Download PDF
ads:
CIBEC/INEP
RIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA
INOTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS
E PESQUISAS EDUCACIONAIS
Escolinha de Arte tío Brasil
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Presidente da República Federativa do Brasil
João Figueiredo
Ministro da Educação e Cultura
Eduardo Portella
ads:
Série Estudos e Pesquisas — 6
Escolinha de Arte do Brasil
Secretário-Geral
João Guilherme de Aragão
I59e. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais. Escolinha de Arte do Brasil.
Brasília, 1980.
128p. il. (Estudos e pesquisas, 6)
Coordenação de Augusto Rodrigues.
1. Educação artística. I. Série. II.
Título.
CDU: 37.036.5 (81)
O
Escolinha de Arte do Brasil
ESCOLINHA DE ARTE DO BRASIL
1980
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS Diretor-
Geral: Leticia María Santos de Faria
COORDENADORIA DE PESQUISAS
Ana Elisabeth "Lofrano Alves dos Santos
COORDENADORIA DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES
Aydano Pedreira do Couto Ferraz
SEÇÃO DE PUBLICAÇÕES Chefe:
Antonio Bezerra Filho
COORDENADOR:
Augusto Rodrigues
CONSULTORES:
Cecília Fernandez Conde
Jader de Medeiros Britto José
Silveira d'Avila Maria Helena
Novaes Mira Noêmia de
Araújo Varella Onofre
Penteado Neto
EQUIPE TÉCNICA:
Maria Lúcia Santos Freire Luiz Raul
Dodsworth Machado Maria Consuelo
Gorresen Cileda Campos Fernandes
Marcioly Medeiros Bento Francisca
Xavier Queiroz de Jesús Maria Nazareth
Costa Tornaghi Antonio Carlos dos
Santos Carvalho
EQUIPE ADMINISTRATIVA:
Antonio Carlos Mendes Vieira Maria
Therezinha Eyer Franco
EQUIPE DE TRABALHO
SUMÁRIO
PREFÁCIO.............................................................................................................................. 9
INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 11
HISTÓRICO DE UMA EXPERIÊNCIA ................................................................................. 13
Pré-História da Escolinha .............................................................................................. 13
Uma Escola em Campo Aberto ..................................................................................... 32
Uma Instituição Diferente ............................................................................................ 61
0 Encontro com a Experiência:
Arte-Educação no Mundo.......................................................................................... 82
Evolução da EAB: a EAB Hoje ................................................................................... 91
A EAB NO PROCESSO EDUCACIONAL BRASILEIRO ........................................................ 107
As Diversas Faces da Escolinha ................................................................................. 107
Conceitos sobre o Ensino da Arte .. ............................................................................. 108
PERSPECTIVAS..................................................................................................................... 113
Evolução da Idéia........................................................................................................... 113
Nova Clientela: 0 Educador ........................................................................................... 116
BIBLIOGRAFIA....................................................................................................................... 119
PREFÁCIO
O presente documentário —ESCOLINHA DE ARTE DO BRASIL —informa sobre os diferentes
fatores que influíram para o início e desenvolvimento de uma das mais válidas experiências
pedagógicas, das que tiveram o privilégio de ser consideradas por Anísio Teixeira, em 1959,
juntamente com a do Instituto Tecnológico de Aeronáutica e da Escola Doméstica de Natal, como
das mais valiosas inovações no campo educacional, neste país.
Se hoje viesse a falar o eminente educador, muitas outras iniciativas poderiam ser
acrescentadas àquelas. Mas, verifica-se que a grande maioria delas, por não terem podido
contar com os recursos tecnológicos agora disponíveis à documentação, ou ficaram no
esquecimento dos que nelas atuaram ou ainda estão fragmentadas nos arquivos, sem se
constituírem em mensageiras de esforços positivos de construção social.
Este é um dos objetivos da presente publicação: estimular àqueles que, de qualquer forma,
participaram de atividades que se tornaram em certo momento ou ponto do espaço, expressão
do esforço coletivo para solução e problemas locais, regionais ou nacionais, podendo ser
consideradas, em qualquer área das Ciências da Educação, para que as tragam ao
conhecimento dos administradores, pesquisadores, professores e estudantes. Só assim tais
atividades e experiências poderão vir a enriquecer novas iniciativas.
Constitui a Escolinha de Arte do Brasil aquele exemplo de contínua integração de EDUCAÇÃO e
CULTURA, de atuação cooperativa de dedicados mestres que uniram seus esforços, "engenho e
arte", para possibilitar ao educando o complemento à escolaridade regular, tão necessário à
natural e fértil expansão às energias e formas de ser das novas gerações.
Educadores artistas, especialistas em diferentes técnicas, desenvolveram, sob uma influência
familiar positiva, reforçada pela troca de idéias e experiências de grandes mestres, como Ulisses
Pernambucano, Helena Antipoff, Herbert Read, Nise da Silveira e tantos outros, uma interação
construtiva.
Tal interação não só criou oportunidades que os levaram a se realizar como artistas polivalentes,
mas ainda como educadores que abriram às crianças e aos adolescentes novos caminhos,
educando-os através da Arte, valorizando-os e fazendo confluir todas as formas de expressão
rumo à maior satisfação pessoal e ao progresso social, sempre buscado mas difícil de ser
atingido.
Desde tempos imemoriais, especialmente na Grécia clássica, foram exercitadas e valorizadas as
atividades que, pela Arte, levaram ao pleno desenvolvimento do ser humano. Mas, na
atualidade, atingidas algumas etapas na evolução das Ciências da Educação, é possível afirmar
que, sem auto-satisfação, dificilmente se atingirá um nível de participação pessoal na tarefa
pedagógica. E, ainda: sem essa participação, a educação se reduz a algo efêmero e superficial,
trazido por outros mas não conquistado. E é só
quando sentida como conquista que a educação passa a ser auto-educação. Então, sim: serão
postos em ação, conscientemente, recursos pessoais que vão sendo trabalhados anteriormente
e cujos produtos beneficiarão seu próprio sujeito e a sociedade. Conscientizar o educando no
bom uso dos seus recursos pessoais, e no aproveitamento dos recursos naturais e sociais de
sua comunidade, eis, em resumo, o grande objetivo da obra educacional; e um dos objetivos da
pesquisa documentário: não deixar que se percam dados valiosos para subsidiarem novas
pesquisas, sistematizando-as, recupe-rando-as.
A ESCOLINHA DE ARTE DO BRASIL, que forneceu material ilustrativo para a série de
diapositivos produzida no INEP e intitulada ESTIMULANDO A CRIATIVIDADE, cujo roteiro foi
elaborado pela Professora ALICE BRANDÃO DE CASTRO, tem objetivos coincidentes com os
mais importantes do Plano Setorial e programas vigentes do MEC:
integrar, cada vez mais, EDUCAÇÃO e CULTURA e, conseqüentemente, ARTE e
EDUCAÇÃO, EDUCAÇÃO e RECREAÇÃO;
• multiplicar as oportunidades de participação do educando e das comunidades na
tarefa educativa;
dar à ação pedagógica o caráter de abrangência interdisciplinar, interinstitucional,
pelo qual envolverá na interação de cientistas, artistas, e educadores e educandos
o que melhor disponham de seus recursos criativos e críticos na busca dos valores
positivos para o mundo de amanhã.
O estudo aqui apresentado partiu de farta e dispersa documentação à qual não faltou a ação
seletiva e criativa dos que o acompanharam prestando a assistência técnica, desde o esboço
inicial do projeto até a forma final em que aqui se apresenta: Jader de Medeiros Britto e Ana
Elizabeth Lofrano Alves dos Santos, da equipe do INEP. É, portanto, obra conjunta de todos os
que constituíram a ESCOLINHA DE ARTE DO BRASIL, dos que documentaram suas atividades
e. principalmente, de Augusto Rodrigues, que a criou e incentivou, liderando-a e denominando-a,
tão adequada e carinhosamente.
Sua ação se irradiou, conferindo-lhe, pela constância, o mérito dos trabalhos construtivos.
Leticia Maria Santos de Faria
Diretora-Geral do INEP
INTRODUÇÃO
Debruçar sobre trinta anos de uma experiência viva significa ter em mãos um material rico e
diversificado. Se esta experiência, apesar de recolher farta documentação de seu trabalho,
sempre esteve mais voltada para novas vivências e menos preocupada em fazer o exame
sistemático do seu passado, esse material estará necessariamente disperso e desorganizado.
Este é o caso da Escolinha de Arte do Brasil. Várias vezes, no decorrer destes trinta anos, o
pessoal da Escolinha pensou em refletir sobre o já vivido, sistematizando uma experiência vital
para se compreender o esforço de integrar a arte na educação brasileira. Esboçou-se um livro,
recolheu-se o depoimento de Augusto Rodrigues, planejou-se a estrutura da obra. Mas o livro
não saiu.
A opção da presente pesquisa foi, antes de tudo, organizar o material, o que implicou revirar
numerosas pastas onde havia tudo, separando e classificando a correspondência recebida e
enviada, os recortes de jornais, os ofícios, os textos para estudo, os programas de cursos, os
relatórios.
O material levantado daria para muitas pesquisas diferentes, desde que se limitasse o âmbito de
cada uma. Não é simples resumir trinta anos de uma experiência tão multifacetada quanto a da
Escolinha em um trabalho de menos de um ano, como foi o caso da presente pesquisa.
Optou-se, então, por apresentar um começo de trabalho, lançando pistas para outras pesquisas
e novos estudos. Vários temas abordados mereciam análise mais detalhada e demorada. Muitos
nomes que não deveriam ser esquecidos, talvez tenham ficado de fora ao se preparar a redação
final do texto. Muita gente que contribuiu decisivamente para o trabalho da Escolinha deixou de
ter aqui a sua colaboração devidamente analisada, por falta de registro.
Depois, tratou-se de recolher os depoimentos de quem viveu a experiência desde o começo e/ou
de quem ainda está dando sua contribuição para os novos rumos da Escolinha. E é claro que se
deu destaque especial, pela sua amplitude, aos depoimentos de Augusto Rodrigues e Noemia
Varela. Esses depoimentos (na íntegra) e partes dos de outros entrevistados constam, para
servir de matéria-prima de novas pesquisas. Preferiu-se transcrever os depoimentos como foram
dados, na riqueza da linguagem falada.
A pesquisa ajudou, também, a detectar algumas grandes lacunas e mesmo injustiças que podem
ser preenchidas ou reparadas pelos que trabalham em educação. São assuntos que escapariam
ao objetivo do presente trabalho. Só a título de exemplo, ainda está por ser publicada
sistematicamente e analisada em suas profundas implicações nos diversos níveis a contribuição
prática e teórica destas figuras admiráveis que foram Helena Antipoff e Anísio Teixeira. No
campo da junção da arte e da psicologia, as contribuições de Ulisses Pernambucano e o apoio
ao trabalho em processo de Nise da
Silveira. Outras experiências análogas à da Escolinha de Arte do Brasil precisam ser
pesquisadas: Guido Viaro, no Paraná; Lula Cardoso Aires, em Pernambuco; Ivan Serpa, no Rio
de Janeiro. Além disso, poucos trabalhos forarn traduzidos e publicados no Brasil — como afirma
Ana Mae Tavares Barbosa — sobre a teoria e a prática do movimento da arte-educação no
mundo e no País. Outro campo, que, segundo Augusto Rodrigues, poderia se chamar
"iconografia da criança brasileira", está praticamente virgem.
E, por último, não menos importante, esta pesquisa serviu para mostrar que está viva a idéia
geradora destes trinta anos de trabalho voltados para a criança e a liberdade. Que esta idéia tem
a marca das coisas eternas e permanentemente novas e renováveis, inclusive e principalmente
porque junta num mesmo movimento criança e liberdade. A Escolinha de Arte do Brasil não é um
objeto histórico a ser examinado como peça de museu. É uma realidade viva e mutante que
busca hoje novos caminhos para concretizar, no tempo e no espaço brasileiros, a sua idéia-
matriz: unir arte e educação num mesmo movimento (daí o termo arte-educação), garantir o
respeito integral à livre expressão das crianças (de todas as crianças) e nestes processos
transformar os professores e a própria educação.
HISTÓRICO DE UMA EXPERIÊNCIA
PRÉ-HISTÓRIA DA ESCOLINHA
Augusto Rodrigues, o pai da criança
"Hoje, 21 de agosto de 1978, estou iniciando um depoimento em que devo contar minhas
experiências e meu tipo de formação que se realizou muito pouco dentro da esco/a. No fundo, eu
me formei na rua, em contato com as pessoas, evidentemente passando por uma ou outra
escola".
Nasceu no Recife a 21 de novembro de 1913. Filho de boa família, era um moleque solto pelas
ruas e rios do Recife, brincando com a meninada, fazendo mil e uma invenções.
"Minha infância foi uma infância de criança de classe média, uma criança que gostava como
todas as outras de brincar...""... as experiências mais variadas, com os grupos mais
diferentes com as crianças de meu próprio grupo social e também as crianças de zonas
carentes, as chamadas crianças da rua".
Foi um menino marcado pela dura experiência de escolas repressivas, que queriam meter na
cabeça das crianças — por bem ou por mal — um monte de datas, nomes, conceitos, tabuadas,
fórmulas.
"Minha primeira esco/a foi uma experiência muito triste, porque não só me via impossibilitado de
me movimentar, de falar, de viver, como também olhava as outras crianças impedidas igualmente
de se expressarem. A esco/a era sombria, triste, a professora também sombria e eu sentia uma
preocupação dessa professora em imprimir em nós alguma coisa que não tinha nenhum sentido.
Teríamos que aprender o que interessava a ela ensinar e teríamos que abdicar daquilo que era
fundamental para nós, que era brincar".
• •
"A escola era um suplício. Metiam à força na cabeça dos meninos tudo o que eles não queriam
nem estavam interessados em aprender. Eu nunca me adaptei. Acabei expulso. Detesto até hoje
a escola repressiva".
• •
"... eu tinha também minha vida fora da escola, e muito plena. A vida onde havia o devaneio, a
exploração do rio, a natureza, os jogos onde a fantasia estava muito
presente. Lembro que formávamos dois grupos que lutavam pela descoberta de um tesouro, e
dos segredos que havia nele. E simplesmente não havia segredo nem tesouro, era tudo
imaginação. E no fim era uma competição onde não faltavam inclusive violência e agressão".
Foi expulso de vários colégios. Sua inadaptação era patente e. no entanto, foram várias as
tentativas de adaptá-lo.
Todo o meu desenvolvimento na escola foi sempre muito doloroso e eu sei que mais ou menos
aos dez ou doze anos não aceitava, mostrava o meu inconformismo com a escola. Reagia, e
procurava descobrir o que seria a escola, o que seria educar, o que seria aprender, ou qual seria
o caminho pra gente ser feliz e sofrer menos".
Na peregrinação pelas escolas do Recife — de onde era sistematicamente convidado a se retirar
— e na doce vagabundagem com os moleques da cidade e com os filhos de familia, Augusto
aprendeu a maior lição de sua vida: a liberdade. Desde cedo Augusto se dedicava ao desenho. E
o pai — um dentista que traduzia Verlaine e Rimbaud — teve muito a ver com isso.
"Eu já tinha pretensões de fazer arte. Meu pai associava arte a sofrimento. (. . .) Ele achava que
arte para mim seria um caminho de sofrimento. Sentia que eu iria buscar uma profissão e não
havia mercado de trabalho. Então se opunha. Mas era uma figura curiosa . . . Ao mesmo tempo
que procurava desestimular a atividade, me dava o material para que eu fizesse o exercício. (. . .)
Eu tinha que continuar fazendo arte, fosse o que fosse".
0 menino Augusto era inquieto e já se preocupava com educação. Ia visitar outras escolas para
ver se tinham coisas melhores do que o que a sua lhe oferecia. Participou de um jornalzinho de
um colégio em que nunca esteve matriculado. Conversava com os professores e com quem
chegava ao Recife para ensinar ou de visita. Assim, as figuras de um professor de São Paulo, do
Secretário de Educação Aníbal Bruno, da professora Débora Feijó, do professor Arnaldo Carneiro
Leão, Gabriel Araújo. Mario Sette e Paulino de Andrade (que expulsou o menino Augusto de seu
colégio e anos depois participou de uma mesa redonda sobre educação e arte. . . dirigida pelo
professor Augusto Rodrigues) avultam nas recordações como marcantes e influentes na
formação do menino do Recife. E — com uma importância enorme e destacada — a figura do
professor, médico e psiquiatra Ulisses Pernambucano.
"Comecei a inventar uma série de coisas para vender. Entre outras a venda de assinaturas de
jornais, com o que eu tirava um dinheirinho para mim. Lembro-me que inclusive vendi assinatura
de jornal do Rio de Janeiro lá em Pernambuco. Não sei por que essa gente precisava comprar
jornal do Rio, mas sei que eu vendia. Numa dessas tentativas de venda de assinatura de jornal é
que fui ao consultório de um médico psiquiatra Ulisses Pernambucano que havia assumido
a direção da Tamarineira. Tamarineira era o nome dado ao hospital de doentes mentais. 0
Ulisses Pernambucano fez uma assinatura de jornal e depois começou a conversar comigo. . . .
Ele me perguntou se eu ia à escola, respondi que não, que me desajustei, pois havia uma
incompatibilidade absoluta. Ele disse: A escola é dentro da sociedade uma coisa que tem sentido
e todos devem ir à escola. É uma forma que a sociedade tem de desenvolver um processo de
aprendizagem e educação. Não creio que elas sejam muito boas. mas de qualquer modo é um
caminho. Mas se você sempre teve uma incompatibilidade tão grande com a escola, faça aquilo
que gosta. 0 que è que você gosta de fazer?' Eu disse que gostava de fazer arte e ele respondeu:
'Muito bem. faça arte. Você tem que fazer aquilo que gosta para não ficar à margem da
procissão.' E realmente eu comecei a fazer arte".
Em 1922, Augusto ingressa num grupo de artistas que inicia um movimento renovador e realiza o
primeiro salão de Arte Moderna em Pernambuco. Mais tarde, arranjou emprego no atelier de
Percy Lau, onde se fazia de tudo: painéis, letreiros, cartazes. quadros de formatura e serviços de
pintura em geral.
'Trabalhávamos o dia inteiro e nos reuníamos, à noite, em torno de uma mesa ou no atelier para
desenhar... O Percy Lau* tinha parentes na Alemanha e recebia de lá uma quantidade muito
grande de livros e revistas. Assim, tomamos conhecimento do movimento expressionista alemão.
Recebíamos reproduções e revistas do Rio. Lembro-me de uma revista que... se chamava Base,
onde havia reproduções de Guignard, Di Cavalcanti, Portinari e tivemos conhecimento também do
Fujita".**
Em 1935, Augusto vai a Porto Alegre para ajudar a decorar o pavilhão de Pernambuco na
Exposição comemorativa do centenário da Revolução Farroupilha. Depois, fixa-se no Rio onde
continua a carreira de caricaturista iniciada no Diário de Pernambuco, em 1933. Trabalhou em A
Noite, Carioca, Vamos Ler, A Nota, 0 Jornal, Diretrizes, Observador Econômico e Financeiro, e
no O Estado de S. Paulo.
"É aqui que começa minha vida como profissional de imprensa, trabalhando exaustivamente em
vários jornais para sobreviver. No Rio de Janeiro, trabalhando na imprensa, nunca saiu da minha
cabeça que eu deveria fazer alguma coisa em torno do desenho da criança, ou seja, criar algo
que pudesse estimular a criança a desenhar livremente. Nos Diários Associados, dirigi uma
página infantil onde eu procurava, sem prêmios, estimular as crianças a me mandarem
desenhos, mantendo com elas correspondência".
Caricaturista político, com atuação destacada na época da guerra, tinha seus desenhos
disputados pelos jornais e chegou a fazer caricaturas para cerca de vinte jornais ao mesmo
tempo.
Paralelamente à sua atividade como jornalista, ampliava seu trabalho e mostrava-o em diversas
exposições: São Paulo (1940), primeira grande individual no Rio (1942), coletiva de 1943
(enviada a Londres), e uma série de outras. Aí está um quadro rápido da formação de um homem
marcado pela escola repressiva e sempre preocupado com educação; um artista profundamente
ligado à liberdade, um jornalista atento ao seu tempo e ao seu espaço, criticando a história com
seu traço. Um poeta voltado para o futuro e, portanto, permanentemente ligado às crianças e
colocando-se a serviço delas.
Javier Villafañe, titereteiro e poeta
No começo dos anos 40, vindo de andanças pela América Latina, chegou ao Rio um argentino de
muitas qualidades: poeta, fazedor de bonecos, montador de teatrinho de fantoches e muita coisa
mais. Seu nome, Javier Villafañe; sua orientação: amor e respeito pelas crianças. Javier ¡a, com
seus bonecos e suas histórias, onde houvesse crianças dispostas a ver e ouvir suas invenções. E
elas estavam em toda parte. Ele ¡a em lombo de burro, a cavalo, de ônibus, de carona, de barco,
a pé, de qualquer jeito. Depois do teatrinho, Javier conversava com as crianças e, às vezes,
pedia que elas desenhassem qualquer coisa. Um boneco, uma paisagem sugerida pela pecinha
assistida ou um desenho que não tivesse nada a ver com o que a criança tinha acabado de ver.
Javier recolhia esses desenhos. E seguia. Augusto Rodrigues encontrou Villafañe e se encantou
com as artes desse poeta errante. E foi junto com ele em algumas de suas andanças. uma vez,
em Pernambuco, Augusto ouviu uma diretora de escola perguntar a Javier se o teatro que ele
fazia era pedagógico. Villafañe respondeu que não. "Quando um personagem meu diz que dois e
dois são quatro, eu ponho logo um outro para dizer que são cinco".
Vários textos, que relatam a experiência da Escolinha de Arte, coincidem em apontar como uma
das grandes influências recebidas por Augusto Rodrigues, a desse argentino sonhador que hoje
vive na Venezuela.
*Notável ilustrador brasileiro.
••Pintor japonés de renome que viveu na França, tendo passado alguns anos no Rio de Janeiro.
Titereteiro
O titereteiro é Javier Villafañe e titereteiro quer dizer homem que
faz títeres, e mexe com eles. Villafañe é poeta. e com seu livro
"Copias, Poemas y Canciones" ganhou o Prêmio Municipal de
Poesia de Buenos Aires. Mas sua paixão principal é a velha arte
dos títeres. Não esses puxados por cordéis, mas os que são
metidos no dedo. Essa paixão levou Villafañe, às vezes só, às
vezes com algum ou outro amigo errante — um poeta como Juan
Pedro Ramos, às vezes um pintor, durante dois meses um
advogado, e depois um médico em férias — a vagar pelo interior
de seu país e de outros, fazendo representações. Viajou muito em
um carro puxado a cavalo — "La Andariega" — e a parte de trás
do carro servia de palco. 0 titereteiro dormia e comia dentro do
próprio carro e dava espetáculos onde houvesse crianças para
assisti-los. Parava mais tempo nas escolas. Depois dos
espetáculos, dava às crianças — e a professora também — uma
aula sobre como fazer títeres. Depois pedia que as crianças
desenhassem cenas. A princípio em "La Andariega", depois em
um "trailer" motorizado, varou cidades e aldeias. Durante alguns
meses viajou em canoas, para visitar as aldeias das margens do
Paraná e do Uruguai. Ia recolhendo os desenhos feitos pelas
crianças e chegou a ter uma coleção de mais de um milhão.
0 poeta gastava o minimo possível nessas viagens e conseguia
esse mínimo enviando crônicas e reportagens para jornais e
revistas. Hoje, existem na Argentina cerca de 700 teatros de
títeres. Não serão tão bons quanto os de Villafa
:
ne, cujos bonecos
e cenários foram feitos com a ajuda de bons artistas modernos
argentinos, como Petrorruti, Soldi. Basaldua, Norah Borges,
Giambiaggi, Clark e Morera. Mas são teatros de títeres — e fazem
as crianças sonhar. As peças que Villafañe interpreta com os
dedos e a voz são tiradas do antigo teatro espanhol — Lope de
Vega, Timonera e Cervantes — e também de autores modernos,
como Garcia Lorca. E o próprio poeta faz peças utilizando lendas
e contos populares. Villafañe, às vezes, tinha um auxiliar nas
representações, mas foi obrigado a adaptar seu teatro de modo a
poder fazê-lo sozinho, movendo todos os bonecos e fazendo todas
as vozes. (Ele diz que mulher não faz falta: quando o fantoche
feminino é interpretado por um homem, a voz em falsete agrada
mais às crianças que voz de mulher de verdade.)
Depois de andar por alguns países — inclusive o Chile, onde foi a
convite da Universidade e de um curso para os professores
primários — está agora no Brasil o poeta Villafañe. Vem como
enviado da comissão Nacional Argentina de Cooperação
Intelectual fazer uma exposição de desenhos infantis no Rio e
outra em São Paulo. A do Rio se inaugura sábado, dia 10, ás 3 da
tarde, no 9
o
andar da ABI. Consta de 110 desenhos infantis e
pinturas das que o poeta recolheu no interior de seu país. Todas
as tardes, (até o dia 20) o poeta fará ali, para as crianças que
forem visitar a exposição, uma representação, seguida de uma
pequena
aula prática. Apareçam lá: é tudo grátis. E salve o titereteiro
Villafañe, esse homem meio grave, que ama usar colete, e faz
poesia militante, distribuindo poesia e recolhendo poesia entre as
crianças do mundo.
(Rubem Braga, Correio da Manhã, 05-08-1946)
A presença de Dona Helena entre nós
Helena Antipoff foi, sem dúvida nenhuma, a mais forte influência na criação da Escolinha de Arte
do Brasil, pelo entrosamento com as idéias e a prática de Augusto Rodrigues, pelo apoio
constante à Escolinha em toda sua vida, pelo impulso dado para que os participantes da
experiência também estivessem presentes na Sociedade Pestalozzi, na Fazenda do Rosário e
nas Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais. 0 intercâmbio entre a Escolinha de Arte do
Brasil e todas essas entidades e organizações criadas ou alimentadas pela ação incessante de
D. Helena enche páginas e páginas da história da EAB. Visitas, palestras e uma correspondência
significativa atestam essa interação.
Helena Antipoff nasceu a 25 de março de 1892. na Rússia. Em 1910 foi para a França, onde
estudou Medicina, encaminhando-se, na Sorbonne, para a área de Psicologia, procurando
orientação para um trabalho com crianças. A convite de Edouard Claparède seguiu para
Genebra, onde o famoso neurologista, psiquiatra e psicólogo organizava o Instituto de Ciências
da Educação. Terminando seus estudos superiores, Helena voltou ao seu país, em 1917, onde
se casou e trabalhou como psicóloga. Permaneceu na União Soviética até 1925. quando foi para
a Alemanha e, depois, para Genebra onde se tornou assistente de Claparède e ensinou
Psicologia de 1926 a 1929. Neste ano, a convite do Secretário da Educação de Minas Gerais.
Helena vem para o Brasil organizar o Laboratório de Psicologia da Escola de Aperfeiçoamento
em Belo Horizonte. Daí em diante, seu trabalho se ramificou em diversas atividades: educação
especial, atendimento pré-escolar, alimentação como base para a educação, Sociedade
Pestalozzi, criação de jardins de infância, assistência ao menor abandonado. Convidada pelo
Departamento Nacional da Criança, Helena veio para o Rio em 1945. Chefiou o Centro de
Orientação Juvenil, criou cursos de recreação, teatro infantil. logopedia e cursos especializados
para professores de excepcionais e crianças com desvios de conduta. Criou um dos primeiros
cursos de Psicologia em nível universitário no País — o Psicopedagógico — e ensinou no
Instituto de Serviços Sociais da Universidade do Brasil. Helena ajudou a trazer ao Brasil uma leva
de brilhantes especialistas estrangeiros, como Claparède, Pierre Bouvet, Jean Bercy, Mira y
López e outros. No período em que trabalhou no Rio, D. Helena manteve contato permanente
com Augusto Rodrigues e seu grupo, comungando do seu interesse por educação, arte e criança.
Em 1949. convidada por Abgar Renault, volta a Minas para se dedicar ao que começava a surgir
como sua preocupação central: o ensino rural. Dez anos antes, com a ajuda de amigos, ela tinha
comprado uma fazenda em Betim, a 25 quilômetros de Belo Horizonte. Ali instalou outra
Sociedade Pestalozzi e o Instituto Superior de Educação Rural. Mas o nome que ficou conhecido
como centro de ricas experiências, foi o nome simples de Fazenda Rosário.
Em 9 de agosto de 1974 morria, na Fazenda Rosário, essa educadora extraordinária que, se
fazendo brasileira, orientou sua vida para o atendimento do menor abandonado, do excepcional e
dos bem-dotados, voltando-se para o ensino rural e incentivando o artesanato, marcando
profundamente a educação, a ciência e a arte no Brasil.
"Para falar da Escolinha de Arte do Brasil, tem-se antes que falar de D. Helena Antipoff. Foi ela
que, na década de 40, (por volta de 1945), chamou Augusto Rodrigues para um trabalho conjunto.
D. Helena, que já nesta época comparava nossas escolas com os quartéis e hospitais,
percebeu o alcance da proposta de Augusto e empenhou-se para que ele desenvolvesse suas
idéias. D. Helena acreditava que a arte, como expressão livre e criadora, era o meio de educação
por excelência, e que o artista tinha um papel fundamental na educação maior que o dos
pedagogos e psicólogos. Augusto veio a ser professor das crianças e adultos na Pestalozzi de D.
Helena; foi al em 1946, que o conheci".
(Depoimento de Zoé Noronha de Chagas Freitas.)
Zoé, influenciada por D. Helena, havia abandonado a carreira jurídica, encaminhando-se para a
pedagogia. E começou a trabalhar com Augusto. Em 49, abriu, em Copacabana. um Jardim de
Infância supervisionado por D. Helena para realizar experimentos em educação. Augusto foi para
lá como professor. Nessa época, a Escolinha já havia iniciado suas atividades. Aos sábados e
domingos, nesse Jardim chamado Clube de Recreação, se desenvolviam atividades em todas as
áreas da expressão artística: jogos, estórias, desenho, pintura, teatro, música, expressão
corporal. Durante dois anos empreendeu-se um trabalho de expressão livre nos parques, aos
sábados e domingos — especialmente no Parque Guinle — visando sensibilizar as autoridades
para o papel do parque como veículo de educação, antecedendo de muito os domingos de
criatividade das décadas de 60/70, contando estórias, desenhando, pintando, fazendo jogos.
Que importância têm as atividades artísticas no processo de ajustamento das crianças?
Considerando as atividades artísticas— livres, não impostas pelo
educador — nelas encontra a criança, como no jogo, uma válvula
de escape para suas energias, descargas para suas emoções e
meio legal para expressar seus sentimentos, quaisquer que
fossem eles do ponto de vista social e moral. As atividades
artísticas permitem à criança viver sua vida, realizar seus sonhos e
ambições, compensar suas deficiências físicas (menino de pernas
aleijadas enche seus cadernos de desenho com centenas de
partidas de futebol, em que figura a sua imagem em cores do time
preferido...)
Não podendo dar conta dos Golias, os pequenos Davi encontram
nas atividades a virtude. Assim, a "arte" corrige as incoerências de
muitos educadores errados, que, pregando uma coisa, na
realidade se comportam de maneira bem diferente, perturbando a
criança que é o seu que sofre mais com esta duplicidade na vida
comum. As atividades artísticas fazem parte do grupo maior de
atividades lúdicas, e como tais encontram as crianças na arte,
como no jogo espontâneo, todos os elementos necessários ao seu
crescer psíquico. Brincando de experimentar as mais variadas
situações de vida antes de enfrentá-las na realidade, também na
dramatização, sua imaginação vai explorar, através de
personagens familiares ou não; na dança e música, em que as
melodias e ritmos podem acompanhar e traduzir todas as nuances
de uma alegria ou infelicidade nunca vividos ainda; nos grandes
borrões de tinta vermelha ou na pálida camada do céu azul,
saberá a criança dar curso à vida afetiva de tão grande
significação na formação do indivíduo. Antes de viver os
sentimentos propriamente
ditos, a criança já os experimenta e exercita seu temperamento no
vermelho do impulso agressivo ou na calma do azul celeste.
Nas exposições de desenho de crianças deve haver indicações de nome?
A criança é um ser essencialmente "proprietário". Ela tem muita
história com o "seu". Por isso, toda criança da escola deve ter,
pelo menos, um quadro seu na exposição escolar. Ela também é
bastante egocêntrica, no sentido de querer a atenção dos outros
para sua própria pessoa e para tudo que a toca.
Assim, o nome posto no desenho infantil responderia positi-
vamente às tendências de seu autor; quando o nome não figura, a
criança se encarrega de identificá-lo e declarar em voz alta seus
"direitos autorais". Para os visitantes de uma exposição, para a
exposição emfim, que valor tem o nome da criança? Bastaria a
indicação do sexo. da idade, da série escolar, do nome da escola,
do nome do professor que orienta o desenho e a pintura, do
ambiente rural ou urbano. Estes dados ajudariam a melhor
interpretar, compreender a criança e sua arte.
Para educar a criança, melhor seria não ter o nome no desenho,
pois assim a obra sua terá-valor objetivo maior e poderá ser
criticada com maior liberdade pelo público, mesmo na presença da
criança (do adolescente principalmente). Sou contra o nome.
(Carta de Helena Antipoff, respondendo a algumas questões
formuladas por Augusto Rodrigues em 8/6/50.)
"Augusto Rodrigues, acho. que o ideal da vida é a gente ser professor de nada".
(Dona Helena, em conversa com Augusto).
"Os senhores não acham que as escolas ensinam uma série de coisas inúteis e que não ensinam
as crianças a entender a linguagem dos pássaros? Escolas de adultos que chamam de agoureiro
o pássaro que avisa que a tempestade se aproxima?" "Eu sei que a escola é muito carente de
arte, mas é também muito carente de ciência".
(Dona Helena, numa palestra para educadores e secretários de educação, citada de
memória por Augusto Rodrigues).
Brincar com as crianças não é perder tempo, é ganhá-lo.
Não ó bom alimentar a criança com palavras, quando ela
clama pelas coisas e atos.
A criança tem vontade própria, mas até a mais revoltada
atenderá ao nosso pedido, se fizermos com delicadeza.
Se é triste ver meninos, sem escola, mais triste ainda é
vê-los imóveis, em carteiras enfileiradas e salas sem ar,
perdendo tempo em exercícios estéreis, sem valor para a
formação do homem.
— Argila, terra, madeira, água e ferramenta farão a criança criar o
que seu coração deseja e seu cérebro inventa, em contato com a
natureza e a realidade.
(Frases de D. Helena Antipoff, recolhidas por Carlos
Drummond de Andrade, na crônica comemorativa dos 80
anos da educadora: "Obrigado, amiga", jornal Arte &
Educação. n° 11).
Ulisses Pernambucano: a arte como tratamento
Tanto através de Augueto Rodrigues, como de Noemia Varela, repercute no trabalho,
que veio a ser realizado na Escolinha de Arte do Brasil, a influência do médico e
psiquiatra Ulisses Pernambucano.
Ulisses foi professor de Fisiologia Nervosa na Faculdade de Medicina de Pernambuco e
empreendeu estudos e pesquisas de Psicologia Social. Fundou a Escola Neurológica e
Psiquiátrica de Recife e, segundo Waldemar Valente, "fez da Tamarineira, com seus
calabouços e camisas de força, . . . moderno hospital para o tratamento dos doentes
mentais".
Formou toda uma geração de psiquiatras e influenciou um número muito grande de
educadores. Ele percebeu, numa época em que quase nada havia sobre o assunto, a
importância da atividade artística no processo de recuperação de doentes mentais.
Ainda segundo Waldemar Valente* "em suas atividades de médico e educador, Ulisses nunca
perdia a visão sociológica dos problemas que estudava e procurava resolver. Assim aconteceu
quando lutou pela liberdade das práticas religiosas afro-brasileiras, numa época em que a
perseguição policial se exercia ferozmente sobre os xangós do Recife. 0 Primeiro Congresso
Afro-Brasileiro realizado no Recife, em 1934, por iniciativa de Gilberto Freyre, de tão grande êxito
no campo das observações antropológicas e particularmente sociológicas, teve em Ulisses o seu
maior colaborador, dele recebendo e é o próprio Gilberto quem o diz o apoio mais lúcido e
entusiático. Mais tarde, interessou-se Ulisses informa-nos Gilberto Freyre pela realização de
um inquérito de caráter sociológico sobre as condições de vida e de trabalho nas usinas do
Nordeste."(...)
"Outras tantas inovações de caráter social e médico foram o Orfeão, o jornal escolar, a merenda,
a assistência dentária e o serviço das visitadoras escolares."(. . .) "Nestas condições, era a
função da professora completada pela da visitadora. O campo de ação da professora é a escola.
Deste campo não pode desviar-se. Cabe à visitadora, no âmbito de sua função especializada,
prolongar, para fora da escola, a tarefa da professora. Daí, a necessidade de que ela seja
também professora".
Ulisses influiu para que Augusto Rodrigues firmasse sua opção de trabalhar em arte. A escola,
que veio a se chamar Escola Ulisses Pernambucano, foi o primeiro campo de trabalho de uma
educadora chamada Noemia Varela, que se reuniu a muitos alunos de Ulisses. Juntos, Augusto,
Noemia, os professores dessa escola, artistas e intelectuais, vieram a fundar a Escolinha de Arte
do Recife.
A Escolinha de Arte do Brasil sempre contou com o apoio de colaboradores que trabalhavam no
campo da educação especial. 0 contato com a Sociedade Pestalozzi, as presenças marcantes de
Helena Antipoff e de Nise da Silveira, além dos convênios com a APAE, ajudaram a escolinha a
encontrar seus rumos.
• ("Ulisses Pernambucano, renovador do ensino em Pernambuco", Cadernos de Pernambuco, Secretaria de
Educação e Cultura. 1959").
Nise da Silveira, médica e educadora.
"(. . .) Ulisses Pernambucano, psiquiatra que fez grandes e significativas mudanças no campo da
Psiquiatria Social em Pernambuco, enfocava a importância da Arte, da Antropologia, da
Sociologia, no sentido lato e mesmo específico, no trabalho junto a doentes mentais. Reformulou
toda a assistência a esses doentes, criando um corpo de auxiliares que lhe davam apoio na área
de Educação Especial. Fundou na década de 20 entre 23 e 25 a primeira escola de
Educação Especial em Pernambuco. Anita Paes Barreto foi escolhida para ser a diretora dessa
escola. Posteriormente, ela foi assistente dele na Liga de Higiene Mental de Pernambuco e em
pesquisas, fazendo um trabalho muito importante e isso tem a ver com o meu interesse em
Arte e Educação. Foram padronizadas e feitas pesquisas no campo do desenho infantil, em
decorrência da própria escola do psiquiatra Ulisses Pernambucano".
