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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS E CIÊNCIAS EXATAS
Campus de Rio Claro
A GEOLOGIA E A GEOESPELEOLOGIA COMO INSTRUMENTOS
DE PLANEJAMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO DO
TURISMO – O CASO DE SÃO JERÔNIMO DA SERRA / PR
Angelo Spoladore
Orientador: Prof. Dr.Luiz Roberto Cottas
Tese de Doutoramento elaborada junto ao
Programa de Pós-Graduação em Geociências,
Área de Concentração em Geociências e Meio
Ambiente, para obtenção do Título de Doutor
em Geociências e Meio Ambiente.
Rio Claro
2006
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Livros Grátis
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Milhares de livros grátis para download.
Comissão Examinadora
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
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Angelo Spoladore
Rio Claro _______ de ______________________________ de 2006.
Resultado: _______________________________________________________
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Para as minhas filhas, Mariana e Gabriela.
O homem curioso.
Pedro era um homem que tinha ido trabalhar. Ele trabalhou
o dia inteiro, ele trabalhou na UEL, ele ficou o dia inteiro lá na
UEL, ele almoçou lá e tem uma lanchonete muito boa. Tinha na
lanchonete hambúrguer, tinha carne tinha batata frita e etc. Ai
ele foi escrever o seu doutorado, ainda faltava muito para ele
terminar o seu doutorado. Daí ele foi para casa, ele encontrou um
baú, ele abriu o baú e encontrou ouro e saiu pulando de alegria.
Mariana Lautenschlager Spoladore
(minha filha)
Agradecimentos
Escrever o item Agradecimentos é sempre uma experiência um tanto que
traumática. Por vezes, não citamos pessoas que de maneira alguma poderiam
ser esquecidas. Ao mesmo tempo, ao lembrarmos de tudo o que se passou ao
longo do transcorrer do trabalho, as emoções afloram e muitas vezes os
sentimentos falam mais alto do que a razão. De qualquer forma, agradeço às
seguintes pessoas:
Inicialmente, agradeço a todos aqueles que, de alguma forma, me
ajudaram quando necessário.
Agradeço aos meus estagiários e amigos Leila, Sergio, Elsoni,
Ferdinando, Alex, André, Vera, Márcia, Gesualdo, Júlio, Aline, Max,
Layde, Gui, Marcilena, Leslie, Lika, Rosaly, Margarida, Adriana, Veridiana,
Emerson, Guilherme, Fred, Alê e Jú que em muito auxiliaram no
transcorrer dos trabalhos e com quem compartilhei bons momentos dos
quais renderam histórias que irão ficar para sempre em nossas
memórias. Todas essas pessoas foram realmente fundamentais em
diferentes momentos durante o desenvolvimento do trabalho.
Agradeço ao pessoal da Pró-Reitoria de Extensão da UEL (antiga CEC), o
Gilberto, Cristiane, Alexsandra, Anderson, Diva, Marina, Gilmara, Mara,
Deyse, Rosana, Ivanir, Wanderson, Cida, Marilena, Marlene, Everton,
Rose, Tina, Carlinhos, Walaci e também ao Prof. Osvaldo Calzavara que
foi fundamental para que o trabalho tivesse início. Amigos e
companheiros de trabalho que muito me ensinaram nestes últimos três
anos.
Agradeço à Companhia Valor Florestal na pessoa de Sabine Lanzer, pelo
apóio dado para o desenvolvimento dos trabalhos.
Um agradecimento especial ao Fabiano Furlan pela elaboração dos
mapas e a Queila, Cristiane, Veridiana e Márcia, pela correção do texto
final.
Gostaria de agradecer de maneira muito especial ao Gilberto, ao Prof.
Jaime, à Professora Rosely Lima e aos amigos do Departamento de
Geociências da Universidade Estadual de Londrina (UEL) pela
compreensão e apoio fundamental quando da redação final do trabalho.
Agradeço ao meu amigo e orientador, o Lua (Prof. Dr. Cottas), pela
orientação, confiança e pelas horas de boa música.
À minhas irmãs de quem a vida nos afastou ainda mais. Saibam que eu
as guardo com carinho em meu coração.
Agradeço de maneira muito especial ao meu pai (Dr. Hércule) e a minha
mãe (Dona Zezé) pela força, incentivo e dedicação a mim devotada ao
longo de toda a minha vida. Eles sempre estiveram comigo.
Por fim, agradeço enormemente à minha esposa, Queila, e às minhas
filhas, Mariana e Gabriela, sem as quais nada disso faria sentido. Peço
desculpas a vocês três pelas horas sacrificadas, pelo mau-humor, pela
irritação, pelo tempo perdido, pela falta de amizade e por tudo mais que
esse trabalho tenha alterado nossas vidas. Prometo para vocês que
doutorado não faço nunca mais.
A todas essas pessoas e a outras não citadas, mas que também
contribuíram para a elaboração do trabalho, o meu sincero muito obrigado.
SUMÁRIO
ÍNDICE i
ÍNDICE DE TABELAS v
ÍNDICE DE FIGURAS v
ÍNDICE DE FOTOGRAFIAS vii
ÍNDICE DE PAINÉIS xi
RESUMO xii
ABSTRACT xii
1. INTRODUÇÃO 01
2. OBJETIVOS 03
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: A GEOESPELEOLOGIA,
A GEOLOGIA E O TURISMO 04
4. PROPOSTA DE SEQÜÊNCIA METODOLÓGICA DE ESTUDOS
GEOLÓGICOS E GEOESPELEOLÓGICOS APLICADOS AO
DESENVOLVIMENTO DO TURÍSMO 74
5. A POTENCIALIDADE TURÍSTICA DE SÃO JERÔNIMO DA SERRA 104
6. AS CAVERNAS ARENÍTICAS DE SÃO JERÔNIMO DA SERRA 207
7. A METODOLOGIA PROPOSTA APLICADA A EM SÃO
JERÔNIMO DA SERRA. 270
8. CONSIDERAÇÔES FINAS 284
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 287
i
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO ........................................................................
01
2. OBJETIVOS ............................................................................
03
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: A ESPELEOLOGIA
O TURISMO .................................................................................
04
3.1. ESPELEOLOGIA ..............................................................................
04
3.1.1 Conceituação ............................................................................
04
3.1.2. A Espeleogênese e os Diferentes Tipos de Cavernas .........
12
3.2. TURISMO ..........................................................................................
32
3.2.1. Uma Breve Discussão Sobre o Turismo ..............................
32
3.2.2. Ecoturismo ..............................................................................
36
3.2.3. Espeleoturismo ......................................................................
37
3.2.3.1. Capacidade de Suporte
..............................................
53
3.2.3.2. Condições para a Implantação de Atividades
Turísticas em Cavernas.............................................
62
3.2.3.3. Impactos Decorrentes do Não Planejamento do
Espeleoturismo .........................................................
66
4. PROPOSTA DE SEQÜÊNCIA METODOLÓGICA DE
ESTUDOS GEOLÓGICOS E GEOESPELEOLÓGICOS
APLICADOS AO DESENVOLVIMENTO DO
ESPELEOTURISMO ....................................................................
74
4.1. SEQÜÊNCIA METODOLÓGICA PARA A ELABORAÇÃO DE
BANCO DE DADOS SOBRE A ÁREA DE ESTUDO ...................................
75
4.2. SEQÜÊNCIA METODOLÓGICA PARA O ESTUDO DE
VIABILIDADE DE IMPLANTAÇÃODE ATIVIDADES TURÍSTICAS EM
CAVERNAS ...................................................................................................
85
4.2.1. Localização da Entrada da Caverna .....................................
85
4.2.2. Demarcação da Trilha de Acesso à Caverna ......................
85
ii
4.2.3. Mapeamento da Cavidade Natural ........................................
86
4.3. CRITÉRIOS PARA A UTILZIAÇÃO DE CAVERNAS PARA A
IMPLANTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES TURÍSTICAS
........................................................................................................................
89
4.3.1. Caverna Objeto de Pesquisas Científicas Especiais .........
91
4.3.2. A Caverna Localizada em Área de Preservação .................
91
4.3.3. Riscos à Saúde e a Vida Humana ........................................
91
4.3.4. Facilidade de Acessos Externos .........................................
92
4.3.5. Facilidade de Acessos Internos ...........................................
92
4.3.6. Fatores Estéticos do Interior e Exterior da Caverna ..........
92
4.3.7. Riqueza, Diversidade e Fragilidade da Ornamentação da
Caverna .........................................................................................................
93
4.3.8. Riqueza, Diversidade e Fragilidade da Fauna da Caverna.
93
4.3.9. Estado de Impacto Ambiental no Interior da Caverna e
em seu Entorno ............................................................................................
93
4.3.10. Capacidade Interna ..............................................................
94
4.3.11. Fatores Históricos-Culturais e Arqueológicos .................
94
4.3.12. Ordenação dos Critérios ....................................................
95
4.4. IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS DE RISCO NO INTERIOR DE
CAVERNAS ...................................................................................................
96
4.4.1. Determinação de Áreas Sujeitas a Enchentes e
Inundações ..................................................................................................
97
4.4.2. Áreas Sujeitas à Queda de Blocos .......................................
98
4.4.3. Determinação das Áreas de Risco no Entorno da a
Caverna ........................................................................................................
100
4.4.3.1. Caracterização Geomorfológica e das
Declividades nos Locais .............................................................................
101
4.4.3.2. Caracterização Pedológica ......................................
102
4.4.3.3. Uso e Ocupação do Solo .........................................
102
4.4.3.4. Caracterização Geológica Estrutural .....................
102
5. A POTENCIALIDADE TURÍSTICA DE SÃO JERÔNIMO DA
SERRA .........................................................................................
104
5.1. LOCALIZAÇÃO E ACESSOS .......................................................
104
5.2. ASPECTOS HISTÓRICOS DO MUNICÍPIO .................................
105
5.3. ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICO ...............................................
108
iii
5.3.1. Generalidades .........................................................................
108
5.3.2. A Área Urbana ........................................................................
110
5.3.3. Os Distritos .............................................................................
118
5.3.4. Uso e Ocupação do Solo .......................................................
120
5.4. MEIO BIÓTICO ..............................................................................
123
5.4.1. Flora .........................................................................................
123
5.4.2. Fauna .......................................................................................
123
5.5. O MEIO FÍSICO .............................................................................
124
5.5.1. Clima ........................................................................................
124
5.5.2. Geomorfologia ........................................................................
129
5.5.3. Solos ........................................................................................
139
5.5.4. Aspectos Geológicos .............................................................
142
5.5.4.1. Geologia Regional .....................................................
142
5.5.4.2. Geologia da Área de Estudo .....................................
150
5.5.5. Hidrografia ...............................................................................
176
5.6. OS ATRATIVOS NATURAIS ........................................................
180
5.6.1. O Vale do Tigre .......................................................................
180
5.6.2. Cavidades Naturais ................................................................
185
5.6.3. Quedas D’Água, Saltos e Cachoeiras ...................................
189
5.6.4. Mirantes Naturais ....................................................................
195
5.6.5. O Vale do Rio Tibagi ...............................................................
198
5.7. ÁREAS DE RISCO GEOLÓGICO E AMBIENTAL EM SÃO
JERÔNIMO DA SERRA ................................................................
199
6.CAVERNAS ARENÍTICAS DE SÃO JERÔNIMO DA SERRA..
207
6.1. DESCRIÇÃO DAS CAVERNAS .....................................................
207
6.2. OS ORNAMENTOS .........................................................................
230
6.2.1. Considerações Gerais ...........................................................
230
6.2.2. Gênese dos Ornamentos ......................................................
231
6.2.3. Ornamentos Identificados nas Cavernas Visitadas ...........
234
6.3. FAUNA ............................................................................................
243
6.4. REGISTROS ARQUEOLÓGICOS ..................................................
247
6.5.CONDIÇÕES AMBIENTAIS DAS CAVERNAS ESTUDADAS ........
251
6.6. GÊNESE E EVOLUÇÃO ................................................................
256
iv
7. A METODOLOGIA PROPOSTA APLICADA EM SÃO
JERÔNIMO DA SERRA ...............................................................
270
7.1. CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA E DA DECLIVIDADE
NO ENTORNO DA GRUTA ARCO VERDE ..................................................
272
7.2. CARACTERIZAÇÃO PEDOLÓGICA ...............................................
274
7.3. USO E OCUPAÇÃO DO SOLO .......................................................
276
7.4. CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA ESTRUTURAL .......................
277
7.5. DETERMINAÇÃO DA PROBABILIDADE DE ABATIMENTO DE
BLOCOS NO INTERIOR DE UMA CAVERNA – O CASO DA GRUTA
ARCO VERDE ...................................................................
281
8. CONSIDERAÇÔES FINAS ......................................................
284
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................
287
v
ÍNDICE DAS TABELAS
Tabela 01 – Solubilidade da Sílica em Função da Temperatura 19
Tabela 02 - As Dez Maiores Cavernas de Arenito 21
Tabela 03 – Cavernas Brasileiras Usadas para o Turismo 48
Tabela 04 – Cavernas Brasileiras Adaptadas para o Turismo 49
Tabela 05 – Critérios para a Implantação de Turismo em Cavernas 65
Tabela 06 – Impactos Negativos Decorrentes do Turismo em Cavernas 73
Tabela 07 – Litoestratigrafia da Bacia Sedimentar do Paraná 144
Tabela 08 – Direções Principais de Desenvolvimento das Cavidades
Existentes na Área de Estudo 175
Tabela 09 Sítios Arqueológicos Encontrados 247
Tabela 10 – Tradições de Arte Rupestre no Brasil 249
Tabela 11 – Valores de Potássio e Sódio na Área de Estudo 260
Tabela 12 – Seleção de Cavernas para o Desenvolvimento de
Atividades Turísticas 282
vi
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 01 – Solubilidade da sílica e temperatura 17
Figura 02 – Solubilidade de sílica em função do pH 18
Figura 03 – Solubilidade do quartzo em função da temperatura 18
Figura 04 – Localização da área de estudo 106
Figura 05 – Representação do aldeamento em 1863 106
Figura 06 São Jerônimo 108
Figura 07 – Arruamento da área urbana de São Jerônimo da Serra 110
Figura 08 – Uso e ocupação do solo na área de estudo 122
Figura 09 – Classificação climática no Estado do Paraná 124
Figura 10 Regiões naturais do Paraná 129
Figura 11 – Mapa de declividades da área de estudo 134
Figura 12 – Mapa hipsométrico da área de estudo 135
Figura 13 – Modelo de sobrelevação digital da área de estudo 136
Figura 14 – Modelo de sobre-elevação digital da área de estudo 136
Figura 15 – Mapa dos solos da região estudada 141
Figura 16 – Mapa Geológico do Estado do Paraná 143
Figura 17 – Mapa Geológico simplificado da área de estudo 153
Figura 18 – Mapa Geológico da área de estudo 154
Figura 19 – Diagrama de orientação de elementos de relevo 165
Figura 20 – Mapa Geológico Estrutural da área de estudo 168
Figura 21 – Rede hidrográfica do Paraná e Bacia do Rio Tibagi 177
Figura 22 – Rede de drenagem da área de estudo 179
Figura 23 – Atrativos naturais de São Jerônimo da Serra 183
Figura 24 – Áreas de riscos geológicos e ambientais 203
Figura 25 – Representação cartográfica da Gruta Arco Vede 207
vii
Figura 26 – Representação cartográfica do Toca do Porto de Areia 211
Figura 27 – Representação cartográfica da Gruta do Tigre 214
Figura 28 – Representação cartográfica do Abrigo Água da Pedra 216
Figura 29 – Representação cartográfica da Gruta do Cedro I 219
Figura 30 – Representação cartográfica da Gruta do Cedro II 221
Figura 31 – Representação cartográfica da Gruta do Cedro III 224
Figura 32 – Representação cartográfica da Gruta do Capim 225
Figura 33 – Representação cartográfica da Gruta do Bira 229
Figura 34 – Pontos de coleta de amostras no Vale do Tigre 259
Figura 35 – Distribuição das concentrações de potássio no Vale Tigre 259
Figura 36 – Distribuição das concentrações de sódio no Vale do Tigre 261
Figura 37 – Distribuição das concentrações de potássio no Paraná 262
Figura 38 – Distribuição das concentrações de sódio no Paraná 263
Figura 39 – Mapa hipsométrico do entorno da Gruta Arco Verde 273
Figura 40 – Mapa da inclinação do terreno no entorno da Gruta Arco Verde 274
Figura 40 - Mapa de formas do relevo no entorno da Gruta Arco Verde 276
Figura 41 – Mapa dos solos nos arredores da Gruta Arco Verde 275
Figura 42 – Uso e ocupação nos arredores da Gruta Arco Verde 277
Figura 43 – Mapa geológico do entorno da Gruta Arco Verde 279
Figura 44 – Diagramas estruturais de atitudes de fraturas na Gruta Arco Verde 280
Figura 45 – Principais fraturas existentes no interior da Caverna Arco Vede 280
Figura 46 – Subdivisão da Caverna Arco Verde 282
viii
ÍNDICE DE FOTOGRAFIAS
Fotografia 01 – Visão geral de São Jerônimo da Serra 112
Fotografia 02 Indústria de madeira em São Jerônimo da Serra 112
Fotografia 03 – Cerâmica localizada em São Jerônimo da Serra 112
Fotografia 04 – Visão parcial da parte alta da cidade 112
Fotografia 05 – Vista da porção central da cidade 113
Fotografia 06 – Porção oeste da área urbana 113
Fotografia 07 – Vista da porção oeste de São Jerônimo da Serra 115
Fotografia 08 – Afloramento rochoso na área urbana 115
Fotografia 09 – Mineração de areia de barranco 116
Fotografia 10 – Antigo depósito de resíduos sólidos 117
Fotografia 11 – Atual depósito de resíduos urbanos 117
Fotografia 12 – Prensa usada para elaboração de fardos de papel 118
Fotografia 13 – Material proveniente da coleta seletiva 118
Fotografia 14 Distrito de Terra Nova 120
Fotografia 15 –Distrito de Terra Nova 120
Fotografia 16 Distrito de Pinhal 120
Fotografia 17 Distrito de Pinhal 120
Fotografia 18 – O Vale do Rio Tigre 181
Fotografia 19 O Salto do Tigre 190
Fotografia 20 O Salto do Bira 190
Fotografia 21 Cachoeira de Caratuva 191
Fotografia 22 – O Salto do Padre 191
Fotografia 23 Salto da Lagoinha 192
Fotografia 24 Salto do Assentamento 192
Fotografia 25 Salto Água do Capim 193
ix
Fotografia 26 Cachoeira do Tamanduá 194
Fotografia 27 Queda do Tamanduá 194
Fotografia 28 – Mirante do Vale do Tamanduá 195
Fotografia 29 – Mirante do Vale do Rio Tibagi 195
Fotografia 30 – Mirante do Vale do Rio Tigre 196
Fotografia 31 – Mirante da entrada da cidade 196
Fotografia 32 Mirante do Tigre 196
Fotografia 33 – Outra vista do Mirante do Tigre 197
Fotografia 34 – Mirante do Salto do Tigre 197
Fotografia 35 Mirante do Assentamento 197
Fotografia 36 Mirante Água da Pedra 198
Fotografia 37 O Rio Tibagi 198
Fotografia 38 O Vale do Tibagi 198
Fotografia 39 – Gruta Arco Verde – entrada principal 209
Fotografia 40 – Gruta Arco Verde – interior 209
Fotografia 41 – Gruta Arco Verde – entrada secundária 209
Fotografia 42 – Gruta Arco Verde – interior 209
Fotografia 43 – Abrigo do Porto de Areia – visão parcial 212
Fotografia 44 – Abrigo do Porto de Areia – visão parcial 212
Fotografia 45 Gruta do Tigre 214
Fotografia 46 Toca Água da Pedra 217
Fotografia 47 – Visão geral da Toca Água da Pedra 217
Fotografia 48 – Gruta do Cedro I – entrada do segundo salão 219
Fotografia 49 – Gruta do Cedro I – visão geral 220
Fotografia 50 – Gruta do Cedro I – vista do salão principal 220
Fotografia 51 – Gruta do Cedro II – visão parcial 222
Fotografia 52 – Gruta do Cedro II – interior 222
x
Fotografia 53 – Interior da Gruta do Cedro III 223
Fotografia 54 – Entrada da Gruta do Cedro III 223
Fotografia 55 – Gruta do Capim – visão geral 227
Fotografia 56 – Entrada principal da Gruta do Bira 228
Fotografia 57 – Entrada secundária da Gruta do Bira 228
Fotografia 58 – Fraturamento controlando a entrada da Gruta do Bira 229
Fotografia 59 – Visão da cachoeira existente ao lado da Gruta do Bira 229
Fotografia 60 – Cavidade de dissolução em caverna de arenito 265
Fotografia 61 – Cavidade de dissolução ativa em caverna de arenito 265
Fotografia 62 – Cavidade de dissolução controlada por fraturamento 266
Fotografia 63 Cúpula de dissolução 266
Fotografia 64 – Segundo estágio de desenvolvimento de caverna arenítica 267
Fotografia 65 – Segundo estágio de desenvolvimento de caverna de arenítica 267
Fotografia 66 – Blocos abatidos no interior de caverna 269
Fotografia 67 – Depósitos de material proveniente do meio externo 269
xi
ÍNDICE DOS PAINÉIS
Painel 01 – Fatores climáticos de São Jerônimo da Serra 128
Painel 02 – Rochas aflorantes na área de estudo 162
Painel 03 – Minerais identificados na área de estudo 163
Painel 04 – Elementos estruturais impressos em rochas da área de estudo 173
Painel 05 – Diagramas de contorno de pólos e direções de planos de fraturas
impressas nas rochas existentes no interior das cavernas 175
Painel 06 – Espeleotemas identificados nas cavernas estudadas 240
Painel 07 – Espeleotemas identificados nas cavernas estudadas 241
Painel 08 – Espeleotemas identificados nas cavernas estudadas 242
Painel 09 Fauna cavernícola 246
Painel 10 Registros arqueológicos 250
Painel 11 – Impactos ambientais observados nas cavernas estudadas 255
xii
RESUMO
A Geologia e a Geo-Espeleologia, através de suas técnicas consagradas, podem ser
importantes aliados para o planejamento de atividades turísticas em ambientes
naturais. Com tal visão, foi desenvolvido este trabalho tendo como proposta principal
a apresentação de uma metodologia para se estudar áreas com potencial para a
implantação de atividades referentes ao turismo em áreas naturais e em especial,
para o espeleoturismo. Como local para o desenvolvimento desta pesquisa elegeu-se
o município de São Jerônimo da Serra, Paraná. Tal localidade foi selecionada devido
ao seu bom potencial para o turismo natural, uma vez que em São Jerônimo da
Serra aparecem diversas quedas d’água, cavernas, mirantes naturais e outros locais
considerados como atrativos naturais.
ABSTRACT
The Geology and the Geo-Speleology, through their consecrated techniques, can be
important allies for the planning of tourist activities in natural places. With such
vision, this work was developed tends as main proposal the development of a
methodology to study areas with potential for the implantation of activities regarding
the natural tourism and, especially, for the speleoturism. As place for the
development of this research it was chosen the municipal district of São Jerônimo da
Serra, Paraná State. Such place was selected due for the good potential for the
natural tourism, once in São Jerônimo da Serra are located several waterfalls, caves,
natural observatories and other places that considered as natural attractions.
Palavras chave: Geo-Espeleologia, Carste em Arenito, Espeleoturismo, Geologia de
Engenharia.
KEY WORDS: Geo-Speleology, Sandstone kasrt, Speleoturism, Engineering Geology.
1
1. INTRODUÇÃO
O “turismo na paisagem natural” ou “turismo natural” é uma modalidade de
turismo ainda nascente no Brasil. A busca de uma melhor integração com a natureza,
o abandono dos divertimentos dos grandes centros urbanos e o desejo de liberdade
e aventura incentiva às pessoas a procurarem algo diferente, que satisfaça seus
desejos, e as ajude a se livrar do
stress
do meio urbano.
O Brasil ainda não difundiu o suficiente esta atividade, pois diante do rico
potencial que possui, esta modalidade turística não é suficientemente incentivada, ao
contrário do que acontece em alguns outros países. Mesmo assim, tem sido grande a
procura das pessoas por esta atividade, e o turismo na paisagem natural cresce como
uma das faixas de mercado que mais se desenvolveram nos últimos anos.
Com a preocupação de gerar uma contribuição em prol do turismo natural foi
idealizado este trabalho. Procurou-se aqui, com estudos espeleológicos bem como
dos aspectos geológicos do planejamento, apresentar uma sistemática de
investigações prévias em áreas de atrativos naturais tendo em vista o melhor
aproveitamento destas para o turismo.
Foi escolhida uma região no Município de São Jerônimo da Serra – PR para a
aplicação dos estudos aqui propostos tendo em vista que a área possui grande
potencial a ser aproveitado para a prática do turismo natural.
Há na região diversas cavidades naturais desenvolvidas em paredões de rocha
arenítica, uma das rochas predominantes nesta área. Em alguns casos apresentam
ornamentos diversos. Essas cavernas são caracterizadas não somente pela sua
beleza singular, mas também pelo ambiente que as circundam. Geralmente estão
localizadas próximas a rios, córregos e quedas d’água e escondidas em meio à
vegetação nativa.
2
Os rios formam diversas cachoeiras, corredeiras e saltos, que em conjunto
com a vegetação e o relevo da área, resultam sempre em belas paisagens. Este
potencial pode ser aproveitado para simples lazer, para a contemplação, como
também para a prática de esportes diversos.
Tal situação também se repete em outros municípios paranaenses tais como
Ventania, Sapopema, Sengés, dentre outros, evidenciando assim o bom potencial de
toda uma região para o desenvolvimento das atividades aqui discutidas
Os resultados levam a conclusão de que nem todos os locais identificados são
propícios para a implantação e desenvolvimento de atividades turísticas.
Nem sempre o turismo na paisagem natural se integra à natureza, pois
ecossistemas são invariavelmente afetados podem ser afetados, gerando danos ao
meio ambiente.
Se o objetivo é ter a natureza para a contemplação e o lazer, é obvio que a
paisagem deva ser preservada. Aqui, todo o cuidado com o meio ambiente é pouco.
Embora São Jerônimo da Serra possua uma área bastante privilegiada em
atrativos naturais, e a exploração do turismo na paisagem natural possa vir a ser
uma importante atividade como fonte de renda para o desenvolvimento econômico
do município, é importante levar em consideração todos estes aspectos, para que
essa atividade seja desenvolvida de maneira correta e consciente.
3
2. OBJETIVOS
Os principais objetivos deste trabalho são:
Definição de uma metodologia, utilizando técnicas e conceitos da
Geologia e da Espeleologia, visando o planejamento e a implantação de
atividades turísticas;
Realizar o inventário das cavernas e outros atrativos naturais
localizados em São Jerônimo da Serra, PR;
Avaliar a potencialidade de região de São Jerônimo da Serra, PR, para a
implantação de atividades turísticas, segundo a metodologia proposta.
4
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: A ESPELEOLOGIA E O TURISMO
3.1. ESPELEOLOGIA
3.1.1. Conceituação
A Espeleologia, do grego
spelaion
significando caverna e
logos
que significa
conhecimento, é definida como sendo a ciência que estuda as cavidades naturais
desenvolvidas nas rochas, bem como sua gênese e evolução. A Espeleologia também
se preocupa com o meio no qual a cavidade se desenvolveu, suas comunidades
biológicas atuais e passadas, bem como as técnicas adequadas às investigações no
meio subterrâneo.
Para Marra (2001), a Espeleologia é a ciência cuja finalidade é “explorar,
observar e interpretar as cavernas, tendo como critério de análise o conhecimento de
seu processo de formação, o meio que se insere e o ambiente propriamente dito”.
A Espeleologia objetiva ainda o uso sustentável do ambiente subterrâneo
mediante a utilização de mecanismos que efetivamente contribuam para a
conservação das cavidades naturais.
Lino (1989) cita outras definições de Espeleologia. Assim, segundo o referido
autor, a Espeleologia pode ser definida como sendo a “disciplina consagrada ao
estudo das cavernas, sua gênese e evolução, do meio físico que elas representam, de
seu povoamento biológico atual ou passado, bem como dos meios ou técnicas que
são próprias de seu estudo”. O mesmo autor ressalta que esta definição tem
encontrado grande aceitação pela comunidade científica internacional, posto que é
uma definição abrangente e sintética.
Field (2002) cita que a definição mais básica e abrangente de caverna é “uma
cavidade natural desenvolvida na rocha, grande o suficiente para que um homem
entre”. Esta definição elimina as cavidades artificiais (cavidades feitas pelo homem),
5
tais como túneis e minas. Cita ainda a existência de muitos relatos de explorações de
antigas minas onde diversos espeleotemas se desenvolvem e é formado um sistema
similar ao de uma caverna natural. O referido autor considera completamente
arbitrária a questão do tamanho, sendo que essa definição pode excluir uma série de
condutos aparentemente irrelevantes, mas de extrema importância para o sistema
hidrológico.
Ainda segundo Field (2002), a maioria das cavernas é formada pela dissolução
de rochas ricas em carbonatos; mas também são comuns as cavernas desenvolvidas
em arenitos, e existem ainda as cavernas glaciais (desenvolvidas em geleiras), as
cavernas de lava e as cavernas de origem tectônica.
As pessoas que estudam as cavernas em quaisquer de seus aspectos
científicos são denominadas de espeleólogos. Não existe um curso de terceiro grau
que forme o profissional espeleólogo, mesmo porque, a Espeleologia não é
considerada uma profissão regulamentada.
As definições básicas da Espeleologia, bem como as principais normas e
convenções utilizadas no Brasil foram definidas por SBE (1975) e são utilizadas até os
dias de hoje.
Segundo SBE (1975), caverna é um termo genérico que define qualquer
cavidade natural desenvolvida na rocha, independentemente de seu tamanho, da
existência ou não de curso d’água em seu interior, desnível, ornamentação ou da
incidência ou não de luz solar.
Todavia, conforme ressaltam Lino & Allievi (1981), não podemos pensar nas
cavernas como
“Simples túneis vazios e escuros escavados entre as rochas; fala-se
simultaneamente do espaço interior, de seu ambiente peculiar, sua flora e
fauna tão particular, das gigantescas e/ou delicadas ornamentações da rocha
que a envolve e de todo o ambiente que, não apenas a circunda, mas com ela
permanentemente interage”.
Por gruta entende-se toda cavidade natural desenvolvida na rocha, com
desenvolvimento mínimo de cinqüenta metros, predominantemente na horizontal,
6
seca ou não e que possua uma região permanentemente sem a incidência da luz
solar.
Se a cavidade possuir um desenvolvimento menor do que cinqüenta metros, a
mesma será denominada de toca.
O termo abismo se refere a uma caverna com desenvolvimento
predominantemente vertical com desníveis superiores a quinze metros. Caso o
desnível seja inferior, a cavidade é denominada de poço.
Furna é uma cavidade cujo desenvolvimento deu-se preferencialmente na
vertical.
Por desenvolvimento de uma caverna entende-se à soma de todos os
comprimentos de todos os seus condutos, medidos em planta topográfica.
Todavia, conforme ressaltam muito bem Martins (1984) e Martins (1985),
estas normas são voltadas para as cavidades desenvolvidas em rochas carbonáticas.
Quando a caverna se desenvolveu em rochas areníticas, estas convenções podem
resultar em uma dissipação dos dados, sendo este fato decorrente de fatores tais
como o pouco desenvolvimento das cavidades areníticas quando comparadas com
aquelas desenvolvidas em meio carbonático.
Assim, Martins (1984) considerando as cavernas não carbonáticas, propõe
uma redução para dez metros de desenvolvimento, para que a mesma seja
cadastrada.
SBE (1975) também definiu que cada cavidade receberá uma sigla pela qual
será conhecida. A primeira parte dessa sigla é referente à unidade da federação onde
a caverna está localizada. A segunda é composta parte por um número que se refere
à cronologia de seu cadastro.
Teixeira
et al.
(2000) citam que os sistemas cársticos originam algumas das
paisagens mais espetaculares da Terra, gerando cavernas,
cânions
, relevos
ruiniformes e paredões rochosos. Os mesmos autores enfatizam que as paisagens
geradas pelos sistemas cársticos normalmente constituem atrações turísticas além de
7
um cenário sem igual para aventureiros, fotógrafos e cientistas das mais diferentes
áreas.
Uma das razões apontadas pelos autores citados acima é que as cavernas,
juntamente com os topos das grandes montanhas e o fundo dos oceanos, reservam
áreas nunca antes percorridas pelo homem.
O interesse e a atração do homem pelas cavernas remonta aos tempos pré-
históricos quando as cavidades naturais nos serviram como abrigo conforme diversos
registros arqueológicos ao redor de todo o mundo.
De acordo com Teixeira
et al.
(2000), a palavra carste origina-se do termo
alemão
karst
que, por sua vez, é derivado da palavra
krasz,
que é denominação da
paisagem existente na região da antiga Iugoslávia (atualmente Croácia e Eslovênia)
onde são comuns as cavernas, os rios subterrâneos, sumidouros, paredões rochosos
dentre outros.
Todavia, Field (2002) afirma que
karst
é um termo alemão internacionalmente
utilizado, proveniente da palavra eslava
kras
ou
křs
lugar desértico sem água ou
simplesmente lugar sem água – em alusão à existência de rios subterrâneos e
sumidouros, existindo pouca água na superfície.
Segundo o mesmo autor,
karst
também é a denominação alemã para uma
área ao leste de Trieste, na Itália, onde o terreno é rico em rios subterrâneos e
sumidouros. Este tipo de relevo normalmente se desenvolve sobre rochas ricas em
carbonatos, cuja dissolução origina formas características como as cavernas,
sumidouros, dolinas, drenagens subterrâneas, dentre outros.
Fiedl (2002) ressalta que o termo
karst
deve ser utilizado especificamente para
relevos e feições hidrológicas desenvolvidas por dissolução de rochas geralmente
com composição carbonática (mármores e calcários), podendo ainda ocorrer em
outras variedades líticas.
Em textos escritos na língua portuguesa, é possível encontrar autores que
utilizam tanto o termo “carste“, quanto “karste”. Normalmente, os autores
8
consideram que o relevo cárstico está relacionado com a dissolução de rochas ricas
em carbonatos, admitindo como carste verdadeiro apenas aqueles desenvolvidos em
mármores diversos e calcários. Para uma grande parte dos pesquisadores da área,
especialmente aqueles provenientes da geografia e geomorfologia, o termo carste
não é aceito para outras rochas como, por exemplo, as rochas psamíticas. Nestes
casos, é comum a expressão “pseudo-carste”.
Tal discussão tem origem nas décadas de 70 e 80 quando foram grandes os
debates sobre a terminologia desses tipos de terreno.
Field (2002) cita que, para terrenos com feições morfológicas similares ao
carste, mas desenvolvidas em rochas não solúveis, deve-se utilizar o termo
pseudokarst
ou
karst-like
(em uma tradução livre, “parecidas com karste”). Segundo
o referido autor, os processos de formação destas feições podem ser vários, tais
como: colapso de minas, fluxo de lavas, processos erosivos, dentre outros. As
cavernas desenvolvidas pelo fluxo de lava, bem como as cavernas desenvolvidas em
arenitos devem ser tratadas como feições de pseudo-carste.
Urbani (1986) propõem ainda o termo paracarste, todavia, não obteve
aceitação na comunidade científica.
Por outro lado, autores como Schulz & White (1999), Teixeira
et al.
(2000)
Wray (1997) e Wray (1996) demonstram que o quartzo existente em rochas, tais
como arenitos, quartzito e em conglomerados podem sofrer a ação intempérica
sofrendo dissolução. Dessa forma, seria correto utilizar o termo carste para tais
rochas, posto que existe de fato a dissolução, embora que parcial, do quartzo
existente em tais rochas. Este assunto será abordado mais detalhadamente adiante.
Younger & Stunnel (1995), tomando por base a magnitude dos processos, a
dimensão do sistema e a forma predominante de erosão, propõem uma escala para a
classificar se o sistema é carste ou pseudocarste.
Segundo Teixeira
et al.
(2000), os sistemas cársticos são constituídos de três
componentes:
9
Sistemas de cavernas – formas subterrâneas acessíveis à exploração. Também
chamado de endocarste.
Relevo cárstico – formas morfológicas superficiais. Também chamado de
exocarste.
Aqüíferos de condutos – formas condutoras de águas subterrâneas.
Independente da rocha, para podermos afirmar que estamos em um sistema
cárstico, faz-se necessário à caracterização da existência de dissolução da rocha.
Assim, considerando que a dissolução é o fator principal para a caracterização
de relevos cársticos, o termo carste passou a ser o mais utilizado, independente da
rocha em questão (JENNINGS, 1983; URBANI, 1986; WRAY, 1997; DOERR, 1999;
dentre outros).
Uma rocha solúvel é aquela que, mediante a ação do processo intempérico de
origem química, produz pouco ou nenhum produto insolúvel (TEIXEIRA
et al.
, 2000).
Os mesmos autores citam que este processo é mais comum nas rochas ricas em
carbonatos, tais como: calcários, mármores e dolomitos. Tais cavernas são as mais
comuns, originando também amplos sistemas cársticos.
Por outro lado, as chamadas rochas evaporíticas, especialmente aquelas
constituídas por halita, também podem originar importantes cavidades devido à
dissolução. Todavia, apesar de tal mineral ser altamente susceptível à dissolução, a
condição para que sistemas cársticos se desenvolvam são mais restritas.
O clima e a disponibilidade de água são essenciais, posto que o carste envolve
dissolução e a água é o agente principal neste processo. Dessa forma, o carste é
mais desenvolvido em locais com clima úmido. Além da umidade, temperaturas mais
elevadas e a existência de densa vegetação também favorecem a dissolução da
rocha.
O relevo acidentado e os médios e elevados gradientes hidráulicos também
favorecem o desenvolvimento de sistemas cársticos. Assim, o fluxo da água de
percolação possui uma maior velocidade tanto em superfície quanto em sub-
10
superfície, possibilitando rápida remoção dos resíduos insolúveis e também a
dissolução da rocha (TEIXEIRA
et al.
, 2000).
Outros fatores podem facilitar ainda mais a dissolução. Planos de
descontinuidades, tais como: as fraturas, juntas, zonas de cisalhamento rúpteis e
dúcteis foliações e estratificações, podem favorecer a percolação da água,
aumentando assim a velocidade de dissolução e de remoção dos resíduos insolúveis.
O controle tectônico de cavernas pode ser facilmente observado quando é
comparado às direções estruturais regionais com o desenvolvimento das galerias e
salões das cavernas.
Várias formas de relevo podem ser associadas ao sistema cárstico. Conforme
citam Teixeira
et al.
(2000), talvez a principal delas seja o sistema de drenagem
centrípeta, que, à primeira vista, pode parecer caótico. Na realidade, trata-se de um
sistema de drenagem parcialmente superficial e parcialmente subterrâneo com
sumidouros e vales cegos.
Os vales cegos também constituem numa feição bastante característica das
áreas cársticas. Entende-se por vale cego, vales e rios que terminam repentinamente
em sumidouros. A drenagem parece não ter prosseguimento, não sendo possível
identificar a foz do rio. Teixeira
et al
. (2000) citam que os vales cegos mais
expressivos ocorrem quando as rochas ricas em carbonatos sofreram rebaixamento
em relação aos terrenos circunvizinhos, com a drenagem correndo em direção aos
carbonatos, ocorrendo uma série de sumidouros ao longo do contato litológico.
Segundo os autores acima citados, a permeabilidade secundária é diretamente
proporcional ao desenvolvimento do sistema cárstico, o que aumenta o número de
sumidouros e bacias centrípetas, acarretando no aumento do volume da água de
infiltração e a conseqüente diminuição do volume de água de escoamento superficial.
As dolinas, que são feições morfológicas extremamente comuns e
características de terrenos cársticos, ocorrem associadas ao desenvolvimento das
drenagens centrípetas. As dolinas podem ser definidas como depressões cônicas em
11
perfil e circulares em superfície, de tamanho extremamente variável, que se originam
por dissolução, subsidência ou colapso.
Os chamados vales cársticos são formados pelo abatimento de galerias e
salões de cavernas. Trata-se de depressões alongadas com vertentes normalmente
verticalizadas apresentando ou não curso d’água. O resultado final deste processo
pode ser muito parecido com um vale fluvial; todavia, conforme ressaltam Teixeira
et
al.
(2000), a diferença reside na origem, posto que o vale fluvial é resultado do
entalhamento da superfície pelas águas de escoamento, enquanto que o vale cárstico
é resultado do abatimento de cavernas.
As caneluras de dissolução ou
lapiás
normalmente ocorrem em rochas
aflorantes, sendo caracterizadas como uma série paralela de depressões alongadas
ou sulcos com dimensões (profundidade e comprimento) variáveis. Muitas vezes
representam direções estruturais impressas nas rochas, como por exemplo, famílias
de fraturas. Ocorrem normalmente, paralelos ao maior caimento do terreno,
marcando o lugar onde a água escoa sobre a rocha.
Os cones cársticos são elevações com dimensões variadas, vertentes abruptas
e verticalizadas constituídas por rocha. Trata-se, na realidade, de morros formados
por materiais mais resistentes à erosão e ao intemperismo, podendo ser classificados
como morros testemunhos. Podem guardar trechos de antigos sistemas de cavernas
em diferentes níveis, sendo típicos de áreas cársticas acidentadas e marcadas por
uma grande alternância litológica. Normalmente, ocorrem como divisores de água ao
redor de bacias centrípetas (TEIXEIRA
et al
., 2000).
12
3.1.2. A Espeleogênese e os Diferentes Tipos de Cavernas
A alta capacidade de dissolução dos carbonatos e dos evaporitos é bem
conhecida. Assim, é natural que as cavernas se desenvolvem mais facilmente em
litologias ricas em tais minerais.
Igualmente, é inegável o papel importante da água no desenvolvimento de
qualquer cavidade subterrânea. A importância da água está relacionada ao fato dela
ser um poderoso solvente, bem como pelo seu poder erosivo e de transporte,
servindo como meio de locomoção para as mais diferentes substâncias e partículas.
Da mesma maneira que a água dissolve e remove material do interior da caverna, ela
também pode depositar sedimentos.
Outro fator a ser lembrado é que, na realidade, vários processos atuam em
conjunto. Assim, mesmo ocorrendo predominantemente à dissolução, também tem
que ocorrer a remoção mecânica do material insolúvel.
Por outro lado, a predominância do transporte mecânico das partículas não
exclui a dissolução.
Martins (1985) cita que, em espeleologia, o termo erosão pode ser entendido
como sendo um conjunto de processos químicos e físicos que provocam a destruição
da rocha.
Para o referido autor, a espeleogênese em áreas tropicais, se compõe das
ações erosivas (destrutivas), ações de acumulação (formação de depósitos) e ações
mistas.
Por ação destrutiva compreende-se corrosão, desagregação e abrasão.
Os processos de dissolução química correspondem à corrosão. A
desagregação, que atua em rochas pouco coesas, consiste na separação de
fragmentos líticos da rocha encaixante mediante a ação da água.
Por abrasão entende-se a remoção e o transporte pela água dos fragmentos
desagregados da rocha encaixante. Este fenômeno ocorre logo após a desagregação.
13
Diferentes autores, tais como Martins (1985), Maire (1980) e Szczerban (1976),
destacam a importância da abrasão no desenvolvimento das cavernas, sendo que
este processo pode ganhar importância no caso das rochas areníticas.
Os processos de acumulação existentes no interior das cavernas são, na sua
maioria, depósitos de origem química, especialmente o concrecionamento, e
depósitos sedimentares.
Com relação aos processos mistos, estes são representados pelos
desabamentos (incasão ou o conhecido abatimento de blocos).
Por incasão compreende-se o desmoronamento de placas e blocos
condicionados por sistemas de fraturas, pela foliação ou ainda pela estratificação
existente nas rochas (MAIRE, 1980; MARTINS, 1985). Este processo pode ser
acelerado pela perda de sustentação do teto devido ao rebaixamento da água ou
pela drenagem da mesma.
Para as rochas carbonáticas, a dissolução é aceita como o principal processo
espeleogenético. Já para as litologias silicosas, o modelo aceito é o proposto por
Martini (1979) o qual envolve, em uma primeira etapa, a dissolução da sílica e em
uma segunda etapa a remoção mecânica da sílica especialmente através do processo
conhecido por
piping
.
Quanto à dissolução dos carbonatos, podemos assim resumir este processo: o
dióxido de carbono (CO
2
), proveniente de diversas fontes, tais como as queimadas, a
combustão de motores e de fatores naturais como o metabolismo dos seres vivos e
da decomposição da matéria orgânica, reage com a água originando o ácido
carbônico (H
2
CO
3
) - (01).
H
2
O + CO
2
= H
2
CO
3
(01)
Em um segundo momento, a água rica em ácido carbônico se infiltra pelas
juntas e diáclases das rochas carbonáticas originando o bicarbonato de cálcio
(Ca(HCO
3
)
2
) - reação química (02) - este sim solúvel e facilmente transportado pela
água.
14
H
2
CO
3
+ CaCO
3
= Ca (HCO
3
)
2
(02)
Com a formação do bicarbonato de cálcio as juntas vão se alargando
gradativamente, originando as cavernas.
As águas de chuva aciduladas pelo gás carbônico atmosférico e do solo,
quando se infiltram pela juntas e diáclases das rochas carbonáticas, dissolvem e
transporta, em solução, o bicarbonato de cálcio originado da reação. Quando esta
mistura emerge no teto de uma caverna, esta solução aquosa ficará dependurada até
atingir um determinado volume e peso que, aliado com a ação da gravidade, fará
com que a gota caia. Neste período em que a gota fica no teto da caverna, ocorre a
liberação do gás carbônico. Como conseqüência, dá-se a precipitação de parte do
bicarbonato de cálcio dissolvido. Dessa forma, cristalizam-se os primeiros cristais de
carbonato de cálcio que originarão diferentes espeleotemas ou ornamentos das
cavernas, tais como as estalactites.
Ao cair, a gota ainda carrega consigo bicarbonato de cálcio em solução, o qual
será depositado no piso originando outros espeleotemas como, por exemplo, a
estalagmite.
A precipitação do carbonato de cálcio pode ser expressa pela reação química
(03):
Ca(HCO
3
)
2
CaCO
3
+ H
2
O + CO
2
(03)
Todo este processo depende inteiramente da água e podemos afirmar que os
diferentes tipos de espeleotemas são, na realidade, rochas sedimentares de origem
química.
Os ornamentos originados pelo processo descrito anteriormente se formam
acima do nível da água. Os minerais são depositados quimicamente no teto, paredes
e chão da caverna, originando uma paisagem peculiar com formas diversas.
15
A classificação dos espeleotemas é feita segundo sua forma e o regime de
fluxo de água de infiltração é o fator que causará a grande variedade morfológica
(TEIXEIRA
et al.
, 2000).
Os ornamentos podem ser formados por diversas camadas de carbonatos e
ainda englobar sedimentos detríticos transportados pelas águas.
No interior de uma caverna podemos encontrar ainda depósitos sedimentares.
Todavia, a formação destes depósitos dá-se em um momento distinto dentro da
história do desenvolvimento da cavidade, muito bem relatado por Teixeira
et al.
(2000).
Ainda segundo os referidos autores, nos condutos existentes na chamada zona
de oscilação do nível da água, a caverna pode ampliar-se mediante a ação dos rios
subterrâneos, os quais entalham seus leitos aprofundando-os e alargando-os. Neste
momento, tem início o abatimento de blocos, que, por sua vez, origina os chamados
salões de desmoronamentos, cuja principal característica é o acúmulo de fragmentos
líticos com dimensões diversas.
Com a continuidade do processo e o posterior rebaixamento do nível da água,
a drenagem superficial pode ser capturada para o interior da caverna, o que provoca
o aporte de considerável volume de água. Estas águas podem estar carregadas de
sedimentos, os quais serão depositados na caverna. Estes depósitos terão
características fluviais e poderão ser preservados durante a evolução espeleológica e
geológica.
Se, de um lado, as solubilidades dos carbonatos e evaporitos são incontestes,
as rochas ricas em quartzo tais como arenito, quartzito e conglomerados, foram
consideradas, e ainda são por alguns autores, consideradas insolúveis. Diferentes
autores, tais como Martins (1985), Wray (1997), Wray, (1996), Pereira Filho & Cruz
(1994), Corrêa Neto & Corrêa (s.d), Veríssimo & Spoladore (1991), Spoladore (2002),
Spoladore (2003), dentre outros, têm trabalhado e considerado a dissolução da sílica
em condições ambientais como explicação da abertura e desenvolvimento de
cavidades nas rochas citadas acima.
16
Martins (1985) cita que a sílica existe na natureza sob diversas formas, a
saber: sílica amorfa, sílica gel, opala, calcedônia e quartzo.
A reação de solubilização da sílica é dada pela seguinte expressão (04)
(MARTINS, 1985):
SiO
2
+ 2H
2
O H
4
SiO
4
(04)
Todavia, Wray (1997) cita que a reação de dissolução da sílica em condições
de pH neutro pode ser expressa por (05):
2H
2
O + SiO
2
(quartzo) Si(OH)
0
4
(05)
Segundo Wray (1997) e Iller (1979), Si(OH)
0
4
seria a forma mais comum da
sílica dissolvida.
Alexander
et al.
(1954), Krauskopf (1965 e 1959), Siever (1962) e Martins
(1985) citam que a forma de sílica mais solúvel é a sílica amorfa, sendo que os
referidos autores apontam para uma solubilidade de 100 a 140 ppm à 25
o
C e pressão
ambiente em meio aquoso (Figura 1) e pH entre 2,0 a 9,0 (Figura 2). Para uma
temperatura de 100
o
C a solubilidade da sílica oscila entre 360 a 400 ppm com
pressão ambiente e qualquer pH (Figura 3).
Dessa forma, a solubilidade da sílica amorfa nestas condições é superior à
solubilidade dos carbonatos, inclusive a calcita.
Por outro lado, o quartzo é a forma da sílica que apresenta a menor
solubilidade. Krauskopf (1956) em laboratório determinou que o equilíbrio de
solubilidade do quartzo a 25
o
C é de 14 ppm. Sielver (1962) chegou a 11 ppm
enquanto Morey
et al.
(1962) chegaram a apenas 6 ppm. Todavia, esses mesmos
autores citam que, em determinadas condições, a solubilidade do quartzo pode
aumentar consideravelmente, chegando a 395 ppm (aquecendo-se uma mistura de
quartzo e água a uma temperatura de 25
o
C por um período de 370 dias).
17
Figura 1. – Solubilidade da sílica
amorfa de acordo com a variação da
temperatura. Fonte: Alexander et al.
(1975).
Segundo Okamoto
et al.
(1957) e Keller
et al.
(1963), a solubilidade das
diferentes formas da sílica depende da presença ou não de diferentes eletrólitos na
solução. Assim, a solubilidade da sílica pode diminuir proporcionalmente com o
aumento na solução de Al
+3
, Fe
+2
, Ca e Mg. Por outro lado, a solubilidade da sílica
pode aumentar consideravelmente com a presença de Na e K. Esta afirmação torna-
se interessante posto que, conforme iremos mostrar adiante, em análises químicas
realizadas em águas coletadas na região de São Jerônimo da Serra, observou-se à
existência de uma concentração elevada de Na e K.
Anderson (1972) afirma que a concentração de sílica nas águas naturais é
extremamente variável estando entre 5 e 25 ppm em rios e lagos e 5 a 60 nas águas
subterrâneas.
Para Szcerban (1974) a solubilidade de sílica está diretamente relacionada com
a temperatura (Tabela 1).
18
Figura 2 – Solubilidade de sílica em
função do pH. Fonte: Krauskopf (1959)
Figura 3 – Solubilidade do
quartzo em função da temperatura.
Fonte: Siever (1962)
19
Tabela 1. – Solubilidade da Sílica em Função da Temperatura (Szcerban, 1974).
SOLUBILIDADE EM ÁGUA DE VÁRIAS FORMAS DA SÍLICA EM
FUNÇÃO DA TEMPERATURA
Solubilidade (ppm.)
Formas da
Sílica
25ºC 100ºC 200ºC
Quartzo
6 49 268
Calcedônia
17 83 322
Cristobalita
27 125 465
Sílica Gel
115 360 930
Devido ao fato, sob condições especiais, da solubilidade da sílica ser igual ou
até mesmo superior à solubilidade dos carbonatos, que diferentes autores, tais como
Martins (1985), Bogli (1964), Szcerban (1974), Pereira Filho & Cruz (1994), Corrêa
Neto & Corrêa (s.d.), Wray (1997) e Wray (2003) afirmam que as áreas dominadas
por rochas ricas em sílica podem originar verdadeiras formas cársticas. Corrêa Neto &
Corrêa (s.d.) consideram que, para ocorrer à dissolução da sílica, as águas têm que
ser ricas em ácidos e citam que as estruturas das rochas (fraturas, falhamentos e
planos de descontinuidade em geral) são fundamentais para que a dissolução ocorra.
Corrêa Neto & Corrêa (s.d.) citam que, algumas vezes, as cavernas em
arenitos e quartzitos podem formar verdadeiros sistemas de circulação de águas
subterrâneas, sendo as leis que regem sua evolução e comportamentos similares que
às do carste em rochas ricas em carbonato.
Por fim, Corrêa Neto & Corrêa (s.d.) citam que não se deve tratar as cavidades
em arenitos da mesma forma que as desenvolvidas em quartzitos, posto que os
arenitos são rochas sedimentares e, portanto, com uma porosidade original mais
elevada que a porosidade dos quartzitos, o que facilitaria a percolação de água.
