação
ad hoc de subsídios financeiros, sem controle e previsão.
Operações com taxas subsidiadas devem ser explicitamente
previstas no orçamento e consolidadas numa lei monetário-
financeira anual.
50
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Paralelamente, a reforma financeira deve incentivar
fortemente a expansão dos investidores institucionais (fundos de
pensão e seguros) e do mercado de capitais, através do avanço dos
processos de securitização e da criação de um sistema de
garantias de operações, com o objetivo de absorver a
sobreliquidez sistêmica e criar alternativas de financiamento e
capitalização das empresas. O desenvolvimento de fontes estáveis
de poupança é básico para viabilizar suporte aos créditos,
financiamentos e capitalizações de longo prazo.
8.1. O papel dos investidores institucionais: dado o papel
fundamental dos investidores institucionais (fundos de pensão,
seguradoras, fundos de investimento de curto prazo) na
alavancagem do mercado de capitais - notadamente com o
crescimento do processo de securitização, e face ao reduzido peso
dos ativos destes investidores no Brasil relativamente ao PIB) -,
propõem-se as seguintes iniciativas:
- implementar um sistema de previdência complementar em
regime de capitalização, de modo a alavancar o mercado de
capitais a médio e longo prazos;
- estimular (inclusive com incentivos fiscais) os regimes de
previdência complementar abertos e fechados nos segmentos de
renda média e alta;
- vincular parte dos ativos de fundos de pensão de
servidores públicos (em estudo em alguns estados da federação) a
políticas de desenvolvimento;
- garantir os direcionamentos de crédito existentes no Fundo
de Aplicações Financeiras para o financiamento industrial e no
Fundo de Investimento em Commodities para o crédito ao setor
agropecuário e agroindustrial, face à relevância dos recursos
destes fundos.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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8.2. O mercado de capitais: ao lado do crescimento da base
de investidores institucionais, o fortalecimento do mercado de
capitais (títulos de renda fixa e emissão de ações) pode ser
adicionalmente impulsionado a partir de um conjunto de
iniciativas já delineadas no Plano Diretor do Mercado de
Capitais, tais como:
- medidas de desburocratização e desregulamentação do setor,
com maior integração entre BACEN e CVM;
- maior transparência do mercado e proteção dos acionistas
minoritários, envolvendo: demonstrativos financeiros mais
completos, valorização das ações ordinárias (com mudança na
proporção destas em detrimento das ações preferenciais),
preservação do valor real dos dividendos e exigência de um
dividendo mínimo para as preferenciais, entre outros, o que
implica revisão da lei das sociedades anônimas;
- flexibilização das condições de emissão de debêntures,
mediante abolição dos limites de emissão, maior liberdade na
definição do tipo de prêmio e possibilidade de convertibilidade
em qualquer tipo de bem ou serviço;
- estímulo ao crescimento de fundos mútuos de ações e da
participação dos empregados no lucro sobre a forma de ações;
- aumento do rigor quanto a práticas lesivas ao mercado,
revisão da lei de falências e concordatas, lei do colarinho
branco, aumento da punição aos administradores, reformulação do
Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional.
A partir da observação da experiência internacional, propõe-
se também a constituição de legislação rigorosa para punição do
"insider trading".
O avanço e aperfeiçoamento do processo de securitização é um
mecanismo importante para alavancar capital com custos reduzidos
para investimentos e capital de giro para a indústria.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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Particularmente importante é o conceito de securitização de
recebíveis (asset-backed securities), operação mediante a qual
parte de ativos de uma empresa (os recebíveis) de excelente risco
e liquidez servem como lastro para emissão de uma debênture a
custos mais reduzidos do que se fosse emitida pela própria
empresa.
Ao permitir a emissão de uma dívida dissociada do risco da
empresa originadora dos recebíveis, esta operação abre um campo
muito importante de possibilidades, inclusive podendo viabilizar
o financiamento a empresas públicas.
8.3. O redesconto de liquidez: à medida que seja delineada
uma política financeira voltada para o longo prazo, cabendo
especialmente aos bancos públicos sustentar ativos longos de
liquidez mais reduzida, é importante definir um mecanismo de
acesso ao redesconto da autoridade monetária em bases não-
punitivas. A experiência internacional mostra que o redesconto
seletivo foi um instrumento muito utilizado em algumas
estratégias de crescimento bem-sucedidas, como no caso do Japão,
tendo um papel muito relevante na redução do custo de capital.