"Nós trabalhávamos com uma equipe de médicos psiquiatras da escola de Ulisses. Ele
influenciou toda uma geração de médicos que se espalharam pelo Brasil Bahia, Rio de
Janeiro, São Paulo. Um deles era médico da minha escola e meu professor na universidade.
Houve uma formação muito grande na área de compreensão da criança".
(Depoimento de Noemia Varela)
"Das experiências anteriores, a mais interessante e hoje mais que antes a mais significativa
foi a do Dr. Ulisses Pernambucano psiquiatra, fundou um hospital para atender à classe
popular. Achou interessante formar uma equipe para pesquisar as condições sociais desses
doentes. Nesse estudo surgiram junto com outros aspectos manifestações artísticas desses
grupos humanos. Daí nasceu a necessidade de fazer um trabalho no campo das artes plásticas.
Surgiu uma pesquisa no campo do desenvolvimento do desenho. Creio que é o primeiro estudo
sobre grafismo publicado no Brasil. Participou de um movimento para o estudo dos problemas
afro-brasileiros, com integração de artistas neste trabalho".
(Conversa de Augusto Rodrigues com Walter Solon Romero, professor de Ensino Superior
e da Direção Técnica da Educação Artística Boliviana — em 22 de novembro de 1961)
"Ulisses Pernambucano foi muito importante, não só pelo fato de me dizer que fizesse arte, mas
também pela experiência que estava realizando num hospital de doentes mentais. Ele reunia
médicos e doutorandos e pedia para irem às comunidades de onde provinham os doentes na
maioria comunidades pobres, evidentemente a fim de verificarem as atividades culturais
dessas comunidades, para as integrarem no hospital, para que os doentes não ficassem, além de
segregados de seu meio ambiente, distanciados de suas atividades culturais. Ulisses me
convidou a ver a experiência e eu, rapazinho, passei a freqüentar o hospital de doentes mentais
onde assisti a doentes desenhando, fazendo teatro de fantoche, práticas religiosas como
candomblé, modelagens, atividades teatrais. Pude verificar a alegria daquelas pessoas quando
reencontravam as fontes de potencial criador das suas comunidades.
Foi criado também, nessa época, por Ulisses Pernambucano, preocupado com o problema da
higiene mental e com a sua prevenção, um boletim de higiene mental. Ulisses Pernambucano
estendeu até o interior essa sua ação de atividade artística integrada como meio de recuperação
do homem".
(Depoimento de Augusto Rodrigues)
A exposição das crianças inglesas
Em 1941, o Conselho Britânico promoveu no Rio de Janeiro uma exposição de desenhos e
pinturas de crianças inglesas. 0 fato foi saudado pela imprensa como uma demonstração de
confiança no futuro, vinda de um país destroçado pela guerra. Jornalistas, artistas, intelectuais,
professores visitaram os salões do Museu Nacional de Belas Artes e ficaram impressionados
com a qualidade e a expressividade dos trabalhos expostos.
Augusto Rodrigues — pintor, desenhista, caricaturista e jornalista pernambucano, radicado no
Rio desde 1935 — foi um dos visitantes que guardou forte impressão dos desenhos de meninos
e meninas da Inglaterra. Junto com Augusto, um grupo de artistas e educadores que já se reunia
para longas discussões, também foi mobilizado pela exposição do British Council. Desse grupo
faziam parte, entre outros, Poty, Lúcia Alencastro, Miss Lois William, Margaret Spencer. Vários
educadores como Lourenço Filho e Celso Kelly e o crítico de Arte Carlos Cavalcanti se reuniram
para palestras e debates, realizados na época da exposição.
0 jornalista Joel Silveira fez uma reportagem sensível e vibrante para a revista Diretrizes, na qual
ele falava dos desenhos, das crianças e dos visitantes da exposição. Trazia também a opinião de
educadores — como a professora Heloísa Marinho — que afirmavam que as crianças brasileiras
poderiam, se estimuladas, produzir trabalhos de qualidade comparável à dos desenhos ingleses.
A repercussão no espírito de Augusto
Rodrigues da mostra de desenhos e, particularmente, da reportagem assinalou o que se poderia
chamar pré-história da Escolinha de Arte do Brasil.
Ele e seus companheiros de discussões sobre arte e educação viram, nas observações do
jornalista atento, um desafio e uma possibilidade. A inquietação vinha de muito antes, mas a
exposição inglesa serviu como detonador de novas idéias. Dar lápis e papel às crianças, mas dar
também liberdade e estímulo para que elas desenhassem o que quisessem, sem modelos, sem
regras, sem prêmios. A idéia ficou na cabeça à espera de brotar como realidade viva.
Os meninos diante de nós
Agora os meninos estão diante de nós. Eles não vieram num
navio, mas mandaram suas telas e seus desenhos. Sábado último,
no Museu de Belas Artes, a exposição dos meninos ingleses foi
inaugurada. Mais de duzentos quadros que todas as escolas
inglesas mandaram espalhar pelo mundo. Escolas de Londres,
escolas de Southampton, escolas de Leicester, de Brighton,
modestas escolas do East End e a granfina Eton, todas as escolas
da Inglaterra estão diante de nós. E a gente sente que passa
agora pelas paredes antigas do nosso Museu toda uma rajada de
liberdade total, abundante.
A multidão e os quadros
uma grande multidão encheu o Museu de Belas Artes sábado
último. Todos foram ver as maravilhas dos meninos ingleses.
Professores, alunos, mocinhas, artistas, rapazes, escritores,
oradores, repórteres, fotógrafos, compositores populares, meninos
vestidos de marinheiro, autoridades, economistas e poetas, todos
estavam lá. Todos iam e voltavam diante dos quadros. Iam
novamente, voltavam, cheios de admiração.
As crianças do Brasil podem fazer o mesmo
A sra. Maria José Muniz, do Ministério da Educação, depois de
confessar sua admiração por tudo o que viu, comentou: — As
crianças do Brasil podem fazer o mesmo. E conta que quando
organizou a "Hora infantil", na Rádio Tupi, teve ocasião de levar a
efeito um concurso de desenhos infantis. D. Maria José recebeu
desenhos de todo o Brasil. Diz ela que eram desenhos
encantadores, que podiam estar ali, ao lado dos desenhos da
infância e juventude inglesas. A profª Heloísa Marinho, do Instituto
de Educação, é também da mesma opinião de D. Maria José:
'Podem sim. Podem fazer o mesmo.
E diz mais que no dia 23 próximo fará uma conferência no Museu
de Belas Artes sobre a exposição de desenhos infantis.
Aproveitará a ocasião para expor alguns desenhos realizados por
crianças brasileiras, através de projeções luminosas. Também o
menino José Carlos tem a mesma opinião. José Carlos está
vestido com um paletó vermelho de botões
dourados. Ele olha para o quadro em que aparece um homem
afagando um gato e diz: — Eu também sei fazer isso.
— Pode, como?
— Pego no lápis e faço.
E foi precisamente isso que os professores chamados Cizek,
Cooke e Sully disseram às crianças, há cinqüenta anos atrás:
peguem no lápis e desenhem.
(Reportagem de Joel Silveira na revista Diretrizes,
1941.)
Apresentação da exposição por Herbert Read
A natureza tradicional do nosso tempo não se reflete tão
claramente em nenhuma outra esfera de atividade quanto na
educação. Nos últimos trinta ou quarenta anos, as instituições
educacionais foram reformadas, chegaram a tornar-se
irreconhecíveis, não só devido às noções variáveis dos fins da
educação, como também por causa de nosso crescente
conhecimento da base psicológica da pedagogia. Os principios da
educação se modificam, não menos do que a metodologia de
disciplinas determinadas. E durante todo esse tempo, tem havido
uma espécie de guerra civil entre esses assuntos, cada um deles
clamando por uma situação que lhe é devida, num currículo já
excessivo. É natural que o ensino da arte e sua situação no
currículo também tenham participado da competição entre as
diversas matérias do programa. Se bem que a posição definitiva
da arte, nos programas de ensino, seja uma questão ainda longe
de solução, todavia foi-lhe reconhecido certo grau de importância,
especialmente nos estágios primários. Chegou-se a esse
reconhecimento de valor, em conseqüência da reforma profunda e
revolucionária que se operou na concepção do ensino da arte,
tanto na Europa como na América. A história desse movimento
recua a uns cinqüenta anos, quando apareceram Ebenezer Cooke
e James Sully, pioneiros da reforma. Mas foi o professor Cizek, de
Viena, quem primeiro demonstrou as vantagens estéticas e
psicológicas de libertar o impulso criador que existe em todas as
crianças. Coube-lhes, ainda, a tarefa difícil de reivindicar o valor
estético dos desenhos produzidos nessas circunstâncias. Durante
esse mesmo período de quarenta anos, ocorreu uma apreciação
cada vez maior da arte primitiva, ao mesmo tempo que ia surgindo
um desenvolvimento inteiramente revolucionário na pintura
moderna. Ambas as circunstâncias ajudaram a trazer a arte infantil
para o critério geral da apreciação estética. Tendo se iniciado num
centro comum, é interessante observar como esse movimento se
desenvolveu em diversos países. E aqui, nesta exposição que
mandamos da Inglaterra, está parcialmente mostrado o
testemunho desse fato. Não chegaremos a pretender que
progredimos mais depressa que os outros povos. começamos
comparati-
vamente atrasados, e o movimento não teve o encorajamento e
estímulo que lhe foram proporcionados noutros países, como por
exemplo, nos Estados Unidos, onde há muito existem
organizações como o Conselho Federado de Educação Artística e
a Sociedade Nacional para o Estudo da Educação. Mas, nos
últimos anos, nossas autoridades de ensino têm mostrado uma
atitude mais avançada, especialmente em Londres, onde Miss
Marion Richardson revolucionou os métodos de ensino da arte.
Criou-se mais recentemente a Sociedade para Educação Artística
que vai absorver a Associação dos Professores de Arte e a Nova
Sociedade de Professores de Arte, assim como elementos de
natureza menos especializada. E a Sociedade, esperamos,
conseguirá não só assegurar o reconhecimento adequado que se
deve ao ensino da arte, como também uma orientação da arte,
orientação inteiramente nova, na vida e atividades da comunidade
como um todo. Já está evidenciado que, embora a arte infantil
reflita as peculiaridades do ambiente de cada um, ainda assim não
chega a assumir, em parte alguma do mundo, um caráter nacional.
A criança exprime características universais da alma humana,
ainda não estragada pelas convenções sociais e por preconceitos
acadêmicos. Portanto, os visitantes que conhecem a arte infantil
de seu país não encontrarão nestes desenhos de crianças
inglesas qualquer nota de originalidade. Não é da natureza de
criança ser original. O que faz é expressar diretamente sua
individualidade, individualidade de uma criatura que vê e sente,
não de alguém que pensa e inventa. A distinção é da maior
importância, e agora sabemos que o defeito dos velhos métodos
de ensino estava precisamente em ignorar isso. Exigia-se da
criança o uso de faculdades de observação e análise
completamente estranhas ao estágio de desenvolvimento mental
dos pré-adolescentes.
Os novos métodos, que lograram tanto êxito, não excluem,
necessariamente, a observação e o espírito analítico — há
paisagens e estudos de flores nesta exposição que revelam
faculdades extraordinárias nesse gênero — mas o objetivo desses
métodos é conseguir, de qualquer maneira, o prazer da criança,
quando lhe dão um lápis ou pincel e lhe permitem plenamente que
explore, a seu modo, a riquíssima combinação de cores e tons. Só
se consegue isso deixando que a atividade se torne instintiva. Em
outras palavras: cumpre deixar que a criança descubra seu próprio
potencial artístico. A função principal do professor passa a ser
sugerir. Antes de mais nada, é preciso criar uma atmosfera que
induza a criança a exteriorizar a fantasia rica e cheia de vida que
está na sua mente. 0 primeiro aspecto positivo resultante da
criação dessa atmosfera é a confiança que a criança toma em si
mesma, mas há um aspecto negativo, ou melhor preventivo, que
exige da parte do professor um cuidado e habilidade enormes. A
criança é um animal imitativo e assimila com uma facilidade
incrível, não só as idiossincrasias do professor como artista, mas
também os refinamentos e maneirismos de revistas, livros e filmes
de tão
ampla difusão. É inteiramente impossível excluir, por completo,
essas influências e talvez não seja de bom alvitre excluí-las. Mas o
bom professor pode levar a criança ao reconhecimento, baseado
em percepção e sensibilidade, do que é natural e espontâneo no
trabalho da própria criança. Neste ponto convém citar trecho de
uma carta de uma professora, a cuja orientação são devidos
muitos dos trabalhos mais notáveis desta exposição. Miss Sullivan,
da Escola Secundária de Warrington: "Para contrabalançar as
influências do preciosismo e uniformismo que derivam da vida em
uma cidade industrial, procuramos dar a nossos alunos
compensações por meio de experiências visuais e emocionais.
Achamos que o melhor meio, aliás o único exeqüível, consiste em
colocá-los numa atmosfera onde a faculdade criadora dos alunos
pode ser preservada e, se necessário — como é habitualmente o
caso de alunos de escolas secundárias — redescoberta. Tal
atmosfera não é artificial e é, em grande parte, criada pelos
próprios alunos. Acredito firmemente que a essa atmosfera
propícia se deve o tipo específico de trabalho produzido. Todas as
pinturas e desenhos têm alguma coisa de fantasista, às vezes
parecem material pictórico de sonho. Não é que estejam vivendo
uma experiência irreal. Acontece que uma dimensão da
personalidade de nossos alunos, a que não recebe estímulos de
sobrevivência nos programas acadêmicos, tem oportunidade de
reviver.. .'*
0 ponto a considerar é que a atmosfera necessária para a
atividade criativa feliz é alcançada em grande parte, pelos próprios
alunos. Na verdade, os próprios alunos podem ser os melhores
críticos de si mesmos. Em duas das escolas, representadas na
exposição — Hall School, de Weybridge, e Sir John William
Perkins School, de Chertsey — chegou-se à instituição de um
excelente sistema de crítica coletiva, orientada pelo professor.
Essa crítica de grupo, longe de trazer sentimentos* de falso
orgulho, tem como primeiro resultado retirar dos trabalhos
escolares qualquer vestígio de refinamento ou preciosismo,
dando-lhes uma qualidade a que se pode chamar de realismo
social: os temas escolhidos pelas crianças tendem, não para
fantasias individuais, mas para incidentes dramáticos, tocados de
um grande apelo coletivo. Todos os tipos de escolas, das famosas
instituições como Eton e Charterhouse às escolas elementares do
East End de Londres, todas elas apresentam uma contribuição
para o nosso certame.
Todavia, nenhuma classificação desta coleção se refere à
classificação de escolas. A única maneira possível de classificar
as peças apresentadas seria a dos tipos psicológicos. E esses
tipos, quando lhes é dada livre expressão, distribuem-se de
maneira muito uniforme, sem referência à classe ou categoria
social do aluno. É verdade que certas escolas podem, por
exemplo, demonstrar nos seus trabalhos a preocupação
obsédante da guerra. Não é provável que essa circunstância seja
devida ao choque da guerra, pois as crianças nunca fazem
reportagens. É mais natural procurar-
se a causa na influência exercida pelas revistas infantis e juvenis,
além da imprensa e cinema. Trata-se de uma daquelas formas de
refinamento que o professor não pôde excluir da mentalidade de
seus alunos. As poucas pinturas desta exposição, tendo a guerra
como tema, provêm de áreas comparativamente remotas do teatro
mais intensivo da luta. Note-se que o realismo desses trabalhos é
mais imaginativo do que documentário.
Os oito desenhos escolhidos para ilustrar este catálogo de forma
alguma esgotam os tipos que serão vistos na exposição.
Servem apenas para indicar os variados aspectos da arte infantil.
E, se a presente exposição despertar interesse pela significação
educativa dessa arte, terá cumprido sua finalidade.
Mas o objetivo principal do British Council, mandando uma
exposição desta natureza ao Novo Mundo, durante a maior crise
de nossa história é dar, a vós, os visitantes, uma indicação de
nossa vitalidade e esperança. As crianças que fizeram esses
desenhos e pinturas serão adultos num mundo de após-guerra. E
acreditamos que o senso do belo e a atitude de amor à vida,
expressos na infância desses homens do futuro, hão de florescer
num mundo para sempre livre da tirania e das guerras odiosas de
conquista.
(íntegra da Introdução de HERBERT READ, no Catálogo da
Exposição de Desenhos Escolares da Grã-Bretanha,
organizada pelo British Council, no Brasil, em 1941)
Tudo começou quando Augusto Rodrigues e mais alguns artistas
— Darei Valença*, Poti e Cordélia de Morais Vital, entre outros —
conversavam num jardim da Cidade sobre educação. Faziam
ainda parte do grupo educadores insatisfeitos com a escola
comum. Sentiam que não podiam dar às suas crianças a liberdade
devida. Achavam ainda que a criança precisava de um lugar onde
essa experiência pudesse ser feita. Um lugar onde ela pudesse
liberar seus impulsos criadores. uma escola sem coação.
Realizava-se no Rio a exposição das crianças inglesas. Os
trabalhos eram lindos, coloridos e até líricos. A exposição estava
sendo realizada na Escola Nacional de Belas Artes e representava
a confiança dos ingleses no futuro, apesar da guerra que os
destruía.
(Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, "começou com o exemplo
inglês", 7/7/68 — artigo comemorativo do 20° aniversário da
Escolinha)
Por esta época, descobri entre velhos cadernos o catálogo de uma
exposição de desenhos de crianças inglesas que aparecera no
Rio por volta de 1941, percorrendo a América Latina por uma
iniciativa do Conselho Britânico.
* Desenhista, ¡lustrador e pintor brasileiro
"Mensagem de cor e poesia, testemunhava a firme e tranqüila
confiança dos ingleses em dias melhores, no momento mesmo em
que a Grã-Bretanha, bombardeada diariamente, atravessava a
maior provação de sua história. A mostra tendo significado alguma
coisa para mim, o catálogo fora conservado. Nele reli, já com nova
compreensão, que se tratava do resultado obtido depois das
reformas da educação na Inglaterra, renovados seus conceitos à
luz da psicologia aplicada à pedagogia".
(De um texto de Lúcia Alencastro Valentin.)
Desenhos das crianças brasileiras recusados em Milão
Em 1948, o Centro Pedagógico de Milão, em conjunto com a
Federação Esperantista, promoveu a Exposição Internacional de
Arte Infantil, com a participação da Argentina, Austrália, Áustria,
Alemanha, Bélgica, Checoslováquia, Dinamarca, Estados Unidos,
Finlândia, França, Grã-Bretanha, Holanda, Hungria, Itália,
Iugoslávia, Japão, Madagascar, Marrocos, Noruega, Palestina,
Polônia, Suécia, Suíça e Uruguai, além do Brasil.
A Dra. Paccagnella, filósofa e pedagoga, ocupava o cargo de vice-
presidente do Centro Pedagógico e fazia parte da comissão de
seleção de trabalhos. Os desenhos brasileiros forarn recusados in
totum e o Brasil ficou ausente da mostra internacional. Dois
jornalistas e músicos brasileiros, H. J. Koellreutter e Geni
Marcondes, que estavam na Itália, procuraram entrevistar a Dra.
Paccagnella para saber a razão da exclusão dos desenhos. Ela
lhes disse que o objetivo principal da exposição era mostrar
desenhos das diferentes regiões do mundo que expressassem a
visão infantil, livre, espontânea, natural. E lhes mostrou os
desenhos enviados do Brasil: era evidente que em cada um deles
havia o dedo do adulto, pai ou professor, procurando o "desenho-
cópia", o desenho "bem-feito", a demonstração de precocidade, o
"bom gosto" estereotipado. Koellreutter e Marcondes lamentam a
"velhice prematura, o convencionalismo e o nacionalismo
impostos às crianças", em artigo publicado pelo "Estado de
Minas".
A recusa dos desenhos de crianças brasileiras com má orientação
de adultos na Exposição de Milão, coincide com a concretização
do sonho de Augusto Rodrigues e seus companheiros: a criação
de um cantinho onde as crianças pudessem exercer sua
capacidade de criar em liberdade. E a Itália receberia, anos mais
tarde, nova leva de desenhos e pinturas de crianças brasileiras
com características bem diferentes daquelas de 1948.
O meio artístico e pedagógico de Milão viveu momentos
relevantes por ocasião dos debates acerca das tendências
evidenciadas, dos métodos antigos e modernos de ensino e do
processo criador na criança e no adulto.
Quisemos saber qual fora o critério adotado para a escolha dos
desenhos expostos. A Dra. Paccagnella respondeu-nos: "Os mais
espontâneos, naturalmente, foram os preferidos. Fizemos uma
seleção na remessa de cada país e tudo o que nos padeceu
ajudado ou mesmo sugerido por adultos foi deixado de lado. No
entanto, esse trabalho seletivo não pôde ser feito em relação aos
desenhos vindos do Brasil. como vêem — e a pedagoga sorriu
gentilmente de nosso embaraço — não tivemos muito o que
escolher. Não recebemos nenhuma criação verdadeiramente livre
das crianças brasileiras. Isso não quer dizer, é claro, que a
infância do Brasil não sinta necessidade de usar também a
linguagem gráfica, como a infância de todos os países do mundo.
Apenas, creio que fizeram lá uma seleção completamente inversa
da que fizemos aqui. Preteriram as criações espontâneas pelos
desenhos assim chamados "bem-feitinhos" e carentes de
originalidade. Acharam, por certo, que isto aqui (e apontou um
renque de palmeiras feito com régua e apresentando uma
perspectiva perfeita) era mais interessante do que uma criação
deste tipo" (mostrou o desenho de um pequeno argentino,
encantador de liberdade inventiva). A Dra. Paccagnella tinha
razão. Nada de menos representativo, de menos vivo que as
produções brasileiras da Exposição. Era como se nossas crianças
tivessem nascido mortas e aqueles bichos empalhados fossem a
expressão de sua falta de vitalidade.
(Artigo de H. J. Koellreutter e Geni Marcondes — Estado de
Minas, 1949.)
uma ESCOLA EM CAMPO ABERTO
Lúcia Alencastro Valentim: da Fundação Osório à Escolina
Falar dos primeiros tempos da Escolinha é falar de Lúcia Alencastro.
Ex-aluna de Guignard na Fundação Osório, Lúcia foi profundamente influenciada pela
visão e pelo entusiasmo do mestre.
"O certo é que em 1935 e nos anos seguintes, já encontramos Guignard ensinando 'desenho'
com um entusiasmo como nunca vi igual e que fazia vibrar as duzentas meninas da Fundação
Osório. Nesta instituição para órfãs de militares, situada numa encosta de montanha no Rio de
Janeiro, o artista mostrava a floresta, as árvores, as flores, as borboletas: 'Veja que beleza!'
'Desenhe uma coisa bonita: o que você quiser!' Quem o conheceu sabe que ele só podia falar
pouco. Mas tinha os olhos maravilhados de quem vê sempre pela primeira vez; seu entusiasmo
era contagioso. Ele desaparecia, ia para uma sala e outra: visitava toda a escola ao mesmo
tempo. Deixava a cada menina um papelzinho branco meia folha de papel de caderno, e lápis
de cor. Quando a escola podia, fornecia, dois ou três potinhos de guache para cada mesa,com 4
meninas. Entusiasmo, ele sempre deixava. 0 trabalho e a conversa eram animadas na sala, sem
vigilância outra grande inovação para a época mas
tudo corria tranqüilamente, e quando Guignard voltava, seu entusiasmo não tinha mais limite: via
e mostrava maravilhas naqueles trabalhos, e nós mesmas nos espantávamos de ter produzido
aquilo. Havia ali qualquer coisa mágica que nos emocionava. Guignard olhava de perto os
trabalhos, afastava-se para vê-los melhor em seu conjunto; sorria, abanava a cabeça e pedia
outro melhor ainda; muitos mais, até o fim da tarde. A produção então era imensa, e ele a
enfileirava orgulhoso, para deslumbramento de todos.
Foi a minha primeira experiência, criança ainda, com o que veio a chamar-se arte na educação".
(Depoimento de Lúcia Alencastro — "A experiência anterior à Escolinha — a Fundação
Osório", texto mimeografado).
A Fundação Osório, Lúcia volta anos depois, estudante da Escola Nacional de Belas Artes, agora
como professora, com a responsabilidade de substituir Guignard.
"Em 1944. já estudante da Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, fui procurada pela
minha velha diretora. 0 colégio estava sem professor de desenho depois da partida de Guignard
para Minas Gerais. O ensino formal não satisfazia, e D. Cacilda Martins apelava para mim.
Mas eu não sei ensinar/
Melhor. Use sua sensibilidade, esqueça a rotina. Não seja formal. . . Tenho a
certeza que tudo irá bem . . .
Faltou coragem para não ajudá-la. comecei".
Augusto Rodrigues tinha articulado um grupo informal de professores e artistas que estavam
sempre discutindo arte e educação. Desse grupo, faziam parte a pintora Margaret Spencer e
Miss Lois William, também americana, especialista em recreação, que trabalhava no Instituto
Brasil-Estados Unidos.
"Lembro-me quando encontrei aquele grupo pela primeira vez.
Era convidada de uma amiga comum e tinha comigo, como sempre naqueles tempos, um monte
de trabalhos das crianças da Fundação Osório: minúsculos pedacinhos de papel (sempre a
pobreza de material!) mas tinham alegria é espontaneidade e eu me orgulhava deles. Encontrei
ressonância no grupo, e logo soubemos que desenvolveríamos juntos alguma coisa
significativa...
Não era idéia criar uma escola de arte. Queríamos apenas ver como se desenvolveriam algumas
crianças diante da possibilidade de experimentar livremente as técnicas de arte. A escola surgiu
depois, do interesse enorme das crianças, que afluíram cada vez mais numerosas e benvindas
sempre".
Foi com esse material humano — Augusto, Margaret e Lúcia como professores e um pequeno
grupo de crianças — que nasceu a Escolinha de Arte do Brasil. Ainda não tinha nome. Era pouco
mais que uma idéia. Mas o fato concreto de se reunir aquela gente, três, quatro vezes por
semana, prova que já era muito mais que uma simples idéia. Era uma semente. Pequena, mas
contendo em si toda a potencialidade do futuro.
uma data : 8 de julho de 1948
A escolinha não nasceu planejada no papel, não teve fundação festiva, com solenidades e
discursos, não teve anúncios nem chamou muita atenção. Nasceu como uma pequena
experiência viva, fruto da inquietação de um grupo de artistas e educadores, liderados por
Augusto Rodrigues. Ele e Margaret Spencer — depois outros professôres-que chegavam,
gostavam e ficavam — e, principalmente, as crianças. como faltava uma escola aberta, livre, que
desse oportunidade de criação e expressão — um lugar
onde as crianças ficassem e fossem felizes —, a Escolinha foi criada. como não havia lugar
amplo, o corredor da Biblioteca Castro Alves foi utilizado. Ali as crianças começaram a se reunir
com seus professores. Sem horário rígido, sem muitas regras — exceto, talvez, a grande regra de
não atrapalhar o trabalho dos outros
e utilizando o material disponível que, aliás, era fornecido pelos professores que
acabaram criando uma escola onde pagavam para dar aulas.
uma escola desse tipo não tem uma data precisa de fundação. O grupinho dos
primeiros alunos foi-se reunindo e a coisa foi crescendo. Mais tarde, por convenção,
fixou-se a data de 8 de julho de 1948, para efeito de comemoração do nascimento da
Escolinha. Mas os textos são contraditórios. Uns falam em maio, outros junho.
Esse fato já caracteriza a escola que nascia. Mais importante que marcar exatamente
sua fundação, era a própria vida e a experiência da escola.
"Em 1948, começo a conversar com alguns artistas, com o propósito de levá-los a fazer alguma
experiência. Conversei com Poty, Darei, esses tinham contato muito constante comigo. Um dia,
num café, encontrei a Margaret Spencer, pintora americana que me disse haver tido experiência
com crianças nos Estados Unidos. Então, convidei-a para ir à Biblioteca Castro Alves, no 1º andar
do IPASE, pertencente ao Instituto Nacional do Livro, em convênio com a Associação dos
Servidores Civis do Brasil. Chegando lá, encontro o diretor, converso com ele com o propósito de
conseguir sua permissão para utilizarmos o hall de entrada, que era uma espécie de jardim,
circundando uma área coberta de pedrinhas, com dois banheiros que serviam a toda a Biblioteca,
para fazer uma experiência com crianças. compramos o material tinta, lápis, papel
e iniciamos a experiência".
» •
"Estava muito preocupado em liberar a criança através do desenho, da pintura. comecei a ver
que o problema não era esse, era um problema muito maior, era ver a criança no seu aspecto
global, a criança e a relação professor-aluno, a observação do comportamento delas, o estímulo
e os meios para que elas pudessem, através das atividades, terem um comportamento mais
criativo, mais harmonioso.
As crianças vinham cada vez mais, e as idades eram as mais diferentes. Felizmente, tínhamos
duas coisas muito positivas para um começo de experiência no campo de educação, através de
uma escola. A experiência era feita em campo aberto, e a diferença de idades também foi outra
coisa fundamental para que eu pudesse entender, um pouco, o problema da criança e o da
educação através da arte. Deveríamos ter um comportamento aberto, livre com a criança; uma
relação em que a comunicação existisse através do fazer e não do que pudéssemos dar como
tarefa ou como ensinamento, mas através do fazer e do reconhecimento da importância do que
era feito pela criança e da observação do que ela produzia. De estimulá-la a trabalhar sobre ela
mesma, sobre o resultado último, desvaindo-a. portanto, da competição e desmontando a idéia
de que ali estavam para ser artistas".
• •
"Outro episódio significativo aconteceu no começo da experiência. Na escolinha havia um
problema, os professores ficavam muito confusos sobre o que seria liberdade. Um dia, uma
criança estava pintando com tinta branca sobre papel branco. E a professora perguntou: 0 que eu
faço?' 'Não faça nada, observe. Você sabe por que ele está pintando com tinta branca sobre
papel branco?' 'Não, 'Então espere e observe.' Ela observou e disse que ele já tinha gasto um
pote de tinta branca, só estava lambuzando. Eu comentei que seria bom ela observar mais, pois
talvez houvesse alguma razão para isso. A criança continuava, já estava em um pote e meio,
quando me aproximei dela, me abaixei e fiquei a seu nível o que é sempre bom. Quando me
abaixei, a
incidência da luz era outra, e havia no branco, sobreposto ao branco, relevos e toda uma
paisagem, casas, árvores, tudo, feitas só com uma tinta: branco. Havia um elemento de que a
professora não tomou conhecimento: a luz, a incidência da luz".
(Depoimentos de Augusto Rodrigues)
A grande mestra
"Pensando num trabalho de renovação, em observar e estudar a atividade artística muito mais do
que em estabelecer processos de ensino ou estudar os Já existentes percebendo a cada
instante que o problema não era de 'ensino', mas principalmente de oportunidade de exercitação
plena, tivemos sempre especial cuidado em não estabelecer programação, e, se alguma
intransigência havia, esta era no sentido de que nada se impusesse à criança, respeitando-lhe a
liberdade de expressão e estimulando-lhe a iniciativa, desde que ela não pusesse em risco a
própria segurança e a dos demais. Evitamos cuidadosamente as normas usuais de organização
escolar, visando fugir a qualquer ameaça de rotina deformadora, mas procurando sempre
estimular cada um de nós para que dedicasse o melhor de si mesmo aos estudos e trabalhos da
escolinha que se ia formando.
Tendo resultado uma escola diferente em tudo, e sendo a criança em sua pureza, um apelo
constante à curiosidade e ao amor, a escolinha, uma vez descoberta, tornou-se assunto para
inúmeras reportagens".
• • •
"Mas a nossa grande mestra foi, sem dúvida alguma, a própria criança. Havíamos decidido nos
deixar guiar por ela: observar o que ela fazia; examinar como fazia; anotar o que preferia;
oferecer situações novas e verificar como reagia; analisar o que recusava; documentar como
progredia; tudo enfim, diante da oportunidade da atividade artística, foi motivo de estudo, registro
e debates.
Conservei, daqueles tempos, um caderno diário, em que ia anotando a observação do momento.
Nem tudo, evidentemente, podia ser anotado: não faria mais nada, senão escrever diário. Mas,
alguma coisa ficou escrita, e reproduzirei aqui, em parte, como documento e como amostra do
tipo de registro tentado:
'19-X-49 E.L esperou a mãe até as duas e trinta, desenhando caras que riam; transformou-as
em monstros depois que a mãe telefonou que não poderia vir buscá-la. Declarou que considera
A. e I. seus inimigos. Desenhou então A. de cabelos compridos e grandes orelhas e I. de maio
duas peças e corpo coberto de pêlos, de pé sobre uma esfera azul, com uma faixa escrita, como
a da bandeira, mas mudou a inscrição: As coisas que seu Augusto inventa.'
(Pergunta valeria a pena impor um tema a E.L, se ele tem todo um mundo de reações
profundas a expressar?)
B. A sua professora de classe me veio contar que as colegas de B. lhe encomendaram o
cartaz para a festa. B. está agora muito mais feliz e interessada em estudar. (Obs.: B. era uma
menina extremamente introvertida e sem amigos. Semanas depois, 7-Xl-49, anotei: A mãe de B.
contou-me, adiante, que B. agora tem uma amiga: sua primeira amiga plenamente aceita!')
20-X-49 C. está aborrecida porque os maiores não lhe permitem participar do programa da festa.
Perguntei a N. por que não a aceitavam. 'Não sei. Isto è com I.' Falei com l e l.: 'B. disse-me que ela
não sabe nada'. 'Mas se ela quer tocar, è porque acha que pode'. Está bem, ela vai tocar'. (Nota: C.
era pequenina irmã de B.. bem dotada e meiga).
?-X-49 F. não compareceu à festa: foi ao jardim zoológico com seu colégio e se atrasou.
N. substituiu perfeitamente, improvisou seu discurso com segurança e sem
timidez: explicou que o amigo fora ao jardim zoológico e já chegaria. Impressionou a todos.
Preciso arranjar com ele uma cópia do discurso.
29-X-49 H. R. nasceu com os dedinhos da mão ligados. Tem cinco anos. Vive sonhando com o
dia em que vai aprender a tocar piano. Poderia ele experimentar marimbas, o xilofone, aquele
instrumento de bater com martelinhos? A dra. A. R., mãe de H., pediu a lista de tintas e pincéis
para levar ao jardim de infância que sua filhinha freqüenta: deseja introduzir pintura no Jardim,
como a usamos aqui. Z. apareceu hoje. Cheio de feridas, novamente. Devemos afastá-lo? Tem
um olho inflamado: 'Foi uma pedrada'. Lembrei-me do teste de Prudhomeau: dei-lhe uma palavra
para copiar: ovo. com dez anos, não faz o trabalho de uma criança de seis. Traça o circulo num
movimento invertido e apresenta muitas vezes o que se chama 'acumulação': vários círculos
dentro do primeiro. Z. poderá traçar letras com algum exercicio.
E. ontem o vi na fila do ônibus, retorcido como um aleijado, tirando esmolas. Ganhando a vida.
. . Não me viu, não tive coragem de vê-lo.
(Nota: Z. e E., meninos abandonados, crescendo nas ruas, ficavam de longe olhando a escolinha.
Um dia lhes demos papel e tintas. Fizeram garatujas e manchas. Voltaram. Tentamos aproximá-
los dos outros, não eram aceitos e não sabiam conviver. Trabalhavam à parte. Pouco tempo
depois, E. desapareceu. Z. apegou-se à Escolinha. Deu muito trabalho. Tornou-se exigente.
Seguiu-nos por anos. Mas é toda uma outra história e não nos podemos deter nela).
29-X-49 Dia de chuva. Falta de condução e energia elétrica. Poucos desenhos: o interesse
hoje foi por recorte em papel dobrado.
M. apresentou, como seus, dois recortes trazidos pela professora. M. andava triste, porque não
encontrava seu desenho na exposição. Quando o ajudamos a descobri-lo, não o reconheceu.
Tenho observado que muitas crianças não reconhecem seu trabalho, quando colocado em
passe-partout. Aceitei os recortes trazidos por M. como se de fato fossem dela. Saiu contente,
procurou a tesoura e foi tentar novas experiências. M. voltou aos desenhos de montanhas muito
altas, com seres isolados lá em cima. Sentou-se sozinha, longe de todos. Fez o Pão-de-Açúcar
com o bondinho sobre os cabos; embaixo, o mar e no mar um barquinho pequenino. Tudo pronto,
colocou um casal passeando no morro maior. M., 6 anos, fez uma escrita simbólica sobre o morro
maior (seu nome não, apesar de saber escrevê-lo). Eram muitas espirais sobre o Pão-de-Açúcar.
A mãe reclamou: 'M., que bobagem você fez! Você já sabe escrever, por que não escreveu seu
nome direito? Venha escrever, anda!' A professora ponderou que talvez aquilo não fosse o nome,
ou que talvez M. não quisesse assinar aquele trabalho. A mãe insiste: Mas ela quis escrever, não
escreveu direito porque já está pensando em outra coisa'. 'Mas ela agora quer è fazer recortes.
Depois ela escreverá'. Mais tarde, veio outra vez a mãe, com o desenho: 'M. faz bonecos
miudinhos, mas tão expressivos! Veja como estão interessantes!' Aproveitamos para explicar a
esta senhora que quando uma criança não gosta de seu trabalho, evita assiná-lo. Ainda hoje, lhe
contei, A. recortou um papei dobrado e abandonou-o. Perguntei quem o fez. Respondeu: Não sei.
Muitas crianças menores, se gostassem do trabalho, responderiam àquela pergunta: Fui eu,
mesmo não tendo sido. '
Já vi N., Y., H.. I. recusarem assinar desenhos, mesmo depois de convidados a fazê-lo. Já vi A.
assinar desenhos de outros, rejeitando os seus, alegando que não os fizera. Já vi B., tendo
assinado um desenho por insistência nossa e destruí-lo depois. É preciso propor que se consiga
uma coleção da revista Criança ', para que as mães leiam; propor que mais tarde se organize um
folheto expondo nossos conceitos e as bases do nosso trabalho; propor um novo horário, em que
se reserve uma hora sem alunos, para que os professores possam se encontrar, trocar
experiências, discutir os trabalhos.
E. chegou tranqüilo e começou a trabalhar normalmente. Enquanto eram poucos os alunos
chegados, conversei com E. (4 anos). Depois, atendi a outros. E. passou a pintar
a cadeira, abandonando o papel. Não mostrei interesse pelo fato. E. levantou-se e veio pintar-me
o vestido. Reconhecendo que E. precisava de atenção, mais do que de pincel e tintas, levei-o
para ouvir histórias, obtendo atenção e interesse. Devendo atender a outros, deixei E. só, vendo
figuras. Em poucos minutos, voltou E. a pintar-me o vestido. Resolvi pintar também seu avental:
fui recompensada com um largo sorriso de encanto e surpresa. E. voltou tranqüilamente à sua
pintura.