Consideram os referidos autores que a dissolução nos quartzitos deve ser muito
superior à dissolução que ocorre nos arenitos.
Lima (1987), analisando espeleotemas encontrados em grutas localizadas no
Parque Itacolomy, concluiu a existência da dissolução sistemática da sílica em águas
de baixo pH (aproximadamente 5,5). A opala normalmente encontrada no interior
das cavernas em arenitos e quartzitos é resultado da precipitação da sílica
anteriormente dissolvida.
20
Wray (1997) descreve várias formas de relevo cárstico desenvolvidas em
arenitos, tais como, torres cársticas, pináculos cársticos, cavernas, dolinas,
corredores de dissolução, labirintos, fendas, caneluras ou entalhes de dissolução,
bacias de dissolução e espeleotemas de sílica. Muitas dessas feições, conforme
iremos mostrar oportunamente, ocorrem nos locais estudados, especialmente em São
Jerônimo da Serra.
Mundialmente falando, são conhecidas muitas cavernas desenvolvidas em
arenitos e quartzitos. Na Formação Roraima (pré-cambriano da Venezuela), conhece-
se cavernas em quartzitos que podem chegar ao desenvolvimento de dois
quilômetros e meio. Segundo White
et al.
(1966), Szczerban (1974 e 1976) e Urbani
(1978), a gênese dessas cavernas está relacionada com a dissolução da sílica.
Na África do Sul, também são conhecidos cavidades em arenitos e quartzitos
com desenvolvimentos superiores a um quilômetro.
No Brasil, segundo Martins (1985), Veríssimo & Spoladore (1991) Corrêa Neto
& Corrêa (s.d.), Lima (1987), Spoladore (2002), Spoladore (2003), Silva (2004) e
ainda com o Cadastro Nacional de Cavernas da SBE (SBE, 2004), dentre outros, são
conhecidas cavidades em arenitos, quartzitos e rochas conglomeráticas em diferentes
locais, destacando a Formação Botucatu (SP e Pr), Grupo Bambuí (MG e Ba), Grupo
Itacolomy (MG) e na Formação Furnas (Pr e MTS).
Wernick (1966), Wernick
et al.
(1973), Martins (1985), Veríssimo & Spoladore
(1999) e Spoladore (2003) citam dissolução e precipitação de sílica no interior de
cavernas em arenitos da Formação Botucatu.
Paraguassu (1968, 1972 e 1973) afirma que a sílica existente nos arenitos
pertencentes à Formação Botucatu é facilmente mobilizada, originando fenômenos de
cimentação e concrecionamento.
As dez maiores cavernas em arenitos e quartzitos do mundo encontram-se
listadas na Tabela 2.
21
Todavia, a gênese e o desenvolvimento das cavidades em arenitos e quartzitos
não podem ser explicados somente pela dissolução da sílica, mas sim por uma
associação de dissolução e remoção mecânica. De uma maneira geral, podemos
explicar a origem destas cavidades pelo fenômeno de
pipping
, originalmente
proposto por Szcerban & Urbani (1974) e Martini (1979) e adotado posteriormente
por Martins (1985), Corrêa Neto & Correa (s.d.), Veríssimo & Spoladore (1991) e
Silva (2004) para as cavidades desenvolvidas em arenito e quartzitos.
Tabela 2 – As Dez Maiores Cavernas em Rochas Areníticas (Arenito e Quartzito) do Mundo
NOME DA CAVERNA LOCALIZAÇÃO DESENVOLVIMENTO
1
Gruta das Bromélias Brasil 2560 m
2
Sima Ayuantepuy Noroeste
Venezuela 2500 m
3
Sima Aonda Superior Venezuela 2128 m
4
Giant Bat Climber África do Sul 1635 m
5
Mogoto System África do Sul 1615 m
6
Sima de la Lluvia Venezuela 1352 m
7
Buraco das Andorinhas Brasil 1340 m
8
Sima Aonda Venezuela 1320 m
9
Sima Menor Venezuela 1179 m
10
Sima Aonda 2 Venezuela 1000 m
Fonte: Corrêa Neto & Corrêa (s.d.)
Em um primeiro momento, dá-se a dissolução do limite entre os grãos de
quartzo, favorecido pelas descontinuidades (falhas, juntas, diáclases e estruturas
sedimentares) existentes nas rochas. Esta dissolução inicial abre espaço para que em
um segundo momento ocorra à remoção mecânica dos grãos, abrindo, dessa forma,
um conduto primário, no qual a ação erosiva da água promove o gradativo
alargamento da caverna. Este alargamento geralmente é controlado pelos planos de
fraqueza existentes nas rochas.
Com relação ao arenito Botucatu, se considerarmos o processo descrito acima,
bem como camadas diferenciadas nele existentes, ou seja, camadas com diferentes
propriedades (por exemplo: friabilidade, coesão, porosidade dentre outros) e
22
diferentes granulometrias, aliadas ao fraturamento das rochas e a abundância de
água, podemos explicar a gênese e desenvolvimento destas cavidades.
Segundo Veríssimo & Spoladore (1991), a evolução das cavidades estaria
relacionada com processos neotectônicos, os quais causariam reativações de
estruturas antigas vinculadas com processos de ajustes, que causariam o abatimento
de blocos e, conseqüentemente, a evolução da caverna.
A gênese e evolução destas cavernas estão relacionadas ainda com
rebaixamento do lençol freático e alterações no relevo.
Corrêa Neto & Corrêa (s.d.) observam ainda que as cavernas desenvolvidas
em arenito e quartzito possuem normalmente suas bocas localizadas em diferentes
alturas de paredões rochosos íngremes (
cuestas
) e freqüentemente as cavidades se
desenvolvem no flanco maior de uma
cuesta
. A explicação de tal fenômeno está
relacionada com fatores climáticos, bem como com o rebaixamento do lençol
freático.
Martins (1985), estudando as grutas existentes na região de Altinópolis
(Formação Botucatu), afirma que em uma primeira fase, deu-se à dissolução de
porções da rocha arenítica no topo da zona saturada. Após a fase inicial, deu-se uma
nova etapa, quando a ação mecânica da água passou a predominar.
Outras vezes, as cavidades podem se originar pela ação mecânica pura e
simples de um rio ou das ondas do mar. Nestes casos, é comum a erosão diferencial,
quando as camadas mais friáveis e com menor coesão e, portanto, mais facilmente
removíveis, são erodidas, enquanto que outras mais resistentes sofrem menor efeito
erosivo. Este fenômeno pode ser intensificado pelo grau de fraturamento da rocha.
Soares (1989), estudando as furnas existentes no Estado do Paraná,
inicialmente discorre sobre a improbidade desse termo, afirmando que a
denominação correta é abismo. Posteriormente, o referido autor invoca toda a
terminologia cárstica para as feições morfológicas por ele estudadas nos arenitos da
Formação Furnas, caracterizando drenagens subterrâneas, dolinas de abatimento,
sumidouros,
sinkhole
, caneluras de dissolução e relevo ruiniforme.
23
O autor, para explicar a gênese e desenvolvimento das furnas paranaenses
afirma e existência da dissolução do quartzo. Postula três fases evolutivas, sendo a
primeira caracterizada pela infiltração de água ao longo das fraturas com a abertura
pela dissolução da sílica a uma certa profundidade de pequenas abóbadas de
dissolução.
A segunda fase é caracterizada pela atuação pronunciada dos processos
erosivos, ocorrendo rebaixamento da superfície topográfica, alargamento das fraturas
e origem de depressões nos locais de infiltração mais intensa de água. O nível
hidrostático sofre sensível elevação e as abóbadas de dissolução se desenvolvem
ainda mais, tornando-se expressivas.
Na terceira fase, a principal característica, segundo Soares (1989), é o
desabamento do teto das abóbadas de dissolução, expondo a furna à superfície.
Segundo Pereira Filho & Cruz (1994), o processo de carstificação em rochas
quartzíticas envolve a dissolução do quartzito pela água, concentração, precipitação
de substâncias dissolvidas originando diversos ornamentos e, em algumas condições,
até mesmo a recristalização. Podem ser formados ornamentos, tais como estalactites,
coralóides, microtravertinos e helictites (LIMA, 1987).
Silva (2004), estudando as cavernas desenvolvidas em quartzito na Serra de
Ibitipoca, MG, adota o termo carste, afirmando ainda que, para o desenvolvimento
de tais cavidades é necessário um conjunto favorável de condições geológicas,
climatológicas, geomorfológicas, hidrogeológicas e geoquímicas. O referido autor
reconhece ainda a importância das estruturas presentes nas rochas, em especial as
rúpteis.
Outros processos que podem originar cavernas são as erupções vulcânicas e o
desmoronamento e justaposição de blocos.
Em regiões vulcânicas, tais como o Hawai, é comum que, depois de erupções
vulcânicas, os caminhos percorridos pelo magma fiquem vazios originando cavernas.
Tal fenômeno ocorre, pois, o magma, em contato com a atmosfera se resfria e
consolida, enquanto que o magma que não entra em contato direto com a atmosfera
24
não se consolida de imediato. Assim, verdadeiros rios subterrâneos de lava podem
ser originados. Cessado o fluxo magmático, o ducto por onde passava o magma
ficará vazio, gerando assim, cavernas. Estas cavidades apresentam-se como grandes
túneis retilíneos com diâmetros diversos e pobremente ornamentados.
Cavidades também podem ser originadas mediante o abatimento e a
justaposição dos blocos abatidos. Tais blocos, quando abatem, deixam espaços
vazios que originam este tipo de caverna.
Geralmente, estas cavidades não são muito desenvolvidas. Todavia, nas
proximidades de Campinas, Estado de São Paulo, foi descoberta uma caverna com
mais de um quilômetro de desenvolvimento e formada apenas por blocos graníticos
abatidos e justapostos. Nesta cavidade, inclusive, foram identificados “bagres cegos”.
Apesar de que a dissolução da sílica é comprovada e aceita por diversos
autores, a pergunta persiste: é correto utilizar o termo carste para as formas
morfológicas desenvolvidas em rochas ricas em sílica? Se não, qual o termo mais
apropriado? Carste em arenito? Pseudo-carste?
As discussões ainda são muitas e, na maioria das vezes, apaixonadas. Alguns
autores consideram que o termo carste deva ser utilizado somente para áreas onde
existam rochas ricas em carbonato. Por outro lado, outros autores citam que deve
ser utilizado o termo carste também para terrenos areníticos, quartzíticos e até
graníticos.
Sweeting (1981), que afirma que as regiões da superfície da Terra que através
da dissolução das rochas e do carreamento do material insolúvel mediante a
circulação de água ao longo de fraturas, fissuras, juntas ou de outros planos de
descontinuidades existentes nas rochas, são denominadas de carste. Portanto, para
tal autor o termo carste deve ser aplicado quando as formas morfológicas se
originam e evoluem pela dissolução. Tais idéias são compartilhadas por Pereira Filho
& Cruz (1994).
Twindale (1984) cita que uma série de dificuldades é inerente à definição
exata de carste. Muitas definições de carstificação são restritas para determinadas
25
rochas e formas de relevo em terrenos litológicos ou morfológicos, mas, muitas
vezes, essas definições não são apropriadas (WRAY, 1996).
Ausência ou escassez de drenagens superficiais, feições de colapso, cavernas,
dolinas e espeleotemas, são feições distintivas, mas não estão restritas ao carste
tradicional (TWIDALE, 1984).
Wray (1996), citando Garms (1989), afirma que os únicos dois fenômenos
essenciais para o carste são: dissolução eficiente da rocha e drenagem cárstica.
Nos últimos anos, definições que não estão restritas a um tipo de rocha ou a
formas morfológicas superficiais ou a uma geomorfologia específica, têm sido
propostas.
Sweeting (1972) postula que são essenciais para o processo cárstico as
circulações da água subterrâneas, bem como o predomínio de atividade química
solubilizando a rocha. Para o referido autor, as verdadeiras formas cársticas são
resultantes da ação erosiva do processo conhecido como dissolução.
Grimes (1975) afirma que o carste verdadeiro pode ocorrer em outras
litologias além dos mármores e calcários, desde que a dissolução seja o processo
dominante.
Garms (1989) cita que os processos que controlam as formas do relevo podem
incluir processos não cársticos e não apenas a dissolução. Afirma ainda o referido
autor que a dissolução, no entanto, é o processo mais ativo de formação do relevo.
Para Ford (1980), as formas cársticas verdadeiras são diferentes das formas
pseudo-cársticas, pois as primeiras são formadas necessariamente pela dissolução da
rocha. As formas cársticas verdadeiras são escavadas apenas pela dissolução da
água.
Jennings (1983) também reconhece a importância da dissolução citando que
este processo é essencial, mas não necessariamente dominante no desenvolvimento
de drenagens e relevos. O mesmo autor cita que a dissolução não é o único processo
26
atuante em carste e, muitas vezes, nem ao menos é o processo dominante, mas a
dissolução, sem dúvida, é um processo muito importante em tais áreas.
Wray (1996) cita com muita propriedade que, na Europa, o estudo das áreas
ricas em calcários tiveram início há dois séculos atrás e que, infelizmente, o termo
carste foi definido originalmente para designar tais áreas, sendo que esta definição
permanece quase que inalterada até os dias atuais. O referido autor ressalta que em
rochas ricas em quartzo, tais como arenitos e quartzitos podem ser identificadas às
mesmas feições formadas pelo mesmo processo que nas rochas carbonáticas, mas
nestes casos, mesmo assim, utiliza-se o termo de pseudo-carste. Ressalta ainda que
este conceito deve ser revisto posto que cada vez mais trabalhos apontam para uma
solubilidade do quartzo como sendo o processo gerador de tais feições.
Wray (1996) reconhece, no entanto, o paradoxo de morfologias características
de rochas solúveis se desenvolveram em rochas, aparentemente, mais insolúveis.
Mesmo com nítido aumento das pesquisas e publicações sobre tal situação, poucas
pesquisas abordam de forma mais detalhada as formas de relevo.
Justamente por isso é que, para as litologias ricas em quartzo, tem-se que
provar muito mais do que a presença da ação do intemperismo químico por
dissolução para a formação do carste.
Segundo Aston (1983), a dissolução tem que contribuir significativamente e
tem que ser crítica, mas, não necessariamente dominante.
Uma variedade de processos intempéricos químicos e físicos está envolvidas
no desenvolvimento do carste em rochas ricas em carbonatos, o mesmo ocorrendo
para os arenitos e quartzitos.
Várias publicações citam exemplos de dissolução do quartzo, mas, conforme
salienta Wray (2003), provas inquestionáveis são raras.
Examinando rochas areníticas ao microscópio, é possível observar evidências
da dissolução do limite do grão de quartzo. Por exemplo, White
et al
. (1966)
mostram indícios petrográficos da dissolução de quartzo existente nos quartzitos da
27
Formação Roraima (Venezuela). Afirmam que as rochas foram hidratadas originando
a opala, cuja solubilidade é muito maior do que a do quartzo, que posteriormente era
removida. Wray (2003) cita que, examinando rochas da Formação Roraima no
Microscópio Eletrônico (SEM - Scanning Electron Microscope), observou um difundido
e intenso controle cristalográfico de ataques químicos ao quartzo, bem como o
crescimento secundário.
Por outro lado, Chalcraft & Pye (1984) são contrários às idéias de White
et al.
(1966). Chalcraft & Pye (1984) afirmam que, para a dissolução da sílica em arenitos
e quartzitos, não é necessário que haja a hidratação e a formação da opala. Os
referidos autores mostraram experimentalmente que a dissolução de grãos de
quartzo, bem como da sílica do cimento da rocha podem ocorrer diretamente sem
uma fase de hidratação. Eles também mostraram que a dissolução ocorre
principalmente ao longo de descontinuidades existentes nas rochas (juntas, fraturas,
planos de acamamento, foliação e contatos litológicos). Tal afirmação seria válida em
diferentes escalas.
Ghosh (1991) identificou em amostras coletadas em superfície do quartzito da
Formação Roraima uma porosidade bem desenvolvida formada pela dissolução do
cimento quartzoso, bem como do limite de grão. Todavia, amostras coletadas em
profundidade mostram grãos de quartzo bem unidos por um pervasivo sintaxial
cimento silicoso. Tal variação do intemperismo indica que a dissolução da sílica é um
processo superficial ou de porções bem próximas à superfície terrestre. Battiau-
Queney (1984) também chegou a conclusões semelhantes. Yong (1988) afirma que a
dissolução da sílica é maior em locais de alta energia, estando relacionada com a
porosidade primária da rocha.
Wilson (1979) apresentou um trabalho onde mostrava imagens, ao
microscópio eletrônico, de feições com formato em “V” as quais ele associou à
dissolução da sílica. Tal dissolução teria ocorrido sob a influência de fluídos com alto
pH que percolavam ao longo dos planos de fraturas e clivagem existentes na rocha.
Afirma ainda que tais formas originadas nas condições citadas foram reproduzidas
em laboratório.
28
Burley & Kantorowicz (1986), estudando feições de dissolução impressas nas
superfícies de grãos de quartzo de amostras de quartzitos coletadas em
profundidade, observaram a existência de uma tendência da corrosão se concentrar
nas superfícies com energia livre alta, tais como os grãos periféricos, ao longo de
fraturas e nos limites dos cristais. Dois mecanismos de corrosão do quartzo foram
propostas. O primeiro denominado de “dissolução controlada pelo transporte”, seria
influenciado pela taxa de transporte de fluídos para dentro e para fora da superfície
reativa. Este processo geraria dissolução rápida e generalizada típica de ataques
químicos por soluções concentradas. O segundo tipo, segundo Burley & Kantorowicz
(1986), seria a “dissolução controlada pela superfície de reação”, quando uma
determinada superfície cristalográfica é atacada originando feições como as
estudadas por Wilson (1979).
Young (1987) também mostrou a existência de dissolução de sílica em
arenitos da região úmida e com temperaturas elevadas situada nas proximidades de
Sidney (Austrália).
Wray (1995), estudando os mesmos arenitos australianos, também identificou
uma série de feições microscopias originadas pela dissolução da sílica. Cita que a
porosidade em rochas areníticas exerce papel fundamental. Arenitos com baixa
porosidade sofrem dissolução apenas nas regiões próximas à superfície, enquanto
que os arenitos com alta porosidade, normalmente, originam até mesma morfologia
cárstica.
Briceflo
et al
. (1990), em estudos geológicos e geomorfológicos realizados na
Formação Roraima, afirmam que as formas morfológicas do complexo cárstico se
desenvolveram primariamente devido ao intemperismo do quartzito mediante a
dissolução do cimento silicoso primário do arenito metamorfizado e com a
conseqüente liberação dos grãos de quartzo. Uma vez dissolvido o cimento, a rocha
se torna mais friável, facilitando a ação dos processos erosivos. Portanto, afirmam
tais autores que o desenvolvimento das formas cársticas no arenito Roraima está
associado tanto com a dissolução quanto com a remoção mecânica de fragmentos da
rocha.
29
Conclusão semelhante chegou Martini (1979) em estudos realizados na África
do Sul.
Wray (1997) concorda coma as idéias de Young (1986, 1987, 1988) e afirma
que encontrou feições cársticas em arenitos da Austrália. Segundo o autor, as feições
mais comuns são as pequenas cavernas, friabilidade elevada dos arenitos, caneluras
de dissolução, espeleotemas e até mesmo, torres cársticas.
Visto que diferentes autores ao redor do mundo concordam e comprovam a
dissolução da sílica e que tal processo pode dar origem a relevos cársticos, resta
perguntar como se daria o processo de dissolução da sílica no carste quartzoso.
Wray (1996, 1997) afirma que o equilíbrio de solubilidade da sílica, e, em
especial, o do quartzo é muito baixo. Em condições superficiais, a solubilidade da
sílica amorfa é de 100 – 140 mg/-1, e a solubilidade do quartzo é de 6 - 14mg/-1.
Todavia, Wray (1997) ressalta que a solubilidade não é o único fator
condicionante. A termodinâmica e a cinética das reações também são importantes
para a formação de carste em arenitos e quartzitos. Martini (1981) afirma que a taxa
de reação é tão importante quanto à solubilidade total. Segundo o autor, uma taxa
de reação alta limita a distância que a solução pode penetrar na rocha antes da
saturação, resultado no intemperismo das porções próximas à superfície, bem como
em feições cársticas superficiais.
Uma taxa de reação lenta permite a percolação de grandes quantidades de
água com o alargamento de juntas e fraturas sem o rebaixamento superficial,
possibilitando a carstificação em profundidade. Martini (1981) acredita que, se a taxa
de dissolução da sílica for baixa e contínua, o carste em arenito é mais comum do
que se imagina.
Wray (1996 e 1997) afirma que o total de sílica removida da rocha não
depende apenas da solubilidade e da cinética da reação. Depende também da
velocidade de movimentação da água através da rocha.
30
Para Douglas (1987), a quantidade de sílica nas águas dos rios depende
diretamente do volume de chuvas. Segundo o autor, a importância da velocidade de
movimentação da água já foi caracterizada para os terrenos ricos em carbonatos.
Todavia, é igualmente importante para os terrenos areníticos, onde a taxa de perda
de íons dos minerais silicáticos para a água é controlada pela velocidade que os íons
são transportados da superfície de reação do mineral. Tais idéias também são
compartilhadas por Rimstidt & Bames (1980).
Assim, segundo Wray (1997), aparentemente a taxa ou o volume de água em
movimento através de uma região é a chave do problema. Quanto mais água circular
pelo sistema, maior será a remoção da sílica. Onde existe um grande volume de água
a sílica se mantém mobilizada, sendo removida da área pela água. Onde a taxa de
movimentação da água é baixa, a sílica não é removida eficientemente, sendo
reincorporada durante a cristalização das argilas.
Todavia, Wray (1997) e Bremer (1978) afirmam que o constante aumento da
taxa de movimentação da água não implica no aumento proporcional da dissolução
da sílica. O fluxo de água vai acelerar a dissolução do mineral somente até uma
determinada taxa, quando a dissolução passa a ser controlada pela reatividade do
mineral.
Outro fator importante é que, tanto em laboratório quanto constatado na
Formação Roraima na Venezuela, são necessárias para a dissolução da sílica
condições altamente alcalinas.
Pouyllau & Seurin (1985) afirmam que a dissolução da sílica somente ocorreria
em condições hiper-ácidas. Todavia, estes autores, conforme ressalta Wray (1996),
forneceram provas parciais. Na prática, diferentes autores têm caracterizado soluções
levemente ou moderadamente ácidas.
Chalcraft & Pye (1984) examinando águas da região de Roraima (Venezuela)
obtiveram baixos níveis de sílica dissolvida (< 1 a 7 mg /-1). Outros autores, em
diferentes continentes, chegaram a resultados próximos mesmo em condições
climáticas completamente diferentes.Tal fato indica que a sílica é dissolvida somente
31
de forma bem lenta e que as formas morfológicas derivadas da dissolução da sílica se
formaram e têm evoluído ao longo de grandes períodos.
A dissolução lenta e prolongada normalmente é menosprezada, não lhe sendo
atribuída a real importância. Assim, considerando o fator tempo aliado à solubilidade
da sílica em suas diferentes formas, pode-se explicar perfeitamente o carste em
arenitos e quartzitos.
Concorda-se assim, depois de discutir e expor as mais diferentes idéias e
pesquisas sobre o carste e a dissolução da sílica em suas diferentes formas, com as
idéias de Wray (1996 e 1997) que considera que, sendo a formas desenvolvidas em
arenitos ricos em sílica e quartzitos iguais as identificadas em rochas ricas em
carbonatos, e em ambos os casos, sendo a gênese a mesma, o termo carste não
pode estar restrito à descrição dos terrenos carbonáticos. Da mesma forma, o termo
carste não deve ser utilizado para descrever formas morfológicas, mas sim um
conjunto de processos onde a dissolução da rocha, seja ela rica em sílica ou em
carbonato, é de fundamental importância.
Portanto, carste deve ser entendido como um processo e não apenas como
formas morfológicas ou litológicas. Dessa forma, passamos a adotar a utilização
termo do carste para terrenos areníticos e quartzíticos, bem como para outros
terrenos onde ocorra o processo de carstificação.
32
3.2. TURISMO
3.2.1. Breve Discussão Sobre o Turismo
Um conceito de turismo bastante utilizado e adotado neste trabalho é aquele
citado por Ruschmann (1994) que diz que o turismo é o movimento de pessoas, por
tempo determinado (pelo menos vinte e quatro horas), para destinações fora de seu
local de residência, e as atividades realizadas durante o tempo de permanência nas
localidades visitadas.
No turismo, o planejamento possui um papel muito importante, pois, somente
com este é que poderão ser previstos e minimizados os impactos negativos que as
atividades turísticas podem causar.
De acordo com Ruschmann (1994) e Linderberg & Hawkuns (2001), o
planejamento é basicamente um processo que envolve a intenção de estabelecer
certas condições favoráveis para que determinados objetivos sejam alcançados.
Qualquer planejamento deve ter por objetivo atender as necessidades e desejos de
uma comunidade.
Assim, especificamente para o turismo, o planejamento também envolve o
desenvolvimento de estratégias que permita a uma determinada organização
comercial, visualizar as oportunidades de lucros em um determinado segmento do
mercado.
Lindberg & Hawkins (2001) destacam três fases em um planejamento voltado
ao turismo:
Primeira fase: diagnóstico da situação atual;
Segunda fase: determinação do turismo desejável e a identificação dos passos
para a concretização da situação idealizada;
Terceira fase: elaboração do documento sobre a estratégia.
33
Com relação à definição de planejamento voltado ao turismo, Ruschmann
(1994) adota a proposta de Essou & Albuquerque (s.d.) segundo a qual, o
planejamento
“É um processo que consiste em determinar os objetivos e as técnicas
aplicáveis, estabelecer as formas de organização e expor com precisão,
todas as especificações necessárias para que a conduta da pessoa ou
grupo de pessoas que atuarão na execução dos trabalhos seja
racionalmente direcionada para alcançar os resultados pretendidos”
.
O planejamento voltado ao turismo constitui em um instrumento de suma
importância para a determinação das prioridades para uma evolução harmoniosa da
atividade envolvendo questões diversas. Os principais objetivos do planejamento
voltado ao turismo são:
Definir políticas e processos, bem como incentivar a instalação de equipamentos e
atividades turísticas;
Coordenar o desenvolvimento espontâneo do turismo;
Maximizar os benefícios sócio-econômicos e minimizar os custos;
Garantir que os espaços destinados ao turismo não sejam utilizados para outras
atividades;
Determinar as fases de implantação das atividades turísticas;
Minimizar a degradação ambiental dos atrativos e recursos naturais utilizados
turisticamente;
Dar ciência para as devidas autoridades de todas as fases do planejamento;
Capacitação de pessoal e dos serviços públicos;
Atrair financiamentos;
Garantir uma imagem adequada da localidade;
Coordenar o turismo com outras atividades econômicas.
Ruschmann (1994) enfatiza que um dos problemas mais sérios enfrentado por
qualquer planejamento turístico é a falta de integração deste com outros programas
tais como programas sociais, econômicos e mesmo relativos ao planejamento físico-
territorial.
Um outro fator a se considerar é que o planejamento turístico não deve estar
enclausurado em um único município ou restrito a uma atividade, devendo haver na
realidade, um plano regional, envolvendo diversos municípios e todas as atividades
possíveis.
O planejamento turístico pode ser feito nos níveis local, regional, nacional e
internacional, cabendo aos governos nos a responsabilidade de manutenção do meio
34
ambiente e planejamento do turismo. O planejamento pode ser feito para prazos de
até vinte anos com algumas medidas tidas como de ajuste ou emergenciais cujo
prazo pode ser de até um ano.
Com relação ao espeleoturismo, aparentemente, a definição é fácil:
espeleoturismo pode ser definido como sendo as atividades turísticas realizadas nas
cavernas.
Sendo as cavernas ambientes naturais, não podemos fugir de definir
ecoturismo.
Entre as várias definições e até mesmo denominações utilizadas para designar
esta atividade turística, neste trabalho utilizamos aquela contida no documento
Diretrizes para Política Nacional de Ecoturismo (1995), que define o ecoturismo como
sendo o...
“Segmento da atividade turística que utiliza, de maneira
sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua preservação e
busca a formação de uma consciência ambiental através da
interpretação do ambiente, promovendo o bem estar das populações
envolvidas”.
Assim, segundo Rasteiro (2002), tanto o ecoturismo como o espeleoturismo
implica em três fatos essenciais para a implantação de projetos de ecoturismo:
Planejamento sustentável,
Educação ambiental
Inclusão social
Todavia, na prática, qualquer atividade turística desenvolvida fora do meio
urbano vem recebendo a denominação genérica de ecoturismo, sendo extremamente
raro o empreendimento ou atividade turística dita ecoturística que cumpra pelo
menos um dos itens citados anteriormente.
O espeleoturismo não foge à regra. Os empreendimentos existentes tanto no
Paraná quanto em outros estados brasileiros, nem sempre cumprem as premissas
que uma atividade assim deveria seguir. No geral, tais empreendimentos não fazem
se quer um planejamento por mais simples que seja. Os resultados são os impactos
35
adversos tanto no meio natural quanto nas questões sociais e econômicas das
populações envolvidas.
Conforme destaca Ruschmann (1994), a inter-relação entre o turismo e o meio
ambiente é incontestável, uma vez que a natureza é, ao mesmo tempo, o produto e
o local onde de desenvolve as atividades turísticas.
Muitos dos lugares naturais procurados pelos ecoturistas possuem delicado
equilíbrio natural. O aporte de pessoas pode ter sérias conseqüências, degradando
tais ambientes. De uma maneira geral, as atividades turísticas e o meio ambiente não
possuem relacionamento harmonioso.
Com o tempo e a constante busca de atrações, as diferentes atividades
turísticas passaram a buscar novos espaços, além daqueles locais já consagrados.
Por exemplo, nos anos 80, a caminhada, o ciclismo, espeleologia,
rappel,
rafting, motocross, moutain bike
, dentre outros, ganharam força enquanto atividades
turísticas, sendo tais práticas desenvolvidas diretamente nos ambientes naturais. A
natureza é, então, redescoberta, tornando pretexto para a iniciação, educação e
espírito de aventura, tornando-se assim um novo e forte mercado.
Como vemos, trata-se de uma renovação do turismo para uma clientela em
busca de calma, aventura e conhecimento mais detalhado de novos lugares.
Rasteiro (2002) salienta que, praticamente, todas as pessoas que trabalham
com espeleologia se consideram aptas a trabalhar com espeleoturismo, o que não é
verdade. Em muitos casos, pessoas completamente despreparadas atuam nesta área,
tanto como guias, quanto planejadores e como empreendedores. Tal fato pode gerar
muito mais problema do que benefícios.
Pessoas das mais diferentes áreas voltaram seus interesses para o turismo.
Essa profusão desenfreada e súbita de interessados em estudar e trabalhar na área
certamente está relacionada com a crescente demanda pelo turismo.
36
3.2.2. Ecoturismo
O ecoturismo envolve um tipo de viagem especializada, incorporando uma lista
enorme de atividades que abrangem desde observação de pássaros, estudos
científicos de um modo geral, fotografias, mergulho oceânico, caminhada na mata,
até atividades relacionadas com recuperação de ecossistemas danificados.
Ecoturismo é um termo amplo e vago que, para alguns, constitui uma série de
atividades turísticas baseadas na natureza. Para outros, o ecoturismo é um nicho de
mercado, um tipo específico de turismo de interesse especial.
Sem sombra de dúvidas, o ecoturismo foi o termo mais alardeado,
especialmente, no final da década de 90. O prefixo “eco” foi anexado às palavras
como se fosse um título honorífico. Tal tendência pode ser verificada não só no
turismo, mas em outras atividades também.
De uma maneira geral, o ecoturismo anda junto com o desenvolvimento
sustentável.
O prefixo “eco” vem da palavra ecologia, que é derivada da palavra grega
oikos
, significando lar ou
habitat
. Podemos afirmar que o ambiente que habitamos é,
em sua essência, o nosso lar, nossa morada e nosso sustento.
Apesar da relativa novidade do termo, o ecoturismo tem raízes mais antigas
relacionadas aos movimentos conservacionistas e ambientalistas.
Historicamente, o movimento ambientalista nasceu do conservacionista, que
reconheceu que a natureza é essencial para o bem estar do homem. Esta afirmação
foi fortalecida recentemente com o entendimento científico de que a biodiversidade é
fundamental para a sobrevivência humana.
Apesar das interpretações conflitantes e do oportunismo no aproveitamento do
termo ecoturismo, uma coisa é certa: o crescente interesse global e o aumento
exponencial do ecoturismo não podem ser explicados de uma maneira qualquer
como apenas uma das muitas tendências no ramo do lazer.
37
Pelo contrário, o ecoturismo representa uma mudança fundamental no modo
de observar e de se relacionar com a natureza.
O ecoturismo foi concebido, originalmente, como um turismo alternativo,
comedido e que tivesse o menor impacto possível sobre os sistemas naturais.
Todavia, o termo “turismo alternativo” deu início a uma série de discussões, posto
que, para alguns autores, indicaria um pacote turístico especializado em lugares
exóticos para pessoas ricas; enquanto que, para outros, diria respeito à “mochileiros”
com recursos financeiros limitados.
Assim, a definição exata de ecoturismo é difícil, mas podemos afirmar,
abrange ampla relação de elementos e atividades, listadas a seguir:
Ecoturismo é uma forma de turismo que contrapõe o turismo em massa;
Ecoturismo possui uma orientação particular filosófica voltada para a
Natureza;
Os ecoturistas, de um modo geral, possuem motivações diferentes
daquelas dos turistas convencionais;
Ecoturismo é uma prática e um produto turístico;
Ecoturismo exige planejamento e abordagem relativa à política local,
regional, nacional e internacional.
3.2.3. Espeleoturismo
O fato de visitar uma caverna pode despertar diferentes sensações nas
pessoas, impressionando-as de modo distinto. Como Leonardo da Vinci escreveu um
dia, “misto de temor e desejo; temor das trevas, do desconhecido e desejo de
encontrar ali a chave de mistérios ainda sequer suspeitados”.
Normalmente uma visita ao mundo subterrâneo desperta a curiosidade e uma
certa sensação de exploração. Uma aventura que reflete em benefício direto dos
interesses das pessoas, “onde cada passagem, cada volta, desfruta-se de uma nova
visão, e a cada passo a uma diferente e nova perspectiva”
(http://www.cavern.com/cavern/why.htm).
38
A verdade é que os motivos que levam as pessoas a visitarem as cavernas são
diversos. Figueiredo (1998) afirma que as cavernas, do ponto de vista turístico, são
interessantes devido à paisagem peculiar.
Já para Labegalini (1996), os principais motivos para o crescente interesse
pelas cavernas e outros locais estariam relacionados com as raridades naturais.
O hábito de explorar as cavidades naturais é bem mais antigo do que a
recente onda de ecoturismo e esta prática nem sempre esteve relaciona com as
atividades turísticas. Marra (2001) cita que, desde o século XIX, várias cavidades
naturais brasileiras foram visitadas por exploradores europeus; todavia, nem sempre
com objetivos turísticos.
Alguns autores como Lino (1989) afirmam que a história da humanidade não
pode ser contada sem que se faça referência às cavernas, sendo a relação entre
homem e caverna quase tão antiga quanto o homem.
As primeiras explorações espeleológicas foram realizadas na região entre a
Itália e a Iugoslávia, na província de Carso (Itália) e em Kras (Iugoslávia) e
certamente o cuidado com o meio ambiente nem sempre estava presente.
Durante o século XIX, diversas atividades espeleológicas tiveram lugar na
Áustria, França e Itália, sendo que estes estudos resultaram em grande
conhecimento para a hidrogeologia.
No decorrer da 2
ª
Guerra Mundial e até a época do pós-guerra, deu-se um
acentuado desenvolvimento nas pesquisas em cavidades naturais com o
desenvolvimento de novos equipamentos e técnicas, formação de grupos de
exploradores, cientistas e especialistas em técnicas verticais.
As cavernas européias foram utilizadas para diferentes atividades, inclusive,
diversas vezes, para fins militares.
No Brasil, as primeiras referências de uso das cavernas vêm das crônicas de
viagens de naturalistas do século XVIII e XIX. Vale a pena destacar que tais
explorações tinham caráter depredatório.
39
Monteiro & Kaz (1998), em seu trabalho sobre Langsdorff, que foi um dos
grandes exploradores do século XIX tratando-se na verdade de um geógrafo
naturalista e etnógrafo que viajou pelo Brasil juntamente com L. Riedel, Kruzenstein
e Liciasky, entre os anos de 1821 e 1829, relatam que nesta expedição deram
especial importância a bioespeleologia que foi estudada em diferentes cavidades
brasileiras. Segundo o autor, a Expedição Langsdorff coletou amostras diversas de
minerais, coleções etnográficas, herpetológicas, ictiológicas, ornitológicas, dentre
outros, constituindo um importante banco de informações sobre o meio natural
brasileiro. Conforme o autor, foram coletados mais de cem mil exemplares da flora
brasileira e, aproximadamente, cem exemplares etnográficos.
Ainda no Brasil, podemos afirmar que os primeiros estudos com rigor científico
surgiram no século XIX com os europeus Peter Lund e Ricardo Krone,
respectivamente, nas cavernas da região da Lagoa Santa e no Vale do Ribeira. Tais
estudos abrangiam, basicamente, as áreas da Paleontologia e Arqueologia.
Peter Lund fez as primeiras referências às cavernas brasileiras por volta de
1800, destacando a Lapa Nova de Maquiné, localizada em Minas Gerais. Lund teria,
inclusive, citado em seu testamento datado de 21 de junho de 1871 que
“Recomendo
à alta proteção do ilustrado Governo à mencionada Lapa que no estado virgem em
que se achou a sua parte pitoresca na ocasião de sua visita (1834) era talvez sem
rival no continente americano”
.
Peter Lund, com seus trabalhos na Gruta de Maquine, deu origem a
paleontologia brasileira posto que, devido à suas explorações, iniciou-se o estudo
cientifico dos fósseis existentes nos solos das grutas, que até então eram
desconhecidos (VALLE, 1975). Outro fato importante é que, Lung também
demonstrou uma preocupação séria com a preservação das cavernas.
Neste ponto, uma pergunta vem à tona: qual o limite entre a Espeleologia e o
Espeleoturismo? Pelo exposto anteriormente, fica a impressão de que as histórias da
Espeleologia e do Espeleoturismo se confundem. Ou seja, muita coisa foi considerada
como Espeleologia; todavia, na realidade, tratava-se mera e simplesmente de turismo
40
que muitas vezes foi realizado sem planejamento ou critérios, causando grandes
prejuízos ao ecossistema do meio subterrâneo visitado.
Este fato comprometeu por muitos anos tanto a Espeleologia, que no Brasil
não era bem aceita nos meios acadêmicos, quanto o Espeleoturismo, que também
era visto com ressalvas.
Entendemos que a Espeleologia e o Turismo sempre tiveram uma relação
muito próxima. As cavernas ocorrem mais comumente nas rochas carbonáticas.
Estima-se que este tipo de rocha cubra aproximadamente 20% da superfície
terrestre. Em termos mundiais existe um número significativo de parques e reservas
ecológicas, justamente nas áreas de predomínio de rochas carbonáticas.
Assim, as cavernas estariam teoricamente preservadas e, ao mesmo tempo,
com o desenvolvimento do turismo em áreas naturais, seriam alvos de turismo.
Todavia, apenas as cavernas desenvolvidas em rochas carbonáticas são alvo
de uma maior atenção e objeto de preservação. Como tentaremos demonstrar, existe
um número significativo de cavidades em outros tipos de rochas, como por exemplo,
os arenitos. Tais cavernas, normalmente, estão fora de áreas de proteção e não
despertam os interesses da maioria dos espeleólogos, pois, quando comparadas com
as cavidades carbonáticas, possuem desenvolvimento menor e poucos ornamentos.
Ou seja: as cavernas desenvolvidas em rochas ricas em sílicas são menos atraentes.
Para o aproveitamento destas cavidades, inicialmente faz-se necessário conhecê-las.
De qualquer forma não podemos negar que existe crescente interesse dos
turistas pelo turismo em áreas naturais, sendo que, a cada ano que passa, o número
de visitantes em tais locais sofre significante incremento. Também não podemos
negar os benefícios e os malefícios que o turismo pode trazer para a população
envolvida.
Dessa forma, a decisão de transformar o meio ambiente subterrâneo, bem
como o meio existente na superfície localizada nas imediações das cavidades visando
o turismo, deve ser precedida de uma série de estudos e planejamentos, visando,
dessa forma, provocar o menor impacto possível ao meio ambiente. Assim, um
41
planejamento cuidadoso faz-se necessário e a Geologia pode contribuir para melhor
planejar o meio físico.
As conseqüências positivas e negativas imediatas e em longo prazo, bem como
a área de abrangência das alterações devem ser consideradas.
Sempre devemos ter em mente que qualquer modificação no meio físico e no
ambiente como um todo, quando realizada sem planejamento prévio, gera riscos e
danos tanto para o ambiente quanto para a população. O turismo em geral, e
especialmente o espeleoturismo, não foge a essa regra. Acima de tudo deve-se
considerar que uma caverna encontra-se em delicado equilíbrio onde qualquer
atividade pode ser extremamente nociva para os usuários e para a caverna.
Conforme ressaltam Cigna & Forti (1989), o equilíbrio de uma caverna
depende essencialmente do fluxo de energia, da temperatura, umidade, do
microclima interno e das características atmosféricas internas da cavidade. Ainda
segundo os mesmos autores, as cavernas podem ser consideradas como um
ambiente exclusivo e peculiar, no que se refere à energia e massa. A energia, que
para uma caverna é na maioria dos casos muito limitada, geralmente está
relacionada com a “umidade excedida entre a superfície da rocha em relação à
umidade constante na atmosfera da caverna” (MARRA, 2001).
Outros fatores, como temperatura do ar, umidade relativa do ar, concentração
de diferentes gases na atmosfera interna da cavidade, características geoquímicas
das águas existentes no interior da cavidade, luminosidade e aporte de matéria
orgânica do meio externo para o interior da cavidade, também devem ser
considerados.
Em resumo: qualquer alteração feita no meio subterrâneo e no entorno das
cavernas, principalmente aquelas que visam o turismo, devem ser estudas e
planejadas, pois, caso contrário, os resultados podem ser imprevisíveis.
Segundo Marra (2001), o turismo em cavernas deve ser guiado pelos
seguintes princípios básicos:
42
“As cavernas fazem parte de nosso patrimônio nacional, e podem ser
conhecidas pelo público em geral, desde que respeitando as normas técnicas e
de controle definidas”;
“O modo de utilização de uma caverna deve ter como concepção principal sua
conservação, e não apenas o turismo predatório tradicional”;
“O objetivo primário deve estar fundamentado na manutenção mínima do
equilíbrio ambiental, muito acima de sua comercialização”;
“O princípio é estabelecer mecanismos eficientes para garantir a proteção da
integridade física da caverna, estando apenas disponível para contemplação
locais que não apresentem riscos de danos ambientais, e que ofereçam
segurança aos usuários”;
O ambiente espeleológico deve estar apto a receber um número adequado de
visitantes em função dos estudos de capacidade de carga suportável em cada
caverna, estabelecendo um eficiente controle para cumprimento das
orientações técnicas.
A prática da visitação em cavernas deve estar associada a um programa de
educação ambiental, visando transmitir conhecimentos, instruindo e cativando
as pessoas para sua conservação ““.
A forma de utilização de uma caverna pode variar amplamente, bem como o
motivo da visitação (LINO, 2003; LABEGALINI, 2003).
Em todo o mundo, podemos vislumbrar desde cavernas que foram alvos de
projetos grandiosos modificando amplamente a cavidade e seu entorno, como
também de projetos que foram feitos posteriormente ao início da visitação, sofrendo
assim uma série de adaptações. Em ambos os casos, vários impactos adversos
tiveram lugar. Tal fato é decorrente da não elaboração de estudo prévio e
implantação efetiva do projeto, bem como da ausência de manejo adequado.
Na realidade, algumas cavernas “herdaram o encargo do turismo” sem
qualquer tipo de planejamento, sem qualquer estimativa dos riscos envolvidos nem
dos impactos possíveis.
A ausência de um planejamento adequado faz com que a ampla maioria das
cavidades utilizadas para o turismo esteja, atualmente, com seu equilíbrio natural
profundamente alterado.
Outra situação preocupante dá-se quando a utilização da cavidade ocorre de
forma espontânea sem qualquer planejamento nem acompanhamento.
43
Considerando-se a crescente procura por esta atividade turística, os resultados
podem ser desastrosos.
Atualmente, órgãos oficiais tais como o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e entidades como a SBE (Sociedade Brasileira
de Espeleologia), dentre outros, vêm tentando reverter esse quadro.
Preocupada com a situação, a Federação Espeleológica da América Latina e
Caribe (FEALC), da qual a Sociedade Brasileira de Espeleologia é filiada, criou a
Comissão de Cavernas Turísticas, que vem atuando em toda a área de abrangência
da FEALC.
No Brasil foi instituído, pela portaria 057 de 05/06/1997 e pelo Regimento do
IBAMA, o Centro Nacional de Estudos, Proteção e Manejo de Cavernas (CECAV).
Somente depois de implantada uma política específica de proteção
espeleológica, deu-se início às ações mais efetivas. Assim, em 2002 foi elaborado e
implantado, de acordo com metodologia proposta pelo CECAV, o plano de manejo
nas grutas do Lago Azul e de Nossa Senhora Aparecida em Bonito no Mato Grosso do
Sul.
Em 2004 foram elaborados e implantados os planos de manejo para mais
quarenta e três cavernas brasileiras, onde, atualmente já ocorrem visitação.
Castro (1987) cita que podemos entender a conservação ambiental sob dois
aspectos distintos:
O filosófico – ideológico: aonde o interesse da coletividade vem em primeiro
lugar em detrimento a interesses de particulares. Nesta fase, são comuns os
conflitos com a coletividade reivindicando seus direitos, normalmente, em
momentos tardios.
Conservação prática – operacional: onde o uso do meio subterrâneo é feito
sob quatro aspectos: a) turismo, b)educacional, c) científico e d) conservação.
Tendo em mente as idéias de Castro (1987) e Marra (2001), com relação à
utilização das cavidades, podemos distinguir as seguintes categorias:
44
Cavernas com uso de caráter religioso;
Cavernas com uso de caráter histórico;
Cavernas com uso de caráter científico;
Cavernas com uso de caráter turístico.
Por uso religioso de uma caverna entende-se a utilização da mesma como
local para celebração de quaisquer atividades religiosas. Estas atividades podem ser
desde missas, cultos a até locais para “pagamento de promessas” e depósitos de
objetos diversos, tais como muletas, roupas, placas, pernas mecânicas dentre outros.
No Brasil, país com religiosidade um tanto quanto elevada, vários são os
exemplos de cavidades utilizadas para fins religiosos e a utilização de cavidades para
fins religiosos talvez seja uma das formas mais antigas de turismo no Brasil.
O registro mais antigo que se tem notícia data de 1690 na Gruta de Bom Jesus
da Lapa, localizada nas margens do Rio São Francisco, no Estado da Bahia, quando
foi organizada uma festa religiosa no interior da caverna.
Normalmente, as atividades religiosas em cavernas proporcionam ampla
degradação ambiental, tanto pelo aporte de pessoas quanto pelas modificações
impostas no ambiente. Em alguns casos, mesmo com poucas construções, o acúmulo
de material representando a “graça alcançada”, introduz materiais estranhos e
energia extra ao ambiente, causando dessa forma, desequilíbrio nas condições
naturais.
Muitas vezes a degradação não se restringe à cavidade, atingindo todo o
entorno da mesma, amplificando dessa forma o impacto adverso.
São comuns os sistemas de iluminação artificial que, dependendo do caso,
exibem elevado grau de sofisticação, como no caso da Gruta Mangabeira, localizada
no Estado da Bahia, onde foram iluminados aproximadamente 850 metros. O sistema
implantado é acionado de modo progressivo, acompanhando o visitante à medida
que o mesmo adentra na caverna.
Uma crença comum é que a água que brota no interior da cavidade é
milagrosa, curando enfermidades e solucionando problemas. Esta crendice popular só
45
vem agravar ainda mais a situação de degradação das cavidades utilizadas para fins
religiosos.
Com relação às cavernas com utilização de caráter histórico, ao longo da
história da humanidade, as grutas sempre foram utilizadas pelos homens das mais
diferentes maneiras. Algumas vezes as cavernas passaram a fazer parte de histórias
diversas, por vezes reais, outras aumentadas pela tradição oral e, em outros casos,
frutos da fértil imaginação humana.
No Brasil, existem vários relatos de ocupação das cavidades naturais para fins
diversos. Todavia, podemos verificar facilmente que as cavernas estão relacionadas
com os tempos de guerras e conflitos.
Assim, Lino (1989) relata a ocupação na década de 30 da Caverna dos Vieiras,
bem como da Gruta Berta do Leão, ambas localizadas no Vale do Rio Ribeira, quando
das disputas fronteiriças entre São Paulo e Paraná.
Marra (2001) cita que a Coluna Prestes utilizou as grutas dos Grilos (São
Domingos, no Estado de Goiás) e Ponte da Terra (Itarandiba, Minas Gerais) para
fugir das tropas federais.
Passagem similar aconteceu com o Capitão Carlos Lamarca, no Vale do
Ribeira, no final da década de 60 e início dos anos 70.
Em Itararé, Estado de São Paulo, durante a Revolução Federalista, a Gruta da
Barreira foi utilizada como depósito de armas. Historicamente, sabemos que não
houve combates na região de Itararé, pois, a revolução foi contida ainda no Paraná.
Todavia, recentemente, foi encontrado um esqueleto humano com restos de
uniforme da época em uma das muitas fendas existentes na região. Possivelmente, o
soldado caiu no abismo vindo a falecer e somente sendo achado em 2003.
No Estado do Paraná, durante o mesmo movimento armado, deu-se o episódio
conhecido por Cerco da Lapa, onde um certo monge, popularmente denominado de
Monge da Lapa, que vivia em uma gruta, teve importante papel mobilizando a
população para participar do levante.
46
Temos que considerar ainda as cavidades que foram utilizadas como moradia
pelos povos pré-históricos. Trata-se dos sítios arqueológicos, que, mais cedo ou mais
tarde, todos aquele que fazem Espeleologia se deparam.
Estes homens deixaram vários registros que vão desde pinturas rupestres,
petrogrifos, restos de fogueiras, ossos de animais, cerâmica, e material lítico lascado
e polido.
Algumas cavidades constituem, por motivos diversos, importantes locais de
estudos e pesquisas.
Normalmente, são cavidades que apresentam fósseis, restos arqueológicos e
até mesmo espécies de animais, plantas ou fungos que são objetos de estudos e
pesquisas as quais por uma série de razões, devem ser feitas no interior das
cavernas.
Uma outra forma de utilização das cavernas é para, pura e simplesmente, fins
turísticos. Enquadra-se nesta categoria todas as cavidades onde a visitação ocorre
apenas para se deslumbrar com o mundo subterrâneo.
O Brasil, assim como toda a América Latina, conforme destaca Labegalini
(2003), é um país bastante privilegiado em atrativos naturais diversos. Tratam-se de
cachoeiras, cavernas, vales, mirantes naturais e paisagens de extrema beleza.
Como exemplo, podemos citar Cataratas do Iguaçu (PR), Vila Velha e Furnas
(PR), Pão de Açúcar (RJ), Pantanal (MS / MT), Floresta Amazônica (AM / PA entre
outros estados), Chapada Diamantina (BA / MG), Sete Cidades (PI), Cânion do
Itambezinho (RS), Vale do Ribeira (SP / PR), sem contar as inúmeras e belas praias
espalhadas pelo nosso vasto litoral. Trata-se de verdadeiros patrimônios da
humanidade, que deveriam ser protegidos e preservados.
Estes e outros locais não citados atraem milhões de pessoas todos os anos.
Apesar da existência de alguns pontos turísticos, locais que poderiam ser
aproveitados para tais fins, permanecem praticamente desconhecidos do público em
47
geral e até mesmo dos especialistas. Talvez, por estarem as cavernas escondidas
naturalmente, pouco são exploradas turisticamente.
No Brasil, são conhecidas e cadastradas cerca de três mil cavernas em todos
os estados, considerando Labegalini (2003) que este número representa somente 5%
do patrimônio espeleológico nacional. Dessas cavernas, segundo Lino (2003),
aproximadamente cinqüenta e duas são utilizadas para fins turísticos (Tabela 03).
Entretanto, Labegalini (2003) considera apenas quinze cavernas adequadamente
preparadas para o espeleoturismo de massa (Tabela 04).
Tanto Lino (2003) quanto Labegalini (2003) consideram que apenas uma
pequena fração das cavernas que poderiam ser exploradas turisticamente é utilizada.
Contudo, na maioria dos casos, a exploração iniciou sem qualquer preocupação com
a preservação do meio ambiente subterrâneo e dessa forma continua até os dias
atuais.
Somente em 2003, apesar de todos os esforços, o Centro Nacional de Estudo,
Proteção e de Cavernas (CECAV) órgão pertencente ao Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) começou a tomar medidas legais
para a elaboração dos planos de manejo das cavernas com maior visitação ou para
áreas com concentração elevada de cavidades. Todavia, devido a uma série de
situações, algumas áreas estão sendo priorizadas: Chapada Diamantina (BA), Bonito
(MS) e cavernas nas proximidades de Belo Horizonte (MG).
