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topo de uma imensa pirâmide, tendo por base um exército de pequenas empresas que
pagavam um salário médio 45% inferior ao percebido na “empresa-mãe”, com abundância
de trabalhadores precários pagos por peça produzida (GORZ, 2004, p. 58-59).
Em grande parte graças à informatização e à comunicação satelitizada, a Toyota não
precisa se preocupar com a localização geográfica desta massa de trabalhadores precários.
A terceirização do trabalho, assim, também atua na redefinição do mapa sócio-econômico
global,
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enfraquecendo, simultaneamente, o poder de negociação dos trabalhadores e a
capacidade de intervenção dos Estados (RIFKIN, 2001, p. 40). Os centros de produção do
“alto valor” são relativamente poucos, mais ou menos independentes do Estado-Nação que
os abriga e conseguem explorar oportunidades de negócios e vantagens competitivas nos
quatro cantos do planeta. Assim, são produzidas zonas de alta densidade tecnológica,
dominadas pela elite profissional global, e uma periferia de trabalhadores pouco
qualificados, porém, indispensáveis para os processos de acumulação do capital. A
informática libera o capital para procurar o máximo de qualificação no trabalho pelo
mínimo de custos em qualquer lugar do mundo.
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O caso da Toyota é a exemplificação de uma tendência do modo de produção
capitalista que emergiu como de forma clara após a Segunda Grande Guerra. Em um longo
debate com as correntes neoclássica e marxista da economia, Charles-Albert Michalet
defendeu, já em 1976, as bases daquilo que chamaria de “economia mundial”, em oposição
à noção de “economia internacional”. O centro de sua teoria é que a ação concreta e
historicamente determinada das empresas multinacionais, desde pelo menos os anos 60 do
século XX, mudou de estratégia. Da expansão pela venda de mercadorias (exportação
simples, característica da “economia internacional”), o foco das multinacionais voltou-se à
exportação da produção. Fábricas foram instaladas nos países de economia
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A dispersão global da produção não é apenas uma “oportunidade”, mas uma necessidade do capital. Os
elevados custos de pesquisa e desenvolvimento de novas mercadorias e processos não podem mais ser
absorvidos pelos mercados locais, empurrando as empresas “de ponta” para fora de seus países de origem
(RATTNER, 1985, p. 50-55). A exportação da produção surge, então, como a racionalização de uma
tendência inevitável.
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Na verdade, a informatização acelera e facilita essa “liberação”. Mas, em alguns casos, o capital não recua
frente à possibilidade de desmontar fisicamente uma fábrica, peça por peça, para remontá-la em local mais
favorável. É o caso de uma fábrica de motores no Brasil, criada a partir de uma joint venture entre a BMW e a
DaimlerChrysler que, segundo o jornal The New York Times, estava sendo comprada por um grupo chinês
para ser desmontada e transportada à China. “Segundo o jornal, como a fábrica é altamente sofisticada, seria
muito mais prático para a montadora chinesa empreender esse esforço de transferir a maquinaria para outro
local, a uma distância de 13 mil quilômetros, do que desenvolver tecnologia própria [...]” (FADEL, 2006) .