(Nota: gostaria de poder analisar o comportamento de E. não estou preparada para isso. e, na
verdade, não é responsabilidade da professora, mas do psicólogo. Mas, para uso nosso,
podemos concluir que, mais do que repreensão e castigo, em caso assim, a criança precisa de
um tratamento amigo e companheiro).
12-XI-49 Ed. chegou tarde. Fez um desenho: 'igualzinho àquele que eu fiz há muito tempo e
que saiu bom. (Dois rochedos muito altos, o mar no meio deles, um barquinho pequenininho
sobre o mar). começou a pintar cuidadosamente, depois abandonou. Foi brincar. Quase no fim da
aula, pediu barro, socou muito, crivou-o de facadas, violentamente enterrou a faca de ponta no
canteiro. Agitou-se muito. Voltou a trabalhar: fez um belo barco de barro. Só interrompeu o
trabalho por insistência da mãe que precisava ir embora.
M. sua mãe declarou hoje para outras mães que a Escolinha é boa para as crianças e para as
mães também, que ela já aprendeu aqui muita coisa. N. veio em junho do ano passado. Seu
primeiro desenho foi uma paisagem, com gradação de verdes e um riacho branco. Desenhava
cenas de lutas, influenciado por desenhos em quadrinhos. Certa vez, vindo para a Escolinha,
assistiu a um desastre de automóvel. Seus desenhos fixaram o acidente. Nas aulas seguintes, e
de muitas formas, via-se sangue em seus trabalhos.
A primeira intervenção para afastá-lo do decalque da memória foi a entrega de papéis maiores e
lápis cera. Na aula seguinte, foi convidado a usar pincel e tinta preta para desenhar. Produziu
então uma cena de dança, com figuras simplificadas, preocupado sobretudo no registro do
movimento. Este resultado era conseqüência do novo material. Numa segunda experiência com o
mesmo material, desenhou duas crianças com a corda e outras ainda, em plano mais afastado.
Dado o interesse do desenho, e à possibilidade de ser a experiência levada a bom termo, N.
recebeu tintas. Neste desenho havia se preocupado com contrastes e sombras, chegando a
obter uma vibração que não havia em seus desenhos anteriores. Nestes primeiros trabalhos ele
respeitava os contornos do desenho, ao colocar a cor. Depois, passou a colocar mais tinta,
continuando a usar as cores puras. Se o colorido se enriquecia, o movimento ia ganhando mais
extensão. Nunca fez cópias de desenhos de outros, nem mesmo de assuntos de outros.
Sua atitude era sempre normal, com interesse igual, exceto quando, tendo feito uma gravura em
linóleo, a viu publicada e premiada por um jornal. O prêmio exagerou nele o senso de
responsabilidade, e sua publicação no jornal, ao lado da alegria do prêmio recebido uma caixa
de aquarelas produziu-lhe certa timidez. Reagiu, porém, e depois de três aulas realizadas sem
proveito, fez. em papel grande e de um só Impeto, um desenho vigoroso, com composição difícil,
mas bem resolvida, reproduzindo um navio ancorado com figuras humanas em movimento, tendo
em seguida, em uma hora, colorido o trabalho todo. usando cores muito vivas".
(Depoimentos de Lúcia Alencastro Valentim)
"Não é objetivo desta escola estimular vaidades, mas desenvolver
nas crianças toda a força de seu poder criador. Para isso, o grupo
de professores que se integram no trabalho da escola,
confundindo-se com os alunos, cria urna atmosfera propícia à
liberdade, permitindo-lhes que se expressem sem inibições e
afirmem suas personalidades.
No papel, no barro, com lápis e pincéis, são as crianças que
experimentam, ensaiam, procuram e, o que é mais importante,
encontram suas soluções".
(Trecho de um catálogo de apresentação da primeira
exposição de desenho, pintura e modelagem da Escolinha
de Arte da Biblioteca Castro Alves. 1949).
"No decorrer daqueles anos, já havíamos aprendido e formulado o
que a arte representa para a criança:
1. atendimento à necessidade vital de expressão;
2. desenvolvimento da sensibilidade estética;
3. integração e ajustamento à vida, pelo processo de percepção,
expressão, comunicação;
4. recurso natural e espontâneo da cultura, pelo afinamento das
capacidades perceptivas;'
5. desenvolvimento da criatividade, pelo exercício dela;
6. autodeterminação e autoconfiança pela atividade de pesquisa e
realização livre de imposições e padrões.
Mas, não nos antecipemos. Esta formulação não foi fácil, nem
imediata. E não está aí completa".
(Texto mimeografado de Lúcia Alencastro Valentim. Capítulo
"A vida na Escolinha — objetivos iniciais").
"Chegou Milagros Argélia Veloso, a professora de pequenas
plásticas'. Perguntei por que deu esta denominação a seu curso.
— Achei que resumia a idéia geral: incentivar a vontade de fazer
pequenas figurinhas artísticas e equilibradas, pegando um
movimento e reproduzindo plasticamente urna atmosfera. Faço
questão que a base seja sempre folcloristica. Quero interessar a
criança pelos aspectos regionais de seu país. Quero que
observem, compreendam, amem e executem. Principalmente que
saibam ver o que faz a essência de sua terra. Faço questão que
escolham unicamente temas próprios ao país. Nada de girls
americanas ou mexicanas de cinema! Coisas típicas que viram.
— Conhecia o folclore brasileiro quando chegou ao Brasil?,
perguntei à jovem professora chilena.
Deram-me uma bolsa de estudos de um ano exatamente, para
que tivesse oportunidade de me aproximar de hábitos que
desconhecia. As crianças me ajudaram a aprender muita coisa.
Contam-me lendas, descrevem-me costumes, enquanto ensino
como é possível aproveitar qualquer material que se encontre à
mão para realizar as pequenas plásticas. Ensino a técnica, tão-
somente, deixando-lhes inteira liberdade de execução,
interpretação livre, guiada pela imaginação própria.
Seu título é professora de folclore', não é?
Sim. Acho que é uma criação minha! O folclore é tão
importante que é preciso devolver-lhe o lugar que lhe cabe. Minha
finalidade é introduzir nas escolas o amor ao aspecto típico,
tradicional e lendário de cada lugar, ao mesmo tempo que procuro
desenvolver a habilidade manual de meus alunos. . . Encontrei
aqui um material extraordinário. . .
Além dos cursos para crianças, seria interessante que ensinasse
os segredos das 'pequenas plásticas' às professoras,
principalmente às professoras rurais que aprenderiam a se
aproveitar do material maravilhoso oferecido pela natureza — os
seixos, as conchas, as folhas, as frutas, etc, etc."
(Trecho do artigo de Yvonne Jean, "O Folclore e a Criança",
publicada no Correio da Manhã de 16 de janeiro de 1949).
Um nome para a Escolinha
"Quando a Escolinha realmente começou, creio que a tendência era ela se chamar Escolinha
Castro Alves, porque estava na Biblioteca Castro Alves. Mas eu não quis dar nome à Escolinha.
Estávamos realmente fazendo uma experiência em aberto, até o momento em que começamos a
sentir que precisava de um nome. Ai è que surgem as crianças que já começavam a dizer:
amanhã eu venho à Escolinha', e elas só chamavam de escolinha. Percebi de imediato que elas
faziam uma distinção entre a escola institucional e aquele lugar que elas passavam a chamar de
Escolinha. Escolinha, no diminutivo, com o componente afetivo. uma era a escola onde ela ia
aprender, a outra onde ela ia viver experiência, expandir-se, projetar-se. Então foram elas
mesmas que deram o nome".
(Do depoimento de Augusto Rodrigues)
A Escolinha de Arte funciona na Biblioteca Castro Alves e é um
valioso posto de observação para os que estudam a infância e
suas manifestações livres e intuitivas de arte. Augusto Rodrigues,
com seu grupo de professores, respeita essa liberdade ao
máximo, evitando até as palavras desprevenidas que possam
conduzir aqueles maravilhosos instintos à macaqueação, à
estúpida precocidade feita de servilismo e papel carbono . . .
Mestre Augusto Rodrigues se deslumbra com aquelas expe-
riências e diz muito justamente que é com crianças conservadas
na sua candura original que a gente aprende.
("Infância, irmã da pintura", reportagem da revista RIO,
reproduzindo em seis páginas pinturas das crianças da
Escolinha — número de Natal, 1949).
. . . uma escolinha . . . onde a criança mergulha livremente em si
própria para trazer, através do desenho, a riqueza exuberante de
sua fantasia criadora. Um grupo de professores, entre eles o
desenhista Augusto Rodrigues, entrega-se com afã ao trabalho da
escola, confundindo-se com os alunos, estimulando neles essa
confiança que leva a trabalhar sem temor, sem receio de errar;
tem assim conseguido fazê-los revelarem, com a maior
espontaneidade, a riquíssima combinação de linhas e cores que,
às vezes, só as crianças sabem realizar. Da aula a que assistimos
se poderia dizer que era a aula do professor ausente, pois a este
apenas se consultava, evitando ele oferecer sugestões ao
aluno. 0 ambiente da escola é sobretudo de alegria, de íntima
camaradagem. Meninos e meninas, de três a doze anos, se
congregam na aula, com interesse sempre renovado, mesmo
porque não estão obrigados a isso pela ameaça de qualquer
sanção. Ali, a criança escolhe o assunto e põe mãos à obra. Ali,
pelo trabalho, ela se liberta e sem qualquer embaraço se reajusta,
trazendo à superfície suas emoções, que as faces impressivas e
repressivas da educação tendem a frustrar. Estas crianças estão
conquistando, de modo suave, um direito inalienável — o de se
exprimirem sem inibições-e de afirmarem sua personalidade.
Nesse curso, não há intenção de formar artistas, estimular vaida-
des. mas de divertir, adestrar a criança no conhecimento dos
materiais, desenvolvendo nela toda a força de sua capacidade
criadora....
(Reportagem de CARETA — 1950).
Curvas e retas. Muito vidro, muita luz, muitas cores claras. É
alegre o ambiente da Biblioteca Castro Alves, no edifício do
IPASE, onde funciona uma escola livre de desenho, para crianças,
idealizada e dirigida por Augusto Rodrigues. . . "Escola livre de
desenho" talvez não seja o nome adequado para esta instituição.
Ali as crianças não aprendem somente a desenhar, mas também
a manejar pincéis e tintas, esculpir em plastilina e em "papier-
maché", a fazer bonecos e fantoches. E, em vez de dizer
aprender, eu provavelmente deveria ter tido aprender a gostar. O
ensino aí é de tal forma livre e espontâneo, que tudo é feito de
acordo com aquilo que as crianças gostam, e, sem dúvida alguma,
elas aprendem a gostar de seu trabalho.
Lembro-me bem quando Augusto Rodrigues abriu esta escola, faz
mais ou menos um ano. Tinha seis alunos que vinham três vezes
por semana. Ele ensinava sozinho. Agora, a escola tem cem
alunos inscritos, ao todo dez professores e as aulas são diárias.
Mesmo aos domingos, alguns dos alunos maiores fazem questão
de ir ao campo para desenhar, tendo a natureza como modelo. E
isto tudo em um ano.
(Revista GUAÍRA, dezembro de 1949, reportagem de Jorge de Holanda).
É um grupo de crianças que desenha o que quer, a quem os
professores apenas respondem às perguntas e nunca repreendem
por erros ou faltas. Os que ensinam nada recebem, os que
aprendem nada pagam. Quando a hora de terminar as aulas vem
chegando, a criançada se impacienta numa ânsia de que a aula se
prolongue, para que os desenhos sejam terminados. Lembro-me
de ter visto um menino do morro chamado Zacarias. Foi o primeiro
a chegar e, a pretexto de limpar as mesas dos respingos de tinta,
os pincéis, foi o último a sair. Zacarias é um menino do morro,
pobre, e com várias expulsões nas escolas públicas. Mas ali,
naquela, é o primeiro a chegar e o último a sair.
(Reportagem de Fernando Lobo. em Noite Ilustrada. 12 de abril de 1949).
". . .'As crianças estão mais perto da verdade poética. Nós já
perdemos o paraíso', disse, com um sorriso. Helena Antipoff, a
mulher que tão bom trabalho faz no Departamento da Criança, no
Instituto Pestalozzi onde, além da psicologia. trata de desenvolver
o gosto artístico das crianças e, principalmente, nesse
extraordinário Instituto de Organização Rural que mereceria por si
só um grande artigo. Aconselhou-me que fosse à Biblioteca Castro
Alves onde os bonequinhos foram confeccionados.
É uma biblioteca de um tipo inédito. Criou-se nela uma
seção de desenho e pintura, cerâmica, gravura, e 'pequenas
plásticas', dirigida por Augusto Rodrigues. Não são cursos
obedecendo às normas habituais. Cada criança pode dese
nhar ou modelar, se tiver vontade, sem que seja preciso
matrícula alguma. Pode pintar, da mesma maneira como
vem ler um livro! A atmosfera é muito diferente de tudo que
se conhece.
Fui à biblioteca e, com efeito, senti-me envolvida por uma
atmosfera livre e despreocupada. A atmosfera do clube que tanta
falta faz aos meninos em busca de distrações. Meninos e meninas
estavam lendo, desenhando e passeando na sala que nada tinha
de uma sala de aulas. As mesas são arredondadas, de formas
irregulares e equilibradas. Numa parte da sala, com chão de
pedrinhas e muitas plantas verdes, espalham-se mesas nas quais
se sentam os alunos dos cursos.
Apesar de não existir regulamento, quem veio uma vez
sempre volta. E somos, antes de mais nada, opostos a
qualquer forma de academismo. Deixamos absoluta liberda
de a cada aluno. Queremos dar-lhe todas as oportunidades
de desenvolver a personalidade criadora. Dou o material e
ensino como se deve usá-lo. É só. Somente dou conselhos
técnicos. E quantas personalidades interessantes estão sur
gindo . . . Veja estas duas esculturas, por exemplo.
A primeira era uma cabeça de mulher, inspirada pelo mais puro
formalismo, com traços monótonos e cachos horrivelmente
regulares. A segunda era uma cruz com um Cristo de linhas
simplificadas e exprimindo um sentimento profundo.
— A cabeça foi o primeiro trabalho da menina quando aqui
chegou. 0 crucifixo foi o segundo, quando se convenceu
que tinha liberdade de seguir sua concepção própria".
(Trecho de artigo de Yvonne Jean, "O Folclore e a Criança",
no CORREIO DA MANHÃ, de 16 de janeiro de 1949).
Atividades
A Escolinha diversificava aos poucos suas atividades. À medida
que surgiam pessoas interessadas em ajudar, aproveitava-se sua
contribuição. Novas aulas, novos cursos. Um hábito, desde o
princípio: expor o resultado do trabalho do dia no chão da sala
para todos verem. Depois, um ou outro mural. Finalmente,
exposição no salão do andar térreo do edifício.
Relatório de 1952, fazendo um resumo das atividades da
Escolinha de Arte (ainda chamada Escolinha de Arte da Biblioteca
Castro Alves), afirma terem passado pelas suas aulas "cerca de
quinhentas crianças, com surpreendentes resultados pedagógicos,
ao mesmo tempo que funcionou como centro de estímulo e
pesquisa a um sem-número de professores e artistas nacionais e
estrangeiros". Em 49 e 50, a Escolinha organizou a Exposição de
Arte Infantil, comemorando a Semana da Criança. Em 1950,
promoveu, em colaboração com o Departamento Nacional da
Criança, cinco grandes debates sobre a arte infantil. Fruto desses
debates foi o Centro de Estudos para a Iniciação Musical,
orientado por Liddy Mignone. Também em 50, foi realizado o
curso de Atividades Artísticas para educadores e assistentes
sociais, da primeira Missão Rural de Educação de Adultos, do
Ministério da Agricultura. No período 48-52, os professores da
Escolinha promoveram conferências, debates, exposições e
cursos especializados em Belo Horizonte, na Fazenda do Rosário,
em Rezende, em Recife, Salvador, Porto Alegre. Santa Maria —
entre outras. Um grupo de alunos da Escolinha foi em excursão ao
Rio Grande do Sul, levando peças de sua autoria com fantoches e
cenários criados por eles.
Fabricação, pela criança, do próprio brinquedo.
Em 1950, a Escolinha participou da Exposição Internacional de
Arte Infantil em Londres. Em 51, trouxe ao Rio e fez percorrer
várias cidades uma exposição de pintura de crianças argentinas. A
Escolinha mostrou, na sua sede, trabalhos em cerâmicas das
crianças da Fazenda do Rosário. Ainda em 51, realizou uma
Exposição Didática de Gravura, um curso de Fotografia, em
combinação com o Instituto Nacional de Cinema Educativo e, sob
o patrocínio do Ministério da Educação, a primeira Exposição
Nacional de Arte Infantil, com 1.500 trabalhos de vários estados.
Nesse período, a Escolinha contava com as seguintes atigidades:
desenho, pintura, pequenas plásticas, teatro de fantoches e de
máscaras, jornal escolar, recortes, gravuras em linóleo e em
chapas de cobre, tecelagem, iniciação musical e bandinha rítmica,
excursões.
"Na Escolinha de Arte do Brasil, graças à sabedoria de seus
orientadores, não há dia disso nem dia daquilo. Aqui se
compreende que o garoto se interesse hoje por determinados
assuntos e, dentro de uma semana ou um mês, por outros, em
relação aos quais está sensibilizado. E não lhe negam o direito de
usar e abusar de suas sugestões; de atirar sua imaginação livre
na folha de papel, de misturar com as tintas e os pincéis; de
expressar sua personalidade, sem entraves de qualquer espécie.
• • •
A arte não é simples passatempo, embora alegremente praticada
como um jogo; é fator importante na formação da personalidade;
ajuda a criança a enfrentar os problemas presentes e futuros e a
preservar sua integridade e seu equilíbrio".
(Reportagem de Flávia da Silveira Lobo, no Correio da
Manhã. 10 de agosto de 1952, "Arte, fator importante na
formação da personalidade").
"A Escolinha de Arte do Brasil estimulara a auto-expressão da
criança através de atividades artísticas e recreativas, provera os
meios materiais e as oportunidades de aprendizagem das diversas
técnicas de arte; estudara o desenvolvimento artístico da criança,
em todos os aspectos; difundira os resultados obtidos; estimulara
a criação de escolas do mesmo gênero; estabelecera intercâmbio
com entidades congêneres nacionais e estrangeiras; pugnara pelo
reconhecimento social da arte infantil; favorecera a especialização
de professores para o ensino e orientação de atividades artísticas
e recreativas".
(Reportagem de Flávia da Silveira Lobo, no "Correio da
Manhã", 3 de agosto de 1951. "Criança: artista por
natureza").
"Na Escolinha, o professor — no sentido lato que damos à palavra
— não existe. Porque sua finalidade, aí, não é ensinar o que a
criança deve fazer, obrigando-a a concluir traba-
Ihos ou seguir técnicas. Não. Seu objetivo é completamente outro:
é proporcionar às crianças ambiente favorável ao seu
desenvolvimento, estimulando-lhes a auto-expressão, inclusive
promovendo os meios materiais e as oportunidades para a
aprendizagem das diversas artes, sem, no entanto, anular-lhes a
iniciativa com disciplinas e teorias. 0 princípio básico da Escolinha
é respeitar a individualidade de seus pequeninos alunos. Não se
cuida, pois, de formar artistas, subordinando-os a regras
acadêmicas, nem também de alimentar vaidades. Seu propósito é
desenvolver, num ambiente de recreação sadia, as faculdades
criadoras das crianças em todos os seus aspectos artísticos".
(Reportagem de Natalicio Norberto, em 0 Tempo. 2 de
outubro de 1952 — "Criam as crianças seu mundo de arte").
com a presente exposição, terá o público nova oportunidade de
verificar os resultados de nosso método de ensino de arte infantil,
depois de três anos de experiências. Preservar a espontaneidade
da infância constitui a base desse método. E preservar sua
espontaneidade é afastar ou impedir que na criança se formem
umas tantas inibições que ela tende a adquirir entre os adultos,
por uma pedagogia mal orientada, a desatenção dos pais e a
incompreensão geral do que seja a alma infantil como força
criadora e fonte de poesia. Não falando nos transtornos psíquicos
e morais que lhe advêm quase fatalmente quando contrariada em
suas tendências espontâneas, entre as quais predomina a
atividade imaginativa — cumpre não apenas deixar que a criança
seja livre, mas dar-lhe também ambiente e condições para que
possa exprimir, sem constrangimento, seu mundo maravilhoso.
Ser-lhe-á assim propiciado o uso criador, mas não desatinado da
liberdade. Sabendo-se valorizada pelo adulto, a criança adquire e
aumenta a confiança em si mesma, torna-se mais alegre e feliz e
— o que é de observação corrente — mais natural e comunicativa,
socialmente, à medida que começa a exprimir-se pela arte.
Esse critério de apelar para a espontaneidade da criança, de
deixar que ela se exprima como queira, num ambiente em que vê
outras crianças desenhando, pintando e modelando, não só lhe
aguça a percepção plástica e colorida das coisas, como lhe traz,
diante de si mesma, a certeza de que adquire dignidade nova. Ela
mesma descobre suas falhas e encontra sua própria disciplina.
Sente-se importante em seu mundo desde que não a atrapalhem
os adultos. Se a ajudam, tanto melhor. É o que temos procurado
fazer. Mas essa ajuda consiste mais em assistir do que em
intervir. E se intervenção há, é indiretamente; mas tão discreta que
mais parece uma troca artística em que os professores são
também beneficiados pelo sopro refrescante de poesia que vem
da alma infantil.
Essa a orientação seguida não só na Escolinha de Arte, como em
diversos orfanatos, organizações educacionais e
cursos privados, aos quais estamos irmanados à apreciação do
público. Que este se regozije conosco pelos resultados obtidos —
prova do acerto de nossos métodos e prêmio aos nossos
esforços. Se o confessamos, não é por imodéstia: a glória não é
nossa, é das crianças.
(Texto redigido por Aníbal Machado, para um catálogo.
Não foi publicado. Datilografado, com correções
manuscritas, do autor — 1951.)
A criança e a natureza
Ficar na escolinha era bom — isso era o depoimento unânime das crianças. Os pais se
admiravam com uma escola de onde seus filhos não queriam sair e à qual não gostavam de
faltar. Daí, a surgir uma atividade para os fins de semana, foi um passo. A Escolinha era no
centro da cidade, no alto de um prédio. Por mais que surgissem plantinhas cultivadas pelas
crianças, os professores perceberam a necessidade de se fazer alguma coisa ao ar livre, em
contato com a natureza. 0 Parque Guinle, em Laranjeiras, era aberto ao público e de fácil acesso
para quem vinha dos mais diversos pontos da cidade. com pouco tempo, instituía-se o domingo
ao ar livre: crianças soltas pelo parque, correndo, brincando e, se quisessem, desenhando e
pintando. O prazer de criar na Escolinha durante a semana se prolongava na alegria dos fins de
semana no parque Guinle.
Além do benefício direto à criança, a experiência do parque resultou num benefício indireto.
Quando a Escolinha foi despejada da rua México, e a campanha pela sua continuidade ganhou
os jornais, Augusto Rodrigues recebeu um telefonema de alguém que, com a convicção de que a
Escolinha não podia fechar, se colocava à disposição para resolver o problema. Era o Almirante
Lúcio Meira, do Ministério da Viação e Obras Públicas. Através dele, a Escolinha conseguiu o
local da avenida Marechal Câmara. Lúcio Meira tinha conhecimento do trabalho da Escolinha,
apenas por observar as crianças brincando no Parque Guinle, que ele via da janela de seu
apartamento. E ele sabia que uma escola que promovia uma atividade como aquela não podia
fechar por falta de sede.
"... aos sábados e domingos as crianças se reuniam às nove horas da manhã na Biblioteca do
Ipase. Em frente à Biblioteca Nacional tinha um pàtio e dali saíamos para tomar um bonde e
íamos para o Parque Guinle, em Laranjeiras, onde não havia ainda o Palácio do Governo. . .
Nós.. . íamos com as crianças, elas pintavam, se deitavam, corriam, inventavam, dramatizavam.
Até que um pai resolveu vir, um casal, depois veio outro e depois de pouco tempo a reunião não
era de crianças e professores e da natureza, era de pais, crianças, professores e da natureza. Os
pais nessa hora tinham oportunidade de conversar com os professores e apreciar sua criança em
liberdade e no uso pleno da sua criatividade e de sua responsabilidade. Não havia necessidade
de que ninguém tomasse conta de ninguém ... Até hoje encontro algumas pessoas que
passavam por ali, se agregavam, viviam a experiência do grupo e depois iam me procurar na
Escola.
Muitas vezes nos deitávamos para olhar o céu. Experiência que vim a fazer depois e que
provocou um certo espanto, quando, na Fazenda do Rosário, com professores, depois de
subirmos uma montanha, cada um com papel para tomar nota, ... e eu disse: 'Nós subimos esse
morro. Agora acho que vamos passar algum tempo deitados olhando o céu. Depois, se vocês
quiserem, podem se sentar e olhar as montanhas e depois, se tiverem vontade de outra coisa
qualquer, podem fazer, desenhar ou escrever'. Eles deitaram um pouco sem jeito, até que foram
relaxando e entendendo que
Nos dias de descanso, os alunos podiam ir ao Parque Guinle (Laranjeiras), em companhia das
professoras, para um outro tipo de recreio.
deitar e olhar o céu não é uma coisa tão estranha e que olhar montanhas é também uma coisa
muito normal. As crianças se deitavam, depois corriam, brincavam".
(Do depoimento de Augusto Rodrigues)
Reportagem feita pela REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO, intitulada uma Escola de
Arte Livre para Crianças", apresenta uma definição dos principios gerais que orientam
as atividades da Escolinha de Arte:
"1. Só é possível o ensino dé-desenho. como das artes em geral, dentro de um conceito
amplo de liberdade e, simultaneamente, de respeito à espontaneidade da criação
artística.
2. Quando as várias disciplinas de arte funcionam harmonicamente na escola, há um
enriquecimento geral do conhecimento adquirido pela criança de cada disciplina, em particular
pelo fato de que essas disciplinas se interpenetram e abrem às crianças horizontes mais amplos.
3. 0 professor de desenho, como de arte em geral, deve saber que o trabalho da criança deve
ser livre e que ao professor cabe apenas transmitir-lhe as técnicas, o conhecimento dos materiais
e dar-lhe o ambiente propicio á criação".
As crianças falam
"Preciso mesmo falar um pouco desta Escolinha de Arte que, até
pouco, nem nome tinha. Forarn os próprios alunos que batizaram
o lugar, tão querido que nele aparecem todos os dias quando, na
realidade, ficou decretado que três dias da semana seriam
reservados para os grandes e três para os pequenos. Mas eles
fazem questão de vir todas as tardes e como impedir sua entrada
se a escola é deles?"
(Trecho do artigo "A Escolinha de Arte", de Yvonne Jean, na
coluna Presença da Mulher, Correio da Manhã, outubro,
1949).
"Eu cada dia melhoro mais. No princípio eu fazia um desenho
pequenito com muito medo de errar. Agora não. Eu faço com
papel grande, sem medo de errar".
(Diário de Iolanda, 13 anos).
"O barro na minha mão é um escravo. Faço dele o que quero.
Gosto de modelar".
(Recolhidos por Olga Obry, para um artigo intitulado "uma
exposição diferente", publicado no Diário Carioca, de 23 de
outubro de 1949.)
"Tive a infância mais feliz que uma criança poderia ter e
sempre que penso nela é a Escolinha que me aparece . ..
No meu tempo todos tomávamos conta da Escolinha, tínhamos a
impressão de que ela só existia porque cuidávamos
dela e que os professores só estavam ali porque, afinal de
contas, tinha que ter gente para ajudar a gente, para dizer
que isso ou aquilo era formidável ou muito bom e também
porque eles gostavam da gente. Ainda me lembro muito
bem como tinha medo que a Escolinha fechasse por falta de
dinheiro".
(Carta a Augusto de uma aluna — Irene Landau — da
primeira turma da Escolinha, com data de 20 de agosto de
1961).
"Vim para cá como um simples pequeno que rabiscava. Hoje pinto e desenho, modelo e gravo, e
tantas outras coisas. Qualquer um de nós dirá o mesmo. Para fazer um quadro com gosto, não
há como ter uma liberdade espiritual como a que temos na Escolinha. Há disciplina, e da melhor,
mesmo que feita unicamente por nós. 0 curso está mostrando ao adulto o que uma criança pode
fazer, que vale muito mais do que ele pensa. Cá não existe o complexo do primeiro aluno e a
amizade entre nós é grande. Há vezes que levemente nos desviamos, mas logo compreendemos
nosso erro. Chega-se à escola a hora que se quiser. No entanto, todos procuramos chegar cedo
e sair tarde.
Peço o obséquio ao professor Augusto de que fale, definidamente, aos presentes sobre o curso
e, professor, mostre que esta reunião foi organizada ex-clu-si-va-men-te por nós. Nenhum adulto
entrou-se no assunto. É só!"
(Trecho de discurso do aluno Nils Guilherme de Castro, na festa de 20 de outubro de 1949, no
salão-auditório do IPASE.)
'Eu devia ter meus 20 anos, mais ou menos, 18, uma coisa assim, quando, freqüentando a
Biblioteca Castro Alves, vi que numas mesas trabalhavam diversas crianças, desenhando. como
minha experiência de desenho na escote era muito rudimentar, fiquei curioso e me aproximei. Um
senhor que parecia dirigir aquelas atividades convidava qualquer pessoa que passava por ali.
Quem estava curioso, ele chamava. Eu fui e participei também do grupo. Desenhava, observava
os outros desenharem e fui ficando. Leitor da Biblioteca, passava sempre por ali e voltava um dia,
e fui voltando sempre, até hoje. . . A pessoa vinha, desenhava e freqüentava quando estava
satisfeita e quando não estava, não aparecia. . . Para mim, a Escolinha è exatamente isso: um
local onde se fica porque se está bem.
• •
Passaram pessoas pela Escolinha que se tornaram artistas, mas a função da Escolinha nunca foi
fazer artistas, criar fórmulas para alguém se tornar mestre em alguma arte.
* •
0 ambiente era o mais informal possível. Havia professores, havia mesas com material, na parte
dos cursos de criança tinha tinta, guache à vontade, papel para a pessoa escolher. Aqueles que
queriam desenhar, desenhavam, quem queria pintar, pintava.
• •
Porque realmente o professor em determinados cursos na Escolinha não è mais do que uma
pessoa que procura sacudir um pouco o aluno. Não precisava naquele tempo de um professor
com títulos ou com experiência muito ampla. Então uma pessoa que pudesse reunir o material,
guardar o material, orientar o aluno, ajudava".
(Trechos de depoimento de Jorge Santos, ex-aluno, diretor da EAB, de uma das primeiras
turmas de alunos — 48 49.)
Fazendo jornal
"0 Jornal, para muitos, não é novidade, aliás o mesmo se passa
comigo. No ano passado, a idéia nasceu e morreu depois de uma
agitação enorme ... Os alunos eram poucos, as atividades ainda
menos, nunca havíamos escrito nos diários. . . Tudo isso
concorreu para que falhasse aquele esforço. . .
Nasceram mais atividades, vieram mais alunos e a sociabilidade
no curso cresceu. Eis aqui o jornal triunfante! 0 professor Augusto
chamou-nos em reunião, e depois de tantos dias de debates
fomos aos poucos concordando uns com os outros e o nosso
jornal se formou... e ei-lo publicado! Eis aqui as normas diretoras
do jornal:
1. O jornal ó dirigido por uma comissão de cinco membros,
escolhidos por plebiscito.
2. A eleição será completamente livre e o voto secreto.
3. Só podem ser votadas para a comissão, crianças com mais de
dez anos.
1, 2. 3. 4 — Filme de Natal — desenhos e estória criados pelas crianças do CAAC (Curso de Atividades
Artísticas para Crianças), orientadas pelas professoras Silvia Ademe e Maria Luiza Saad.
5 — Luiz Augusto, 6 anos, aluno do CAAC — 1967.
6 — Mônica, sem indicação de idade, aluna do CAAC — 1967.
7 — Maria Tavares Cavalcante. 6 anos. aluna do CAAC — 1968.
8 — Débora, 5 anos. aluna do CAAC — 1968.
9. 10 — Daniel Antunes Marinho, 17 anos. aluno do CAAJ (Curso de Atividades Artísticas para
Jovens) — 1975.
55
11 — Teatro de Bonecos. CAAC — sem indicação de data.
12 — Teatro de Sombras: Trabalhos de crianças de 7 a 11 anos sob a orientação da professora
Regina. CAAC — 1973.
13 — Teatro de Sombras: Apresentação d peça "O menino e o coelho" sob a orientação da profes- a
sora Maria Tereza. CAAC — 1976.
.
14 — Trabalho de Nilson Pereira dos Santos, servente da EAB — 1978.
15 — Celina Ademe, adulto. Atelier de Xilogravura e Gravura em Metal — 1965.
16 — Atividades desenvol das no Projeto "0 museu e a criança", realizado em convênio com vi
o MUDES — 1977.
17 — Maria Amélia Silva, adulto, aluna do Curso de Arte para Adultos e Jovens — período
1961-1964.
18 — Nilson Pereira dos Santos, servente da EAB — 1975.
4. Um mês e meio de curso, pelo menos, para serem eleitos.
5. Sendo de espírito livre, o curso, os artigos devem ser corrigidos o
menos possível.
6. Pedir-se-á sempre ao redator de um artigo que o revise o mais
possível, ete próprio".
(Nils Guilhermo Castro, "Apresentação" do jornal O GRILO,
n° 1, mimeografado e colorido a lápis, exemplar por
exemplar).
0 primeiro número do jornalzinho da Escolinha (ainda chamada Escolinha de Arte da Biblioteca
Castro Alves) não traz data, mas circulou em fins de 1949. Nele escreviam Nils, Irene Landau —
descrevendo os domingos no Parque Guinle —, Hilda e Yolanda Bottino, Jorque Santos e Jacob
Goldemberg — falando sobre as aulas de gravura e o teatro de fantoches. Os redatores do jornal
deixavam espaços para as fotografias que eram coladas em cada exemplar.
uma notícia na última página do n° 1 do GRILO: "Na mesma ocasião em que estamos lançando
O GRILO aparecerá a primeira publicação da Editora Escolinha. Foi escolhido para iniciar o
trabalho da Editora a peça para fantoches: '0 Cavaleiro Negro' de Nils Guilhermo Castro com
ilustrações do autor. Em 1950 a Editora apresentará novas peças de teatro e vários livros".
A promessa de "vários livros" não se concretizou, mas existem no arquivo da EAB algumas
peças escritas e ¡lustradas pelos alunos como "A Pastora e o Toureiro", "peça em três cenas de
Irene e Jacob", editada como suplemento de 0 GRILO. 0 número 2 (março de 1950) e o número
3 (maio de 1950) encerram a breve e significativa história do jornalzinho. Os dois últimos
números foram impressos e traziam notícias da expansão da idéia da Escolinha pelo Rio Grande
do Sul, da visita feita pelos alunos do Rio ás crianças gaúchas, poemas, gravuras e fotografias
documentando a vida na Escolinha de Arte.
A Escolinha vai expor pinturas e desenhos de crianças argentinas
"Chegou recentemente da Argentina a professora Marta Dias
Lopez. Esteve em Rosário de Santa Fé onde entrou em contato
com os CLUBES DE MENINOS PINTORES, clubes freqüentados
por cerca de 900 jovens e dirigidos por 'el maestro Esteban
Ocaña'. . .
A professora Dias Lopez trouxe uma mensagem dos meninos
pintores para os alunos da ESCOLINHA DE ARTE DA
BIBLIOTECA ADMINISTRATIVA CASTRO ALVES e além disso
um vasto material selecionado que será apresentado, ainda este
mês, em uma exposição no recinto da Biblioteca Demonstrativa
Castro Alves".
(0 GRILO, n° 2, março de 1950)
Os meus desenhos de dança
Sempre no curso de pintura, quando eu pergunto a alguém: "Que
é que você vai pintar hoje?", a resposta é sempre a mesma: "Eu
não sei, e você? Ah, já sei, para variar, você vai desenhar
bailarinas".
E quando me perguntam: "Você tem alguma idéia para pintar um
quadro?", e eu respondo: "Ainda não", sempre alguém diz: "Então
vai pintar bailarinas". Todos na Escolinha gostam de balé, mas
ninguém pinta balé. Por quê? Dizem que não sabem. Não sabem
porque não querem. Eu também não nasci pintando bailarinas. Foi
pouco a pouco e desenhando muito que consegui desenhar como
desenho hoje.
Eu não desenho bem, mas perto do que era antes! Aliás eu tenho
certeza de que chegarei um dia a isto, se continuar desenhando,
desenhando muito e sempre. Ontem fui a uma aula e fiz croquis
do natural e de ontem para hoje sei que fiz um imenso progresso.
Fiquei tão entusiasmada que, quando cheguei em casa, comecei
a desenhar tudo com furiai Meus pés, as cadeiras, o relógio,
minha mão e ató o pano de pó.
pela primeira vez na minha vida fiquei contente de estar resfriada,
pois isto permitiu que assistisse à aula e que assim descobrisse
mais uma coisa para o aperfeiçoamento de minhas dançarinas.
(Irene Landau, O GRILO, 2, março de 1950)
A história de nossa Escolinha
Vou tentar contar a história de nossa Escolinha desde maio de
1948 até abril de 1950.
No primeiro dia compareceram uns dez alunos. A aula foi
simplesmente de desenho. Todos estavam espantados com a
liberdade que lhes era dada para desenhar o que quisessem.
uma semana depois, tivemos a primeira aula de pintura, seguida
de outras de modelagem em barro, pequenas plásticas e
fantoches.
As aulas eram duas vezes por semana: passaram mais tarde para
três e, enfim, para todos os dias. Naquela época havia poucos
alunos. À medida que esse número foi aumentando, o professor
Augusto teve de modificar o horário, ficando estabelecido que
para maiores de 9 anos a aula fosse às segundas, quartas e
sextas e, para menores às terças, quintas e sábados. Mais ou
menos na mesma ocasião demos o nosso primeiro passeio de
domingo durante o qual desenhamos o natural e fizemos uma
porção de coisas.
Depois cada um de nós, maiores, ganhou um caderno no qual
escreveríamos o que quiséssemos. 0 Sr. Augusto arranjou-nos aulas
de fantoches aos sábados no Pestalozzi.
Ultimamente temos feito tecelagem e também um jornal, O GRILO
que é, talvez, uma das nossas mais importantes atividades.