No Paraná, foram elaborados planos de manejo para as cavernas do Complexo
Gruta das Fadas e Jesuítas e para o Parque Estadual de Vila Velha.
48
Tabela 03. - Cavernas Brasileiras Utilizadas para o Turismo. Fonte: Lino (2003)
N°. NOME LOCAL INFRA
ESTRUTURA
ILUMINAÇÃO
ELÉTRICA
USO RELIGIOSO
01 Gruta Refúgio do Maroaga Pres. Figueiredo/AM X
02 Gruta de Ubajara Ubajara/CE X X
03 Gruta dos Martins Apodi/RN
04 Gruta do Convento Campo Formoso/BA X
05 Gruta dos Brejões Irecê/Morro do Chapéu/BA X
06 Gruta do Lapão Lençóis/BA
07 Lapa Doce I Iraquara/BA
08 Gruta da Pratinha Iraquara/BA X
09 Gruta Azul Iraquara/BA X
10 Buraco do Cão Seabra/BA
11 Poço Encantado Itaetê/BA
12 Poço Azul Andaraí/BA X
13 Gruta do Padre Santana/BA X
14 Gruta da Mangabeira Ituaçu/BA X X X
15 Lapa do Bom Jesus B.Jesus da Lapa/BA X X X
16 Lapa da Angélica S.Domingos/GO
17 Lapa da Terra Ronca S.Domingos/GO X X
18 Gruta dos Ecos Corumbá de Goiás/GO
19 Buraco das Araras Formosa/GO
20 Buraco do Inferno Padre Bernardo/GO
21 Gruta do Maquine Cordisburgo/MG X X
22 Gruta Rei do Mato Sete Lagoas/MG X X
23 Gruta da Lapinha Lagoa Santa/MG X X
24 Gruta dos Palhares Sacramento/MG X
25 Gruta do Tamboril Unai/MG
26 Gruta Casa de Pedra S.João Del Rei/MG
27 Gruta do Limoeiro Castelo/ES X X
28 Gruta do Lago Azul Bonito/MS X
29 Gruta N.S.Aparecida Bonito/MS
30 Gruta do Mimoso Bonito/MS
31 Buraco das Araras Jardim/MS
32 Gruta Itambé Altinópolis/SP X X
33 Caverna do Diabo Eldorado/SP X X
34 Caverna Santana Iporanga/SP X
35 Caverna Morro Preto Iporanga/SP
36 Gruta do Couto Iporanga/SP
37 Caverna Água Suja Iporanga/SP
38 Caverna Laje Branca Iporanga/SP
39 Caverna Alambari de Baixo Iporanga/SP
40 Caverna Casa de Pedra Iporanga/SP
41 Gruta do Chapéu Iporanga/SP
42 Gruta Chapéu Mirim I e II Iporanga/SP
43 Gruta das Aranhas Iporanga/SP
44 Gruta Laboratório Iporanga/SP X
45 Gruta Betari Iporanga/SP
46 Gruta da Lancinha Rio Branco do Sul/PR
47 Conjunto Jesuítas/Fadas Cerro Azul/PR X
48 Furnas de Vila Velha I e II Ponta Grossa/PR X X
49 Gruta de Botuverá Botuverá/SC X X
49
Tabela 04 – Cavernas Brasileiras Adaptadas para o Turismo de Massa. Fonte:
Labegalini (2003) modificado
No. Nome Local Principais características
1
Gruta de Maquine (MG–
243)
Cordisburgo
(MG)
Infra-estrutura local; completamente adaptada ao
turismo; iluminação artificial; 1300 m de visitação.
2
Gruta da Lapinha (MG-
219)
Lagoa Santa
(MG)
Infra-estrutura local; completamente adaptada ao
turismo; iluminação artificial; 700 m de visitação.
3
Gruta Rei do Mato (MG-
343)
Sete Lagoas
(MG)
Iluminação artificial; 980 m de passarela e
escadas; infra-estrutura pesada e poluente
visualmente.
4
Gruta de Palheres (MG-
299)
Sacramento
(MG)
Ambienta natural muito modificado pelas obras de
infra-estrutura; 450 m de visitação; iluminação
artificial; desenvolvida em rocha arenítica.
5
Gruta de Ubajara (CE-
001)
Ubajara (CE) Acesso feito por teleférico com 400 m de desnível;
iluminação artificial; 1200 m de desenvolvimento.
6
Caverna do Diabo (SP-
002)
Eldorado (SP) Localizada no Parque Estadual de Jacupiranga;
desenvolvimento superior a 7000 m; sendo 1000
m de visitação; infra-estrutura; passarelas; lagos e
cascatas artificiais; iluminação artificial.
7
Furnas de Vila Velha (PR-
001)
Ponta Grossa
(PR)
Localizada no Parque Estadual de Ponta Grossa;
trata-se de abismo com 30 m de diâmetro e 113 m
de profundidade; possui elevador panorâmico e
infra-estrutura; desenvolvido em rocha arenítica.
8
Lapa da Mangabeira (BA-
003)
Ituaçú (BA) Localizada dentro do perímetro urbano; turismo
religioso; 23234 m de desenvolvimento;
iluminação artificial;
9
Gruta de Botuverá (SC-
001)
Botuverá (SC) 500 m de desenvolvimento, iluminação artificial
com luz fria e de baixa produção de calor; infra-
estrutura interna restrita a algumas escadas;
utilizada para fins religiosos.
10
Gruta do Santuário do
Bom Jesus da Lapa (BA-
046)
Bom Jesus da
Lapa (BA)
Localizada às margens do Rio São Francisco
dentro de área urbana; turismo religioso existindo
uma igreja católica em seu interior; caverna
encontra-se completamente alterada com piso e
iluminação artificial.
11
Gruta do Lago Azul (MS-
002)
Bonito (MS) Localizada em uma reserva biológica municipal;
em seu interior existe um logo com águas de
coloração azulada e completamente transparente;
infra-estrutura local inexistente;
12
Gruta de São Miguel (MS-
001)
Bonito (MS) Próxima a Gruta do Lago Azu; exploração feita
pela iniciativa privada. Sem infra-estrutura.
13
Caverna de Santana (SP-
041)
Iporanga (SP) Localizada dentro dos limites do PETAR; quase
7000m de desenvolvimento; 800 m de visitação; é
a caverna brasileira mais ornamentada; entrada
controlada; infra-estrutura interna restrita a
algumas passarelas.
14
Abrigos do Parque
Nacional da Serra da
Capivara (PI)
Parque
Nacional da
Serra da
Capivara (PI)
Inúmeros abrigos desenvolvidos em rocha
arenítica; administrado pela Fundação do Homem
Americano; pesquisa arqueológica em
desenvolvimento; forte comprometimento das
comunidades vizinhas com a preservação da área;
trilhas interpretativas por toda a região.
15
Abrigos do Parque
Nacional de Sete Cidades
(PI)
Parque
Nacional de
Sete Cidades
(PI)
Diversos abrigos desenvolvidos em rocha arenítica
onde são encontrados diversos sítios
arqueológicos
50
Outro fator de suma importância é que, em muitos casos, as cavernas são
fundamentais para a criação de áreas de preservação permanente (LABEGALINI,
2003). Como exemplos, podemos citar: Parque Nacional das Cavernas do Peruaçu
(MG), Parque Nacional das Sete Cidades (PI), Parque Nacional de Ubajara (CE),
Parque Nacional da Serra da Capivara (PI), Parque Nacional da Chapada Diamantina
(BA), Parque Estadual de Terra Ronca (GO), Parque Estadual de Vila Velha (PR), Área
de Proteção Ambiental de Lagoa Santa (MG), Parque Estadual de Ibitipoca (MG) e
Parque Estadual Turístico Alto Ribeira (SP).
Todos estes locais, foram declarados parques visando, principalmente,
preservar seus respectivos sistemas espeleológicos.
Considerando a América Latina, o Brasil se destaca com relação ao turismo de
massa em cavernas.
Labegalini (2003) cita ainda que um número elevado de outras cavernas tem
recebido visitação turística, mesmo sem infra-estrutura. O turismo na maioria desses
locais pode ser caracterizado como predatório e desorganizado. Como exemplos,
podemos citar:
São Paulo: Gruta do Morro Preto (PETAR); Gruta da Água Suja (PETAR), Gruta
do Chapéu (PETAR), Gruta das Aranhas PETAR), Gruta do Ouro Grosso
(PETAR), Gruta de Itambé (Altinópolis), Gruta do Fazendão (Itaqueri da
Serra), Gruta das Andorinhas (Itararé).
Bahia: Lapa Doce I, Gruta do Lapão, Poço Encantado, Poço Azul, Gruta da
Pratinha, Gruta da Torrinha e outras cavernas da Chapada Diamantina.
Goiás: Gruta de Terra Ronca e Gruta dos Ecos.
Distrito Federal: Buraco das Araras e Buraco do Inferno.
Amazonas: Refúgio da Maruaga.
Espírito Santo: Gruta do Castelo.
Rio Grande do Norte: Furna Feia.
Mato Grosso do Sul: Gruta Nossa Senhora Aparecida, Abismo Anhaumas e
Gruta do Mimoso.
Paraná: Gruta da Lancinha (Rio Branco do Sul), Gruta do Portão de Baixo
(Sengés), Lapa do Monge (Lapa), Gruta Arco Verde (São Jerônimo da Serra),
Gruta Encantadas (Ilha do Mel), Gruta da Água Virtuosa (Ribeirão Claro).
Minas Gerais: Gruta do Janelão, Lapa dos Desenhos, Gruta dos Caboclos,
Gruta Bonita, Gruta dos Troncos, Guta dos Cascaudos, Arco do André, Gruta
51
do Carlúcio e outras cavernas do Vale do Peruaçu; Gruta das Bromélias e
outras cavernas do Parque Estadual do Ibitipoca; Gruta do Éden (Pains), Gruta
do Tamboril (Unai), Gruta da igrejinha (Ouro Preto), Gruta do Carimbado (São
Tomé das Letras), Lapa Grande (Montes Claros), Gruta da Morena
(Cordisburgo), Gruta do Urubu Rei (Lagoa dos Patos) Gruta do Baú, Irmão e
Poções (Pedro Leopoldo).
No Brasil, o uso das cavernas para fins turísticos está relacionado com
aspectos diversos. Em alguns casos, o empreendimento turístico foi implantado
mediante projeto arrojado. Todavia, na maioria das vezes, a implantação do projeto
é decorrente de uma demanda turística sem planejamento prévio. São feitas
adaptações onde o turismo já acontece, tentando o empreendedor aproveitar-se da
situação, por vezes apenas regularizando o já estabelecido.
Os resultados desses empreendimentos são muitas vezes desastrosos,
ocorrendo profundas alterações e, por fim, a descaracterização do ambiente
subterrâneo.
Muitas grutas onde hoje são desenvolvidas atividades turísticas herdaram um
passivo relativo ao turismo sem qualquer tipo de planejamento, onde o que
importava era a quantidade de visitantes e a infra-estrutura para atraí-los. O meio
subterrâneo e seu entorno bem como a dinâmica sócio-econômica das populações
próximas ao empreendimento eram simplesmente ignorados.
Merece destaque os trabalhos realizados pelo CECAV / IBAMA ao longo dos
últimos anos, ressaltando, no entanto, que no Brasil ainda não foi implantada uma
atividade turística em caverna mediante prévio estudo e planejamento,
demonstrando de forma científica e eficaz, por exemplo, uma forma para o cálculo da
Capacidade Ambiental Espeleológica. Este fator é de suma importância, posto que é
justamente ele que vai definir a melhor estratégia de intervenção no meio
subterrâneo.
Marra (2001) afirma ainda que o turismo de massa provoca profundas
alterações no meio subterrâneo e no seu ecossistema. Sendo então, necessário um
bom planejamento para compatibilizar as atividades turísticas com a preservação e a
52
conservação do ambiente cavernícola. O referido autor expõe uma lista de trinta e
duas cavernas exploradas turisticamente no Brasil. São elas:
Gruta Regúgio de Morroaga
– MT
Gruta São Domingos – GO
Grutas da Chapada dos
Guimarães - MT
Gruta dos Ecos – GO
Gruta dos Palhares – MG
Grutas de Bonito - MS
Gruta do Barreiro – SP
Gruta de Botuverá – SC
Grutas de Vila Velha - PR
Grutas da Região
Metropolitana de Curitiba -
PR
Gruta dos Jesuítas - PR
Caverna do Diabo - SP
Grutas do PETAR - SP
Grutas da Intervales – SP
Grutas de Ibitipoca – MG
Gruta Casa de Pedra – MG
Gruta do Castelo – ES
Gruta da Lapinha – MG
Gruta Rei do Mato – MG
Gruta de Maquine – MG
Gruta do Tamboril – MG
Buraco das Araras – GO
Gruta do Peroauçu - BA
Gruta Maravilhosa – BA
Gruta do Padre – BA
Gruta do Bom Jesus da
Lapa – BA
Gruta da Mangabeira – BA
Grutas da Chapada
Diamantina – BA
Gruta dos Brejões – BA
Gruta do Convento – BA
Gruta dos Martins – RN
Gruta Ubajara - CE
É interessante notar que as três listas apresentadas são recentes e, mesmo
assim, ocorrem discrepâncias. Enquanto que alguns autores citam mais de cinqüenta
grutas exploradas turisticamente, outros relacionam apenas cerca de vinte,
considerando alguns casos como inexpressivos.
Na realidade, pode-se constatar que o número de cavidades onde são
desenvolvidas atividades turísticas é cada vez maior. Certamente quantidade de
cavidades turísticas seja superior as cinqüenta e duas apresentadas por Lino (2003).
Este fato vem reforçar a afirmação da falta de controle sobre este segmento turístico,
que, com o seu desenvolvimento, pode causar danos irreversíveis às cavernas.
53
3.2.3.1. Capacidade de Suporte
Capacidade Espeleológica
Ruschmann (1994) nos lembra que o desenvolvimento econômico do turismo
é viável, sendo objeto de diversos planos locais, regionais e até mesmo nacionais.
Por outro lado, seus impactos sociais e ambientais são inevitáveis.
O desenvolvimento acelerado e sem planejamento provocado pelo excesso de
visitante resulta em degradação ambiental, o que pode, por sua vez, inviabilizar o
turismo.
Diferentes pesquisadores, que se dedicam ao estudo desse assunto,
propuseram uma série de conceitos e métodos para se calcular a capacidade de um
determinado local para receber turistas sem, contudo, causar impactos que possam
inviabilizar o turismo.
Dessa necessidade surgiu o conceito genericamente chamado de capacidade
de carga ou de suporte.
Este conceito aplicado às áreas naturais surgiu tendo por base a capacidade
de suporte animal em campos e matas (GOMES, 1987; CASTRO & STIPP, 2003;
FARIAS & LUTGENS, 1995).
Posteriormente, passou também a ser aplicado, após algumas alterações e
adaptações, para recursos naturais.
O conceito de capacidade de carga é, segundo Gomes (1987) Castro & Stipp
(2003), altamente subjetivo, podendo ser definido como “a quantidade de uso a que
pode ser mantida em tempo específico, em área desenvolvida a um certo nível, sem
causar prejuízo a degradação dos recursos básicos”. Uma outra definição apontada é
que a capacidade de carga é definida como a quantidade de indivíduos de uma
população que um ambiente natural ou ecossistema pode suportar sem causar
degradação do recurso base, ou ainda, a densidade populacional que pode ser
sustentada pelos recursos limitados.
54
Enfatizam os autores citados anteriormente que somente recentemente estes
conceitos passaram a ser aplicado aos estudos de recreação ao ar livre, sendo tal
fato conseqüência do crescente uso de tais áreas, gerando prejuízos ao ambiente,
bem como à qualidade da recreação.
Segundo Cifuentes (1992), aplicado às áreas naturais protegidas, pode-se
entender a capacidade de carga como sendo a quantidade de pessoas que um
determinado lugar pode suportar em um determinado período de tempo, sem que a
presença dessas pessoas cause danos ao ambiente ou à satisfação do usuário.
Clark (1991) afirma que existem várias metodologias para o cálculo da
capacidade de suporte, inclusive computacionais; todavia, a utilização das mesmas
ainda é restrita.
Faria & Lutgnes (1995) afirmam que a capacidade de carga deve ser aplicada
em sítios específicos, perdendo o sentido quando aplicado na totalidade de uma
unidade de conservação. Segundo eles, faz-se necessária à utilização da integração
de informações de naturezas distintas, tais como apreciações subjetivas e dados
precisos, afirmando ainda que a capacidade de carga de um local não tem relação
com o número de visitantes, mas sim com a forma como eles realizam a visita.
Na mesma linha, Gomes (1987) afirma que qualquer consideração de
capacidade de suporte voltada ao turismo deve reconhecer que ela (a capacidade de
carga) não é pura e simplesmente uma função de números, mas, que expressa, de
uma certa forma, conexões entre as atividades locais e o manejo. Considerando o
contexto do turismo em áreas protegidas, devem-se também considerar os números
e os tipos de operadores de turismo.
Ruschmann (1994) cita que todos os recursos naturais, bem como aqueles
construídos pelo homem, possuem um limite para absorver visitantes e que o atrativo
se deteriora quando este limite é ultrapassado. Afirma ainda que o número máximo
de visitantes que uma determinada área pode suportar deve ser avaliado antes de
qualquer intervenção no meio ambiente, devendo ser consideradas as características
da área, solo, topografia, bem como os hábitos das pessoas envolvidas, os hábitos
55
dos animais e ainda da quantidade e da qualidade dos equipamentos a serem
instalados para o atendimento dos turistas.
Ruschmann (1994) saliente também que, quanto maior o número de atrações,
maior é a probabilidade de se ultrapassar o limite de suporte da área. Todavia, não
existe um limite claramente definido, posto que a capacidade de um determinado
atrativo depende de fatores um tanto que subjetivos, tais como diversos elementos
culturais e naturais, os quais podem variar no tempo e no espaço. Afirma ainda que a
natureza é o único produto turístico que não pode ser ampliado pelo homem.
Para o cálculo do número de turistas, deve-se levar em conta as seguintes
variáveis:
Tempo de visita dos turistas.
Dispersão ou distribuição dos turistas dentro da área.
Características do local visitado.
Época do ano que ocorre a visita.
Para Marra (2001), a capacidade de carga recreativa pode ser definida como
sendo o nível de utilização que uma área pode suportar, enquanto fornece uma
qualidade sustentável de recreação. Várias críticas podem ser feitas a este conceito,
principalmente pelo fato que a recreação no geral e em áreas naturais
especificamente, é antes de qualquer coisa, uma experiência do imaginário das
pessoas.
Segundo Kuss
et al.
(1990), a capacidade de carga recreativa possui duas
características básicas. Uma delas é relacionada como o meio biofísico, ou seja, a
qualidade ambiental, e a segunda relacionada com a qualidade e o tipo de
experiência recebida.
Quanto à metodologia para o cálculo da capacidade de carga, foram propostos
vários métodos, a saber:
Washbume’s Alternative Carrying Capacity Model
Limits of Acceptable Changes – LAG
Carrying Capacity Assesement Process – CCAP
56
Visitor Impact Management - VIM
Visitor Experience and Resource Protection
Ruschmann (1994) e Marra (2001) descrevem alguns desses métodos,
demonstrando alguma predileção pelo método Visitor Impact Management (VIM), por
Limits of Acceptable Change (LAC) e pelo Visitor Experience and Resouce Protetio
(VERP). Embasado nesta última metodologia, Marra (2001) propõem uma
metodologia que será discutida adiante.
Calcular a capacidade de suporte de atrativos turísticos e recreativos é tarefa
muito difícil uma vez que esta é resultado de um grande número de variáveis e
fatores, como por exemplo, tipos de encosta, solos, erosão, clima, cobertura vegetal
e fauna, sendo necessário ainda, determinar o tipo e a quantidade das intervenções
bem como o tipo de lazer a ser praticado (turismo contemplativo, passeios, turismo
educacional, dentre outros). Por fim, cita a autora, deve-se determinar o
comportamento dos visitantes, tarefa esta entre as mais difíceis.
Os impactos negativos decorrentes do turismo podem provocar alterações no
meio físico, mas também na economia das localidades turísticas e no nível de
aceitação social da comunidade receptora. Os limites físicos envolvem a capacidade
máxima de pessoas em determinada área, bem como o impacto que essas pessoas
causam ao meio natural.
A saturação psicológica é expressa pelo desconforto que os turistas passam a
sentir com o aumento do número de visitantes em uma mesma área ao mesmo
tempo. Quando isto acontece, os turistas buscam novos destinos.
Por outro lado, a capacidade de carga social de uma comunidade é marcada
pelo fato dos componentes dessa comunidade não aceitarem mais os turistas,
passando inclusive a hostilizá-los.
O limite econômico é ultrapassado quando, visando aumentar o lucro, é
atraído um excesso de turista e os equipamentos e instalações existentes passam a
não oferecer condições satisfatórias.
57
Ruschmann (1994) cita que a metodologia americana para a determinação da
capacidade de suporte enfatiza os seguintes fatores:
Delimitar as áreas para instalação dos equipamentos, construções, vias de acesso,
estacionamento e camping, levando-se em consideração as necessidades individuais e
coletivas dos turistas.
Considerar as atividades e necessidades das comunidades receptoras, conferindo-lhes
prioridade absoluta.
Delimitar espaços específicos para os turistas, quantificando o número de pessoas por
área, visando assim à determinação de uma densidade adequada e evitando as
aglomerações.
Delimitar os objetivos a serem alcançados com a implantação do turismo.
As opções para os turistas devem ser ampliadas mediante a diversificação dos
atrativos visando dessa forma, uma diminuição da freqüência de uso de um mesmo
atrativo.
Estimular a visitação em todas as épocas do ano, inclusive na chamada baixa
temporada.
Ainda citando Ruschmann (1994), uma série de formulas (fórmulas 06, 07, 08,
09, 10) são expostas, para se chegar a diversos coeficientes de limites para a
capacidade de carga.
Índice Espacial de Freqüência Turística (STI – Spatial Tourist
Intensity)
Número de turistas (dia, mês ou ano) (06)
Área (hectare)
O número de turistas é calculado utilizando o total de pernoites ou de
visitantes em uma determinada área, atrativo ou equipamento turístico.
Taxa de Desempenho Turístico (HTR – Hospitality Tourist Rate)
Número de leitos x 100 (07)
Número de habitantes
Onde Alta = 10 e Baixa = 1
58
A fórmula 07 expressa um importante indicador que é a capacidade de
hospedagem de um local. Para tal, são necessários dados quantitativos reais sobre o
número de leitos em hotéis, pousadas, casas e
camping
.
Capacidade Carga de Água (WCC – Water Carrying Capacity)
m
3
/ turistas / dia (08)
Quando essa taxa ultrapassa 2m
3
/turista/dia, existe a possibilidade de haver
problemas não só de falta da água, mas também de erosão. Todavia, não existem
estudos específicos para as condições reinantes no Brasil sendo este índice
questionável.
Capacidade de Carga Ecológica
A Capacidade de Carga Ecológica trata do limite biológico e físico de qualquer
espaço aberto às atividades recreativas, sendo sua determinação altamente variável
segundo a formação e pensamento do observador.
Uma pessoa que se encaixa no perfil dos “ecologistas puros” fixará limites
mais severos, enquanto que um “ecologista administrativo” fixará limites mais
flexíveis.
A determinação dos limites referentes à Capacidade de Carga Ecológica
depende de elementos que constituem os diversos ecossistemas e suas respectivas
interações. Envolve ainda conhecimentos geológicos, climatológicos, hidrológicos,
geomorfológicos, bem como botânicos, zoológicos e ecológicos.
59
Capacidade de Carga Psicológica e Social
A Capacidade de Carga Psicológica e Social é definida como sendo o impacto
humano que, quando ultrapassado, ocasiona deterioração da qualidade da
experiência do repouso ao ar livre.
O cálculo dessa taxa é extremamente complicado e subjetivo, sendo
necessário considerar que os turistas, ao visitarem diferentes áreas, o fazem com
determinadas expectativas e percepções distintas de um mesmo ambiente. Tais
fatores estão relacionados com as motivações dos turistas, nível cultural,
características sociais, bem com o número de pessoas que participam da visita.
Limite de Equipamentos
Ruschmann (1994) trabalha com o número de equipamentos que podem ser
instalados em um atrativo turístico. A ausência ou o excesso de equipamentos, bem
como a qualidade dos mesmos pode refletir na presença ou não de um número maior
de turistas. Apesar de reconhecer a importância, a autora citada não propõe fórmula
para este cálculo.
Compatibilidade Entre os Diversos Usos do Espaço
Este aspecto normalmente é pouco observado quando da utilização de
espaços naturais. A diversificação de atividades em áreas naturais pode ser muito
ampla, sendo que algumas situações pedem equipamentos simples (trilhas, mirantes,
dentre outros), ao passo que outras necessitam de equipamentos mais complexos
(elevadores, teleféricos, restaurantes panorâmicos, dentre outras idéias
mirabolantes), que podem resultar em danos ambientais. Ruschmann (1994) utiliza a
seguinte fórmula para o cálculo da capacidade de carga através da divisão de uma
área para a utilização turística, segundo seu padrão de freqüência (09).
60
Capacidade de Carga = dimensões da área (09)
padrão de freqüência
O total de visitas diárias é obtido por (10):
Total de visitas diárias = capacidade local x coeficiente de rotação (10)
Onde o coeficiente de rotação é determinado pela seguinte expressão (11):
Coeficiente de rotação = tempo disponível para visitação (11)
duração média das visitas
Apesar da importância de se obedecer aos limites de cada local, bem como da
capacidade de carga específica dos atrativos naturais, estes não devem ser
encarados como limites absolutos. Trata-se de um instrumento para se identificar
situações críticas que necessitam de intervenções a fim de sanar tais problemas. Cita
ainda que a visão atual do turismo não separa a natureza do homem, mas sim, visa à
integração entre ambos, promovendo diferentes experiências aos seres humanos e
preservando o meio ambiente.
Capacidade Ambiental Espeleológica
Considerando que o termo Capacidade de Carga (ou suporte) é proveniente de
métodos que visam à determinação de quantos animais uma determinada área
suporta, e também o fato de que uma atividade como o turismo envolve o imaginário
das pessoas, sugerimos o uso de Capacidade Ambiental Espeleológica em detrimento
à Capacidade de Carga.
Assim, adotamos as definições propostas e utilizadas por Marra (2001) que
afirma que a descaracterização e deterioração de cavernas, bem como de seu
entorno, é diretamente proporcional ao número de visitantes e inversamente
proporcional à educação ambiental desses visitantes. Se o número de turistas
ultrapassar o limite da capacidade da caverna, o ambiente se deteriora rapidamente.
61
Da mesma forma que em outras situações, o procedimento para o cálculo da
capacidade ambiental da cavidade depende das condições locais. Todavia, o
compromisso maior deve ser com o carste e não apenas como o ambiente da
caverna propriamente dita.
Os primeiros passos estão relacionados com a busca da fragilidade do
ecossistema espeleológico, caracterização da demanda de visitação e orçamento
previsto.
Como o impacto no meio subterrâneo será inevitável, para se determinar à
capacidade ambiental da caverna, além do número de visitantes, deve-se priorizar os
meios para minimizar os impactos gerados. A definição de capacidade ambiental
passa pela necessidade de se determinar o número máximo de visitas aceitáveis em
uma unidade de tempo, que, sob condições definidas, não implique em modificações
permanentes de um parâmetro.
Alguns trabalhos sobre a determinação da capacidade ambiental de cavernas
apontam quatro parâmetros principais que devem nortear os trabalhos. São eles:
Condições externas (temperatura ambiente, umidade relativa do ar e precipitação);
Condições da caverna (temperatura da rocha, temperatura do ambiente, umidade
relativa do ar, percolação de água (infiltração), fluxo de ar, concentração de CO
2
e
pressão).
Efeitos do turismo (temperatura corporal do visitante, respiração, iluminação e infra-
estrutura turística).
Impactos ambientais (aquecimento geral da caverna decorrente do sistema de
iluminação, crescimento de vegetação clorofilada, deterioração de espeleotemas,
estresse na fauna da caverna).
Dessa forma, fica claro que, antes de qualquer planejamento, deve existir uma
fase de caracterização e elaboração de um banco de dados com a maior quantidade
possível de dados. Considerando a variação climática anual e a importância que tem
o clima tanto externo quanto interno da caverna, tal levantamento deve durar pelo
menos um ano.
62
Outro ponto que destaca é a questão do monitoramento do clima da caverna.
A construção de um portão, por exemplo, pode impedir a circulação normal de ar no
interior da caverna, alterando por completo seu micro-clima.
Como visto, não existe uma fórmula pronta e definitiva para a determinação
da capacidade ambiental de uma caverna. Marra (2001) afirma que, em muitos
casos, vale mais o bom senso e a consciência dos profissionais envolvidos em um
trabalho desse porte.
3.2.3.2. Condições para a Implantação de Atividades Turísticas
em Cavernas
Marra (2001) cita que, para a abertura de uma caverna para o turismo, deve-
se levar em conta a estética e a dimensão da entrada, os acessos, a qualidade, a
fragilidade e a ocorrência de ornamentos, os espaços internos, os recursos hídricos, o
clima interno, dentre uma série de outros fatores.
Assim, é fácil de se entender que não se pode desenvolver o turismo em
qualquer caverna. Na verdade, a maioria das cavernas não é adequada à
implantação do espeleoturismo (LINO, 1998).
Ideal seria que, antes de qualquer atividade turística em uma caverna, fosse
feito todo o levantamento, a caracterização e, por fim, todo o planejamento para que
os impactos decorrentes destas atividades fossem mínimos, uma vez que não é
possível evitá-los completamente.
Todavia, muitas das cavernas no Brasil onde se desenvolve o espeleoturismo
não tiveram qualquer tipo de planejamento, tendo sido feitas adaptações quando a
caverna já estava em utilização, nem sempre respeitando a legislação e nem o bom
senso.
O turismo em cavernas sem controle ou mal planejado é prejudicial ao meio
ambiente e também é perigoso para o turista (MARRA, 2OO1).
63
Também temos que considerar que as cavernas são patrimônio da União e
todos têm direito de visitá-las desde que sigam as normas e legislações pertinentes.
O que equivale dizer que não podemos pensar em manter as cavernas apenas para
alguns eleitos, enquanto que outras pessoas não podem desfrutar do mundo
subterrâneo.
Conforme ressalta Lino (1998), as atividades turísticas em cavernas podem
constituir importante fonte de renda para comunidades. Isto quando este turismo é
desenvolvido de maneira adequada.
Assim, não podemos pensar em não permitir o acesso da população nas
cavernas. Temos que realizar levantamentos e estudos visando à identificação das
cavidades que podem receber visitação.
Marra (2001) sugere alguns passos para a verificação se uma caverna é
adequada ou não para implantações do ecoturismo.
O primeiro deles é um crivo preliminar onde se busca caracterizar se a caverna
é penetrável naturalmente ou se é possível se tornar penetrável dentro das normas
de conforto e segurança para o turismo, com a mínima intervenção do ponto de vista
espeleológico.
Ainda nesta fase preliminar, Marra (2001) afirma que deve ser verificado se a
caverna candidata ao ecoturismo não está sendo palco de pesquisas científicas.
Posteriormente, devem ser verificados itens relativos à segurança, tais como, se a
caverna não é foco de doenças, ou se está sujeita a desabamentos, enchentes ou
qualquer outro fator que possa por em risco a integridade ou a vida dos visitantes.
Deve-se igualmente verificar se a cavidade está localizada em área de
preservação total e se não está inserida em alguma área onde as atividades turísticas
são proibidas.
Marra (2001) propõe que, após o crivo inicial, a caverna passe por um crivo
qualitativo. Assim, devem ser avaliadas a estética, a beleza e a dimensão da entrada
da caverna sob o argumento que este será o cartão de apresentação da mesma.
64
Posteriormente, deve ser avaliada a estética dos ornamentos da caverna. Este
item torna-se importante se considerarmos que o turismo em caverna está
fundamentado, principalmente, na contemplação do ambiente subterrâneo. Aqui
surge espaço para conceitos subjetivos como o bizarro, o inesperado e o belo
(MARRA, 2001).
Outro fator importante é a estética e dimensões dos espaços internos. São
valorizados cavernas com amplos salões, mas também com passagens estreitas, teto
rebaixado, fendas e abismos.
Os recursos hídricos também são importantes para a seleção de cavidades
para o ecoturismo. A existência de lagos, cachoeiras e rios contribuem para a
valorização dos espaços cavernícolas (MARRA, 2001).
Por fim, mas não menos importante, deve ser levada em consideração a
Capacidade Ambiental. Esta capacidade é função das dimensões e morfologia na área
de visitação (MARRA, 2001).
Huppert
et al
. (1993) afirmam que, antes de qualquer tentativa de
planejamento, deve ser realizado o máximo de estudo possível, visando realmente
conhecer a caverna. Deve-se buscar as peculiaridades de seu ecossistema, bem
como determinar a Capacidade Ambiental da cavidade.
Marra (2001) afirma que a prioridade dos parâmetros que determinam se a
caverna pode ou não receber turistas não são rígidos, variando de cavidade para
cavidade, segundo as condições levantadas localmente.
Labegalini (1996) afirma que preservar uma caverna é resguardar sua
integridade estética e ecológica. Assim, mesmo que uma caverna tenha uma certa
Capacidade de Visitação, pode haver nesta caverna espeleotemas delicados o
suficiente para que não permitam a aproximação de turistas. Ou podem existir
ambientes especiais onde às visitas é extremamente restrita. Estes parâmetros são
denominados de Parâmetros Críticos e eles determinam a utilização ou não de
determinadas áreas no interior da caverna ou até mesma a não utilização da caverna
para o espeleoturismo.
65
Além dos pontos ressaltados por Marra (2001), Lino (1998) cita outros
parâmetros importantes, como por exemplo, o desenvolvimento específico do
percurso turístico, o grau de dificuldade do percurso, os acessos externos, a
potencialidade indireta e aspectos históricos e culturais.
Castro (1997) afirma que os seguintes itens devem ser levados em conta:
Aspectos estéticos
Acessos externos
Acessos internos
Capacidade interna
Potencialidade indireta
Fatores histórico-
culturais
Fauna
Problemas
relacionados à saúde
humana
Potencial científico
Riqueza em espécies
de espeleotema
Riqueza em
espeleotemas raros e
frágeis
Estado atual de
depredação
Distúrbios diversos
Desenvolvimento
específico do trecho
turístico.
Em uma tentativa de quantificar os critérios para a utilização de uma caverna
para fins turísticos, Lino (1998) e Marra (2001) propõem a Tabela 05.
Tabela 05 – Critérios para implantação de atividades turísticas em cavernas
Critérios Peso
Estética e dimensões da entrada 5
Estética das ornamentações 5
Estética dos espaços internos 5
Estética dos recursos hídricos 4
Capacidade interna (de visitação) 3
Desenvolvimento específico do percurso 3
Grau de dificuldade do percurso 4
Acessos externos 4
Potencialidade indireta (proximidade e qualidade de outros recursos turísticos) 2
Fatores históricos culturais 2
66
3.2.3.3. Impactos Decorrentes do Não Planejamento do
Espeleoturismo
Entende-se por impacto causado pelo ecoturismo todas as modificações ou
eventos causados nas comunidades receptoras em decorrência das atividades
turísticas (RUSCHMANN, 1994).
Para poder prever e mesmo avaliar o impacto é necessário que previamente
existe todo um estudo caracterizando o meio natural. Para minimizar os impactos, é
fundamental o planejamento voltado ao turismo.
As variáveis que provocam os impactos possuem natureza, intensidade e
magnitude diversas; todavia, estes diferentes fatores se interagem e os resultados
são, geralmente, irreversíveis causando sérios danos para o meio natural.
Outro fator importante a se considerar é que os impactos não constituem
eventos pontuais e não possuem uma causa simples. Eles são conseqüência de um
processo complexo da interação entre os turistas, as comunidades receptoras e o
meio ambiente.
Muitas vezes, atividades turísticas similares provocam resultados diferentes
dependendo do local de desenvolvimento e das pessoas envolvidas.
Devido ao amplo desenvolvimento do turismo de massa em meados da
década de 80, a degradação do meio natural nos locais visitados foi intensa. Como
as atividades turísticas ainda estão se desenvolvendo e em um ritmo cada vez mais
acelerado, podemos concluir que a degradação do meio ambiente só tende a piorar.
Contudo, várias tentativas de reverter este quadro estão sendo tomadas por
diversas autoridades dos locais onde as atividades se desenvolvem.
Lembramos que o meio ambiente passou a ser o principal produto do
turismo, sendo sua manutenção de forma sadia essencial para a evolução e
continuidade da atividade.
A avaliação dos impactos decorrentes do turismo sobre o meio ambiente é
extremamente difícil devido (RUSCHMANN, 1994):
67
Ao homem modificar a Terra a milhares de anos, tornando-se difícil
estabelecer uma base para se medir as modificações;
À impossibilidade de dissociar o papel do homem do da natureza. Devemos
lembrar que, mesmo sem a presença do homem, o meio ambiente se altera.
Às complexas interações entre os turistas e o meio, que fazem com que o
impacto total se torne impossível de ser quantificado ou mesmo
caracterizado;
À descontinuidade espacial e temporal entre a causa e efeito;
À dificuldade metodológica para a seleção de indicadores e variáveis capazes
de indicar as mudanças provocadas pelo turismo e, conseqüentemente, a
dificuldade da determinação do que medir.
Os fatos citados acima mostram a complexidade que é analisar o impacto
causado pelo turismo. Assim, os impactos estão sendo analisados de forma pontual,
considerando projetos específicos ou áreas isoladas.
Não podemos nos esquecer que o turismo é uma atividade dinâmica e que
seus impactos e suas conseqüências mudam constantemente, devendo ser então
objeto de monitoramento contínuo.
Os impactos negativos mais comuns do turismo sobre o meio natural são:
Poluição (ar, da água, poluição sonora, resíduos sólidos);
Destruição da paisagem natural;
Destruição da fauna e da flora;
Degradação da paisagem, de sítios históricos e de monumentos históricos;
Congestionamentos;
Conflitos;
Competitividade.
Com relação ao ecoturismo, sua filosofia implica em um turismo responsável
com a menor degradação possível. Entretanto, tal fato é muito questionado.
Ruschmann (1994), cita como principal impacto ambiental positivo relativo ao
ecoturismo à criação de áreas, programas e entidades governamentais e não
governamentais para a proteção do meio ambiente, e como principais impactos
ambientais negativos: o acúmulo de resíduos sólidos; o uso de sabonetes,
detergentes em águas não contaminadas; a contaminação de fontes e mananciais
de água doce e salgada por excrementos humanos; a poluição sonora e ambiental;
68
a coleta de “
souvenirs
” pelos turistas; alteração da temperatura e aumento da
umidade relativa do ar e do microclima em cavernas e grutas; pichação em rochas,
cavernas, árvores e monumentos; a coleta e destruição da vegetação ao longo de
trilhas e estradas; erosão devido ao traçado inadequado de trilhas e inexistência de
sistema de drenagem; alargamento de trilhas e pisoteio da vegetação; alimentação
de animais com produtos com conservantes; aumento de insetos e odores devido
aos restos deixados pelos turistas; caça e pesca ilegal; Incêndios; desmatamentos;
descaracterização da paisagem devido à construção de equipamentos.
Uma vez que o meio natural passa a ser o produto principal do ecoturismo, é
fundamental que o mesmo seja preservado de forma adequada.
O não planejamento ou o planejamento inadequado das atividades turísticas
pode resultar em prejuízos irreparáveis ao ambiente, podendo até mesmo
inviabilizar a continuidade da exploração turística.
Não existem regras para o planejamento turístico. Todavia, podem ser
traçados alguns princípios gerais para o equilíbrio entre o turismo e o meio
ambiente (segundo RUSCHMANN, 1994):
Garantir o equilíbrio entre a proteção e a programação de equipamentos
turísticos;
Não existe um turista “bom” ou “mau”, ou um que respeita o meio ambiente e
outro que destrói;
Não fazer generalizações;
Evitar políticas do tipo “ou tudo ou nada”;
A consideração da qualidade do meio ambiente representa um critério essencial
para a definição de um turismo qualitativo que, entretanto, apresenta custos
elevados;
Apesar dos turistas dos países ricos terem sido devidamente sensibilizados sobre
a necessidade da preservação ambiental, continua-se a devastar as localidades
turísticas das nações mais pobres;
Considerar a realidade tanto ambiental quanto sócio-econômica do local de
implantação do empreendimento turístico.
Especificamente sobre o turismo em cavernas, Huppert
et al.
(1993) citam
que em todo o mundo existem, aproximadamente, setecentos e cinqüenta (750)
cavernas onde são desenvolvidas atividades turísticas. O mesmo autor afirma ainda
69
que cerca de trinta (30) milhões de pessoas visitem anualmente uma caverna. Com
números dessa magnitude, é previsível que problemas ambientais venham a existir.
National Caving Association (1997) afirma que uma caverna turística deve ter
como enfoque principal à conservação e não a comercialização. A idéia seria fazer
das cavidades locais de contemplação mantendo sua integridade física e biológica.
Ainda segundo National Caving Association (1997), deve-se evitar até mesmo as
pequenas alterações no meio subterrâneo, sendo o número de visitantes
determinado pelas condições da caverna e não em decorrência das obras realizadas.
A National Caving Association (1997) enfatiza ainda a necessidade de
programas de educação ambiental, tanto para as comunidades envolvidas quanto
para os visitantes, o que ajuda tanto na interpretação quanto na preservação do
ambiente.
Marra (2001) e Scaleante (2003) citam uma série de prejuízos impostos à
caverna devido ao turismo, dentre eles:
Desgaste da rocha;
Introdução de excesso de energia e massa na caverna;
Alterações no micro-clima e da atmosfera interna;
Introdução de excesso de CO
2
, que combinado com a água, origina o ácido
carbônico, que decompõe os carbonatos;
Resíduos sólidos.
Para Cigna & Forti (1989) o turismo em caverna desencadeia três tipos de
poluição: a) poluição térmica; b) poluição química; c) poluição biológica.
Entretanto, talvez os maiores impactos decorrentes da visitação estejam
relacionados com o aumento da temperatura devido ao aporte de pessoas e
materiais estranhos ao meio subterrâneo. Tal situação pode ser ainda mais séria se
for considerado o fator tempo e o tamanho da caverna. Faz-se necessário um
monitoramento constante do micro-clima da caverna.
70
Diferentes autores apontam a dificuldade que envolve a questão da
temperatura e de todo o micro-clima das cavernas (MARRA, 2001; CIGNA & FORTI,
1989). Os primeiros trabalhos sobre micro-clima de cavernas datam de 1947. Talvez
o principal resultado destas pesquisas foi o aperfeiçoamento de métodos e
instrumentos para monitoramento do clima nas cavernas, haja vista que, até os dias
de hoje, pouco se sabe sobre esse assunto, ficando claro, no entanto, sua
importância como fator limitante quando da implantação de atividades
espeleoturísticas.
Muitos impactos observados em cavernas poderiam ser evitados caso fosse
prestada mais atenção na questão da temperatura e do micro-clima.
Diante do exposto, o monitoramento das cavidades com visitação turística é
de suma importância.
Um caso que merece ser citado é o da Caverna
Cueva Água
, localizada na
Espanha. De acordo com Calaforra
et al
. (1986), antes da caverna ser aberta para
visitação pública, foi instalado um laboratório de controle visando quase que
exclusivamente monitorar o meio ambiente, em especial o micro-clima da caverna.
Em cavernas com visitação intensa, como por exemplo, a Caverna
Reed
Flute
, China, que recebeu, em um ano 1.230.769 pessoas, dando a incrível média
de 3.418 pessoas por dia, os impactos decorrentes da visitação são evidentes. Na
Itália, a Gruta
Frasassi
, recebe até 850 pessoas por dia. Nestas condições,
espeleotemas são descaracterizados, inclusive com alteração da coloração, havendo
o desgaste intensivo da rocha e o acúmulo de resíduos ao redor de tais cavernas.
Outro fator importante é a umidade relativa do ar. O turismo pode tanto
aumentar quanto diminuir a umidade relativa do ar de uma caverna. Em ambos os
casos os resultados são desastrosos.
Um outro exemplo a ser citado é o da caverna chinesa
White Dragon
. Nesta
caverna foi realizada uma série de obras visando desobstruir passagem, facilitando
assim o acesso dos turistas. Tais obras, aliadas ao aumento da temperatura
71
causado pela iluminação, bem como pela visitação, fez com que o ar circulasse
livremente, acarretando sensível diminuição da umidade relativa do ar.
Todavia, as atividades turísticas normalmente causam um incremento na
umidade relativa do ar de uma caverna. Este aumento proporciona deteriorização de
espeleotemas.
A introdução de materiais originalmente estranhos ao meio subterrâneo pode
igualmente trazer conseqüências adversas. Materiais facilmente degradáveis, tais
como madeira, algodão e restos de comida, podem ser um bom meio para o
desenvolvimento de colônias de fungos comprometendo a cadeia alimentar da
caverna.
Outro impacto negativo para uma caverna é a retirada de
souvenir
. Estas
lembranças podem ser pegas tanto pelo turista quanto pelo pessoal que explora a
caverna para abastecer o comércio, que, certamente, se desenvolve ao redor da
cavidade.
Quando ocorre a visitação descontrolada da caverna, um impacto comumente
observado é a pichação das paredes e teto da caverna. Muitas vezes o pseudo-
turista não se contenta em pichar e deixa marcas entalhadas na rocha, que são
muito mais difíceis de serem removidas.
Outro impacto muito comum é aquele causado pela construção de obras na
parte externa da caverna. São construídas casas, hotéis, restaurantes, lanchonetes,
portarias, estradas, passarelas, escadas; são instalados grades com portões e
roletas; a vegetação nativa ao redor da caverna é substituída; placas de sinalização
são instaladas tanto no interior da caverna quanto na sua parte externa.
Marra (2001) cita que, quanto ao impacto negativo, pode haver:
Poluição térmica (aquecimento da caverna pela introdução no sistema
subterrâneo de iluminação, visitantes, bem como de toda a infra-estrutura);
Poluição visual interna
(constituí no acúmulo de passarelas, escadas pontes,
placas de sinalização que destoam da paisagem da caverna);
72
Poluição visual externa (constituída pelo conjunto de obras externas, tais
como estradas, hotéis, lanchonetes e restaurantes, portaria, portões,
comércio, dentre outros, além das placas de sinalização);
Poluição química
(consiste no conjunto de reações químicas que ocorrem no
interior da caverna devido aos materiais exóticos ao meio subterrâneo
introduzido para a construção de pontes, passarelas, escadas, dentre
outros);
Poluição biológica
(trata-se de toda a interferência no processo biológico
natural da caverna)
Poluição sonora
(consiste em todos os distúrbios sonoros em excesso
introduzidos no ambiente subterrâneo)
A Tabela 06 mostra os principais impactos decorrentes do turismo, bem como
as devidas correlações entre causa e efeito.
73
Tabela 06 – Impactos referentes às poluições térmica e visual em cavernas com suas
respectivas causas e conseqüências. Fonte: Marra (2001) – modificado
TIPO DE IMPACTO CAUSA CONSEQÜÊNCIA
Concentração de CO
2
, aumento e interferência no balanço e
comportamento da umidade relativa do ar e do O
2.
Aquecimento da caverna e desequilíbrio do clima interno da
caverna.
Poluição térmica Visitação de turistas Aquecimento da caverna, desequilíbrio climático e elevação
da umidade relativa do ar.
Alcance da saturação do ambiente pelo aumento excessivo
da umidade relativa do ar.
Instalação de iluminação com
lâmpadas incandescentes
acesas constantemente
Aquecimento geral da caverna com a descaracterização de
espeleotemas e grande interferência no clima da caverna.
Placas de sinalização e publicidade.
Infra-estrutura turística externa
Construção de restaurantes, banheiros, lanchonetes,
comércios, portaria, portões, estradas, dentre outros.
Instalação de portões, grades, passarelas, pontes, escadas,
corrimão, anteparos de proteção, dentre outros.
Poluição visual
Infra-estrutura turística interna
Instalação de placas de sinalização no interior da caverna
destoando do ambiente
Acúmulo de resíduos sólidos na
entrada da caverna, bem como
em sua parte externa e nas
trilhas de acesso.
Altera a estética da caverna, além de proporcionar o
desenvolvimento de microorganismos que podem alterar a
cadeia alimentar e causar doenças aos visitantes.
Reatores, cabos e refletores
expostos.
Sensação de desordem
Bloqueio físico para
entrada de pessoas
na caverna
Instalação de portões, catracas
e grades.
Prejuízo à estética, aparência desagradável e muitas vezes
material impróprio na construção.
Poluição química
Visitação turística Concentração de CO
2
e alterações na umidade relativa do
ar, interferências no balanço e no comportamento do micro-
clima e na atmosfera interna da caverna.
Número de visitantes muito
elevado ao mesmo tempo e em
um curto intervalo de tempo
Alcance da saturação de CO
2
proveniente da respiração e
da queima de diferentes substâncias
Iluminação de salões e galerias,
grande quantidade de barulho
e visitantes.
Surgimento de musgos e vegetação clorofilada. Mudança de
hábitos de animais
Poluição biológica
Instalação de portões grades,
roletas, catracas sem abertura
para o trânsito da fauna.
Expulsão, estresse e morte de diversos animais da fauna
torgloxena.
Infra-estrutura turística externa Efluentes provenientes de fossas dos banheiros, água
servida proveniente dos restaurantes e lanchonetes.
Visitação turística Pisoteio das formações situadas no chão da caverna ou das
margens das trilhas ou em locais com pouca fiscalização;
quebra de espeleotemas e pichações.
Conversas excessivas (falar
muito e alto) por parte dos
visitantes
Distúrbio no ambiente e estresse na fauna
Poluição sonora
Soltar rojões e disparos de tiros
para demonstração de
fenômenos sonoros
Desestabilização do ambiente
Utilização de explosivos para
abertura de túneis,
desobstrução de passagens e
abertura de novos caminhos
para os visitantes.
Eliminação de fauna, desestabilização de blocos no teto e
nas paredes, podendo ocorrer o abatimento dos mesmos.
74
4. PROPOSTA DE SEQÜÊNCIA METODOLÓGICA DE ESTUDOS
GEOLÓGICOS E GEOESPELEOLÓGICOS APLICADOS AO
DESENVOLVIMENTO DO ESPELEOTURISMO
A proposta metodológica aqui apresentada pode ser subdividida em duas
partes distintas: uma primeira visa a realização de estudos que abrangem a
totalidade da área pesquisada. Nesta etapa a intenção é a elaboração de um banco
de dados o mais amplo possível sobre a região.
Na segunda parte são utilizados métodos que fornecem informações mais
detalhadas, métodos estes aplicados diretamente em uma determinada caverna
buscando identificar situações de riscos quando da utilização da mesma para o
desenvolvimento das atividades turísticas.
Posteriormente, considerando as análises realizadas nas duas etapas, elabora-
se a avaliação da possibilidade de utilização de uma determinada caverna bem como,
são propostos critérios para esta utilização. Ressaltamos que os critérios aqui
considerados são todos referentes aos aspectos do meio físico, não sendo
consideradas variáveis do meio biótico ou sócio-econômico.
4.1. SEQÜÊNCIA METODOLÓGICA PARA A ELABORAÇÃO DE BANCO
DE DADOS SOBRE A ÁREA DE ESTUDO.
De acordo com esta proposta, deve ser elaborado inicialmente um banco de
informações sobre a região em estudo. Estas informações devem ser dispostas em
mapas diversos, a saber:
75
Mapa Planialtimétrico;
Mapa de Rede Hidrográfica (Drenagens);
Mapa da Rede Viária;
Mapa Base;
Mapa de Clinográfico e Mapa Hipsométrico;
Mapa Geológico e Mapa Geológico Estrutural;
Mapa Pedológico;
Mapa de Uso e Ocupação do Solo;
Mapa das Áreas de Uso Especial (parques e reservas indígenas);
Mapa das Áreas de Preservação Permanente (30 metros a partir de
curso d’água, 50 metros ao redor de uma nascente, 250 m ao redor das
cavernas, Parques e Áreas Indígenas);
Mapa de Localização das Cavernas e Outros Atrativos naturais
(inventário dos atrativos naturais).
Da interação das cartas geradas anteriormente, utilizando a técnica conhecida
por Superposição de Cartas proposta inicialmente por Tricart (1966) e McHarg
(1969), elabora-se um mapa mostrando as áreas mais susceptíveis a impactos
ambientais. É sugerido que os mapas citados anteriormente sejam elaborados no
meio digital, facilitando assim a sobreposição, a interação e o cruzamento entre
diferentes tipos de informação.
Neste trabalho as diferentes cartas são apresentadas no transcorrer do texto,
conforme é feita à caracterização e descrição da área de estudo (Capítulo 5).
Elaboração do Mapa Planialtimétrico
Deve ser elaborado um mapa planialtimétrico. Nesta tese o mapa
planialtimétrica foi gerado a partir da digitalização parcial das cartas de escala
1:50000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a saber: Santa
Cecília do Pavão (Folha SF-22-Z-C-IV-1/ MI-2785-1, IBGE, 1992), Congonhinhas
76
(Folha SF-22-Z-C-IV-2/ MI-2785-2, IBGE, 1991), Sapopema (Folha 22-Z-C-IV-4/ MI-
2785-4, IBGE, 1992) e Terra Nova (Folha, SF 22-Z-C-IV-3 / MI-2785-2, IBGE, 1991).