De modo a não repetir a sistemática pouco transparente e
anti-democrática do antigo Orçamento Monetário, acredita-se ser
possível viabilizar o instrumento a partir das seguintes
características:
- as instituições financeiras públicas e privadas só poderão
redescontar créditos de longo prazo (acima de três anos, por
exemplo) concedidos ao setor privado;
- os limites serão definidos em consonância com a
programação monetária; a utilização deste mecanismo dar-se-ia em
um contexto de recuperação da demanda real por base monetária,
que se verifica em momentos de queda da taxa de inflação; trata-
se de definir o apoio ao crédito de longo prazo como uma forma
preferencial de reintrodução da liquidez monetária na economia;
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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- a modalidade de créditos elegíveis para o redesconto seria
definida pelo BNDES, em consonância com os objetivos da política
industrial; poderiam ser eleitos em primeiro lugar as carteiras
de FINAME e POC-automático dos agentes financeiros do BNDES;
- poderia ser adotado um formato onde os créditos de longo
prazo contra o setor privado figurariam como os recebíveis que
serviriam de lastro para a emissão de um título negociável que
seria redescontado;
- o recurso a este mecanismo seria transitório, perdendo
importância a partir do crescimento da poupança financeira e
particularmente dos ativos dos investidores institucionais; a
garantia de redesconto do Banco Central aos títulos securitizados
permitiria que se tornassem atraentes para compor,
voluntariamente, o portafólio dos investidores institucionais.
8.4. Aspectos de riscos e garantias: a definição de uma
política financeira como a proposta apresenta alguns requisitos
em termos de sua consistência com a política macroeconômica de
curto prazo, pois não deve ter efeitos instabilizadores sobre o
processo econômico. Neste sentido, propõe-se:
- intensificação da regulamentação preventiva e supervisão
sobre as instituições financeiras, estudando-se a hipótese de
criação de uma instituição pública especialmente para este fim, a
exemplo do verificado no Chile (Superintendência de Bancos e
Instituições Financeiras);
- definição anual ou ligada ao plano plurianual de
investimentos de um programa oficial de crédito, nos moldes do
Programa Fiscal de Investimento e Crédito japonês, dando
consistência à ação das instituições oficiais e apontando as
prioridades dos recursos do FAT, fundos constitucionais,
redesconto de liquidez e outras fontes;
- constituição de comissão para classificação de riscos dos
instrumentos financeiros (especialmente no caso dos novos títulos
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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securitizados), nos moldes da Comisión Clasificadora de Riesgo
chilena, ao lado do estímulo a entidades privadas voltadas para a
classificação e padronização dos riscos de crédito de empresas e
bancos, com padrões internacionais.
No tocante à concessão de garantias a projetos de infra-
estrutura de grande porte, em regime de concessão ao setor
privado, é necessário avançar nas seguintes definições:
- emissão de títulos vinculados ao próprio projeto, com
garantia bancária, e prêmio ligado à rentabilidade do projeto. A
garantia bancária poderia ter seu custo reduzido caso o título
fosse elegível para redesconto junto ao Banco Central; a
contragarantia dos avais bancários seriam os recebimentos do
projeto (tarifas, fretes, pedágios, etc.);
- no caso da colocação de títulos no mercado externo, seria
criado um sistema de garantias do principal com base em parte das
reservas internacionais, convertidas em títulos do Tesouro norte-
americano; adicionalmente, poderia ser negociado com instituição
multilateral uma garantia aos juros dos títulos, o que
viabilizaria captações em prazos longos e em taxas compatíveis
com investimentos de infra-estrutura.
No caso de projetos de concessionárias públicas, o caminho
seria avançar no sentido da securitização de recebíveis,
vinculando parte das receitas do projeto ao pagamento dos
financiamentos. Neste sentido, seria necessária uma revisão das
excepcionalidades constantes da Res.1.718/90 do Banco Central, na
medida em que os empréstimos fossem garantidos por recebíveis.
Cabe aqui analisar a viabilidade de special purpose companies,
criadas especificamente para a gestão de um determinado projeto.