(O GRILO, n° 3, maio de 1950)
uma INSTITUIÇÃO DIFERENTE
uma visita qua ficou: Noêmia Varela
Em 1949, a jovem professora Noêmia Varela — que já se destacava em Recife trabalhando em
educação especial na Escola Ulisses Pernambucano — veio ao Rio de Janeiro estabelecer
contatos com pessoas e entidades ligadas ao mesmo tipo de trabalho. Um de seus objetivos era
conhecer uma experiência pequena que completava um ano de trabalho: a Escolinha de Arte.
A experiência a encantou de tal maneira que, voltando ao Recife, manteve-se ligada ao pessoal
da Escolinha através de intensa correspondência, troca de idéias, sugestões de leitura, fichas,
relatos de casos. Depois de um estágio na Argentina, com a Dra. Carolina Tobar Garcia, em
1951, Noêmia reassumiu com novo ímpeto o trabalho em Recife: era agora diretora da Escola de
Educação Especial Ulisses Pernambucano e professora de Didática na Escola de Belas Artes.
Em 1959, a opção que daria novo rumo à sua vida e ao seu trabalho. Em 1953, Noêmia chamou
Augusto Rodrigues para dar um curso em Recife, reunindo o que havia de mais significativo em
arte e educação na cidade. Deste curso nasceu a Escolinha de Arte do Recife, que veio a se
tornar um dos focos mais importantes na expansão da filosofia da Escolinha e do movimento
arte-educação no Brasil. Em 1959, optando definitivamente pela Escolinha de Arte do Brasil,
Noêmia veio para o Rio e integrou-se na equipe.
como diretora técnica e depois diretora geral da EAB, conduziu-a através das sucessivas crises,
até os dias de hoje.
"A Escolinha funcionava na entrada da Biblioteca Castro Alves: havia plantas, havia as mesmas
mesinhas que estão hoje lá, havia uma arrumação mais livre. Aquelas poucas mesas, aquelas
cadeiras, cerca de vinte, vinte e cinco crianças de idades diferentes e uma Jovem professora
Lúcia Alencastro Valentim atendendo àquelas crianças sem assistentes. E elas livremente
apanhando seus diários, fazendo suas pinturas. Aquele grupo trabalhava, e Augusto Rodrigues
atendia também às crianças, mas quando chegavam visitas como era o meu caso atendia
aos visitantes. Enquanto eu olhava as crianças trabalharem tão poeticamente, ouvia a voz de
Augusto falando sobre Herbert Read, as experiências, o interesse e a importância de auto-
expressão. Aquilo tudo me encantou mas me encantou sobretudo o ato, o fazer, a ação da
expressão da criança".
• • •
"Em 1959 deveria reassumir (a cadeira) . . . Este foi um passo decisivo que tomei. Deixei a
cadeira na Escola de Belas Artes e passei à vida provisória-permanente, à fluência da Escolinha,
à riqueza da Escolinha. E também o imprevisível momento do seu fim. Porque tudo è transitòrio
na Escolinha. Desde 59 vivemos em crise. Eu ainda não sal dela. Estamos sempre fechando,
sempre mergulhando e levantando a cabeça fora d'água".
(Do depoimento de Noêmia Varela, para a pesquisa)
"0 maior defeito da Escolinha è a timidez no debate de idéias pedagógicas e estéticas, de certa
maneira evitando-o por convidar como professores e conferencistas apenas as pessoas afinadas
com uma suposta linha de pensamento da Escolinha. Esta linha não è definida claramente e
espero que nunca seja, pois isto levaria à cristalização total. A suposta linha em nome da qual
algumas pessoas não são ouvidas e não têm discutidas as suas idéias fíca então sujeita a
definições de caráter pessoal e a exclusões preconceituosas, também pessoais.
Noêmia Varela me parece o fiel da balança, nestes casos. Mas, depois dela, a estrutura
estabelecida permitirá a emergência de outro fiel de balança?"
(Do depoimento de Ana Mae Tavares Barbosa)
"Creio que a fundação da Escolinha reuniu no auditório do IPASE perto de 100 pessoas. Eram
psicólogos, pais, educadores, estudantes, alunos da Escola de Belas Artes, que juntos iam
formar a Sociedade Civil, com estatuto e tudo. Demorei 4 anos para fazer isso, porque já tinha
participado de algumas entidades e com alguma experiência. Em geral, as entidades se
organizam e fazem um estatuto, se elege uma diretoria e depois de um ano ou dois se faz uma
reunião para destituir uma diretoria e para fazer outros estatutos. Só quando havia um grupo
muito consciente do que se estava querendo e fazendo é que se institucionalizou a Escola".
(Do depoimento de Augusto Rodrigues)
Em busca de uma sede
A peregrinação da Escolinha de Arte do Brasil em busca de uma sede fixa é ilustrativa de suas
dificuldades. Nascida no corredor da Biblioteca Castro Alves, no prédio do IPASE, na rua Pedro
Lessa, a Escolinha teve que se mudar para a rua México. Gom a exigência de devolução do
imóvel, feita pelo proprietário, a Escolinha estava novamente na rua. Desta vez a imprensa
assumiu o problema e a campanha cresceu. Professores, pais, jornalistas, escritores,
educadores, autoridades se pronunciavam em defesa do trabalho da Escolinha que não podia
ser interrompido, nem muito menos extinto. 0 Ministério da Viação e Obras Públicas — através
do Almirante Lúcio Meira — colocou um galpão que servia de depósito de bujões de gás à
disposição da EAB. 0 depósito ficava no último andar de um prédio na avenida Marechal
Câmara. Os sonhos de sede própria foram muitos. Houve um decreto prevendo a doação de um
terreno no Aterro da Glória para construção da sede da Escolinha. Mas não havia recursos para
um investimento de tamanho vulto. Depois, pensou-se no parque Laje, onde um galpão enorme,
que antigamente era cocheira, teria que ser adaptado. 0 custo também era altíssimo e a idéia
teve que ser abandonada. Finalmente, a Escolinha mudou-se para Botafogo, perto da entrada do
Túnel Novo em direção a Copacabana. Ali, duas casas brancas, com janelas e portas azuis,
recebem diariamente uma pequena legião de crianças, adolescentes e adultos em busca de
cursos e da oportunidade de criar em liberdade.
Anísio Teixeira, a presença de um educador
Anísio Teixeira, professor, educador, criador da Escola Parque de Salvador, secretário-geral da
CAPES (comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) em 1951 e, a partir de
1952, diretor do INEP (na época. Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos), foi, sem dúvida,
uma das maiores figuras da história da educação no Brasil. Entusiasta da experiência da
Escolinha de Arte do Brasil — como se pode ver nos seus textos —, ele foi acima de tudo seu
grande incentivador e esteve presente nas crises mais difíceis da vida da Escolinha.
Anísio era presença constante nos cursos, conferências, exposições, almoços e festividades da
Escolinha. Mobilizava recursos humanos e financeiros nos vários momentos em que a EAB
esteve perigando. No contato pessoal, intenso e constante, com Augusto, Noêmia e demais
professores e diretores da Escolinha, Anísio, além de amigo, era o mestre instigador e
provocante, que levava à reflexão, ao questionamento e ao passo adiante.
Em maio de 1954, a pedido da Direção do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, a
professora Lúcia Marques Pinheiro fez um levantamento das atividades da Escolinha de Arte e
elaborou um relatório em que dava seu parecer sobre a Escolinha e recomendava o apoio do
INEP.
Depois de enumerar as atividades e cursos promovidos pela Escolinha, o relatório passa a
analisar sua perspectiva.
A orientação da Escolinha de Arte, no que diz respeito aos
alunos das fases infantil e juvenil, não é dirigida de nenhum modo
pela preocupação de formar artistas, muito embora se creía que,
onde haja as condições pessoais para tal, a maneira como essas
crianças e jovens são conduzidos é a mais favorável ao feliz
desenvolvimento de suas vocações e aptidões. Fundamenta-se a
Escolinha de Arte na concepção, aliás atualmente largamente
difundida entre os profissionais da educação artística, apoiados
por alguns psicólogos de valor que se dedicaram ao assunto, de
que as atividades artísticas têm um alto valor no desenvolvimento
harmonioso da personalidade e na formação de certas atitudes.
Defendem os adeptos dessa orientação, a tese de que, se não
tivermos essa preocupação, além de sermos ineficientes na
tentativa de colimar objetivos artísticos e técnicos, de menor
importância para o conjunto de alunos, estaremos perdendo a
oportunidade de obter efeitos muito mais importantes, já para o
próprio desenvolvimento artístico, já para a educação em geral.
Esses objetivos seriam, entre outros:
a) a vivência e a alegria de criar, de realizar, por si só, sem
auxílio alheio, algo de concreto e que é valorizado pelo adulto
(que o expõe);
b) a possibilidade de exprimir desejos, preocupações, alegrias,
conflitos, inquietudes, sem reação do meio, e, sequer,
compreensão de que se está agindo dessa maneira (essa
expressão das necessidades subjetivas tem, segundo um grande
número de autores, um efeito favorável sobre o equilíbrio
emocional);
c) adaptação ao 'real — a suas limitações exigidas pela
necessidade de lidar com instrumento e material fixados que
importam em dificuldades a vencer para a obtenção do efeito
visado, e com a evolução psicológica, de manter-se fiel às
características da realidade que se pretende representar;
d) a capacidade de melhor compreender a si próprio e aos
demais, pela penetração no mundo subjetivo que a arte permite;
e) o espírito de disciplina, adquirido na situação real mais
favorável, pois que a disciplina estética do ritmo, da proporção,
do equilibrio é uma disciplina natural e. por excelência, valiosa
por isso mesmo;
f) o desenvolvimento de aspectos da personalidade que na
educação tradicional são inteiramente abandonados, relativos à
sensibilidade, ao sentimento, à emoção. O trabalho da Escolinha
de Arte se presta, sobremodo, a esses estudos relativos aos
resultados de orientação em causa, bem como a outros, como,
por exemplo, o do desen-
volvimento da coordenação motriz necessária à escrita, através
das atividades que propicia à criança. Além disso, o material que
já possui — alguns milhares de desenhos — permite estudos
vários sobre o desenvolvimento intelectual, afetivo, social da
criança. Assim, para o da evolução da noção de perspectiva, de
adaptação ao real, da capacidade de observação, dos interesses
infantis e tantos outros.
Além dessa oportunidade de estudo de material já coligido e de
servir de campo para experiência no terreno geral da educação,
no setor psicológico normal e desajustado e, em particular, no da
formação de certas atitudes, a Escolinha de Arte ó também
interessante como instituição a ser utilizada para estágios de
professores de ensino artístico. Sou de parecer que essas
oportunidades — do maior interesse para o INEP — deveriam ser
aproveitadas".
"A criação de Augusto Rodrigues cai já no conceito mais amplo de
nosso século, representando inovação corajosa, que a
sensibilidade do artista procurou disfarçar na designação mimosa
e feliz de escolinha de arte. Trata-se de instituição, hoje
espalhada por vários pontos do país, proposta a oferecer à
criança nada mais e nada menos que oportunidade para
atividades de criação artística. Representa, no Brasil, alguma
coisa que se podia considerar óbvia, e que, entretanto, é, no
gênero, talvez, o que de mais significativo se faz entre nós no
campo da educação infantil. Na imensa aridez da paisagem das
escolas nacionais, paisagem que lembra aspectos de nossos
desertos, as escolinhas de arte são oásis de sombra e luz, em
que as crianças se encontram consigo mesmas e com a alegria
de viver, tão deliberadamente' banida das escolas' convencionais
de 'retalhos de informação", secos e duros como a vegetação
habitual das zonas áridas. Mas não é somente a escolinha de arte
uma inovação pedagógica. É também inovação do próprio
conceito de arte, pois esta já não é a atividade especial de
criaturas excepcionais, mas atividade inerente ao senso humano
da vida. que, felizmente, ainda se pode encontrar nas crianças
que não foram completamente deformadas pelos
condicionamentos inevitáveis da instrução morta e fragmentada
das escolas convencionais. É essa a grande motivação das
escolinhas de arte de Augusto Rodrigues. Ele não está a treinar'
artistas, mas a dar às crianças oportunidade para a mais
educativa das atividades, a atividade da criação artística."
(Anísio Teixeira, "As escolinhas de arte de Augusto
Rodrigues, em Arte & Educação, n° 1, de setembro de 1970)
"Para muitos, devido às dicotomías, divisões e separações da era tipográfica. Augusto
Rodrigues está, apenas, dando às crianças chances para um recreio' artístico, como as dariam
os museus e as galerias de arte. Mas, na realidade, está a educar a criança, pela forma mais
alta, mais inteligente e mais reparadora e integrativa, que hoje possuímos para curar-nos das
falsas deformações, que nos está ou irá impor o mundo de valores mortos ou moribundos de
nossa civilização em transição.
Dia virá em que a alta e grande experiência das Escolinha de Arte, aparentemente modesta e
acidental', será a maciça e universal experiência de nossas escolas. Augusto Rodrigues é quem
está no presente '. Mas nossa experiência comum está hipnotizada pelo passado que continua
onipresente em nosso inconsciente. McLuhan afirma, num de seus livros, que o presente é o
futuro do futuro. Surge dentro do passado, è antevisto por alguns contemporâneos, mas somente
será vivido e sentido por todos, duas fases adiante de seu real e escondido aparecimento".
(Anísio Teixeira, setembro de 1970)
"Salvo a Escolinha de Arte de Augusto Rodrigues, a Escola
Doméstica de Natal, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica,
únicas escolas, ao que eu sei, independentes, não há uma só
originalidade, uma só audácia, um só exemplo dessa estranha
capacidade brasileira de conciliar o seu retardamento histórico
com o que há de mais moderno e atual".
(Artigo de Anísio Teixeira — "Deitado em berço esplêndido e
mal educado" — publicado na revista SENHOR, ano I, n° 1.
março de 1959.)
uma inglesa descobre o Brasil
Seonaid Robertson pertence ao grupo de artistas e educadores que, na Inglaterra, se dedica à
renovação do ensino da arte. Etnóloga e professora da Universidade de Leeds. é autora do livro
Creative Crafts in Education prefaciado com palavras de entusiasmo pelo eminente crítico Sir
Herbert Read. Em 1959, a convite da Universidade do Recife e da Escolinha de Arte do Brasil,
Miss Robertson esteve no Brasil, ministrando cursos sobre a função da arte e do artesanato na
educação, tendo visitado nessa ocasião, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Brasília e Rio de
Janeiro.
Em artigo publicado no número 3 da revista Education through Art, órgão da Sociedade
Internacional de Educação através da Arte (INSEA), ela afirma:
Tanto quanto me seja possível, após um período de quatro meses
em diversas regiões do país, resumir a situação da educação
artística no Brasil, direi que essa educação parece depender, em
grande parte, de um punhado de professores agrupados em torno
de um único homem, Augusto Rodrigues, o primeiro a criar um
verdadeiro centro de aglutinação e a aplicar métodos mais lógicos
de enfrentar os problemas. Augusto Rodrigues é um homem que
se preocupa com o tipo de educação que, inclusive, lhe foi dada, e
que se tortura vendo a falta de oportunidades para o trabalho
criador nas escolas. Sua ação, visando estimular a educação
artística no Brasil e nos países vizinhos, se exerce principalmente
através da Escolinha de Arte do Brasil, onde são dados cursos
para criança (nos dias de semana, à tarde e sábado, pela manhã)
e para adultos (à noite). Rodrigues, ele próprio um artista (coisa
curiosa: é caricaturista), desenvolveu numerosos processos para
liberar o espírito criador das pressões das inibições e da falta de
autoconfiança que caracterizam o antigo sistema educacional.
No momento, praticam-se na Escolinha vários tipos de desenho,
pintura, modelagem, confecção de marionetes etc. Numa
ambiência de liberdade, onde tudo é caloroso, sem cerimônia e
exuberante, as crianças e os adultos são felizes e se sentem à
vontade. No térreo, com acesso para a rua, existe uma excelente
sala de exposição onde são exibidos, regularmente, trabalhos de
crianças estrangeiras, obras de artistas contemporâneos, bem
como reproduções que servem para ilustrar o curso da História da
Arte. Isto não deve induzir ninguém a crer que uma tal atitude
para com a educação, através da arte, seja típica em todo o país.
E justamente porque as Escolinhas são originais e atípicas que
elas se revestem de uma importância maior que seu tamanho".
Ela deu aulas no Curso de Atividades Artísticas e Recreativas, organizado pela Escolinha de
Arte do Brasil, de 20 de maio a 30 de junho de 1959. e em carta de despedida a suas alunas,
conta:
"... Nosso começo com o barro foi a mesma coisa: experimentar e
descobrir, no próprio barro, alguma coisa de sua própria natureza
e aquilo que ele, por si mesmo, nos mandava fazer. Aqui, outra
vez, compreendo que pedi muito de vocês, com o tipo de
experiência anterior que tiveram, quando as convidei a se
sentarem sozinhas com o barro e a explorarem o material. Mas
vocês fizeram o trabalho e agradeço-lhes por isso, porque, para
mim, o primeiro momento em que me senti esperançosa foi
quando todas se sentaram muito quietas, com os olhos vendados,
explorando o barro. Também o esquecerei aquela manhã em
que deixaram de ser tão sérias e acadêmicas e se entregaram ao
prazer de olhar e cortar os frutos e partilharam do meu prazer com
todas as coisas novas que estavam para ser descobertas dentro
dos frutos. Vejam bem, com relação aos frutos brasileiros, sou
como criança — tudo era novo e excitante para mim . . .
Desta maneira, podemos incentivar as crianças a descobrirem e a
sentirem prazer nas coisas comuns e participar do prazer das
crianças, embora, por vezes, auxiliando-as a compreender que
isto é parte de um padrão mais amplo no tempo.
.. . Estou certa de que vocês notaram como nossas atividades
passaram, naturalmente, de uma a outra ... A educação, em
lugar de um número ¡solado de disciplinas ou habilidades, pode
ser um todo orgânico, se nós, educadores, a olharmos como tal...
Porém, só se aprende a viver, vivendo. Acredito que as coisas
que fijemos juntas foram vida, porque estávamos fazendo
experiências diretas, não estávamos lendo sobre experiências de
terceiros. Os livros são depósitos de conhecimento acumulado e
podem proporcionar enormes alegrias. Porém, não deveriam eles
ser utilizados para examinar e enriquecer o que nós e as crianças
experimentamos diretamente? E, em vez de serem uma barreira
entre a
criança e a vida. serem utilizados para comparar e ampliar nossa
experiência própria e real? O conhecimento e a sabedoria dos
livros só são vida quando ligados a uma experiência real de nós
mesmas. Do contrário, será um conhecimento morto, como a
madeira morta que não tem raízes para sugar a vida da terra; e
nós continuamos a oprimir as crianças, a sobrecarregá-las com
este conhecimento morto até que elas, gradativamente, vão
perdendo a vitalidade de, através da própria experiência, irem
buscar o conhecimento próprio. . .
Assim, os livros deveriam ser para as crianças um esclarecimento
e uma continuação de qualquer coisa que elas realmente tivessem
experimentado. Não permitamos que, para nós, os livros se
tornem um substituto da própria vida. Apenas na experiência direta
encontramos vida plena".
Em Minas Gerais, na Fazenda do Rosário de Helena Antipoff, Seonaid Robertson fez uma
pesquisa de aproveitamento de recursos naturais locais para a preparação de tintas. Assim, a
professora inglesa se familiarizou — e fez suas alunas se familiarizarem — com o urucum, o
barbatimão, a quaresminha, o pau-brasil, o ipê, o anil e uma série de outros materiais que
produzem cores diferentes para trabalhos de natureza variada. O curso de Miss Robertson
iniciou uma prática na Escolinha de trazer os grandes nomes da arte-educação no mundo para
— através de palestras, seminários, cursos regulares — ajudar a aprofundar a experiência no
Brasil
A criança e a cultura popular
A Escolinha de Arte do Brasil sempre foi um pólo aglutinador de artistas e educadores. Quem
quisesse dar qualquer contribuição àquelas crianças e jovens era bem-vindo. O número de
visitantes de todas as regiões do país e de todas as áreas de atividades é considerável. Basta
examinar alguns livros de assinaturas e impressões registradas pelos que passavam em visita à
Escolinha. Muitos desses livros se perderam ou perdeu-se o hábito de registrar cada visita. Mas,
dos registros que ficaram, pode-se concluir sem faltar à verdade, que o que havia de mais
significativo nas artes e na educação brasileira passou pela Escolinha e gostou do que viu.
Desde os primeiros anos, a Escolinha acolhia em cursos ou visitas, artistas populares. Augusto
Rodrigues fez questão de trazer de Pernambuco o Mestre Vitalino para encantar as crianças com
seus bonecos de barro e com música nordestina da banda de pífanos trazida por ele. Heitor dos
Prazeres, compositor e pintor, era presença constante nos almoços, nas atividades e nas festas.
Havia ocasiões em que levava pastoras e passistas, e as salas da Escolinha ferviam com o
samba.
A música popular brasileira sempre esteve presente. Sílvio Caldas, Marília Batista e Vanja Orico,
por exemplo, deram vários recitais, para as crianças e convidados da Escolinha.
Várias vezes houve exposição de artesanato popular. O intercâmbio com a Fazenda Rosário de
D. Helena Antipoff — uma grande incentivadora do artesanato — levava pessoal da Escolinha
para Minas Gerais a fim de observar in loco o trabalho dos artistas populares e trazia os artesãos
para o Rio de Janeiro.
uma IDÉIA QUE SE ESPALHA
A Escolinha de Arte, na própria cidade em que nasceu, começou a se desdobrar. Saindo do
prédio do IPASE, lá deixou a Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves.
Um primeiro grupo familiar ligado à Escolinha, mudando-se para o Rio Grande do Sul, sentiu
necessidade de continuar a viver a experiência, criando a Escolinha do Círculo Militar de Porto
Alegre. Além das constantes viagens de Augusto pelo Brasil, levando as idéias e iniciando na
prática um movimento, o primeiro traço de intercâmbio foi desenhado pelo grupo da Escolinha do
Rio que se deslocou para o Rio Grande do Sul — alunos e professores, sem os pais — para
levar teatro de fantoches e discutir sobre as experiências de ambos os estados.
Em 1950, nasce a Escolinha de Cachoeiro do Itapemirim. Em 1953, a do Recife. Dai em diante,
surgem escolinhas por todo o País. umas sobrevivem, outras se transformam, outras ainda não
agüentam as primeiras crises. Mas a idéia impulsiona novas experiências e a prática faz crescer
o movimento. As conclusões do Encontro realizado em 1972 dão uma perspectiva precisa e
válida para os dias de hoje, em termos do Movimento Escolinhas de Arte.
As escolinhas de arte
A sensacional revelação de que a criança é criadora por natureza
até seus dez anos e que, portanto, faz arte no mais puro sentido
intuitivo, devemos a Cizek que, em 1885, descobriu que a escola,
com seus métodos antinaturais, aniquila a expressão criadora
infantil. São suas as palavras: "A menor produção de uma
experiência íntima vale mais que a mais inteligente das cópias".
Apesar de Revaisson ter lutado por um sistema mais racional de
ensino, rebelando-se contra o desenho fundamental na geometria
que Guillaume implantara a partir de 1878, a escola continuava a
seguir os métodos formalistas de adestramento, partindo dos
elementos para as formas. Fora da escola a criança não fazia
arte. Podia ser auxiliar de artista, excepcionalmente, mas esse
papel era caracterizado pela imitação das maneiras de ser do
mestre. Cizek realmente descobriu a arte infantil ao encontrar, no
desenho espontâneo, aspectos plásticos surpreendentes. Em
1891, abre a primeira escolinha de arte infantil, com seus próprios
recursos e, alguns anos após, ela foi instalada na Academia de
Arte. O método que usou foi sempre o intuitivo.
Hoje, todos os países civilizados possuem escolinhas dessa
natureza.
No Brasil temos hoje 22 Escolinhas de Arte Infantil, destacando-se
a do Rio de Janeiro, a de São Paulo, a de Porto Alegre e a de
Recife. 0 iniciador da educação artística da criança brasileira foi o
pernambucano Augusto Rodrigues, desenhista, caricaturista,
pintor e jornalista nascido em Recife em 1913.
Sentindo a necessidade de professores integrados no verdadeiro
sentido da arte infantil. Augusto Rodrigues passou a dedicar parte
de seu tempo à formação de animadores, colocando o resultado
de suas experiências à disposição dos professores interessados.
Seminários e estágios são ali realizados, contando-se atualmente
em cerca de 2.000 os mestres que já passaram pela Escolinha
entre nacionais e estrangeiros. Seu trabalho tem hoje projeção
internacional. Faz parte da representação da América Latina na
UNESCO.
por ter participado da Fundação da Sociedade Internacional de
Educação através da Arte.
A compreensão do sentido revelador e formador das escoli-nhas
fez com que a arte infantil fosse levada em consideração, mesmo
fora das escolinhas. A Biblioteca Infantil Municipal de São Paulo,
por exemplo, mantém uma sala e um professor que orienta o
grafismo e a pintura da criança, promovendo exposições e
estimulando a produção. Parques, recantos, escolas primárias,
podem manter o desenvolvimento da atividade artística, bastando,
para tanto, a fundação de clubes de arte infantil, com reuniões
freqüentes em local preparado para as atividades. Escolinha de
Arte não é luxo de crianças abastadas. Hoje é considerada
necessária à formação do indivíduo. Por isso, devemos lutar por
oferecê-la a toda criança deste imenso mundo, se é que o
queremos melhor e mais pacífico. A arte une os homens e na
infância está o primeiro traço de união, já que o que caracteriza a
arte infantil é a universalidade.
(Capítulo XXII (págs. 161-165 do livro Arte Infantil na Escola
Primária de Dinorath do Valle Kuyumjian — S. Paulo—
1961)
Movimento escolinhas de arte
"O Movimento Escolinha de Arte é uma conseqüência natural da própria filosofia e dinâmica da
Escolinha de Arte do Brasil. Quando ela foi instituida. Augusto empenhou-se em seguir uma
diretriz educacional criadora. Sentiu que naquele momento era novidade uma classe de arte para
criança. Chamava atenção, mobilizava os interesses mais diversos, pessoas de formação
variada . . . Entendeu rápido que teria que difundir horizontalmente e que teria que passar a
mensagem porque era fundamental a importância daquela pequenina experiência, que nada
tinha a ver com o sistema escolar da rede oficial.
. . . Era uma iniciativa particular que não se constituiu em sociedade senão em 52.
. . .A fidelidade da Escolinha de Arte ao nome (e de cada Escolinha que compreendeu isto)
realmente foi muito positiva porque mostrou, com acuidade de compreensão, que não é o nome
que vai dar importância à experiência, è quem está na experiência, e o que é feito, e o resultado
e o processo dela, em termos de suas conseqüências no sistema educacional brasileiro. .
Na verdade, muitos artistas e educadores no Brasil e na América Latina fizeram experiências e
pesquisas na área de educação e arte.. . O que a Escolinha de Arte do Brasil fez e continua
fazendo de singular para mim é apresentar-se como proposta aberta, modelo gerador de novas
Escolinhas de Arte, modelo no sentido cientifico, não para ser imitado, mas para ser o ponto de
partida para a mudança. Ela nunca propôs a nenhuma Escolinha: 'faça o que eu faço'. Mas:
'tenha os fins, a expectativa, leve as atitudes geradoras de uma experiência coerente com o seu
meio'. Modelo gerador de novas Escolinhas de Arte diversificadas na medida do sonho e da força
criadora de seus fundadores. A Escolinha de Arte de Bagé, de Santa Maria, do Recife, de
Alagoas, de João Pessoa, de Cachoeiro do Itapemirim, representam realidades e resultados
inteiramente diversos. Mas estão ligadas à experiência Escolinha de Arte do Brasil dentro de
uma linha filosófica, dentro de uma atitude e expectativa, de uma forma de educação
inteiramente diversa da que caracterizava e caracteriza o nosso sistema educacional . ..
E se cada Escolinha pelos seus ideais e princípios — se liga à experiência-mãe da Escolinha
de Arte do Brasil, por outro lado caminha independentemente em seu processo de
desenvolvimento, autônoma na dimensão que lhe conferem aqueles que a constituem, que
fundamentam e orientam a experiência."
(Do depoimento de Noêmia Varella)
Primeiros contatos
Em janeiro de 1951, a convite do Diretor do Departamento Estadual da Criança do Estado da
Bahia, Augusto Rodrigues esteve em Salvador, em companhia da professora Ivete Vasconcelos,
para orientar, no Asilo N. Sra. da Misericórdia e no Educandário do Desterro, atividades artísticas
e recreativas. Augusto pronunciou uma conferência sobre "A arte como fator de formação e
desenvolvimento da personalidade da criança", seguida de debates.
"Nós fomos trabalhar na Bahia. Lá, duas coisas muito surpreendentes aconteceram. Numa
instituição eram 400 e tantas meninas: era só de meninas e muito fechada essa instituição. uma
vez, essas 400 meninas numa sala, a tensão dessas crianças era tamanha e a presença de um
homem tão rara, que de repente, no meio do salão, uma menina cai com ataque epiléptico. Era
muito difícil fazer compreender às freiras que essas meninas precisavam ter uma vida mais
normal, uma vida mais comum, sair um pouco, entrar em contato com as pessoas em geral. Na
outra instituição, a psicóloga estava em desentendimento com as Irmãs e isso provocava menos
ajuda à criança, ainda.. .. comecei a trabalhar com uma das Irmãs no sentido de que ela, que fez
música durante muitos anos, voltasse a fazê-lo, e consegui levá-la_ ao piano outra vez. tocar
música para as crianças no festival que fizemos no encerramento do trabalho. Então ela tocava
valsinha antiga, se humanizava. Sobretudo porque ela havia dito algo que me deixou muito
impressionado, que uma criança que estava là em cima não descia porque era má. Eu perguntei
se ela não era 'má' porque estava lá em cima. Depois vi uma coisa que me surpreendeu muito e
me levou a refletir bastante sobre educação. As crianças estavam Jogando futebol sem metas.
Era pernada e poeira para todos os lados. Se você pratica um jogo de futebol sem metas, você
naturalmente não deve estar muito definido quanto aos fins da educação.
Dai comecei a trabalhar com a bola, a partir das crianças pequeninas, e com a mão antes de
mais nada com a mão que era uma forma de comunicação, de um inicio de comunicação. É
claro que tudo è meio de entrosamento, mas a bola tem um sentido muito particular e mesmo se
fizéssemos algumas associações, saberíamos um pouco o sentido que tem. a bola para o
homem. Eu jogava com as crianças pequenas e com as maiores. começamos depois a dirigir um
pouco, a estabelecer metas. Mas não estávamos estabelecendo as metas com elas a partir do
futebol. começávamos através da preparação do término do nosso trabalho, colocando que elas
deveriam fazer alguma coisa que representasse o esforço individual e o esforço comum delas,
alguma coisa em que as pessoas deviam ver do quanto eram capazes. E elas assumirem o
compromisso conosco.".
(Do depoimento de Augusto Rodrigues)
A primeira escolinha fora do Rio
A Escolinha de Arte do Círculo Militar de Porto Alegre foi fundada pelo Major Fortunato e Edna
Sóter no sexto andar da Casa do Jornalista, com o nome de Escolinha de
Desenho do Círculo Militar. No artigo "Bandidos em férias", da Revista do Globo de fevereiro de
1950, a jornalista Beatriz Bandeira descreve o ambiente desse pequeno núcleo de trabalho
criador.
"Há o dia dos mais velhos quartas e sábados e o dia dos
pequeninos terças e quintas. Em qualquer desses dias, porém,
havereis de encontrar crianças de todas as idades, pois nem
grandes nem pequenas aparecem na Escolinha apenas em seus
dias. E encontrareis anjos louros de ambos os sexos, bem
vestidinhos e lavados, ao lado de outros anjos, ou mesmo de
rapazinhos e meninotas, morenos e mestiços, não tão bem
vestidos nem tão lavados. A Escolinha é deles; uma continuação
agradável e melhorada do lar, portanto, nada de cerimônias.
Pode-se fazer como os meus, que sobem as escadas
alegremente, de quatro em quatro, sem camisa, tórax desnudo,
pés descalços, cantando na escada."
"— Edna, como foi que surgiu a idéia dessa Escolinha?
Bem: nós temos lá no Rio a Escola que funciona na
Biblioteca Castro Alves a qual foi organizada por Augusto
Rodrigues. Trabalhamos lá. Chegando aqui. resolvemos
criar uma escola idêntica.
Há quanto tempo funciona?
começamos há cinco meses e já fizemos uma exposição, a
cuja inauguração tivemos o prazer de contar com a presença de
Augusto Rodrigues.
De fato, tivemos notícias pela imprensa, mas não pudemos
visitá-la.
Foi pena. As crianças quando são deixadas em liberdade
criam maravilhas".
"com respeito à orientação pedagógica adotada, tanto lá como
aqui, desejamos transcrever esse pequeno trecho de uma
reportagem de Doutel de Andrade, feita no Jornal do Rio: Augusto
Rodrigues não permitiu na Escolinha de Arte o estímulo de
vaidades pessoais. Seu principal objetivo é desenvolver o poder
criador das crianças, permitindo a expansão de seus sentimentos,
sem as possíveis inibições da timidez e do retardamento. Para
tanto, os professores criaram uma atmosfera propícia à liberdade,
dando assim mais oportunidade a que meninos e meninas entre
três e dezesseis anos afirmem sua personalidade. Essas são
também as finalidades da Escolinha do Círculo dos Militares de
Porto Alegre".
Em abril de 1957 foi fundada a Escolinha de Arte de Porto Alegre, pelas professoras Ruth Anicet
e Elvira Saibro, depois de terem freqüentado estágios e cursos de Arte Infantil na Escolinha de
Arte do Brasil. Em carta de outubro de 1960, as fundadoras da Escolinha de Arte de Porto Alegre
afirmam:
"Apesar de iniciarmos com grande idealismo, nem sempre fomos
compreendidas. 0 número de pessoas informadas
sobre a Escolinha de Arte era muito reduzido, por isso era olhada
com desconfiança até por professores. Muitos pais vinham
esperando uma 'formação para artistas'. Crianças foram retiradas
da Escolinha porque ali 'nada aprendiam". Não compreendiam o
benefício social e emocional. Nossas palestras, reuniões com
pais, assim como a divulgação pela imprensa local, da qual
recebemos grande apoio e compreensão, muito contribuíram para
modificar o conceito de pessoas pouco avisadas. Estamos apenas
no quarto ano letivo, sentindo a modificação que se tem
processado rapidamente, como se vê, na aceitação de nossos
objetivos e orientação seguida. Hoje, os próprios pais e mães têm
sido nossos, melhores propagandistas. Dos meios educacionais,
principalmente da Superintendência do Ensino Artístico,
recebemos compreensão, confiança e apoio moral."
Reportagem de Teresa Rocha, "De arteiros a artistas", conta:
"Apartamento pequeno, quadros coloridos em todas as paredes,
crianças pintando, desenhando, modelando. Um disco infantil na
eletrola, alegria, cores. Eis a primeira visão que tivemos ao entrar
na Escolinha de Arte, situada num edifício à Avenida Borges de
Medeiros. Dirigida pela professora Ruth Anicet, é a primeira em
Porto Alegre filiada à Escolinha do Rio de Janeiro. Na realidade,
um mundo encantado da criança, colorido e simples como a
própria infância. Entre um chamado e outro, pois as crianças exi-
gem continuamente a sua presença, ela atende:
— Professora, meu irmão disse que meu desenho está
errado, porque não existe céu verde.
E Roberto mostra desolado o seu desenho, tão pessoal nas cores
e nas formas.
Não, Roberto, seu desenho está muito certo, pois é
assim que você vê o céu.
Procure sempre pintar os objetos como sua imaginação
ordena.
E voltando-se para a repórter, Ruth continuou:
— Se o adulto não puder entender toda a profunda signifi
cação que a arte da criança tem para ela, deve procurar
aceitá-la como algo que está fora e acima de seu mundo.
uma arte que é expansão da alegria infantil".
Dificuldades de uma escolinha
Em 1950 foi fundada, por Isabel Rocha Braga, a Escolinha de Arte de Cachoeiro do Itapemirim.
Em 1955, há uma grande crise que quase resultou no fechamento da Escolinha. Em cartas de
Lúcia Alencastro, então diretora da Escolinha de Arte do Brasil, para Isabel Braga, há exemplos
vivos das dificuldades que o movimento teve e tem que superar.
"... Sabemos que, quando possível, você voltará a juntar seu
esforço ao nosso, não por julgar seu dever, apenas, mas
por compreender a importância desse trabalho e o quanto precisa
dele a criança de nossa terra."
• *
"Envio-lhe cópia da carta que recebemos do Itamaraty, sobre a
repercussão dos trabalhos das crianças brasileiras, inclusive as
de Cachoeiro do Itapemirim, expostos em Londres. Esta
exposição será agora levada a Roma, por convite da Fondazione
Ernesta Besso. No momento, está em Borne-mouth, Inglaterra,
solicitado por um seminário de professores. Envio-lhe também
alguns recortes sobre as exposições na Europa. Divulgue-os al o
mais possível. Faça com que todos tenham consciência do que
estão deixando morrer. Às vezes, os brasileiros são tão modestos
que só acreditam no valor que têm depois que os estrangeiros
aplaudem. Estamos fazendo contas e contas para ver se
podemos enviar alguma quantia mensal, que ajude a pagar uma
professora para lhe ajudar na Escolinha. como você sabe, nosso
trabalho é deficitário e penoso, mesmo no Rio. Nosso problema
de local continua cruciante."
* • •
"Minha luta aqui no Rio, no momento, e quase de vida ou morte:
também estou correndo o perigo de ter que fechar a Escolinha,
pois o 11° andar aqui da rua do México foi vendido e o novo
proprietário deseja instalar-se aqui. Teremos que arranjar, de
qualquer modo, um local para transferirmos a escola".
Também no Paraguai
"com a visita do professor Augusto Rodrigues em 1959, convidado
pela Missão Cultural Brasileira, a cidade de Assunção se viu
beneficiada com a criação de uma instituição que mais tarde
chegaria a exercer uma influência considerável no âmbito
educacional do País: a Escolinha de Arte, que a partir de então
está desenvolvendo seus trabalhos com as professoras Maria
Adela de Giménez. Maria Adela Solano López e Carlota Shulz,
sob a direção da professora Olga Blinder de Schwartzman."
(Relatório de atividades da Escolinha de Arte do Paraguai,
de 1959 a 1966, enviado à EAB).
