
Agora o sistema cana de biomassa pode fazer
algo semelhante pela energia elétrica.
Felizmente, as altas esferas nacionais já
sabem – e o ministro Pratini de Moraes tem
tudo a ver com isso – que uma tonelada de cana
equivale, energeticamente, a um barril de
petróleo. Considerando-se as previsões para
esta safra e os investimentos que estão sendo
feitos na melhoria tecnológica de caldeiras,
turbinas e geradores, com linhas de crédito
abertas pelo BNDES, preparamo-nos para
colocar nas linhas de transmissão 2.000
Megawatts (MW) já em 2002.
O próximo salto de curto prazo
desse programa será a co-
geração de 3.000MW por
safra, suficientes para iluminar
30 cidades como Campinas. Na
verdade é uma cifra modesta,
se considerarmos que o
potencial do setor poderá ser
otimizado com investimentos
para melhoria de eficiência na produção de
vapor, tecnologia de turbinas e geradores. E
ainda, se houver incentivo para a mecanização
do corte de cana crua, além de ganhos
ambientais com o fim das queimadas, haverá
considerável acréscimo de biomassa nas
caldeiras, com a utilização da palha e ponta da
cana. Com palha, ponta e bagaço, caldeiras e
turbinas mais eficientes, o potencial do setor
chegará a 12 mil MW, mais de 17% da atual
potência elétrica instalada no Brasil (70mil MW).
As vantagens da biomassa renovável são
obvias e inegáveis na co-geração de energia
termelétrica:
a) sua oferta coincide com o período de seca, e
por conseqüência, dos níveis mais baixos dos
reservatórios das hidrelétricas;
b) é solução nacional, assim como os equipa-
mentos necessários, produzidos no País com
tecnologia própria ou transferida;
c) os empregos que advém do ciclo sucro-
alcooleiro completo, bem como da produção
de equipamentos, são gerados aqui e não nos
EUA ou Europa;
d) o custo da energia elétrica co-gerada é livre
de risco cambial. Igualmente, independe do
preço do petróleo, ou seja, terá sempre
impacto positivo na balança comercial;
e) o ciclo de utilização da biomassa favorece a
perspectiva de decréscimo no preço de
energéticos como o álcool e, por extensão, da
gasolina na qual ele é
adicionado como oxige-
nante. Pois o álcool, ao
contrário do que se pensa,
barateia o preço da gaso-
lina à qual é adicionado
como aditivo antidetonante
e oxigenante; e
f)o ciclo completo de
utilização do sistema cana
(ponta, palha e bagaço) é de queima
completa; ambientalmente limpo, contribui
para reduzir as emissões de dióxido de
carbono (CO2), o pior agente do efeito estufa
Chegar aos 12MW não será impossível, mas,
é obvio, exigirá a incrementação de um
programa de longo prazo, que não pode ficar
apenas restrito a auxiliar momentâneo de uma
crise que sabemos, será passageira. Se o
G o v e r no brasileiro definir claramente sua
matriz energética e o papel de cada energético
no contexto global, acredito que haverá um
futuro positivo e promissor onde o agribusiness –
tradicional gerador de postos de trabalho e forte
consumidor de insumos industriais –
desempenhará papel chave na reativação da
indústria de máquinas e equipamentos, dando
fôlego também à implantação de novas
termelétricas e hidrelétricas, estas últimas de
construção lenta e dispendiosa.
82
As vantagens da biomassa
renovável são óbvias e
inegáveis na co-geração de
energia termelétrica.