Cabe também destacar os problemas resultantes da
constituição de garantias para financiamentos a micro, pequenas e
médias empresas. Dada a importância do processo de terceirização
para a modernização competitiva da indústria, é importante a
constituição de fundos (com recursos públicos e privados) para
55
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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fornecer garantias ao crédito (ou securitização) para este
segmento empresarial, seguindo o exemplo dos países
desenvolvidos e em desenvolvimento de renda média (como México e
Coréia do Sul).
9. A gestão das reservas e da taxa de câmbio: a gestão do
nível da taxa de câmbio real é extremamente relevante para a
estabilização. O elevado volume atual das reservas de divisas é
benfazejo para a estabilização à medida que permite ao Banco
Central esfriar qualquer movimento especulativo sobre a taxa de
câmbio. Este fato constitui um pólo de estabilização de
expectativas, na vertente cambial - e representa um trunfo
importante para um programa de estabilização. A possível
ancoragem de preços, salários e câmbio pode basear-se no atual
patamar da taxa de câmbio real, considerado satisfatório pela
Nota Técnica Temática "Câmbio, Custos e Competitividade: Política
Cambial e Estabilidade Macroeconômica", e deve sinalizar
claramente que uma trajetória de sobrevalorização não será
referendada no futuro. Se a fixação temporária da taxa de câmbio
implicar um certo grau de sobrevalorização, regras previamente
negociadas de correção da defasagem devem ser explicitadas.
Idealmente, a política cambial deve ser passiva no curto
prazo para auxiliar a ancoragem, cabendo à política monetária um
papel ativo. À medida que se fixe a estabilização e as decisões
de investimento ganhem corpo, ensejando a redução das taxas de
juros, será desejável que a política cambial se torne mais ativa
pelas seguintes razões: a) pelas pressões que a elevação do nível
de utilização de capacidade produtiva exerce sobre as exportações
e sobre a balança comercial; b) pela necessidade de sustentar
reservas elevadas (para dissuadir especulação cambial) até que se
consolide a estabilização; c) pela necessidade de sinalizar
incentivo à competitividade internacional da indústria, tornando
mais sólidas e permanentes as estratégias de exportação no
momento em que o mercado interno se reaquecer.
É evidente a delicadeza da sincronização necessária entre a
política cambial, a política monetária-fiscal e as expectativas
56
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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dos agentes, considerados, de um lado, os "custos de
oportunidade" relativos à produção para o mercado interno e para
exportação e, de outro lado, os diferenciais de juros e riscos
entre os mercados financeiros externo e interno. A comprovada
capacidade gestora do Banco Central na área cambial deve ser
mobilizada para minimizar as turbulências. Controles
quantitativos e regras sobre o movimento de capitais devem ser
acionados para evitar o ativismo pelo lado da taxa de câmbio na
fase inicial da estabilização. Idealmente, a desaceleração do
ritmo atual de acumulação de reservas (ou mesmo a estabilização
das reservas num patamar elevado) reduziria a necessidade de
colocação líquida de títulos públicos e tornaria mais cômodo o
exercício da política monetária e de gestão da dívida mobiliária.
De qualquer forma, este movimento precisa ser compatível com a
formação das garantias para o acordo em andamento de
securitização da dívida externa e, certamente, compatível com as
expectativas dos agentes, especialmente dos exportadores e price-
makers.
As Notas Técnicas relativas a "Câmbio, Custos e
Competitividade" apontam para a possibilidade de uma gestão
cambial estabilizada e coerente com um programa abrangente de
ancoragem de preços, salários e taxa de câmbio.
A efetivação do conjunto de medidas e reformas acima
fortifica a possibilidade de fixar essa ancoragem múltipla,
baseada na pactação ou na imposição consentida de freios ao
processo inflacionário (em uma ou em mais de uma etapa). O ponto
central está na compreensão de que sem a retomada do investimento
produtivo não há saída possível para qualquer programa de
estabilização e, portanto, para ser bem-sucedido esse programa
deve associar estabilização e crescimento organizado da economia.
Neste contexto, os agentes econômicos se disporiam a alongar o
perfil de seus ativos, progressiva e voluntariamente, o que, como
contrapartida, viabilizaria a extensão dos prazos de vencimento
da dívida pública mobiliária (permitindo a troca dos BBC em
mercado por títulos mais longos do Tesouro Nacional). Neste
momento, a estabilização ganha solidez, os juros reais podem
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
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diminuir e a política monetária, dependendo das condições das
reservas e dos resultados do ajuste fiscal, deixaria de ser
ativa.