Em artigo publicado em Assunção, em novembro de 1960, Olga Blinder escreve:
"La Escolinha de Arte que Augusto Rodrigues nos trajo de Rio de
Janeiro en 1959, viene a ser un compuesto vivo de Ias últimas
experiencias en materia de educación por el arte*, como
recomienda Herbert Read. Siendo así se apoya en los educadores
que canalizan Ia educación como un problema fundamental en el
desarollo de la humanidad. No
se limita al arte y sus finalidades son variadas, asi como son múltiples
sus caminos para llegar al interés de los niños. Todo lo que se
relaciona con nuevos métodos de educación interesa a la Escolinha de
Arte, y se apoya en todo lo que puede ser útil a sus fines. (...) De modo
que la Escolinha se basa en el hecho de que a todos los niños les
agrada pintar, dibujar, modelar. Que siendo niños es para ellos el juego
una actividad de suma importancia, puesto que al jugar crean. Y
pintando crean y juegan. La orientación que debe darse a la educación
por el arte es un gran comprensión por el niño, sus problemas y su
expresión natural, la infantil; siendo cada uno de los niños un centro de
atención alrededor del cual se aplican los conocimientos del caso, para
ayudarlos en sus necesidades, pero comprendiendo claramente que
ayudar no significa arreglarles los dibujos, ni-hacerlos. Ayudar es
alentarlos para que los hagan solo, explicarles cómo deben usar los
pinceles o los lápices, mostrarles en el mundo que los rodea cuantas
cosas bellas hay y enseñarles a ver y gozar de las cosas sencillas y
hermosas de la naturaleza y a reflejarlas en sus pinturas de acuerdo a
su edad y a su manera de ser, sin forzarlos ni obligarlos, dejando que
ellos mismos pidan que se les deje trabajar, y asi lo hacen con gusto y
mucho mejor. Porque del mismo modo que, con el primero hablan y
después se les enseña , Gramática; en Pintura, que pinten primero y
entoces les enseñaremos las reglas de la pintura.
En relación a la finalidad de Escolinha de Arte, podemos decir que
ella tiene tres principales objetivos, siendo el principal estimular el
desarollo de la personalidad; luego trata de formar hacia el futuro un
público para el Arte, y, finalmente, procura mantener vivo el fuego
de las futuras vocaciones artísticas, que tantas veces se apagan
por falta de comprensión en los que debieran ser los orientadores".
O ambiente da Escolinha de Arte do Paraguai é retratado pela carta do menino Hugo Encina, de 11
anos, enviada a Augusto Rodrigues:
"La Escolinha de Arte es un instituto muy hermoso, alli vamos para
pintar, dibujar y también nos enseñan música. En el pátio están
los siguientes juegos: el sube y baja, el tobogán y la hamaca. El
instituto se compone de tres aulas y la banda se compone e varios
instrumentos. La señorita Solano López es una profesora muy
buena del turno de martes y jueves. Agradezco en nombre de
todos mis compa-ñeros al profesor Augusto Rodrigues que fundó
la Escolinha de Arte para que nosotros todos los chicos del
Paraguay vayamos a divertirmos dibujando. Y deseo que la
Escolinha siga progresando teniendo como jefe al profesor
Augusto Rodrigues".
Fundação da Escolinha de Arte do Recife
"... Em 1953, organizamos um curso para 43 professores do Estado, situando aspectos
psicológicos, pedagógicos, princípios de formação de um educador para a educa-
ção especial. Convidamos Augusto Rodrigues para dar a parte de arte neste curso. E também
toda a equipe de médicos, psiquiatras, antropólogos, psicólogos de Recife que era um grupo
muito amigo . . .
Levamos também para esse curso de 53, Olivia Pereira, que hoje è assessora do CENESP, que
trabalhava na Pestalozzi, e Leopoldina Neto, que trabalhava no Santa Lúcia. Foi muito importante
o contato com esse grupo porque foi nessa escola, a 6 de março de 1953, que se fundou a
Escolinha de Arte do Recife, em sessão presidida por Anita Paes Barreto, com apoio da
Secretaria de Educação e Cultura, e de todo o grupo da escola (no sentido universitário) de
Ulisses Pernambucano, além de artistas como Aloísio Magalhães, Francisco Brennand, Lula
Cardoso Aires. Augusto se entusiasmou com aquela pequena e simples experiência, com
professores que estavam interessados no campo da educação especial e tinham a compreensão
da função da arte no processo educativo. E dai saiu a Escolinha de Arte. Ela foi para a Rua do
Cupin, 124 onde está até hoje —, onde Hermilo Borba, teatrólogo, amigo do grupo e também
fundador, encontrou um chalezinho antigo. Por coincidência, nesse chalé Augusto Rodrigues
aprendera a ler. . . A Escolinha foi fundada assim."
(Do depoimento de Noêmia Varella)
Em carta para Augusto, datada de 24 de setembro de 1958. Noêmia situa a função pedagógica
da Escolinha de Arte do Recife:
"Augusto,
Há dias falei com Raquel Crato e Paulo Freire sobre o nosso
projeto. com a primeira, por ter experiência bem próxima do que
entendemos como boa orientação de escola pré-primária e
primária, tendo procurado, em seu Instituto Capibaribe, respeitar a
auto-expressão da criança e valorizá-la como parte do currículo.
Ainda, pelo contato que tem tido com professoras — cursos para
concursos e de extensão. Em relação à experiência de Paulo,
considero-a sobretudo pelo aspecto objetivo de sua crítica
construtiva às nossas idéias. Raquel considera nossa experiência
a base de suas observações diárias. Para ela, as Escolinhas
devem funcionar, especialmente, porque não julga suficiente a
atividade artística desenvolvida na escola primária. A criança do
Jardim de Infância, segundo sua opinião, poderá dispensar a
assistência da Escolinha, uma vez que não se aceita um Jardim
que desvalorize a expressão livre da criança. Porém quanto à
escola primária, predominantemente nas últimas séries, com a
dominância das atividades intelectuais, com os programas por
desenvolver, a professora não tem tempo para dar ao aluno as
atividades artísticas, mesmo sabendo quanto importam em seu
desenvolvimento. A criança passa pouco tempo na escola — cerca
de quatro horas (recreio, merenda, distribuição de material, etc).
Essa é a realidade enfrentada por Raquel e muitas professoras já
conhecedoras do valor da educação estética. Não podem mudar
programas, influir na orientação recebida da Secretaria de Edu-
cação, reformar conceitos tradicionais dos pais, desde que
constituem uma minoria. Citou o exemplo de seu sobrinho de 11
anos, aluno da Escolinha desde maio último: nos primeiros anos
da escola primária trabalhava intensamente, desenhando,
pintando, colando, etc. Sempre interessado
por essas atividades, passou porém, depois, a desenhar muito
menos, uma vez que outras atividades tomavam seu tempo na
escola. Na Escolinha, retomou o antigo ritmo nas atividades
artísticas. Desenvolveu sua capacidade de observação e de
concentracão alcançando novos estápios da auto-expressão.
Raquel julga que a criança precisa de ambiente como o das
Escolinhas, favorável ao trabalho criador. (Respeitemos sua
opinião). Há muitos fatores a considerar em relação à integração
da arte na escola. Não bastam diretores compreensivos — há
necessidade de formar professores, renovar a opinião dos pais e
levá-los — pais. professores e inspetores — a aceitarem e
colaborarem para uma escola melhor. 0 ângulo focalizado pela
entrevista reflete a comunidade tradicional e limitada que vem
enfrentando em seu trabalho idealista. Quanto à compreensão da
Escolinha como centro de desenvolvimento da capacidade criadora
despertada e desenvolvida na escola primária, lugar de atividade
extra-classe, porém onde a criança encontre atividades presentes
também em sua escola, julgo bem de acordo com nossos objetivos.
Em relação ao curso foram essas as suas sugestões: a) melhor
formação para compreensão da criança, de forma mais prática
possível: psicologia do desenvolvimento, psicologia educacional
(aprendizagem e motivação) em função da educação artística.
Aqui, em Recife, dominam também as aulas de psicologia
desligadas das vivências da escola; b) as alunas do curso 'arte na
educação' devem estudar e discutir o programa experimental
apresentado por Miss" Robertson e equipe de coordenadores; c)
seja assunto básico do curso: a integração da atividade artística na
escola, na classe, no currículo — quando, como e por que deve ser
feita essa integração; por que razão deve ser dada e quem deve se
beneficiar com essa integração. Paulo Freire achou o plano, em
suas linhas gerais, um dos melhores em sua fase inicial de
planejamento, entretanto 'utópico' se considerarmos nossa
realidade, fora dos objetivos do que se vem fazendo ou desejando
fazer por uma educação intimamente relacionada com o plano de
desenvolvimento econômico no Brasil (plano da UNESCO e do
INEP). Julga que nosso plano deva ser orientado dentro dos
objetivos do Ministério de Educação e Cultura. Precisamos dar ao
nosso projeto propósitos claros, imediatos, feição prática. (Não o
vejo tão longe, em seus fundamentos, de um plano de
desenvolvimento econômico. Leia o capítulo de ARTE E
INDÚSTRIA, de Read, sobre arte e educação na idade industrial.)
com essa observação. Paulo deseja defender nosso projeto frente
ao julgamento do M. de Educação. Sugeriu também que o curso
poderia ter uma parte introdutória — série de conferências sobre a
realidade brasileira no plano da educação de base. levantamento
de problemas críticos da educação entre nós, fundamentação
filosófica ligada à arte e educação, como também à indústria e ao
desenvolvimento econômico. Lembrou que o próprio Anísio
Teixeira poderia integrar essa equipe de conferencistas, bem como
outros elementos do Centro Brasileiro de Pesqui-
sas Educacionais e outras instituições (não deixe de ler o n° 7.
abril. 1958, da revista EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS SOCIAIS. Veja
relatório de d. Lúcia Pinheiro, da Divisão de Aperfeiçoamento do
Magistério e outros planos e artigos). Quanto às matérias do
curso, a opinião de Paulo foi bem clara: além da parte criadora, do
desenvolvimento estético da aluna-professora, focalizar as
matérias de cultura geral (antropologia cultural, psicologia, história
da arte, filosofia da arte, princípios didáticos fundamentais à
educação artística).
Creio que já temos muitas sugestões a considerar e com
elementos comuns. Aguarde a opinião de Baltar com quem falarei
amanhã. Precisamos não ficar confusos com tantas idéias. Envio-
lhe uma ótima súmula, de Leticia Andrade Lima, do DECA, sobre
um assunto que muito interessa às Escolinhas e cópia de acordo
feito com o SESC para estágio de quatro elementos, na EAR. São
interessados. Pedi taxa e mensalidades mínimas para estágio
diário, mesmo assim mostraram tal admiração que acabei
oferecendo-lhes estágio gratuito. 0 acordo foi feito por Hebe,
apenas enviei-lhe algumas sugestões quanto às nossas
obrigações. Ainda não recebemos os 32.000,00 — dependiam de
uma série de papéis pedidos pela Delegacia Fiscal. No momento,
aguardamos o pagamento. Estou preparando duas jovens profes-
soras: uma para trabalho de administração, a outra para
organização de fichas de estudo, (ileg.) São jovens, terão na
Escolinha seu primeiro campo de trabalho. Encontrei tudo em
ordem e já atualizei quase todo serviço. Abelardo está
aguardando a documentação necessária para organizar a
exposição das crianças holandesas que foi marcada pelo
Consulado para o dia 14 de outubro. Essa orientação me fez
transferir a exposição das crianças portuguesas para novembro.
Melhor, porque terei tempo de receber as respostas de Portugal.
Estamos pensando seriamente em publicar uma revista da
Escolinha, com a colaboração da Universidade do Recife.
Poderemos divulgar amplamente o que de melhor se fizer durante
o curso (entrosamento das Escolinhas). começo a me sentir longe
do que está fazendo e pensando em relação ao nosso plano para
1959. Antes de deixar o Rio, havia pedido ao Sr. Laissue alguns
volumes, via aérea, do livro de Robertson. Sei que já os recebeu.
Vale a pena ficar com os exemplares. Pedi 2 p/E. Arte Recife.
Um grande abraço
Noêmia".
Encontro do Movimento Escolinha de Arte
com o surgimento de outras Escolinhas, tornou-se necessário promover encontros para
definição das linhas de ação do Movimento. O primeiro foi em 1961 e o segundo em
1972.
Registram-se aqui as conclusões do Encontro realizado de 17 a 21 de julho de 1972:
78
Augusto Rodrigues conversa com as crianças da Escolinha.
A EAB lançou a semente. Outras Escolinhas surgiram por todo o Brasil. É de Bagé
(RS) a que figura acima.
Objetivos
Após 24 anos de existência, a Escolinha de Arte do Brasil propiciou o Encontro do Movimento
Escolinhas de Arte com os seguintes objetivos:
1. Favorecer o congraçamento de todos os membros das Escolinhas de Arte;
2. Promover a troca e análise de experiências, a fim de permitir um estudo das características
do Movimento;
3. Levantar dados sobre os fundamentos, métodos, condições e recursos das Escolinhas,
visando a uma pesquisa de aprofundamento;
4. Dar oportunidade para uma reavaliação dos princípios, permitindo renovar a política de ação
das Escolinhas, em face das mudanças no campo educativo e cultural;
5. Reforçar a integração das Escolinhas, a fim de formular perspectivas mais amplas para o
futuro.
Postulados do Movimento
Respeito ao ser humano, à sua capacidade de criar, levando-o a encontrar na arte formas de se
realizar e expressar o conhecimento de si mesmo como ser atuante em busca da liberdade.
0 encontro da "liberdade individual", no ato de criar, levará o homem a um "novo humanismo"
fundamentado na paz.
Tema 1 :
Novas perspectivas das escolinhas de arte
Integração das Escolinhas com a comunidade — necessidade de sua penetração em
diversas instituições. Influência que se fará sentir no despertar da comunidade, a fim de
sensibilizá-la para a filosofia do Movimento.
Neste sentido, as soluções dessa integração são encontradas dentro dos próprios
recursos da comunidade, considerando a viabilidade dos meios disponíveis e o nível de
aceitação.
— Necessidade do intercâmbio entre as próprias Escolinhas do País e as do Exterior.
Favorecer a operacionalização dos objetivos, estimulando experiências contínuas e
sistemáticas, aprofundando o acompanhamento das experiências e procurando a renovação dos
próprios métodos.
Necessidade de uma fundamentação teórica ao trabalho das Escolinhas — estudos das
teorias de Arte na Educação, da Estética, de Criatividade e das perspectivas históricas de Arte e
Educação para se pensar numa reformulação metodológica.
— A análise do papel das Escolinhas em se constituírem centros difusores de renovação
metodológica.
Tema 2:
Educação artística na renovação do ensino
Em face da Reforma Educacional que se instala no País, os trabalhos e debates foram
desenvolvidos no sentido de analisar quais as estruturas presentes no Movimento das Escolinhas
de Arte que pudessem ser reinterpretadas em termos curriculares e de metodologias para uma
educação artística. A diferença entre dois tipos de escola foi definida, ficando claro, entretanto,
que a
escola (instituição) já se nutre dessas estruturas baseadas nos conceitos de Arte e Educação.
A educação artistica, interpretada como educação criadora que leva a uma sensibilização da
criança e do adolescente, daria também ao educando:
oportunidade de expressão dentro do seu contexto econômico;
oportunidade de usar e desenvolver uma linguagem visual que facilite sua comunicação por
meios de exploração sensorial e lúdica;
formas de desenvolvimento de sua unidade psíquica através de um trabalho gradativo de
organização interna para chegar a criar;
— condições para o aluno formar uma perspectiva estética do mundo.
As escolas de 1
o
e 2
o
graus oferecem problemas de caráter diferente no tocante à educação
criadora e ao desenvolvimento de atividades artísticas nas salas de aula. A criança, o ser
espontaneamente criador, em face do seu próprio desenvolvimento, facilita o trabalho do professor.
Entretanto, pontos foram ressaltados quanto à necessidade do professor se sensibilizar para
adquirir espontaneidades perdidas:
— Necessidade de avaliar constantemente sua atuação, a fim de que não aplique
aquilo que supostamente digeriu, desde que o material humano com que trabalha é
eminentemente absorvente e receptivo.
— Conhecimento das bases da Educação através da Arte.
0 adolescente, pelas suas caracteristicas gerais de desenvolvimento, tentando sua vinculação
a um mundo adulto, reprimido em espontaneidade, exige um atendimento de grande
complexidade no campo criador. Os trabalhos mostraram a capacidade de liberação do
adolescente quando encontra em professores de arte e nas atividades artísticas fontes para um
crescimento pessoal.
A constante avaliação das diretrizes do Movimento Escolinhas de Arte se refletirá nas
direções alcançadas pelos professores nas escolas tradicionais.
Tema 3:
Criatividade na escota e a formação do professor
Análise do conceito do "novo professor": sensível, criador, experiente e informado,
porque passou por uma formação que propicia:
vivência do ato criador;
liberação de emoção levando à organização do eu;
relacionamento humano profundo.
Professor informado e situado dentro de um conceito do que é Arte e seu papel na
sociedade.
Professor contemporâneo, consciente das conquistas culturais, das tendências e
transformações do mundo das crianças e jovens.
A formação do professor criativo para uma escola criativa onde professores atuem como
consultores e coordenadores de idéias e trabalhos.
— A formação desse professor se condicionará, portanto:
à aceitação de mudanças;
à utilização de uma filosofia ao nível da essência,
à aceitação e conhecimento de si mesmo.
Conclusões gerais
— Necessidade da Escolinha de Arte do Brasil se constituir em centro revitalizante e gerador das
idéias de Educação através da Arte, sendo veículo dessas idéias os professores que nela se
formaram nas bases já expostas.
— Necessidade de Encontros desse tipo para se manter a unidade do Movimento.
Necessidade da renovação pela análise e crítica constante de experiências que sejam vistas
como sínteses criadoras temporárias e suscetíveis de mudanças no campo de arte na Educação.
Necessidade da penetração das escolinhas no interior, estimulando centros de cultura,
capazes de favorecer o próprio crescimento da Escola e do meio ambiente.
Proposições apresentadas e aprovadas pela Assembléia Geral:
1. Criação de uma entidade centralizadora do Movimento Escolinhas de Arte, com
preendendo as unidades existentes no Brasil e no Exterior, com os seguintes objetivos:
estabelecer e propiciar maior comunicação entre os membros das Escolinhas;
intensificar as experiências e preservar as características básicas;
— estabelecer as condições mínimas para a fundação de Escolinhas ligadas ao Movimento
Escolinhas de Arte;
especificar exigências necessárias para o funcionamento de Cursos para formar professores
de Arte na Educação; e
incentivar experiências e pesquisas no campo de atividades criativas, a fim de melhor
colaborar no processo do desenvolvimento educacional no País.
2. Indicar a Escolinha de Arte do Brasil como entidade centralizadora do Movimento de
Escolinhas de Arte no País, podendo realizar convênios com a Escolinha de Arte do Paraguai e
de outros países.
3. Apresentação de sugestões ao Conselho Federal de Educação em relação ao currículo
mínimo da licenciatura em Educação Artística.
4. Formação de uma Associação Nacional de Educação através da Arte filiada à INSEA
(International Society for Education through Art) com as seguintes finalidades:
No plano nacional:
estimular e valorizar as experiências realizadas pelas Escolinhas de Arte, por instituições e por
pessoas com interesses afins;
criar nos planos cultural e educacional novos movimentos que venham a ampliar sua ação.
No plano internacional:
• representar os interesses das Escolinhas de Arte, instituições e pessoas com interês
ses afins, assim como estabelecer o intercâmbio com outros países.
O ENCONTRO com A EXPERIÊNCIA. ARTE-
EDUCAÇÃO NO MUNDO
A presença de Herbert Read
Sir Herbert Read, crítico de arte inglês, que acaba de passar
algumas semanas no Brasil como membro do Júri Internacional da
II Bienal de São Paulo, visitou a Escolinha de Arte do Brasil,
instalada na Biblioteca Castro Alves.
Herbert Read presente à abertura da Exposição das Crianças Brasileiras, em Londres
Herbert Read é um dos personagens mais importantes e
influentes do movimento artístico atual. como critico de arte ele é
autor de vários livros de importância fundamental, traduzidos para
muitos idiomas. Seus livros mais conhecidos são "Educação
através da Arte", "O Sentido da Arte Moderna", "Arte
Contemporânea" etc. Também é considerado um dos melhores
poetas ingleses da atualidade. Grande tem sido sua influência na
reforma do ensino artístico na Inglaterra, e em vários países do
mundo. Durante sua visita à Escolinha, Herbert Read demonstrou
grande interesse pelo problema da educação artística no Brasil.
Fez muitas perguntas a respeito da difusão desta espécie de
educação no Brasil. Queria saber quantas escoli-nhas existiam no
Rio e nos outros estados. Recebeu da professora Lúcia
Alencastro, diretora da Escolinha de Arte do Brasil, material
informativo sobre as Escolinhas de Arte de Cachoeiro de
Itapemirim, no Espírito Santo e de Recife, em Pernambuco.
Interessou-se também pelas informações sobre os trabalhos de
cerâmica realizados pelas crianças na Fazenda Rosário, em Belo
Horizonte, sob a orientação do professor Jether Oliveira e pelas
atividades artísticas desenvolvidas no meio rural pela educadora
Helena Antipoff.
Em companhia do crítico de arte Marc Berkowitz e dos
professores Abelardo Zaluar e Vera Tormenta, assistiu a uma aula
das crianças da Escolinha, tendo ressaltado o ambiente alegre em
que as crianças trabalham. Apreciou também os desenhos e
gravuras dos cursos para adultos, manifestando sua satisfação
por encontrar na orientação
dos,mesmos, como nos das crianças, perspectivas para um melhor
desenvolvimento das atividades artísticas no Brasil.
Jornal Última Hora, 26 de dezembro de 1953.
"Nós precisávamos de comprovação pela experiência, de algo como o pensamento de Herbert
Read em seu livro Educação através da Arte. Se, por um lado, ele não tinha experiência direta
com crianças, por outro, era necessário que houvesse campo para o teste de suas idéias.
Infelizmente no mundo havia poucos países com experiências que pudessem ajudar essa
comprovação. Entre esses países estavam a Inglaterra, a Alemanha, a Austrália, a Argentina e o
Brasil. Isto está registrado num texto dele. Quando Herbert Read veio à Bienal de São Paulo em
1953, como membro do Júri, ele, chegando ao Rio, foi visitar a Escolinha. Observou atentamente
a experiência e o trabalho das crianças. Era fundamental para nós, para a afirmação de nosso
movimento, uma divulgação da presença dele na Escola. Era muito cauteloso em relação a
opiniões e reservado nos contatos posteriores que mantive com ele; mas reconheceu como
válida a experiência e estimulou-a. Da visita guardou uma imagem muito nítida, porque em 1954,
quando estive na Inglaterra e pretendia fazer a exposição da Escolinha, tive que recorrer a ele e
o resultado foi o melhor possível. "
(Do depoimento de Augusto Rodrigues)
"Outra pessoa que me impressionou de modo significativo foi Herbert Read, que vi e ouvi uma
vez. Durante o curso que fiz na Inglaterra o último organizado e supervisionado por ele fez
a conferência principal e me inspirou muito a estudar Jung. Nessa palestra vi a viva voz
com toda uma documentação maravilhosa, o que significava a fundamentação psicológica básica
para o professor de arte. Via a importância, para compreender a função da arte no processo da
educação, de uma formação que desse ao educador o enfoque da simbologia dentro da
perspectiva de Jung. Isso não implica que mais adiante não se alargue o campo e se passe para
outras linhas de pensamento e de filosofia, mas para compreender a colocação básica
metodológica de Read se faz necessário essa fundamentação. Lembro-me que ele foi muito
claro: não se pode compreender um educador sem uma séria fundamentação psicológica".
(Do depoimento de Noêmia Varela)
Herbert Read (1893-1968) permanece uma presença brilhante em
múltiplos campos da cultura de nosso tempo — educação, crítica
de arte, ensaios, poesia. Não que ele fosse espírito inconstante
que saltasse de um tema para outro versatilmente. Sua
criatividade nada tinha de dispersiva nem de fragmentária.
Nenhuma de suas atividades está ausente das outras. Todas se
integram. 0 ideal de Herbert Read é o homem que desenvolve
suas potencialidades, por mais várias que sejam, e as reúne numa
unidade individual específica. Por isso, o encontro de Herbert
Read com a psicologia junguiana foi tão importante, decisivo
mesmo, para o desenvolvimento de suas idéias. Em Jung, Read
encontrou aquela concepção de totalidade (wholeness) que
vislumbrara, desde jovem, quando lera Platão e agora via
apresentada, em termos científicos, por um sábio contemporâneo.
No campo da educação, Read levantou-se contra o unilateralismo
de nossos sistemas pedagógicos. Sistemas e métodos que
cultivam quase exclusivamente as funções intelec-
tuais. dirigindo seus maiores cuidados para o treinamento do
pensamento que analisa, divide e classifica. As emoções, os
sentimentos, não constituem objeto da atenção dos educadores,
nem tampouco eles se ocupam de aprimorar a percepção das
sensações. A conseqüência é que as emoções que não
aprendemos a exprimir nem a purgar (catarse), manifestam-se
quase sempre distorcidas e, não raro, irrompem violentas,
produzindo situações que depois são lamentadas. Decerto, porque
não nos exercitamos em observar cada sentimento nas suas
escalas de tons, perdemos as melhores oportunidades para nos
conhecermos a nós mesmos. Decerto, poderíamos saber ouvir,
ver, tocar, muito melhor do que fazemos, discriminando nuances
que nos escapam habitualmente. "A educação, diz Herbert Read,
deveria fluir através dos sentidos, dos membros e músculos e não
em primeiro lugar através da faculdade de abstração".
0 livro Education through Art. onde Herbert Read, pela primeira
vez, expôs suas idéias, apareceu em 1943 e logo alcançou um
sucesso enorme. As traduções em várias línguas não cessaram
de multiplicar-se. Muitos milhares de pessoas o têm lido
apaixonadamente no mundo inteiro. Também Read levou sua
mensagem a muitos países por meio de conferências. Em toda
parte conquistou partidários devotados. Sob os auspícios da
UNESCO, no ano de 1954. foi fundada a Sociedade Internacional
em prol da Educação através da Arte.
Seus dois últimos livros trazem títulos bem significativos: The
Redemption of the Robot (1966) e Art and Alienation (1976).
Tornou-se porém consciente de que é lentíssima a evolução das
sociedades nas suas dimensões mais profundas, comparada à
rapidez do sonho do indivíduo. Ele escreve em 1966: "Somos
obrigados a concordar que todos os nossos esforços serão inúteis,
se não adaptarmos nossos métodos de educação ao tipo de
civilização no qual temos de viver inevitávelmente". E mais
adiante: "Nossa tarefa — nossa limitada tarefa — é introduzir
valores e motivações na vida cotidiana e nas atividades das
pessoas comuns, valores e motivações que possam constituir
estímulos necessários ao seu desenvolvimento espiritual". Se é
válida a tese apresentada por Herbert Read de que ao longo da
história da Humanidade a arte ajudou o pensamento a estruturar-
se e a consciência a desenvolver-se, poderemos admitir que a
atividade artística seja também um instrumento útil para a
reestruturação da vida psíquica fragmentada devido a condições
patológicas. No panorama contemporâneo, Herbert Read situa-se,
como Jung, na contracorrente às idéias dominantes. Seus escri-
tos, pela ênfase que dão aos poderes do inconsciente,
representam compensação e contrapeso para um mundo que
valoriza de modo quase exclusivo a razão consciente. E por isso
mesmo é insensato.
(Nise da Silveira, trechos do artigo "Herbert Read, em
memória", publicado no número experimental do jornal Arte
& Educação)
Algumas idéias de Herbert Read
"A nossa tarefa educativa principal é introduzir valores e
motivações na vida cotidiana das pessoas, que constituam
estímulos para o seu desenvolvimento espiritual. Assim
como cultivamos o pensamento e o raciocínio, a capacidade
de formular conceitos e de desenvolver idéias abstratas,
precisamos aprender a usar nossa visão, nossa capacidade
de ordenar experiências perceptuais e estimular a imaginação
criadora. Se forem cultivados pensamento, sentimento,
sensação e intuição, inerentes a todo ser humano, sua vida
será mais rica e as formas dos produtos que venha a criar
com as próprias mãos ou planejar para serem executados
pela máquina, poderão adquirir qualidades de beleza. O
homem deve aprender a ordenar suas percepções e afinar
sua sensibilidade. Seria uma ironia a mais na história do
homem se a automação, tão temida, viesse a provê-lo do
tipo de liberdade que procura há tanto tempo. 0 valor da
atividade artística é grande como meio de apreensão da
realidade e progressiva estruturação de consciência e instrumento
essencial para o desenvolvimento da consciência
humana".
(Trecho de Herbert Read, ,4 Redenção do Robot, 1966,
publicado no projeto "O Piauí visto por suas crianças",
SOBREART, 1974)
Em quase todos os países do mundo se compreende hoje que a
educação através da Arte (mais que a educação artística) é
assunto que transcende às categorias restritas da educação.
A Arte é um nome genérico para essa linguagem simbólica em
todas as suas variantes. A função da Arte é criar e aperfeiçoar as
formas que constituem essa linguagem simbólica, com a intenção
de transmitir à sensibilidade humana uma espécie de
conhecimento que não pode ser transmitido por quaisquer outros
meios. Do exercício dessa atividade criadora depende o
desenvolvimento da própria sensibilidade, e é por essa razão que
a Arte é tão importante na vida intelectual e até na vida produtiva
(industrial) da humanidade. Fundamentalmente, as ciências
dependem de instrumentos aguçados pelas artes.
Um povo não se pode constituir numa nação, no sentido cultural e
histórico, enquanto a vida comunal não for expressa através de
obras de arte apropriadas e duradouras. Por mais harmonioso que
seja seu comportamento e sereno seu temperamento o homem
não será feliz se não puder participar de atividades em grupo. A
maioria dessas atividades é da categoria das competições e jogos,
o que não devemos deplorar. A Arte mesmo é uma espécie de
jogo e, de fato, ainda como disse Platão, o melhor modo de
encarar a própria vida, é como uma espécie de jogo. A maioria dos
jogos nos cansa fisicamente (agradavelmente); mas a Arte é uma
modalidade de jogo que nos vitaliza — e, acima de tudo, vitaliza a
comunidade. É por isso que, na longa pers-
pectiva da História, as épocas que se destacam e que merecem
nossa mais profunda simpatia e admiração são aquelas em que a
Arte floresceu.
(Herbert Read, "A Validade da Educação Artística", Arte &
Educação, N° 9, Janeiro de 1972).
Exposições
Desde o início, a Escolinha participou de exposições no exterior, mantendo, através delas,
contatos e promovendo troca de experiências. As exposições representaram sempre um marco
de unidade ligando as experiências de arte-educação no mundo. Os trabalhos das crianças
brasileiras, alunos da Escolinha ou não, foram vistos no México, Grã-Bretanha, Japão, França,
Chile, Itália, Argentina, Holanda, Espanha, Tche-co-Eslováquia, Paraguai, China, Coréia, Áustria,
Venezuela, Filipinas, índia, Iugoslávia, Alemanha e El Salvador. Em cada uma dessas
exposições, a EAB apresentava um folheto com dados sobre a experiência brasileira, marcando
posições evidenciadas nos critérios de escolha do material para expor.
"Quando, em 1954, estava na Inglaterra, e pretendia fazer a exposição, procurei o British Council
e percebi que a idéia não era bem aceita porque, alegava um elemento do British Council, eles
tinham lá cinco mil exposições desse tipo e isto era comum na Inglaterra.
Miss Sullivan, da cúpula educacional do British Council, depois de olhar os trabalhos e dizer que
realmente eles tinham um grande interesse, me perguntou se eu tinha uma referência em
Londres, alguém que pudesse dar uma indicação do que era o meu trabalho no Brasil. Eu, então,
muito receoso, disse a ela: A senhora pode falar com Sir Herbert Read, creio que ele vai
recomendar'.
Ela me pediu licença, a fim de telefonar para Herbert Read. Quando desligou, me disse: Senhor
Augusto Rodrigues, Sir Herbert Read tem um grande apreço pelo senhor e recomenda que o
senhor vá agora mesmo, se quiser, ao Instituto de Arte Contemporânea para marcar sua
exposição'. Em quinze minutos eu estava lá no Instituto, onde havia três pessoas me esperando,
três técnicos para ver o material".
(Do depoimento de Augusto Rodrigues)
Pinturas de crianças brasileiras
— Alguns trabalhos notáveis na Exposição de Londres —
"A arte infantil, em princípio tratada com desdém pelos adultos;
tem sido, durante as últimas décadas, objeto de um apreço
ridiculamente exagerado. A Exposição de trabalhos de crianças
brasileiras, atualmente em exibição no 'Institute of Contemporary
Arts', 17 Dover Street, proporciona uma excelente oportunidade
para a descoberta das virtudes e das limitações da arte infantil. O
grande erro daqueles que se comprazem em exagerados elogios
às pinturas infantis reside na sua paixão excessiva pelo primitivo',
pelo instintivo', pela divina ignorância da criança. Tem-se feito
comparações absurdas entre a qualidade desses rabiscos
encantadores e até belos por vezes e a de trabalhos de artistas
mais
sofisticados. Por outro lado, nào há dúvida de que, além do seu
valor* intrínseco como arte infantil, esses trabalhos de crianças
oferecem o maior interesse ao especialista em psicologia e ao
educador. Revelam muitos segredos do misterioso funcionamento
do espírito da criança; e a técnica de encorajá-la a exprimir-se
com pincel e papel, sem inibições, é geralmente aceita agora
como uma forma de terapêutica mental do mais alto valor
educativo como o canto, a dança e a representação teatral. Quem
visitar a Exposição de Dover Street não hesitará em louvar a
notável qualidade dos trabalhos expostos pelos alunos de Augusto
Rodrigues e sentir-se-á orgulhoso se souber que foi uma
exposição de pinturas de crianças inglêsas, organizada no Brasil,
em 1941, pelo British Council, que deu o impulso inicial para o
desenvolvimento nesse País da educação infantil através da arte."
• « •
"Augusto Rodrigues descobriu depressa que, ao contrário dos
adultos que se interessam principalmente pela produção final — o
quadro —, as crianças deleitam-se sobretudo no ato mesmo da
criação. Por isso, encorajou os seus discípulos a pintar aquilo que
lhes apetecesse — sem assunto ou modelo obrigatório — e como
as crianças tanto apreciam a diversidade das técnicas, incitou-as a
usar grande variedade de processos: desenho e pintura, é claro,
mas também xilogravura, ponta seca, monotipia e mesmo 'finger-
painting'. Observando, por exemplo, uma criança, cuja maneira de
expressão própria tomou a forma, antes da aprendizagem, de
traduzir seus devaneios escavando a mesa com um canivete.
Augusto Rodrigues brandamente a conduziu para um bloco de
madeira ou para uma chapa de metal onde o mesmo ato de gravar
perdeu a sua feição destruidora para se tornar um processo
criador. O herói da Exposição é, sem dúvida, Hélio Alberto de 15
anos. A sua xilogravura de um pescador é cheia de vivacidade e
encanto. Merecem também especial menção os retratos (auto-
retratos possivelmente) de Miriam e Maria de 6 e 5 anos de idade
respectivamente, as casas nos desenhos coloridos de Célia e
Oswaldo, ambos de seis anos, a engenhosa colagem de Bety (6
anos) e a xilogravura de Ana Maria (11 anos) representando um
guerreiro índio, cheia de entusiasmo e movimento. A julgar pelo
carinho com que tratam os seus temas, ninguém duvidará que
Teresa (7 anos) venha a ser no futuro uma grande chapeleira,
José (10 anos) um marinheiro, André (9 anos) um botânico e
Dorismar (também de 9 anos) um artista de circo de alta escola".
(Do artigo que The Times, de Londres, publicou em sua
edição de 15 de agosto de 1955, sobre a exposição com
trabalhos de crianças da Escolinha de Arte do Brasil).
... "A segunda exposição é a das Escolinhas de Arte do Brasil, de
que é mentor e fundador o pintor brasileiro Augusto Rodrigues.
Fundada em 1948, na Biblioteca Castro Alves, outros núcleos se
criaram em vários pontos do Brasil, sob o impulso daquele artista e
da sua colaboradora Lúcia Alencastro, em atividade privada
entusiasta e a todos os títulos notável. A exposição das Escolinhas
de Arte que irá ao Porto e a Coimbra, abrange trabalhos infantis
de gravura, pintura e cerâmica e as suas produções se não trazem
novidades para nós, oferecem-nos o ensejo de apreciar as novas
técnicas postas ao serviço da expressividade infantil (como, por
exemplo, as xilogravuras e pontas secas) e meditar sobre o
interesse que a atividade criadora infantil merece aos brasileiros.
Enquanto no nosso país somente parte do ensino oficial (no ciclo
preparatório do ensino técnico, devido a uma reforma que se pode
considerar um milagre e que ainda está para ser compreendida
por alguns ignorantes) e num ou noutro estabelecimento do ensino
particular, se protege e cuida da atividade criadora infantil, no
Brasil, toda a atividade da criação artística infantil se deve à
iniciativa particular. Augusto Rodrigues não pretende com as
Escolinhas que todo o indivíduo se transforme num artista, num
criador, mas que, pela participação na criação da obra de arte, se
pode desenvolver a formação estética dos indivíduos, satis-
fazendo-se assim o desejo crescente que experimentam os
profanos de encontrar um modo de expressão pessoal.
A possibilidade de cada um se exercitar por si nas artes deve
oferecer-se a todo o momento, pois todos podem adquirir a
faculdade elementar de amador que lhes permita apreciar todas as
tradições principais das artes maiores, sem correr seriamente o
risco de ficar em nível muito superficial ou de prejudicar os seus
estudos profissionais. As Escolinhas de Arte do Brasil abrangem,
por isso, várias atividades (teatro, cerâmica, gravura, tecelagem,
silk-s-creen', cursos para professoras de jardins de infância, fabri-
cação de bonecas etc), dedicam-se especialmente a tudo quanto
pode enriquecer os meios de expressão e a experiência criadora,
principalmente no domínio da realização plástica".
(Trecho da coluna "Educação através da Arte", de M. M.
Calvet de Magalhães, no jornal O Primeiro de Janeiro, do
Porto, 13 de abril de 1955).
"S'il est vrai que l'évolution de l'individu humain est un raccourci du
chemin parcouru par l'espèce, l'enfant pour-raint dans sa mentalité
nous révéler certains aspects de l'homme préhistorique. Ceci me
semble évidente pour les gravures des enfants des Escolinhas de
Arte do Brasil qui sont ici proposées à notre émerveillement. Même
spontanéité du trait, même force incisive pour le creuser dans le
matérial dur, même joie de laisser une marque personnelle sur une
surface intacte. Ces graffiti' tracés d'une main impi-
toyable, d'une main qui ne connaît aucune des difficultés
téchniques et mentales paralysant si soubent l'adulte, sont le fugitif
reflet de ce paradis perdu, dont rêvent tant d'artistes".
(C. Johnny Friedlaender)
"J'ai vu les gravures des élèves des Escolinhas de Arte do Brasil,
elles sont un véritable message des enfants du Brésil pour nous
autres Européens".
