Se compararmos as taxas de analfabetismo da população de 15 ou mais anos no Brasil com as de
outros países, veremos que aí se encontra um nefasto inibidor do desenvolvimento e, certamente,
da construção da democracia. O Brasil tem uma taxa de analfabetismo aproximadamente quatro
vezes superior à da Argentina e três vezes superior à do Chile, para compararmos com países da
América Latina. Talvez isso explique o fato da Argentina e do Chile ocuparem os 34º (trigésimo
quarto) e 38º (trigésimo oitavo) lugares no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano,
enquanto o Brasil está em 64º (sexagésimo quarto) lugar.
A importância do tema alfabetização, a meu ver, justifica o decisivo envolvimento da imprensa
nessa verdadeira batalha nacional por reduzir significativamente, senão erradicar, essa chaga de
origem remota e cuja persistência envergonha a todos nós. Os meios de comunicação no Brasil
podem e devem engajar-se de forma mais decisiva, estimulando a reflexão e a constituição de uma
opinião pública bem fundamentada e cobrando avanços da própria sociedade e do Poder Público.
Outro tema é o papel dos meios de comunicação na construção do capital social. Oferecer
informação de qualidade é uma forma de construir esse capital, na medida em que por este
caminho os meios de comunicação estarão transformando seus leitores, telespectadores e
ouvintes em cidadãos críticos, com melhor capacidade de atuar, refletir e decidir.
Vejamos a questão da violência, que hoje angustia a sociedade brasileira. Diferentes pesquisas da
UNESCO provam que os jovens são vitimas da crescente violência urbana que o País enfrenta.
Não é o caso de nos perguntarmos de que forma os meios de comunicação poderiam se
posicionar para colaborar com esta parcela da população que hoje clama por socorro? Não é o
caso de nos perguntarmos como os meios de comunicação poderiam participar desse processo de
inclusão?
Arrisco-me a dizer que um caminho é dar mais espaço para que jovens falem por eles mesmos
sobre os problemas que enfrentam e também sobre as soluções que imaginam serem possíveis.
Se quisermos que os jovens de hoje se consolidem como leitores, telespectadores e ouvintes – ou
seja, como consumidores dos meios de comunicação – é preciso não apenas fornecer informações
de seu interesse, mas até criar oportunidades de aproximá-los do processo da produção do jornal,
da revista, do rádio e da televisão.
A questão da formação dos jovens cidadãos brasileiros parece ainda mais grave quando se sabe
que sete milhões deles não estudam nem trabalham, conforme a UNESCO aferiu em seu Relatório
de Desenvolvimento Juvenil. Essa população de jovens sem presente nem futuro é maior em
tamanho do que as populações do Uruguai e de Costa Rica juntos!
É preciso dar-lhes voz de alguma forma, dedicar-lhes notícias que acrescentem em sua formação
cidadã. Tudo isso faz parte da construção da cidadania, onde a imprensa tem seu lugar reservado.
Deixo claro que em nenhum momento tenho a intenção de tirar a responsabilidade do Estado na
formação dos jovens cidadãos, já que estamos falando deles. Ainda estamos longe de ter uma
educação de qualidade para todos, apesar dos vários programas e progressos registrados nos
últimos anos, tanto pelo poder público quando pela iniciativa privada. Ainda temos um longo
caminho no sentido de fazer entender, em especial àqueles que ocupam funções públicas, que
educação é investimento. E que educação e justiça social caminham lado a lado.
Mas é também importante que todos os segmentos da sociedade tenham consciência de que essa
função provedora do Estado, de maneira isolada, não é mais suficiente para combater o
gigantesco problema da exclusão social. Hoje é preciso muito mais.
É necessário juntar esforços e ajudar a pensar e a executar projetos inovadores e planos
comprovadamente bem-sucedidos ligados à alfabetização e educação em geral. Neste processo,