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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
IE/UNICAMP-IEI/UFRJ-FDC-FUNCEX
Ao invés de segmentado, o mercado brasileiro está estruturalmente "rachado" em três
níveis: i) 30% da população com acesso precário à alimentação e servida prioritariamente pelo
setor informal; ii) 50% com padrões de consumo popular que misturam o consumo tradicional
(arroz/feijão) e as rubricas tipicamente fordistas (frango, ovos, óleos, massas); e iii) 20% que
aspira acompanhar a sofisticação dos novos padrões de consumo - diet,light, fast-food, pratos
prontos, frutas.
Neste contexto é preciso lançar mão de políticas específicas para integrar os 30%
marginalizados nos padrões de consumo popular. Paralelamente, êxito na integração regional e
uma retomada de crescimento representam as pré-condições para acompanhar os padrões de
competitividade nos segmentos mais sofisticados.
Nestes dois extremos, a política de competitividade para o setor agroindustrial depende,
em primeiro lugar, da eficácia de suas intervenções mais sistêmicas. Por um lado, resgatar os 30%
de marginalizados para o mercado de consumo alimentar implica uma série de medidas que
incluem: eliminação da carga tributária na cesta básica, aprimoramento dos programas para
crianças e nutrizes, merenda escolar e novos mecanismos que busquem institucionalizar a
conscientização alcançada através da "campanha da fome".
Por outro lado, o intervencionismo do Estado no mercado doméstico, tal como exercido
no passado em relação a determinados mercados, precisa ser substituído pela presença mais
agressiva da sua diplomacia nos mercados e foros internacionais. A competitividade nos novos
mercados também passa por um salto qualitativo na eficiência das interrelações entre os atores da
cadeia produtiva. No setor agroindustrial, onde os atores são tão díspares e onde tempo e espaço
são tão determinantes, estas interrelações passam por uma complexa logística que envolve
sistemas de comunicação, infra-estrutura de transporte, armazenamento e portos, financiamento e
distribuição num contexto da rápida perecibilidade do produto, o que exige um alto nível de
coordenação e eficiência sistêmica.
Afora os setores marginalizados do consumo alimentar, o mercado brasileiro caracteriza-se
ainda por um forte dualismo decorrente da distribuição de renda. Num contexto de retração de
demanda, a falta de dinamismo dos setores mais sofisticados e as crescentes dificuldades nos
mercados internacionais levam as empresas líderes a uma estratégia para ocupar o conjunto do
mercado, tanto dos produtos mais banalizados quanto dos mais sofisticados, ameaçando os
espaços das empresas regionais e as cooperativas. Na perspectiva de uma retomada de
crescimento e abertura, a política agroindustrial deve incluir também um forte apoio a estas
empresas "médias", que podem ocupar com eficiência os mercados de massa, estimulando as
empresas líderes a concorrer nos mercados mais sofisticados, tanto no mercado doméstico como
no comércio internacional.