(Fernand Leger)
(Depoimentos para o catálogo da exposição "Gravures
d'enfantes des Escolinhas de Arte do Brasil", Centre d'Art
Enfantin, Academie du Jeudi, Paris, outubro-novembro de
1954).
Critérios estabelecidos pela Escolinha de Arte para seleção e exposição de trabalhos de
crianças
1. Autenticidade do trabalho da criança, em sua pureza auto-expressiva e em sua
espontaneidade.
2. Valorização do sensível no desenho, pintura, gravura, colagem e em outras formas de
expressão artística. Também nos aspectos formais dos trabalhos, quanto à organização rítmica
do espaço, sensibilidade das linhas, cores e de outros elementos.
3. Adequação ao tema espontaneamente abordado pela criança.
4. Respeito à sua criatividade no emprego de materiais.
5. Valorização da força simbólica da auto-expressão infantil.
6. Considerar os fatores ambientais que condicionaram o desenvolvimento das experiências
criativas vivenciadas pela criança.
7. 0 produto final deve ser visto como ponto de reflexão e estudo e não como um resultado que
mereça prêmio, pois a criança expressa apenas um momento de seu processo de
desenvolvimento, numa determinada situação de vida.
8. Considerar o comportamento criativo da criança através da sensibilização de sua percepção,
afetividade, capacidade cognitiva e estética.
9. A participação da criança deve ser marcada pelo seu interesse e espontaneidade, sem
qualquer caráter competitivo, valorizando-se seu esforço criador.
É interessante ressaltar que, em reunião do Conselho Mundial da INSEA, de abril de 1974, em
Paris, foi afirmado que
"dar prêmios e promover exposições competitivas são iniciativas deploráveis, segundo os
objetivos da educação através da arte, devendo-se fazer o possível para evitar práticas dessa
natureza".
INSEA
0 interesse crescente pela filosofia e pela prática da educação através da arte em todo o mundo
levou a que, em 1951, os participantes do Seminário Teaching of the Visual Arts", organizado
pela UNESCO em Bristol, Inglaterra, tivessem a primeira idéia de criação de um organismo
internacional. Três anos depois, em Paris, realizou-se a primeira Assembléia Geral da
International Society for Education through Art, órgão consultivo da UNESCO. Segundo um
folheto de divulgação da INSEA, ela tem como
finalidade "promover a atividade criadora da arte na educação, como um sistema de
aprendizagem natural, proporcionando valores e disciplinas essenciais ao desenvolvimento
intelectual, emocional e social do homem numa comunidade."
• •
"É uma associação em bases universais dos que se relacionam com a Educação através da Arte
para intercâmbio de experiências e impregnação desta perspectiva na educação global. Estimula
a cooperação internacional e a compreensão entre os povos, dando ênfase a uma filosofia de
educação que respeite o direito de cada homem, como ser livre, para participar da vida cultural
da comunidade, capaz de criar beleza e usufruir dela em interação com o meio-ambiente."
* *
*
"Dirigida por um Conselho Mundial, assessorado por comissões Regionais para cada continente,
promove trienalmente um Congresso mundial e, nos anos intercalados, Encontros regionais para
exame de temas relevantes à vida educacional. Edita a revista Athené que é enviada
periodicamente a seus sócios."
A partir de 1960, é eleito Presidente de Honra da INSEA Sir Herbert Read. Augusto Rodrigues foi
sócio-fundador da INSEA, em sua primeira Assembléia Geral. Daí em diante, a Escolinha tem
participado de todas as atividades da organização, apresentando análises e depoimentos sobre a
experiência brasileira, contribuindo para a formulação de conceitos de arte-educação e
promovendo o intercâmbio entre países. professores e artistas. Um dos resultados benéficos
dessa participação intensa tem sido a vinda de artistas e educadores para ministrar cursos e
conferências na Escolinha e em outras instituições de ensino brasileiras.
Além disso, o contato com as instituições de outros países tem propiciado a ida de professores
brasileiros para estágios ou visitas. Os encontros da INSEA são oportunidades preciosas para
enriquecimento teórico e atualização de todos os que trabalham no campo da arte-educação.
Noêmia Varela, Diretora Geral da Escolinha de Arte do Brasil, foi. durante muitos anos, a
representante latino-americana da INSEA, cargo agora exercido por outro membro da Diretoria
da EAB e presidente da Sociedade Brasileira de Educação através da Arte, Zoé Noronha Chagas
Freitas. A preocupação central é a criação por parte dos países latino-americanos de sociedades
nacionais identificadas com essa perspectiva de educação para um trabalho comum.
EVOLUÇÃO DA EAB: A EAB HOJE
Os cursos
0 Curso Intensivo de Arte e Educação constitui-se, desde o seu início em 1961 até a Lei
5.692l71, no único curso de especialização para professores em educação através da arte.
Somente a partir dessa lei, começou a ser ministrada essa especialização oficialmente em outras
escolas, com a criação dos cursos de Educação Artistica. Foi. também, o único laboratório para
treinamento de professores de Arte, preocupado com aspectos de processo e conteúdo, capaz
de — mesmo não sendo oficializado — preparar professores para a operacionalização do
processo de educação através da
arte. Inicialmente, sua clientela foi de professores encaminhados pelo INEP. Depois. atingiu um
nível bastante diversificado, incluindo professores, artistas, psicólogos, sociólogos e artesãos,
bem como outros profissionais interessados em arte-educação. Essa clientela chegou á EAB,
também, através de outras instituições oficiais, como as Secretarias Estaduais de Educação e as
Universidades, ou por iniciativa pessoal, proveniente não só deste País como de outros da
América Latina. 0 objetivo geral do CIAE. segundo um prospecto do curso de 1964, e que se
manteve é "dar ao educador uma síntese das tendências atuais da educação através da arte e
suas implicações na complexidade social moderna".
Eminentes personalidades brasileiras visitaram a Escolinha: JK em 1958.
Seu programa básico pode ser resumido nos seguintes pontos:
fundamentos psicopedagógicos da arte na educação;
análise de experiências realizadas no campo da Educação Artística;
técnicas principais para o desenvolvimento da experiência criadora no processo educacional;
análise de outras experiências criadoras dentro e fora da escola, seu significado e importância no
complexo educacional;
temas de estudo e pesquisa relacionados ao processo educativo.
Quanto ao tempo de duração, o CIAE era dado inicialmente em três meses, depois passou a
quatro e, atualmente, se realiza em duas fases de quatro meses. O corpo docente do CIAE é
composto de educadores, psicólogos, sociólogos, artistas e outros profissionais, ligados à
educação e à arte, geralmente trabalhando sob o regime de cooperação, sem vinculo
empregatício, destacados entre as pessoas mais representativas nesses campos.
"Aqui temos aprendido sempre. O sucessivo contato com
professores, artistas, estudantes de arte, pessoas querendo fazer
experiências-arte para crianças', nos tem ensinado muito,
mostrando a necessidade de trabalho mais fundamentado. Ainda
não estamos satisfeitos com os nossos cursos. Temos limitação
de verbas e de pessoal".
• » •
"Muitos fatores contribuem para que se faça, ainda nessa forma
intensiva, o nosso curso para professores, visando à integração
cultural e não um curso de formação que pediria mais tempo e
currículo diverso. A orientação seguida tem dados bons resultados
— resultados que estão na dependência da bagagem cultural de
cada elemento. Para alguns, será uma revisão e abertura de
novas perspectivas. Para outros, ponto de partida, começo para
trabalho mais sério. Para todos, significa renovação de atitudes e
conhecimentos, maior consciência do que se vem fazendo no
campo da arte na educação. De cada curso se destacarão uns
poucos elementos já mais sensíveis à problemática que
fundamenta nossa experiência. Pediremos mais, em cada curso,
avançando em marcha gradativa, uma vez que partimos de
experiências onde muitos crescem fazendo. Esse fazer é
fundamental em educação e somente partindo dele poderemos
equilibrar a bagagem intelectualizada que recebemos de nossa
escola".
(Tópicos da carta de Noêmia Varela e Ana Mae Barbosa, 10
de setembro de 1963).
"A sociedade dinâmica e tecnológica de nosso tempo requer um
sistema educacional em permanente contato com a realidade do
mundo moderno. Se a educação não enfrentar o desafio lançado
pelas exigências da mudança, sua função social se tornará
irrelevante. Pressões sociais, imposições tecnológicas, ciências de
comportamento e demais fontes de transformação estão modifi-
cando a natureza do processo educativo em múltiplos
aspectos: cada vez que ocorre uma simples mudança no currículo
ou na organização escolar, o papel do professor se altera.
A problemática do papel do professor é agravada pela falta de
compreensão geral do que seja esse papel em quaisquer
condições; é preciso entender que se trata de um papel
diversificado e, hoje em dia, está em fase de transição como
resultante da dinâmica da sociedade e da própria escola. Quem se
dedica ao magistério deve constantemente reformular conceitos
relativos aos objetivos educacionais e estar preparado para
modificar atitudes, a fim de melhor atender às solicitações de
nosso mundo em evolução. Inovação tornou-se palavra-chave
para muitos educadores, insatisfeitos com as escolas; contudo, a
expressão deve ser entendida em termos de planejamento
educacional e de treinamento profissional, já que os professores
não são elementos estagnados e devem, por isso, ser preparados
para desenvolver seus papéis, a fim de se tornarem agentes
significativos da conseqüente transformação no meio educacional.
A sociedade contemporânea requer abordagens relativas à
preparação de professores: maior abertura para novas expe-
riências, tolerância em relação às constantes mudanças e
ambigüidade das situações, maior ênfase no que diga respeito à
estimulação e à liberação da autenticidade individual.
Levando esses princípios em conta, o programa de treinamento
anual para professores da Escolinha de Arte do Brasil, instituição
particular que lidera o movimento brasileiro de arte e educação,
enfatiza os processos de comunicação e de adaptação através
das relações interpessoais. Acreditamos que, desde o momento
em que os professores estiverem preparados para enfrentar novas
experiências e receptivos a modificar seus papéis, poderão melhor
compreender as realidades educacionais. Nosso principal objetivo
é conseguir que adquiram maior independência interna,
autoconfiança, estimulando-se a desenvolver suas características
individuais como seus próprios limites, através da mudança
autodirigida.
0 grupo é geralmente composto de 20 professores, vindos de
todos os estados brasileiros e de outros países da América Latina
(Chile, Paraguai, Uruguai, Peru, Argentina, Panamá),
apresentando diferentes padrões culturais e sociais, bem como
experiências diversas de magistério. 0 curso de treinamento é
planejado de modo a realizar uma revisão de métodos de ensino e
desenvolver técnicas nos diferentes ramos da educação artística
(música, pintura, teatro, dança, etc.); a programação abrange
conferências, aulas, discussões, seminários, sessões de grupo
relativas ao processo da criatividade em seus aspectos sociais,
psicológicos e educacionais, procurando desenvolver nos
professores as capacidades de análise e síntese, de avaliação e
observação, de flexibilidade de julgamento, bem como o
pensamento divergente.
Sendo as atividades criadoras o produto de uma interação entre a
pessoa e o ambiente, daí se depreende que um
professor de arte deve cuidar também de seu enriquecimento
perceptual, estético, emocional e intelectual, devendo estar
consciente de sua responsabilidade na comunidade. como a
maioria dos professores retornam a seus estudos, há sempre uma
expectativa social do que irão fazer no campo educacional,
mesmo porque muitos já exercem funções importantes e têm
influência no âmbito das escolas. Aprender descobrindo é uma
das nossas principais preocupações com o grupo; oferecemos
oportunidades para que se exercitem através das atividades do
curso e da observação das classes infantis na própria Escolinha,
tendo assim um campo prático de trabalho. 0 curso é intensivo,
com cerca de quatro meses de duração. Cada ano o programa
das atividades complementares, como visitas às instituições
educacionais, centros de pesquisa e museus, é alterado de acordo
com os interesses do grupo. uma equipe de educadores, diretores
de escola, psicólogos, antropólogos, sociólogos, artistas e
arquitetos participa do curso, sendo selecionada não só pelo
gabarito profissional elevado, mas sobretudo por sua habilidade
em comunicar e manipular idéias com os professores, fazendo
com que reformulem atitudes e conceitos.
uma vez que o programa de treinamento da Escolinha pretende
preparar os professores para atuar na comunidade, integrando a
educação artística no sistema escolar (nível primário, secundário,
de caráter público ou privado) especialistas em educação
discutem com o grupo problemas e dificuldades.
Na avaliação final do curso observamos que os professores
registram como resultados positivos: a mudança de seus
conceitos relativos à arte e educação, a modificação dos
comportamentos, melhor compreensão do papel da professora,
modo mais autêntico de ensinar, aceitação mais real de limites
pessoais, confiança no trabalho e respeito às diferenças
individuais. Eis alguns depoimentos expressos em seus relatórios:
'Parece-me que amadureci e não tenho mais medo de mudar
porque agora entendo melhor as mudanças, da realidade e do
mundo'; enfrentando a mim mesma, posso enfrentar os outros e
tornar-me uma professora mais autêntica; atividades criativas
fizeram com que me sentisse eu mesma'.
Sentimos assim que compreendem que uma atitude criadora
representa uma resposta adequada a uma situação nova e uma
resposta mais adequada a uma outra situação anterior e que os
professores devem ser capazes de modificar seu comportamento
em resposta a novas informações, desenvolvendo diretrizes, a fim
de que se possa esperar do aluno respostas criativas em oposição
a respostas limitadas ou restritas.
A experiência de mais de vinte anos da Escolinha de Arte do
Brasil prova que só mudando as atitudes dos professores e
preparando-os para serem flexíveis, criativos e inovadores nas
escolas, responsáveis e sensíveis às necessidades dos alunos,
podem ser considerados como agentes facilitadores do processo
de aprendizagem, estimulando os indivíduos
para atividades criadoras, a fim de conseguir uma adaptação
melhor ao nosso mundo em mudança e às nossas
realidades sociais e culturais.
Atividades criativas permitem ao indivíduo que progrida por
si mesmo, de modo consistente; portanto, um programa de
treinamento deve ser um processo que seja orientação e
não repressão, estimulando a mudança, proporcionando
oportunidades para transferir e aplicar o conhecimento e a
teoria às situações da realidade".
(Maria Helena Novaes, comunicação apresentada ao
Congresso promovido pela INSEA, com sede em Con-
ventry. Inglaterra. Publicado no jornal Arte & Educação).
"(O ClAE) é um curso provocador do que chamamos prontidão para mudanças, muitas vezes
bem sensíveis seja no próprio professor-aluno, seja em escolas e outras instituições
alargando, estrategicamente, dimensões da personalidade e estendendo as fronteiras da
experiência Escolinhas de Arte. como exemplo, citamos apenas a rede de Escolinhas de Arte do
Rio Grande do Sul, onde funcionam Escolinhas como entidades privadas, outras ligadas à
Universidade, Escolinhas mantidas pela Secretaria de Educação e Cultura do Estado, bem como
as que são apoiadas pelo governo municipal. Nelas estão muitos dos ex-alunos dos primeiros
cursos intensivos que organizamos professores de desenhos, na maioria recém-saídos da
Escola de Belas Artes, hoje Instituto de Artes. Lembramos também o harmonioso trabalho da
Escolinha de Arte del Paraguay que, fundada somente em 1959, conseguiu há alguns anos
motivar a integração da arte no sistema educacional paraguaio, segundo métodos e processos
das Escolinhas.
Não recebendo o Curso Intensivo apenas professores titulados e leigos, caracteriza-se também
pela sua abertura para artistas, artesãos e estudantes de arte; psicólogos e professores de
pedagogia, juntamente com alunos dos cursos de Psicologia e de' Faculdade de Educação
motivando impacto e descoberta do outro, em sua originalidade individual e poder criativo, em
seus condicionamentos e pobreza de expressão simbólica. Na verdade, o Curso Intensivo è
apenas o começo de um longo processo de preparação do professor criativo, polivalente e não
especializado. È um curso também de autodescoberta jamais completo, estimulando atitudes pela
reformulação e reavaliação de experiências. E a visão mais larga de seu processo tem para nós
interesse primordial devemos apurá-lo por ser inerente ao destino do Homem, a mudança pelo
processo. A equipe de professores do Curso Intensivo vem sendo formada de modo singular e
mais uma vez Augusto Rodrigues, na época, inovou, quando na procura da melhor solução para
formá-la, chamou não somente o professor titulado e com experiência de alto nível, mas também
conquistou para essa equipe o artista, o artesão, o crítico de arte, o jornalista, o técnico de
futebol, o poeta, o cientista e todo aquele capaz de alargar a percepção do professor-aluno. A
diversidade de formação do staff de professores e a heterogeneidade do grupo de professores-
alunos, aparentemente paradoxais, tem constituido fonte de renovação e transformação desse
curso. Seus programas têm sido planejados, sucessivamente, para os períodos de dois, três e
quatro meses, no decorrer dos dez anos de nossa experiência. Sempre no sentido de despertar a
capacidade criadora do aluno, dando-lhe a compreensão do comportamento criativo do homem, e
a função da arte no processo da educação. Provoca o uso da imaginação e da invenção na meta
da organização de experiências construtivas. É um aprender fazendo, que se fundamenta em
estudos sobre Arte, Educação e Psicologia e no enfoque dos princípios filosóficos básicos para
melhor compreensão de como educar pela arte. Não formamos o professor especializado de arte.
mas indicamos ao educador o cami-
nho para a mudança, a fim de descobrir, se lhe convier, a especialização. Nesse processo de
crescimento empregamos o mesmo método usado há milênios pelo Homem, na sua marcha
transformadora no tempo e no espaço, o caminho da criatividade. Encontramos nesses dez anos
de elaboração do Curso Intensivo, significativas respostas, principalmente a que se relaciona à
sua forma original ser o único curso de arte e educação para professores de todos os graus de
ensino o que nos permitiu, de certa forma, estimular e descobrir a criatividade do educador
brasileiro. As caracteristicas de seu processo atraíram o artista e o estudante de arte, tornando
possível sua integração em escolinhas e escolas, como educadores. Foi criado um novo mercado
de trabalho.
O artista transformado no artista-professor, inserido numa outra forma de trabalho criativo, capaz
de captar sua sensibilidade, pensamento e ação criadores para renovação da escola.
Paradoxalmente é um curso não oficializado que vem preparando professores para escolas
governamentais.
A aceitação e a maior procura desse curso, nos últimos anos, congregando pelo seu caráter,
objetivos e programação, professores do Brasil e América Latina, nos vem preocupando
seriamente. como curso em processo criativo, nunca se completou nem satisfez plenamente,
mas a essas naturais decorrências se agregam outras relacionadas ao mundo de hoje e ao aluno
que nos chega.
E à vigilante perspectiva da Escolinha, vem sendo incorporada a crescente ansiedade de seus
alunos, traduzida na solicitação de mais tempo para o curso, formação melhor em periodo mais
prolongado, nivel do curso definido oficialmente no contexto da educação em geral".
Caracterização do CIAE — notas de Noêmia Varela (comunicação ao Encontro do Movimento
Escolinhas de Arte — julho de 1972)
"0 CIAE não era uma experiência intelectual nem algo estruturado. Acontecia. E era bom ouvir
Helena Antipoff, Anisio Teixeira ou Nise da Silveira. Os professores estavam ali por amor à
Escolinha. Havia uma atmosfera de compreensão e um interesse em buscar as reações dos
alunos para melhorar. A experiência era sentida como algo não estratificado.
Não sei como foi a evolução do CIAE.
Gostaria de ver o CIAE mais estruturado, mais planejado, a partir desta pesquisa e destas
entrevistas, aproveitando a experiência vivida pelas pessoas, o conhecimento de materiais e
teorias. Mesmo não se propondo a ser um curso profissionalizante e não impondo pré-requisitos,
colocando ainda como fundamental o conjunto das experiências que podem ser arrumadas de mil
maneiras! a Escolinha deveria, a meu ver, ser traduzida em algo mais organizado".
(Do depoimento de Márcia Trigueiro, aluna do CIAE-1971; lecionou educação artistica e
trabalha com Psicomotricidade numa clínica para crianças deficientes).
Dos cursos de desenho para adultos na Escolinha de Arte do Brasil
Os cursos de desenho para adultos da Escolinha surgiram em função da necessidade de
preparação de professores e de adultos em geral, que, além do exercício de atividades artísticas,
pudessem formar um núcleo que, entre outros propósitos, os possibilitasse a trabalhar pelo
reconhecimento social da arte infantil e pela difusão de nossas atividades nas várias escolas.
Nos cursos de desenho para adultos, nos orientamos no sentido de dar possibilidades de
expressão a todos, cuidando especialmente daqueles que, tendo sofrido fases
repressivas em sua educação, se inibira e, por falsos conceitos adquiridos, se limitaram nos
meios de expressão.
como em relação às crianças, a Escolinha permite que o adulto se expresse livremente, dando-
lhe os meios que facilitem sua expressão, caminhando posteriormente, dentro do natural
desenvolvimento, para a análise e crítica do desenho. Mais do que com as crianças, o problema
do ensino de arte para o adulto torna-se complexo, exigindo cuidados especiais. No adulto, trata-
se antes de tudo de reabilitá-lo à prática do desenho, pois ao contrário do que acontece com a
criança, ele já traz consigo alguns conceitos errôneos, dentre os quais exigir do desenho
qualidades especiais que nem todos possuem, além de uma censura e autocrítica baseados
nesses mesmos falsos conceitos. Essa reabilitação só é conseguida através de um trabalho de
desinibição, até que se consiga a pureza e disponibilidade espirituais necessárias para que o
aluno se sinta à vontade e se expresse livremente.
De modo geral, quase todos, no início das aulas, trazem consigo a impressão de que o
ensinamento se limitará a um prosseguimento dos conceitos conservadores a respeito do
aprendizado de desenho, que tradicionalmente são ministrados na generalidade de nossas
escolas e colégios, incluindo apenas um aperfeiçoamento decorrente de uma prática e
assistência mais demoradas.
É necessário então que se processe um trabalho de subversão dos moldes tradicionais
repressivos, para dar lugar a uma didática desintoxicante e benfazeja. começa-se por atacar o
problema na sua parte mais preliminar, tratando-se antes de tudo de variar completamente a
natureza do material tradicionalmente empregado, substituindo-os por técnicas novas que
facilitem uma expressão mais imediata e espontânea. 0 aluno ó levado, através destas técnicas,
pelo prazer e ineditismo que elas possuam para ele, a criar alguma coisa impulsionado
inicialmente pela curiosidade natural de experimentar o funcionamento do novo processo, e logo
depois, a adaptar temas e formas que melhor se identifiquem com as possibilidades do material,
desenvolvendo assim, desde logo, sua capacidade inventiva e criadora, situando-se no exato e
desejado comportamento.
Nem sempre a conquista é imediata e, em alguns casos, o trabalho torna-se mais prolongado até
que se consiga a confiança e crédito do aluno em relação aos métodos que lhe estão sendo
dados. Pelo falso conceito geral de que aprender desenho é coisa muito séria e da austeridade
com que seu estudo deve ser encarado, alguns relutam em ver, desde logo. nos meios
aparentemente indisciplinadores, pelo encanto do jogo e facilidade, o caminho, inicial para a
reconstrução. Reside, no entanto, justamente nessa leveza e naturalidade na maneira de levar o
aluno ao desenho, o segredo do seu interesse e encantamento.
Curioso é notar que, no início do contato com as novas técnicas de desenho, resultam trabalhos
de real beleza e valor, mas que nem sempre são percebidos pelo aluno que o executou; e
quando, em sua apreciação, o professor exalta as qualidades nele existentes, é com certo
espanto e desconfiança que o aluno recebe a crítica. É que, por parte do aluno, a sua própria
apreciação ainda se baseia em padrões que ele adquiriu erradamente em relação ao que e bom
e desejável em arte. Aos poucos, porém, ele próprio passa a perceber, pela continuidade e
vivência com os processos, onde reside o verdadeiro sentido da expressão artística.
De posse, então, de novos conceitos e de maior consciência artística, ele estenderá essa
sensibilidade a todas as outras técnicas com que for tendo contato, praticando as devidas
transposições que a cada uma delas condicionar.
Ainda como no curso infantil, a Escolinha, nos seus cursos para adultos, não pretende formar
artistas e sim pôr à disposição dos seus alunos os meios para o desenvolvimento estético e
posteriormente atingirem uma consciência artística. As aludidas técnicas iniciais, utilizadas nos
cursos para adultos, compreendem vários processos que sempre vão se enriquecendo á medida
que o professor as vai descobrindo em suas pesquisas. 0 desenho chamado "meio cego"
possibilita maior liberdade para o aluno, pois que não permite a crítica durante a sua execução,
facilitando a
manifestação mais direta da sensibilidade. Esta espécie de desenho é obtida calcando-se com
um palito de fósforo, cabo de caneta ou objeto semelhante sobre uma folha de papel opaco
colocada sobre uma placa de vidro, metal ou madeira, coberta com uma fina camada de tinta de
imprimir. Acabado o trabalho, retira-se a folha de papel e o desenho estará registrado no verso.
Outro processo de igual alcance é o que consiste em desenhar com um estilete de metal
pontiagudo, com o qual o aluno provoca sulcos sobre o papel, que, em seguida, ao se aplicar
uma tinta aguada com um pincel se tornarão mais escuros, pois a tinta se fixará neles mais
fortemente do que na superfície lisa do papel. Na feitura de trabalhos em que são utilizados
recortes de papel e colados para formar desenhos, reside um grande fator de libertação pelo que
ele oferece de simplicidade e surpresa na sua execução, pois não permite que o aluno rebusque
demasiado a forma, exigindo-lhe uma atitude mais livre e sintetizadora diante do trabalho. Ainda
outras técnicas de função idêntica são aplicadas, tais como a feitura de desenhos com arame,
desenhos obtidos esfregando-se o lápis-cera sobre a folha de papel contendo por baixo formas
recortadas, o nanquim lavado, aparecendo os brancos previamente isolados com tinta de guache
etc.
Estes processos visam substituir o emprego do lápis comum, a fim de não permitir que ilações
relacionadas com este material e o aprendizado mal orientado venham contribuir para a
reincidência de erros.
Não há nenhuma determinação sobre o tipo de trabalho inicial, isto é, o aluno não é levado ao
desenho de imaginação ou do natural por imposição, e sim por sua livre escolha. No caso do
aluno se iniciar pelo desenho de imaginação, o professor aguarda o momento oportuno para que,
através do desenvolvimento normal, apareça o interesse pelo desenho do natural. Se, ao inverso,
o aluno se inicia pelo desenho do natural, depois de certo desenvolvimento, estimuladas suas
qualidades inventivas, ele passará ao desenho de imaginação.
Simultaneamente ao aprendizado destas técnicas iniciais, o aluno vai recebendo conceituações
sobre o desenho, suas várias espécies e finalidades a que se destina.
(Texto manuscrito de Abelardo Zaluar, para distribuição interna da EAB).
A contribuição de fora
Desde Margaret Spencer — fundadora da Escolinha com Augusto —, Milagros Veloso, Maria
Fuks, Seonaid Robertson, inclusive aqueles que se tornaram brasileiros como o argentino Ho
Krugli, a EAB sempre acolheu um número muito significativo de estrangeiros de passagem —
mais ou menos longa — pelo Brasil. A idéia era sempre integrar o trabalho feito no País com o
movimento arte-educação em termos mundiais. Trocar experiências, enviar bolsistas ao exterior
e trazer de lá quem quisesse dar elementos para o avanço do movimento aqui. E assim,
passaram pela Escolinha alguns dos nomes mais significativos da educação e da arte do mundo.
Tom Hudson principal discípulo de Herbert Read deu cursos na Escolinha em 1971, 1973 e 1975.
Seu tema central era arte e tecnologia na educação, sob o título geral de "Educação criadora",
apresentada através de palestras, seminários e atividades criativas. Além do Rio, trabalhou em
São Paulo, Brasília e Salvador. No depoimento que enviou por carta inclui, dentre os aspectos de
maior importância para o desenvolvimento da EAB, os seguintes, para os quais acredita ter
contribuído:
treinamento de professores e especialistas em desenvolvimento criativo para crianças;
fazer da arte-educação matéria no currículo das escolas;
demonstração das possibilidades criativas do desenvolvimento da criança: artístico, pessoal e
social;
desenvolvimento de uma rede de arte-educação através do país e na América do Sul.
Estágios
0 quadro geral dos cursos e convênios dá uma visão panorâmica do trabalho desenvolvido ao longo
dos anos pela Escolinha de Arte do Brasil. A título de exemplo, eis uma síntese de um relatório de
estágio (observação e treinamento, acordo com a Secretaria de Educação do Estado da
Guanabara, 1974). Objetivos gerais:
estimular o desenvolvimento da capacidade criadora do educador, incentivando atitudes e
comportamentos adequados à educação criadora (campo profissional);
compreensão da ação educativa da arte, sobretudo sua função integrativa;
• estudo para soluções básicas, visando à renovação do ensino criador, na área da educação
artística.
A metodologia usada no CIAE é a do "fazer fazer" — o partir sempre da experiência direta.
Os resultados que vimos observando nestes dez anos de experiências são, basicamente, os
seguintes:
— um impacto inicial dos professores-alunos e artistas-alunos pelo espírito não-aca-dêmico;
— oportunidades constantes de "catarses" individuais e de grupo;
reforços de idéias fundamentais por redescobertas (conseqüências de experiências em
campos diversos, mas abordadas dentro de um clima muito aberto)
importância da criatividade na vida individual e na sociedade;
necessidade de um clima de liberdade para que haja libertação da criatividade;
valorização do que cada um é capaz de dar, aceitação do que cada um é;
descoberta e valorização de nossos meios de expressão.
"Pensamos que, na medida em que se atinge uma maior amplitude de perspectivas através de
uma experimentação mais ampla e mais livre de várias formas de expressão, o professor
especializado em deficientes mentais encontrará novos meios de desenvolvimento do seu
educando e, o que é mais importante, uma visão melhor, porque mais otimista e mais completa,
do seu aluno."
• • •
"Aos poucos, do contato que tivemos com todos vocês da Escolinha, aprendemos uma grande
verdade: ninguém estava aqui para ser julgado, muito pelo contrário, vocês mostravam tudo de
bom que tinham para nos dar e, em troca, só nos pediam que trouxéssemos nossa contribuição,
criticando construtivamente, para que, cada vez mais, as crianças principal objetivo da
Escolinha fossem beneficiadas".
(Depoimento de estagiárias da Secretaria de Educação (1971)
Campanhas e projetos: realizações e esperanças
Outro campo de trabalho da Escolinha, cheio de possibilidades, constitui-se nos projetos e
campanhas que, além de envolverem entidades, crianças e jovens, professores e comunidades,
têm objetivos específicos considerados relevantes em termos educacionais.
Em primeiro lugar, o objetivo de sensibilizar a criança para a memória cultural do país e das
comunidades. Desde a década de 50, pelo menos. Augusto Rodrigues arquiteta um projeto de
grandes dimensões: fazer as crianças desenharem o Brasil, partindo de sua cidade, seu estado,
sua região. Ensaios dessa idéia foram realizados. Os projetos "0 Rio de Janeiro visto por suas
crianças", "Ouro Preto visto pelas crianças" e outros semelhantes foram empreendidos,
chegando à fase de exposição. "Igarassu visto por
suas crianças", realizado pela Escolinha de Arte de Recife, foi publicado com texto de
Mauro Mota, em coedição da Presença com o INL/MEC.
Outro objetivo — despertar na criança e no adolescente o interesse pelo estudo das
realizações e do pensamento de grandes personalidades brasileiras ou estrangeiras —
foi levado adiante com os projetos "Mauá" e "Mahtma Gandhi".
O trabalho com os professores e com as crianças, em termos de sensibilização cultural
e estética, foi desenvolvido através do projeto FRAPE (Função Reativadora das Artes
Plásticas na Educação), em conjunto com o Instituto Nacional de Artes Pláticas, MEC e
FUNARTE, através do projeto "A Criança e o Museu", com a Fundação Movimento
Universitário de Desenvolvimento Econômico e Social (MUDES), e do Programa de
Desenvolvimento Integrado de Arte na Educação (PRODIARTE).
0 trabalho baseado no jogo, na ludicidade e na alegria de brincar tem proporcionado
experiências bastantes ricas como os "Domingos da Fantasia", em conjunto com o
Departamento de Cultura da Secretaria de Estado de Educação e Cultura do Rio de
Janeiro, o projeto "Atividades lúdicas no Jardim de Infância", e o projeto "Brincar,
Viver e Aprender", realizados no interior do Estado do Rio de Janeiro.
Em 1959, num trabalho conjunto com a Nestlé, a Escolinha promoveu a campanha
"Faça você mesmo o seu cartão de Natal" com resultados estimulantes.
A visão panorâmica dos projetos e campanhas desenvolvidos pela Escolinha de Arte do
Brasil e pelas entidades que a ela se associaram, aponta para o aprofundamento dos
valores mais arraigadamente humanos e nacionais; tendo como base os fundamentos
permanentes de sua filosofia: respeito pela criança e liberdade de expressão. Da
combinação desses elementos, um leque enorme de possibilidades: projetos para hoje
e amanhã, possíveis concretizações de um ideário.
Jornal Arte & Educação
A Escolinha sempre publicou textos — traduzidos ou de autores brasileiros — que serviam de
subsídios para os diversos cursos e atividades. Textos "clássicos" para a Escolinha, como "é
preciso olhar a vida inteira", de Henri Matisse, resumos de livros de Herbert Read, o artigo "Ao
resto, o resto", de Augusto Rodrigues e muitos outros foram reimpressos muitas vezes e
distribuídos para os alunos e professores que passaram pela Escolinha. Resumos das aulas de
professores como Tom Hudson e textos divulgando técnicas e utilização de materiais, como os
do curso de Miss Robertson, tornaram-se documentos bastante procurados até por pessoas de
fora da Escolinha. Mas, a partir de 1969, começou-se a sentir mais agudamente a necessidade
de uma publicação sistemática que fosse porta-voz das idéias da Escolinha e do Movimento da
Educação através da Arte. Reuniões de Augusto Rodrigues, Cordélia de Moraes Vital, Zoé
Noronha Chagas Freitas e Noêmia Varela concluíram que estava na hora de a EAB editar o seu
jornal. Além de divulgar as idéias, seria um meio de analisar experiências e um campo fértil de
debates. Jader de Medeiros Britto foi chamado para editar o jornal e começou a reunir material.
Em 1970, saiu o número zero de Arte & Educação. Augusto Rodrigues foi editor do número 1 ao
13, Jader do 14 ao 20, sempre assessorados pelo Conselho Editorial que programava as
matérias. Dos números 21 a 23, a responsabilidade ficou a cargo do prof. Mauro Costa. com a
reestruturação do jornal, ele passou a ser patrocinado pela SOBREART, continuando a ser órgão
da Escolinha.
"Em julho de 1970, realizou-se em Coventry, na Inglaterra, a XVI Assembléia Mundial da INSEA
(International Society for Education throuth Art) de que participaram, representando a Escolinha,
sua Vice-Presidente e a Assistente de Direção, respectivamente Zoé Chagas Freitas e Maria
Helena Novais Mira.
Foi distribuído, na ocasião, um jornal de Biologia que despertou especial interesse pelo conteúdo
da informação, bem como pela forma gráfica, simples, moderna.
Um mestre internacional
.Tom Hudson dá o seu recado na Escolinha.
Zoé nos trouxe um exemplar desse jornal a titulo de sugestão para a experiência gráfica que
iamos realizar. Fiquei com a responsabilidade editorial e pude contar, mais tarde, com a
colaboração regular de um Conselho Editorial de que participavam Augusto, Zoé, Noêmia, Cecília
Conde, Paulo Alberto Monteiro de Barros, Maria Helena Novaes, Flávia Lobo e Paulo Afonso
Grisolli. Reunida a matéria para o número zero (artigos, relatos de experiências, entrevistas,
notícias, desenhos de crianças, fotografias) e definida sua programação visual, em que pude
contar com a assistência estimulante de Ziraldo, fui com Zoé à oficina gráfica de O Dia, onde o
jornal Arte & Educação passou a ser composto e impresso. Contribuiram para esse número, com
artigos especiais, o professor Anísio Teixeira, a profª Maria Helena Novaes Mira, o Dr. Pedro
Ferreira, a Dra. Nise da Silveira e outros. Em setembro de 1970 circulou o número zero."
* * *
"0 Conselho Editorial definia temas a serem debatidos pelo jornal: literatura infantil, lazer,
educação pré-escolar etc. A tiragem e distribuição eram problemas contínuos. 0 número zero
teve uma distribuição de 3 mil exemplares, esgotada. Depois, com Augusto como editor, passou
a 5 mil exemplares. A maior tiragem que lembro foi de 8 mil exemplares, o número sobre
educação pré-primária. Desse número foi pedida uma tiragem maior para o Congresso da
Organização Mundial de Educação Pré-escolar (OMEP), em São Paulo.
Agora, o jornal está sob a responsabilidade de Mauro Costa, desenvolvendo a reflexão e
continuando com o registro de novas experiências educacionais. Defendo a permanência do
jornal. Além dele, deve-se partir para a concepção de um Anuário de Arte e Educação, com as
contribuições teóricas mais significativas, informes de pesquisas e realizações criadoras
relevantes na área, em nosso país e na América Latina".
(Do depoimento de Jader de Medeiros Britto)
"Faço parte do Conselho Editorial do jornal Arte & Educação, que considero muito importante por
ser a única contribuição para o professorado do Brasil que liga todas as ciências, técnicas e artes
que estão relacionadas com a educação. Ê um repositório da reflexão brasileira sobre esse
tema".
"0 curioso desse jornal é que ele tendo uma tiragem pequena, é simplesmente devorado pelas
professoras, tal a carência de publicação especializada".
"0 jornal precisa se adequar à sociedade de massas contemporânea, ganhar tamanho, volume,
distribuição e freqüência para chegar efetivamente aos professores".
(Depoimento de Paulo Alberto Monteiro de Barros)
uma nova sociedade
Em 1973, o pessoal da Escolinha de Arte do Brasil se reuniu em uma nova entidade jurídica
destinada a expandir o trabalho de arte-educação no País e relacioná-lo, de maneira mais eficaz,
com o movimento no resto do mundo: Sociedade Brasileira de Educação através da Arte. Sob a
coordenação de Zoé Noronha Chagas Freitas, a
SOBREART se lançou ao financiamento de pesquisas, assumiu a publicação do jornal Arte &
Educação — que continuou a ser órgão da Escolinha de Arte — e se fez representar em
congressos e encontros internacionais até realizar em 1977, no Rio de Janeiro, o Encontro Latino
Americano de Educação através da Arte.
A SOBREART "visa ampliar as dimensões da educação criadora
no País e representar seus interesses no âmbito internacional.
Atua no sentido de integrar a arte no processo educativo,
fomentando a pesquisa, a realização de experiências, reunindo e
divulgando a documentação na área e promovendo o intercâmbio
de informações por meio de seminários, congressos, exposições,
cursos, estágios".