A partir das folhas citadas, foi montado um mosaico onde a área de interesse
estava contida e posteriormente, deu-se à digitalização.
A digitalização foi feita em mesa digitalizadora utilizando o
softwear
Spring
(2004). Foram digitalizadas todas as curvas de níveis constantes no mapa original,
sendo a eqüidistância de 20 metros.
Esta carta, juntamente com os mapas de hidrografia e da malha viária, irá
compor o chamado mapa base.
Posteriormente, quando da elaboração do banco de dados propriamente dito
mediante a utilização do programa
Arcview
3.2 (2000), devem ser acrescentadas
informações relativas a toponímia local como os nomes de serras, morros, dentre
outras, bem como a altitude de diferentes locais.
Mapa de Rede Hidrográfica (Drenagens)
Para a confecção do Mapa da Rede Hidrográfica deve-se tomar como partida a
mesma base utilizada para a elaboração do mapa planialtimétrico. No caso deste
trabalho foram utilizadas as mesmas folhas do IBGE e o mesmo mosáico utilizado
para elaboração do mapa planialtimétrico.
As drenagens inicialmente devem ser digitalizadas da mesma maneira como
descrito para o mapa planialtimétrico. Após, deve ser realizada uma análise
cuidadosa das curvas de níveis visando a identificação de drenagens que não estejam
marcadas na carta original.
Após este procedimento, devem ser identificadas as diferentes bacias
hidrográficas envolvidas sendo as mesmas analisadas identificando os diferentes
padrões, tropias, angularidades e orientações.
77
Mediante essa análise, as drenagens existentes na área de estudo devem ser
divididas em compartimentos onde as mesmas possuam características similares. Tal
fato é indicativo do tipo de rocha existente no local, bem como das estruturas
impressas nas rochas.
Quando da elaboração do banco de dados no
software
Arcview 3.2 (2000),
devem ser acrescentadas informações tais como: nome do curso d’água,
comprimento, vazão, área das bacias, principais afluentes e principais quedas d’água.
Mapa da Rede Viária
Para a elaboração do mapa da rede viária da região em estudo devem ser
utilizadas diversas fontes entre elas: as folhas do IBGE além de imagens de satélites.
Para a demarcação de trilhas deve-se fazer uso de GPS e, em alguns casos de trena,
bússola e clinômetro.
A digitalização da rede viária ocorre utilizando-se dos mesmos procedimentos
e materiais descritos anteriormente.
Na elaboração do banco de dados, os nomes das estradas e localidades devem
ser acrescentados. Por uma questão do grau de detalhamento deste trabalho, não
foram acrescentados os nomes das ruas existentes nos núcleos urbanos.
Mapa Base
O mapa base deve ser elaborado a partir da interação e sobreposição dos
mapas planialtimétrico, da rede hidrográfica e da rede viária.
Considera-se este mapa como base, pois nele devem ser lançadas as demais
informações, tais como localização dos atrativos naturais, geologia, pedologia, uso e
ocupação, hipsométrico, declividade, dentre outros.
78
Esta carta também deve ser utilizada nos trabalhos de campo para a anotação
das informações coletadas.
Uma vantagem da elaboração deste trabalho no meio digital é que, conforme
a situação, podemos gerar um mapa específico, eliminando dessa forma, informações
não necessárias para o desenvolvimento de uma etapa da pesquisa.
Mapa Clinográfico e Mapa Hipsométrico
Os mapas clinográfico e hipsométrico devem ser feitos no meio digital,
mediante a utilização do programa
Spring
(2004) a partir das curvas de nível
previamente digitalizadas.
Para o mapa clinográfico devem ser utilizados intervalos constantes de acordo
com a escala utilizada e o grau de detalhamento.
No mapa hipsométrico o intervalo entre as diferentes classes altimétricas pode
ser de 50 metros, seguindo o mapa planialtimétrico originalmente digitalizado.
O objetivo principal deste mapa é identificar as áreas com declividade superior
aos 30%, áreas estas consideradas como sendo de preservação permanente,
segundo a legislação ambiental em vigor no país atualmente.
De posse desses dados é possível também elaborar modelos digitais de
sobrelevação (modelos 3D). Todo este material é muito útil na caracterização
geomorfológica bem como na localização de cavernas e quedas d’água.
Mapa Geológico e Geológico Estrutural
Para a elaboração do mapa geológico pode-se seguir a metodologia proposta
por Soares e Fiori (1976). Dessa forma tem-se inicialmente, um mapa fotogeológico
preliminar, que posteriormente deve ser confirmado em campo.
79
Durante os trabalhos de campo devem ser colhidas informações geológicas e
estruturais visando conferir e aferir o mapa preliminar. Uma vez realizados os
ajustes, é elaborado o mapa geológico definitivo o qual deve ser digitalizado.
Para a confecção do mapa geológico estrutural devem ser coletadas atitudes
das diferentes estruturas impressas nas rochas sendo que posteriormente tais
atitudes são tratadas e sendo elaborados gráficos circulares de orientação das
mesmas.
No banco de dados gerado posteriormente devem ser, em cada unidade
litoestratigráfica identificada na área, acrescentadas informações sobre as principais
características dos diferentes litotipos encontrados, sobre os minerais, fósseis e
estruturas impressas nas rochas.
Mapa Pedológico
Para a elaboração do mapa pedológico da área de estudo pode-se partir de
um mapa pedológico regional previamente elaborado.
Neste trabalho, para a elaboração do mapa pedológico, digitalizou-se a região
correspondente à área de estudo da carta pedológica de Senagro (1998). Esta carta
foi checada confirmada em campo.
Foram consideradas apenas as grandes unidades pedológicas, não sendo
realizados maiores detalhamentos.
Mapa de Uso e Ocupação
O Mapa de Uso e Ocupação da área de estudo pode ser elaborado a partir da
composição das bandas 3, 4, 5 e 6 das imagens de satélite LandSat (2004).
80
Neste mapa devem ser identificadas as áreas recobertas por vegetação de
grande e médio porte (áreas de mata nativa ou reflorestamento), áreas com
pastagens, áreas com lavouras temporárias bem as áreas urbanizadas.
No banco de dados a ser elaborado devem ser acrescentadas informações
sobre as áreas mais importantes dentre elas as principais lavouras e fazendas.
Mapa das Áreas de Uso Especial
As áreas consideradas como sendo de uso especial são as reservas indígenas
e os parques destinados à preservação ambiental. Seus limites devem ser
identificados e plotados no mapa pois se tratam de áreas de uso restrito.
Para a realização deste tipo de mapeamento, os órgãos federais e estaduais
responsáveis pelas áreas de uso especial devem ser consultados sendo que, os
limites devem ser obtidos nestas fontes.
No caso específico deste trabalho, considerando a existência de áreas
indígenas (Área Indígena de São Jerônimo da Serra e Área Indígena de Barão do
Antonina) bem como de um parque estadual (Parque Estadual Penhasco Verde),
foram realizados levantamentos junto à Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e junto
ao Instituto Ambiental do Paraná (IAP).
Uma vez obtidas as informações desejadas, os limites das reservas indígenas
bem como do Parque Estadual Penhasco Verde foram plotados em mapa.
Quando da elaboração do banco de dados sugere-se acrescentadas
informações tais como: denominação, área, principais características físicas e do
meio biótico, em especial a vegetação, breves informações sobre o uso e ocupação
da área e, no caso das áreas indígenas, população estimada bem como a tribos
envolvidas.
81
Mapa das Áreas de Preservação Permanente
Considerando a legislação ambiental em vigor no Brasil devem ser demarcadas
as seguintes áreas de preservação permanente, tais como:
Áreas localizadas ao redor de cursos d’água, dependendo da largura do
mesmo;
Áreas localizadas até 50 metros ao redor das nascentes;
Áreas localizadas até 250 metros ao redor da projeção em superfície das
cavidades naturais
Parques e outras unidades de preservação;
Áreas indígenas;
Áreas com declividade superior a 30%.
Para a elaboração deste mapa devem ser utilizadas informações já obtidas
anteriormente bem como novas informações foram produzidas.
No caso específico deste trabalho, as unidades de preservação (Parque
Estadual Penhasco Verde) e as reservas indígenas foram identificadas e mapeadas
anteriormente. Com relação às áreas de declividade acima de 30%, estes dados
foram obtidos a partir das cartas planialatimétricas e de declividade.
Todavia, para a demarcação das faixas de preservação permanente ao redor
das nascentes e cursos d’água foi gerado um novo mapa. Assim, foi criado um
buffer
no
software
utilizado para que tais áreas fossem demarcadas. Posteriormente em
campo, o mapa foi checado e, de volta ao laboratório, as correções necessárias
foram feitas sendo gerado assim uma carta definitiva com as áreas de preservação
permanente.
Localização das Cavernas e Outros Atrativos Naturais
Para a localização das cavernas existentes na área de estudo pode ser
utilizada a seguinte metodologia:
82
Pesquisa no Cadastro Nacional de Cavernas (CNC) visando a
identificação das cavidades previamente conhecidas e estudadas na
área de estudo;
Entrevista com a população local para identificação das cavidades
conhecidas e não cadastradas no CNC;
Identificação de controles das cavernas (controle litológico, controle
topográfico, controle altimétrico).
Trabalhos de campo dirigido nas áreas identificadas como tendo uma
maior probabilidade de ocorrência de cavidades visando a localização
das mesmas.
Para o inventário dos demais atrativos naturais, segue-se o descrito a seguir:
Mirantes Naturais:
Identificação mediante a utilização dos mapas gerados
anteriormente, de pontos com altitude acima da média geral da área
em estudo;
Identificação de pontos de declividade acentuada (acima de 100%);
Verificação em campo dos locais selecionados.
Quedas D’água:
Entrevista com a população,
De posse das cartas clinográficas bem como da modelagem 3D,
identificar os locais prováveis de ocorrência de quedas d’água;
Estudos em imagens de satélites e em aerofotografias em escala
diversas, visando identificar quedas d’água;
Trabalhos de campo nos locais selecionados em gabinete visando a
confirmação das ocorrências das quedas d’água.
Os atrativos inventariados devem ser localizados em campo sendo que suas
coordenadas obtidas com GPS. Posteriormente as coordenadas foram lançadas em
um mapa específico de localização dos atrativos naturais.
83
Na elaboração do banco de dados, devem ser acrescentadas informações
adicionais sobre cada atrativo, tais como: descrição do local, trilha existentes,
estruturas e apóio e equipamentos existentes, dificuldades encontradas no local e
tempo de duração das trilhas.
Ressaltamos que durante toda essa etapa da pesquisa, os trabalhos de campo
são fundamentais para que as cartas elaboradas reflitam a real situação existente no
local. Quanto maior a quantidade dos trabalhos realizados em campo maior será a
precisão das diferentes cartas.
De posse dos diferentes mapas, bem como do banco de informações gerado,
podemos fazer inúmeras interações entre tais as mesmas visando à obtenção de
novos dados.
Assim, cruzando as cartas de declividade, de áreas de preservação
permanente, de áreas de uso especial, de áreas de afloramento do arenito Botucatu
(áreas de recarga do Aqüífero Mercosul normalmente com solo arenoso facilmente
erodido) pode ser gerado um mapa das áreas de risco geológico e riscos de alteração
das condições ambientais. Podemos obter ainda um mapa onde as atividades
turísticas devem ser restritas.
Todavia, o mesmo mapa fornece informações sobre os locais sem restrição de
uso, onde as atividades turísticas podem ser desenvolvidas sem maiores problemas
para o meio ambiente.
Tal interação dos dados, neste trabalho, foi feita tendo como base à proposta
de Tricart (1966) e McHarg (1969) para análise de impacto ambiental. Todavia, estas
propostas inicialmente foram elaboradas para avaliação do impacto ambiental
proveniente de diferentes obras de engenharia.
Entretanto, acreditamos ser uma metodologia atual que pode ser
perfeitamente aplicada para o desenvolvimento de empreendimentos turísticos
voltados ou não para a espeleologia, pois se trata de um método bastante amplo e
que ganhou novo fôlego com o advento do recente desenvolvimento tecnológico.
84
Assim, para a primeira parte da metodologia aqui proposta e utilizada,
esquematicamente temos:
INVENTÁRIO E LEVANTAMENTO E ORGANIZAÇÃO DOS DADOS
(ELABORAÇÃO DE MAPAS E COLETA DE INFORMAÇÕES)
(elaboração dos mapas planialtimétrico, rede hidrográfica, rede viária; mapa base;
declividade e hipsométrico; geológico e mapa geológico estrutural; pedológico; uso e
ocupação do solo; áreas de uso especial; identificação e mapeamento das áreas de
preservação permanente; elaboração de modelos digitais de sobrelevação; mapa de
localização dos atrativos naturais - Inventário dos atrativos naturais).
ELABORAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DE BANCO DE DADOS
ANÁLISE E ELABORAÇÃO DE DAD0S SECUNDÁRIOS
Elaboração do mapa e obtenção das seguintes informações:
MAPA DE ÁREA COM RISCO GEOLÓGICO E RISCO DE ALTERAÇÃO DAS CONDIÇÕES
AMBIENTAIS
ÁREAS PASSÍVEIS DE SEREM UTILIZADAS
ÁREAS COM USO RESTRITO
85
4.2. SEQÜÊNCIA METODOLÓGICA PARA O ESTUDO DE VIABILIDADE
DE IMPLANTAÇÃO DE ATIVIDADES TURÍSTICAS EM CAVERNAS
Um dos objetivos deste trabalho é propor uma seqüência metodológica de
estudos relativos a Geologia e Geologia de Engenharia para serem aplicados no
desenvolvimento de atividades e estudos espeleológicos e turísticos.
Conforme se procurou demonstrar anteriormente, quando aplicados ao
Turismo, tanto a Espeleologia como a Geologia são instrumentos preciosos.
Ressaltamos que a seqüência metodológica proposta considera o meio físico e,
em especial, os aspectos geológicos. Temos ciência que adequações podem ocorrer
de acordo com a situação específica identificada nos diferentes locais onde o turismo
pode se desenvolver. Todavia, a contribuição da proposta está justamente em fazer
um ordenamento abrangente de levantamentos visando uma melhor utilização dos
atrativos naturais para a finalidade em questão.
Uma vez localizada a caverna com o método sugerido anteriormente e
adotados neste trabalho, passava-se para os seguintes procedimentos:
4.2.1. Localização da Entrada da Caverna
Este procedimento deve ser realizado mediante o uso de GPS (
Global Position
Sistem
).
4.2.2. Demarcação da Trilha de Acesso à Caverna
A trilha de acesso à caverna deve ser demarcada com o uso do GPS, ou com
trena, clinômetro e bússola.
86
Posteriormente, o entrono da cavidade deve ser descrito, caracterizado e
fotografado, dando ênfase para as características geológicas, geomorfológicas,
drenagens, micro-clima, uso e ocupação do solo.
Com relação à geologia, além da descrição dos litotipos existentes nas
proximidades da cavidade, também deve ser realizado levantamento das estruturas
impressas nas rochas, sendo suas atitudes anotadas para estudos posteriores em
laboratório.
Após a localização da cavidade e descrição de seu entorno iniciava-se o
seguinte procedimento:
4.2.3 Mapeamento da Cavidade Natural
Para a realização do mapeamento das cavernas devem ser utilizadas bússolas,
clinômetros, trenas de fibras de vidro, além de material para iluminação (reatores de
carburetos e lanternas).
No mapeamento das cavidades naturais podem ser utilizados diferentes
métodos, de acordo com a situação, dentre eles os métodos conhecidos como
poligonal fechada, poligonal aberta e ramificada e o chamado método radial. Neste
trabalho, segundo o sistema utilizado pela Sociedade Brasileira de Espeleologia, o
mapeamento realizado foi classificado como possuindo precisão 4D no sistema BCRA,
o que confere um grau razoável de informações e detalhamento.
Todos esses métodos de mapeamentos de cavernas são descritos por vários
autores, entre eles Kruger (1969), Lalou & Dudan (1975), Lino & Allievi (1980),
Magalhães (1997), Spoladore (2001) e Rubbioli & Moura (2005).
Uma vez realizado a cartografia da caverna, passa-se para a realização de
estudos específicos conforme lista a seguir:
87
Caracterização espeleológica;
Estudos referentes ao micro-clima da caverna;
Levantamentos de evidências arqueológicas no interior da caverna;
Levantamento da fauna e flora no interior da caverna;
Estudos referentes às drenagens existentes no interior da caverna;
Caracterização geológica da caverna;
Levantamentos referentes à geologia estrutural;
Elaboração de documentação fotográfica
Para a realização da aqui chamada caracterização espeleológica, deve-se
realizar uma descrição minuciosa das principais características da caverna, sendo que
tais informações devem ser anotadas no mapa previamente elaborado.
Especial atenção deve ser dada para a descrição dos ornamentos, formas do
teto, das paredes e do piso da caverna, depósitos de sedimentos, zonas de
iluminação direta e de penumbra e formas de dissolução da rocha que por ventura
estivessem presentes no interior da caverna.
Com relação aos estudos relacionados com o micro-clima cavernícola,
termômetros e higrômetros devem ser espalhados pela cavidade bem como na
porção externa da mesma. As leituras devem ser feitas de hora em hora visando à
caracterização da variação da temperatura e umidade do interior da caverna e sua
relação com a temperatura e umidade externas. Como as cavernas estudadas se
desenvolveram em meio a rochas areníticas, não foram realizados estudos referentes
à composição gasosa da atmosfera interna das cavidades. Em cavernas
desenvolvidas em rochas carbonáticas tal estudo seria de grande importância.
Posteriormente devem-se identificar evidências arqueológicas tias como:
pinturas rupestres petrogrifos, restos de fogueira, material cerâmico, material lítico
lascado e polido, ossos e conchas.
Caso alguma evidência arqueológica fosse identificada, faz-se apenas a
localização no mapa da caverna previamente elaborado e a documentação
88
fotográfica. Em hipótese alguma o material arqueológico era removido ou até mesmo
tocado sendo que tais estudos são da competência de arqueólogos.
Uma vez cumprida essa etapa, deve realizar a de documentação fotográfica
fauna e da flora existente no interior da caverna. Ressaltamos que neste trabalho
não foram coletadas quaisquer exemplares, sendo a identificação feita apenas
mediante o uso de fotografias.
Posteriormente devem ter início os estudos referentes aos corpos d’água
existentes no interior da caverna, visando mapear seu curso permanente e identificar
seu curso de cheia e as áreas de inundação. Também se deve ser obtida a vazão, o
pH da e a temperatura da água. Os locais de entrada e saída do curso d’água na
caverna (respectivamente sumidouro e ressurgência) devem ser observados. Tais
pontos são críticos para procurar a verificação da possibilidade de enchentes no
interior da caverna.
Quanto aos estudos referentes à geologia e geologia estrutural, inicialmente
devem ser identificados as diferentes litologias ali existentes. Para tal são feitas
observações de suas composições mineralógicas e granulométricas.
Posteriormente os estudos voltam-se para as estruturas impressas nas rochas.
Primeiro observa-se as estruturas de origem sedimentar e em seguida, as estruturas
secundárias.
As atitudes dos diferentes planos e superfícies identificadas devem ser
tomadas com o auxílio de bússola geológica para posterior elaboração de gráfico
adequado.
Por último sugere-se a elaboração da documentação fotográfica de todo o
interior da caverna.
Assim, esquematicamente temos:
89
Localização da entrada da cavidade e demarcação da trilha
Caracterização do entorno da caverna
CARACTERIZAÇÃO DA CAVERNA
Mapeamento da caverna; Descrição da caverna e de seus espeleotemas; elaboração de
documentação fotográfica; estudos referentes ao micro-clima da caverna; levantamentos de
evidências arqueológicas no interior da caverna; levantamento da fauna e flora no interior da
caverna; estudos referentes às drenagens existentes no interior da caverna; caracterização
geológica da caverna; levantamentos referentes à geologia estrutural no interior da caverna.
4.3. CRITÉRIOS PARA A SELEÇÃO DE CAVERNAS PARA FINS
TURÍSTICOS
Conforme foi discutido no Capítulo 3 devem ser considerados alguns critérios
para a seleção de cavidades tendo em vista a implantação de o desenvolvimento de
atividades turísticas. Tais propostas no entanto, se referem a cavernas carbonáticas.
Considerando que na área de estudo as cavidades naturais são todas
desenvolvidas em rochas psamíticas, apresentamos agora uma nova proposta de
critérios para a seleção de cavidades areníticas para fins turísticos.
90
Ressaltamos, no entanto, que apesar dos critérios de seleção aqui
apresentados estarem organizados em uma determinada ordem, tal ordem não
reflete o grau de importância dos mesmos, sendo que neste trabalho todos os
critérios são considerados, a princípio, com igual importância.
Pode acontecer porém que, dependendo da situação específica de cada
caverna, ai sim, um determinado critério pode ser mais relevante do que os outros.
Os critérios a serem observados quando da escolha de uma cavidade para o
turismo são:
Caverna objeto de pesquisas científicas especiais;
Localização em área de preservação permanente;
Riscos à saúde humana;
Facilidade de acessos externos na caverna;
Facilidade de acessos internos da caverna;
Fatores estéticos do interior e exterior da caverna;
Riqueza, diversidade e fragilidade da ornamentação da caverna;
Riqueza, diversidade e fragilidade da fauna da caverna;
Estado de impacto ambiental no interior da caverna e em seu entorno;
Capacidade interna;
Fatores histórico-culturais e arqueológicos.
Os critérios apresentados são na sua maioria subjetivos, o que dificulta uma
análise mais precisa.
Considera-se ainda que os três primeiros itens são excludentes, sendo que se
a cavidade analisada estiver em qualquer uma dessas situações deve ser excluída
imediatamente da análise.
91
4.3.1. Caverna Objeto de Pesquisas Científicas Especiais
Algumas cavidades são utilizadas para fins de pesquisas científicas onde são
montados verdadeiros laboratórios subterrâneos para o estudo, por exemplo, de
espécies que só vivem no ambiente subterrâneo. Um outro exemplo são os estudos
arqueológicos onde a remoção de lugar de um simples fragmento lítico pode resultar
na perda de informações preciosas. As atividades turísticas são incompatíveis nestes
locais.
Deve ser considerada também a potencialidade da cavidade para o
desenvolvimento de pesquisas. Por exemplo, um sítio arqueológico esteja localizado
no interior da uma caverna, antes de mais nada deve ocorrer o estudo do sítio.
Somente após esta etapa é que as atividades de visitação podem ocorrer.
4.3.2. A caverna Localizada em Área de Preservação
Permanente
Algumas áreas de preservação permanente, unidades de conservação ou
outras áreas como, por exemplo, as áreas indígenas são objetos de legislação própria
sendo o acesso em tais locais, restrito e permitido somente em algumas situações
específicas. Cavidades localizadas parcialmente ou totalmente no interior destas
áreas não devem ser objetos de qualquer atividade turística.
4.3.3. Riscos à Saúde e a Vida Humana
A caverna não pode conter situações que coloquem em risco a saúde e a vida
humana. Como tal entende-se aqui que a caverna não pode conter ou ser focos de
doenças transmissíveis ao ser humano e nem pode estar sujeita a desabamentos ou
92
enchentes nem outra situação qualquer que coloque em risco a vida e a saúde
daqueles que visitam o local.
4.3.4. Facilidade de Acessos Externos à Caverna
Um dos primeiros fatores a se considerar para a utilização de uma caverna
para o turismo é a facilidade de acesso à cavidade. O local deve ficar próximo a um
centro urbano e ser servido de vias de acessos e de trilhas para se chegar até a
caverna. O grau de dificuldade do acesso a caverna também deve ser considerado
como um fator limitante ao desenvolvimento do turismo.
Considerando que estamos lidando com a atividade turística, este item passa a
ter grande importância posto que para o desenvolvimento do turismo, o turista tem
que chegar até o local. As estradas devem ter boa conservação, sendo de tráfego
constante ao longo de todo o ano e as trilhas devem facilitar a caminhada até o local.
Ao mesmo tempo deve ser considerado que a interferência no entorno da caverna
deve ser a menor possível.
4.3.5. Facilidade de Acessos Internos da Caverna
O interior da caverna deve ser amplo com salões e corredores que permitam
aos visitantes andarem normalmente. O pavimento deve apresentar uma certa
regularidade, não apresentando desníveis abruptos e nem muitos blocos abatidos.
Todavia, um certo grau de dificuldade também é salutar, pois ajuda a despertar o
imaginário dos turistas.
4.3.6. Fatores Estéticos do Interior e Exterior da Caverna
Apesar deste critério ser extremamente subjetivo é de grande importância
para as atividades turísticas. Aqui devem ser levados em consideração desde a
estética e dimensões da entrada e dos salões da caverna até a estética dos frágeis
93
espeleotemas bem como dos corpos d’água existentes no interior da cavidade. Deve
ser levada em consideração também, a estética da área de entorno da caverna.
4.3.7. Riqueza, Diversidade e Fragilidade da Ornamentação da
Caverna
A ornamentação interna da caverna é um dos fatores de maior apelo nesta
modalidade turística. Os espeleotemas juntamente com a ausência de luz, despertam
a imaginação, ajudando a criação uma “atmosfera” de novidade que envolve o
turista. Espeleotemas raros, delicados, com formas incomuns ou extremamente
grandes sempre foram motivos de curiosidades por parte dos turistas.
4.3.8. Riqueza, Diversidade e Fragilidade da Fauna da Caverna
A riqueza e fragilidade da fauna existente no interior da caverna também
podem influenciar tanto positivamente como negativamente para a seleção de uma
certa cavidade para o desenvolvimento do turismo. A fauna pode ser um atrativo
para o turismo. Todavia, o turismo gera poluições sonoras, térmicas, químicas entre
outros, causando alternações nas condições ambientais subterrâneas podendo
colocar algumas espécies em perigo. Assim, um trabalho minucioso sobre a fauna
deve ser elaborado antes do início das atividades turísticas.
4.3.9. Estado de Impacto Ambiental no Interior da Caverna e
em Seu Entorno
Outro fator a se considerar é o estado de degradação ambiental da caverna e
de seu entorno. As cavernas sem visitação espontânea e com seu ambiente interno e
externo bem preservados devem ser preservadas. Caso exista previamente uma
94
visitação espontânea na caverna causando impactos de maneira descontrolada, o
turismo deve ser regularizado.
4.3.10. Capacidade interna
Podemos afirmar que a capacidade interna de uma caverna de receber
visitantes sem que este fato cause impactos significativos no meio ambiente está
relacionada com a dimensão e morfologia da área de visitação. Equivale a dizer,
genericamente, que quanto maiores forem os espaços internos da cavidade, maior
vai ser a capacidade de caverna em receber turistas. Cavernas pequenas, com salões
e corredores apertados não são adequadas para receber muitos visitantes.
4.3.11. Fatores Histórico-Culturais e Arqueológicos
O fato de uma caverna ser um sítio arqueológico, paleontológico ou mesmo
um sítio histórico também pode vir a ser um fato positivo para o desenvolvimento do
turismo. Por outro lado, e estes mesmos fatores podem atuar de maneira inversa
inviabilizando as atividades turísticas. As atividades religiosas também devem ser
consideradas nesta análise.
4..3.12. Ordenação dos Critérios
Os critérios abordados devem ser analisados seguindo a ordenação
esquemática apresentada a seguir:
95
Critérios para escolha da caverna para atividades turísticas
Critérios Excludentes
A caverna não pode ser objeto de pesquisas científicas especiais;
A caverna não pode estar localizada em área de preservação
permanente, unidades de preservação ou outras áreas com legislação
específica;
Riscos à saúde humana
Outros critérios
Facilidade de acessos externos à caverna;
Fatores estéticos do interior e exterior da caverna;
Facilidade de acessos internos da caverna;
Riqueza, diversidade e fragilidade da ornamentação da caverna;
Riqueza, diversidade e fragilidade da fauna da caverna;
Estado de impacto ambiental no interior da caverna e em seu entorno;
Capacidade interna;
Fatores histórico-culturais e arqueológicos.
Propõe-se que, uma vez analisadas as cavernas e aplicados os critérios de
seleção e de exclusão citados, seja elaborada uma matriz semelhante às matrizes de
impacto ambiental, onde nas linhas sejam listados os critérios de seleção e exclusão,
enquanto que nas colunas, listam-se as cavernas analisadas.
Para a representação gráfica da cavidade analisada é sugerido que se usem
diferentes cores, mais especificamente:
96
Verde (quando aquele fator analisado não representa impedimento
para a utilização da caverna);
Amarelo (quando o fator analisado apresenta a necessidade de
maiores estudos e/ou de cuidados para a utilização da cavidade para o
turismo);
Vermelho (quando o critério analisado representa um impedimento
ao uso turístico da cavidade).
4.4. IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS DE RISCOS NO INTERIOR DAS
CAVERNAS
Uma vez que os estudos anteriores foram realizados e a caverna passou pelo
crivo dos critérios de seleção de cavidades para o turismo, ou seja, a caverna possui
condições para o desenvolvimento de atividades turísticas, o passo seguinte é
identificar áreas de risco no interior e entorno da caverna. Tal fato é necessário, pois,
mesmo a caverna tendo sido selecionada para o turismo, ainda podem existir áreas
de risco em seu interior. Assim, faz-se necessário à identificação de tais áreas para
que o trajeto a ser efetuado pelos visitantes seja o mais seguro possível.
Os riscos aqui citados estão relacionados com quedas e blocos e
movimentação de massa no interior da caverna e em seu entorno e áreas sujeitas à
inundação.
A determinação de tais áreas de risco é feita tomando por base a interação
entre as seguintes informações:
97
Geologia e geologia estrutural da caverna e de seu entorno;
Uso e ocupação da área de entorno da caverna;
Declividade do entorno da caverna;
Pedologia da área envolvida;
Características específicas da caverna;
Área livre da caverna (interior).
Estudos dos cursos d’água existentes na cavidade e em seu entorno.
4.4.1.Determinação de Área Sujeitas a Enchentes e Inundações
Para verificar se a caverna está ou não sujeita a alagamento temos que saber
basicamente a quantidade de água que entra e sai da cavidade.
Por sua vez, a quantidade de água que entra na caverna depende:
Do clima;
Da vazão do curso d’água;
Das dimensões da boca por onde entra o curso d’água na caverna
(sumidouro);
Das dimensões e formas dos salões e passagens no interior da cavidade
por onde a água passa;
Das dimensões e forma da boca de saída da água (ressurgência).
Para se obter essas informações, se faze necessário:
A caracterização do clima local;
O mapeamento detalhado da caverna;
O mapeamento dos corpos hídricos no interior e nas proximidades da
caverna;
A vazão histórica dos corpos d’água envolvidos;
Levantamentos sobre o grau de fraturamento da rocha;
Caracterização do corpo d’água envolvido.
98
O passo inicial mais uma vez é o mapeamento da caverna, com especial
detalhamento da região do portal ou dos portais da caverna e dos locais de
passagens, tais como corredores e condutos. Algumas vezes, corredores e condutos
estreitos podem causar o alagamento de salões isolados, posto que, caso essas
passagens forem estreitas, atuarão como um fator de represamento da água.
Quanto maior for a boca de entrada e saída da água, mais facilmente ocorrerá
o escoamento da mesma, diminuindo assim a possibilidade de enchentes. Caso o
sumidouro possua grandes dimensões e a ressurgência possua dimensões reduzidas,
a tendência será o acúmulo de água no interior da cavidade.
Estes fatos por si só não eliminam o uso da caverna para fins turísticos.
Todavia, cavernas com espaços internos reduzidos não são adequadas para visitação
durante precipitações atmosféricas, o mesmo acontecendo com salões com entradas
e passagem estreitas ou corredores e condutos de dimensões reduzidas.
As formas de blocos, teto e paredes no interior da caverna são importantes
indicadores de ação da água. Blocos, teto e paredes arredondadas indicam a ação
hídrica enquanto que rochas com arestas e angulosas são evidências de um baixo
grau de trabalhamento pela água.
Observações da presença de materiais próprios do meio externo, tais como
restos vegetais também podem indicar transporte mediante a ação da água.
Por fim, o alagamento da caverna vai estar relacionado como a vazão do
corpo d’água. Assim, a série histórica de vazão do curso d’água deve ser conhecida.
Caso este dado não esteja disponível, a vazão deverá ser medida tanto a montante
como a jusante da caverna bem como no interior da mesma.
4.4.2. Áreas Sujeitas à Queda de Blocos
Com relação à queda de blocos, duas situações devem ser distinguidas. A
primeira é mais evidente e diz respeito a grandes pilhas de blocos abatidos. Tais
locais devem ser evitados posto que, esses depósitos são extremamente instáveis. As
99
trilhas e percursos devem evitar passar em áreas onde o piso da caverna é recoberto
por blocos abatidos.
Estas pilhas de blocos abatidos são responsáveis por vários acidentes em
cavernas sendo que em 2004 aqui no Brasil foi relatado um acidente ocorrido no vale
do Ribeira devido à queda parcial de depósito de blocos abatidos. Felizmente, tal
acidente não gerou vítimas fatais. Todavia no Brasil, não existe cadastro dos
acidentes ocorridos em cavernas. Nos Estados Unidos da América onde um cadastro
sobre acidentes em cavernas é mantido atualizado, em 2003 foram registrados 23
acidentes envolvendo queda de depósitos inconsolidados de blocos abatidos no
interior de caverna.
A outra situação que envolve risco são blocos existentes no teto e paredes da
caverna e que podem cair sem que se perceba antes do fenômeno de instabilização.
Esta situação deve ser identificada e tais locais devem ser evitados.
Durante os estudos realizados em São Jerônimo da Serra, em algumas das
cavidades foi possível observar blocos de grandes dimensões abatidos depositados
sobre o pavimento da caverna. Na Gruta do Cedro I, um grande bloco abateu sobre
restos de uma fogueira de idade incerta, mas pelo contexto observado no local,
possivelmente pré-contato. Caso houvesse homens ao redor da fogueira naquele
momento, poderia ter ocorrido um acidente grave. Uma outra situação identificada
foi a Caverna Arco Verde. O teto de dois grandes salões abateu gerando duas dolinas
de abatimento.
Em outros casos foram observados blocos praticamente soltos, podendo
abater a qualquer momento, logicamente, considerando o tempo geológico, mediante
esforços pequenos. Como exemplo citamos a Gruta do Cedro I, Gruta do Cedro II e a
Gruta Água do Capim. Nestes locais blocos de grandes dimensões estão se
desprendendo do teto, podendo, mediante a um pequeno esforço de qualquer
origem qualquer, entrar em colapso.
Pelo observado em campo, a queda de blocos está relacionada com a área
sem sustentação existente no interior da cavidade (vão livre da caverna), com as
100
estruturas tectônicas (fraturas e falhas) e com as estruturas sedimentares tais como
as estratificações cruzadas e plano paralelas. Assim, cavernas com uma área livre
muito grande, desenvolvidas em rocha muito fraturada e com estratificações bem
desenvolvidas, estão mais sujeitas a quedas de blocos do que cavidades com vão
livre reduzido, desenvolvidas em litologias pouco fraturadas e com estratificação
pouco desenvolvidas.
Um outro fator a ser considerado é a variação litológica no interior da caverna.
A intercalação de litotipos com diferentes competências, diferentes graus de coesão,
diferentes granulometria e mineralogia e com diferentes respostas ao intemperismo
podem condicionar o desenvolvimento da cavidade e o abatimento de blocos.
Para realizar tal análise, inicialmente, tendo como partida o mapa da caverna
previamente elaborado, calcula-se a área e o volume do interior da caverna.
Durante os trabalhos de campo devem ser realizados levantamentos do grau
de fraturamento da rocha na qual a caverna se desenvolveu bem como, devem ser
tomadas as atitudes de tais juntas. Devem ser identificadas as diferentes famílias de
fraturas e dentre estas, aquelas que são abertas. Posteriormente, em laboratório, as
orientações dos planos de fraturas obtidos em campo devem ser plotados em
gráficos circulares sendo identificadas às direções das famílias de fraturas em
especial aquelas que condicionam abatimentos de blocos.
4.4.3. Determinação de Área de Risco no Entorno da Caverna
Os riscos considerados no entorno das cavernas estão relacionados
especialmente com a movimentação de massa, ou seja, quedas de blocos e
desmoronamentos.
Por sua vez, estes fenômenos na área de estudo, possui íntima relação com o
uso e ocupação do solo, declividade e formas de relevo e por último, com o tipo de
solo envolvido.
101
Assim, para determinação das áreas de risco nas áreas adjacentes a caverna,
áreas estas onde alguma atividade relacionada com o turismo poderá estar
ocorrendo, são necessárias as seguintes informações:
Caracterização geomorfológica e da declividade;
Caracterização pedológica;
Uso e ocupação;
Caracterização geológica e estrutural
Vale ressaltar que estes fatores normalmente atuam em conjunto, sendo que,
quando ocorre um movimento de massa normalmente deu-se devido a uma interação
de fatores cuja somatória desencadeou o processo.
4.4.3.1. Caracterização geomorfológica local
A caracterização geomorfológica e em especial uma análise cuidadosa da
declividade e das formas de relevo da área envolvida pode fornecer informações
preciosas sobre os locais mais propícios à atuação de fenômenos erosivos bem como
os locais onde pode ocorrer a formação de depósitos sedimentares.
Em locais com declividades elevadas os movimentos de massa tais como os
escorregamentos, desmoronamentos e quedas de blocos, podem ocorrer mais
facilmente.
As formas de relevo são importantes indicadores de locais sujeitos à erosão e
à deposição de sedimentos e locais com problemas de instabilidade de encostas.
Basicamente podemos ter encostas retilíneas, côncavas, convexas bem como
encostas compostas por mais de uma das formas citadas anteriormente.
102
A erodibilidade do solo e a estabilidade da encosta estão relacionadas, entre
outros fatores, com a forma da vertente, com o tipo do solo e com o uso e ocupação
do solo.
4.4.3.2. Caracterização Pedológica
Sabe-se que alguns solos apresentam certas características que os tornam
mais susceptíveis à erosão e a fenômenos de instabilização do que outros solos.
Assim, um levantamento detalhado dos principais parâmetros físicos do solo pode ser
útil.
4.4.3.3. Uso e Ocupação do Solo
O uso e a ocupação do solo pode influenciar diretamente na ocorrência de
movimentos de massa e na atuação dos processos erosivos. Em locais mesmo com
declividade elevada, mas com a cobertura vegetal preservada, os movimentos de
massa são mais raros ou pelo menos, mais lentos. Por outro lado, onde a vegetação
original foi completamente suprimida, podem ocorrer movimentos de massa mais
facilmente, especialmente se a declividade for elevada e se o solo for propício à
remoção.
Por outro lado, dependendo das características do solo, o uso inadequado do
mesmo pode proporcionar o desenvolvimento de processos erosivos ou mesmo a
aceleração dos processos já implnatados.
4.4..3.4. Caracterização Geológica e Estrutural
As estruturas das rochas também podem influenciar a movimentação de
massas, especialmente na questão do abatimento de blocos.
103
Assim, um detalhamento na Geologia e na caracterização da estruturas das
rochas existentes na área de entorno faz-se necessário a fim de se caracterizar os
contatos geológicos, os diferentes litotipos envolvidos e suas principais características
bem como as fraturas e outras estruturas de qualquer origem impressas nas rochas
existentes na área.
Os planos das juntas devem ser medidos e suas características devem ser
descritas. Posteriormente em gabinete, tais atitudes devem ser tratadas e plotadas
em gráfico próprio a fim de se identificar as diferentes famílias de fraturas.
104
5. A POTENCIALIDADE TURÍSTICA DE SÃO JERÔNIMO DA
SERRA
Para se aplicar a proposta metodológica apresentada no Capítulo 4 foi
escolhida uma área no município paranaense de São Jerônimo da Serra.
Esta área foi escolhida em função de apresentar uma série de atrativos
naturais, tais como: cavernas, cachoeiras, mirantes naturais, fragmentos de matas
nativas, sítios arqueológicos, além de um clima mais ameno, uma vez que no local
são encontradas elevações de até 1.200 metros.
Abrange ainda um parque estadual (Parque Estadual Penhasco Verde) não
implantado, e duas áreas indígenas (São Jerônimo da Serra e Barão de Antonina)
O Município de São Jerônimo da Serra, que está localizado próximo a
Londrina, que por sua vez recebe turistas de vários pontos do Brasil de passagem
para a região de Foz do Iguaçu, poderá se beneficiar com o mesmo público para o
turismo da cidade vizinha.
Além de Londrina, outros Municípios próximos, como por exemplo, Tamarana,
Sapopema, Ventania, Mauá da Serra, também possuem atrativos naturais e, no caso
de um planejamento regional, poderão também ser alvos de visitações turísticas.
Um outro aspecto interessante é o fato de que as atividades turísticas em São
Jerônimo serem ainda incipientes, o que favorece a implantação de um processo de
planejamento com melhores resultados para tal finalidade.
5.1. LOCALIZAÇÃO E ACESSOS
São Jerônimo da Serra está localizada no norte do Paraná distando cerca de
80 km da cidade de Londrina (Figura 04).
105
A porção central de seu sítio urbano está a 51
º
47'06" de longitude e 23
º
22'05"
de latitude sul.
Seus limites com outros Municípios são:
ao norte: Santa Cecília do Pavão;
à nordeste: Santo Antônio do Paraíso;
à leste: Congoinhas
à oeste: Londrina e Tamarana
ao sul: Sapopena e Ortigueira
A principal via de acesso é a PR-090. Trata-se de via pavimentada em bom
estado de conservação, onde o tráfego de veículos automotores é constante ao
longo de todo o ano.
No Município de São Jerônimo da Serra as estradas vicinais não possuem
pavimentação asfáltica, estando precariamente preservadas. Tal fato acarreta que,
em épocas chuvosas, o tráfego em algumas dessas vias torna-se impraticável.
5.2. ASPECTOS HISTÓRICOS DO MUNICÍPIO
Segundo Faissal (1981), a fundação do atual Município de São Jerônimo da Serra
remonta ao ano de 1854, com a formação do então chamado Aldeamento de São
Tomás de Papanduva.
A direção deste aldeamento foi entregue a Joaquim Francisco Lopes sendo
substituído pelo Frei Luiz de Cemitile.
Posteriormente, em 1870, o Frei Cemitile construiu uma pequena capela em
homenagem a São Jerônimo (Figura 03).
106
Figura 04 – Localização da área de estudo. Fonte:
www.parana.gov.br
e IAPAR (2001) – modificado. Sem
escala.
Figura 05 – Representação do Aldeamento de São Jerônimo da Serra em 1863. Fonte Faissal (1981).
107
Em 23 de fevereiro de 1920, pela Lei Estadual número 1918, foi criado o
Município de São Jerônimo da Serra e em abril de 1943, criou-se a comarca sendo
instalada por Joaquim de Oliveira Sobrinho na presença do então prefeito Flávio Maria e
de toda a comunidade local.
Quando era prefeito o Major José Schellder, a sede da comarca foi transferida
para Assai, e pouco tempo depois, São Jerônimo da Serra perdeu a condição de
Município, passando a ser distrito de Congoinhas.
A condição de Município somente foi reconquistada em 10 de outubro de 1947,
mediante a Lei Estadual n
o
. 02. Todavia, segundo a mesma lei, São Jerônimo da Serra
passava a se chamar Araiporanga.
Somente em 08 de fevereiro de 1949 foi restabelecida a comarca da então
Araiporanga e pela Lei 790 de 14 de fevereiro de 1949, o lugarejo passou a se chamar
definitivamente de São Jerônimo da Serra.
Faissal (1981) afirma que a denominação de São Jerônimo da Serra está
relacionada com a religiosidade e a geografia, sendo uma referência ao santo padroeiro
do dia da chegada no local da atual sede municipal (Serra do Caeté).
Mas afinal, quem foi São Jerônimo?
São Jerônimo ou Sofronio Aurélio Jerônimo (Figura 05) nasceu na cidade de
Estridão entre os anos de 331 e 340. Aos vinte anos se mudou para Roma onde
estudou com Élio Donato tendo sido a sua formação vinculada aos mestres Terêncio
e Virgílio bem como aos filósofos gregos. Estudou ainda em Tréveris onde iniciou se
dedicou à teologia.
São Jerônimo morreu em 30 de setembro de 420 na cidade de Belém.
108
Figura 06 – São Jerônimo. Fonte:
http://www.lepanto.org.br/HagJer.html
5.3. ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS
5.3.1 Generalidades
Segundo dados obtidos junto ao IBGE, a população de São Jerônimo da Serra
no ano de 2000 totalizava 11.750 habitantes. Desse total, 5.331 pessoas residiam na
área urbana e 6.419 na área rural. Ressalta-se que do montante das pessoas
residentes na área rural está incluída a população de povoados ou aglomerados
rurais, que chega a 260 pessoas.
Analisando os dados verificamos uma pequena diferença no número de
habitantes na área urbana e rural, prevalecendo este último, ou seja, 54,6% da
população residem na área rural e 45,4% na área urbana, o que contraria o
esperando para a região. Tal fato é indicador de que o Município não apresentou um
desenvolvimento urbano satisfatório, o qual pudesse provocar o deslocamento das
pessoas da zona rural para a urbana.
De acordo com os dados dos censos do Instituto Brasileiro de Geografia de
1991, 1996 e 2000 (IBGE, 2004), constatamos que houve na verdade um declínio no
número de habitantes (1991 – 13.275 habitantes; 1996 – 11.049 habitantes; 2000 -
11.750 habitantes). Como a maioria das cidades pequenas, são Jerônimo da Serra
está diminuindo o seu número de habitantes, pelo fato de não possuir atividades
econômicas que gerem um grande número de empregos.
109
A cidade não possui sistema de esgoto e apenas recentemente passou a
contar com abastecimento de água.
O lixo gerado nas residências é coletado em apenas 1.315 domicílios, os 1.853
restantes apresentam outro destino, o qual não foi especificado no censo do IBGE.
Os resíduos eram depositados a céu aberto em um terreno próximo à entrada da
cidade. A partir de 2002 foi implantado um aterro sanitário.
No município em estudo existe apenas um hospital com 18 leitos hospitalares,
contando ainda com 9 unidades ambulatoriais, 4 postos de saúde e um centro de
saúde. Vale ressaltar que a mortalidade infantil em São Jerônimo da Serra é alta.
Com relação à área agrícola, o Município de São Jerônimo da Serra, produz
café, uva, abacate e tangerina (lavoura permanente) e algodão, alho, amendoim,
arroz, feijão, mandioca, milho, milho, soja, tomate e trigo (lavoura temporária).
Dentro da lavoura permanente, o café é o principal produto com área plantada
de 805 ha e produção de 870 toneladas enquanto que soja, o trigo e o milho são os
principais produtos da lavoura temporária. No que tange a extração vegetal e
silvicultura, pode-se destacar a madeira (lenha) com uma quantidade anual
produzida de 11.130m
3
e madeira (tora) com produção de 10.120m
3
.
A pecuária também é importante para o Município, destacando ainda a criação
de suínos e ovinos.
São Jerônimo possui 6.622 eleitores; 2.836 alunos matriculados no ensino
fundamental, 626 no ensino médio e 174 na pré-escola. Conta ainda o Município com
39 escolas do ensino fundamental, 02 de ensino médio e 09 pré-escolas.
Destacamos que, segundo IPARDES (2003) até 1991 o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) de São Jerônimo da Serra era inferior a 0,3. A partir
de 2000, subiu para 0,65. Todavia, quando comparados com os outros Municípios da
região, São Jerônimo da Serra fica com o IDH mais baixo. O mesmo trabalho aponta
a expectativa de vida em São Jerônimo entra 60 e 70 anos. O índice a alfabetizados
é inferior a 80% e a renda
per capita
média é inferior a R$150,00. IPARDES (2003)
110
cita que ainda é grande o número de residências em São Jerônimo sem banheiro e
sem energia elétrica.
5.3.2. A Área Urbana
São Jerônimo da Serra possui uma área urbana pequena e com o formato
alongado segundo a direção norte-sul (Figura 07) sendo a parte mais alta aquela
situada na entrada da cidade. O principal curso d’água nas proximidades é o Rio do
Tigre que passa nas ao sul da área urbana.
Para melhor caracterizar o núcleo urbano de São Jerônimo da Serra, foi
realizado um levantamento visando à identificação não só das condições ambientais
bem como, das industrias, comércios e as áreas residenciais. Foram observadas as
condições das moradias e construções, ruas; calcamento, arborização; topografia,
coleta, transporte e disposição de resíduos sólidos, saneamento básico dentre outros
fatores. A caracterização da área urbana é necessária, pois a mesma também passa
a ser objeto de atividades turísticas, e para tal, também deve ser objeto de
planejamento.
Figura 07 – Arruamento da
área urbana de são
Jerônimo da Serra. Fonte:
ZEE (2004)
111
A partir desse levantamento, foi possível dividir a cidade em três zonas
distintas: a) a aqui chamada zona norte, localizada ao norte da área urbana
envolvendo a porções mais elevadas da área urbana; b) a zona central; c) e as
partes baixas localizadas ao sul, oeste e leste da área urbana.
Cada uma dessas subdivisões apresenta características e problemas
ambientais distintos merecendo atenções adequadas.
Zona Norte (Áreas Altas)
Esta região está localizada ao norte da área urbana onde predominam as
maiores elevações sendo possível avistar praticamente toda a cidade (Fotografia 01).
O relevo é suave, predominando morros com cumes amplos e planos. As vias
públicas não possuem pavimentação asfáltica e a arborização é precária.
Nesta região estão localizadas as principais indústrias (Fotografias 02, 03, 04),
Tratam-se de 02 cerâmicas, 01 madeireira e a Cooperativa VALCOOP.
A concentração de tais atividades industriais, embora que em pequena escala,
gera a emissão de particulados diversos bem como gases, em especial aqueles
provenientes das chaminés. Tal fato aliado à ausência de pavimentação das vias
pode acarretar uma queda da qualidade do ar.
Quanto aos resíduos sólidos industriais, estes podem ser desprezados posto
que são gerados em quantidades reduzidas sendo normalmente reaproveitados na
própria atividade industrial. Problema maior pode ser causado pela queima ocasional
de restos de madeira.
Nesta região está localizado o cemitério municipal bem como alguns conjuntos
habitacionais (Fotografia 04).
Com relação aos conjuntos populares, os mesmos possuem ruas não
pavimentadas e arborização de pequeno porte ou ausente. A não pavimentação e a
conseqüente exposição do solo proporciona a atuação de processos erosivos
112
laminares e em sulcos. Localmente tais processos ganham vulto podendo
comprometer estruturas de casas e benfeitorias nas vias públicas.
Fotografia 01 – Vista geral da área urbana de São
Jerônimo da Serra. Autor: Ângelo Spoladore.
Fotografia 02 – Detalhe da madeireira.
Observas o acúmulo de restos das atividades
depositados diretamente sobre o solo. Autor:
Ângelo Spoladore.
Fotografia 03 – Detalhe de uma das cerâmicas.
Notar que as chaminés não apresentam qualquer
tipo de filtro e que os resíduos gerados pela
atividade industrial são depositados diretamente no
solo bem como a matéria prima para a fabricação
dos artefatos cerâmicos. Autor: Ângelo Spoladore.
Fotografia 04 – Visão geral da parte alta da
cidade. Observar os conjuntos habitacionais,
as ruas sem pavimentação asfáltica e a
arborização precária. Ao fundo vê-se o
cemitério municipal. Autor: Ângelo Spoladore.
A localização do cemitério justamente na porção mais alta da área urbana é,
certamente, um fator complicador e que pode comprometer a qualidade da água de
algumas regiões da cidade. Se for considerado que as covas são simples, sem
impermeabilização e a porosidade e composição do solo local (altamente poroso e
arenoso) constatamos que a localização do referido cemitério é imprópria.
Esta região é desprovida de saneamento básico sendo ainda o sistema de
galeria pluvial precário ou ausente. Em alguns locais foi constatado o fluxo de água
113
servida a céu aberto. O depósito de lixo da cidade também está localizado nesta
região. A questão do lixo será discutida em momento apropriado.
Região Central
Trata-se da principal porção da cidade. Nesta área estão localizadas as
atividades comerciais, bancárias, administrativas, de prestação de serviço bem como
as moradias. Pode ser caracterizada como uma área comercial e residencial
(Fotografia 05).
Fotografia 05 – Visão geral da porção central de
São Jerônimo da Serra Autor: Ângelo Spoladore.
Fotografia 06 – Visão parcial da região oeste
da área urbana. A mesma apresenta diversas
características rurais, vias não pavimentadas,
declividade moderada e precariedade quanto a
arborização pública Autor: Ângelo Spoladore.
Está localizada à meia encosta possuindo topografia suave com caimento
discreto a moderado em direção à calha do Rio do Tigre (Fotografias 05 e 06). A
maioria das ruas possui pavimentação asfáltica. Todavia, o estado de preservação da
pavimentação é extremamente heterogêneo podendo localmente, apresentar-se
bastante deteriorado.
Com relação à arborização podemos afirmar que, embora a mesma se
apresente, comparativamente, em melhor estado que as demais regiões da cidade, a
mesma é deficiente em relação às espécies bem como quanto ao número de
indivíduos arbóreos.
114
Está área não apresenta sistema de esgoto e o sistema de galerias pluviais é
deficiente.
Todavia, considerando as condições ambientais, podemos afirmar que está
região proporciona uma boa qualidade de vida para os moradores.