Esta opção por uma política de estabilização abrangente, com
ataque simultâneo a várias frentes, não é acidental mas deriva do
objetivo de integrar política macroeconômica e política
industrial. Neste sentido, vale ressaltar alguns pontos
essenciais a esta última, que devem condicionar a primeira:
1. evitar a sobrevalorização da taxa de câmbio, que
fragiliza o balanço de pagamentos e desincentiva as estratégias
de exportação;
2. evitar uma recessão continuada e sem limite, que obriga
as empresas à retração dos investimentos e à prática do
defensivismo financeiro e de pricing;
3. aceitar a política de rendas como instrumento
indispensável à estabilização, especialmente numa economia
fortemente indexada, e conferir a esta maior alcance e
abrangência, o que não significa minimizar a importância das
políticas monetária, fiscal e cambial;
4. fixar como eixo central da política de estabilização a
retomada organizada e sólida do crescimento. Por crescimento
organizado entenda-se um crescimento: a) inicialmente moderado e
cauteloso; b) sustentável pela recomposição dos investimentos
públicos e privados (e não por bolhas de consumo); c) financiado
por fontes não-inflacionárias; d) baseado na cooperação pactuada
entre os agentes sob a supervisão do Estado, na forma de um jogo-
de-soma-positiva, que facilita a coordenação das expectativas.
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
5. INDICADORES
5.1. Política Macroeconômica
As principais variáveis para monitorar os impactos da
política macroeconômica sobre a competitividade sistêmica da
indústria são: o custo de capital e a taxa de câmbio real.
5.2. Custo de Capital
a) Curto Prazo
O monitoramento dos impactos do custo do crédito de curto
prazo sobre a competitividade sistêmica da indústria brasileira
requer que sejam apurados os custos das operações de crédito nas
modalidades de hot money e de capital de giro nas agências,
discriminando taxas médias, nos dois casos e de acordo com o
porte do tomador, prazo e setor de atividade.
b) Longo Prazo
O monitoramento dos impactos do custo de capital (crédito de
longo prazo e captação no mercado de capitais) sobre a
competitividade industrial pode ser realizado mediante os
seguintes indicadores:
- custo, prazos e carências praticados em financiamentos de
longo prazo e na emissão de debêntures/bônus, nos mercados
interno e internacional;
- relação volume de crédito concedido aos setores público e
privado/PIB (estoque e variação anual); relação volume dos
ativos financeiros/PIB (estoque);
- quantidade e valor das emissões primárias de ações e
debêntures/bônus, no Brasil e no exterior (variação
anual);
- volume negociado em bolsa de valores (turnover);
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
- relação patrimônio dos investidores institucionais/PIB
(fundos de pensão, seguradoras e fundos de investimento de
curto prazo).
5.3. Taxa de Câmbio
As taxas de câmbio reais e efetivas reais, tanto as globais
quanto as desagregadas por setores, são as variáveis-chave a
serem monitoradas para avaliar os efeitos da política cambial
sobre a competitividade sistêmica da indústria. Recomendações
metodológicas e de coleta de informações para o cálculo das taxas
setoriais são apresentadas na Nota Técnica Temática "Câmbio,
Custos e Competitividade: Uma análise a partir dos preços e dos
custos de produção setoriais".
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
QUADRO-RESUMO
a) Política Macroeconômica
------------------------------------------------------------------------------------------------------
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AÇÕES/DIRETRIZES DE POLÍTICA AGENTE/ATOR
EXEC. LEG. JUD. EMP. TRAB. ONGs
ACAD.