(Folheto de divulgação da SOBREART, INSEA e Escolinha de
Arte do Brasil).
A EAB NO PROCESSO
EDUCACIONAL BRASILEIRO
AS DIVERSAS FACES DA ESCOLINHA
"O que sempre se pensou é que a Escolinha deveria desaparecer no dia em que suas idéias,
principios e métodos fossem integrados na escola comum, quer dizer, a partir dai ela não teria
mais razão de existir. Mas, como provavelmente isso nunca vai acontecer, espera-se que tenha
vida longa".
• •
"São diversas as faces da Escolinha, desde aquela mais tìpica, voltada para as atividades com
crianças e que apresenta uma problemática especifica, à Escolinha do CIAE, destinada à
formação de professores em arte/educação. Há também aquela voltada para os cursos de
gravura e a Escolinha do intercâmbio com outros estados, com outras Escolinhas, com outros
países, com outras instituições. Finalmente a Escolinha que está aparecendo, que vai surgindo, a
dos convênios. São os mesmos elementos está ai Dona Noêmia como prova trabalhando
em quatro, cinco áreas diferentes. A Escolinha è grande nisso: são muitas atividades, o corpo de
pessoal é muito pequeno, a área também è pequena, mas o trabalho continua".
• •
"Então são cinco escolinhas: a Escolinha das crianças, a Escolinha dos jovens, a Escolinha dos
convênios, a Escolinha do CIAE e a Escolinha do intercâmbio".
(Depoimento de Jorge Santos)
1. A Escolinha das crianças e dos jovens — laboratório em arte-educação
— educação especial
— recreação
2. A Escolinha dos adultos
divulgação de técnicas
cursos de complementação cultural
3. A Escolinha do CIAE
formação de educadores
4. A Escolinha dos convênios
— Pestalozzi/PUC/Prodiarte/MUDES/Secretarias de Estados
5. A Escolinha de intercâmbio
Movimento Escolinha de Arte
A parte relativa ao ensino da arte e a formação dos professores no campo da educação
artística se baseia, em grande parte, nos trabalhos de Ana Mae Tavares Barbosa,
principalmente no seu livro 'Teoria e prática da educação artistica", que é a síntese
mais cuidada sobre um assunto pouco estudado no Brasil.
Além de ser a principal estudiosa de educação artística hoje, Ana Mae é pessoa
vinculada à Escolinha de Arte do Brasil.
Em seu depoimento para a pesquisa afirma Ana Mae:
"Meus primeiros contatos com a EAB se deram em 1964, quando comecei a organizar a
Escolinha de Arte da Universidade de Brasília. Antes, meus contatos haviam sido com a
Escolinha de Arte do Recife, iniciados em um Curso de Preparação de Professores para o
Concurso da Secretaria de Educação de Pernambuco, através de Noêmia Varela, Paulo Freire e
Raquel castro. Na Escolinha de Arte do Recife, fui estagiária (1968), professora (1959), diretora
(1960) e coordenadora pedagógica (1960 a 1964 e 1966). A Escolinha despertou o interesse do
educador pela arte na educação e nutriu este interesse fornecendo-lhe possibilidades de
desenvolvimento teórico-prático na área, através de cursos e estágios.
Meu último contato se deu em julho de 1978 em uma aula para o ClAE. No mesmo ano. em
outubro, obtive o titulo de doutor em Educação na Universidade de Boston (major: Educação
Humanística e comportamental; minor: Arte-Educação), com a tese: 'A influência americana no
ensino da Arte no Brasil: análise de dois momentos (Walter Smith e John Dewey)".
CONCEITOS SOBRE O ENSINO DA ARTE
"0 conceito de ensino da arte como adorno (algo não usá-vel em
si mesmo, periférico no currículo) firmou-se quando foi
estabelecido nos programas de escolas para moças de alta classe
nos Estados Unidos, nas primeiras décadas, e no Brasil, na
segunda metade do século XIX".
• •
"com a República, novas leis educacionais incluíram o desenho
geométrico no currículo, não com fins de aplicação à indústria,
como chegara a propor Rui Barbosa, mas com o objetivo, nascido
do positivismo, de desenvolver a racionalidade".
» •
"A partir de 1920, com as tentativas de reforma de Sampaio Dória,
depois reforçadas pela Escola Nova, começou no Brasil o
movimento de inclusão de Arte na escola primária como uma
atividade integrativa, uma espécie de segunda linguagem, para
expressar ou para fixar o que tinha sido aprendido nas aulas de
geografia e estudos sociais. Os métodos, contudo, continuariam
os mesmos. Na maioria dos casos, as crianças desenhavam
copiando do material visual usado como motivação".
"A primeira grande renovação metodológica no campo da Arte-
Educação se deve ao movimento de Arte Moderna de 1922. No
Brasil, como já havia acontecido na Áustria com Cizek, o interesse
pelas teorias expressionistas e pelos escritos de Freud levou a
uma valorização da arte infantil. Mário de Andrade e Anita Malfatti
foram os introdutores das idéias de livre-expressão para a criança.
Anita, orientando classes para jovens e crianças em São Paulo, e
Mário de Andrade promovendo programas e pesquisas na
Biblioteca Municipal de São Paulo, escrevendo artigos a respeito
em jornais e introduzindo no seu curso de História da Arte. na
Universidade do Rio de Janeiro, estudos sobre a Arte da Criança.
A idéia de livre-expressão, originada no expressionismo, levou à
idéia de que a Arte na educação tem como finalidade principal
permitir que a criança expresse seus sentimentos e a idéia de que
a Arte não é ensinada, mas expressada. Esses novos conceitos,
mais do que aos educadores, entusiasmaram artistas e
psicólogos, que foram os grandes divulgadores dessas correntes
e, talvez por isso, promover experiências terapêuticas, passou a
ser considerada a maior missão da Arte na Educação.
De 1937 a 1945, o estado político ditatorial implantado no Brasil,
afastando das cúpulas diretivas educadores de ação renovadora,
como Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo, entravou a
dinâmica educacional, possibilitando a solidificação de inúmeros
clichês pedagógicos, entre os quais aquele que caracteriza a Arte
na Educação como função de liberação emocional.*'
* * *
"Contudo, a idéia da livre expressão somente alcançou a escola
pública durante os anos 30, quando outra crise político-social, a
mudança da oligarquia para a democracia, exigiu reformas
educacionais. O movimento da Escola Nova explodiu então no
País, tentando transformar o deficiente sistema de educação.
Fortemente influenciados por Dewey, Claparède e Decroly, os
líderes do movimento afirmavam a importância da Arte na
Educação para o desenvolvimento da imaginação, intuição e
inteligência da criança. Nereu Sampaio, um professor de desenho,
traduziu textos e divulgou a idéia da arte como experiência
consumatória, de John Dewey. Ele também orientou algumas
experiências valiosas naquele tempo sobre o desenvolvimento da
criança através da arte, na Escola Normal do Distrito Federal.
Quando o movimento para incluir arte como livre expressão nas
escolas primárias estava no auge, o Estado Novo iniciou a
repressão no campo educacional, perseguindo os professores da
Escola Nova. Depois da queda de Vargas, os esforços pela
redemocratização colocaram a educação novamente em foco. A
campanha pela recuperação de alguns princípios da Escola Nova
trouxe de volta ao poder os líderes daquele movimento. Foi
durante este clima favorável à recuperação e à renovação da
educação nacional que o
artista Augusto Rodrigues criou a Escolinha de Arte do Brasil, no
Rio de Janeiro ( 1948). Era uma espécie de atelier. onde as
crianças podiam desenhar e pintar livremente, refletindo o clima de
reafirmação expressionista, que dominava o pós-guerra.
Até aquele momento, a redemocratização não havia alcançado a
arte-educação. E, portanto, a iniciativa de Augusto Rodrigues foi
recebida com entusiasmo não somente pelos artistas de
vanguarda na época (Clóvis Graciano, Alcides Rocha Miranda e
outros) mas também pelos educadores envolvidos no processo
educacional, como Anísio Teixeira e Helena Antipoff. Em breve, a
Escolinha, além de continuar com suas classes de arte para
crianças, adolescentes e adultos, tornou-se um centro para
treinamento de professores de arte, estimulando também a
criação de outras escoli-nhas em diversos estados.
Até 1973, as escolinhas eram a única instituição permanente para
treinar o arte-educador. Graças a essa maneira não competitiva e
mesmo cooperativa, pela qual sempre se orientaram, elas
puderam contar com a ajuda e o suporte da comunidade
intelectual em que estavam implantadas."
(Ana Mae Tavares Barbosa, Os equívocos no Brasil, ARTE
HOJE. Rio de Janeiro, n° 18, pág. 59-60)
Paralelamente — em termos mundiais — relatório da UNESCO sobre pesquisa realizada em 65
países, em 1955, conclui:
"Reconhecer à Educação Artística o lugar que lhe é próprio é dar ao indivíduo o meio de lutar
contra esta ameaça de desumanização que o espera". Esta afirmação é enriquecida com os
dados que as respostas de 65 países a uma enquete da UNESCO, sobre os fins do ensino das
Artes Plásticas, forneceram.
As respostas permitiram agrupar os objetivos do ensino das Artes Plásticas em cinco grandes
categorias:
a) fins educativos: as respostas delinearam, com grande diversidade de fórmulas, o papel que
este ensino tem nas diferentes fases do desenvolvimento espiritual e intelectual da criança.
Considerando-se primeiramente os fins de "formação", acentuando-se o desenvolvimento das
funções, tais como: a imaginação, o espírito de observação, o senso criador, expressão —
colocada esta no mesmo plano que a palavra e mesmo sendo considerada como mais eficaz;
b) cultura geral: o valor do ensino artístico como fator de enriquecimento do patrimônio cultural
do aluno;
c) fins didáticos: o ensino de desenho e ramos anexos constitui um meio didático do qual os
mestres apelam para o ensino de todas as disciplinas. Alguns países (Reino Unido e Itália)
colocaram que o desenho é a fase inicial da escrita;
d) ordem prática: em geral falaram de aquisição de técnicas e alguns países acentuaram que as
técnicas não devem ter um fim nelas mesmas, mas devem ser um meio de facilitar a expressão.
Alguns países admitiam que o aprendizado técnico poderá mais tarde ser utilizado no
aprendizado profissional do aluno;
e) visando à orientação (conhecimento do aluno): melhor conhecimento pedagógico da criança.
"A Lei de Diretrizes e Bases, de dezembro de 1961, possibilitando
a coexistência da iniciação artística e do desenho no currículo,
pretendeu resolver a área conflitante entre arte e
técnica. Entretanto, o artigo 26, parágrafo único, da referida lei (Os
sistemas de ensino poderão estender sua duração até seis anos,
ampliando, nos dois últimos, os conhecimentos do aluno e
iniciando-o em artes aplicadas, adequadas ao sexo e à ¡dade') e a
resistência dos professores de desenho possibilitou, pouco a
pouco, uma limitação da Arte às áreas de iniciação técnica.
A Arte, como elemento integrativo entre as áreas congniti-va,
afetiva e motora, dirigindo-se à formação global do indivíduo,
continua a ser dada fora da escola, nas Escolinhas de Arte, que
desenvolvem um trabalho sem garantia de continuidade para o
aluno, e sujeito a uma série de variáveis pouco estimulantes para
o professor, quase sempre resultantes do caráter complementar
que é conferido à Arte pelo sistema educativo.
Quer do ponto de vista da realidade operante, quer do ponto de
vista da lei, a Arte. até agora no Brasil, representou um papel
complementar na Educação. A própria Lei de Diretrizes e Bases
designou a Arte no artigo 38, item IV, como 'atividade
complementar de iniciação artistica'. enquanto que o desenho
sempre foi exigido como matéria obrigatória nos currículos de
quase todos os Estados do Brasil".
Depois da LDB, deu-se maior ênfase à obrigatoriedade da educação artistica a partir da Lei
5.692, de 1971, mas a realidade continuou a mostrar a precariedade da formação do professor
de arte, A lei colocou a necessidade, apesar de oficialmente ainda não haver perfeita
compreensão do sentido da arte na educação.
"A educação artística é o processo que mobiliza a capacidade
criadora do educando, levando-o a ampliar a concepção do seu
próprio universo; não é, portanto, um instrumento que a escola de
1
o
grau utilize para alcançar os objetivos de outras disciplinas,
áreas de estudo ou atividades; é muito mais, sendo força
ativadora do processo educativo global, incentivando a fazer,
refletir, transformar, comunicar, decidir, agir, criticar e criar
atividades básicas ao processo de aprendizagem e dessa forma
promovendo o retorno da energia nele investida. É parte de um
todo no processo de formação do homem. Propicia a inter-relação
entre o indivíduo e o meio no sentido de seu próprio crescimento e
desenvolvimento; procura seu equilíbrio. A expressão educação
artística' identifica-se, em seu conteúdo atual, com os postulados
da educação através da arte; enfatiza os processos de
crescimento, sensibilização, convivência solidária, auto-
reservação e dignifica a continuidade do existir. Estas colocações
vêm ao encontro dos objetivos da Educação nacional, conforme
se formulam nos artigos primeiros das Leis n°s. 4.024/61 e
5.692/71, especificados nos Pareceres 853, de 12/11/71, e 4.833,
de 3/12/75. e ainda na Resolução n° 22, de 23 de outubro de
1973".
(MEC-DEF — 1
o
Encontro para Estudo da Educação
Artística na Escola de 1
o
Grau — Belo Horizonte, dezembro
de 1976; Brasília, Departamento de Documentação e
Divulgação, 1977, pág. 4-5)
Participaram do Encontro 14 especialistas — Cecília Conde, Frederico Morais, Hilton Carlos de
Araújo. John Neshling, Lúcia Alencastro Valentim, Mahylda Bessa. Marcy da Silva Pereira, Maria
Cecilia Costa, Nilda Cosso Alves, Onofre Arruda Penteado Neto. Noêmia de Araújo Varela.
Rosângela Silvestre Maia. Terezinha Éboli, Velcy Terezinha Kluge Pereira. Destes, seis são ou
foram membros da EAB ou mantêm contato com ela. Proposições neste sentido já vinham sendo
levantadas, no enfoque da Escolinha anos antes, como é exemplo o texto dos delegados do
Movimento Escolinhas de Arte ao Congresso da INSEA em 1970, resultado de longo trabalho e
contínuos debates.
PERSPECTIVAS
EVOLUÇÃO DA IDÉIA
Tendo surgido há trinta anos, a Escolinha de Arte do Brasil caracterizou-se, desde o inicio, como
idéia comum de um grupo interprofissional, com o sentimento também comum de que a
liberdade de expressão da criança é fator fundamental na estruturação da personalidade infantil.
A idéia central teve força suficiente para aglutinar profissionais com formação e experiências
pessoais diversificadas e com atuação destacada em seus respectivos campos. Augusto
Rodrigues trazia interrogações sobre o sistema educacional vindas da sua infância e dos seus
embates com a escola tradicional e repressiva. Trazia toda a sua sensibilidade de artista e sua
personalidade inquieta. Trazia sua capacidade de aglutinar os mais diversos elementos e de
conseguir que cada um desse sua contribuição num esforço comum. Lúcia Alencastro reunia
conhecimento e percepção desenvolvidos como aluna e depois substituta de Guignard no ensino
da arte. Noêmia Varela, que veio depois, trazia experiências em educação especial, uma
formação sólida, com grande lastro de pesquisa e capacidade de abertura. A estes, foram-se
somando muitos e muitos nomes e a EAB chamou a atenção das mais significativas
personalidades no campo da Educação, da Arte e da Cultura em geral. A simples consulta à lista
de professores que passaram pelos diversos cursos da Escolinha mostra a força de aglutinação
que a sua idéia e os seus princípios detinham.
A EAB não era uma organização estruturada, era antes uma idéia aberta e um laboratório, um
ponto de encontro de todos os que se interessavam por educação e por arte. De uma forma ou
de outra, estiveram ou estão ligados à experiência da Escolinha personalidades da significação
de Anísio Teixeira, Helena Antipoff, Nise da Silveira, Durmeval Trigueiro e muitos outros. A idéia
de liberdade era tão viva e tão fecunda que se constituiu na pedra de toque deste laboratório,
sensibilizando as pessoas que por ai passaram, modificando posições pessoais e carreiras.
Este laboratório foi encarado pela sociedade como uma resposta a expectativas da escola, dos
pais. das crianças, dos professores e dos artistas, como demonstra o aproveitamento dos
recursos humanos produzidos pela EAB nas mais diversas áreas de atuação profissional.
Tendo sido essencialmente uma idéia dinâmica, a EAB não se preocupou em constituir-se numa
estrutura organizacional funcional capaz de operacionalizar objetivos e metas claramente
expressos. A Escolinha sempre esteve mais preocupada em realizar novas experiências do que
em sistematizar as já vividas. Tendo evoluído e subsistido em meio aos entraves e dificuldades
do processo cultural e educacional brasileiro, a EAB disseminou suas idéias nas escolas de
todos os níveis, influenciando professores de arte, educadores, psicólogos, sociólogos, tornando-
se uma das mais significativas experiências no campo educacional brasileiro.
Questões
1. Hoje. quando a marca deixada pela EAB foi tão claramente impressa no processo
educacional brasileiro — como no caso da oficialização do ensino artístico nas escolas —, esta
instituição, com características tão peculiares, ainda tem uma missão a desenvolver?
2. Quais os principais problemas da Escolinha hoje?
3. De que recursos ela ainda dispõe?
4. Que resposta ela pode dar às expectativas atuais de crianças, pais, educadores e artistas?
5. como deverá ela se organizar frente às novas necessidades?
Alternativas
É um ponto de vista comum de todos os que estão dentro ou em torno da EAB que a idéia já foi
disseminada, mudando de forma significativa, tanto o ensino da arte propriamente dita, quanto
conceitos e processos educacionais em todos os níveis da educação brasileira — 1
o
, 2
o
e 3
o
graus.
Essa influência estendeu-se, também, entre os que têm poder decisório no sistema educacional,
marcando sua mentalidade, legislação e pareceres sobre educação artística.
O novo mercado não são mais as Escolinhas de Arte, que não têm mais sentido, quando o valor
da arte na educação já não é mais discutido, e tenta-se aplicar esta filosofia na escola regular,
decorrendo daí uma nova clientela para a EAB: a capacitação de pessoal para as escolas
oficiais, aptas a executar o espírito da Lei 5.692l71 no que se refere à educação artística. A EAB
constitui-se no maior patrimônio nacional neste sentido.
Há uma expectativa dos professores de educação artística de todo o país quanto à EAB —
preparação de cursos de atualização, aperfeiçoamento e especialização, possibilitando que os
antigos professores de Belas Artes e Conservatórios possam assimilar a filosofia da educação
através da arte contida no espírito da lei, bem como no que se refere à preparação de material
pedagógico.
A EAB poderá montar cursos de mestrado, preparando pessoal para atuar a nível de 3
o
grau nos
cursos de educação artística de todo o País. Também é ponto de vista comum a necessidade da
EAB se reorganizar como estrutura administrativa, criando uma infra-estrutura capaz de suportar,
com mais profissionalismo, a oficialização de seus cursos.
Esta posição tem a vantagem da EAB poder capacitar professores, especialmente a nível de 3
o
e
4
o
graus; há, contudo, o risco de torná-la uma escola comum, aprisionada em deveres e
burocracias. Esta posição precisa ser muito conscientizada antes de ser assumida, não devendo
a EAB perder seu caráter de laboratório (o que de certa forma já perdeu). Duas saídas poderiam
decorrer desta tomada de posição:
1) Tornar-se uma Fundação, o que supõe um bom patrimônio e uma sólida infra-estrutura
financeira e administrativa.
2) Associar-se a uma universidade que lhe dê a infra-estrutura administrativa e o apoio legal,
bem como o apoio financeiro, conservando porém o seu caráter de Centro de Pesquisa em Arte-
Educação e montando, ao lado do laboratório com as crianças. cursos, especialmente de pós-
graduação, capacitando pessoal para atuar nos cursos de educação artística das universidades
do País, e ainda oferecer serviços e consultorias.
Passado e presente
"A EAB era um local onde sempre se encontrava alguém, um ponto de encontro de criação e
debate, uma efervescência em torno da educação.
A contribuição e posição da EAB dentro do movimento educacional brasileiro consistiu no fato de
ter sido o ponto de encontro neutro das grandes discussões reuniu todas as correntes. Por ser
livre e não ter seus cursos oficializados, não tinha amarras e se permitia receber todas as
correntes.
A EAB era um laboratório para todos os que tinham um pouco de inquietação. A EAB não è a
sede fisica, mas a idéia de renovação contra a repressão da criança, da experimentação e da
criação."
(Depoimento de Cecilia Conde)
'A 1* fase da EAB è mais ingênua, primitiva. A outra é mais reflexiva, onde junto com o
amadurecimento das experiências anteriores, surgem os questionamentos de como ampliar todo
esse envolvimento no nivel mais reflexivo.
A partir de certa época, começou a solicitação de fazer um trabalho mais profundo. Na Escolinha
nada se perde sempre se encontra a continuidade de qualquer forma. Se eu fizer um trabalho
qualquer na Escolinha, de alguma forma vou me ver refletido. Meu trabalho vai se refletir e vai
haver uma continuidade".
(Depoimento de llo Krugli)
"A maior qualidade da EAB é ser uma instituição de portas abertas para receber todo mundo,
alunos e visitantes, sem exigência de títulos acadêmicos e sem exigir atestado ideológico".
(Depoimento de Ana Mae T. Barbosa)
A necessidade de organização
"É fundamental a criação de uma infra-estrutura administrativa. A EAB não pode viver
de caridade è humilhante para o professor que alguém dê dinheiro para lhe pagar o
salário.
Seria muito mais interessante fazer-se uma sociedade para criar uma infra-estrutura,
eliminando a situação constrangedora de ter de depender de donativos alheios".
(Do depoimento de Cecília Conde)
"Atualmente, como diretor do departamento de cultura, ando preocupado com a escolinha. Acho
que o governo do estado teria obrigações maiores a assumir com a EAB e que não as está
assumindo. Quando o MAM se incendiou, as pessoas se mobilizaram. Todos perceberam que
era uma grande instituição e que não poderia ter se incendiado. Há um incêndio que pode ser
evitado numa instituição tão importante quanto o MAM, que é o incêndio da destruição, da morte,
da falta de fôlego, da perda de fôlego total da Escolinha, e que ninguém está se sensibilizando".
(Do depoimento de Paulo Afonso Grisolli)
Necessidade atual
"A EAB está escondida, ainda não caiu na boca do povo' pertence a uma determinada classe
privilegiada de educadores e artistas que sentem a EAB e sabem da existência da mesma.
A EAB precisa de uma metodologia de ação e de melhor compreensão de sua posição frente à
sociedade.
A EAB precisa vir para a praça desenvolver projetos, para que possa entrar na casa de cada
um".
(Do depoimento da equipe SESC)
NOVA CLIENTELA: O EDUCADOR
"A EAB precisa atualmente de maior sistematização, passar adiante esta experiência. preparar
pessoal capacitado e atuar no ensino da arte, sem prejuízo da inquietação característica da
Escolinha".
(Do depoimento de Abelardo Zaluar)
'Acho que, ao nível administrativo, falta às pessoas responsáveis pela Escolinha uma
agressividade maior. Acho a EAB um negócio tão sério, tão fundamental para a vida cultural
brasileira, que as pessoas que respondem por ela tinham a obrigação de assumir uma
agressividade maior.
Talvez a Escolinha devesse ser uma Fundação. Acho que esse problema tinha que ser
enfrentado. Penso que a Escolinha podia deixar essa marginalidade de pedir esmola quando
entra em crise e, o que è impressionante, não está comovendo ninguém. Acredito que a
Escolinha já percebeu hoje em dia, melhor que ninguém, que talvez sua clientela principal não
seja a criança, seja o educador. A clientela infantil é muito mais o material de trabalho para
educadores".
(Do depoimento de Paulo Afonso Grisolli)
"Acredito que hoje o trabalho da EAB deve estar mais ligado ao treinamento de professores que
ao trabalho com as crianças, o que deveria ocorrer apenas como laboratório. 0 CIAE é a semente
plantada nesse sentido, e a SOBREART deveria ser uma instituição complementar, capaz de
promover a pesquisa nessa área. Para isso ela foi criada.
As pessoas que participam da Escolinha participam da SOBREART. Esta nasceu da EAB, mas
tem atribuições diferentes, conforme os estatutos de ambas. A EAB realiza um trabalho
essencialmente pedagógico através de cursos. À SOBREART cabe o intercâmbio de informações
e documentação, o patrocínio de pesquisas no País e mesmo na América Latina, bem como a
divulgação de idéias e experiências por meio de publicações, encontros e seminários. 0 caminho
natural seria uma fundação que incorporasse a Escolinha e a SOBREART em bases
profissionais".
(Do depoimento de Jader de Medeiros Britto)
"A Escolinha só poderá se jogar em outro tipo de trabalho quando existir dentro dela pessoas que
o propiciem.
Um novo tipo de trabalho na EAB consistiria em continuar suas experiências, a nível de
comunidade, no trabalho com teatro ... 0 processo não se fechou na Escolinha. Em algumas
escolas onde passei, não voltarei a dar aula o processo se fechou. No caso da Escolinha, não.
Ela tem a preocupação de formar gente nova . . . Eu teria algumas experiências para continuar
nesse sentido".
(Do depoimento de llo Krugli)
"Vejo o trabalho da EAB muito mais como laboratório de formação e consultoria. A EAB tem de se
reformular, segundo os padrões de um novo mercado, entrando inclusive para as Universidades.
A EAB deveria tornar-se uma Fundação, com verbas para pesquisa, como um centro de
referências no campo da Arte e Educação, promovendo cursos, encontros, palestras em todos os
niveis".
(Do depoimento de Cecília Conde)
"0 papel da EAB foi e continua sendo o de atingir uma mudança no processo da politica
educacional, uma tentativa de influenciar o governo na modificação das estruturas curriculares,
objetivos e metodologias. A EAB tem lutado para influenciar os que têm o poder de decidir na
educação nacional".
(Do depoimento de Onofre Penteado)
"A única perspectiva é o aprofundamento da prática em pesquisas bem fundamentadas e da teoria
em debates mais dialéticos, com mais profissionalismo. A EAB pode e deve evoluir no sentido da
implantação de um curso de nivel de pós-graduação. Ainda considero a Escolinha a mais importante
e mais capacitada instituição de Arte-Educação no Brasil".
(Do depoimento de Ana Mae Barbosa)
"Educar é ver o homem em todos os seus aspectos". A partir dessa premissa, Augusto Rodrigues
vê como possibilidades futuras para a Escolinha de Arte do Brasil, entre outros aspectos, os
seguintes:
1. Um centro de estudos de problemas da criança brasileira, reunindo diversas áreas. como:
Sociologia, Psicologia e Pedagogia.
2. A continuidade do trabalho de educação através da arte: ateliês para crianças, jovens e
adultos e os cursos, especialmente o Curso Intensivo de Arte e Educação (CIAE).
3. Integração educação-comunidade: pesquisar novas formas de promover essa integração,
articular-se com organismos universitários através do trabalho em cursos de graduação e pós-
graduação em Educação e Arte. Realizar ou participar de pesquisas em diversos níveis.
Trabalhar na perspectiva de aproveitamento dos recursos da comunidade, através de iniciativas
como o Museu do Brinquedo, o trabalho com velhos, no sentido de preservar a memória regional
e nacional, projetos como 0 Brasil visto pelas crianças', utilização da televisão para atingir toda a
população em escala nacional. Em sintese, a Escolinha de Arte do Brasil funcionaria em três
níveis:
como laboratório, continuando o trabalho com crianças;
como centro de formação de professores;
como uma Fundação ou integrada num complexo universitário."
(Anotações de uma conversa de membros da equipe da pesquisa com Augusto Rodrigues).
BIBLIOGRAFIA
ADORNO. Theodor W. Philosophie de la nouvelle musique. Paris, Gallimard. 1962.
ALI. Sami. Nada de correção nos desenhos das crianças. A Noite, Rio de Janeiro. 23 out. 1957.
ALMEIDA, Renato. História da música brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro. F. Brighet & comp.. 1942. p. 529.
ALUSCHULER. Rose H. & HATTWICK. Berta Weiss. Paiting and personality. Chicago. University of Chicago.
1947. 2v.
ALVARENGA. Oneyda. Música popular brasileira. Rio de Janeiro. Globo. 1975. p. 330.
ALVIN. Juliete. Musicoterapia. Buenos Aires. Paidós. 1967.
AMARAL. Aracy. Artes plásticas na semana de 22. São Paulo. Perspectiva, 1970.
AMERICAN. JOURNAL OF ART THERAPHY; art in education, rehabilitation and psychotherapy. Washington,
Elinor Ulman. 1961. Trimestral.
ANDERSON. Harold H. Creativity, confronting and conflict. In: CONGRESSO INTERAMERICANO DE
PSICOLOGIA. Miami Beach, s.d.t.
---------. Creativity as personality development. ETC: a review of general semantics. California,
16(3):277-302. jul. 1959.
---------. Creativity as recreation in the process of aging, in: Anais do VI Congresso Interamericano de
Psicologia. 1959. Rio de Janeiro. 1960. p. 769-773.
ANDERSON. W. Art learning situations for elementary education. Belmont. Cal.. W dswonth, 1965. a
ANDRADE. Mario de. Danças dramáticas do Brasil. São Paulo, Martins. 1959. 3v.
--------- . Do desenho. In: Aspectos das artes plásticas no Brasil. São Paulo. Martins. 1965.
---------. Evolução social da música brasileira. Curitiba. Guaira. 1941. p. 79. (Col. caderno azul)
---------. Pequena história da música. 5 ed. São Paulo. Martins 1958. p. 232.
ANDRÉS. Maria Helena. Os caminhos da arte. Pe rópolis. Vozes, 1977. t
---------. Vivência e arte. Rio de Janeiro. Agir. s.d.
ANICET. Ryth. Escolinha de Arte de Porto Alegre. Rev. Ens. Porto Alegre. 7(54):54. ago. 1958.
ANNUAL MEETINGS OF THE AMERICAN SOCIETY OF PSICHOPATHOLOGY OF EXPRESSION. 4.. Bel-
mont. Mass.. 1971. Conscious and inconscious expressives arts; theories, methodology and photogra-
phies. Belmont. Basil. S. Karger, 1971. p. 205.
ANTIPOFF. Ottilia Braga. Educação do excepcional para professores. Pref. de Helena Antipoff. Rio de Janeiro,
Pestalozzi. 1975.
AQUINO. Flávio de. Quando as crianças pintam o Natal. Fotos de Gervásio Batista. Manchete. Rio de Janeiro
(766):94-9. dez. 1966.
ARAÚJO. Hilton Carlos de. Educação através do teatro. Rio de Janeiro. Ed. Rio, 1974.
---------. uma experiência de teatro na escola secundária. (Port Alegre) MEC/CADES. 1974. o
ARBEAU. Thoinot. Orchesography. Dover. s. ed.. 1948. p. 104.
ARGAN. Guilio Cario. Walter Gropius y el Bauhaus. Buenos Aires. Nueva Vision. 1957.
ARNAL. Isabel Dias. El lenguage gráfico del niño deficiente. Madri. Consejo Superior de Investigaciones
Cientificas. Instituto "San Jose de Calazans" de Pedagogia. 1959.
ARNHEIM. R. Art and visual perception. London. Faber & Faber. 1969. p. 485.
--------- . Film as art. London. Faber & Faber. 1969. p. 189.
---------. Psychology and the visual arts. s.l.. Penguim Books. 1970.
--------- . R. Toward a psychology of art. Berkeley, Univ. of California. 1972.
---------. et alii. Education of vision. New York. Gyorgy Kepes. George Brazi ar. 1965. ll
---------. et alii. Visual thinking. Berkeley. Univ. of California. 19 . il. 74. p. 345
ART et éducation. In: UNESCO. Recueil d'essais. Paris. 1954.
ARTE creador infantil. 1. ed. aum. Barcelona. Ediciones de Arte. s.d.
ARTE & EDUCAÇÃO. Rio de Janeiro. Escolinha de Arte do Brasil. 1970. mensal.
AUGRAS. Monique. A dimensão simbólica. Rio de Janeiro. FGV. 1967.
AUGUSTO Rodrigues e suas escolinhas; a arte no mundo das crianças. O Cruzeiro. Rio de Janeiro.
36(10):26-128. 14 dez. AZANHA. J-M. Pires. Experimentação educacional. São Paulo, EDART. 1974.
AZEVEDO, Luis Heitor Correa de. 150 anos de música no Brasil. São Paulo. Martins, s.d.n.p. BACHELARD, G.
La poétique de l'espace. Paris, PUF. 1974, p. 214 BAINES. Anthony. Musical instruments through the ages.
London, Faber & Faber. 1961. BALDINGER. Wallace S. The visual arts. New York, Holt Rinehart Winston, s.d.
BARATA. Mário. Raizes e aspectos da história do ensino artistico. Rio de Janeiro. Escola de Belas Artes da
UFRJ. 1966.
BARBOSA. Ana Mae T.B. Arte-educação no Brasil. São Paulo. Perspectiva. 1978. p. 132.
-------- . Escolinha de Arte de São Paulo; fundamento, andamento. Educação para o Desenvolvimento. São
Paulo. l4:9-18. jun. 1969.
-------- . Recursos humanos e materiais para a educação artistica no 1
o
grau. R. bras. Est. pedag.. Rio de
Janeiro. 59( 132):577-92. out/dez. 1973.
-------- . Teoria e pràtica da educação artística. São Paulo, Cultrix. 1975.
BARKAN. Manuel. Research in art education, s.l.. Fifth Yearbook. 1954. p. 151.
BARRAUD. Henry. Para compreender a música de hoje. São Paulo, Perspectiva. 1975. 162. p.
BARRON. F. Criativity and psychological-health. Princeton. Princeton Van Nostrand. s.d.
BARROS. Jair Rêgo. A seu modo as crianças apreciam a beleza. IPASE. Rio de Janeiro, 6(38):27-29, 1954.
p. 47. BASSET, Richard. The open eye in learning. Cambridge. Mass.. M.I.T..
1969.
BATCHELDER. Marjorie & LEE COMER.Virginia. Creative approach. London. Faber & Faber, 1959.
BATTCOCK. Gregory. News ideas in art education: a critical anthology, s.l.s.ed. 1973. BATTISTELLI. V. La
moderna littérature per l'infanzia. Firenze. 1925. BAUZER MEDEIROS, Ethel. Jogos para recreação na escola
primária. Rio de Janeiro. MEC/INEP/CBPE.
1959. BENSE, Max. Estética: nueva vision. Buenos Aires Enxayos. 1973. p. 185. (Série arte y estética.)
BERCY. Jean. Plano para atividades artesanais e artísticas. Mensagem rural. 3(17), 1975. Sobre a Fazenda
Rosário. BERNSON. M. Del garabato al dibujo. Buenos Aires. Kapeluz, 1962. BERRY. Ana M. Art for
children. London. Studio. 1947. BESSA. Mahylda. Programa de Educação artística: artes plásticas no 1
o
grau.
R. bras. Est. pedag.. Rio de
Janeiro. 59(132):688-702. out/dez. 1973. BEYER. René. Art et communication, s.l. Casternuan/Poche. s.d.
BOAL, Augusto. Teatro dos oprimidos e
outras temáticas. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 1977. BOERMA. Ap. Arte e educação. Escola
secundária. (10):22-23. set. 1959. BONIS. Elisa. A educação pela arte. 0 Dia. Rio de Janeiro. 12 ago. 1956.
Sobre a EAB. BOURDIEU. Pierre. Modos de produção e modos de percepção artistica. In: A ECONOMIA das
trocas
simbólicas. S. Paulo. Perspectiva. 1974. p. 269-94.
---------. & CARBUL, Alain. L'amour de l'art; les musées d'art européens et leur public. Paris. Minuit. 1966.
BURKHART. R. C. Spontaneus and deliberate ways of learning: international textbook in art education, s.l..
sed. 1962. BUSSELL. Jan. Plays for puppets. London.
Faber & Faber.
CAMPOFIORITO. Quirino. Evolução do ensino artistico. O Jornal. Rio de Janeiro. 18. junho. 1954. CAMPOS.
Haroldo. A arte no horizonte do provável. São Paulo. Perspectiva. 1972. p. 237. (Col. debates). CANDWELL.
Christopher. 0 conceito de liberdade. Rio de Janeiro. Zahar. 1968. p. 258. CARTER. Jean. Creative play with
fabrics and threads. London, 1969. CARVALHO. Antonio Carlos de. Dez anos de confiança no poder criador da
infância brasileira. Ùltima Hora,
Rio de Janeiro, 1958. CARVALHO. Benjamim A. Os deis mais modernos conceitos do desenho.
Atualidades pedagógicas 4(19)
1953. CARVALHO. Dirceu R. Criatividade, uma faculdade que pode ser desenvolvida. R. bras. Est. pedag.
Rio de
Janeiro. 59(130):251-56. abr/jun. 1973. CASCUDO. L. da Câmara. Tradição, ciência do povo. pesquisas
na cultura popular do Brasil. São Paulo.
Perspectiva. 1971. 195 p. CASSIRER. Ernest. Linguagem e mito. São Paulo.
Perspectiva. 1972, 131. p.
--------- . Philosophie des formes symboliques. Paris. Minuit. 1972. 3v.
CASSOU, Jean. Panorama das artes plásticas contemporâneas. Estúdios Cor. s.d.
CAVALCANTI. Carlos. como entender a pintura moderna. Rio de Janeiro. Civilizaçã Brasileira. 1963. o
--------- . Conheça os estilos da pintura. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 1967.
--------- . História das Artes. Rio de Janeiro. J. Ozon. 1963. 2v.
CENTO e cinqüenta crianças e um amigo delas. Visão. São Paulo. 73(131:94-5. 1958.
CENTRAL ADVISORY COUNCIL FOR EDUCATION, London. Atividades artísticas na escola primária inglêsa.
R. bras. Est. pedag.. Rio de Janeiro. 59(1301:301-30. abr./jun. 1973. CHRISTIE, Archibald. Samplers
stitches, a handbook of the embroidrer's art. London. B.T. Batsjord. CICLE-INTERNATIONAL SURVEY OF
CONSTRUCTIVE ART. London. Faber & Faber. 1971. CICLO DE ESTUDOS SOBRE O IMAGINÁRIO. 1.
Recife. 1976. Anais. Recife. Instituto Joaquim Nabuco de
Pesquisas Sociais. 1977. 197 p. CIRLOT. J. E. Dicionário de
símbolos. Barcelona. Labor. 1969.
CLINE. Victor B. Creativity tests an* achievement in high school science. Journal of Applied Psychology.
Washington. 47(3):184-9. 1963. COLE. Natalie Robinson. The arts in the classroom. New York, John Dany company. 1940.
