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naturalismo, o estudo da psicologia feminina também se faz freqüente, muito influenciado
pelos casos de histeria diagnosticados por Sigmund Freud. Sob esse aspecto o conto de
João do Rio se enquadra perfeitamente nessa lógica, já que no referido texto o Barão André
de Belfort, antes de narrar a seu interlocutor o caso da morte de Elza, traça um pequeno
perfil da psicologia feminina, no caso, especificamente falando de prostitutas:
Você de certo ainda não quis fazer a psicologia da mulher alegre atirando-se a todos os excessos por
enervamento de não ter o que fazer? Quase todas essas criaturas, altamente cotadas ou apenas da calçada, são,
como direi? as excedidas das preocupações. Estão sempre enervadas, paroxismadas. O meio é atrozmente ar-
tificial, a gargalhada, o champanhe, a pintura encobrem uma lamentável pobreza de sentimentos e de
sensações.Todas amam de modo excepcional, jogam excessivamente, embriagam-se em vez de beber, põem
dinheiro pela janela à fora em vez de gastar, quando choram, não choram, uivam, ganem, cascateiam
lagrimas. Se têm filhos, quando os vão ver fazem tais excessos que deixam de ser mães, mesmo porque não o
são. Duas horas depois os pequenos estão esquecidos. Se amam, praticam tais loucuras que deixam de ser
amantes, mesmo porque não o são. Elas tem varias paixões na vida. Cinco anos de profissão acabam com a
alma das galantes criaturinhas. Não há mais nada de verdadeiro. Uma interessante pequena pode se resumir:
nome falso, crispação de nervos igual à exploração dos “gigolôs” e das proprietárias, mais dinheiro apanhado
e beijos dados. São fantoches da loucura movidos por quatro cordelins da miséria humana.(pág 11)
Por definir a prostituta como uma pessoa com diversas características de ordem
patológica, além de suscetível a diversos vícios, o Barão Belfort mais uma vez demonstra
claras características que permitem um diálogo entre seu discurso e o discurso naturalista: o
velho dândi traça um perfil da personalidade (doentia) da prostituta baseando-se
principalmente no “meio” em que elas trabalham. Um indivíduo tem seu comportamento
delineado pelo meio em que vive ou pela sua raça. No conto de João do Rio, a patologia das
prostitutas deve-se ao meio em que elas vivem e aos demais que neste habitam. Na obra de
Adolfo Caminha a raça serve como ponto-chave: apesar do branco Aleixo também ter-se
envolvido com a “patologia” da homossexualidade, este ainda obteve, grosso modo, uma
espécie de“redenção” por envolver-se com uma mulher também. Já Amaro, justamente um
homem negro, que ainda por cima desenvolveu um ciúme que o levou a assassinar Aleixo,
teve um fim bem diferente. É pertinente destacar que tais justificativas racistas empregadas