Zonas Sul, Leste e Oeste (Partes Baixas)
Nestas regiões foram identificadas as piores condições ambientais. Trata-se de
áreas com declividades acentuadas, gerando aclives e declives fortes. As ruas não
possuem pavimentação asfáltica. O saneamento básico é inexistente. A arborização
pública é precária (Fotografias 06 e 07). Estas regiões encontram-se nos limites das
áreas urbanizadas podendo ser consideradas áreas de expansão imediata ou de
médio prazo. Por isso, podem ser visualizadas características próprias de áreas
rurais.
Foram observados processos erosivos laminares e em sulcos atuando
livremente, tendo os mesmos, comprometido vias públicas e construções diversas.
Localmente foram constatadas obras relativas ao preenchimento dos sulcos com solo
e material lítico, em uma tentativa de conter o processo erosivo.
Nestas regiões estão concentradas populações com rendas baixas. Tal fato é
evidenciado pela qualidade das construções ali existentes.
Em diversos pontos verificou-se esgoto doméstico e água servida escoando
diretamente nas vias públicas. Em determinados pontos a vazão e volume eram
consideráveis.
Constatou-se a presença de afloramentos de rochas areníticas identificadas
como pertencentes à Formação Botucatu (Fotografia 08)
Ao sul da área urbana, está localizada a chamada Vila do Grilo. Trata-se de
casas construídas em região com declividade acentuada, sem qualquer infra-
estrutura, onde é comum encontrar esgoto escoando livremente a céu aberto.
115
Ainda nesta mesma região, estão localizadas três minerações como a
mostrada na Fotografia 09, sendo que duas encontram-se praticamente dentro dos
limites da cidade, colocando em risco casas e prédios públicos.
Fotografia 07 – Visão geral da zona oeste.
Repare na declividade acentuada. Autor: Ângelo
Spoladore.
Fotografia 08 – Afloramento rochoso (arenito)
pertencente à Formação Botucatu do Grupo São
Bento (Bacia Sedimentar do Paraná) na área
urbana. Autor: Ângelo Spoladore
.
Dessas duas minerações, uma encontra-se em atividade e a outra foi
desativada servindo para depósito de resíduos sólidos urbanos. São minerações de
areia de barranco sendo o desmonte realizado mediante força hidráulica ou com o
auxílio de tratores. Estas minerações encontram-se inadimplentes juntos aos órgãos
públicos e não se tem o menor cuidado em relação o meio ambiente.
As atividades mineiras alteraram por completa a topografia local, promovendo
a retirada da vegetação original e, posteriormente, o solo e a rocha. Em decorrência
da lavagem da areia, as áreas baixas nas proximidades sofrem certo grau de
assoreamento.
A terceira mineração está localizada mais afastada do sítio urbana todavia às
margens da estrada que une São Jerônimo à Terra Nova. A mineração está
colocando em risco a referida estrada.
116
Fotografia 09 – Mineração de areia de
barranco localizada às margens da
estrada que liga Terra Nova a São
Jerônimo da Serra. Autor: Ângelo
Spoladore
.
Resíduos Sólidos Urbanos
Até recentemente, todo o sistema de coleta e disposição final de resíduos
sólidos era inadequada. A disposição final era feita em um terreno às margens da
rodovia e ao trevo de acesso escondido por vegetação (Fotografia 10)
O chorume infiltrava no solo arenoso, pois não havia qualquer forma de
impermeabilização drenagem ou retenção do mesmo. Não foram realizados estudos
visando a determinação da pluma de contaminação proveniente desse depósito de
resíduos sólidos urbanos. Na época, foi constatada ainda uma grande quantidade de
insetos e odores característicos.
Segundo a pesquisa realizada na prefeitura sobre o lixo, que o órgão
responsável pelo destino dado ao lixo é a Secretaria de Obras e Serviços,
organizadora do sistema de coleta.
Quando dos trabalhos, foram identificadas as seguintes situações:
Lixo hospitalar era levado para uma fossa existente no terreno do próprio hospital;
Lixo doméstico, de escritório e as podas das árvores têm o mesmo destino no trevo
da cidade;
O entulho proveniente das construções civis é reaproveitado para a pavimentação de
estradas vicinais.
A partir de 2002, foi implantado um depósito de resíduos urbanos mais
adequado em melhores condições de uso e ambiental (Fotografia 11). Também se
deu a implantação de coleta seletiva na área urbana. No local do aterro foi
117
construído um barracão onde é realizada a triagem, armazenamento, lavagem e
prensagem de resíduos sólidos (Fotografias 12 e 13)
No local foram observados os seguintes fatos:
Depósito dos resíduos em valas com o posterior aterramento;
Vala especial para os resíduos hospitalares;
Restos verdes depositados em local apropriado;
Pneus depositados em local separado, todavia a céu aberto;
Os materiais provenientes de coleta seletiva bem como os resultantes da triagem
parcial dos resíduos urbanos são armazenados em locais separados existentes no
interior de barracão;
Dependendo do material, pode ocorrer a prensagem, lavagem ou trituração para
posterior venda e destinação para a reciclagem;
Os resíduos industriais são depositados no mesmo local que os resíduos domésticos.
O depósito de resíduos urbanos de São Jerônimo da Serra conta ainda com
dois funcionários diurno e um vigia para o período noturno.
Todavia, mesmo com uma sensível melhora nas condições ambientais do
depósito municipal de resíduos, a coleta não sofreu alteração, sendo realizada com
uma pequena carreta puxada por um trator. A coleta seletiva é feita mediante a
utilização de um caminhão furgão.
Fotografia 10 – Aspecto geral do antigo depósito
de lixo de São Jerônimo da Serra. Autor: Ângelo
Spoladore.
Fotografia 11 – Situação do atual depósito
de resíduos sólidos urbanos da São Jerônimo
da Serra. Autor: Ângelo Spoladore.
118
Fotografia 12 – Prensa utilizada para elaboração de
fardos de papel proveniente da coleta seletiva na
área urbana de São Jerônimo da Serra. Autor:
Ângelo Spoladore.
Fotografia 13 - Material proveniente da
coleta seletiva de resíduos em São Jerônimo
da Serra. Autor: Ângelo Spoladore
5.3.3. Os Distritos
O Município de São Jerônimo da Serra possui 05 distritos, a saber:
Taquara
Caratuva
Terra Nova
São João do Pinhal (conhecido por Pinhal)
Vila Nova do Pote (conhecido por Pote)
Desses, os dois de maior importâncias são Terra Nova e Pinhal. Caratuva,
Taquara e o Pote constituem apenas um aglomerado de casas, sem atividades ou
serviços significantes, estando completamente dependente da cidade de São
Jerônimo da Serra.
Terra Nova está localizada estrategicamente no vale do Rio Tibagi, próximo a
vários atrativos naturais como, por exemplo, as duas cachoeiras do Córrego do
119
Tamanduá, da Caverna de Terra Nova e do Vale do Tibagi, podendo ser em caso de
implantação de atividades turísticas, um ponto altamente privilegiado.
Terra Nova possui vários comércios dentre eles mercado, posto de gasolina,
materiais de construção, lojas de roupas, de móveis e eletrodomésticos (Fotografias
14 e 15).
Assim, Terra Nova possui vida própria, sem depender diretamente de São
Jerônimo. Uma das explicações possíveis é que a ligação entre São Jerônimo e Terra
Nova é feita por estrada com 32 km, não pavimentada e em estado de conservação
precário. Assim, a viajem entre estas duas localidades, é um tanto que difícil. Já a
ligação com os outros distritos é melhor sendo a viajem mais rápida e confortável.
Terra Nova dispõe ainda de posto de saúde, correio, posto telefônico,
consultório odontológico e duas escolas de ensino fundamental e médio.
A principal atividade econômica da Terra Nova é a pecuária e criação de
ovinos.
Com relação São João do Pinhal, o mesmo também possui um comércio
razoavelmente forte com posto de gasolina, mercado, loja de roupas, móveis e
eletrodomésticos, e restaurante (Fotografias 16 e 17). Atualmente a principal
atividade econômica é o cultivo de tomates, Pinhal conta com posto de saúde,
cartório, duas escolas, posto de correio e posto telefônico.
Pinhal teve uma importância grande quando a lavoura de café era intensa na
região. Foi uma época próspera. Todavia, após as geadas de 1975 e a erradicação
quase por completa da cultura de café, Pinhal passou a enfrentar dificuldades
semelhantes às identificadas no resto do município.
120
Fotografia 14 – Comércio em Terra Nova.
Autor: Ângelo Spoladore.
Fotografia 15 – Visão geral de Terra Nova. Autor:
Ângelo Spoladore
Fotografia 16 – Aspecto geral da rua principal
de Pinhal. Autor: Ângelo Spoladore.
Fotografia 17 – Praça centrar de Pinhal onde á
possível observar caixas usadas para o transporte
de tomates. Autor: Ângelo Spoladore.
5.3.4. Uso e Ocupação do Solo
Conforme podemos verificar na Figura 8 na região estudada é muito nítida a
separação entre três áreas com ocupações distintas. Estas ocupações estão
relacionadas com o tipo de solo e, em última análise, com a geologia.
Assim, na região norte/nordeste da área de estudo, verifica-se a
predominância de culturas temporárias. Na Figura 08 tais culturas são representadas
121
por colorações arroxeadas. Geologicamente está área é dominada pelos litotipos da
Formação Serra Geral que, quando decompostos, originam solos férteis.
Uma mancha da Formação Serra Geral também ocorre na porção centro sul da
área (Figura 08). Desta feita, as culturas concorrem com as pastagens. Apesar do
solo ser fértil, ele possui caráter misto, uma vez que, devido às pequenas dimensões
da área de ocorrência do basalto, ocorre assim uma mistura deste solo com o solo
proveniente da decomposição do arenito. Além do mais, o acesso a esta região é
difícil, fato este que dificulta o escoamento das safras, inviabilizando uma agricultura
extensiva.
No restante da área predominam as áreas com pastagens e áreas com
vegetação remanescente. As áreas com pastagens apresentam-se em tons de rosa
enquanto que as matas estão representadas em verde.
As áreas com pastagens aparecem predominantemente nas áreas de
ocorrência dos arenitos das Formações Pirambóia / Botucatu.
Os fragmentos remanescentes da vegetação nativa são mais representativos
ao longo dos vales dos Rios Tibagi e do Tigre, sendo mais comuns ainda em locais
com declividade elevada. Os fragmentos mais representativos encontram-se no
interior das áreas indígenas existentes no Município.
Analisando a Figura 08 podemos afirmar que, apesar de ainda serem
encontrados fragmentos significativos da vegetação original, a maior parte da área
em questão foi amplamente desmatada, não sendo poupados nem mesmo as áreas
de proteção ambiental permanente, como por exemplo, os trinta metros contados a
partir de cada margem dos cursos d’água. Tal situação fica evidente nas regiões com
um maior desenvolvimento da agricultura.
122
Figura 08 - Uso e ocupação do solo em São Jerônimo da Serra
123
5.4. O MEIO BIÓTICO
5.4.1. Flora
Dessa forma, segundo Torezan (2002), na região onde a área de estudo
encontra-se inserida ocorre uma vegetação de transição entre a floresta ombráfila
mista e a floresta estacional semidecidual.
Um dos fatos mais marcantes é o desaparecimento da araucária (
Auracária
angustifolia
) próximo a uma altitude de 800 metros, passando a ocorrer a peroba-
rosa (
Aspidoperma polyneuron
) e outras espécies características da floresta
estacional semidecidual.
Torezan (2002) afirma que, devido ao relevo acidentado, na região de
passagem do Segundo para o Terceiro Planalto Paranaense estão localizados dois
importantes fragmentos florestais.
Ainda segundo o mesmo autor, na região em questão ainda podem ser
encontrados, como ocorrência subordinada, fragmentos remanescentes de savana,
ou como é mais conhecido, o cerrado. Ressalta ainda que este tipo de vegetação é
de ocorrência restrita no Estado do Paraná, estando seriamente ameaçado.
Em Dias
et al
. (2002) podemos encontrar um levantamento das principais
espécies vegetais que ocorrem não só na área de estudo, mas também em toda a
bacia do Rio Tibagi.
5.4.2. Fauna
Com relação à fauna, levantamentos detalhados podem ser encontrados em
Peracchi
et al.
(2002) – mamíferos não voadores; Reis
et al.
(2002) – morcegos;
Anjos (2002) – avifauna; Bernarde & Machado (2002) – fauna reptiliana; Machado &
Bernarde (2002) – anurofauna; Lopes (2002) – mosquitos.
124
Os autores citados acima trabalharam com toda a bacia do Rio Tibagi,
inclusive a área alvo desta pesquisa, realizando extenso levantamento das principais
espécies encontradas.
Destaque para as 39 espécies de morcegos pertencentes a quatro famílias que
foram encontradas na região do médio e baixo Tibagi (REIS
et al.
, 2002).
5.5. O MEIO FÍSICO
5.5.1. Clima
O Paraná está localizado entre zonas intertropicais e equatoriais (Figura 09).
Ao Norte, há predomínio do clima tropical úmido com chuvas de verão - tipo Aw, e
de sistemas extra-tropicais ao sul (clima tropical de altitude com verão fresco - tipo
Cfb. O clima da região de São Jerônimo da Serra pode ser definido, segundo a
classificação de Köppen, como sendo do tipo Cfa - clima subtropical úmido ou
mesotérmico sem estação seca e verão quente, tendo média de temperatura no
verão superior a 22ºc, e no inverno com médias inferiores a 18ºc.
Figura 09 – Classificação
climática do Estado do
Paraná.
Os fatores responsáveis pelo clima local são:
125
Posição geográfica.
Altitudes que variam entre 600 a 1100 metros de altitude.
O caráter eminentemente continental da área que intensifica as amplitudes térmicas e
higrométricas.
Os desmatamentos também contribuem para a quebra de energia atmosférica,
alterando o balanço hídrico local.
A seguir, apresentamos os principais dados climáticos da região. Ressaltamos
que os dados são referentes à Estação Climática do IAPAR (Instituto Agronômico do
Paraná) Ibiporã, a qual se encontra mais próxima à área de estudo.
Regime Térmico
Nos últimos trinta anos observou-se uma temperatura média de 21ºC, com
médias entre de 18ºC e 22ºC. A temperatura média das máximas situa-se em torno
de 27ºC, e a média das mínimas em 15,5ºC (Painel 01).
Os meses mais quentes do ano são Dezembro, Janeiro e Fevereiro. Nesta
época do ano, as temperaturas absolutas podem atingir 40ºC. Já os meses mais
frios, junho e julho, coincidem com o solstício de inverno, sendo que a temperatura
pode atingir índices negativos. Julho pode ser considerado o mês mais frio do ano, e
é, também, o mês de maior incidência de geadas na área.
Facilmente pode ser verificado que o clima vem sofrendo alterações a nível
mundial e local. A área estudada não foge à regra.
Regime Pluviométrico
A média pluviométrica observada nos últimos trinta anos na região está entre
de 1500 a 1.600 mm (Painel 01). A distribuição das chuvas não é regular, tendo em
vista o registro de alguns anos secos e outros bastantes úmidos.
A atuação do fenômeno
El Ñino
foi bastante clara nos anos de 1965, de 1972
a 1976, e 1980, elevando os totais pluviométricos nestes anos. Assim como o
fenômeno anti
-El Ñino
provocou a queda nestes valores, fato que evidencia a
participação deste fenômeno na determinação no clima da área.
126
Os meses de dezembro e janeiro se caracterizam como os meses de maiores
índices pluviométricos, com médias acima de 220 mm e picos esporádicos de até
120mm diários. Os menores índices pluviométricos ocorrem no mês de agosto e
situam-se em torno de 60mm.
No período compreendido entre os meses de Setembro e Abril,
ocasionalmente ocorrem períodos de estiagem, os quais podem chegar até quinze
dias e atingir algumas vezes 0 (zero) mm. Devido a incidência direta dos raios
solares, com conseqüente aumento da temperatura e queda da umidade relativa do
ar, verifica-se um desconforto térmico.
Disponibilidade Hídrica
A área apresenta um bom índice hídrico em todos os meses do ano e tem uma
média anual de cerca de 550mm (Painel 01). Os extremos negativos ocorrem no mês
de Agosto (período mais seco, com índice igual a zero), e Janeiro (o mais úmido e
que apresenta um excedente de 95mm).
Temperatura do Ar
As maiores temperaturas predominam nos meses de Janeiro, Fevereiro e
Março, com média máxima de 30ºC (média dos últimos 27 anos), e média mínima de
20,4
o
C, sendo os meses de Janeiro, Fevereiro e Março os mais quentes, e os meses
de Junho, Julho e Agosto, os mais frios, conforme indicado no Painel 01.
Umidade Relativa do Ar
A umidade relativa do ar é diretamente proporcional à temperatura. A análise
dos dados indica que maiores índices nos meses de Janeiro e Fevereiro, chegando a
valores de 75%. Em Julho e Setembro encontramos as menores taxas, com índices
oscilando entre 61 e 64%. A média anual está em 69.2%, e estas informações
podem ser vistas no Painel 01.
127
Ventos
A direção preferencial dos ventos na calha do Rio Tibagi durante praticamente
oito meses do ano, é Sudeste/Noroeste, com sentido para Sudeste. Nas estações
mais frias, entre Maio e Agosto, observa-se mudança na direção, passando a soprar
para Leste, com velocidade média de 2,6 m/s, conforme o gráfico do Painel 01.
Precipitação
As chuvas são relativamente bem distribuídas ao longo de todo o ano,
registrando-se média de 1.566,9 mm/ano (média dos últimos 27 anos). O mês de
Dezembro, o mais chuvoso, apresentou média de 217,5 mm. Agosto pode ser
considerado como sendo o mês mais seco, com média de 46,9 mm, conforme o
gráfico do Painel 01.
Evaporação
Os meses com maior grau de evaporação não são os meses mais chuvosos, e
sim os meses que antecedem o verão. As maiores taxas de evaporação estão entre
os meses de Agosto e Outubro, sendo este último o de maior índice (148,3 mm), e o
mês de Junho o de menor índice (78,8 mm), conforme gráfico do Painel 01.
Insolação
A média anual de insolação é de 2.577,2 horas. O mês de Julho recebe a
maior média de horas de sol (232.1 horas), e o mês de Setembro a menor média
(190.3 horas), conforme Painel 01
128
A
B
C
D
E
F
Painel 01A) Temperatura da região de estudo; B) Umidade relativa do ar. Média mensal no período de 1972 a
2000; C- Velocidade média (m/s) e direções preferenciais dos ventos na área de estudo; D) Precipitação média
mensal nos período entre 1972 e 2000.; E) Evapotranspiração mensal média no período entre 1972 e 2000; F)
Insolação média mensal no período entre 1972 e 2000. Fonte: IAPAR (2000)
129
5.5.2. Geomorfologia
Geomorfologia Regional
Segundo Maack (1981), o Paraná está dividido geomorfologicamente em cinco
compartimentos distintos: a Zona Litorânea; a Serra do Mar; o Primeiro Planalto (ou
Planalto de Curitiba); o Segundo Planalto (ou Planalto de Ponta Grossa) e o Terceiro
Planalto (ou Planalto de Guarapuava) - Figura 10.
A região estudada encontra-se em uma área de transição entre os chamados
Terceiro e o Segundo Planalto Paranaense, na área da chamada Serra da Esperança.
Figura 10 -
Regiões naturais
do Paraná. Fonte:
www.pr.gov.br
O Segundo e o Terceiro Planalto do Paraná apresentam estrutura monoclinal,
com inclinação discreta e constante em direção à calha atual do Rio Paraná, sendo
tais feições características de uma seqüência de superposição de camadas dentro de
um contexto de uma bacia sedimentar.
Os relevos gerados nessa situação são sub-tabulares, assimétricos sendo
caracterizados por
cuestas
(escarpas), possuindo uma rocha mais resistente à erosão
130
sobrepondo e protegendo mecanicamente camadas de rochas com uma menor
resistência à erosão.
Estes relevos apresentam, portanto, um lado com um perfil côncavo em
declive íngreme e outro lado com um planalto suavemente inclinado.
Na região de
cuesta
que limita o Terceiro e o Segundo Planalto do Paraná,
possui em seu
front,
a
cornija
constituída pelas rochas vulcânicas da Formação Serra
Geral e o tálus formado pelos arenitos friáveis das formações Pirambóia / Botucatu.
Já a depressão ortoclinal ou subseqüente, que representa o negativo da
cuesta
, que se desenvolve abaixo do tálus, é formada pelos sedimentos do Grupo
Passa Dois, em especial pelas litologias pelíticas e psamíticas da Formação Rio do
Rasto.
O reverso da
cuesta
é o topo do planalto, suavemente inclinado em sentido
oposto ao
front
, sendo diretamente derivado do mergulho das camadas envolvidas.
Também pode ser denominado de reverso estrutural. O reverso da
cuesta
do
Terceiro Planalto é formado pelas rochas da Formação Serra Geral.
Maack (1981) propôs uma subdivisão para o Terceiro Planalto Paranaense
baseada em limites hidrográficos, procurando ao mesmo tempo, agrupar regiões
relativamente homogêneas, levando em conta aspectos tais como, a estrutura, as
modificações locais de mergulho, a seqüência de derrames de lavas, a qualidade e
consistência litológicas e também a formação orográfica e características da
hidrografia.
A região da Serra da Esperança encontra-se fragmentada pelos Rios Tibagi,
Laranjinha, Cinzas, Jacarezinho e Itararé, originando blocos menores o que
diferencia esta unidade das demais, em que a "serra" se apresenta sob a forma de
um
front
contínuo.
Maack (1981) descreve essa região como sendo um bloco relativamente baixo
e cortado por platôs isolados e mesetas pelos Rios das Cinzas, Laranjinha e
Congonhas. O platô, em sua maior elevação exibe declive de 1150 a 300m para o
131
Rio Paranapanema desde a Serra da Esperança, ao sul de São Jerônimo, que é
conhecida como Serra Fria. Ocorrem ainda algumas mesetas isoladas a leste do Rio
Congonhas e entre os Rios Laranjinha e das Cinzas.
Merecem destaque os diques com direção preferencial NW compostos por
rochas básicas relacionadas geneticamente como a Formação Serra Geral, que
cortam todas as rochas envolvidas. Os diques originam elevações retilíneas e
contínuas as quais localmente, podem controlar o relevo.
Maack (1981), salienta ainda que o ingresso do Rio Tibagi no Terceiro Planalto
é marcado por um vale antecedente, penetrando por uma garganta estreita e
profunda.
Geomorfologia da Área de Estudo
Analisando o mapa da Figura 11, verificamos que o relevo da área de estudo é
bastante acidentado sendo marcante o vale do Rio Tigre, o vale do Rio Tibagi, os
terrenos mais elevados localizados no extremo sudeste da área, região da nascente o
Rio Tigre e as áreas mais planas no norte / nordeste da área, região esta de
afloramento da Formação Serra Geral.
Também na mesma figura podemos verificar um maior destaque para os
diques de diabásio na região sudoeste da área onde os mesmos condicionam vales e
morros alinhados.
O vale do Rio Tigre fica especialmente visível nas Figuras 11 e 12, evidenciado
pelas declividades e inclinações pronunciadas.
Analisando o mapa de declividade (Figura 11) verificamos que existem três
domínios distintos. O primeiro é aquele caracterizado por declividades baixas,
normalmente inferiores aos 30%, relevos homogêneos e que domina a porção norte/
132
nordeste e secundariamente porção sudoeste da área de estudo. Estes locais
representam as áreas de afloramento da Formação Serra Geral.
O segundo domínio geomorfológico é aquele que ocorre no sul da área alvo
deste trabalho e é caracterizado por um relevo mais movimentado, onde as
declividades oscilam entre 10% e 60%. Estas áreas estão localizadas nas
proximidades da borda do Terceiro Planalto onde ocorrem diferentes termos
litológicos pertencentes às Formações Serra Geral, Botucatu / Pirambóia e Rio do
Rasto. As maiores elevações identificadas na área de estudo se encontram
justamente nesta porção.
O terceiro e último domínio é caracterizado pelos vales limitados por paredões
verticais onde a declividade atinge valores superiores a 60%. Geologicamente estas
áreas são de transição entre as Formações Botucatu/ Pirambóia e Rio do Rasto.
O Rio do Tigre tem sua origem em nascentes nas proximidades da borda do
Terceiro Planalto, onde a Escarpa da Esperança atinge altitudes próximas aos 1200m
(Figura 12), antes de se precipitar através da escarpa da
cuesta
para o Segundo
Planalto.
Associados aos contatos geológicos, em especial aquele entre os Arenitos
Pirambóia/Botucatu com os argilitos do Rio do Rasto, surgem nascentes as quais
originam os primeiros canais de drenagem permanente.
A montante da bacia, onde ocorrem porções embasadas por riodacitos,
folhelhos e arenitos, o relevo apresenta-se suavemente ondulado, com vertentes
alongadas.
Conforme as rochas de menor resistência á erosão vão predominando, os rios
iniciam o entalhe, segundo os planos de descontinuidades existentes nas rochas. Tal
fenômeno é mais acelerado nos arenitos e argilitos, sendo mais lentos nos basaltos e
arenitos silicificados. Os vales tornam-se encaixados (Figuras 13 e 14).
Formas de relevo tabulares estão normalmente associadas com derrames
localizados ou restos de derrames não erodidos da Formação Serra Geral. Desta
133
feita, as encontras são escarpadas e abruptas sendo o contato entre os basaltos e
arenitos facilmente reconhecido. Tais encostas íngremes apresentam grande
vunerabilidade a movimentos de massa, tornando-se assim uma área de risco
geológico.
No geral, o vale do Rio Tigre possui uma forma em "V", e gera assimetrias
quanto à distribuição de seus afluentes. Tal assimetria deve-se ao fato de variações
geológicas.
Quando os rios atingem os argilitos e siltitos da Formação Rio do Rasto, a
erosão se processa com mais facilidade e os vales se alargam, ocasionalmente
apresentando fundo chato, e, à medida que tal fato ocorre, dá-se o recuo das
escarpas.
Uma outra característica marcante na área é a constante presença de cristas
alongadas orientadas segundo NW.
Tais feições são originadas pelos diques de rochas básicas, as quais são mais
resistentes à erosão, especialmente quando comparados com os arenitos, siltitos e
argilitos. Os diques são mais comuns na porção sul / sudoeste da área de estudo.
Nas porções à jusante, o Vale do Tigre apresenta drenagem encaixada e
orientada pela estrutura geológica. Verificam-se encostas íngremes e escalonadas,
topos aplainados com suaves declives em direção à calha fluvial principal. Os trechos
com baixos terraços aplanados e várzeas nos fundos de vale, são marcados por
afloramentos areníticos. Marcado pelas escarpas abruptas com desníveis de até 200
metros, o Vale do Tigre, é o de maior expressão no Município de São Jerônimo da
Serra.
134
Figura 11 – Mapa de Declividades da área de estudo.
135
Figura 12 – Mapa Hipsométrico da área de estudo.
136
N
Figura 13 – Representação tridimensional do Vale do Rio Tigre em sua porção média. Destaque
para as áreas com cultivo temporário (em tons de roxo) localizadas a norte e nordeste e as áreas
de pastagens situadas mais a oeste. Observar ainda o caráter meandrante do Rio do Tigre. Figura
sem escala e sobre-elevada três vezes.
N
Figura 14 – Representação tridimensional da área de estudo.
137
Formas Cársticas em São Jerônimo da Serra
Na área de estudo foram identificadas as seguintes formas cársticas:
Cavernas e Dolinas
As cavernas e dolinas são as formas mais comumente aceitas como indicativas
da dissolução da rocha e como diagnósticas de relevo cárstico.
Na área de estudo foram localizadas diversas cavernas e algumas dolinas,
sendo que em alguns casos, as dolinas estavam associadas às cavernas.
As dolinas identificadas possuem características e dimensões similares às
observadas em rochas carbonáticas. Também foram caracterizadas dolinas de
abatimento.
Espeleotemas
Os espeleotemas são feições extremamente comuns em cavernas carbonáticas
e eles são aceitos como provas incontestes da ocorrência de dissolução e
precipitação de minerais carbonáticos.
Com os espeleotemas compostos por sílica tais afirmações continuam sendo
verdadeiras.
Nas cavernas estudadas foram identificados espeleotemas diversos tais como
estalactites, estalagmites, corais, couve-flor, dentre outros (vide fotografias do
capítulo referente às cavernas de São Jerônimo da Serra).
138
Caneluras de Dissolução e Canais de Escoamento de Drenagens
Locais onde as águas de escoamento superficial escoam com maior freqüência
originam os chamados canais de escoamento superficial.
Também foram identificadas caneluras de dissolução as quais representam
uma série de depressões paralelas formadas pela dissolução da rocha e como pela
remoção mecânica de fragmentos líticos.
Bacias de Dissolução
Na área de estudo foram identificas pequenas bacias centrípetas e de formato
circular. Em alguns casos chega a formar lagos nas partes mais baixas. A paisagem é
similar a aquela formada por algumas dolinas em áreas carbonáticas.
Tais feições morfológicas são citadas por Wray (1999).
Sumidouros e Drenagens Subterrâneas
Em praticamente todas as cavernas estudadas foi identificada uma drenagem
associada. Trata-se de lagos e corpos de água corrente de diferentes dimensões e
volumes.
Em algumas situações o volume é tal que a água é aproveitada para o
abastecimento de diversas casas e até mesmo de parte da cidade de São Jerônimo
Serra.
Em pelo menos duas situações foram identificados sumidouros, ou seja, locais
onde cursos d’água penetram na rocha aparecendo novamente dezenas de metros à
frente.
139
5.5.3. Solos
Segundo o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Paraná (1987),
predominam no Estado do Paraná 17 diferentes tipos de solos. Os mais famosos são
aqueles que cobrem o Terceiros Planalto Paranaense pela sua alta fertilidade natural.
O Segundo Planalto não apresenta solo com tanta fertilidade natural, são solos
menos profundos e menos férteis.
Os principais tipos pedológicos que ocorrem na região em questão são (Figura
15):
a) Latossolos
Os latossolos dominam a região noroeste, norte e sudeste da bacia do Rio
Tibagi. Também encontrados na sua parte central, porém em associação com a terra
roxa estruturada.
Na maioria das situações estes solos se encontram em área de relevo plano a
suavemente ondulado. A fertilidade varia, sendo na região norte e nordeste
encontrados solos de caráter eutrófico, derivado de rochas do derrame do
trapp
. Na
região sudeste os solos são de caráter ático, derivados de rochas sedimentares.
Tais características determinam usos diversos. Na área norte e noroeste
encontram-se áreas de lavoura como soja, trigo e café. A área sudeste, onde
ocorrem os latossolos com reflorestamento, os solos apresentam uma erodibilidade
pequena.
b) Podzólitos
Os podzólitos associados aos solos litólicos abrangem a maior parte da bacia
denominando principalmente a região leste, centro e oeste.
140
As características básicas destes solos são o horizonte “B” textural que reduz a
infiltração de água associada a relevo ondulado. Tais fatores provocam nos solos
uma alta erodibilidade.
Os solos litólicos também possuem alta erodibilidade, pois apresentam
horizontes “A” pouco profundo (20cm), contato lítico ou litóide e na maioria dos
casos grande declividade.
Nos levantamentos de uso do solo, verifica-se que esta área é denominada
por campo/pastagem e atividades agropecuárias. Devido a pouca proteção que estas
atividades oferecem aos solos, a erodibilidade destes solos aumenta, principalmente
decorrente do manejo inadequado.
c) Brunizem
Outras classes de solos tais como brunizem avermelhado associado a solos
litólicos, terra roxa estruturada e solos litólicos com o caráter eutrófico, na maior
parte da área, apresentam alta erodibilidade pois estão associados com relevo
ondulado a forte ondulado e horizonte “B” textural. Todavia estes solos se encontram
associado à presença de cobertura florestal, condição que reduz seu potencial em
sofrer erosão. Em áreas de pastagens, em geral mal manejadas, estes riscos são
maiores.
141
Figura 15 - Mapa dos solos área de estudo. Fonte: Senagro (1998) modificado.
142
5.5.4. Aspectos Geológicos
5.5.4.1 Geologia Regional
Estratigrafia Regional
A Bacia Sedimentar do Paraná é uma extensa depressão deposicional situada
na parte centro-leste do continente sul-americano, cobrindo cerca de 1.600.000Km
2
.
Destes, 1.000.000Km
2
localizam-se no território brasileiro (SCHNEIDER
et al
., 1974).
Abrange parte dos Estados de Goiás e Minas Gerais e grande parte dos
Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso.
Presume-se que o centro da bacia alcance entre 4500 a 5000 metros de espessura.
É uma bacia intracratônica simétrica, preenchida por sedimentos do
paleozóico, mesozóico, lavas basálticas e, localmente, rochas cenozóicas.
De acordo DNPM (1984), a sedimentação da bacia ocorreu num ambiente
pouco perturbado por fenômenos tectônicos e, devido a tal fato, as unidades
litoestratigráficas apresentam grande continuidade lateral, com pequenas variações
faciológicas e são, geralmente subparalelas às linhas do tempo. No entanto, este
fato não é verificado nas formações depositadas sob influência glaciais ou com as
áreas marginais da bacia. Nas áreas marginais houve subsidência muito lenta em
relação ao centro da bacia e os processos erosivos nos episódios de soerguimento
foram mais intensos, foi encontrado um registro do tempo geológico muito
incompleto.
De acordo com Mineropar (2001), o empilhamento litoestratigráfico da Bacia
do Paraná é o apresentado na Tabela 07 O Mapa Geológico do Paraná pode ser
visualizado na Figura 16.
143
Figura 16 – Mapa Geológico do Estado do Paraná.
Ainda considerando Mineropar (2001), apresentamos a seguir, alguns dados
sobre as unidades litoestratigráficas citadas na Tabela 07.
144
Tabela 07. – Tabela Litoestratigráfica da Bacia do Paraná
Era Período Grupo Formação Principais Rochas
65 M.a Adamantina Arenitos, siltitos, e lamitos
marrons
Mesozóico Cretáceo Bauru Santo
Anastácio
Arenitos e lamitos
Caiuá Arenitos arroxeados
Jurássico 140 M.a São Serra Geral Basaltos, Riolitos e Riodacitos
-Triássico
Bento Botucatu e
Pirambóia
Arenitos e siltitos
ocasionalmente conglomerados
230 M.a Passa Rio do Rasto Siltitos e arenitos verdes ou
vermelhos e calcarenitos
Dois Teresina Siltitos e calcários
Serra Alta Lamitos e flolhelhos
Guatá Irati Argilitos e folhelhos
pirobetuminosos
Permiano Palermo Siltitos acinzentados
Paleozóico Rio Bonito Arenitos e siltitos acinzentados,
calcários e camadas de carvão.
Rio do Sul Folhelhos e siltitos
acinzentados, arenitos e
diamictitos.
Itararé Mafra Arenitos, siltitos e ritmitos.
Campo do
Tenente
Arenitos grosseiros, siltitos e
diamictitos.
280 M.a Ponta Grossa Folhelhos e siltitos
acinzentados
Devoniano 96 M.a Paraná Furnas Arenitos e siltitos
Fonte: Mineropar (2001) - modificado
Grupo Paraná
Formação Furnas: Este formação foi depositada em ambiente aluvial e litorâneo,
sendo constituída por arenitos médios a grosseiros, subordinadamente ocorrem
arenitos conglomeráticos e siltitos esbranquiçados. As estruturas mais comuns são
as estratificações cruzada e horizontal
Formação Ponta Grossa: A Formação Ponta Grossa é composta por depósitos
litorâneos e de plataforma. Suas litologias mais comuns são os folhelhos e siltitos
acinzentos, localmente betuminosos, com intercalações de arenitos muito finos,
esbranquiçados. São comuns estruturas como laminação paralela, ondulada e
flaser
.
145
Grupo Itararé
Formação Rio do Sul: As rochas da Formação Rio do Sul foram formadas em
ambientes litorâneos de plataforma periglacial e deltáica. Suas litologias compõe-se
de folhelhos e siltitos cinzentos dos Membros Passinho e Guaraúna, arenitos finos a
médios, esbranquiçados, diamictitos e raras camadas de carvão do Membro Ribeirão
Novo. As estruturas mais freqüentes são a laminação paralela, ondulada,
microcruzada e convoluta.
Formação Mafra: Constituída por depósitos de planície litorânea e de plataforma
periglacial, a Formação Mafra tem como litologias os arenitos finos a grosseiros de
coloração esbranquiçados e amarelados bem como os siltitos e ritmitos. São comuns
as estratificações cruzada, horizontal, paralela rítmica e ondulada.
Formação Campo do Tenente: As litologias dessa unidade tiveram origem em
depósitos flúvio-glaciais, sendo constituídas por arenitos grosseiros, de coloração
avermelhada. São comuns os siltitos, ritmitos e diamictitos, incluindo aos arenitos
Vila Velha e da Lapa. Estas rochas normalmente apresentam estratificações cruzada
horizontal e camadas contorcidas.
Grupo Guatá
Formação Palermo: As rochas pertencentes à Formação Palermo foram geradas em
ambiente de plataforma epinerítica e planície litorânea. Litologicamente é
constituída por siltitos cinzentos, os quais apresentam laminações paralelas,
flaser
e
bioturbação.
Formação Rio Bonito: Esta unidade é constituída por arenitos, siltitos, folhelhos,
camadas de carvão e calcários, sendo subdividida nos Membros Siderópolis
(formados por arenitos finos originados em planície litorânea), Paraguaçu (depósitos
de planície de marés e plataforma, constituído por arenitos e siltitos cinzentos,
esverdeados e amarronzados, intercalações de níveis calcários, micríticos e
estromatolíticos. Apresenta laminação plano-paralela e ondulada, microestratificação
146
cruzada e bioturbação) e Triunfo (composto por depósitos flúvio-deltáicos de
arenitos cinzentos esbranquiçados, finos a grosseiros e níveis conglomeráticos,
siltitos, folhelhos carbonosos e estratificação cruzada, marcas onduladas e camadas
de carvão).
Grupo Passa Dois
Formação Irati: A Formação Irati é subdividida nos Membros Taquaral e Assistência.
O Membro Taquaral, formado em plataforma rasa, é constituído por argilitos e
folhelhos cinzentos com laminação paralela. Já o Membro Assistência, foi depositado
em ambiente de bacia restrita, sendo formado por folhelhos pretos,
pirobetuminosos, com intercalações de calcário e laminação paralela.
Formação Serra Alta: As rochas pertencentes a esta unidade foram depositadas em
plataforma epinerítica, sendo compostas por de lamitos e folhelhos cinza escuros,
microlaminados ou maciços.
Formação Teresina: Esta unidade é constituída por siltitos acinzentados com
intercalações de calcário micrítico e estromatolítico, gerados em ambiente de
planície de marés e plataforma epinerítica. Apresenta laminação paralela, ondulada
e flaser.
Formação Rio do Rasto: A Formação Rio do Rasto é subdividida nos Membros Morro
Pelado e Serrinha. O Membro Morro Pelado foi depositado em ambiente fluvial e de
planície deltáica, sendo composto por siltitos e argilitos avermelhados com
intercalação de arenitos finos. Por sua vez, o Membro Serrinha foi desenvolvido em
ambiente de frente deltáica e planície de marés. É formadas por siltitos e arenitos
esverdeados muito finos, micríticos e calcarenitos.
147
Grupo São Bento
Uma vez terminada a deposição da Formação Rio do Rasto, sobreveio um
ciclo erosivo de proporções continentais. Tal evento transcorreu durante o Triássico
Médio. Após, tiveram este evento, foram depositadas as rochas que compõem o
Grupo São Bento, compreendendo:
Formações Pirambóia e Botucatu: Trata-se de seqüências sedimentares continentais
formadas no decorrer do Triássico-Jurássico. Litologicamente os termos mais
freqüentes são os arenitos avermelhados, bem selecionados depositados em
ambientes fluviais e desérticos respectivamente. As principais estruturas
identificadas nestas litologias são as estratificações cruzadas de grande porte.
Formação Serra Geral: Esta unidade, de idade jurássica-cretácica, é constituída por
extensos derrames de rochas ígneas, onde os basaltos são os termos
predominantes. O Membro Nova Prata é formado por rochas ígneas cuja
composição varia de básicas a ácidas (basaltos pórfiros, dacitos, riodacitos e
riólitos). As atividades tectono-magmáticas que ocorreram durante o Mesozóico
relacionadas com a reativação do Arco de Ponta Grossa, são representadas
regionalmente por um enxame de diques preenchidos por diabásio, diorito, diorito
pórfiro e quartzo diorito.
Grupo Bauru
Uma vez findado o vulcanismo gerador da Formação Serra Geral, deu-se a
deposição, no final do Cretáceo, dos sedimentos que compõe o Grupo Bauru, o qual
é subdividido da base para o topo nas Formações Caiuá, Santo Anastácio,
Adamantina
Formação Caiuá: A Formação Caiuá é constituída por depósitos originados em
ambientes eólico e fluvial, sendo representada por arenitos finos a médios, com tons
arroxeados. Normalmente estas litologias apresentam estratificações cruzadas de
grande porte e estratificação plano paralela.
148
Formação Santo Anastácio: A deposição da Formação Santo Anastácio se deu em
ambiente de planície aluvial. Esta unidade litoestratigráfica é formada por arenitos
muito finos a médios, com raros leitos de lamitos avermelhados. Suas estruturas
sedimentares mais comuns são estratificações cruzadas.
Formação Adamantina: Esta unidade foi depositada em ambiente de planície aluvial,
sendo composta por arenitos muito finos a finos, com bancos de lamitos e siltitos.
Estes litotipos apresentam estratificações cruzada e plano-paralela.
Formação Marília: A Formação Marília é constituída de arenitos grosseiros a
conglomráticos, com grãos angulosos e teor de matriz variáveis, ricos em calcários e
nódulos carbonáticos. Esta formação só ocorre na porção centro sul do Estado de
São Paulo e está ausente no Estado do Paraná.
Geologia Estrutural e Tectônica Regional
Estruturalmente a Bacia do Paraná é marcada por zonas de cisalhamento
rúptil (falhas) e fraturas com direções predominantemente segundo NE/SW e
NW/SE.
Mais raro, mas não de menor importância, é a direção E/W. As estruturas
orientadas segundo esta direção normalmente representam planas abertas sendo
esta direção usada como critério para locação de poços tubulares profundos posto
que, os poços locados nas proximidades das mesmas, via de regra, apresentam
boas vazões.
Uma quarta direção também de grande importância, porém pouco conhecida,
é a direção N/S. Esta direção é representativa especialmente no Norte do Paraná
onde condiciona vales de rios de grande porte, como por exemplo, o Rio Tibagi.
Os elementos estruturais citados são lineares de origem tectônica e
condicionam a bacia sedimentar (alguns deles estavam ativos durante a
sedimentação).
As falhas podem ocorrer isoladas ou compor feixes paralelos ou sub-
paralelos. Segundo diferentes autores, como por exemplo, Celligoi (1993), estes
149
planos representam reflexos de estruturas mais profundas e antigas as quais
sofreram reativações recorrentes durante a evolução da Bacia Sedimentar do
Paraná.
Na região de estudo foram identificadas principalmente fraturas diversas.
Conforme destaca Celligoi (1993), as fraturas apresentam boa regularidade por toda
a região afetando as rochas em geral nos mais diferentes níveis. Foram observadas
fraturas verticalizadas e horizontalizadas estando geneticamente relacionadas com
processos relativos ao resfriamento magmático, alívio de carga e ainda por
processos tectônicos.
O mesmo autor caracterizou quatro direções preferenciais de fraturas. São
elas: N-S, N45W, N50E e N83E. Celligoi (1993) salienta que, via de regra, as
estruturas de direção NS e de pequeno porte e fechadas enquanto que as estruturas
orientadas segundo EW são abertas se prolongando por vários quilômetros.
A forma superficial côncava da Bacia Sedimentar do Paraná deve-se ao
soerguimento flexural denominado Arqueamento de Ponta Grossa.
“As extensas deformações estruturais tais como arcos, flexuras, sinclinais e
depressões, posicionadas ao longo das margens da bacia, são classificadas como
arqueamentos marginais, arqueamentos interiores e embaciamentos”.(Mineropar,
2003).
Os mesmos autores ressaltam a importância dos grandes alinhamentos
estruturais, a maioria com direção NW/EW, os quais influenciaram ao longo da
história evolutiva da bacia, as áreas de maior subsidência e conseqüentemente, com
maior sedimentação. Estes alinhamentos influenciaram ainda o magmatismo que
afetou a bacia.
O atual eixo da bacia é estrutural, característica essa adquirida no final do
mesozóico em função do soerguimento dos arcos marginais.
No Paraná, distingue-se o Arco de Ponta Grossa o qual, em mapa, fornece
uma espécie de curvatura às rochas envolvidas, afetando até mesmo as rochas
150
metamórficas do embasamento pré-cambriano. O Arco de Ponta Grossa ocupa uma
área de grande importância estrutural no desenvolvimento da Bacia posto que o
flanco norte dessa estrutura abriga o alinhamento tectônico do Paranapanema,
estrutura esta que separou áreas com taxas de subsidência diferentes. Tal fato
originou a Sub-Bacia do Alto Paraná (São Paulo, Minas Gerais e Goiás) e Sub-Bacia
Paranaense-Catarinense (Paraná e Santa Catarina).
As principais estruturas tectônicas (falhas e fraturas) na região do Paraná
obedecem a duas direções principais: A primeira e talvez a proeminente, de direção
NW (noroeste) sendo paralela ao eixo do Arco de Ponta Grossa. Possivelmente a
origem destas fraturas está no desenvolvimento do referido arqueamento. A
segunda direção é o norte / nordeste (N/NE). Esta direção apesar de ser menos
freqüente, origina importantes feições geomorfológicas. São freqüentes ainda
estruturas relacionadas com a intrusão dos diques de diabásio, comuns na região.
5.5.4.2. Geologia da Área de Estudo
Litoestratigrafia
Em São Jerônimo da Serra foram identificadas rochas pertencentes à
Formação Rio do Rasto (Grupo Passa Dois) e as formações Pirambóia, Botucatu e
Serra Geral (Grupo São Bento), unidades estas pertencentes à Bacia Sedimentar do
Paraná (Figuras 17 e 18).
151
Grupo Passa Dois
A sedimentação permiana encontra-se representada na área pela Formação
Rio do Rasto. Esta unidade encerra o longo ciclo sedimentar e marca a mudança no
tipo de sedimentação, que passa de síltico-argilosa, característica dos mares
epicontinentais no permiano, para a sedimentação arenosa, de ambientes
desérticos, reinantes durante o triássico-jurássico.
Formação Rio do Rasto
A Formação Rio do Rasto envolve uma seqüência sedimentar descrita
inicialmente que ocorre nas cabeceiras do Rio homônimo ao longo da estrada Lauro
Müller em São Joaquim (antiga Estrada Nova), em Santa Catarina (SCHNEIDER
et
al.
, 1974).
Litologicamente, a Formação Rio do Rasto é constituída por siltitos com
intercalações contínuas lenticulares de arenitos (Painel 02). Apresentam coloração
muito variada, predominando termos vermelhos-rosados, cinzentados, esverdeados
e arroxeados (Painel 02).
Gordon Jr (1947), propôs a subdivisão em dois membros: Serrinha (inferior)
e Morro Pelado (superior), que foi adotada por Schneider
et al.
(1974).
Na porção inferior da unidade predominam siltitos com intercalações de
arenitos, em forma de camadas contínuas (Painel 02). Os arenitos são normalmente
maciços, ocorrendo também bancos com estratificações cruzadas (Painel 02)
acanaladas de pequeno a médio porte. Estas intercalações arenosas possuem
espessuras que variam de uns poucos centímetros até cerca de 1,5 a 2m.
Apresentam granulação fina a muito fina, com ocorrência menos comum de grãos
médios. São normalmente mal selecionadas argilosas chegando em poucos casos a
apresentar seleção regular. Os grãos médios quando presentes, são sub-angulares.
Na porção superior da unidade, ocorrem siltitos predominantemente
argilosos, e arenitos distribuem-se de modo aproximadamente eqüitativo. Nela as
intercalações arenosas são predominantemente lenticulares, com nítido
152
acunhamento, extensão de até dezenas de metros e espessuras de até 2 cm
(excepcionalmente maiores). Apresentam quase sempre estratificações cruzadas
acanaladas de médio a grande porte, sendo os bancos maciços menos comuns.
Conforme DNPM (1984), a seção inferior consiste de siltitos, argilosos e
arenitos finos, bem selecionados, esverdeados, arroxeados e, por vezes,
avermelhados. Localmente, desenvolvem-se bancos calcíferos, alguns dos quais
oolíticos, com abundantes fragmentos de conchas. As camadas síltico-argilosas
apresentam laminação paralela, ondulada e
flaser
. Em alguns bancos calcíferos
desenvolvem-se estruturas estromatolíticas.
A seção superior é constituída de arenitos vermelhos, arroxeados,
amarelados, esbranquiçados, finos, com intercalações de argilito e siltito vermelho-
arroxeados. Localmente esses argilitos e siltitos são calcíferos. Estratificação cruzada
acanalada, laminação cruzada e paralela são as estruturas sedimentares mais
comuns. Acunhamento de camadas e lenticularidade de corpos arenosos é uma das
características dessa seção.
A seção superior, membro Morro Pelado, no flanco leste da bacia, aflora, de
maneira contínua, desde o Rio Grande do Sul até a região de São Jerônimo da
Serra. Em superfície, sua espessura está na ordem de 200-250m.
A Formação Rio do Rasto assenta concordante e transicionalmente sobre as
rochas da formação Estrada Nova. Lateralmente, a seção inferior interdigita-se com
a Formação Corumbataí. Seu contato superior com a Formação Botucatu é
discordante (DNPM, 1984).
Conchostráceos e fragmentos de plantas (Painel 02) são os restos fósseis
mais comuns no membro Morro Pelado. O conteúdo fossilífero indica idade
Permiano Superior para a unidade.
153
Figura 17 – Mapa Geológico simplificado
da área de estudo. Fonte: MINEROPAR
(2003) – modificado
LEGENDA DO MAPA GEOLÓGICO
GRUPO SÃO BENTO
FORMAÇÃO SERRA GERAL: Vulcânicas básicas
toleíticas, com basaltos maciços e amigdaloidais
intercalados c/ arenitos finos.
VULCÂNICAS ÁCIDAS DO TIPO CHAPECÓ: Dacitos,
Riolitos e Riodacitos.
FORMAÇÃO BOTUCATU E PIRAMBÓIA: Arenitos finos
a médios esbranquiçados e bancos de siltitos
avermelhados.
GRUPO PASSA DOIS
FORMAÇÃO RIO DO RASTO: Siltitos e argilitos
intercalados com arenitos finos.
FORMAÇÃO TERESINA: Siltitos acinzentados com
intercalações de calcário micrítico e estromatolítico.
Falha e/ou fratura inferida.
Falha normal com movimentação determinada
(A=bloco alto, B=bloco baixo).
Diques sem expressão de espessura.
Limíte de Município.
154
Figura 18 – Mapa Geológico da área de estudo
155
De acordo com Rohn
et al
. (1997), o Membro Morro Pelado representa
paleoambientes mais francamente lacustres, ainda com oscilações do nível de base
e influência de ondas de tempestade, porém com maior aporte fluvial e condições
climáticas um pouco mais úmidas. Os depósitos de desembocadura nos lagos são
mais conspícuos, representado eventos de rápida sedimentação de grandes volumes
de sedimentos após chuvas torrenciais. Rumo ao topo da Formação Rio do Rasto
também aumenta a freqüência de depósitos eólicos, sugerindo nova fase de gradual
aridização.
O registro paleobotânico mais rico está no Membro Serrinha, devido às
condições bioestratinômicas provavelmente mais adequadas (deposição de vegetais
nas regiões costeiras dos lagos, transportados por Rios), e talvez por condições
climáticas ligeiramente mais úmidas (vegetação original mais densa e diversificada).
Ao contrário, no Membro Morro Pelado, o conteúdo paleobotânico (Painel 02) é
monótono e pouco diversificado, constituindo, juntamente com os arenitos eólicos,
uma forte evidência da gradual aridização no final do Permiano (RÖSLER, 1976;
ROHN 1994, 1995).
Na área de estudo a Formação Rio do Rasto aflora em baixos topográficos,
como por exemplo, ao longo do vale do Rio Tigre (Figura 18).
Grupo São Bento
O Grupo São Bento data de idade juro-cretácea. Este grupo constitui-se pelos
arenitos fluviais da Formação Pirambóia, pelos arenitos eólicos da Formação
Botucatu e pelas lavas intrusivas e arenito intertrapianos da Formação Serra Geral.
Formação Pirambóia
A Formação Pirambóia constitui-se basicamente de arenitos, arenitos
conglomeráticos e raros níveis de argilito. Na área de estudo, a Formação Pirambóia
normalmente é representada por arenitos esbranquiçados facilmente desagregados.
156
As rochas desta unidade podem estar silicificadas, o que proporciona certa
resistência à erosão. Esta unidade litoestratigráfica aflora por toda a área de estudo.
Todavia, dado à natureza deste trabalho, a mesma não foi objeto de mapeamento
específico, sendo apresentada no mapa da Figura 18 em conjunto com a Formação
Botucatu.
Na porção inferior ocorrem arenitos esbranquiçados, mal selecionados, com
grãos finos predominantes e médios subordinados, apresentando formas sub-
angulares e sub-arredondadas, com constituição essencialmente quartzosa e pouca
quantidade de matriz siltico-argilosa. Podem ocorrer níveis conglomeráticos com
fragmentos de siltitos argilosos com pelotas de argila.
Na parte superior são encontrados arenitos grossos com níveis
conglomeráticos. Esses arenitos são amarelados rosados e/ou esbranquiçados, mal
selecionados, com grãos desde finos a muito grossos e, subordinadamente são
quartzosos, esféricos e arredondados. Os mais finos são sub-angulosos, quartzosos
em sua maioria, podendo ocorrer pequena quantidade de mica ou opacos. Os seixos
constituem-se essencialmente de quartzo hialino e mais raramente de quartzo
leitoso ou rosado, ocorrem às vezes dispersos em meio aos estratos.
Localmente ocorrem bancos de estratificação cruzada de grande porte, com
níveis de laminação plano-paralela, raras lentes de argilitos siltosos vermelhos, de
espessuras centimétricas a decimétricas podem ocorrer.
O contato inferior com as Formações Corumbataí e Rio do Rasto é marcado
por discordância. O contato superior com a Formação Botucatu é concordante.
Quanto à idade e origem da formação, até o momento não foram
encontrados elementos fósseis que a definam com clareza. Todavia, as
características observadas em campo, permitem concordar com Caetano -Chang
(1993) que postula que a Formação Pirambóia teria se depositado em um ambiente
formado por lençóis de dunas eólicas com interdunas úmidas, intercalados com
depósitos fluviais. Tal idéia também é compartilhada por Strugale
et al.
(2004).
157
A idade da Formação Pirambóia é dada por correlação com as formações
Rosário do Sul, com fósseis de idade triássica superior e com a Formação Botucatu,
datada do juro-cretáceo. Soares (1975), in DNPM (1984), situa a Formação
Pirambóia entre o triássico inferior e o jurássico superior.
Formação Botucatu
O termo Botucatu foi introduzido na Bacia Sedimentar do Paraná por Campos
(1889). Esta unidade litoestratigráfica é constituída por arenitos avermelhados e
esbranquiçados (Painel 02), grãos finos a médios, bimodais, arredondados e bem
selecionados. Apresenta estratificação cruzada tabular de grande porte, os estratos
são em geral bem laminados (Painel 02), ocorrendo com freqüência lâminas de
diferentes granulometrias.
Sua mineralogia principal é quartzosa, ocorrendo como acessórios minerais
opacos, moscovita, minerais pesados e até fragmentos de quartzito. Em grande
parte estes arenitos são silicificados, podendo o cimento representar mais de 30%
na sua constituição. Esta cimentação dá aos arenitos, grande resistência à erosão.
São comuns as estratificações cruzada tangencial, plano-paralela e cruzada-
acanalada (Painel 02).
A unidade raramente ultrapassa 100m de espessura em ocorrência na bacia.
De acordo com o que foi observado em campo, a Formação Botucatu possui
duas porções distintas: a porção superior que apresenta características de deposição
em ambienta desértico (dunas) e a porção basal que por sua vez apresenta
evidências de ter sido depositada em ambiente fluvial, possivelmente resultado do
escoamento superficial de águas de chuvas torrenciais (a chamada Fácies Torrencial
de Soares, 1973). Tais idéias são compartilhadas por Caetano – Chang (1993) e
Strugale
et al.
(2004).
O contato inferior é discordante com o embasamento e com as Formações
Furnas, Ponta Grossa, Aquidauana, Corumbataí, Rio do Rastro e Rosário do sul. O
158
contato com a Formação Pirambóia tem sido considerado concordante, mas a
possibilidade desta relação ser discordante deve também ser considerada. O contato
superior com a Formação Serra Geral é discordante.
As características litológicas e sedimentares da unidade evidenciam deposição
eólica em ambiente desértico, sendo raros os depósitos lacustres.
Não foram encontrados restos fósseis na Formação. A idade juro-cretácea é
atribuída à unidade, por relações estratigráficas, pois está situada entre os derrames
basálticos do juro-cretáceo e a Formação Rosário do Sul, do triássico médio a
superior.
Formação Serra Geral
De acordo com DNPM (1984), o magmatismo mesozóico recobre mais de
1.200.000 Km
2
nos Estados do sul e centro sul do país, igualmente, o noroeste do
Uruguai, nordeste da Argentina e sudeste do Paraguai.
As espessuras chegam a alcançar mais de 1000m em certos locais. O
vulcanismo basáltico é o mais extenso, estando disseminado por toda a Bacia
Sedimentar do Paraná.
Os derrames intermediários também se distribuem amplamente e são
encontrados na bacia, embora em espessura e extensões menores do que a dos
basaltos.
O vulcanismo de filiação ácida abrange uma extensa área do Rio Grande do
Sul, chegando a cobrir uma superfície de 80.000Km
2
. As maiores espessuras
registradas são de 350 metros na região oriental do estado com até quatro (4)
espasmos superpostos, enquanto na parte ocidental restringe-se a 40 metros, com
uma única corrida de lava. No Estado do Paraná, as ocorrências de vulcânicas ácidas
são descontínuas e bastante afetadas por processos erosivos.
159
O pacote vulcânico mesozóico localiza-se acima da Formação Botucatu, sendo
freqüentes lentes intertrapianas de arenitos correspondentes a esta unidade nos
primeiros derrames basálticos. Nas porções do topo, são comumente encontradas,
brechas arenosas intercaladas.
A estratigrafia da Formação Serra Geral pode ser considerada bem definida,
coincidindo os derrames com a evolução projetada a partir dos estudos de
geocronologia. Os derrames de natureza basáltica são localizados na base da
seqüência vulcânica, seguido de manifestações de natureza intermediária que
mantém certa contemporaneidade com as primeiras lavas ácidas. Estas lavas irão
representar o ciclo final, embora altimetricamente, possam ser observadas lado a
lado com os derrames de natureza intermediária, seja por condicionamento
tectônico, seja por relevo.
A Formação Serra Geral apresenta em sua litologias desde basaltos até
rochas ácidas do tipo riolito.
Basaltos – quase sempre apresentam estrutura microcristalina, exibem
arranjo intergranular ou sub-ofítico, havendo também tipos porfíriticos (Painel 02). A
composição mineralógica consiste essencialmente em plagioclásio e piroxênio, com
porções menores de magnetita. Intercrescimentos micrográficos, vidro intersticial
(obsidiana – Painel 03), quartzo, apatita e anfibólio são constituintes menores, o
último quase se restringe aos diabásios, juntamente com olivina. Na área de estudo
foram identificados apofilita, estilbita, natrolita, gyrolita, heulandita, pectolita,
minerais de cobre, quartzo (ágata e calcedônia) e argilo-minerais são registrados
em amídalas (Painel 03).
Vulcânicas ácidas – a composição varia de dacitos a riolitos (Painel 02). As
rochas mais características possuem coloração cinza e diáclases sub-orizontais bem
desenvolvidas. Estas estruturas atingem dezenas de metros de espessura.
Apresenta arranjo cristalino porfíritico, consistindo de massa sub-vítrea ou de
160
finíssimos intercrescimentos complexos de quartzo e feldspato, às vezes
micrográficos e esferolíticos, havendo abundantes micrólitos de plagioclásio por
proporções menores de piroxênio e magnetita, andesina e pigeonita.
Grandes fenocristais de plagioclásio com até 15mm de comprimento podem
ser encontrados em algumas rochas com filiação ácida. Derrames deste tipo
ocorrem na barragem do Rio Passo Fundo (RS), Vargeão e Chapecó (SC) e
Guarapuava (PR).
Houve uma tentativa em dividir a Formação Serra Geral em membros, onde
as vulcânicas ácidas foram denominadas como Membro Nova Prata, mas esta
proposta não teve uma boa aceitação. Segundo Pinese (1989), o termo mais usado
atualmente, é o de vulcânicas ácidas do tipo Chapecó, para aquelas acima do
alinhamento do Rio Piquiri.
Vulcânicas intermediárias – caracterizam-se por rochas com natureza e
composição transicionais entre os extremos básicos e ácidos. Varia entre o quartzo-
andesitos e quartzo-traquitos, predominando latitos. Possuem arranjo cristalino
porfírico, sem orientações dos indivíduos, a mineralogia está mais próxima das
rochas ácidas, havendo menor incidência de intercrescimentos quartzo-feldspáticos
na matriz, que apresenta abundantes micrólitos de plagioclásio.
Em São Jerônimo da Serra ocorrem basaltos, dacitos pórfiros e diabásios
(Painel 02). Também foram identificadas brechas ígneas e bombas vulcânicas
relacionadas com esta unidade (Painel 02).
Segundo DNPM (1984), foram efetuados mais de 70 datações
geocronológicas, nas rochas vulcânicas da Formação Serra Geral. Na maioria dos
casos, os resultados foram consistentes entre si. Foi assim possível estabelecer, um
panorama da evolução do magmatismo mesozóico da Bacia do Paraná.
De acordo com DNPM (1984), as primeiras manifestações são as basálticas e
datam de idades situadas entre 130 e 150 m.a. Nas manifestações de natureza
161
intermediária, inclusive as que originaram os pórfiros gigantes, as idades são
correspondentes aos intervalos de 123-130 m.a. As últimas manifestações são de
composições mais ácidas, com idades de 118 a 125 m.a..
O contato inferior da Formação Serra Geral com os arenitos da Formação
Botucatu é discordante e intrusivo (Painel 02) e com as unidades mais antigas
marca-se por discordância erosiva, jazendo a formação em certos locais,
diretamente sobre as rochas do embasamento. O contato superior é discordante
com as formações Caiuá, Bauru e Cachoeirinha.
Geologia Estrutural
A área de estudo encontra-se situada no contexto do Alinhamento São
Jerônimo – Curiúva, definido por Ferreira (1982), flanco NE do Arco de Ponta
Grossa, este por sinal, uma importante estrutura impressa nas rochas da Bacia
Sedimentar do Paraná.
Considerando o trabalho de Soares
et al.
(1982), a área de estudo está
inserida na faixa MI-5 (Piraí do Sul / Curiúva) de direção geral N45W ± 5 e na
continuidade da faixa PT – 4 de direção N60E ± 5.
Strugale
et al.
(2004) definiu na região o Horst do Rio do Tigre bem como
uma série de zonas de falhas (zona de falha de Tamarana, Serra Grande,
Apucaraninha, Rio do Tigre).
162
A
B
C
D
E
F
G
H
I
J
L
N
Painel 02– Rochas aflorantes na área de estudo. A) e B) Rochas da Fm. Rio do Rasto; C) e D) Fósseis de vegetais encontrados
na Fm. Rio do Rasto; E) Estratificação cruzada no arenito Botucatu; F) Arenito da Fm. Botucatu; G) Basalto da Fm. Serra Geral
intrudindo nos arenitos Botucatu; H) Brecha com matriz arenítica e fragmentos ígneos; I) bombas vulcânicas; J) e L) Diabásio (Fm.
Serra Geral); N) Dacito pórfiro (Fm. (Serra Geral). Autor: Ângelo Spoladore
163
A
B
C
D
E
F
G
H
I
J
K
L
Painel 03 – Minerais relacionados com magmatismo da Fm Serra Geral. A)Calcita; B)Apofilita;
C)Pectolita; D) Laumonita; E) Estilbita; F)Estilbita; G)Quartzo e estilbita; H)Quartzo; I)Ágata;
J)Natrolita; K)Gyrolita e L)Obsidiana. Fotografias sem escala. Autor: Ângelo Spoladore.
164
Outros autores tais como Delavi (1996), Spoladore & Delavi (1997) e Benitez
(2001), reconhecem diferentes estruturas impressas nas rochas da região, bem
como os fortes alinhamentos estruturais dos elementos de relevo.
Os autores citandos anteriormente citam ainda que a história tectônica /
estrutural da região de São Jerônimo da Serra apresenta um grau de complexidade
razoável, sendo identificadas estruturas originadas em momentos diferentes na
história geo-evolutiva e com origens diversas.
A análise estrutural da área de estudo foi feita mediante a interpretação de
imagens de satélite e fotografias aéreas (escala 1:25 000) bem como pela coleta
sistemática das atitudes de planos de fraturas e outras estruturas diretamente no
campo. De posse desses dados, foi elaborado o mapa geológico estrutural e
diagramas de freqüência de direção das diferentes estruturas. Os dados encontram-
se agrupados no mapa da Figura 6.26.
Ressaltamos que a análise estrutural não é um objetivo básico deste
trabalho, todavia, esta ganhou importância devido aos estudos de estabilidade
geotécnica no interior das cavernas.
Análise da Orientação dos Elementos de Relevo
Para analisar os principais elementos de relevo foram realizados
levantamentos em imagens de satélites, aerofotografias (escala 1:25 000) e cartas
topográficas do IBGE (escala 1:50 000).
Inicialmente, foi realizado estudo levantamento da orientação de toda a rede
hidrográfica, caracterizando inclusive os diferentes padrões de drenagem ao longo
da área de estudo. Em um segundo momento, foi realizado levantamento visando
caracterizar as orientações dos topos das elevações existentes na área.
165
De posse destes dados, foram elaborados diagramas de rosetas das
orientações dos elementos de relevo analisados (figura 19).
Figura 19 – Diagramas
de rosetas das
orientações de
elementos de relevo da
área de estudo.
A análise dos elementos de relevo nos permite caracterizar quatro direções
preferenciais de orientação. São elas: a) N40/50W; b) EW; c) N40/60E; d) NS.
a) Direção N40/50W
Esta direção é a mais evidente tanto na área de estudo como na região
adjacente. São caracterizados por alinhamentos retilíneos, localmente curvilíneos,
contínuos e amplamente distribuídos pela área. Podem ser facilmente visualizados
em imagens de satélites, aerofotografias ou mapa devido ao forte alinhamento dos
elementos de relevo.
166
Da mesma forma, os diques de diabásio e as zonas de cisalhamentos
identificadas encontram-se orientados segundo essa mesma direção.
b) Direção EW
Esta direção, em uma primeira análise, não aparenta ter grande importância.
Entretanto, tanto nos diagramas elaborados a partir de fraturas obtidas em campo
como naqueles feitos a partir das orientações dos elementos de relevo, a direção
EW sempre se apresenta de forma destacada (vide figuras 19 e 20).
Esta direção apresenta alinhamentos longos, espaçados, porém, amplamente
disseminados por toda a área de estudo, muitas vezes truncando e deslocando os
demais alinhamentos, o que nos leva a crer que, possivelmente, estes alinhamentos
seriam representantes de um dos últimos eventos tectônicos da região.
Segundo esta direção, podemos encontrar drenagens longas e meandrantes
correndo em vales abertos.
c) Direção N40/60E
Outra importante direção de orientação dos elementos de relevo. Ocorrem
como uma série de pequenos alinhamentos descontínuos mais muito persistentes.
Apesar de estarem disseminados por toda a área de estudo, os alinhamentos
N40/60E são mais marcantes nas áreas de afloramentos das Formações Pirambóia e
Botucatu.
Normalmente estes alinhamentos originam vales cujos cursos d’águas são
afluentes dos rios principais, orientados segundo N40/50W.
167
Geralmente, os alinhamentos N40/60E são segmentados pelos alinhamentos
N40/50W, o que nos leva a considerar uma certa cronologia no desenvolvimento
destes alinhamentos.
d) Direção NS
Os lineamentos orientados segundo NS apresentam uma disseminação
irregular e heterogênea ao longo da área de estudo, estando concentrado nas
proximidades do vale do rio Tibagi e na porção leste da área de estudo.
Trata-se de alinhamentos de pequenas dimensões, segmentados e bem
espaçados. Aparentemente esta direção sobrepõe às outras, podendo ser
represente último evento tectônico da área.
Análise dos Elementos Identificados em Campo
As principais estruturas impressas nas rochas e observadas em campo são as
fraturas (juntas ou diáclases) e as zonas de cisalhamento rúpteis (falhas) - Painel
04. Também foram observadas bandas de deformação de caráter rúptil, lineações,
feições sigmoidais, cristalização e minerais fibrosos em fraturas e juntas plumosas.
Tais elementos são consistentes com os observados por Strugale
et al.
(2004).
As atitudes dos elementos citados anteriormente foram coletadas
sistematicamente e posteriormente foram confeccionados diagramas de contornos
de pólos e de rosetas (Figura 20).
168
169
Por toda a área de estudo foram observadas diversas zonas de cisalhamento
de diferentes dimensões. Destaque para a Zona de Cisalhamento do Rio Tigre –
ZCRT -(o chamado
host
ou zona de falha do Rio Tigre de Strugale
et al.
2004).
Trata-se de estrutura de caráter rúptil com direção geral N40 – 50W, mergulhos
verticalizados ou voltados preferencialmente para SW/W. Tal feição pode ser
facilmente observada em imagens de satélites ou em mapa (Figura 20) posto que
orienta fortemente o relevo.
Nos diagramas de roseta e de contorno dos pólos dos planos de fraturas e
falhas também é possível de facilmente identificar esta estrutura.
A ZCRT é composta por uma série de falhas paralelas / sub-paralelas
facilmente identificáveis, originando um feixe de falhas que pode chegar a
espessuras de um quilômetro. Ao longo da zona de cisalhamento podem ser
observados diques de diabásio com direção paralela à da zona de cisalhamento.
Apesar do caráter rúptil dessa estrutura, em campo, associados com essa
zona de cisalhamento, foram observados cisalhamento, cristais de quartzo com
coloração esverdeada o que pode indicar que as condições de pressão e
temperatura podem ter atingido valores elevados.
A movimentação da Zona de Cisalhamento do Vale do Rio Tigre é normal
sendo que o bloco situado a SW abateu e o localizado a NE da referida estrutura
soergueu. Todavia, foram identificadas evidências (estrias horizontais e fraturas
escalonadas) de pulsos cinemáticos de caráter transcorrente com movimentação ora
dextral ora sinistral. As estruturas
pull apart
visualizadas nas cavernas (Painel 05)
são bons exemplos.
Ainda relacionado com a zona de cisalhamento do Rio Tigre foram
observadas falhas diversas. Trata-se de falhas normais e lístricas (Painel 05),
orientadas segundo N/NW, com rejeito de alguns poucos centímetros e caimento
preferencial voltado para NW.
Uma outra estrutura marcante na área é a chamada zona de cisalhamento de
Terra Nova (ZCTN). Trata-se de estrutura similar a ZCRT, ou seja, zona de
170
cisalhamento de caráter rúptil, verticalizada e formada por um feixe de falhas e
fraturas paralelas a sub-paralelas que ocorre nas proximidades do distrito de Terra
Nova.
Pelo o observado em campo, a ZCTN apresenta uma movimentação principal
vertical (falha normal) com pulsos horizontais de movimentos sinistrais.
As zonas de cisalhamento e falhas ganham importância quando considerado
a espeleogênese bem como o desenvolvimento das cavernas de arenito existentes
na área.
Estas estruturas originam bandas de deformação que se traduzem como
planos de fraturas onde o cisalhamento é acomodado pela fragmentação dos grãos
de quartzo e a conseqüente diminuição da granulometria, pelo colapso da
porosidade e finalmente, fluxo cataclástico (STRUGALE
et al
. 2004; DAVIS
et al
.,
1999).
Magnavita (2000) dentre outros, afirma que as bandas de deformação (e as
zonas de cisalhamento) são importantes locais de convergência de fluídos durante
os pulsos cinemáticos. Tal fato poderia estar favorecendo a espeleogêne.
As fraturas são amplamente disseminadas por todas as litologias identificadas
na área de estudo. Podem ser distinguidas famílias com diferentes orientações e
origens.
Todavia, além das fraturas de origem tectônica, podem ser observadas
também juntas relacionadas com as atividades magmáticas. As mais comuns são
aquelas devido ao resfriamento e conseqüente diminuição de volume. Tais fraturas
ocorrem nos basaltos e dacitos da Formação Serra Geral.
Em algumas lentes de arenito que ocorrem em meio ao magma também
podem ser observadas estruturas tipo
boudinage
sendo tais fraturas resultantes da
extensão de um corpo rígido em meio a um magma mais fluído. Tais estruturas são
importantes marcadores cinemáticos.
171
Quanto à orientação preferencial das fraturas, quatro direções são facilmente
identificadas (figura 20), direções estas similares àquelas reconhecidas nos estudos
da orientação dos elementos de relevo e também citadas por Strugale
et al
. (2004).
São elas, por ordem de freqüência (figura 20): a) EW; b) NS; N40/50W; d)N40/60E.
a) Fraturas com Direção EW
Apesar do fato destas fraturas não se mostrarem muito proeminentes quando
da análise dos fotolineamentos, em campo as fraturas com direção EW
apresentaram grande representatividade.
Trata-se de fraturas longas, espaçadas entre si, com representação constante
ao longo de toda a área de estudo. Em superfície as fraturas EW condicionam
longos cursos d’água com vales amplos. Pelos dados disponíveis Aparentemente
estas fraturas são abertas, permitindo o fluxo de fluídos e conseqüentemente, a
dissolução da sílica e a abertura de cavidades. Esta hipótese já havia sido
considerada por Celligoi (1999) em estudos voltados a hidrogeologia.
Estas fraturas condicionam o desenvolvimento de algumas cavidades
estudadas.
b) Fraturas com Direção NS
Esta direção evidencia outra importante família de fraturas que, da mesma
maneira que as fraturas EW, também condicionam o desenvolvimento das cavernas
existentes na região.
As fraturas NS são pequenas e persistentes estando amplamente
representada em toda a área de estudo, em especial nas proximidades do Rio
Tibagi.
Esta direção aparentemente está relacionada com uma tectônica normal,
sendo sua maior expressão o vale do Rio Tibagi. Também foram reconhecidos
172
falhas e pulsos cinemáticos com caráter direcional (falhas trascorrentes) orientado
segundo esta direção. Celligoi (1999) afirma que as fraturas orientadas NS são
estruturas fechadas, sem grandes fluxos de fluídos. Todavia, foi constatado que
esta direção é importante para o desenvolvimento das cavidades.
c) Fraturas com Direção N40/50W
As fraturas orientadas segundo a N40/50W são importantes, pois as mesmas
estão relacionadas com as zonas de cisalhamentos ali desenvolvidas. Na verdade
estas fraturas representam as faixas onde a deformação ocorre de forma mais
intensa, especialmente pela diminuição da granulometria dos grãos de quartzo e a
redução da porosidade.
Estas fraturas encontram-se representadas por toda a área de estudo
concentrando-se nas proximidades das zonas de cisalhamento definidas
anteriormente.
Mas raramente, podemos encontrar cavernas com desenvolvimento principal
paralelo a esta direção.
d) Fraturas com Direção N40/60E
As fraturas orientadas segundo N40/60E não condicionam o desenvolvimento
de cavernas. Tratam-se fraturas bem marcadas e amplamente disseminadas pela
área.
173
A
B
C
D
E
F
G
H
I
J
K
L
Painel 04 - Principais estruturas impressas nas rochas da área de estudo. A); B); C); D); E) e F) Zonas de
cisalhamento rúptil (falhas) identificadas nos arenitos aflorantes na área de estudo; G) Zona de deformação
caracterizada por fraturas verticalizadas; H) fraturas de extensão tipo
boudinage
; I) e J) Aspecto de
apastilhamento observado nas rochas da Formação Rio do Rasto; K) e L) estruturas tipo
pull apart
observadas no teto de cavernas areníticas, controlando inclusive o abatimento de blocos.
174
Controle Estrutural das Cavernas
As cavidades desenvolvidas nas litotipos areníticos e estudadas neste
trabalho apresentam forte controle estrutural. Em outras palavras, o
desenvolvimento da cavidade bem como a abertura de galerias e salões, está
intimamente relacionado com as estruturas existentes nas rochas.
Por outro lado, quando comparamos a direção do maior eixo da caverna
(maior desenvolvimento) com os diagramas de roseta e de contorno de pólos
obtidos utilizando as atitudes de planos de fraturas, não sempre haverá coincidência
(Tabela 08 e Painel 05). Muitas vezes a direção mais freqüente de fraturas no
interior da caverna não é a mesma do desenvolvimento principal da mesma.
Pelo observado na Tabela 08. bem como no Capítulo 6. As Cavernas de São
Jerônimo da Serra, as cavernas de desenvolvem preferencialmente segundo NS e,
secundariamente segundo EW. Em apenas uma situação (Gruta Água do Bira) a
cavidade se desenvolveu tendo como direção principal N40/50W.
Entretanto, ao analisarmos os diagramas do Painel 05, verificamos que o
fraturamento existente no interior das cavernas é coincidente com aqueles
observados regionalmente.
Um bom exemplo é o conjunto de cavidades existentes na região do Cedro
(Grutas do Cedro I, II e III) e a Toca do Tigre. As principais direções de
desenvolvimento dessas cavernas são EW e NS. Todavia, a análise dos diagramas
de roseta e de contorno de pólos mostra uma grande freqüência de fraturas
N40/60E. Apesar de aparecem em menor quantidade, as fraturas NS e EW são mais
importantes para a abertura das cavidades.
175
Tabela 08 - Direções preferenciais de desenvolvimento das cavidades estudadas.
Caverna Desenvolvimento principal Desenvolvimento Secundário
Arco Vede NS EW
Porto de Areia NS EW
Tigre NS EW
Água da Pedra EW NS
Cedro I EW NS
Cedro II EW NS
Cedro III NS EW
Urtiga (Água do Capim) NS EW
Bira NW NS
A) Abrigo Água
da Pedra
B) Gruta
Água do Bira
C) Gruta
Arco Verde
D) Abrigo do Porto
de Areia
E) Grutas
do Cedro (I, II, III)
F) Toca
do Tigre
G) Gruta da Urtiga
(ou do Capim)
Painel 05 - Diagramas de contorno de pólos e diagramas de rosetas das direções dos planos de fraturas identificados no
interior das cavidades naturais estudadas: A) Abrigo Água da Pedra; B) Gruta Água do Bira; C) Gruta Arco Verde; D) Abrigo
do Porto de Areia; E) Grutas do Cedro (I, II, III), F) Toca do Tigre e G) Gruta da Urtiga (ou Água do Capim).
176
5.5.5. Hidrografia
A área de estudo está inserida na bacia hidrográfica do Rio Tibagi (Figura 21 e
22). Os principais corpos d’água são os Ribeirões Esperança, Passo Liso, dos Pilões e
os Rios do Tigre e São Jerônimo.
Estes cursos d’água são, vistos de regra, fortemente influenciados pelo
fraturamento das rochas e por diques de diabásio, possuindo proeminente orientação
preferencial segundo NS e NW. Esta afirmação fica mais evidente quando é estudado
a sub-bacia hidrográfica do Rio Tigre (Figura 22).
Segundo Benitez
et al
. (1999), a sub-bacia hidrográfica do Rio Tigre abrange
uma área de 240 km
2
constituída pelo Rio do Tigre e seus afluentes, sendo o
principal o Ribeirão dos Pilões. O referido autor cita ainda que bacia pode ser dividida
em três setores, segundo o padrão de drenagem.
O primeiro engloba a micro bacia do Ribeirão dos Pilões. Nesta região observa-
se um padrão de rede de drenagem sub-dendrítico e secundariamente o padrão
retangular.
A densidade de textura de drenagem é considerada alta. Tal fato deve-se a
grande quantidade de tributários, o que se dá devido aos solos de textura fina,
oriundos da decomposição dos argilitos, siltitos e folhelhos pertencentes a Formação
Rio do Rastro.
Quanto à sinuosidade, predomina o padrão retilíneo a misto. A angularidade
dos cursos é média. Com relação a tropia, os cursos d'água desta região podem ser
classificados como multidirecionais ordenados. A assimetria é fraca, mas, em alguns
momentos a mesma torna-se forte.
Uma segunda área pode ser reconhecida englobando o alto curso do Rio Tigre
e seus afluentes.
177
Em relação ao padrão de drenagem, da mesma forma que no compartimento
descrito anteriormente, foram identificados os padrões sub-dendrítico, retangular e o
chamado padrão
pincer-like
.
Figura 21 – Representação esquemática da
rede hidrográfica A) do Estado do Paraná; B)
da Bacia do Rio Tibagi. Esquema sem escala
A densidade de textura de drenagem é média e a sinuosidade é moderada. Em
vários locais foram identificados alinhamentos praticamente retilíneos. Os Rios e
riachos da região apresentam ângulos de confluência grandes e médios. A tropia é
multidirecional ordenada. Apresenta um grau fraco de assimetria, posto que os
tributários apresentam-se de tamanhos e formas semelhantes.
O terceiro e último setor, pouco se assemelha com as outras partes, a não ser
nas regiões limítrofes.
178
Esta área é composta pelo médio e baixo Tigre, seus tributários e a micro-
bacia do Ribeirão Taquara.
O padrão de drenagem angular sendo caracterizado pelos tributários e cursos
de 2ª e 3ª ordem, longos. No curso principal observa-se um padrão anastomótico.
Devido à presença de solos com textura grosseira, a absorção de água é
maior, resultando em um menor número de cursos, fazendo com que se tenha uma
densidade de textura de drenagem baixa.
Com relação à sinuosidade das drenagens, foram identificados trechos
retilíneos à moderadamente meandrante. Apresentam uma angularidade baixa.
As direções das drenagens se dão de forma unidirecional e multidirecional
ordenada.
Em virtude da situação geomorfológica e geológica, os cursos d’água são
encachoeirados sendo registradas várias corredeiras e quedas d’água destacando-se
o Salto do João Nogueira ou Salto do Tigre (136 metros) e o Salto do Tamanduá
(160 metros).
No que se refere a condicionamento estrutural da drenagem, de acordo com
as orientações preferenciais de cada setor, os cursos de água apresentam direções
preferenciais segundo EW, NE, NW. Vale ressaltar que na região, direções NW
condicionam os principais elementos do relevo.
179
Figura 22 – Rede de drenagem da área de estudo.
180
5.6. ATRATIVOS NATURAIS
Passaremos agora a descrever os principais atrativos naturais identificados na
área de estudo sendo que a localizados dos mesmos encontra-se na Figura 23.
Para cada ponto descrito procurou-se fornecer informações adicionais tais
como acesso, distância de caminhada, grau de dificuldade dentre outros.
O grau de dificuldade de acesso dos diferentes pontos estudados foi
classificado como baixo, moderado e elevado, levando-se em conta a facilidade que
uma pessoa de cinqüenta anos, ou uma de quarenta anos que não pratica atividade
física teria para se chegar até o atrativo.
Assim, um local de fácil acesso foi classificado como tendo um grau de
dificuldade baixo, enquanto que um local de difícil acesso, foi classificado como tendo
um grau de dificuldade elevado.
Tais considerações foram feitas tomando-se por base a situação atual dos
locais estudos. Caso sejam implementadas melhorias (escada, corrimão, dentre
outros), o grau de dificuldade certamente irá diminuir.
5.6.1. O Vale do Tigre (Fotografia 18)
Localizado as margens sul da cidade de São Jerônimo da Serra, este vale tem
por característica principal a formação de paredões originados pela erosão diferencial
dos Arenitos Pirambóia e Botucatu, sustentados pelas vulcânicas da Formação Serra
Geral. Possui uma extensão de aproximadamente 45 km no sentido SE para NW
desembocando no vale do Rio Tibagi.
181
Fotografia 18 – O Vale do Rio Tigre visto
do Salto do João Nogueira. Autor: Ângelo
Spoladore.
Na margem direita do vale a vegetação nativa tem uma presença significativa,
fator este que deve ser atribuído ao escarpado do relevo dificultando o acesso para o
extrativismo de madeira. A existência de duas reservas indígenas e do Parque
Estadual do Penhasco Verde ajudou também na preservação da mata ali existente.
No entanto na margem esquerda do vale, entre a escarpa e o fundo do
mesmo, o relevo é mais suave proporcionando a criação extensiva de gado
resultando no desmatamento de quase toda área da citada margem.
O vale serve como escoamento da maioria dos rios e ribeirões desta parte do
Município, sendo os principais: Água do Capim, Ribeirão dos Pilões, Rio São
Jerônimo, Água do Taquara que formam o Rio do Tigre que por sua vez deságua no
Rio Tibagi. Com a maioria dos rios desaguando no vale, que tem uma diferença de
altitude de 200m do restante do relevo, temos uma grande quantidade de saltos
cascatas, e cachoeiras o que dá ao Vale do Tigre grande potencial turístico,
destacando-se o Salto do Tigre (ou Salto do João Nogueira) com 136 m de altitude.
183
185
5.6.2. Cavidades Naturais
A região de São Jerônimo abriga um dos mais belos conjuntos de
cavernas em arenitos já descoberto no Brasil. São cerca de 60 cavernas
desenvolvidas nos litotipos das formações Pirambóia/Botucatu com dimensões
variáveis e ricas em ornamentos diversos.
Destacam-se as seguintes cavidades: Gruta do Cedro I, Gruta do Cedro
II, Gruta Arco Verde, Gruta do Poço, Abrigo do Porto de Areia e Abrigo do
Assentamento. Ressaltamos ainda que as fotografias e maiores informações
dessas cavidades encontram-se em outros capítulos deste trabalho.
Caverna Terra Nova
Localização e acesso: Localizada nas imediações de Terra Nova, o acesso é
feito por intermédio de uma trilha pouco marcada. É aconselhável solicitar guias
e informações aos moradores da região. Local pouco conhecido e pouco
visitado.
Distância de caminhada
: 1,5 km
Dificuldade da trilha e da caverna
: moderada
Desenvolvimento
: não mapeada. Todavia foi observado que a caverna possui
pelo menos 03 salões.
Observações:
grande quantidade de água no interior da caverna. Cavidade
desenvolvida em meio a arenitos da Formação Botucatu.
Toca do Tibagi
Localização e acesso: Localizada a cerca de 1,5km da margem do Rio Tibagi.
Para chegar até o local é mais fácil ir até Tamarana e daí então pegar um barco
para atravessar o Tibagi, quando então se segue por mais quilômetro e meio
sem trilha demarcada. O local é pouco conhecido e praticamente sem visitação.
Distância de caminhada:
1,5 km
Dificuldade da trilha e da caverna
: elevada
Desenvolvimento
: não mapeada. Todavia foi observado que a caverna possui
pouco desenvolvimento sendo o teto muito baixo.
Observações:
Apesar da cavidade ter se desenvolvida em meio a litologias
areníticas, possui diversos ornamentos de composição carbonática.
Gruta Arco Verde
Localização e acesso: Localizada na Fazenda Arco Verde, estrada que une São
Jerônimo a Terra Nova. Local bastante conhecido e com boa visitação. Não
existe qualquer tipo de infra-estutura no local.
186
Distância de caminhada: 800 metros
Dificuldade da trilha e da caverna
: moderada a elevada
Desenvolvimento:
52 metros
Observações:
apresenta quantidade razoável de água em seu interior. Observa-
se grande quantidade de depósitos sedimentares de composição psamítica
transportados e depositados pelas águas de escoamento superficial que
adentram na caverna. Cavidade desenvolvida em meio a arenitos da Formação
Botucatu.
Gruta das Urtigas
Localização e acesso: Localizada na Fazenda Arco Verde, às margens da
estrada que une Terra Nova a São Jerônimo. Para chegar até a caverna segue-
se por trilha pouco marcada. Apesar de ser visível da estrada, o local é pouco
visitado.
Distância de caminhada
: 1,5 km
Dificuldade da trilha e da caverna
: moderada a elevada.
Desenvolvimento
: 35 metros
Observações:
observa-se grande quantidade de blocos abatidos e de água no
inteRior da caverna. Cavidade desenvolvida em meio a arenitos da Formação
Botucatu. Foram identificados restos arqueológicos (fragmentos líticos e
cerâmica)
Gruta do Poço
Localização e acesso: Não existe trilha demarcada para o acesso à caverna,
apesar das evidências da utilização da caverna para fins religiosos. No geral, o
local é pouco conhecido e pouco visitado.
Distância de caminhada:
2,5 km
Dificuldade da trilha e da caverna
: elevada
Desenvolvimento
: não mapeada. Todavia foi observado que a caverna possui 3
grandes salões.
Observações:
presença de drenagem em seu interior. Local utilizado para fins
religiosos.
Gruta Gostosinho
Localização e acesso: o acesso a caverna é feito por estrada sem conservação
onde é possível seguir somente por caminhada. Local pouco conhecido e
praticamente sem visitação.
Distância de caminhada:
6 km
Dificuldade da trilha e da caverna
: elevada
Desenvolvimento
: parcialmente mapeada. Até o momento foram mapeados 70
metros de caverna.
Observações:
drenagem interna com vazão bastante razoável. Temperatura
interna baixa (média de 16
o
C). Cavidade desenvolvida em meio a arenitos da
Formação Botucatu.
Toca do Porto de Areia
Localização e acesso: Cavidade localizada próxima a um porto de areia
existente na saída de São Jerônimo em direção a Terra Nova. O acesso é feito
por trilha pouco marcada. Local pouco conhecido e pouco visitado.
Distância de caminhada
: 1,5 km
187
Dificuldade da trilha e da caverna: moderada
Desenvolvimento:
8 metros
Observações
: Trata-se na realidade de um conjunto de pequenas tocas. A mais
profunda possui 8 metros de desenvolvimento. As cavidades desenvolvidas em
meio a arenitos da Formação Botucatu. Foram identificados vestígios
arqueológicos em seu interior.
Caverna do Cedro I
Localização e acesso: Localizada na reserva indígena Barão de Antonina, Sub-
Sede do Cedro. A trilha que dá acesso ao local é pouco marcada. Local pouco
conhecido e pouco visitado.
Distância de caminhada
: 1km
Dificuldade da trilha e da caverna
: moderada
Desenvolvimento:
45 metros.
Observações:
grande quantidade material arqueológico no interior da caverna.
Cavidade desenvolvida em meio a arenitos da Formação Botucatu.
Caverna do Cedro II
Localização e acesso: Localizada ao lado da Gruta do Cedro I. Local pouco
conhecido e pouco visitado.
Distância de caminhada
: 1,2 km
Dificuldade da trilha e da caverna
: moderada
Desenvolvimento
: 36,8 metros. Ligada caverna do Cedro I por um conduto
estreito.
Observações
: Desenvolvida em meio aos arenitos Botucatu. Apesar da
proximidade, não foram observados vestígios arqueológicos.
Caverna do Cedro III
Localização e acesso: Localizada ao lado das Cavernas Cedro I Cedro II. Local
pouco conhecido e pouco visitado.
Distância de caminhada
: 1,5 km
Dificuldade da trilha e da caverna
: moderada
Desenvolvimento
: 52,4 metros
Observações
: Presença de água no interior da caverna.Grande quantidade de
blocos abatidos. Cavidade desenvolvida em meio a arenitos da Formação
Botucatu.
Caverna do Cedro IV
Localização e acesso: Localizada ao lado das Cavernas Cedro I, II e III. Local
pouco conhecido e pouco visitado.
Distância de caminhada
: 1,9 km
Dificuldade da trilha e da caverna
: moderada
Desenvolvimento
: 48 metros
Observações:
Cavidade desenvolvida em meio a arenitos da Formação
Botucatu.
Água da Pedra
Localização e acesso: localizada nas proximidades do Mirante Água Pedra, perto
do distrito de Pinhal. Para se chegar até o local segue-se a te Pinha,
posteriormente indo por estrada rural sem muita conservação. Após chegar na
188
fazenda Água da Pedra, segue-se por trilha a pé. Local bastante conhecido
recebendo vários visitantes.
Distância de caminhada
: 2,5 km
Dificuldade da trilha e da caverna
: moderada
Desenvolvimento:
16 metros
Observações:
Cavidade desenvolvida em meio a arenitos da Formação
Botucatu. A utilização para fins religiosos é intensa no local. Podem ser
observados vários objetos deixados no local bem como imagens de santos.
Caverna do Bira
Localização e acesso: Situada nas proximidades do Distrito do Pinhal, o acesso
é feito através de trilha pouco marcada com aproximadamente 3,2km, em meio
a uma fazenda particular de criação de gado. Faz-se necessário solicitar
autorização ao proprietário. Local pouco conhecido recebendo poucos
visitantes.
Distância de caminhada
: 3,2 km
Dificuldade da trilha e da caverna
: moderada
Desenvolvimento
: 47,1 metros
Observações
: Cavidade desenvolvida em meio a arenitos da Formação
Botucatu. Possui duas entradas e fica atrás da Cachoeira do Bira
Gruta Alta
Localização e acesso: Após chegar na Gruta do Bira, segue-se por trilha pouco
marcada (muitas vezes tendo que abrir caminho com facão) margeando o
paredão rochoso até chegar na Gruta Alta. Local desconhecido não recebendo
visitações.
Distância de caminhada
: 4,4 km
Dificuldade da trilha e da caverna
: elevada
Desenvolvimento
: não mapeada
Observações
: Cavidade desenvolvida em meio a arenitos da Formação
Botucatu. Ela é composta por um único salão com formato circular.
Gruta Baixa
Localização e acesso: Após chegar na Gruta Alta, segue-se beirando o paredão
rochoso por mais 200 metros. Local desconhecido não recebendo visitantes.
Distância de caminhada
: 4,6 km
Dificuldade da trilha e da caverna
: elevada
Desenvolvimento
: não mapeada
Observações:
Cavidade desenvolvida em meio a arenitos da Formação
Botucatu. Caverna com o teto muito baixo sendo, em seu interior, possível
apenas rastejar. Possui dois salões circulares (diâmetro aproximado 20 metros
o que dá um desenvolvimento estimado de 40 metros).
189
5.6.3. Quedas D’Água, Saltos e Cachoeiras
Devido a geomorfologia bem como pela presença de diferentes rochas
com propriedades distintas, são comuns nesta região a ocorrência de
cachoeiras, corredeiras, saltos e quedas d’água em geral. Até o momento já
foram estudas com algum detalhamento dezoito (18) cachoeiras sendo outras
tantas já foram visitadas.
Normalmente os saltos ocorrem na região da escarpa onde as rochas da
Formação Serra Geral forem mais representativas. Em regiões onde as rochas
efusivas estão ausentes, ou seja, o arenito não recebe proteção mecânica da
ação das águas dos Rios, as cachoeiras são mais raras.
Dentre as quedas d’água estudadas destacam-se as seguintes: Cachoeira
do João Nogueira (ou Salto do Tigre), Salto do Passo Liso, Cachoeira do Padre,
Cachoeira de Caratuva, Salto do Pilão, Salto do Tamanduá, Salto do Porto de
Areia, Cachoeira do Abrigo do Tigre.
Dentre as citadas, sem sombra de dúvida, a mais impressionante é o
Salto do Tigre. O Rio Tigre despenca de uma altura de 136 metros e suas águas
vão se chocando contra um paredão de rocha ígnea extrusiva. Tal fato ocorre,
pois as rochas na base da cachoeira são mais resistentes à erosão do que as
rochas localizadas no topo da cachoeira.
A piscina formada é pequena e após o salto, as águas do Rio continuam
com grande energia devido à declividade que ainda é muito elevada. O Rio
segue então por uma seqüência de pequenos saltos e corredeiras.
Tanto nas proximidades do salto como no leito do Rio os blocos abatidos
são abundantes. Isto torna o Rio perigoso inclusive originando sumidouros (a
água infiltra por meio dos blocos abatidos saindo alguns metros à frente).
190
Fotografia 19 – O Salto do
Tigre. Autor: Ângelo
Spoladore
Salto do Tigre (ou João Nogueira) – Fotografia
19.
Altura da queda: 136 metros.
Corpo d’água:
Rio do Tigre,
Localização e acesso:
É possível o acesso na porção
superior com relativa facilidade. O acesso à piscina é feito
por trilha com três quilômetros de extenso, bem marcada,
mas, com alto grau de dificuldade. Recomenda-se cautela.
A queda está localizada entre uma fazenda particular,
uma reserva indígena e um Parque Estadual. Esta
cachoeira é bem conhecida na região e recebe um fluxo
razoável de visitantes. Não existe qualquer tipo de infra-
estrutura no local.
Distância a ser caminhada:
3 km
Dificuldade da trilha:
elevada
Fotografia 20. – O Salto do
Bira Autor: Ângelo Spoladore
Salto do Bira (Fotografia 20)
Corpo d’água
: Ribeirão do Pinhal.
Altura da queda
: 35 metros divididos em dois lances.
Localização e acesso
: Situada nas proximidades do
Distrito do Pinhal, o acesso é feito através de trilha pouco
marcada com aproximadamente 3,2km, em meio a uma
fazenda particular de criação de gado. A estrada de liga
São Jerônimo a Pinha não possui pavimentação asfáltica e
faz-se necessário solicitar autorização ao proprietáRio.
Uma segunda queda d’água com aproximadamente 43
metros está localizada a aproximadamente 50 metros Rio
abaixo. Local pouco conhecido recebendo poucos
visitantes.
Distância a ser caminhada
: 3.2km
Dificuldade da trilha:
moderada.
.
191
Fotografia 21 – O Salto do Caratuva.
Autor: Ângelo Spoladore
Conjunto de Saltos do
Caratuva (Fotografia 21)
Corpo d’água:
Rio São Jerônimo
Altura:
15 metros (altura total do
desnível)
Localização e acesso
: Trata-se na
verdade de um conjunto de quedas
com diferentes tamanhos. Localizada
na localidade de Caratuva, próximo ao
asfalto e com acesso feito utilizando
estrada rural e uma trilha bem
marcada e com baixo grau de
dificuldade. É possível nadar na
piscina da cachoeira bem como se
aventurar Rio acima. Local muito
conhecido, recebendo assim um
grande número de visitantes. Não
existe qualquer tipo de infra-estrutura
no local.
Distância de caminhada
: 1,4km
Dificuldade da trilha: baixa
Fotografia 22 – O Salto do Padre. Autor:
Ângelo Spoladore
Salto do Padre (Fotografia 22)
Corpo d’água: Rio do Tigre
Altura:
18 metros
Localização e acesso:
acesso é feito
por estrada rural não asfaltada e
posteriormente por uma breve
caminhada em uma trilha bem
marcada. O Salto do Padre é dividido
em duas quedas. O acesso dá-se na
porção central do salto. É possível
andar por toda a área. Apesar de
estar localizada em propriedade
particular, o acesso é livre. Local
bastante conhecido pela população,
recebendo um número expressivo de
visitantes. Não existe qualquer tipo
de infra-estrutura no local.
Distância de caminhada:
200 metros
Dificuldade da trilha: baixa
192
Fotografia 23 – Salto da
Lagoinha. Autor: Ângelo
Spoladore
Salto da Lagoinha (Fotografia 23)
Corpo d’água:
Córrego da Lagoinha
Altura:
8 metros
Localização e acesso:
Esta pequena e bela queda
d’água está localizada nas imediações da região
conhecida como Assentamento do Tigre ou Ponte do
Tigre na Fazenda da família Katussi. O acesso é feito
por meio de estrada de terra sem muita conservação
(com chuva o acesso piora muito) e por trilha não
definida. Pode-se também, seguir pelo leito do Rio
Tigre. Local pouco conhecido recebendo um número
bastante pequeno de visitantes.
Distância de caminhada:
1,7 km (aproximadamente,
utilizando a trilha)
Dificuldade da trilha: moderada (trilha) a elevada
(seguindo o curso do Rio)
Fotografia 24 – Salto do
Assentamento. Autor: Leila
Benitez
Salto do Assentamento (Fotografia 24)
Corpo d’água:
Córrego sem nome. Alguns moradores
falam que é o Córrego (ou ribeirão) Passo Liso.
Todavia em mapa, o Ribeirão Passo Liso está
localizado em outro local.
Altura:
46 metros
Localização e acesso:
Localizado nas imediações da
região conhecida por Assentamento do Tigre ou
Ponte do Tigre. O acesso é feito por meio de estrada
de terra sem muita conservação (com chuva o
acesso piora muito) e posteriormente por trilha bem
marcada e fácil. Os moradores da região conhecem
bem o local e podem guiar os visitantes. Existem
churrasqueiras e mesas bem como um pequeno bar
nas proximidades. O local está sendo utilizado para
fins turísticos.
Distância caminhada:
200 metros
Dificuldade da trilha: baixa
193
Fotografia 25 – O Salto do
Capim. Autor: Ângelo
Spoladore.
Salto da Água do Capim (Salto do Capim)
Fotografia 25
Corpo d’água:
Córrego Água do Capim
Altura:
58 metros
Localização e acesso:
localizado próximo à
estrada que liga São Jerônimo à Terra Nova. O
acesso é feito via estrada rural sem pavimentação
asfáltica, mas bem conservada e posteriormente
por trilha pouco marcada. A queda, apesar de
possuir uma boa altura, possui uma baixa vazão
d’água podendo até mesmo secar em algumas
épocas do ano.
Distância de caminhada:
1,2km
Dificuldade da Trilha:
moderada a elevada
Salto do Porto de Areia
Corpo d’água: pequeno córrego sem nome em mapa. A população local chama
de Córrego da Captação ou do Morro do Helicóptero.
Altura:
12 metros
Localização e acessos
: localizado próximo a um porto de areia na saída de São
Jerônimo em direção a Terra Nova. O acesso ao local é feito via uma trilha
pouco marcada (o que pode fazer com que se ande mais do que o necessário),
mas com baixo grau de dificuldade. O local é pouco conhecido pela população e
recebe poucos visitantes.
Distância de caminhada:
2,5km (aproximadamente)
Dificuldade da trilha:
baixo a moderado (dependendo do caminho seguido)
Salto dos Pilões
Corpo d’água: Ribeirão dos Pilões.
Altura:
23 metros
Localização e acesso:
a cachoeira está localizada próximo ao local onde a
estrada que liga São Jerônimo a Terra Nova cruza com o Ribeirão dos Pilões.
Não existe trilha definida. Pode-se seguir o curso do Rio. Após deixar a estrada
principal o acesso torna-se difícil.
Distância de caminhada:
500 metros
Dificuldade da trilha:
elevada
194
Fotografia 26 – Cachoeira
do Tamanduá. Autor: Grupo
Pé na Trilha (2003)
Cachoeira do Tamanduá (Fotografia 26)
Corpo d’água
: Ribeirão Tamanduá
Altura:
82 metros
Localização e Acesso
: esta cachoeira está localizada
nas proximidades de Terra Nova, já próximo a Rio
Tibagi. O acesso até Terra Nova é feito por via de
terra, mas com boa preservação. Após segue-se por
trilhas pouco marcadas e com elevado grau de
dificuldade. É possível alugar cavalos nas fazendas
da região para se chegar até o local.
Distância de caminhada
: 5km (entre caminhadas e
cavalgadas).
Dificuldade da trilha:
elevado
Fotografia 27 – Queda do
Tamanduá. Autor: Grupo Pé na
Trilha (2003)
Queda do Tamanduá (Fotografia 27)
Corpo d’água: Ribeirão Tamanduá
Altura: 65 metros
Localização e acesso: esta cachoeira es
localizada nas proximidades de Terra Nova, já
próximo a Rio Tibagi, cerca de 2 km da
chamada Cachoeira do Tamanduá. O acesso até
Terra Nova é feito por via de terra, mas com
boa preservação. Após segue-se por trilhas
pouco marcadas e com elevado grau de
dificuldade. É possível alugar cavalos nas
fazendas da região para se chegar até o local
Distância de caminhada: 4 km (entre
caminhada e cavalgada)
Dificuldade da trilha: elevado
195
5.6.4. Mirantes Naturais
São conhecidos na região diversos pontos chamados de mirantes
naturais. Trata-se de locais com belas paisagens próprias para a contemplação
passiva,
Pela beleza, merecem atenção especial os mirantes da Cachoeira do João
Nogueira, do Assentamento, Fazenda Arco Verde e o da Estrada do
Assentamento.
Fotografia 28 – Mirante do Vale do
Tamanduá. Autor: Ângelo Spoladore.
Mirante do Vale do Tamanduá
(Fotografia 28)
Localização e acesso
: região de
Terra Nova. Após o distrito segue-se em
direção ao Rio Tibagi. Ao longo do vale
do Tamanduá existem vários mirantes
naturais. Destaque para o local de onde é
possível observa a foz o Tamanduá e o
Rio Tibagi.
Distância de Caminhada
: 1 – 3
km (depende do local)
Dificuldade da trilha
: baixa
Fotografia 29 – Mirante do Vale do Tibagi.
Autor: Angelo Spoladore.
Mirante do Vale do Tibagi
(Fotografia 29)
Localização e acesso
: na região de
Terra Nova existem vários pontos de
onde é possível avistar o Rio Tibagi. O
Vale do Tibagi, na região em questão, é
encaixado sendo limitado por paredões
rochosos abruptos. É possível chegar até
as margens do Tibagi.
Distância de caminhada:
extremamente variável (de 1km a 5km)
Dificuldade da trilha
: para chegar até as
margens do Tibagi a trilha apresente um
elevado grau de dificuldade.
196
Fotografia 30 – Mirante do Vale do Tigre.
Autor: Ângelo spoladore
Mirante do Vale do Tigre
(Fotografia 30)
Localização e acesso:
localizado às
margens da estrada que liga Terra Nova a
São Jerônimo.
Distância de caminhada:
50 metros
Dificuldade da trilha:
baixa
Fotografia 31 – Mirante da entrada da cidade.
Autor: Ângelo Spoladore.
Mirante da Entrada da Cidade
(Fotografia 31)
Localização e Acesso:
localizado na entrada da cidade de
São Jerônimo da Serra. Do local é
possível ver o alto curso do Rio do
Tigre.
Distância de caminhada
: 50
metros
Dificuldade da trilha:
baixa
Fotografia 32 – Mirante do Tigre. Autor: Ângelo
Spoladore
Mirante do Tigre (Fotografias 32 e
33)
Localização e Acesso: Localizada na
porção superior do Salto do Tigre. No
local é possível chegar com relativa
facilidade. Recomenda-se cautela. O
mirante e a cachoeira estão localizados
entre uma fazenda particular, uma
reserva indígena e um Parque Estadual.
Este local é bem conhecido na região e
recebe um fluxo razoável de visitantes.
Não existe qualquer tipo de infra-
estrutura no local.
Distância de caminhada:
1,3km
Dificuldade da trilha
: moderada.
197
Fotografia 33 – Outra visão do
Mirante do Tigre. Autor: Ângelo
Spoladore.
Fotografia 34 – O Mirante do Salto do Tigre.
Autor: Ângelo Spoladore
Mirante do Salto do Tigre
(Fotografia 34)
Localização e acesso:
localizado
às margens da estrada que liga Terra
Nova e São Jerônimo da Serra. Desse
local é possível ver grande parte do vale
do Tigre bem como o Salto do Tigre (ao
fundo).
Distância de caminhada:
50
metros
Dificuldade da trilha:
baixa
.
Fotografia 35 – Mirante do
Assentamento. Autor: Ângelo Spoladore.
Mirante do Assentamento
(Fotografia 35)
Localização e acesso: o mirante está
localizado nas proximidades do
Assentamento do Tigre (ou Ponte do
Tigre). Na região existem outros
atrativos como cavernas e
cachoeiras. O mirante situa-se às
margens da estrada que liga a região
a São Jerônimo da Serra. Do local é
possível visualizar o vale do Tigre a
partir da sua foz.
Distância de caminhada:
50 metros.
Dificuldade da trilha: baixa, todavia,
o acesso ao local é feito por estrada
sem pavimentação asfáltica e pouco
conservada. O tráfego em
determinadas épocas do ano pode
ser interrompido.
198
Fotografia 36 – Mirante da água da
Pedra. Autor: Ângelo Spoladore.
Mirante Água da Pedra (Fotografia
36)
Localização e Acesso
: localizada
nas proximidades da Gruta Água da
Pedra, perto do distrito de Pinhal.
Para se chegar até o local segue-se a
te Pinhal, posteriormente indo por
estrada rural sem muita conservação.
Após chegar na fazenda Água da
Pedra, segue-se por trilha a pé.
Distância de caminhada
: 2km
Dificuldade da trilha:
baixa
5.6.5. O Vale do Rio Tibagi
O Vale do Rio Tibagi, situado no limite oeste da área estudo, apresenta
uma das regiões mais belas do norte do estado paranaense.
Trata-se de um vale bastante encaixado, com declividades elevadas,
paredões de rochas (Fotografias 37 e 38). O Rio Tibagi apresenta ainda uma
série de corredeiras, as quais podem ser uma atração em separado. Na região
em questão, o Rio Tibagi adentra no Terceiro Planalto Paranaense cortando a
chamada Serra da Esperança. Tal fenômeno origina um
gap
digno de ser
admirado.
Fotografia 37 – O Rio Tibagi.. Autor: Ângelo
Spoladore.
Fotografia 38 – O Vale do Tibagi. Autor:
Ferdinando Nesso.
199
5.7. ÁREAS DE RISCO GEOLÓGICO E DE RISCO DE
ALTERAÇÕES AMBIENTAIS EM SÃO JERÔNIMO DA
SERRA, PR
Para a realização da análise de risco geológico foi levado em
consideração o trabalho de Cottas (1983).
Cottas (1983) propõe um modelo, voltado especificamente para o
planejamento urbano, bastante amplo, de fácil aplicação e com resultados
confiáveis.
O método proposto por Cottas (
op. cit
.) estabelece quatro categorias em
seqüência, de investigações e estudos onde as duas primeiras categorias têm
como objetivo o levantamento de dados sobre a geologia, geomorfologia,
topografia, geotécnica.
Os estudos citados conduzem a elaboração de mapas de adequabilidade
dos terrenos para os diferentes tipos de uso e ocupação urbana e áreas de
restrição ao uso e ocupação de ocorrência de fenômeno geológico e riscos.
O modelo proposto por Cottas (1983) é baseado em parte em
Mathewson & Fonte (1974). Na realidade, trata-se de uma variação da
metodologia de conhecida como Superposição de Cartas, a qual, por sua vez,
tem sua origem nos trabalhos sobre uso do solo de Tricart (1966) e McHarg
(1969) sendo posteriormente adaptadas para a avaliação de risco e impacto
ambiental.
A determinação do potencial de risco de alterações das condições
ambientais foi realizado segundo o trabalho de Companhia Municipal de
Transporte e Urbanização - CMTU (2000). De acordo com este trabalho o
fundamento para a determinação do zoneamento territorial são as restrições
impostas pela dinâmica dos sistemas ambientais. Dois enfoques são nítidos – a
restrição ambiental ao uso e ocupação e a aptidão do ambiente para a definição
de usos.
200
O método consiste inicialmente na elaboração de cartas temáticas
diversas, bem como, de um banco de dados o mais amplo possível sobre a área
estudada. Todas essas informações devem ser plotadas nas diferentes cartas
geradas.
Em um segundo momento, é feita a superposição das cartas, de acordo
com critérios pré-determinados, para então a elaboração dos mapas de
adequabilidade pretendidos.
CMTU (2000) cita como pontos favoráveis a boa visualização dos dados,
o fato de todos os elementos estarem mapeados. Um outro ponto positivo
ainda é a facilidade de interação entre diferentes parâmetros obtendo um
resultado rápido e confiável.
Como pontos negativos dessa metodologia, CMTU (2000) aponta para
uma certa subjetividade dos dados, a não quantificação da magnitude dos
danos ao ambiente e, por fim, e talvez o maior problema, a dificuldade de se
trabalhar com parâmetros não mapeáveis, como por exemplo, o tempo e
alguns fatores sócio-econômicos.
CMTU (2000) cita que a evolução desta metodologia é o chamado
modelo de simulação realizados no meio digital onde pode ser representado até
mesmo, o funcionamento dos sistemas ambientais.
A grande vantagem dos modelos de simulação que o mesmo trata o
ambiente como dinâmico. Outros métodos inclusive o de superposição de
cartas, tratam o ambiente como uma entidade estática. Mesmo sabendo que o
ambiente está em constante transformação e que temos situações muito mais
próximas da teoria quântica do que das idéias cartesianas, somente os Modelos
de Simulação feitos em computadores podem refletir tal processo.
No presente trabalho seguimos parcialmente a metodologia proposta por
Cottas (1983), adequando-a para a situação da área de estudo e para o objeto
de estudo, ou seja, para o turismo em São Jerônimo da Serra.
201
Ressaltamos que a realidade de São Jerônimo da Serra é tal que o
turismo é uma alternativa. Por outro lado, não existem perspectivas de
implantação de indústrias de grande porte, ou mesmo de uma construção de
grande porte em São Jerônimo. O turismo que aqui é defendido não é o
turismo de massa, mas sim um turismo especializado, com um fluxo moderado
e constante de pessoas ao longo do ano. A sugestão é para que não sejam
construídos grandes hotéis, mais sim pousadas de pequeno e médio porte.
São Jerônimo da Serra, com seu ar interiorano e com o jeito simples de
seus habitantes, é um de seus atrativos naturais.
Assim, não faz sentido a elaboração de algumas das cartas preconizadas
na metodologia original, tais como os mapas de adequabilidade a instalações
subterrâneas, fundações e obras viárias. A metodologia foi utilizada levando-se
em conta a realidade local.
Os dados foram levantados em campo e posteriormente transferidos
para o computador, onde foi feito inicialmente um banco de dados para
posteriormente serem gerados as diferentes cartas. Toda a superposição foi
feita no meio digital.
Da interação e sobreposição no meio digital das cartas citadas
anteriormente neste trabalho, foi gerado um mapa das áreas de risco geológico
e risco ambiental para o município de São Jerônimo da Serra.
202
Áreas de risco geológico e ambiental para o município de São
Jerônimo da Serra (Figura 24)
Para a elaboração do mapa das áreas de risco geológico e ambiental,
foram sobrepostos no meio digital os seguintes mapas:
Mapa Base com a localização dos perímetros urbanos, áreas
indígenas e parques estaduais;
Mapa Pedológico;
Mapa de Uso e Ocupação do Solo;
Mapa da Rede Hidrográfica;
Mapa de Localização dos Atrativos Naturais;
Mapa de Declividade;
Mapa Geológico.
Em um segundo momento, os seguintes aspectos foram considerados:
Faixa de preservação de 100m de cada margem do curso d’água;
Faixa de preservação de 250m ao redor de cada atrativo natural;
As declividades acima de 30%;
Área de afloramento das formações Pirambóia / Botucatu
A partir desses dados, foi elaborado o mapa da Figura 24, onde são
apresentadas as principais áreas de risco geológico e risco de alteração das
condições ambientais para a área de estudo.
O ponto inicial para a elaboração do mapa da Figura 24. foi o mapa base
onde foram localizados os perímetros urbanos tanto da sede do município como
também de seus distritos, bem como as áreas indígenas e o Parque Estadual
existente em São Jerônimo. O parque e as áreas indígenas são áreas de
proteção permanente.
Em um primeiro momento foi considerada a possibilidade de demarcar
uma faixa de segurança ao redor dos aglomerados urbanos (neste caso seria
uma área de expansão urbana), das áreas indígenas e do parque.
203
Figura 24 – Mapa das áreas de risco da área estudada. As áreas em branco não apresentam risco
aos fatores analisados.
204
A opção de não demarcar uma faixa de expansão urbana ou mesmo uma
faixa de segurança ao redor das cidades e aglomerados foi devido ao fato de
que as atividades turísticas também devem ocorrer em tais áreas. Outro fator é
que, como não está sendo considerado um turismo de massa, mas sim um
fluxo moderado de turismo, não devendo haver um aumento expressivo da
população das áreas urbanas mas sim uma distribuição dos turistas em
diferentes propriedades a área rural.
Com relação às áreas indígenas, segundo a legislação em vigor, tais
áreas são de acesso restrito, somente permitido a pessoas autorizadas. Dessa
forma, o turismo não pode ser considerado em tais áreas.
Quanto ao Parque Estadual Penhasco Verde, não foi marcada uma área
de segurança pois, foi considerado que o mesmo está inserido dentro de um
contexto eminentemente rural, distante de centros urbanos, com vias de acesso
moderadamente preservadas e em meio a áreas de risco, que se forem
respeitadas, já engloba a faixa de proteção do parque. Não podemos esquecer
que o turismo certamente será uma das atividades do parque.
Um outro ponto considerado inicialmente, mas posteriormente
abandonado, foram as estradas da região. Toda a área é cortada apenas por
estradas sem pavimentação asfáltica e propícia apenas para o tráfego local.
Todavia, existem estradas que conduzem a todos os atrativos naturais
considerados neste trabalho. Com o desenvolvimento do turismo o que deve
acontecer é uma melhoria das vias existentes, sem, contudo, a construção de
novas estradas ou mesmo a pavimentação das já existentes.
O passo seguinte foi plotar no mapa os atrativos naturais aqui
estudados. Para uma preservação adequada dos mesmos, foi proposta uma
faixa de preservação de quinhentos (500) metros ao redor de cada atrativo
natural. Nesta faixa de preservação, o meio não deve ser alterado, sendo que
as instalações e equipamentos destinados ao turismo devem ficar localizados
fora dessa faixa. No mapa de risco estas áreas foram demarcadas em verde.
205
Ao mapa gerado foi sobreposto então o Mapa da Rede Hidrográfica. Na
nova carta foi demarcada uma área de proteção de cem (100) metros contados
a partir de cada margem do rio. Tal faixa é prevista em lei. Neste trabalho
adotamos uma distância maior do que a especificada na legislação por entender
que, devido às características da área, ser esta uma faixa segura. No mapa de
riscos, tais áreas estão assinaladas em azul ocorrendo paralelamente às
drenagens.
Em seguida foi acrescentado o Mapa de Declividade sendo selecionadas
como risco aqueles locais que apresentavam declividade superior aos 30%.
Nestes locais a possibilidade do desenvolvimento de processos erovisos bem
como, a movimentação de massas é elevada. Tal fato é agravado quando
inserimos os diferentes tipos de solos e o uso e a ocupação do solo. Na Figura
24 estas áreas estão demarcadas em vermelho
Por fim, foi considerada toda a área de afloramento do arenito
Pirambóia/ Botucatu como uma área de risco. Tal fato deu-se devido à:
Tratar-se de área de recarga do Aqüífero Guarani, o aqüífero de
maior importância para a região sul do Brasil bem como para os
países vizinhos.
O solo que se desenvolve pela decomposição deste arenito é
muito arenoso e pouco coeso, o que facilita a atuação de
fenômenos erosivos;
Em diversos locais a declividade é elevada, com declividades
superiores aos 30% chegando até os 100% de declividade, o que
torna as encontras instáveis;
Assim, a proposta deste trabalho é que toda a área de afloramento dos
arenitos Pirambóia / Botucatu seja destinada à preservação, incentivando o
plantio de espécies nativas e conservando os fragmentos florestais existente. As
atividades nesta área devem ser restritas e qualquer alteração no meio deve ser
precedida de estudos adequados.
206
Por fim, os locais assinalados em branco no mapa da Figura 24
representam aquelas áreas onde não foram constatados riscos geológicos e /
ou ambientais, sendo propícias para o desenvolvimento de atividades diversas,
tais como a agro-pecuária e a implantação de empreendimentos turísticos.
Pelo mapa da Figura 24 podemos até mesmo selecionar áreas com
declividade adequada, localizadas a uma determinada distância dos corpos
hídricos e dos atrativos naturais, visando a implantação de empreendimentos
voltados ao turismo.
Especificamente para a área urbana de São Jerônimo da Serra, verifica-
se que o perímetro urbano de São Jerônimo encontra-se em meio a áreas
consideradas como de risco geológico e/ou risco ambiental.
Ao sul, o sítio urbano é limitado por área indígena, além de começarem
os afloramentos da Formação Pirambóia / Botucatu. Toda essa região possui
uma série de limitação, como por exemplo: é inadequada para disposição final
de resíduos urbanos; é área de recarga do Aqüífero Guarani; o solo é
excessivamente arenoso; foram localizados diversos afloramentos de rocha,
fato este que atesta a pouca espessura do mesmo; proximidade com corpos
hídricos.
A leste e a oeste, o principal problema é a declividade, posto que,
existem diversos locais com declividade superior aos 30%.
A área de expansão ideal para São Jerônimo da Serra é a região
localizada ao norte da atual área urbana. Neste local, a topografia é suave e as
declividades são inferiores ao 30%; pelos dados disponíveis o solo é argiloso e
espesso; o acesso é fácil posto que a referida área está localizada ao longo de
rodovia asfaltada (Pr-090); a área encontra-se a distâncias seguras de corpos
hídricos bem como de áreas indígenas ou de unidades de conservação.
207
6. CAVERNAS ARENÍTCAS DE SÃO JERÔNIMO DA SERRA
6.1. DESCRIÇÃO DAS CAVERNAS
G
RUTA ARCO VERDE
A Gruta Arco Verde (Figura 25) está localizada dentro da Fazenda Arco Verde
há 9 km da cidade de São Jerônimo, tendo como principal via de acesso a estrada
não pavimentada que liga a citada cidade ao distrito de Terra Nova.
Figura 25 – Representação cartográfica da Gruta Arco Verde. Elaboração Delavi &
Spoladore (1996).
A fazenda leva este nome em razão da gruta, pois um antigo salão da mesma
desabou preservando a entrada, originando um arco ou ponte de arenito.
Na área afloram arenitos da Formação Pirambóia/Botucatu, bem como rochas
ácidas (riodacitos) pertencentes à Formação Serra Geral. O relevo da área é bastante
ondulado, com altitudes que atingem até 1098 metros.
208
Esta gruta já foi previamente estudada por Delavi (1996) e cadastrada na
S.B.E. (Sociedade Brasileira de Espeleologia)por Parellada
et alli
(1990) sob o n
o
061
e 065 (gruta e portal).
A Gruta Arco-Verde está localizada no início do Vale do Tigre. A vegetação
nativa original do local era o cerrado, entretanto, a mesma se encontra bastante
descaracterizada.
A entrada da gruta Arco Verde é discreta, posto que o grande arco se encontra
em meio à vegetação, dificultando a sua visualização (Fotografia 39).
No lugar do antigo salão hoje fica uma enorme cratera de abatimento, com,
aproximadamente, 60 m de diâmetro por 20 m de altura, onde se desenvolveu um
pequeno bosque de vegetação nativa secundária.
Passando a área abatida encontramos uma entrada para o interior da Gruta
Arco-Verde, onde se pode observar um pequeno salão com alguns blocos abatidos.
Alguns metros à frente da boca principal está localizada outra entrada de dimensões
reduzidas devido ao abatimento de blocos e ao acúmulo de sedimentos (Fotografias
40, 41 e 42).
Após o salão de entrada passamos por um pequeno corredor que dá acesso ao
salão maior. São observados ainda fraturamento no teto e nas paredes (importantes
no desenvolvimento da caverna) e alguns ornamentos.
A caverna afunila-se em um pequeno corredor, onde se observa na parede e
no teto um arenito rico em níveis e nódulos de argila circundados por delgada
película de óxido de ferro.
Após, encontramos um salão e o final da caverna, onde existem maiores
variedade e quantidade de espeleotemas, tais como pequenas estalactites e
espeleogens como nódulos de argila e prateleiras desuniformes formadas por óxido e
hidróxido de ferro. Neste ponto, existe um pequeno lago com grande quantidade de
209
matéria orgânica e areia depositada, dando um belíssimo contraste com a coloração
vermelha e amarelada do arenito Botucatu.
A Gruta Arco-Verde, como as grutas em geral, tem um ecossistema próprio e
bem diversificado, que se integra com interior e exterior da caverna. Foram
identificados insetos diversos e espécies de morcegos. Não foram encontradas
evidências arqueológicas nesta caverna.
Fotografia 39- Entrada principal da
Gruta Arco Verde. Autor: Ângelo
Spoladore.
Fotografia 40 – Interior da caverna. Detalhe para
o solo arenoso e com evidências de trabalhamento
pelas águas de escoamento. Autor: A. Carneiro.
Fotografia 41 – Entrada secundária da
caverna. Notar a grande quantidade de
sedimentos provenientes do meio externo.
Autor: A. Carneiro.
Fotografia 42 - Entrada do último salão da Gruta
Arco Verde. Autor: A. Carneiro.
210
Abrigo do Porto de Areia (Figura 26)
O Abrigo do Porto de Areia localiza-se a, aproximadamente, 2 km da cidade de
São Jerônimo, sendo seu acesso fácil. Todavia, pode existir uma certa dificuldade
inicial em localizar a trilha mais viável para o acesso ao abrigo devido a vegetação ali
existente (Fotografias 43 e 44). Neste local, além de um conjunto de 3 abrigos,
existe uma cachoeira que forma uma piscina natural.
O abrigo se desenvolveu no Arenito Botucatu, que, no local, é composto por
rochas arenosas de coloração amarelada / avermelha, com proeminentes
estratificações cruzadas. Na área próxima à cachoeira, observamos grande
quantidade de seixos de quartzo e minerais de ferro disseminados por toda a
extensão do abrigo, muitas vezes apresentando hábito botroidal ou preenchendo
fraturas.
Verificamos ação intensa do intemperismo biológico: grande quantidade de
raízes penetra nas fendas de fraturas (Fotografia 43). Também há intenso
intemperismo químico, ocasionado pela ação da água. O chão do abrigo, próximo à
queda d’água, encontra-se bastante erodido, originando depressões. Foram
identificados ainda blocos abatidos de arenito.
As paredes apresentam muitas cavidades arredondadas, principalmente
próximas à sua base, provavelmente, ocasionadas pelo trabalho da água em bolsões
de argila. Foram identificados espeleotemas com dimensões reduzidas. As rochas que
formam as paredes do abrigo se encontram bastante fraturadas.
Em determinada área do abrigo, foram encontrados fragmentos de arenito
silisificado, sílex e quartzo, constituindo-se assim, em um sítio arqueológico.
211
Figura 26 – Representação cartográfica da Toca do Porto de Areia.
Na área superior ao abrigo, verificamos que o leito do rio é constituído por
arenito silicificado, argila e riodacito.
A flora ao redor do abrigo é constituída, basicamente, por espécies nativas.
Quanto à fauna, encontramos no abrigo insetos como os aracnídeos e outros.
Foram observados ovos partidos, que pelo tamanho e aspecto, aparentam ser de
algum tipo de cobra ou de lagarto. Também foram observados rastos de pássaro e
de cachorro do mato.
212
Fotografia 43 – Aspecto geral do Abrigo
do Porto de Areia. Autor: Ângelo Spoladore
Fotografia 44 – a entrada do abrigo do
Porto de Areia. Autor: Ângelo Spoladore
T
OCA DO TIGRE (Figura 27)
A Gruta do Tigre é uma cavidade com, aproximadamente, 35 m de abertura,
esculpida pelo Rio do Tigre em um paredão de argilito, litologia esta pertencente à
Formação Rio do Rasto.
Localizada na zona rural de São Jerônimo da Serra, a cerca de 20 km da área
urbana, o acesso até a gruta é fácil, apesar de o terreno ao redor apresentar intensa
declividade. Pode-se chegar até a gruta atravessando um pequeno fragmento de
mata nativa ou margeando o Rio do Tigre (Fotografia 45).
A vegetação é típica de cerrado. Foram encontrados em uma determinada
drenagem muitos fragmentos de quartzo, em sua maioria de coloração esverdeada e
apresentando estriamento. Tais fatos são evidências de que estes minerais foram
213
submetidos à forte pressão, o que pode evidenciar por sua vez, uma falha geológica
nas proximidades. Também foram observados arenitos silicificados.
A Gruta do Tigre está a 520 m de altitude e tanto o teto quanto as paredes e
o piso são bastante fraturados. As fraturas podem ser preenchidas por materiais
diversos.
O piso da gruta é rochoso, sendo recoberto parcialmente por material arenoso
depositado pelo Rio. Apresenta também alguns pequenos blocos abatidos. Em alguns
locais, que são cobertos pela água com mais freqüência, observou-se a presença de
óxido de ferro.
Embora esteja às margens do Rio e muitas vezes seja inundada pela água, as
paredes são secas e não apresentam umidade.
Não há formação de espeleotemas. No paredão de argilito sobre a gruta
podem ser visualizados planos de falha.
Ao redor de toda a gruta há grandes blocos de argilito, bastante alterados pelo
intemperismo químico, há também alguns blocos de diabásio, mas em menor
quantidade. No Rio há também grande quantidade de blocos. Na margem oposta à
caverna constatou-se acúmulo de areia, formando uma pequena praia.
O local está bem preservado; não há sinais de depredação humana na gruta.
É bem provável que poucas pessoas tenham tido acesso a esse lugar. A gruta
encontra-se circundada por um fragmento de mata nativa bem preservada.
214
Figura 27 – Representação cartográfica da Gruta do Tigre. Equipe de mapeamento:
Ângelo Spoladore, Leila Benitez e Sergio M. Silva.
Fotografia 45 – A Gruta do
Tigre. Autor: Ângelo Spoladore
215
A
BRIGO ÁGUA DA PEDRA (Figura 28)
O Abrigo Água da Pedra é considerado pelos moradores locais um lugar
místico. Segundo a crença popular, a água que brota da rocha é milagrosa, capaz de
curar enfermidades e até problemas de deficiência física. Devido a essa crença, o
local está repleto de oferendas, deixadas por pessoas que supostamente tiveram
seus pedidos atendidos (Fotografias 46 e 47).
O abrigo está localizado nas imediações do distrito de São João do Pinhal,
24 km de São Jerônimo da Serra. No trecho entre a área central do distrito e a
fazenda onde está localizado o abrigo são percorridos mais 3 Km, onde predomina
um solo de coloração escura e composto por argila e quantidade razoável de areia,
proveniente da decomposição do basalto e do arenito Botucatu. Este mesmo solo
predomina até a entrada da fazenda, e logo mais adiante, numa trilha que nos leva
até a sede, se torna bem mais claro e mais arenoso e menos argiloso.
Foram observados afloramentos de rochas pertencentes à Formação
Botucatu/Pirambóia e Serra Geral. Próximo à sede da fazenda, podem ser observados
diversos falhamentos afetando as rochas areníticas.
Apesar do estado de alteração das rochas aflorantes, foi possível verificar
estratificações plano-paralelas e cruzadas; arenitos avermelhados de granulação
grosseira; seixos de quartzo, em sua maioria esbranquiçados, e rosados e alguns
minerais de ferro.
A trilha que dá acesso à gruta está margeada por pastos onde podem ser
observados grandes blocos de rochas conglomeráticas e areníticas.
O abrigo é caracterizado por uma grande boca, sendo a altura de entrada
superior ao seu desenvolvimento (Figura 28). As rochas que compõem as paredes do
abrigo apresentam-se bastante intemperisadas devido às águas que vertem das
216
paredes e do teto. Por toda a cavidade podem ser visualizadas estratificações plano-
paralelas. O fraturamento da rocha não é intenso.
Figura 28 – Cartografia do Abrigo Água da Pedra. Organização: Leila Benitez e Sérgio M.
Silva. Equipe de mapeamento: Leila Benitez, Sérgio M. Silva e Ângelo Spoladore
O piso é acidentado, devido à grande quantidade de blocos abatidos, e
recoberto por sedimentos inconsolidados. Em alguns locais, formam-se degraus,
217
provavelmente devido à ação da água que escorre continuamente. O piso também é
bastante úmido, com acúmulos locais de água.
Não foram encontrados ornamentos nesta cavidade.
Há alguma depredação nas paredes do abrigo (nomes esculpidos na rocha),
mas é pouco significante, considerando o fato de que o local é amplamente visitado.
Distante alguns metros do abrigo, há um córrego formado pela água que verte
de um paredão de rochas. Este córrego forma algumas pequenas quedas devido ao
declive do terreno. Seu leito é constituído por riodacito e blocos de conglomerado.
Mais abaixo no vale afloram rochas da Formação Rio do Rastro.
Na outra margem do córrego, em meio à mata, onde há muitos blocos de
conglomerado e de riodacito distribuídos por toda a área, foi encontrada uma toca,
com aproximadamente 6 m de extensão, formada por blocos de rocha. O piso é
constituído por solo, onde a água escoa, e as paredes internas apresentam alguns
pequenos espeleotemas do tipo “couve-flor”.
Quanto à flora, ao redor do abrigo predomina um pequeno fragmento de mata
nativa.
Fotografia 46- Visão geral da entrada da
Toca Água da Pedra. Note os varais com
roupas penduradas como forma de
pagamento de promessa. Autor: Ângelo
Spoladore
Fotografia 47 – Vista do local de
escoamento da suposta água milagrosa.
Observe as camadas com diferentes
constituições. Autor: Angelo Spoladore.
218
G
RUTA DO CEDRO I (Figura 29)
Na Reserva Indígena Barão de Antonina, Sub-Sede do Cedro, encontra-se um
conjunto de grutas desenvolvidas nos arenitos da Formação Botucatu/Pirambóia.
O local é servido por uma via de acesso não pavimentada em péssimo estado
de conservação, a qual nos dias de chuva fica intransitável.
A Gruta Cedro I, situada na vertente direita do Ribeirão Água Branca, foi
estudada previamente por Spoladore & Delavi (1996).
Na área, predominam pastagens e, ao longo das encostas, ocorrem pequenos
fragmentos de mata já adulterada, que originalmente correspondia ao cerrado. O
relevo é escarpado.
A Gruta do Cedro I tem seu desenvolvimento principal ligado diretamente às
famílias de fraturas.
Esta cavidade possui duas amplas entradas (Fotografias 48, 49 e 50),
formando dois salões semicirculares. A caverna tem aspecto de dois grandes abrigos,
ligados por um ducto estreito.
A gruta Cedro I possui poucos ornamentos, mas, mesmo assim, foram
identificados espeleotemas do tipo couve-flor, casca de ovo e estalactites.
A fauna observada é constituída por insetos e morcegos da espécie frutífera.
Foram encontradas pegadas de outros animais, tais como jaguatirica, cachorro do
mato e lagartos.
219
Figura 29 – Representação cartográfica da Gruta do Cedro I. Equipe de mapeamento: Ângelo
Spoladore e Elsone José Delavi.
Este local é um sítio arqueológico, tendo sido encontrados restos de três
fogueiras e vários seixos lascados, além de ossos de animais, (paca, lagarto, veado,
tatu), artefatos de rocha polida e lascada, assim diversos fragmentos de cerâmica.
Fotografia 48 -
Estrada do segundo
salão da cavidade, o
qual também possui
comunicação com o
meio exterior. Observe
o rebaixamento
repentino do teto, bem
como o controle
estrutural do teto da
caverna. Autor: Ângelo
Spoladore
220
Fotografia 49 – A
entrada da Gruta do
Cedro I. Autor: Ângelo
Spoladore.
Fotografia 50
Aspecto geral do
interior da Gruta do
Cedro I. Observar a
grande quantidade de
cinza bem como a boa
luminosidade do
interior da cavidade
resultado de sua ampla
entrada. Autor: Ângelo
Spoladore
G
RUTA DO CEDRO II (Figura 30)
A Gruta do Cedro II, juntamente com a Gruta do Cedro I e III e o Abrigo do
Cedro, constituem um conjunto de cavidades naturais desenvolvidas em um único
paredão.
Localiza-se dentro dos limites da Reserva Indígena Barão de Antonina,
próxima ao Distrito de São João do Pinhal. O acesso ao local se dá por via não
pavimentada, que se torna intrafegável em dias chuvosos.
As cavidades se desenvolveram em litologias pertencentes à Formação
Pirambóia / Botucatu. Verifica-se nesta gruta níveis conglomeráticos, com
quantidades de seixos variáveis por toda a sua extensão. Podem ser observadas
estratificações cruzadas e acanaladas bem como intercalações de óxido de ferro. Em
221
alguns locais, a rocha apresenta-se bastante friável devido à alteração,
provavelmente acelerada pelo alto grau de umidade que ocorre principalmente na
parte interna da gruta, de onde verte muita água das paredes.
Podemos considerar que a gruta possui dois níveis distintos. O nível mais
elevado seria a área próxima à entrada principal, constituída por abatimento de
blocos (Fotografia 51). Possui ampla abertura, o que favorece a iluminação natural. O
nível inferior é completamente escuro, pois a abertura de acesso ao salão é pequena
e estreita. O teto é baixo. Há muita umidade, sendo seu piso constituído por uma
mistura de água e sedimentos, resultando em um material lamacento. O terreno
neste nível é uniforme e não apresenta declividade.
Figura 30 – A Gruta do Cedro II. Equipe de mapeamento: Angelo Spoladore, Leila Benitez e
Sergio M. Silva.
222
As paredes da gruta são compostas por rocha arenítica bastante fraturada. A
cavidade possui um único salão, mas há três corredores bastante estreitos. Foram
encontrados alguns poucos ornamentos. Conforme verificamos na Fotografia 52, no
interior da caverna ocorre grande quantidade de blocos abatidos.
Não foram verificados vestígios de material arqueológico no local.
Provavelmente devido às condições bastante desfavoráveis, tais como teto baixo e o
excesso de umidade, este não tenha sido local propício para abrigar civilizações
passadas. No caso do nível mais elevado da gruta, onde há bastante claridade, este
material pode estar escondido embaixo da grande quantidade de blocos abatidos.
A fauna que habita a gruta é constituída por quantidade de morcegos e
insetos diversos.
A gruta está localizada próxima a um fragmento de mata nativa, característica
de cerrado.
Fotografia 51 - Uma visão da porção mais
elevada da Gruta do Cedro II. Autor: Ângelo
Spoladore
Fotografia 52 – O interior da Gruta do Cedro
II. Autor: Ângelo Spoladore.
223
G
RUTA DO CEDRO III (Figura 31)
Estando localizada a 680 m de altitude, possui duas amplas entradas e dois
salões. A rocha é pertencente à formação Pirambóia/Botucatu e encontra-se bastante
fraturada (Fotografias 53 e 54). Ocorre uma grande quantidade de blocos abatidos,
alguns de grandes dimensões. O piso é recoberto por sedimentos areníticos,
provenientes da ação intempérica na rocha que constitui a cavidade. As paredes da
gruta quase não apresentam umidade - são secas. No teto foi verificado grande
quantidade de estalactite de dimensão milimétrica, composto por sílica e óxido de
ferro.
Não foi encontrado no local nenhuma espécie de material arqueológico,
embora a gruta possua características propícias para ter sido utilizada como abrigo
de civilizações passadas.
Fotografia 53 – O interior da Gruta do Cedro
III. Autor: Ângelo Spoladore.
Fotografia 54 – A entrada principal da Gruta do
Cedro III. Autor: Ângelo Spoladore.
Foram encontrados na Gruta do Cedro III bem como várias espécies de
insetos (aranhas, opiliões e abelhas) habitando o local. Observou-se também
pegadas de pássaros e mamíferos (felinos), provavelmente de jaguatirica.
224
A vegetação que circunda a gruta é típica de cerrado. Nas proximidades da
gruta predomina mata nativa, com arbustos, muitos cipós e grande variedade de
plantas com espinhos.
Figura 31 – A Gruta do Cedro III. Equipe de mapaeamento: Angelo Spoladore, Leila Benitez
e Sergio M. Silva
GRUTA DO CAPIM (Figura 32)
A Gruta das Urtigas ou Gruta do Capim localiza-se nos limites da Estância Arco
Verde, nas proximidades da Gruta Arco Verde. A cavidade está há 900 m de altitude.
Esta cavidade pode ser facilmente visualizada a partir da estrada que liga São
Jerônimo à localidade de Terra Nova.
225
O acesso ao local se dá por estrada não pavimentada, mas em boas condições
de tráfego. A cavidade pode ser observada da estrada. A partir desta, é necessário
prosseguir a pé cerca de 600 m sem trilha definida. No início segue-se por pastagens
e após, em meio à vegetação arbustiva fechada, onde predominam em sua maioria
plantas do cerrado com espinhos, urtigas e samambaias de grande porte.
Figura 32 – Representação cartográfica da Gruta do Capim. Equipe de mapeamento:
Ângelo Spoladore, Leila Benitez e Sergio M. Silva
A litologia do paredão onde se desenvolveu a gruta é pertencente à
Formações Pirambóia / Botucatu. A rocha se encontra bastante fraturada e há grande
quantidade de blocos abatidos. Apresenta alto índice de concentração de óxido de
ferro, em níveis planares, ou não, em meio ao arenito.
A gruta possui ampla entrada que forma um arco (Fotografia 55), com
aproximadamente, 37 m de abertura. Uma queda, com pequeno volume de água, cai
de cima do paredão, em frente à gruta, onde a declividade é muito acentuada. A
cavidade possui dois salões. Na passagem de um para o outro há uma pequena
226
declividade e um rebaixamento no teto. Há também um duto estreito que liga um ao
outro.
O salão principal, próximo à entrada, é bastante favorecido pela iluminação
natural. Os blocos ali são de maior dimensão. Foram observados diversos
espeleotemas.
O salão secundário tem o teto bastante baixo. A rocha predominante é arenito
com coloração esbranquiçada. Nas paredes desse salão, foram observados diversos
pontos de infiltração de água, originando um lago onde há grande concentração de
matéria orgânica.
O piso da gruta, de um modo geral, é recoberto por sedimentos arenosos e
blocos de dimensões variadas.
Foram encontrados na gruta artefatos arqueológicos, evidenciando que o local
foi utilizado como abrigo de civilizações passadas. Entre os materiais identificados,
foram observados instrumentos em rocha lascada confeccionados em arenito
silicificado, quartzo e sílex. Também foram encontrados cacos de cerâmica.
Alguns blocos apresentam marcas escuras, aparentando terem sido
queimados, o que pode ser um indicativo de fogueiras. Este fato ocorre nos dois
salões. A hipótese destas marcas terem sido ocasionadas por fogueiras é contestável,
uma vez que o teto baixo e o lago existente no salão secundário, não favorecem a
presença de pessoas ali.
Embora em pequena dimensão, há indícios de degradação na gruta. Um
grande bloco apresenta nomes de pessoas esculpidos. Foram encontrados também
objetos que acusam a recente passagem de pessoas por ali: um caneco de alumínio
e pedaços de tecido.
Foram encontrados na gruta insetos diversos, bem como pegadas de
pássaros.
227
Foram observados restos de pássaros, provável caça de algum animal
mamífero que se abriga no local durante a noite.
Provavelmente, devido à claridade do salão principal e a ausência de luz no
salão secundário, este foi o único local onde foram vistos alguns morcegos.
Fotografia 55 – Visão geral da
entrada da caverna com vegetação
típica. Autor: Ângelo Spoladore
G
RUTA ÁGUA DO BIRA (Fotografias 56, 57, 58 e 59)
A Gruta Água do Bira, localiza-se no distrito de São João do Pinhal, há,
aproximadamente, 24 km de São Jerônimo da Serra. O acesso à caverna, após se
chegar à sede da fazenda onde a cavidade se encontra, dá-se por uma trilha que
termina em um lago, formado por queda d'água de 12 m de altura. Depois, segue-se
por um barranco, que, num primeiro estágio, nos leva até um paredão e mais acima
até a caverna.
A caverna se desenvolveu nos arenitos da Formação Pirambóia/ Botucatu, os
quais apresentam estratificação cruzada, níveis conglomeráticos, concreções de
minerais de ferro, altamente friável e com bolsões de argila. As paredes apresentam
marcas dos diversos níveis do lençol freático, que hoje se encontra abaixo da
caverna. O fraturamento é intenso em diversas direções.
228
A umidade é alta, fato este que proporciona o desenvolvimento de fungos. O
chão é formado por sedimentos arenosos bem como por afloramentos de arenito.
Foi verificada intensa degradação ocasionada pela ação antrópica. As paredes
apresentam-se esculpidas com datas e nomes de pessoas que por lá passaram,
sendo observado ainda rejeitos sólidos. Em uma das últimas visitas ao local, foi
constatado um certo abandono da Cachoeira do Bira e a Caverna Água do Bira. Não
foram verificadas evidências da presença recente de visitantes. A trilha que leva até a
cachoeira e caverna não está mais demarcada, tendo o mato tomado conta do local.
Na área mais próxima à cachoeira, observou-se a presença de grandes blocos
de arenito, blocos estes mais resistentes ao intemperismo e erosão, posto que se
apresentavam enriquecidos em sílica. Esta parte da gruta é rica em minerais de ferro.
Alguns minerais apresentam-se sob a forma de concreções botroidais. Foram
observados alguns raros espeleotemas centimétricos (couve-flor e estalactites). A
cavidade possui duas entradas (Figura 33)
Com relação à fauna que habita a caverna, a mesma é constituída por insetos
em geral e por morcegos. Próximo à entrada da cavidade foram observadas pegadas
de pássaros. A flora que envolve a caverna é composta, basicamente, por espécies
nativas.
Fotografia 56 – Aspecto geral da entrada da
Caverna Água do Bira. Autor: Ângelo Spoladore.
Fotografia 57 – Entrada secundária da Caverna
Água do Bira Autor: Ângelo Spoladore.
229
Fotografia 58 – Detalhe do fraturamento da
rocha condicionando o desenvolvimento da
cavidade. Autor: Ângelo Spoladore
Fotografia 59 – Vista da cachoeira. À direita na
foto temos a entrada da Caverna Água do Bira.
Autor: Ângelo Spoladore.
Figura 33 – A Gruta do Bira.
Desenho e organização : Leila
Benitez e Sergio M. Silva.
Equipe de mapeamento:
Ângelo Spoladore, Leila
Benitez e Sergio M. Silva.
230
6.2. OS ORNAMENTOS
6.2.1. Considerações Gerais
A ornamentação de uma caverna é formada por toda a gama de depósitos de
minerais que se acumulam no teto, paredes e chão da cavidade.
No caso das cavidades desenvolvidas em rochas ricas em sílica, os ornamentos
são pouco desenvolvidos e menos freqüentes do que nas cavernas desenvolvidas em
rochas carbonáticas. Mesmo assim, podemos encontrar diversos deles, que podem
ser constituídos por diferentes minerais.
Os ornamentos são divididos em espeleotemas e espeleogens. Os
espeleotemas, termo proveniente das palavras gregas
spelaion,
que significa caverna
e
thema
, significando depósito, podem ser definidos como sendo os depósitos
minerais secundários que se originam em uma caverna a partir de uma solução
química ou a partir da solidificação de um fluído qualquer. Os espeleotemas, por
definição, se originam após a fase de abertura da caverna.
Por espeleogem se entende aquele ornamento que tem sua origem
relacionada com a estrutura ou alguma outra característica inerente da própria rocha.
Em outras palavras, o espeleogem não se origina a partir de depósitos secundários
de minerais.
Wray (1996) afirma que os espeleotemas de sílica são uma prova inconteste
de que a dissolução é fator importante para a gênese e o desenvolvimento dessas
cavernas.
231
Os ornamentos mais comuns em cavernas de arenitos e quartzitos são:
crostas, estalactites, estalagmites, colunas, helictites,
boxworks
,
blisters
(bolhas),
cascatas de rocha, cortinas, corais de sílica (
coralloids
), casca de ovo, couve-flor e
tufos de couve-flor, pipocas e caixas de ovos (MARTINS, 1985; WRAY, 1996; HILL &
FORTI, 1986; URBANI & SZCZERBAN, 1974, WERNICK
et al.
, 1977, SPOLADORE,
2001; SPOLADORE, 2003).
A composição mineralógica dos depósitos secundários em cavernas é bastante
variável. Diferentes autores citam a ocorrência de espeleotemas compostos por
limonita e sílica (WERNICK
et al
., 1977); opala, gipsita, goetita e minerais do grupo
do alúmen (MARTINS, 1985); calcedônia, litioforita, calcita, cristobalita, tridimita,
opala-A, sílica amorfa e caulinita (WRAY, 1996).
6.2.2. Gênese dos Ornamentos
Com relação à gênese dos ornamentos, esta pode variar de acordo com as
condições de cada caverna. Mesmo ocorrendo algumas variações nos processos, os
resultados são semelhantes.
Os espeleotemas constituídos por sílica (opala e calcedônia), calcita e óxidos
de ferro (estalactites, estalagmites, cortinas, corais de sílica e crostas) são
considerados depósitos de águas circulantes, tendo sua gênese relacionada com o
gotejamento e escorrimento de soluções aquosas saturadas nestes compostos,
movimentando-se mediante a ação da gravidade.
A sílica precipitada é proveniente da dissolução da rocha arenítica e a
precipitação está relacionada a processos de evaporação, variação térmica,
232
saturação, alterações no pH das soluções ou, ainda, à presença de determinados
cátions ou organismos.
Os carbonatos que compõem alguns espeleotemas se originam pela dissolução
dos carbonatos existentes nas rochas sobrejacentes e a precipitação está
relacionada, igualmente, com o gotejamento e o escorrimento de soluções ricas em
carbonatos.
Os óxidos e hidróxidos de ferro (goetita, hematita e limonita) se originam pela
re-mobilização do ferro existente nas rochas sobrejacentes, bem como, nos próprios
arenitos, uma vez que tais rochas nos locais estudados apresentam grandes
quantidades deste elemento.
Vale ressaltar a hipótese para a formação dos ornamentos existentes na Gruta
do Inocente. Uma observação detalhada revelou que os espeleotemas dessa caverna
apresentam um núcleo composto por argila, silte e areia fino recoberto por uma
camada de espessura variável de óxido de ferro, identificada como goetita. Algumas
vezes, o núcleo do espeleotema encontrava-se oco, enquanto que outros
espeleotemas apresentavam uma estrutura maciça de óxido de ferro.
Também foram observados ornamentos do tipo caixa de ovo, principalmente
em locais onde o teto apresenta inclinação moderada.
Um exame mais detalhado mostrou que a água que escorre pelo teto inclinado
transporta e concentra fragmentos de argila, silte e areia fina retirada do arenito. Os
depósitos se formam onde a água cai sob a forma de gota. Se em um determinado
ponto o gotejamento é mais intenso, neste local os depósitos serão maiores,
podendo originar pequenas estalactites de areia e argila. Posteriormente, as
estalactites são recobertas por óxidos e hidróxidos de ferro. Nesta fase, o
desenvolvimento do ornamento é mais intenso, sendo que, aparentemente, a água
escoa na parte externa da estalactite.
233
Na fase seguinte, a água passa a correr na parte interna do espeleotema,
removendo por completo os fragmentos líticos, originando assim as estalactites ocas.
Posteriormente, o espeleotema é preenchido novamente por óxido e hidróxido de
ferro, gerando uma estrutura maciça.
Outros ornamentos possuem sua origem relacionada com a remoção mecânica
de partículas da rocha. Como exemplos, podemos citar as caixas de ovos, as
clarabóias, os sinos e as pias. Muitas vezes, as clarabóias e sinos encontram-se ao
longo de fraturas ou na interseção de duas fraturas, locais com maior aporte de
água.
Com relação às chamadas formas concêntricas ou círculos, propomos a
seguinte origem: a gota que cai fornece energia para que as partículas mais finas
existentes no solo sejam transportadas para as porções externas, mais afastadas do
ponto da queda da gota; enquanto que, próximo ao local onde a gota atinge o solo,
concentram-se fragmentos mais grosseiros. Os diferentes círculos concêntricos
representam, então, um re-trabalhamento do sedimento existente no chão da
caverna, quando os sedimentos mais finos sofrem um transporte maior do que os
sedimentos mais grosseiros.
Essa seleção origina círculos concêntricos, ocorrendo, inclusive, o
represamento de água no interior de tais feições, lembrando os travertinos das
cavernas carbonáticas. Devido às dimensões destes ornamentos, os mesmos também
poderiam ser chamados de micro-travertinos.
234
6.2.3.Ornamentos Identificados nas Cavernas Visitadas
Estalactite e Estalactite Encurvada (Painel 06 e Painel 07)
Juntamente com a couve-flor, corais de sílica e a caixa de ovo, as estalactites
são extremamente comuns nas cavidades estudadas, estando presentes na ampla
maioria delas.
Entende-se por estalactite, ornamentos com forma cônica, formada pela
deposição ou precipitação de minerais em locais de gotejamento de água no teto,
que se desenvolvem verticalmente em direção ao chão da caverna.
A constituição mineralógica pode variar, sendo identificados sílica, óxido de
ferro e calcita. Em alguns locais, como, por exemplo, a Caverna Quinhão 75 e a
Gruta do Inocente, foram observadas estalactites compostas por sílica próximas a
outras compostas por calcita ou óxido de ferro. Mas, na maioria dos casos, em uma
mesma caverna, ocorria uma certa homogeneidade na composição das estalactites.
As dimensões também são variáveis, predominando, no entanto, estalactites
com, aproximadamente, 5 cm de comprimento. As maiores estalactites foram
encontradas na Caverna do Inocente – Tamarana, Pr (estalactites de óxido de ferro
com 35 cm de desenvolvimento), Toca do Tibagi – São Jerônimo da Serra, Pr
(estalactites calcíticas com até 40 cm desenvolvimento) e na Toca das Colunas –
Ortigueira, Pr (estalactites calcíticas com até um metro de desenvolvimento).
Na Caverna Quinhão 75 (Ventania, Pr) bem como na Toca das Colunas, foram
identificadas estalactites encurvadas.
235
Cascata de Rocha (Painel 06)
As cascatas de rochas são originadas pela precipitação maciça de minerais a
partir da água que escorre pela parede da caverna. Neste caso, não ocorre o
gotejamento da água.
Nas cavernas estudadas foram observadas cascatas compostas por carbonatos
e óxidos de ferro, respectivamente, nas cavernas Quinhão 75 (Ventania, Pr) e
Inocente (Tamarana, Pr).
Caixa de Ovos (Painel 06)
Um dos ornamentos mais comuns nas cavernas estudadas. Na verdade, este
ornamento é classificado como espeleogem, posto que não ocorrem depósitos
minerais, mas sim a retirada de fragmentos ou dissolução da rocha em determinadas
porções.
Todavia, a caixa de ovos também pode ser formada a partir da retirada, do
transporte e da deposição de argila e areia fina pela água no teto da caverna.
Nos dois casos não existe, contudo, a formação de novos minerais, apenas o
re-trabalhamento dos já existentes.
O resultado é um padrão de altos e baixos, lembrando uma caixa de ovos.
O ornamento é formado pela própria rocha ou por associação de partículas de
granulometria oscilando entre argila e areia.
Ornamento bastante comum, estando presente em praticamente todas as
cavernas estudadas. Merecem ser citadas as caixas de ovos presentes nas cavernas
Portão de Baixo (Sengés, Pr) e na do Inocente (Tamarana, Pr).
236
Casca de Ovos (Painel 07)
Trata-se de uma crosta de composição silicática ou de óxido de ferro, que
ocorre no teto das cavernas. Recebe esse nome, pois forma estruturas ocas e
elípticas, normalmente descontínuas, lembrando cascas de ovos quebrados.
Este ornamento não é muito comum ocorrendo especialmente na Caverna da
Torre 2 (Ventania, Pr).
Couve-Flor /Corais de Sílica / Pipoca de Sílica (Painéis 06 e 07)
Um dos ornamentos mais comuns, presente em, praticamente, todas as
cavernas estudadas.
O termo couve-flor é muito utilizado no Brasil em virtude da semelhança entre
este ornamento e uma couve-flor. Todavia, na literatura internacional é utilizado o
termo
coralloids
ou
corallike
(forma semelhante ao coral) para designar tais formas.
Também podem ser encontradas referências à pipoca de sílica. Todavia, adotamos o
termo genérico de corais de sílica para designar todas estas formas. Acreditamos que
se trata do mesmo ornamento, só que em diferentes estágios de desenvolvimento.
Estes ornamentos são constituídos, normalmente, de sílica, podendo ocorrer
isolados ou recobrindo grandes áreas, bem como no teto e paredes da cavidade. Não
é difícil também encontrar estes ornamentos em blocos abatidos.
Estalagmite (Painel 06)
Estalagmite pode ser definida como sendo montículos de minerais precipitados
ou depositados no chão da caverna que crescem verticalmente em direção ao teto da
mesma.
237
Este ornamento possui ocorrência mais rara nas cavernas visitadas, sendo
identificado nas seguintes cavidades: Inocente Quinhão 75 (Ventania, Pr), Toca das
Colunas (Ortigueira, Pr), Toca do Tibagi (São Jerônimo da Serra, Pr) e Portão de
Baixo (Sengés, Pr).
Normalmente composto por carbonato ou óxido de ferro, possuindo dimensões
máximas de 20 cm.
Cortina (Painel 06)
Este espeleotema apresenta dimensão muito superior aos outros, se
desenvolvendo ao longo de fraturas onde a percolação da água é mais intensa.
Somente foram observadas cortinas nas cavernas Quinhão 75 (Ventania, Pr),
do Inocente (Tamarana, Pr) e na Toca da Cachoeira (Ventania, Pr). No primeiro caso
a constituição mineralógica era à base de carbonato enquanto que nos dois últimos a
composição era de óxido de ferro. Em todos os casos, as dimensões das cortinas
eram reduzidas. A maior cortina observada se encontra na Toca da Cachoeira
(Ventania, Pr) possuindo 50 cm de comprimento e se desenvolvendo por mais de 1
metro ao longo de uma fratura.
Colunas (Painel 07)
As colunas se formam pela união entre uma estalactite e uma estalagmite.
Este ornamento foi observado nas cavidades: Toca do Tibagi (São Jerônimo da
Serra, Pr), Toca das Colunas (Ortigueira, Pr) e Gruta do Inocente (Tamarana, Pr).
Nos dois primeiros casos, o referido espeleotema era composto por carbonato,
enquanto no último a composição era de óxido de ferro.
238
Crostas
As crostas são depósitos de composição silicática, carbonática ou de óxido de
ferro, que ocorrem recobrindo o teto e as paredes. É comum encontrar crostas
formadas ao longo de fraturas ou outros planos de descontinuidade.
Trata-se de espeleotema bastante comum em todos as cavernas visitadas.
Formas Concêntricas ou círculos (Painel 07)
Em algumas cavernas, como, por exemplo, nas cavernas do Albino (Tamarana,
Pr), Inocente (Tamarana, Pr) e Arco Verde (São Jerônimo da Serra, Pr), o
gotejamento de água em um sedimento arenoso rico em água originou um
ornamento bastante interessante, aqui informalmente chamado de formas
concêntricas.
Clarabóia (Painel 08)
Clarabóias são orifícios no teto da caverna ligando esta cavidade ao meio
externo ou a outra caverna.
Nas cavernas Portão de Cima e Portão de Baixo (Sengés, Pr) foram
identificadas cinco clarabóias, sendo que em três delas ocorre à passagem de água
originado cachoeiras.
Este ornamento não é formado por depósitos de minerais, mas sim pela
retirada de partículas da rocha.
239
Cúpula de Dissolução ou Sino (Painel 07)
A Cúpula de Dissolução ou sino é uma cavidade no teto da caverna com uma
forma cônica sem, contudo, colocar em comunicação a caverna com o meio exterior
ou com outra caverna. Possivelmente, a evolução do sino origina uma clarabóia.
Foram observados sinos nas cavernas Portão de Baixo (Sengés, Pr), Portão de
Cima (Sengés, Pr), Fazendão (Itaquerí da Serra, SP), Arco Verde (São Jerônimo da
Serra, Pr), Inocente (Tamarana, Pr), Albino (Tamarana, Pr) e na Gruta das Urtigas
(São Jerônimo da Serra, Pr).
Pias
Na Gruta do Cedro 3 (São Jerônimo da Serra) e no Toca de Cima (Ribeirão
Claro) a constante queda de água na rocha originou uma pequena cavidade,
lembrando uma pia de banheiro. Trata-se de ornamento bastante raro nas cavernas
visitadas.
Blocos e seixos presos no teto da caverna (Painel 08)
Como algumas das cavernas estudadas se desenvolveram em diamictitos,
podem ser originados ornamentos a partir de tais fragmentos rochosos. É o caso da
Caverna Caruana 3, onde o teto é extremamente rico em seixos e blocos de
tamanhos e composição variados.
Nesta cavidade, aproximadamente na sua porção central, encontra-se um
bloco de granito. Também podem ser visualizados diversos blocos menores de
diferentes dimensões, assim como uma quantidade muito grande de seixos.
Trata-se de um ornamento pouco comum.
240
5cm
Estalactite composta por minerais de ferro.
Autor: Ângelo Spoladore.
15cm
Estalactite e cortina formadas por calcita. Autor:
Ângelo Spoladore.
Cascata de rocha composta por calcita. Autor:
Ângelo Spoladore.
10cm
Estalactite e estalactite encurvada formada por
minerais de sílica. Autor: Ângelo Spoladore.
2,5cm
Caixa de ovo. Autor: Ângelo Spoladore.
4cm
Caixa de ovo. Autor: Ângelo Spoladore.
Painel 06 – Espeleotemas observados nas cavernas estudadas.
241
10cm
Casca de ovo. Autor: Ângelo Spoladore.
5cm
Corais de sílica. Autor: Ângelo Spoladore.
Colunas compostas por calcita. Autor:
Ferdinando Nesso.
Estalactites encurvadas. Autor: Ferdinando
Nesso.
17cm
Círculos. Autor: Ângelo Spoladore.
15cm
Estalagmite composta por carbonato. Autor:
Ângelo Spoladore.
Painel 07 – Espeleotemas observados nas cavernas estudadas.
242
2,5cm
Couve-flor. Autor: Ângelo Spoladore.
10cm
Teto recoberto por couve-flor. Autor: Ângelo
Spoladore.
3cm
Pipocas de sílica. Autor: Ângelo Spoladore.
10cm
Pipocas de sílica. Autor: Ângelo Spoladore.
Clarabóia. Autor: Ângelo Spoladore.
Bloco de granito no teto da Gruta Caruana 3. A
caverna se desenvolveu em meio a diamictito.
Os blocos e seixos no teto da caverna, devido à
erosão diferencial, ficaram expostos tornando-
se assim, espelegens. Autor: Ângelo Spoladore.
Painel 08 Ornamentos encontrados nas cavernas estudadas.
243
6.3. FAUNA
Ao longo dos trabalhos de campo, vários animais foram observados nas
cavernas, bem como em seu entorno. Todavia, a caracterização da fauna e da flora
não é objetivos deste trabalho, ficando aqui apenas o registro das principais espécies
encontradas (Painel 09).
Ressaltamos que não foram realizados estudos sistemáticos. Apenas foi feito o
registro fotográfico dos diferentes animais encontradas no interior das cavidades ou
próximo às suas entradas.
A caracterização do meio biótico dessas cavidades continua sem estudos,
sendo necessárias pesquisas urgentemente.
Dessa forma, temos:
Phyllum Molusca
Classe Gastropoda (caramujos)
Phyllum Arthropoda
Classe Chilipoda (centopéias)
Classe Arachinida
Ordem araneaea
Ordem opilionea
Ordem amblypygi
Classe Acarida (ácaros e carrapatos)
244
Classe Insecta
Ordem Orthoptera (grilos)
Ordem Blattaria (baratas)
Ordem Díptera (moscas e mosquitos)
Ordem Coleoptera (borboletas)
Ordem Lepidoptera (mariposas)
Ordem Hymenoptera (abelhas e vespas)
Ordem Diplopoda
Phyllum Chordata
Classe Amphibia (sapos e rãs)
Classe Reptilia (répteis)
Classe Aves (ninhos)
Classe Mammalia
Ordem Chiroptera (morcegos)
Ordem Rodentia (roedores)
Ordem Carnívora (animais carnívoros)
Família Canidae
Família Felidae (fezes e pegadas)
Como podemos verificar na Prancha 06, as cavernas estudas são amplamente
povoadas por colônias de fungos diversos. Na realidade, segundo Martins (1985), em
amostragens diversas em materiais provenientes de cavernas podem ser
identificadas, além das colônias de fungos, colônias de bactérias e leveduras.
245
Os fungos mais comuns nas cavernas desenvolvidas no arenito Botucatu, de
acordo com Martins (1985) são:
Penicillinum sp
,
Mucor sp
,
Fusarium sp
,
Monilia sp
,
Mycelia sterilia
,
Trichoderma sp
,
Apergillus niger, Fusarium sp
e
Botrytis sp
.
Não foram realizados estudos visando a identificação dos fungos existentes
nas cavernas. Tais estudos são essenciais posto que, dentre eles pode existir o
Histoplasma capsulatum
, que causa a doença conhecida como histoplasmose, que
pode até mesmo levar ao óbito.
Tais fungos são comuns tanto no meio externo quanto no ambiente da
caverna. Também não foram constatados casos de contaminação pelo
Histoplasma
capsulatum
nos visitantes das cavernas estudadas.
Todavia, não é possível atestar a segurança das cavidades sem a realização de
estudos micológicos completos.
246
Classe Arachinida Ordem Araneaea.
Autor: Ângelo Spoladore
Classe Arachinida Ordem Araneaea..Autor:
Ângelo Spoladore
Amblipigio (Arachnida, Amblypygi)
Autor: Ângelo Spoladore
Classe Arachinida, Ordem Araneaea.
Autor: Ângelo Spoladore
Classe Arachinida, Ordem Araneaea. Autor:
A . Carneiro.
Classe Arachinida, Ordem Opilionea
Autor: Ângelo Spoladore
Classe Arachinida Ordem Araneaea.
Autor: Ângelo Spoladore
Colônia de fundos. Autor: Ângelo Spoladore
Classe Arachinida Ordem Opilionea
Autor: A . Carneiro.
Classe Insecta, Ordem Lepidóptera. Autor:
Ângelo Spoladore
Classe Insecta, Ordem Orthoptera Autor:
Ângelo Spoladore
Classe Mammalia, Ordem Chiroptera
(morcegos) Autor: Â. Carneiro.
Painel 09 – Fauna Cavernícola
247
6.4. REGISTROS ARQUEOLÓGICOS
Da mesma forma que a fauna e flora, foge do escopo deste trabalho um
levantamento detalhado dos sítios e evidências arqueológicas.
Todavia, no decorrer das pesquisas, nos deparamos com um número de
informações muito grande, que deixamos aqui relatados.
Foram encontrados registros arqueológicos nas seguintes cavernas (Tabela
09):
Tabela 09– Sítios arqueológicos encontrados
Caverna Localização Evidência arqueológica encontrada
Toca do Porto de
Areia
São Jerônimo da
Serra, Pr
Material lítico lascado
Gruta da Água do
Bira
São Jerônimo da
Serra, Pr
Material lítico lascado e polido, restos ósseos.
Gruta do Cedro 1 São Jerônimo da
Serra, Pr
Pinturas rupestres; artefatos líticos lascados e
polidos (ponta de flecha, buril, raspador, facas,
machadinha, mão de pilão); restos cerâmicos;
restos ósseos; cinza de fogueiras; carvão.
Gruta de Terra
Nova
São Jerônimo da
Serra, Pr
Material lítico polido.
Gruta da Água do
Capim (ou das
Urtigas)
São Jerônimo da
Serra, Pr
Material lítico polido e lascado; restos de
cerâmica e ossos.
Ressaltamos que estes sítios arqueológicos são inéditos, sendo que seus
registros estão restritos a relatórios internos.
Em São Jerônimo da Serra também foi realizada uma campanha de resgate de
material arqueológico junto à população local. Foram regatadas aproximadamente,
sessenta peças, na maioria machadinhas e mão de pilão, as quais foram
248
classificadas, descritas, fotografadas e agora estão retornando a São Jerônimo da
Serra para constituir patrimônio de um museu municipal.
Pelo constatado em campo, o potencial arqueológico da região é muito
grande, sendo que até o momento, não estão sendo realizadas pesquisas nesta área.
Nas cavernas estudadas encontramos, basicamente, cinco diferentes tipos de
evidências arqueológicas (Painel 10): a) pinturas rupestres; b) utensílios líticos
lascados ou polidos; c) restos cerâmicos; d) ossos e conchas e e) carvão e cinzas de
fogueiras.
Estes materiais são utilizados para a distinção e conhecimento dos povos que
os confeccionaram.
Assim, considerando a pintura rupestre (ou arte rupestre), podemos dividir
esses povos segundo a Tabela 10:
No Paraná, são conhecidos vários sítios arqueológicos, especialmente na área
de afloramento do Arenito Furnas.
Por arte ou pintura rupestre entendem-se todas as inscrições (pinturas e
gravuras) deixadas pelo homem em suportes fixos de pedra (paredes de abrigos,
grutas, matacões, dentre outros).
Considerando os materiais líticos e cerâmicos, podemos dividir os povos pré-
históricos paranaenses em duas tradições: a Tradição Itararé e a Tradição Embu.
249
Tabela 10. - Principais Tradições da Arte Rupestre no Brasil
Tradição Características Local de ocorrência
Estende-se do alto de São
Francisco (Minas Gerais) até
Cariranha (Estado da Bahia).
São Francisco
Grandes figuras retangulares, ovais, estreitas, em conjunto,
chegando até um meto de comprimento, onde o vermelho e o
amarelo dominam, a policromia é a regra nos grandes painéis
geométricos, os zoomorfos são raros e representados por peixes,
cobras, lagartos e tartarugas e não há a representação de
veados.
Ocorre na caverna Abrigo do
Sol em Iraquara- BA.
Desde o Paraná,
atravessando São Paulo até
Minas Gerais.
Planalto
Representa mais de uma cena onde quase todos os grafismos são
pintados de ocre vermelho, raramente de amarelo e branco, os
zoomorfos predominantes e monocromáticos, já os natropo-
morfos aparecem em pequena quantidade. Há ocorrência de
superposições aparentemente serem intencionais.
Ocorre nas cavernas Lapa da
Cerca Grande e Gruta do
Ballet em Matozinhos - MG.
Sul do Piauí, parte da Bahia e
Ceará, Pernambuco, Rio
Grande do Norte, e norte de
Minas Gerais.
Nordeste
Os grafismos são principalmente cenas de antropomorfos muito
ativos como a caça, a luta, cenas realistas e naturalistas. Os
desenhos formam atos explícitos de dança, abrigos, copulações,
cerâmicas ou ritos. Há uma variação de cores que vão do ocre,
vermelho, amarelo, branco (caulim) até o preto (óxido de
manganês).
Caverna Boqueirão da Pedra
Furada em São Raimundo
Nonato – PI
Agreste
Possui figuras de maior tamanho, geométrico ou biomorfos.
Poucas cenas são representadas, onde, quase sempre dois
elementos caçando, pescando, etc. Há presença de mais
zoomorfos do que antropomorfos e algumas mãos positivas. Pode
se notar a presença das araras dentro das grandes figuras.
Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco e Piauí.
Território Amazônico
Amazônia
Presença de Antropomorfos muito simplificados, simétricos e até
geométricos. Cabeças radiantes são freqüentes.
Caverna da Pedra Pintada em
Monte Alegre - PA.
Geométrica
Expressa principalmente sobre forma de gravuras polidas onde
predominam as cupelas (depressões hemisféricas), figuras
geométricas, traços retilíneos e circulares com perfurações a
espaços regulares no fundo do sulco, tridáctilos numerosos e
poucos bioformos. Houve constatações de retoque ou
superposições de pinturas.
Planalto Central: Santa
Catarina, São Paulo E Mato
Grosso.
Planalto Setentrional: Ceará,
Paraíba e parte de Goiás.
Meridional
Predominância de signos geométricos lineares não figurativos e
tridáctilos. Predominantemente manifestadas sobre blocos
isolados ou lajes horizontais.
Sul do país.
Litoral
Catarinense
Painéis gravados em lugares de pouco acessíveis, quase sempre
perigosos em fazendo frente para o mar. As gravuras são
profundas e polidas.
Ilhas de até 5 km da costa.
250
Restos ósseos encontrados na Gruta do Bira, São
Jerônimo da Serra, Pr. Autor: Ângelo Spoladore.
Representação geométrica. Autor: Ângelo
Spoladore
Ponta de flecha resgatada de populares
em São Jerônimo da Serra, Pr. Autor:
Ângelo Spoladore.
Restos cerâmicos encontrados na Gruta do Cedro 1,
São Jerônimo da Serra, Pr. Autor: Ângelo Spoladore.
Representação zoomórfica. Autor: Ângelo
Spoladore
Machadinha resgatada de populares em
São Jerônimo da Serra, Pr. Autor: Ângelo
Spoladore.
Representação antropomórfica observada na Gruta
do Cedro 1, São Jerônimo da Serra, Pr. Autor:
Ângelo Spoladore.
Trincheira de observação feita por equipe de
arqueólogos do Museu Paranaense Gr do Cedro 1,
São Jerônimo da Serra, Pr. Autor: Ângelo
Spoladore.
Mão de pilão resgatada de populares em
São Jerônimo da Serra, Pr. Autor: Ângelo
Spoladore.
Raspador encontrado na Gruta do Capim (ou
Urtiga), São Jerônimo da Serra, Pr. Autor: Ângelo
Spoladore.
Raspador. Autor: Ângelo Spoladore.
Quebra coco encontrado na Gruta do
Cedro 1, São Jerônimo da Serra, Pr.
Autor: Ângelo Spoladore.
Painel 10 – Evidências Arqueológicas identificadas nas cavernas estudadas.
251
6.5. CONDIÇÕES AMBIENTAIS DAS CAVERNAS ESTUDADAS
No geral, as cavernas estudadas apresentam condições ambientais bastantes
satisfatórias. Muitas delas estão situadas em locais de difícil acesso, fator este que
limita sua visitação, preservando-as.
Mesmo aquelas de acesso fácil, a depredação ambiental é moderada.
Algumas vezes ao adentramos as cavidades, a impressão que se tinha é que
éramos os primeiros em um bom tempo a estarem naquele local. Não se observava
qualquer interferência humana. Apenas as que deixávamos. Também foram comuns
encontrarmos pegadas e fezes de felinos.
Todavia, alguns fatores têm que ser considerados. O primeiro deles é que não
existe uma política de atrair visitantes para estes cavidades. Alguns locais fora da
área de estudo, como por exemplo, Ribeirão Claro, União da Vitória, Itararé (SP)
procura divulgar o turismo e como atrações turísticas, as cavernas areníticas desses
municípios.
Assim, no
folder
institucional da cidade de Ribeirão Claro, podemos ver fotos e
a localização das cavernas Água Virtuosa e do Espeleotema. Em Itararé, cidade
paulista muito próximo a divisa com o Paraná um
folder
local divulga a Gruta do
Barreiro bem como uma associação local que visa desenvolver o turismo. Em União
da Vitória, sul do Estado do Paraná, o mapa turístico local mostra a localização de
duas cavernas.
Tirando esses casos, toda a visitação que as cavernas aqui trabalhadas
recebem, é espontânea, sem guia, sem equipamentos apropriados e o local não
possui qualquer benfeitoria ou infra-estrutura para receber os turistas.
252
Caso seja implantado por parte dos municípios ou de particulares atividades
turísticas, certamente, devido à falta de preparo, tal situação sofrerá profunda
mudança.
Mesmo nessas cavernas que estão sendo divulgadas, não existe preparo
adequado do local nem do pessoal envolvido, sendo que muitas vezes as visitas são
feitas desacompanhadas de guias ou monitoras.
Não é à toa que os maiores impactos observados encontram-se justamente
nas cavernas com maior visitação.
Os problemas encontrados nas cavernas podem ser agrupados em três
grupos:
Pichações e inscrições deixadas nas paredes das cavernas;
Acúmulo de resíduos sólidos nas proximidades e interior das cavernas;
Atividades diversas nas imediações das cavernas.
As pichações e inscrições feitas nas paredes, blocos do interior da caverna
bem como em árvores próximas à entrada, são extremamente comuns. Foram
identificadas pichações à caverna Arco Verde e a Gruta do Bira
Na Caverna Arco Verde as inscrições são poucas estando limitadas à entrada
da caverna feita a canivete ou outro material pontiagudo. Todavia, mesmo com
algumas evidências da presença humana, a Caverna Arco Verde apresenta-se
bastante preservada e em seu interior podem ser vista diversos indivíduos de
diferentes espécies.
Na Gruta do Bira, podem ser visualizadas diversas inscrições bem como
resíduos sólidos. Todavia, como o proprietário está limitando o acesso ao local, as
253
inscrições estão sendo recobertas de musgos e em alguns casos, desgastadas pelo
escorrimento da água.
Outro problema bastante comum nas cavidades com visitação é o acúmulo de
resíduos sólidos no interior e partes externas da caverna. Neste quesito merecem
destaque a Caverna Água da Pedra.
A Caverna do Louco estava supostamente sendo habitada por um indivíduo
que não gozava plenamente de suas faculdades mentais. Por outro lado, há quem
diga que o elemento é na verdade um fugitivo da justiça. O fato é que tanto no
interior como no exterior da caverna foi encontrada uma quantidade muito grande de
resíduos, indicando que esta cavidade está sendo habitada por um longo período de
tempo. Foram encontrados roupas, sapatos, dinheiro, embalagens plásticas, garrafas
de aguardente, embalagem longa vida de leite e outros alimentos estocados
indicando que na realidade, a cavidade ainda está sendo usada por alguém. No
interior da caverna foram observadas ainda prateleiras, talheres e cama.
Especificamente neste caso, todo o resíduo acumulado pode ser atribuído a
apenas um indivíduo. Mesmo com tal situação, as condições gerais da cavidade são
boas.
Outra caverna onde verificamos o acúmulo de resíduos foi a Caverna do
Cambota. Nesta cavidade, foram encontradas diversas latas bem como pneus no
interior da caverna. Pelo observado em campo, as latas foram trazidas para a
caverna pela ação das águas proveniente do sistema de drenagem da estrada que
passa sobre a caverna. Possivelmente os resíduos foram jogados ao lado da estrada
próxima à entrada da caverna e as águas de chuva se encarregaram de transportar
para o interior da cavidade juntamente com aproximadamente um metro de
sedimento argiloso, o que está assoreando rapidamente a caverna. Neste caso, o
fator impactante de maior importância é a estrada. Foi solicitado junto a Prefeitura
Municipal de Mandaguari que fosse alterado o leito da estrada e que, enquanto isso
254
não acontecesse, fosse alterado o sistema de drenagem para que as águas de
escoamento superficial não adentrassem a caverna.
Também foram encontrados resíduos sólidos nas cavernas Arco Verde, Água
Virtuosa, Toca das Pinturas de Jaguariaíva, Água da Pedra e Portão de Baixo (Painel
11).
Talvez o fator que cause maior impacto na caverna seja a atividade
desenvolvida nas proximidades das cavernas. Mesmo estando em áreas de
preservação permanente, as cavernas podem sofre drasticamente com o
desmatamento de áreas próximas bem como com alterações no sistema de
drenagem superficial e de sub-superfície.
Muitas vezes são desenvolvidas atividades antrópicas imediatamente acima
das cavernas, colocando em risco a cavidade bem como as pessoas que ali
trabalham. É o caso do sistema Portão de Cima e Portão de Baixo e da Caverna Cheia
d’Água.
Tal situação foi constatada nas seguintes cavidades: Arco Verde (Painel 11),
Cedro I.
255
Pichações na Gruta Água do Bira.
Autor: Ângelo Spoladore.
Grande quantidade de sedimentos
na entrada da Gruta Arco Verde.
Autor: Ângelo Spoladore.
Exemplo de desmatamento nas
proximidades da cavidade. Autor:
Ângelo Spoladore.
Árvore caída e jogada nas
proximidades do Abrigo do Porto
de Areia. Autor: Ângelo
Spoladore.
Resíduos sólidos existentes no
interior de cavidade natural. Autor:
Ângelo Spoladore.
Objetos deixados na Gruta Água da
Pedra, São Jerônimo da Serra, Pr.
Autor: Ângelo Spoladore.
Depósitos de areia no interior da
caverna. Gruta do Bira, Autos:
Angelo Spoladore
Depósitos sedimentares no interior
da Gruta de Terra Nova,
proveniente do meio externo.Autor:
Angelo Spoladore
Resíduos deixados na Gruta Água da
Pedra, São Jerônimo da Serra, Pr.
Painel 11 – Impactos Diversos Observados nas Cavidades Estudadas.
256
6.6. GÊNESE E EVOLUÇÃO
Podemos agrupar as cavernas quanto à gênese nos seguintes grupos:
Cavernas desenvolvidas por abatimento de blocos
Cavernas desenvolvidas pela remoção mecânica de partículas das rochas;
Cavernas desenvolvidas pela solubilização da sílica e posterior remoção mecânica das
partículas da rocha;
Cavernas Desenvolvidas por Abatimento de Blocos.
Em Londrina, Paraná, temos o relato de uma cavidade basáltica desenvolvida
devido ao abatimento de blocos. Trata-se de cavidade de pequenas dimensões e com
formato irregular.
São conhecidas cavidades formadas por esse processo em São Jerônimo da
Serra e Sengés.
Em São Jerônimo, apesar da caverna não ter sido estudada detalhadamente,
foi constado que a mesma apresenta inclusive espeleotemas desenvolvidos após o
abatimento.
Este processo também pode originar salões dentro de uma caverna qualquer.
Como exemplo citamos o Buraco do Jacaré (Itapeva, SP) que o abatimento de um
grande bloco originou diferentes níveis bem como salões.
257
Cavernas Desenvolvidas pela Remoção Mecânica de Partículas
da Rocha.
Este processo gerou cavidades como a Toca do Tigre (ou do Katushi) em São
Jerônimo da Serra, a Toca Submersa em Ventania, a Grota da Cachoeira em Palmas
e atuou de forma decisiva no desenvolvimento da Gruta da Sede e na Gruta da Torre
2, ambas localizadas em Ventania, Pr.
A cavidade assim desenvolvida normalmente encontra-se às margens de curso
d’água qualquer sendo comum também àquelas próximas a cachoeiras.
A Toca do Tigre e a Toca Submersa, por exemplo, estão localizadas às
margens de um rio com boa vazão, na parte externa de um meando, região onde a
água age com mais intensidade. Assim, em época de cheia, o rio bate diretamente
sobre a rocha removendo mecanicamente fragmentos e abrindo a cavidade.
Este processo pode ser acelerado quando a rocha apresenta camadas
compostas por materiais com resistências à erosão, ocasionando a chamada erosão
diferencial. É exatamente o que ocorre com a Toca do Tigre. Esta cavidade se
desenvolveu em meio as litologias da Formação Rio do Rasto, a qual é composta por
uma alternância de camadas com composição argilosa, síltica e arenosa.
De maneira similar, no caso das cachoeiras, a erosão regressiva pode abrir
cavidades de pequeno porte e normalmente de grande beleza.
258
Cavernas Desenvolvidas pela Dissolução da Sílica
Acreditamos ser este o principal processo de gênese das cavidades estudadas.
Mesmo quando um dos outros dois processos estava envolvido, pode-se observar
claramente evidências da dissolução da sílica.
Mas como provar que a sílica está sendo dissolvida originando dessa forma, as
cavernas e outras formas cársticas de relevo?
Conforme procuramos demonstrar anteriormente, a solubilidade da sílica está
relacionada principalmente com a temperatura e com a presença de determinados
elementos químicos, em especial o sódio (Na
+
) e o potássio (K
+
).
Benitez (2002) realizou levantamento geoquímico para flúor, sódio e potássio
das águas superficiais na região de São Jerônimo da Serra. O levantamento inicial
visava a caracterização ambiental, buscando possíveis fontes poluentes ou
contaminadoras. A autora enfatiza o fato de que as concentrações elevadas se
encontravam em regiões agricultáveis e com assentamentos nas proximidades.
Todavia, em seu trabalho Benitez (2002) não utiliza os trabalhos de Okamoto
et al.
(1957), Keller
et al.
(1963), Wray (1997) e Wray (2003) e acaba por não
relacionar as elevadas concentrações de K
+
e Na
+
com o desenvolvimento das formas
cársticas.
Os pontos amostrados no trabalho de Benitez (2002) encontram-se na Figura
34 e Tabela 11, juntamente com as respectivas concentrações de K
+
e Na
+
.
259
515000 520000 525000 530000 535000
7370000
7375000
7380000
R
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R
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o
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0m 5000m 10000m
Figura 34 -
Distribuição
dos pontos
amostrados ao
longo da Sub-
Bacia do Rio
do Tigre,
Fonte: Benitez
(2002).
515000 520000 525000 530000 535000
7370000
7375000
7380000
R
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s
P
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s
0m 5000m 10000m
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 3.50 4.00
Figura 35: Distribuição das concentrações de K
+
ao longo da Sub-Bacia
do Rio do Tigre. Fonte: Benitez (2002)
260
Tabela 11: Valores das Concentrações de K e Na (em ppm ou mg/L) Pertencentes à
Sub-Bacia do Rio Tigre. Fonte: Benitez (2002)
Ponto de Coleta Localização
Teores de
K
+
Teores de
Na
+
01 Nascente rio do Tigre
22k537269 / UTM 7368935
2.20 0.77
02 Fazenda Santa Terezinha
22K536593 / UTM 7370074
2.20 0.25
03 Rio do Tigre
22K 536597 / UTM 7371520
1.41 0.25
04
Rio do Tigre - Sít. João M. Brandão 22K 531778 / UTM 7368579
1.61 0.25
05 Estância Vale Verde
22K 528707 / UTM 7375043
2.00 0.28
06 Sítio Santo André
22K 530969 / UTM 7373962
1.81 0.28
07 Fazenda São Jerônimo
22K 529978 / UTM 7373657
2.39 0.77
08 Fazenda São Jerônimo
22K 529045 / UTM 7374212
3.37 1.76
09
Rio do Tigre - ponte próx. Hospital 22K 526867 / UTM 7375539
1.61 0.77
10
Rio do Tigre -Salto João
Nogueira
22K 522792 / UTM 7376653
2.20 0.28
11
Afl. rio do Tigre - Assent Arixiguana 22K 534956 / UTM 7371801
1.22 3.23
12
Rio do Tigre - Assent.
Arixiguana
22K 533806 / UTM 7364207
1.81 0.28
13
Água do Serrado
Afl. Rib. dos Pilões
22K 532292 / UTM 7370392
1.61 0.28
14 Nascente Rib. dos Pilões
22K 531833 / UTM 7367748
0.82 0.25
15 Nascente Água do Capim
22K 528439 / UTM 7368678
2.00 1.26
16 Estância Arco Verde
22K 526234 / UTM 7370005
2.00 0.28
17 Água do Capim
22K 526008 / UTM 7369697
2.20 0.77
18 Ribeirão dos Pilões
22K 526635 / UTM 7372464
1.81 0.28
19
Rib.Pilões -Assent. Rosely
Nunes
22K 528359 / UTM 7370954
2.00 0.28
20 Afl. rio do Tigre -Katussi
22K 517896 / UTM 7378597
1.81 3.73
21 Ponte do rio do Tigre – Katussi
22K 518123 / UTM 7378505
1.81 1.76
22 Represa - ribeirão Taquara
22K 526165 / UTM 7378370
4.16 1.26
23 Rib. Taquara - Sítio São Jorge
22K 522657 / UTM 7380590
2.00 0.77
24 Rib. Taquara
22K 520476 / UTM 7380901
1.22 0.77
25 Rib. Taquara - ponte
22K 520901 / UTM 7380931
2.00 0.77
26 Rio do Tigre
22K 520873 / UTM 7380931
2.20 0.77
27 Nascente rib. Passo Fundo
22K 531400 / UTM 7371300
2.20 0.77
28 Água do Salto - porto de areia
22K 526700 / UTM 7375200
2.00 0.28
29 Água da Lagoinha
22K 518800 / UTM 7317950
2.98 4.22
30 Pátio Samae – poço I
22K 514750 / UTM 7380900
2.59 1.26
31 Mina - prox. Porto de areia
22K 526583 / UTM 7374986
1.61 0.25
Na Figura 35 apresentam-se os resultados obtidos por Benitez (2002) onde é
observado que os teores de potássio mais elevados nas nascentes do rio Tigre bem
como em seu médio e baixo curso, em especial na região do chamado Assentamento
do Tigre, onde ocorrem várias cavernas.
261
Com relação ao sódio, analisando o trabalho de Benitez (2002) verifica-se que
as maiores concentrações estão localizadas na cabeceira e próxima a foz do Rio do
Tigre (Figura 36).
515000 520000 525000 530000 535000
7370000
7375000
7380000
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00 3.50 4.00
0m 5000m 10000m
Figura 36 - Distribuição das concentrações de sódio ao longo da Sub-Bacia do Rio do
Tigre. Fonte: Benitez (2002)
Nestes casos também as anomalias coincidem com locais onde existe uma
maior concentração de caverna.
Estes dados ficam mais interessantes quando analisados em conjunto com os
levantamentos feitos por MINEROPAR (2001) quando são apresentados
262
levantamentos de K
+
e Na
+
, entre outros, em águas superficiais para todo o Estado
do Paraná.
Nas Figuras 37 e 38 vemos os resultados para K
+
e Na
+
para o Estado do
Paraná.
Ao compararmos os dados de Benitez (2002) e MINEROPAR (2001), verifica-se
que estes são coerentes sendo os resultados muito semelhantes tanto para o K
+
como para o Na
+
.
Figura 37: Mapa da distribuição de potássio no Estado do Paraná. Fonte:
MINEROPAR (2001)
263
Figura 38: Distribuição das concentrações de sódio no Estado do Paraná.
Fonte: MINEROPAR (2001)
Os dados da MINEROPAR (2001) revelam para ambos os elementos, um
padrão em V, acompanhando a passagem do Segundo para o Terceiro Planalto
Paraense, com concentrações mais expressivas na região NE do Estado (região de
Ribeirão Claro, Carlópolis e Santo Antônio da Platina), na porção central do Estado
(São Jerônimo da Serra, Tamarana, Mauá da Serra e Ortigueira) e no sul do Paraná,
na região de Rio Azul, União da Vitória e Paulo Fortin.
Toda as regiões onde foi constatada uma concentração mais elevada de K
+
e
Na
+
são coincidentes com os Distritos Espeleológicos Areníticos propostos para a
Província Espeleológica Arenítica Serra Geral e são regiões com ocorrências de
cavernas.
Aqui vale uma ressalva. Apesar de considerarmos a dissolução da sílica o
processo espeleogenético principal, a evolução das cavernas localizadas na diferentes
províncias espeleológicas areníticas se deu de forma diversa. Assim, as cavernas
areníticas que se originaram na Província Serra Geral apresentam características
264
distintas das cavidades que se desenvolveram na Província Espeleológica Arenítica da
Formação Furnas e na Província Espeleológica Arenítica do Grupo Itararé.
Fases Evolutivas das Cavernas Estudadas
Então, considerando o exposto acima, concordando com o trabalho de
Szcerban (1974) que relaciona a solubilidade da sílica com a temperatura e
concordando com as idéias de Martins (1985), Veríssimo & Spoladore (1991), Delavi
(1995), Soares (1989) e Benitez, (2002), para a abertura e evolução das cavernas
estudadas consideramos quatro fases:
1ª. Fase: dissolução inicial da sílica
2ª. Fase: implantação da drenagem
3ª. Fase: abatimento de blocos
4ª. Fase: inversão da drenagem.
1ª. Fase: Dissolução Inicial da Sílica
Acreditamos que em uma fase inicial da abertura das cavernas areníticas,
ocorreu à dissolução de porções da rocha quartzosa no topo da zona saturada. Este
fato, no caso das cavernas pertencentes à Província Espeleológica Arenítica Serra
Geral (arenitos das formações Pirambóia e Botucatu) foi facilitado pela grande
porosidade primária e secundária das rochas. No caso das províncias espeleológicas
areníticas da formação Furnas e do Grupo Itararé, cuja porosidade de suas rochas é
265
menor que a das rochas do Botucatu, o intenso fraturamento das rochas exerceu
papel fundamental.
A dissolução das rochas estaria relacionada ainda com a mistura de águas
freáticas de percolação com diferentes concentrações de sílica dissolvida,
aumentaram o poder de corrosão dessas águas sobre os arenitos.
Várias são as evidências dessa fase, sendo que foram encontradas cavernas
que ainda se encontram neste momento de desenvolvimento. As feições mais
comuns relacionadas com a dissolução são as
wall pocket
(Fotografias 60, 61 e 62)
que podem ser definidas como cavidades de dimensões reduzidas formadas pela
dissolução, normalmente com forma tubular, existentes nas cavidades areníticas. Os
espeleotemas chamados de sino e descritos anteriormente, também são exemplos
dessa fase. São as chamadas cúpulas de corrosão (Fotografia 63) que teriam se
desenvolvido quando as galerias encontravam-se inundadas.
Fotografia 60 – Cavidade de dissolução
ativa em condições freáticas observada na
Caverna do Inocente (Tamarana/PR).
Autor: Anelo Spoladore.
Fotografia 61 – Cavidade de dissolução
ativa em condições freáticas observada
na Gruta do Portão de Baixo (Sengés/PR).
Autor: Anelo Spoladore.
266
Fotografia 62 – Cavidade de dissolução
controlada por fraturamento da rocha.
Caverna Portão de Baixo (Sengés/PR).
Autor: Anelo Spoladore.
Fotografia 63 – Cúpula de dissolução
(ou sino) existente no teto da caverna
Portão de Baixo (Sengés/PR). Autor:
Anelo Spoladore.
Seguindo está mesma linha de pensamento, as caixas de ovos também
poderiam representar pequenas cúpulas de dissolução.
A cavidade nesta fase seria de pequenas dimensões, estando condicionada
pelas interseções de planos de fraturas com a estratificação da rocha, em
concordância com os modelos de Martins (1985), Deike (1969), Monteiro
et al
.
(1981) e Veríssimo & Spoladore (2001).
2ª. Fase: Implantação da Drenagem
São característica dessa fase a implantação de drenagem no interior da
cavidade e o conseqüente rebaixamento da zona saturada. O desenvolvimento da
cavidade passa a se dar principalmente sob condições vadosas. A dissolução e
267
corrosão continuam ocorrendo, só que agora limitadas a galerias secundárias, como
as mostradas nas Fotografias 60, 61 e 62.
O alargamento das galerias principais se dá pela desagregação e pela abrasão
(Fotografia 64 e 65) ocorrendo ainda a incasão.
Fotografia 64 – Exemplo de cavidade com
desenvolvimento compatível com a 2ª. Fase
- Gruta do Portão de Baixo (Sengés/PR)
Autor: Anelo Spoladore.
Fotografia 65 – Caverna com
desenvolvimento compatível com a 2ª. Fase
– Gruta do Inocente (Tamarana/PR). Autor:
Anelo Spoladore.
Ainda nesta etapa inicia-se a formação dos depósitos sedimentares mecânicos
e químicos no interior das cavernas.
Os depósitos químicos, que na realidade são os ornamentos das cavernas,
ocorrem pela concreção de minerais secundários nas paredes e teto.
Já os depósitos mecânicos ou clásticos são compostos por alguns blocos
abatidos e por depósitos de areia do tipo aluvionar.
Nesta fase, predominam formas arredondadas sendo raros os cantos e
arestas.
268
3ª. Fase: Abatimento de Blocos
Com a continuação do processo, o nível hidrostático é rebaixado ainda mais e
a drenagem que até então existia na caverna, passa para níveis inferiores. A caverna
fica então, seca. Neste momento a evolução se dá mediante o abatimento e acúmulo
de fragmentos rochosos (Fotografia 66).
Como a água não mais levará os sedimentos para fora da caverna, podem ser
vistos nas cavernas que se encontram nesta fase, amplas áreas com depósitos de
blocos com diferentes dimensões.
Predominam tanto na parede como no teto, formas abruptas com cantos e
arestas vivas, sem arredondamento.
4ª. Fase: Inversão da Drenagem
A quarta e última fase de evolução das cavernas estudadas é caracteriza pela
inversão da drenagem. A águas de escoamento superficial passam a correr para o
interior da cavidade onde formam pequenos lagos (Fotografia 67) e posteriormente
se infiltram na rocha.
Tais águas transportam sedimentos arenosos, os quais são depositados no
interior da caverna, assoreando-a. Nesta fase ocorre o fechamento definitivo da
caverna.
269
Fotografia 66 – Blocos abatidos
(processo de incasão ou
desmoronamento).Buraco do Jacaré
(Itapeva/PR). Autor: Anelo Spoladore.
Fotografia 67 – Depósitos de areia e lago
existente na Gruta Arco Verde (São Jerônimo da
Serra/PR) Autor: Anelo Spoladore.
Em algumas situações foi verificado que em uma mesma caverna podemos
identificar diferentes fases. Em outras aparentemente houve um rejuvenescimento da
caverna. Nestes casos, na cavidade já predominava o abatimento de bloco sendo
que, aparentemente, passou a ocorrer à dissolução novamente, com o
desenvolvimento de novas galerias.
270
7. A METODOLOGIA PROPOSTA APLICADA EM UMA CAVERNA
REFERÊNCIA (ARCO VERDE)
De acordo com o apresentado no Capítulo 4, o primeiro passo da metodologia
proposta consiste na elaboração de um banco de dados sobre a área de estudo.
Os dados obtidos nesta etapa dos trabalhos estão apresentados no Capítulo 5
(A Potencialidade Turística de São Jerônimo da Serra), inclusive as áreas, em escala
do município, que apresentam algum tipo de risco.
O passo seguinte são os estudos que conduzem a viabilidade de implantação
de atividades turísticas nas cavernas que estão apresentados no Capítulo 6 deste
trabalho.
Posteriormente foi realizada a seleção das cavidades para o desenvolvimento
de atividades turísticas e, em seguida o estudo de uma caverna referência para a
caracterização da ocorrência de fenômenos geológicos de risco.
Em todas a cavernas localizadas na área de estudo foram aplicados os critérios
de seleção descritos no Capítulo 4, sendo construída a Tabela 12.
A análise da Tabela 12 mostra que, das cavernas estudas apenas as grutas
Arco Verde e Urtigas estão aptas, a princípio, para o desenvolvimento de atividades
turísticas.
Para uma melhor compreensão da aplicação da metodologia proposta, a
Caverna Arco Verde (referência) foi estudada em termos ocorrência de risco no seu
interior ou próximo a ela.
271
Tabela 12. – Seleção das cavernas para o desenvolvimento de atividades turísticas
Cav. Terra
Nova
Toca
Tibagi
Gr .Arco
Verde
Gr.
Urtigas
Gr .do
Poço
Gr.
Gostosin
ho
Toca
Porto
Areia
Cav.
Cedr
o I
Cav.
Cedro
II
Cav.
Cedro
III
Cav.
Cedro
IV
Cav.
Água
Pedra
Cav.
Bira
Gr.
Alta
Gr.
Baixa
Gr Tigre
A caverna não pode ser
objeto de pesquisas
científicas especiais
Localização em área de
preservação permanente,
unidades de preservação ou
outras áreas com legislação
específica.
Riscos à saúde humana
Facilidade de acessos
externos à caverna
Estética do interior e exterior
da caverna
Facilidade de acessos
internos da caverna
Riqueza, diversidade e
fragilidade da ornamentação
da caverna.
Riqueza, diversidade e
fragilidade da fauna da
caverna.
Estado de impacto ambiental
no interior da caverna e em
seu entorno
Capacidade interna
Fatores histórico-culturais e
arqueológicos.
Observações
Mais
estudos e
pesquisas
Difícil
acesso e
locomoçã
o interna
Caverna
adequada
para o
turismo
Sítio
arqueológi
co sem
estudo
Gruta
baixa,
sujeita à
inundação
e fauna
sensível.
Cavidade
sujeita a
inunda-
ção
Sítio
arqueoló-
gico sem
estudo
Área
indí-
gena
Área
indí-
gena
Área
indí-
gena
Área
indí-
gena
Visi-
tação
expon-
tânea
Visi-
tação
expon-
tânea
Área
indí-
gena
Área
indí-
gena
Cavidade
sujeita a
inun-
dação
Adequado para o turismo Necessários cuidados e estudos antes de liberar ou não para o turismo Não adequada o turismo
272
7.1. CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA E DA
DECLIVIDADE NO ENTORNO DA GRUTA ARCO VERDE
Como podemos observar nas Figuras 39 e 40, a área de entorno da
Gruta Arco Verde é caracteriza por apresentar desníveis acentuados com
altitudes oscilando entre 1145 metros e 750 metros e inclinações superiores aos
70
O
.
Os vales são encaixados apresentando nítida orientação segundo SE/
NW. As elevações apresentam-se orientadas segundo esta mesma direção.l
A Caverna Arco Verde está localizada a meia encosta, em terrenos com
declividade superior aos 30%, mais especificamente, em áreas com inclinação
entre 20
o
e 40
o
, existindo áreas ainda com inclinação superior aos 60
o
(Figura
40).
Tais fatos podem interferem na atuação de fenômenos erosivos bem
como na instabilidade das encontas.
Ressaltamos que, conforme descrito anteriormente quando da
caracterização da caverna (Capítulo 6 – As Cavernas Areníticas de São Jerônimo
da Serra), o entorno da Gruta Arco Verde apresenta evidências da atuação de
fenômenos erosivos e de deposição.
Um outro fator a se considerar é que as áreas para a implantação das
benfeitorias e aparelhos voltados ao turismo ao redor da Caverna Arco Verde
terão de ser cuidadosamente escolhidas bem como a localização da trilha de
acesso a caverna sob pena de aceleração e intensificação dos processos
erosivos. Inclusive, as trilhas não devem ter uma inclinação superior à 12
o
tanto
para facilitar o acesso, como também para diminuir a possibilidade de erosão e
movimentos repentinos de massa.
Assim, as áreas que apresentam restrição no entorno da Gruta Arco
Verde (Figura 40) são aquelas que aparecem em marrom escuro
273
4 km
Figura 39 – Mapa hipsométrico da área de
entorno das cavernas Arco Verde e Urtigas,
onde 15 é caverna Arco Verde, 14 é Gruta
do Capim e 6 é o Salto do Capim.
274
4 km
Figura 40 – Mapa das declividades do
terreno na área de entorno das
cavernas Arco Verde e Capim, onde 15
é caverna Arco Verde, 14 é Gruta do
Capim(Urtiga) e 6 é o Salto do Capim.
7.2. CARACTERIZAÇÃO PEDOLÓGICA
Nas proximidades da Caverna Arco Verde predominam solos
provenientes da decomposição de rochas areníticas da Formação Botucatu
275
(Figura 41). Trata-se de solos friáveis, inconsolidados ricos na fração arenosa,
altamente porosos e facilmente erodidos.
4 km
Figura 41 – Mapa pedológico da área de entorno das cavernas Arco Verde e Urtigas, onde 15
é Caverna Arco Verde, 14 é Gruta do Capim (ou Urtiga) e 6 é o Salto do Capim.
Manchas localizadas de solos argilosos estão restritas aos locais onde
afloram rochas magmáticas da Formação Serra Geral.
276
Ressaltamos que estes solos aliados ao uso e ocupação observados na
área estudada, bem como as características da morfologia local, origina um
ambiente propício para o desenvolvimento de processos erosivos e de
instabilidade de encostas.
7.3. USO E OCUPAÇÃO DO SOLO
Conforme se verifica na Figura 42, nas imediações da Gruta Arco Verde
são comuns às pastagens e áreas com vegetação de pequeno a médio porte.
Tal fato, aliado ao tipo de solo predominante e a declividade elevada,
colocam praticamente toda a área de entorno da Gruta Arco Verde como sendo
susceptível ao desenvolvimento de processos erosivos.
As áreas que apresentam uma vegetação de maior porte estão restritas
aos fundos dos vales e em áreas de maior declividade.
O tipo de atividade econômica mais comum nesta região é a pecuária
para corte e a ovinocultura.
277
Figura 42 – Uso e ocupação do
entorno das cavidades Arco Verde
e Urtigas, onde 15 é Caverna Arco
Verde, 14 é Gruta do Capim e 6 é
o Salto do Capim.
7.4. CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA E ESTRUTURAL
Conforme podemos verificar na Figura 43, nas imediações da Caverna
Arco Verde afloram rochas pertencentes à Formação Rio do Rasto, às
Formações Pirambóia e Botucatu e à Formação Serra Geral.
278
A cavidade em questão está localizada em meio a arenitos do Pirambóia/
Botucatu sendo que os termos ígneos da Serra Geral afloram nos topos das
elevações e os pelitos da Formação Rio do Rasto ocorre em cotas topográficas
inferiores (Figura 43). Imediatamente acima da caverna, ocorre uma pequena
mancha de basalto, ocorrendo ainda diques de pequeno porte preenchidos por
diabásio e orientados segundo NW.
Esta direção (NW) é de extrema importância, pois, é ela que controla o
abatimento de blocos na área da Caverna Arco Verde.
Estruturalmente, a caverna encontra-se no contexto da Zona de
Cisalhamento do Rio Tigre, descrita previamente. Dessa forma ocorrem diversas
falhas e fraturas paralelas a sub-paralelas orientadas segundo NW (Figura 43).
A Zona de Cisalhamento do Rio Tigre apresenta grande expressão regional,
podendo ser facilmente visualizada em imagem de satélite, mapa e até mesmo
no campo.
Outras fraturas que apresentam orientações segundo NE e NS também
podem ser visualizadas. Tais estruturas apresentam-se disseminadas
espaçadamente, porém homogeneamente por todo o entorno da Gruta Arco
Verde, não constituindo, no entanto, zonas de cisalhamento. Tanto as
estruturas orientadas segundo estas direções, em especial a NS, bem como as
estruturas orientadas segundo NW, condicionam o desenvolvimento de
corredores e salões no interior da caverna (Figura 44).
Analisando os gráficos da Figura 44 e a Figura 45, vemos que as direções
principais de fraturamento na área em questão são: N40/50W; N0/20W e,
secundariamente, N60/70 E.
Tais direções determinam não somente o desenvolvimento da cavidade
como também condicionam as paredes da caverna.
279
Figura 43 – Mapa geológico
mostrando as principais
estruturas geológicas existentes
no entorno da caverna Arco
Verde. , onde 15 é caverna Arco
Verde, 14 é Gruta do Capim e 6
é o Salto do Capim.
280
Figura 44 – Diagramas das atitudes das fraturas existentes no interior e nas proximidades da Gruta Arco Verde.
A)Diagrama de freqüência dos mergulhos das fraturas; B) Diagrama de contorno de pólos das fraturas.
Figura 45 – representação das principais direções de fraturas observadas no interior
da Gruta Arco Verde
Pelo que se observa em campo, o abatimento de bloco na Caverna Arco
Verde ocorre na intersecção de fraturas com direção NW com as fraturas
orientadas segundo NE. O terceiro plano importante é o acamamento. Os
planos praticamente horizontais funcionam como uma superfície de
descolamento, facilitando dessa forma, o abatimento dos blocos.
281
7.5. DETERMINAÇÃO DA PROBABILIDADE DE ABATIMENTO
DE BLOCOS NO INTERIOR DE UMA CAVERNA – O CASO DA
GRUTA ARCO VERDE
A probabilidade de abatimento de blocos no interior de uma caverna é
proporcional a:
Vão máximo da caverna;
Resistência a compressão da rocha onde a caverna se
desenvolveu;
Disposição espacial (atitude e orientação) dos planos de
descontinuidades no interior da caverna;
Espaçamento e freqüência das fraturas e outros planos de
descontinuidade;
Quantidade de família de fraturas;
Persistência das famílias de fraturas desfavoravelmente
orientadas;
Rugosidade das famílias de fraturas desfavoravelmente
orientadas;
Presença ou ausência de água nas fraturas;
Posicionamento do lençol freático;
Espessura e homogeneidade das camadas sedimentares que
compõem a rocha onde a caverna se desenvolveu;
Confinamento e espessura do recobrimento.
282
A Gruta Arco Verde apresentou uma área total de 259,25m
2
e um
volume de 583,312m
3
, sendo a altura média de 2,25m.
É sabido que esta caverna foi palco de dois grandes desabamentos, há
algumas centenas de anos, quando parte do teto cedeu por completo
originando as dolinas de abatimento lá existentes atualmente.
Nos estudos a caverna foi dividida em quatro salões e três corredores,
conforme figura 46.
Figura 46 – Planta esquemática da caverna Arco Verde mostrando sua subdivisão interna em quatro salões e dois
corredores, demarcados por cores diferentes..
A analisando os parâmetros citados anteriormente juntamente com
dados coletados anteriormente foi observada uma tendência maior de queda de
283
blocos em especial nos salões 3 e 4, enquanto que, nos corredores 1 e 2 esta
probabilidade é menor.
Dessa forma, caso seja implantada atividades turísticas, as mesmas
devem ser reduzidas nos salões citados anteriormente.
Ao analisar os dados estruturais (fraturamento das rochas onde a
caverna se desenvolveu) em conjunto com a vão livre da caverna Arco Verde
constata-se que o chamado salão 4 apresenta uma grande probabilidade de ser
palco de abatimento de blocos ao longo de fraturas com direção NW.
284
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto ao longo deste trabalho, podemos afirmar e concluir que:
Com relação às atividades turísticas:
As atividades turísticas causam, inevitavelmente, diversos impactos
ao meio ambiente.
Para o desenvolvimento de atividades turísticas, sejam elas
referentes ao ecoturismo, ao espeleoturismo ou a qualquer outra
modalidade de turismo, um bom planejamento é fundamental. Tal
planejamento deve ser precedido por uma fase de caracterização e
diagnóstico do meio ambiente em seus diferentes aspectos (físico,
biótico e sócio-econômico).
A caracterização do meio físico é de suma importância para o
planejamento turístico.
A Geologia de Engenharia, com seus diferentes métodos e
conceitos, pode trazer importante contribuição no planejamento
voltado ao turismo, especialmente na questão de reconhecimento
das áreas de risco geológico.
O planejamento voltado ao turismo é complexo, posto que envolve
o meio físico, biótico, sócio-ecnômico bem como, planejamento
urbano e um planejamento econômico específico.
A utilização de cavernas para o turismo está condicionada a uma
série de fatores, dentre os quais: a beleza da caverna, as
características de sua boca, capacidade de suporte espeleológico e
facilidade de acesso.
O planejamento do turismo deve ser regional, devendo haver uma
integração entre diversos municípios tanto no setor público
(prefeitura) bem como no setor privado.
O turismo pode se tornar uma importante fonte de divisa para o
município, desde que sua implantação e desenvolvimento sejam
feitos com planejamento.
285
Com relação às cavidades naturais desenvolvidas em meio a rochas
areníticas:
As cavernas de arenito no Estado do Paraná são mais comuns do
que é normalmente considerado.
No Paraná, foram localizadas 145 cavernas desenvolvidas em
rochas areníticas.
As cavernas e outras formas morfológicas desenvolvidas em arenito
ocorrem mediante a dissolução parcial da rocha, sendo então,
correta a utilização do termo carste para as rochas.
A dissolução da sílica está, aparentemente, relacionada com a
concentração elevada de potássio e sódio, havendo uma
coincidência entre as regiões de maior concentração destes
elementos com os locais mais abundantes em cavernas.
Deve ser desenvolvido um projeto visando a localização de novas
cavidades desenvolvidas em arenito bem como, para o
mapeamento e estudos das cavidades não descritas neste trabalho.
Um programa de monitoramento das cavernas aqui descritas deve
ser implementado.
Com relação à São Jerônimo da Serra:
São Jerônimo da Serra apresenta um bom potencial para o
desenvolvimento de atividades turísticas.
Para que o turismo seja explorado de forma concordante com o
desenvolvimento sustentável e com a maior harmonia possível com
a natureza, faz-se necessário um planejamento criterioso.
Na área estudada, o turismo atualmente vem sendo praticado de
forma espontânea e sem controle, sendo que já é possível observar
degradação nos atrativos naturais mais visitados.
Dos atrativos estudados, o turismo espontâneo vem sendo
praticado na Gruta Arco Verde, Salto do Tigre e Salto Caratuva.
Cada um dos locais de visitação espontânea deve ser alvo de
aplicação da metodologia proposta neste trabalho além de
fiscalização, regulamentação e de um plano de manejo.
O nome do município poderia ser alterado para Estância Turística
São Jerônimo da Serra.
286
A construção de um portal turístico e de uma central de
informações na entrada da cidade pode ser interessante.
Elaboração de projeto paisagístico embelezando a área urbana da
São Jerônimo, especialmente suas praças e locais históricos.
Treinamento de mão de obra especializada.
Segundo a análise dos fatores considerados como sendo de risco
somados a áreas de preservação permanentes, a melhor área para
a expansão urbana bem como para implantação de hotéis dentre
outros, é a região localizada ao norte / noroeste da cidade de São
Jerônimo da Serra.
Devem ser desenvolvidos roteiros turísticos, como por exemplo,
aqueles propostos neste trabalho.
As estradas que levam até os atrativos naturais devem ser alvo de
projeto paisagístico.
Para a implantação de equipamentos voltados ao turismo,
mediante estudo prévio, nos atrativos naturais, devem ser levando
em consideração uma área de pelo menos 500 metros de proteção.
Aquelas obras e equipamentos que sejam instalados nesta faixa de
proteção devem ser alvos de estudos criteriosos.
O Município deve criar um conselho municipal de turismo.
Legislação municipal voltada á regulamentação do turismo deve ser
criada.
Deve-se buscar um planejamento regional para o turismo, uma vez
que o mesmo também está se desenvolvendo em outros
municípios como, por exemplo, Tamarana e Sapopema, municípios
limítrofes com São Jerônimo da Serra.
É de suma importância a divulgação em todo o Estado do Paraná
bem como nos estados vizinhos dos atrativos naturais de São
Jerônimo da Serra.
287
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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