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
1) Reforma Tributária e Ajuste Fiscal
- Elaboração da proposta de reforma X
- Reestruturação do gasto público X X
- Discussão e aperfeiçoamento do projeto X X X
- Aperfeiçoamento do gasto da União (orçamento) X X
- Aperfeiçoamento do projeto e apresentação de alter-
X
nativas
2) Equacionamento de Dívidas Intra-Setor Público (CP)
- Banco Central X
- Banco do Brasil X
- Ministério da Fazenda X
- Ministério do Planejamento X
- Eletrobrás/Concessionárias X
- Ministério de Minas e Energia X
- Telebrás X
- Petrobrás X
- RFFSA X
- FGTS - Conselho X
- Bancos Estaduais/Governadores X
- Ajustes na Legislação e Lei de Rolagem das Dívidas X
Estaduais
3) Financiamento Menos Oneroso para o Tesouro (CP)
- Ministério da Fazenda X
- Banco Central X
- Bancos Privados X
4) Privatização e Engenharias Financeiras (CP)
- Ministério da Fazenda X
- Ministério do Planejamento X
- BNDES X
- Banco Central X
- Bancos Estaduais X
- CVM X
- Bancos Privados X
- Fundo de Pensão X
- Credores da União e dos Estados X
5) Banco Central ágil e capaz de neutralizar pressões (CP)
- Ministério da Fazenda X
- Banco Central X
- Regulamentação Art. 192 da Constituição X
- Discussão e apresentação de alternativas
X
61
ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
6) Política Monetária (CP)
- Banco Central X
- Ministério da Fazenda X
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
------------------------------------------------------------------------------------------------------
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AÇÕES/DIRETRIZES DE POLÍTICA AGENTE/ATOR
EXEC. LEG. JUD. EMP. TRAB. ONGs
ACAD.
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
7) Política Creditícia, Reforma Financeira e Mercado
de Capitais
- Ministério da Fazenda X
- Banco Central X
- Banco do Brasil X
- BNDES X
- CVM X
- Ministério da Indústria e Comércio X
- Regulamentação Art. 192 da Constituição X
- Bancos Privados X
- Fundos de Pensões X
- Intermediários Financeiros X
- Discussão e apresentação de propostas alternativas
X
8) Gestão das Reservas e da Taxa de Câmbio
- Ministério da Fazenda X
- Banco Central X
- Exportadores X
9) Política de Rendas (ancoragem de preços, salários,
câmbio)
- Ministério da Fazenda X
- Ministério da Indústria, Comércio e Turismo X
- Câmaras Setoriais X
- BNDES X
- Suplementos/Ajustes Legislação X
- Empresas e Entidades Patronais X
- Bancos X
- Exportadores X
- Trabalhadores X
- Sindicatos e Centrais Sindicais X
- Entidades de Defesa do Consumidor X
- Discussão e Apresentação de Alternativas
X
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
b) Custo de Capital - Curto Prazo
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
AÇÕES/DIRETRIZES DE POLÍTICA AGENTE/ATOR
EXEC. LEG. JUD. EMP. TRAB. ONGs
ACAD.
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
- Articular a administração dos juros reais não
apenas com as políticas de estabilização, mas
também com uma visão mais ampla de política fi-
nanceira, voltada para estimular os investimen-
tos e o alongamento dos prazos das operações
financeiras; X X
- subordinar aos contornos da política de estabi-
lização seguida a permissão para operações pós-
fixadas de curto prazo e para operações indexa-
das à taxa de câmbio; X
- no caso de queda brusca da inflação, promover
aumento imediato e intenso do recolhimento com-
pulsório sobre os depósitos à vista, além de
estabelecer controle quantitativo e seletivo do
crédito; X
- subordinar a atuação do BC ao conjunto da polí-
tica econômica; X X
X
- criar a Lei Monetário-Financeira, anual, in-
cluindo-se entre as suas atribuições a defini-
ção da política de crédito a ser observada por
todas as instituições financeiras, públicas e
privadas; X X X
X
- atribuir ao Banco Central poderes de regulação
e controle sobre o crédito, dentro dos limites
da referida lei anual; X
- criar o redesconto seletivo do Banco Central,
de forma a estimular empréstimos de longo prazo
a setores definidos como estratégicos pela po-
lítica industrial; X X
- reduzir os encargos incidentes sobre emissão de
commercial papers (CP); X
- flexibilizar as regras para emissão de debêntu-
res; X X
- apurar os custos do crédito, nas modalidades de
hot money e de capital de giro nas agências,
discriminando taxas médias nos dois casos e de
acordo com o porte do tomador, prazo e setor de
atividade (CP). X X
------------------------------------------------------------------------------------------------------
---
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
c) Custo de Capital - Longo Prazo
------------------------------------------------------------------------------------------------------
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AÇÕES/DIRETRIZES DE POLÍTICA AGENTE/ATOR
EXEC. LEG. JUD. EMP. TRAB. ONGs
ACAD.
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
1. Saneamento patrimonial e redefinição do perfil
dos bancos públicos
- "encontro de contas" intra-setor público,
nas esferas federal, estadual e municipal. X X
- Securitização (registro na CETIP) dos ativos
contra o setor público para garantir a ne-
gociabilidade dos mesmos. X
- Aceitação dos ativos contra o setor público
para recolhimento de tributos no caso de em-
presas com projetos de investimento. X X
- Acesso dos bancos oficiais de fomento ao re-
desconto do Banco Central em condições não-
punitivas para operações de financiamento de
longo prazo ao setor privado X
- Submeter ao Poder Legislativo, para aprova-
ção, os nomes dos dirigentes dos bancos ofi-
ciais. X X
- Ampliar a participação dos funcionários nos
comitês de crédito dos bancos oficiais. X
2. Alongamento do prazo e redução do custo de fi-
nanciamento
- Isenção de imposto de renda para prazos aci-
ma de três anos para financiamento de proje-
tos sob amparo da política industrial. X
- Definição de um esquema de garantias:
. criação de órgão destinado a supervisão
preventiva junto às instituições financei-
ras (artigo 1 a 2 Constituição Federal) X
X
. definição de programa anual/plurianual
oficial de crédito, nos moldes do PFIC ja-
ponês X
X
. criação de instituições de análise e clas-
sificação de risco, a exemplo da Comisión
de Riesgo de Entidades Privadas, do Chile X
. estudar a possibilidade de utilização de
parte das reservas internacionais como ga-
rantia parcial de alavancagem de capitais
externos para investimentos em infra-es-
trutura X X
. revisão das excepcionalidades constantes
da Res. 1718 do Banco Central, permitindo
que personalidades jurídicas nos moldes
da "special purpose company" possam las-
trear a emissão de títulos financeiros e/
ou mercantis em recebíveis ligados a pro-
jetos na área de infra-estrutura X
. definição de sistemas mistos, com recursos
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
públicos e de associações empresariais ou
de contribuições sobre o lucro de insti-
tuições financeiras, para garantia de
crédito p/empresas de pequeno e médio porte X X X
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
d) Política Cambial
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
AÇÕES/DIRETRIZES DE POLÍTICA AGENTE/ATOR
EXEC. LEG. JUD. EMP. TRAB. ONGs
ACAD.
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
- Manutenção da atual política cambial até o
início do programa de estabilização.(CP) X
- Utilização da taxa de câmbio como uma das ânco-
ras nominais através do mecanismo de prefixação
da sua variação nominal futura. X
- Evitar a valorização brusca da taxa cambial
real e efetiva durante o programa de estabili-
zação, mediante a utilização de um conjunto de
âncoras nominais, consistentes entre si e com a
variação do câmbio nominal por prazos limitados
e crescentes. X
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX
e) Câmbio, Preços e Custos de Produção Setoriais
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
AÇÕES/DIRETRIZES DE POLÍTICA AGENTE/ATOR
EXEC. LEG. JUD. EMP. TRAB. ONGs
ACAD.
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
1) Atualização mais periódica da matriz insumo-produto
- IBGE X
X
2) Construção de um banco de dados que permita a
comparação absoluta e a análise da evolução dos
preços de exportação e dos preços praticados pelos
concorrentes nos principais mercados internacionais
- IBGE X
- SECEX X
- MRE X
- FIESP X
- FUNCEX X
X
3) Atualização dos dados para exportação - valor e
volume - compatibilizados para os setores-matriz.
Divulgação das informações sobre exportações por
setor-matriz segundo seu destino (CP)
- FUNCEX X
4) Construção de indicadores desagregados de alguns
ítens de custos (financeiros; comercialização e
transporte; tarifas portuárias; subsídios e incen-
tivos à produção e à exportação).
- IBGE X
- FGV
X
- FIPE
X
------------------------------------------------------------------------------------------------------
------
Legenda: EXEC. - Executivo
LEG. - Legislativo
JUD. - Judiciário
EMP. - Empresas e Entidades Empresariais
TRAB. - Trabalhadores e Sindicatos
ONGs - Organização Não-Governamentais
ACAD. - Academia
CP. - Propostas exeqüíveis a curto prazo
Nota: Em caso de coluna em branco, leia-se "sem recomendação".
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