COLLECTION. TECHNIQUES DE L ÉDUCATION ARTISTIQUE, dessin, gravure, constructions, textes libres.
Delachaux & Niestlé. CONRAD, George. The process of art education in the elementary school. New York. Prentice-Hall, s.d.
CONRAN. Terence. Primed textile design. London. The Studio Publications. 1957. COOK. R. L arbre de vie. Paris. Lenii. 1975. 128
p.
COPLAND. Aaron. como ouvir e entender música. Rio de Janeiro. Arte nova. 1974. 177 p. COSTA. Lúcio. A arte e a educação.
Diàrio de Noticias. Rio de Janeiro. 4 out. 1959. CRED. Jean. 0 contexto social da arte. Rio de Janeiro. Zahar. 1975.. 180 p
CROCE. B. Estética come scienza del l'espressione e linguistica generale. Nápoles. 1900. CROPLEY. A. J. Creativity education
today. London. Longmans Green. 1967. D'AMICO. Vitor. Creative teaching in art. Siranton, International Textbook. 1953. 257 p.
DAVIS. Stuart. The theories of modem art. Berkeley, University of California. 1968. DAY, R. H. Psicologia da percepção. Rio de
Janeiro. José Olympio, s.d. (Coleção psicologia contemporânea). DE BONO. E. O pensamento criativo. Petrópolis. Vozes, 1970.
DE LAUNAY. et alli. L'éducation esthéthique des enfants de 3 a 7 ans. Paris, Éditions Bourrelier. 1958.
(Cahiers de pédagogie moderne). DEWEY. John. La ciêncïa y la educación. 3. ed. Buenos Aires. Losada. 1948. 140 p. DICKSON.
David Howard. The daring young man. Bloomington. Indiana University. 1953. DIDIER. Anzieu. El psicodrama analitico en el niño.
Buenos Aires. s.d. (Biblioteca de psiquiatria, psicopatologia y psicosomatica). DIEHL. Gaston. Matisse. Paris. 1954. (Textos de
Matisse sobre estética moderna). DIFERENTES técnicas na expressão das crianças através do desenho, por estagiários da
Escolinha de Arte de
São Paulo. Educação para o desenvolvimento. São Paulo. 74:39-41. jul. 1969. DONINGTON. Robert. The interpretation of
early music. London. Faber & Faber. 1963. 608 p. DUFREUNE. Mikel. Estética e filosofia. São Paulo. Perspectiva. 1972. 269 p.
DUMAZEDIER. J. Vers une civilization des loisir, Paris, Lenit. 1962. 319 p. DUNNETT. Ruth. Art and child personality. London,
Methuoru, 1948. DU UET. Pierre. como a criança pode revelar-se criadora na escola, R. bras. Est. pedag. Rio de Janeiro. Q
59(132):759-2.
---------- . L'enfant imagier. Delachaux & Niestlé.
---------- . Los recortes pegados en el arte infantil. Bu res. Kapeluz. 1962. enos Ai
DUVIGNADO. Jean. Sociologie de l'art. P.U.F.. 1967.
ECO. Umberto. Obra aberta. São Paulo, Perspectiva. 1969. 279 p. (Col. debates) .
EDUCAÇÃO sem medo. faros e Fotos. Rio de Janeiro. 5(257):50-56, 1 jan. 1966.
EDUCATION and art; a symposium edited by Ediwin Ziegfeld. Paris, UNESCO. 1963. 140 p. il.
EHRENZWEIG. Anton. A or em oculta da arte; um estudo sobre a psicologia da imaginação artistica. Rio de d
Janeiro. Zahar. 1969.
----------- . Psicanálise da percepção artistica. Rio de Janeiro. Zahar, 1977. 33 p. 8
EISHER, Elliot. The arts, human development and education, s. I.. ed.. 1976.
-----------. Knowledge, Knowing and the visual art. Harvard Educational Review, 1963.
-----------. Children s creativity in art; a study of tipes. American Educational Research Journal, 1965.
----------- . & ECKER. David W. Reading in art education. London. Walthan. 1966.
EISNER. E. W. Education artistic vision. Nova York. Macmillan 1972. 306 p. ELIADE. Mircea.
Imagens et symboles. 2. ed. Paris. Gallimard. 1952.
-----------. El mito del eterno retorno Buenos Aires. Emece. 1968. 167. .
EL CORREO UNESCO, nov. 1972.
ELSEN. Albert E. Los propósitos del arte: introducción a Ia historia y a la apreciación del arte. Madrid. Aguilar.
1971. 454 p. il. ENCONTRO DE ESPECIALISTAS DE ARTE NA EDUCAÇÃO. 1.. Brasília. 1973. Educação artistica no
ensino
de 1º grau, fundamentação e processos da arte em educação. Belo Horizonte, MEC/CRHJP. 1974. 87 p. ENCONTRO
NACIONAL DE EDUCAÇÃO ARTÍSTICA. 1. Porto Alegre. 1970. R. bras. Est. pedag.. Rio de
Janeiro. 55(121):170-9. jan./mar. 1971.
ENG Helga. The psychology of child and youth drawing. London.------------------------------. Igaraçu vista pelas crianças. Rio de
Knowledge and Kegan Paul, 1957. ESCOLA Técnica de Criação. Boletim do Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, 1958.
ESCOLINHA DE ARTE DO BRASIL Atividades artlsticas-técnicas principais. Rio de Janeiro. 1959. ESCOLINHA DE ARTE DO
BRASIL Igaraçu vista pelas crianças. Rio de Janeiro. Presença Edições. INL/MEC,
1974. ETCHEBARNE. Dora Pastoriza de. El evento en Ia literatura infantil. Buenos Aires. Kapeluz. 1962. FAURE, Élie.
Les constructeurs. Paris. Gauthiers. 1964. (Bibliothèque mediations). FELDMAN. Edmund Burke Becoming human through
art. New York, Prentice-Hall. 1970.
----------- . Varieties of visual experience; art as image and idea. New York. H.N. Abrams. 1971. 680 p. il.
FERRETTI. Celso João. Arte infantil e formação da personalidade. Revista do Professor. S(24):32-5. dez.
1960. FIELD. Dick. Change in art education. London. Routledge & Kegan Paul. 1972. 138 p. FIELD. & NEWICK. J. The study
of education and art. London. Routlege & Kegan Paui. 1973. 236 p.
FISCHER, Ernst. A necessidade da arte. Rio de Janeiro. Zahar, 1966. 225 p.
FLANAGAN. John C. Preliminary effort to identify creativity. In: CONGRESSO INTERAMERICANO DE
PSICOLOGIA. 9. Miami Beach. 1964. p. 91-104. FORGUS, R. H. Percepção processo bàsico no
desenvolvimento cognitivo. São Paulo; Brasilia, Herder.
1971. FOUCAULT, Michel. Les mots et les choses. Paris. Gallimard. 1967. FRANCASTEL.
Pierre. Art et téchnique. Paris Gauthiers. 1974. 292 p. (Bibliothèque mediations).
--------- . Études de sociologie de l'art. Paris, Gauthiers. 1970.
--------- . La figure et le lieu. Paris. Gallimard. 1967.
--------- . Peinture et Société. Paris. Gallimard. 1965 246 p. (Collection idées-arts). .
--------- . La realité figurative. Paris. Gauthier. 1965.
FRANCESCO. Italo L de. Art. education, its means and ends. New York. Harper & Brothers. 1958.
FREINET. Célestin. Técnicas Freinet de escuela moderna. México, ed. Siglo XXI. 1969. FREUD, S. La
interpretación de los sueños: obras completas. Madrid. 1968.
--------- . Un recuerdo infantil de Leonardo da Vinci. Madrid. 1968.
FROTA. Lélia Coelho. Mito poética de 9 artistas brasileiros. Rio de Janeiro. Fontana. 1975. 177 p. il. FURTER,
Pierre. Educação e ideologia. Petrópolis. Vozes. s.d.
--------- . Educação e reflexão. Petrópolis. Vozes. 1968.
--------- . Educação e tempo presente. Petrópolis. Vo es. s.d. z
--------- . Educação e vida. Petrópolis. Vozes, 1966.
FUX. Maria. Danza, experiência de vida y educación. Buenos Aires. Paidós. 1976. 126 p. il.
GAINZA. Violeta Hensy de. La iniciación musical del niño. Buenos Aires. Ricordi Americana. 1964. 244 p. il.
GAITSKELL. Charles D. Children and their art; method for the elementary school, q. ed. New York, Harcourt
Brace & World. 1970.
-------- . Charles & GAITSKELL. Margaret R. Art education in the Kindergarten. Illinois. Charles A. Bennett.
1956.
--------- . & GAITSKELL, Margaret R. Art education for slow lear ers. Illinois, Charles A. Bennett, 1954. n
GARDNER. The arts and human development, s.1. s.ed. 1973.
GAUTHEROT, Marcel & CARBOCCI. Escolinha de Arte — Art des enfants. Módulo-Arquitetura e Artes
Plásticas. Rio de Janeiro (12):32-6. 1959. GESELL. Arnold & lllg. Frances L La educación del niño en Ia
cultura moderna. 2. ed. 8uenos Aires. Editorial
Nova. 1958. GETZELS, Jacob. Creativity and itelligence explorations with gifted students. London. New
York, J. Wiley
Sons. 1962. GHISELIN. B. The creative process: a Symposium. Los Angeles, Univ.
California, s.d. GIBBS. Evelym. The teaching of art in school. London, Williams & Nogate,
1948. GOLDMANN, Lucien. Marxisme et sciences humaines, idées. Paris, Gallimard. 1970.
--------- . Structures mentaux et création culturelle, s.n.t.
GOLMAN, Stuart E. Psychological study of criativity. Psychological Bulletin. 60(6):548-565. 1963. GONZALES
ROBLES, Luis. Las "Escolinhas de Arte do Brasil". Mundo Hispânico. Madrid. (119):38-42.
1958. GREGORY, R. L The intelligent eye. London, World University. 1971. 191 p. GRIMAL. P. L'homme
et le mythe. In: MITH0L0GIE de la Méditerranée an Gange. Paris. Larrousse, 1963, p.
4-15. GROPIUS. Walter. Alcance de la arquitetura integral. Buenos Aires. Ediciones la Isla.
1957.
--------- . Bauhaus: nova arquitetura. São Paulo. Perspectiva. 1972. 233 p.
GROZINGER, Wolfang. Scribbling, drawing, painting. London. Faber & Faber. s.d.
GUEVARA. Daréo. Psicopatologia y psicopedagogia del cuento infantil. Ecuador. Casa de la Cultura
Ecuatoriana. 1955. GUILFORD. J. P. Creativity. The American Psychologist. Washington.
5(9):444-54, 1950.
--------- . Creative abilities in the arts. Psychological Review. 1957.
GUIMARÃES, Domingos F. E. Arte infantil; tarefa a realizar em termos de educação. R. bras. Est. pedag.. Rio
de Janeiro. 59(132):614-28. out./dez. 1973. HARHEY. Ruth et alii. Understanding Childrens play.
London Routledge & Kegan Paul. 1952. HASTIC. Reid W. Art Education. Chicago. University of
Chicago. 1965.
HAUSER. Arnold. Philosophie der kenst geschichte. Munchen, Verlag C. H. Beck, 1958. 46 p. HAZARD, Paul.
Les livres, les enfants et les hommes. 2. ed. Paris. Ed. Contemporaines Boivin, 1949. HELSON. Ravena.
Personality of women with imaginative and artistic interests: the role of masculinity.
originality, and other characteristics in their creativity. Journal of Personality, Durham, 34( 1 ):1 -25. mar.
1966.
HILS, Kart. Crafts for all. Londres. Routledge & Kegan Paul.1960.
HIRSCH. Thérése. Musique et reéducation. Neuchatel. Delachaux et Niestlé. 1966.
HUDSON, Thomas. Educação criadora. Rio de Janeiro. Escolinha de Arte do Brasil, 1974. 120 p.
---------. Educação criadora nas escolas secundárias. R. bras. Est. pedag. Rio de Janeiro, 59(132):629-38.
out./dez. 1973.
--------- . Tecnologia criativa. R. bras. Est. pedag. Rio de Janeiro. 59 130):267-76. abr./jun. 1973. (
HUYGHE, René. Dialogue avec le visible. Paris. Flammarion, 1965.
--------- . Les puissances de l'image. Paris. Flammarion. 1965.
IMBELLONI, J. Concepto y praxis del folklore como ciencia. Buenos Aires. Nova, 1943.
---------. Homo Ludens. 2. ed. Trad. Eugenio Imaz. México. Fondo de Cultura Econômica, 1943.
JAKOBSON. Roman. Linguìstica, poética, cinema. São Paulo. Perspecti a. 1970. 208. p. (Col. Debates) v
JEAN. Yvonne. Marionetes populares. Rio de Janeiro. MEC/DDD, 1955.
JESUALDO. La expresión creadora del niño. Buenos Aires. Poseido , 1950. n
JUNG. C. G. El hombre y sus símbolos. Buenos Aires, Rueda, 1957.
KANDINSKY, Wassily. Punto y linea frente al plano. Buenos Aires, Nueva Vision, 1969. 178 p.
---------. & MARC, Franz. Derbleu Reiter. Verlag. Munchen. R. Piner, 1965.
KARMAR. Edith. Art therapy in a children's community. London. Charles C. Thomas. 1958. KATZENSTEIN,
Betty. Desenho e desenvolvimento. Revista do Arquivo Municipal. São Paulo.
11(100):53-65. 1945.
---------. Psicologia do desenho infantil. Boletim de Psicologia. São Paulo (21 -24-); 11-6, 1956.
KELLOGG, Rhoda. Analysing children's art. Palo Alto. California, National Press Books. 1970. 308 p.
---------. What children scrible and why. Palo Alto, California, The National Press, 1959.
KLEE. Paul. The thinking eye. London. Lund Humphries. 1969. 541 p.
---------Théorie de l'art moderne. Pays Bas. Gauthiers. 1969. 1 70 p. (Bibliothèque mediations).
KNELLEDGE. Growing and the visual art. Harvard Educational Review. 1963 .
KNELLER. George F. Arte e ciência da criatividade. São Paulo. Ibrasa. 1968
KOGAN. Jacobs. El lenguage del arte; psicologia y sociologia del arte. Buenos Aires. Paidós. 1965. 220 p.
KÕHLER. Wolfgang. Psichologie de Ia forme. Paris. Gallimard. 1964. 373 p. (Coll. ideés).
KURTH. Ernst. Musik-psychologie. Verlag. Krompholz & Co. Bern. 1947. 3 3 p. 2
LANGER. Susanna K. Ensaios filosóficos. São Paulo. Cultrix, 1971. 161 p.
---------. Feeling and forme. London, Routledge & Kegan Paul. 1953.
---------. et alii. An esthetic form and education. Ed. by Mychael F. Andrews. Syracuse. Syracuse University.
1958. LANIER. Vincent. Essays in art education. New York.
1976.
LANSING. Kenneth M. Arts. artists and art education. New York. Mc Graw Hill. 1971.
LÉGER. Fernand. Fonctions de la peinture. Pays Bas, Gauthiers. 1965. 167 p. (Bibliothèque mediations).
LEITE. Luiza Barreto. A arte de dizer e as escolas de teatro. Correio da Manhã, Rio de Janeiro. 23 ago. 1958.
---------. Teatro e cultura. Rio de Janeiro. Ed. Brasileira, s.d. L'ENSEIGNEMENT des arts plastiques dans
écoles primaires et secondaires. Paris. UNESCO, 1954. LES ARTS et la vie: place et rôle des arts dans la
société. Paris. UNESCO, 1969. LEVI-STRAUSS, Claude. 0 pensamento selvagem. São Paulo. Ed. Nacional.
Ed. USP. 1970. 331 p. LISBOA. Hadjine Guimarães & MEDEIROS. José da Cruz. Arte-educação: levantamento
bibliográfico. R. bras.
Est. pedag.. Rio de Janeiro, 59(130):291-300. jul./set. 1973. LODY. R. G. da Motta. Símbolos mágicos na
arte do metal. Rio de Janeiro. Arsgráfica Ed.. 1974. LOEFFLER-DELACHAUX. M. Le symbolisme des contes de
fés. Paris. L'Arche. 1949. LOURENÇO FILHO. M. B. Introdução ao estudo da escola nova. ed. ref. São Paulo.
Melhoramentos, s.d. 266
P-LOWENFELD, Viktor. Creative and mental growth. New York. Mac Millan. 1958.
LOWENFELD. Viktor. A Criança e sua arte. São Paulo. Mestre Jou. 1976. 224 p. . il
---------. Desenvolvimento da capacidade criadora. São Paulo. Mestre Jou. 1977.
---------. Tne Nature of creative activity. London, Routledge & Kegan Paul d.. 1952. Lt
LYTON. Hugh. Creativity and education. New York. Schoken Books. 1972.
MACHADO. Maria Clara. Teatro Infantil. Rio de Janeiro. AGIR. 19E7. 229 p.
MADDI, Salvatore R. Motivational aspects of creativity. Journal of Personality. Durham, 33(3):330-47, sep.
1965. MAGALHÃES. Lúcia. 0 que a criança revela quando desenha. Consultor: Augusto Rodrigues. Pais &
Filhos.
Rio de Janeiro. 70(8):108-12. abr. 1978. MALDONADO. Tomas. A educação artistica e as novas
perspectivas científicas. J. Brasil (Supl. dominical):
Rio de Janeiro. 19/9/1959. MALRAUX. André. La voix du
silence. Paris. Gallimard. 1963.
MAN. Henri de. L'ere des masses et le déclin de la civilisation. Paris. Flammarion. 1952. MANTOVANI, Fryda
Schultz de. Fábula del niño en el hombre. Buenos Aires. Ed. Sudamerican , 1951. a
---------. El mundo poético infantil. Buenos Aires. Ed. udamericana. 1951. S
---------. Sobre las hadas. Buenos Aires, Nova. 1959.
MARIN. Alda Junqueira. Educação, arte e criatividade. São Paulo. Pioneira. 1976.
MARITAIN. Jacques. Criativa intuition in art and poetry. New York. Meridian Books. 1955. 339 p.
MARSON. Fernando e SELTZER. Norma. O ensino artístico no Curso secundário. Rev. Pedag. 9(16):77-116.
jan./jun. 1963. MATA. Raimundo. Criatividade: a nova dimensão educacional. R. bras. de Est. pedag. Rio
de Janeiro,
4l(93):98-100. jan./mar. 1964. MATA, Roberto da. et alii. Arte e linguagem. Petrópolis. Vozes. 1973. 141 p.
MATTHAI, Tobias. Musical interpretation. Boston, Music. Co.. 1913, 168 p. MCKAIL. Feodora Theresia.
Atividades artísticas com fins terápicos e educativos. R. bras. Est. pedag.
59(132)639-47, out./dez.. 1973. MCKELLER, P. Imagination and thinking. New York. Cohen & West. 1957.
MEDEIROS. Ethel Bauzer. 0 Lazer no planejamento urbano. Rio de Janeiro. FGV. 1971. MEDNICK, Sarnoff A.
La base asociativa del proceso creador. Revista Mexicana de Psicologia. xico,
l(1):63-83. 1963.
MEKLER. Sara K. de. Algunas ideas acerca de la creatividad en los músicos. In: CONGRESSO INTERAMERI-
CANO DE PSICOLOGIA. 6. Rio de Janeiro. 1959. Anais. . . Rio de Janeiro. 1960. p. 769-73.
MENDES. Durmeval Trigueiro. Filosofia da educação fundamental e média. Revista de Cultura Vozes. 68(21:5-
12, mar. 1974.
--------- . Realidade, experiência, criação. R. bras. Est. pedag. Rio de Janeiro. 59(130):227-40. abr./jun 1973.
MENDES. Lucas & CASTILHO Carlos. 0 mundo que eu não fiz. Fotos de Orlando Abrunhosa. Fatos e Fotos.
Rio de Janeiro. 6(2951:44-8. 24 set. 1966.
MENTELOWITZ. Daniel M. Children are artists. Stanford. California. Stanford University. 956. 1
MERLEAU-PONTY, Maurice. 0 visível e o invisível. São Paulo, Perspectiva. 1971. 274 p.
MERSMANN. Hans. Musikhõren. Frankfurt. A. M. Hans F. Merick Verlag. 1955. 324 p.
MESARANI. Samir Curi. Redação escolar: criatividade. São Paulo. Discubra. 1973.
MEYER and Brightbill. community Recreation: a guide to its organization. Englewood Cliffs. Prentice-Hall, 1956.
MICELI, Sergio. A noite da madrinha. São Paulo. Perspectiva. 1972. 293 p.
MIEL, Alice. Criatividade no ensino. o Paulo. IBRASA. 1973.
MIGNONE, Liddy C. Guia para o professor de recreação e iniciação musical. São Paulo, Ricordi, 1961.
MIRANDA, Alcides Rocha. Origem e desenvolvimento do ensino da arte no Brasil e a interferência do ensino
católico. Veritas. Rio de Janeiro. 6(1)32-37. mar. 1961.
MOHOLY-NAGY. Lászio. La nueva visión: y reseña de un artista. Buenos Aires, Ed. Infinito. 196 . 192 p. 3
MORAIS. Frederico de. Artes plásticas: a crise da hora atual. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1975.
MOREIRA. J. Roberto. Teoria e prática da escola elementar. Rio de Janeiro. MEC. INEP. 1960. p. 371-418.
MORIN, Edgar. 0 enigma do Homém. Rio de Janeiro, Zahar, 1975.
MOSQUERA. Juan. Psicologia da arte. 2. ed. rev: Porto Alegre. Sulina Editora. 1976. 135.
MOUSTAKAS, Clark E. Children ín play therapy. London, Mc Graw Hill, Book company, 1953.
MUNRO. Thomas. Art education Its philosophy and psychology. New York, Libe al Arts, 1956. r
----------. Les arts ét leurs relations mutuelles. Paris, Universitaire de France, 1954.
--------- . Toward science a esthetics. New York. Liberal Arts. 1956.
MURPHY, Lois Barclay. Personality in Young children, s. I. Basic Books. 1957.
MUSEU de Arte Moderna do Rio de Janeiro. New York. 1958. 16 p.
NAUMBURG, Margareth. Dinamically oriented on therapy. New York, Grune & Stratton, 1966.
--------- . Studies of the "free" art expression of behavior pro lem children and adolescents as a means of b
diagnosis and therapy, s.l. Coolidge Foundation, 1947.
NAVILLE, P. Zarro R. Le dessin chez l'enfant. Paris. Universitaire de France. 1951.
NEDER, Mathilde. como estudar desenhos de criança. Boletim de psicologia. São Paulo. (21. 24):139, 144.
1954l1955.
NEIL. A. Summerhill. Liberdade sem medo. São Paulo, Ibrasa. 1968. 357 p.
NICOLAS, André. Introdução ao pensamento de Jean Piaget. Rio de Janeiro. Zahar. 1978.
NOBRE. Flora. 0 desenho e a criança. Revista do Ensino. Porto Alegre. 3(17):47. set. 1953.
NOVAES. Maria Helena. Da importância das atividades artisticas na reeducação dos disléxicos. Rio de Janeiro.
E.A.B.. 1973.
--------- . A livre atividade artística e o desenvolvimento do adolescente. Arq. bras. Psic. apl.. Rio de Janeiro. 1.
jan.lmar. 1965.
--------- . Psicologia da criatividade. 2. ed. Petrópolis. Voze 972. s. 1
--------- . Psicologia Escolar. Rio de Janeiro, Vozes. 1970.
--------- .Adaptação escolar; diagnóstico e orientação. Petrópolis. Vozes. 1975. 103 p. il.
--------- . Assembléia da International Society for Education through An.. 4. s. 1.. s.d. 4 p. mimeo.
. Organização Perceptomotora na aprendizagem escolar. Rio de Janeiro, PUC, 1968. Tese (douto
rado).
NUNES. Benedito. Educação artística e filosofia de arte. Rio de Janeiro. Escolinha de Arte do Brasil, 1976. 20
p. il.
OB RY. Olga. 0 teatro na escola. São Paulo. Melhoramentos, s.d.
OLIVEIRA, Daniel. Cada dia a criança me surpreende. Para Todos. Rio de Janeiro. 7(14):1956. Entrevista com
Ivan Serpa.
OLIVEIRA. João Camilo. Lazer & Cultura. Petrópolis. Vozes. s.d.
OSBORNE. Harold. Estética e teoria de arte. São Paulo, Cultrix 1970. 278 p. .
OSTERRIETH. Paul. Introdução à psicologia da criança, s. n. t.
OSTROWER. Fayga. Criatividade e processos de criação. Rio de Janeiro. Imago. 1977.
OTTO. Henry J. Social education in elementary schools, s. 1.. Reinehart. 1956.
PACHECO. Luiza Prates Lupi. Considerações sobre o desenho infantil. Revista do Ensino. Porto Alegre.
4(26):54-7. 1954.
PAGE. Hilary. El juego en Ia primera infancia. Madri. Espalsa Calpe. 1954.
PANOFSKY. Erwin. Meaning in visual ans. New York, Doubliday. 1955.
PAPPAS, George, ed. Concepts in an and education. London. Mac Millan. 1970.
PAYNTER, John & ASTON, Peter. Sound and silence. London, Cambridge University, 1970. 365 p.
PELTIER. Luzia. Forma e côr ajudam a educar. Jóia (146):46-55. out. 1965.
PENNA. A. G. Percepção e aprendizagem. Rio de Janeiro. Fundo de Cultura. 1966.
--------- Percepção e realidade: introdução ao estudo da realidade perceptiva Rio de Janeiro Fundo de
Cultura, 1968. PEREIRA, Carlos José da Costa. Artesanato e arte popular, s. 1. Liv.
Progresso, s. d.
PERKINS. David & LEONDAR. Barbara. The arts as cognition. altimore. John Hopkins Univ. 1977. B
PETRIE. Maria. Art and regeneration. London. Paul Elek. 1946.
PEVSNER. Nikolaus. Os pioneiros do desenho moderno: um livro pelicano. Lisboa. Rio de Janeiro. Ulisseia.
1962. 189 p. PIAGET. Jean. A educação artistica e a psicologia da criança. R. bras. Est. pedag.. Rio
de Janeiro.
45(109):211-3. jan./mar. 1968.
--------- . Representation de l'espace chez l'enfant. Paris. Universitaire de France, 1948.
--------- . Psicologia da inteligência. Rio de Janeiro, Fundo de Cultura. 1956.
--------- . A linguagem e o pensamento da criança. Rio de Janeiro. Fundo de Cultura, s. d.
PIGNATARI, Décio. Informação, linguagem, comunicação. São Paulo, Perspectiva. 1969. 144 p. (Col.
debates) PINES. Maya. Técnicas revolucionárias de ensino pré-escolar: a criança dos três anos aos seis
anos. São
Paulo. IBRASA. 1969. PINTO COELHO. Filomena. Os adolescentes e os tempos livres. Boletim
Bibliográfico Informativo do CIP da
Fundação Gulbenkian, s. I. (12): 1970. POUSSEUR. Henri. Musique, sémantique, société. Casterman. s.
ed. 1972. 150 p. PROGRAMA do Curso de Atividades Artísticas e Recreativas para Professores e Recreadores.
Rio de Janeiro.
Escolinha de Arte do Brasil. 1954. p. 4. QUATÉRNIO; Revista do Grupo de Estudos C. G.
JUNG. Rio de Janeiro. n° 1-4, 1965l67. RAVACHE. Sylvia. Gente miúda também é noticia.
Querida (225):20-5, out. 1963. READ. Herbert. Arte de agora, agora. São Paulo. Perspectiva.
1972. 181 p. il.
--------- . Arte e alienação; o papel do artista na sociedade. Rio de Ja eiro. Zahar. 1967. n
--------- . Arte y sociedade. Buenos Aires. Editorial Kraft. 195 . 307 p. 1
--------- . Educación por el arte. Buenos Aires, Paidós. 1962.
--------- . Forma y poesia moderna. Buenos Aires. Nueva Vision, 195 6.
--------- . The forms of things unknown. London. Faber & Faber,1960.
--------- . The grass roots of Art. London, Faber & Faber, 1955. 160 p.
--------- . Imagen y idea. México. Fondo de Cultura Econômica. 1957.
--------- . As origens da forma na arte. Rio de Janeiro, Zahar, 1967.
--------- . The philosophy of modem art. London. Faber & Faber, 1 52. 278 p. 9
--------- . La redención del robot. Buenos Aires. Proyección, 1967.
--------- . O sentido da arte. São Paulo. IBRASA. 1968.
---------. 0 sentido da arte na educação. Atualidades Pedagógica , s.1. 7(39):15-8. 1956. s
--------- . The true voice of feeling. London, Faber & Faber. 1952.
---------. A validade da educação artística. Escola Secundária. Rio de Janeiro. (12):41 -2, mar. 1960.
RICHARDSON. Marion. Art and the child. London. University of London. 1948.
RIGON. Plinio. Artes plásticas na escola: uma experiência. R. bras. Est. pedag.. Rio de Janeiro.
59(132):608-13. out/dez.. 1973. RITCHILE. Andrew C. The usual arts in higher education. New Haven,
Yale University. 1966. ROBERTSON. Seonaid Mairi. Craft and contemporary culture, s.1.
UNESCO/HAPPAP. 1961. 158 p.
--------- . Dyes from plants. London. Van Nostrand Reinhold. 1973. 144 p.
---------. Rosegarden and labyrinth; a study in art education. London, Routledge & Kegan Paul. 1963.
RODRIGUES. Augusto. Assim é o Rio das crianças. Reproduções fotográficas de Gil Pinheiro. Manchete, Rio
de Janeiro (665):36-45. 16 jan. 1965.
--------- . uma experiência criadora na educação brasileira. R. bras. Est. pedag.. Rio de Janeiro.
59(130):25l-6. abr./jun. 1973. RODRIGUES. Josefina. El arte del niño.
Madrid. C.S.I.C. 1958. ROLTGER, Ernst. Creative paper craft. London.
Bastford. s.d. 96 p.
--------- . Creative textile craft. London. Bastford. 96. p. 114 iI.
--------- . & KLANTE. Dieter. Creative drawing. London, Bastford. 1964.
ROWET. Nicolas. Language, musique, poésie. Paris. Editions du Seuil. 1972. 247 p.
RUDOLFER. Noemi Silveira. Os motivos profundos do desenho infantil. Boletim de Psicologia, São Paulo
(21-24):17-30. 1954l1955. SÁ. Hernane Tabares de. Vence em Madri nossa escolinha. Visão. Rio de
Janeiro, (10) 54 55, 1958. SACHS. Curt. The History of musical instruments, s. 1.. W. W. Norton & comp. 1940.
SARTRE. Jean Paul. L'imaginaire. Paris. Gallimard. 1971. (Col. Idées). SAUNDERS. Robert. History of art
education in the United States. New York. Mac Millan, Encyclopedia of
Education. 1971. v. 1. SCHAEFFER. Pierre. A Ia recherche d'une musique concrete. Paris. Ed.
du Seuil. 1962. 230 p. SCHMIDT. Maria Junqueira. Educar pela recreação. Rio de Janeiro, Agir. 1958.
SCHULTZ. Harold & SHORES, J. H. Art. in the elementary school. Urbana. University of Illinois. 1959.
SCRIABINE. Marine. Introductions au langage musical. Paris. Les Editions de Minuit, 1961. 149 p.
---------La langage musical. Paris. Les Editions de Minuit. 1963. 234 p.
SCULLY. Vincent. S. Visual arts as a way of knowing. In: GRISWOLD. A Writney et alii. The fine arts and the
university. Toronto. Mac Millan. 1965. SEU sonho é libertar as crianças. Visão. Rio de Janeiro. l8(25):22-5.
23 jun. 1961. SHAPIRE. R. J. The integrating of remotely associated concepts as a process in scientific
creativity.
Psychologia Africana. Johannesburg. ll(1):40-8, 1965. SCHOUKSMITH. George. Intelligence
creativity and cognitive style. London. Blatsford. 1970.
SILVA. Eurico. 0 desenho na cultura e na educação. Revista do Ensino, Pono Alegre (9):94-100. jun. 1959.
SILVEIRA. Nise. A concepção ducacional de Herbert Read. R. bras. Est. pedag.. Rio de Janeiro. e
59(130):241-50. abr/jun. 1973.
---------. Herbert Read em memória. Quatérnio. Rio de Janeiro, 1970. p. 5-25.
-------- . 20 anos de terapéutica ocupacional em Engenho de Dentro. R. bras. Saúde Mental. 10. 1966.
SOUZA. Alcidio M. de Artes plásticas na escola. Rio de Janeiro. Bloch. 1968.
---------. Didática especial do desenho na escola primária. São Paulo, Ed. Nacional. 1964.
SOUZA. Valdomero de. Escolinha de Arte. J. do comércio, Rio de Janeiro. 11 jun. 1960.
SPANUDIS. Theon. A importância educativa da arte contemporânea. J. do Brasil. Rio de Janeiro. 6/19 set.
1959.
STEIN. Morris I. Creative and culture. The Journal of Psychology, Massachussets. 36(2):311-22, oct. 1953.
---------. Creativity and the individual; summaries of selected literature in psychology- Clencoe. Free Press.
1960. STERN. Arno. comprension del arte infantil. Buenos Aires. Kapeluz.
1962.
---------. Aspectos y técnicas de a pintura infantil. Buenos Aires. Kapeluz. 1961 I
---------. Entre éducateurs, s.n.t.
---------. La langage plastique. Neuchatel. Delachaux & Niestlé, s.d. 88 p. il.
---------. & DUQUET. Pierre. La conquiste de la tercera dimension. Buenos Aires. Kapeluz. 1964.
---------. Del dibujo espontaneo a las técnicas gráficas. Buenos Aires. Kapeluz. s.d.
STRAVINSKY. Igor. Poetics of music. 2. ed. Cambridge. Mass.. Harvard University Press. 1974.
TAYLOR. Calvin W. Criatividade; progresso e potencial. São Paulo. IBRASA. 1971.
---------. Novos horizontes em criatividade. New York. J. Wiley. 1964.
TEIXEIRA. Anisio. Educação não è privilégio. 4. ed. São Paulo. Ed. Nacional, 1977. 231 p.
---------. Educação progressiva; introdução á filosofia da educação. Petrópolis, Vozes. 1963.
---------. Pequena Introdução á filosofia da educação. Rio de Janeiro. Ed. Nacional. 1968. p. 17-24.
TOMLINSON. R. R. & MILLS. J. M. F. The growth of child art. London. Press. 1966. TORRANCE, E. P.
Education and the creative potencial. Minneapolis. University of Minnesol, 1961.
---------. Rewarding creative behavior, englwood cliff. New Jersey. Prentice-Hall. 1965.
TRIANDIS, Harry. Quelques recherches sur la créativité didatique. Buletim d'Études et Recherches psycholo-
giques, Paris. 72(3):211-37. 1963. TRIGON, Jean de. Histoire de la literature enfantine. Paris, Hachette.
1950. TRITTEN. Gottfried. Education par Ia forme et par la couleur. 2. ed. rev. comp. La Tour-de-Peili. Delta;
Anvers-Annecy. Plantyn, 1974. 408 p. il. TUDOR. Hart Beatrix. Toys, play and discipline. London.
Routledge and Kegan. 1953. TURNER. Johanna. Desenvolvimento cognitivo; curso básico de psicologia. Rio
de Janeiro. Zahar. 1976. UNESCO. Arteleducaçâo: levantamento internacional. Trad. Maria Helena Rapp. R.
bras. Est. pedag.. Rio de
Janeiro 59( 132):659-87. out.ldez. 1973.
---------.Art. et éducation, recueil Cessais. Paris. 1954.
---------. Les arts et Ia vie; place et rôle des arts dans la société. Paris. 1969.
---------. Education and art. Paris, 1953 .
---------. Education andari. Paris. 1969.
---------. L enseignement des arts plastiques dans les écoles primaires et secondaires. Paris. 1954.
---------. L'enseignement des travaux manuels dans les écoles secondaires. Paris. 1950.
VALENTIM, Lúcia Alencastro. Centro xperimental de arte na educação. R. bras. Est. pedag.. Rio de Janeiro e
59(1321:593-607. out.ldez. 1973.
---------. Ciência e arte na educação. Educação. Brasilia. l(1):108-10. abr.ljul. 1971.
VASCONCELOS. Silvio. Aula inaugural na Escola de Guignard. Diário de Minas. Belo Horizonte, 21 abr.
1957. VELHO. Gilberto, org. Sociologia da arte. Rio de Janeiro. Zahar. 1966. 3 v. VIEIRA.
Generice A. A Escolinha de Arte do Brasil. Atualidades Pedagógicas, 7(38):1-5, 1956.
---------. A Escolinha de Arte do Brasil. Revista Ensino. Pono Alegre. 5(39):23-5. ago. 1956.
VINCHON. Jean. La magie du dessin, s.1. Editions Desclée de Brower, 1959.
20 ANOS da Escolinha de Arte; uma experiência viva em educação. Visão, Rio de Janeiro. 32(11):49-58
1968. WALLACH, Michael A. & KEGAN, Nathan. Modes of thinking in Young children. New York. Holt.
Rinehart
and Winston. 1965. WALLON. Henry. Les origines de la pensée chez l'enfant. Paris, Press
Universitaires, 1945. 2 v. WERNECK, Regina Yolanda. Arte na escola primária. Rio de Janeiro, Livro
Técnico, 1967. WERTHAM, Frederic. Seduction of the invent. New York. 1953.
WHITEHEAD, Alfred North. Os fins da educação e outros ensaios. 3. ed. São Paulo, Ed. Nacional. USP. 1966.
WILLEMS. Edgar. Les bases psychologiques de I'education musical. Paris. Press Universitaires de France.
1956. 142 p.
-------- . L'oreille musicale. Genève. Editions Pro musica. 1965. 2 v.
---------• La preparación musical de los más pequeños; la escuela en el tiemp. 3. ed. Buenos Aires, EU DEBA.
1968. 104 p. WINSLOW. Leon Loyal. The integrated school art program. New York. Mc Graw Hill. 1949.
WISKISIER. Ralph. An introduction to art education. New York. World Book. Yomkers on Hudson. 1958. 343
P-WITKIN. Robert W. The intelligence of feeling. London. Heinemann Education Books. 1974. 198 p.
WITTY. Paul, et alii. Creativity of gifted and talent children, s.l. American Association for Gifted Children.
1959. WOJNAR. Irene. Estètica y pedagogia. México. Fondo de Cultura Econômica, 1967. WOLF. Robert
Jay. Essays on art and learning. New York, Gosman Publ.. 1971. ZAIDENBERG, Arthur. Your child is an artist.
New York. Grosset Dunlop Publischers. 1949. ZALUAR. Abelardo. Programa da cadeira de desenho artistico. Rio
de Janeiro. Escola de Belas Artes da
Universidade do Brasil. 1959. 4 p.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo