21
compreende a formação de atores e a premiação de peças. A meta é que haja o
“aperfeiçoamento da nação portuguesa” (GARRETT, 1836 apud REBELLO, 1978,
p.13), objetivo justificado pelo contexto de reconstrução nacional da época. Assim,
predominam os dramas históricos, que mais tarde são substituídos pelos dramas e
comédias da “atualidade”, isto é, com a apresentação de costumes contemporâneos.
O passado, acredita-se, cede espaço ao considerado atual. No entanto, para
Rebello (1978, p.18), trata-se apenas de uma variante do melodrama histórico.
Interessa observar que o mesmo Almeida Garrett, no romance Viagens na
minha terra, avalia a dramaturgia portuguesa da época. Sem nomeá-lo, ataca o
melodrama por considerar essa forma teatral um espetáculo cansativo e repetitivo, e
nem sempre compreensível. O fragmento é o seguinte:
É o destempero original de um drama plusquam romântico, laureado
das imarcescíveis palmas do conservatório para o abrimento das
nossas bocas! Lá de longe aplaude-o a gente com furor, e esquece-
se que fumou todo o primeiro ato cá fora, que dormiu no segundo, e
conversou nos outros, até a cena da xácara, do subterrâneo, do
cemitério, ou quejanda; em que a dama, soltos os cabelos e em
penteador branco, endoidece com rigor, - o galã, passando a mão
pela testa, tira do profundo tórax três ahs! do estilo, e promete matar
seu próprio pai que lhe apareça, - o centro perde o centro da
gravidade, o barbas arrepela as barbas... e maldição, maldição,
inferno!... ‘Ah mulher indigna, tu não sabes que neste peito há um
coração, que neste coração saem umas artérias, destas artérias
umas veias – e que nestas veias correm sangue... sangue, sangue!
Eu quero sangue, porque tenho sede e é de sangue... Ah! Pois tu
cuidavas? Ajoelha mulher, que te quero matar... esquartejar,
chacinar’ – e a mulher ajoelha, e não há remédio senão aplaudir... E
aplaude-se sempre” (GARRETT, 1992, p. 174).
O que se nota é que, apesar da crítica em favor de um teatro
legitimamente português, as dramatizações seguem o modelo francês, o melodrama.
Isso é mais patente se se pensar que a peça premiada em um concurso cuidado
pelo próprio Garrett, cujo intuito é o de resgatar o teatro verdadeiramente nacional,
segue os mesmos preceitos melodramáticos, conforme Verdasca (2002).
A adesão do público português ao teatro é grande, prova disso é o
significativo número das salas teatrais: em 1871, na capital Lisboa, com 200 mil
habitantes, existem oito teatros (os da rua dos Condes, do Salitre, de S. Carlos, D.
Maria II, Ginásio, Príncipe Real, Trindade e Taborda). Até o final do século, são
construídos mais três, além de outras salas menores, de curta duração, para
apresentação de circos e outras variedades artísticas. Nas outras cidades, somam-