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prosaicas que diferentes usos da linguagem fazem do discurso, oferecendo-o como
manifestação da pluralidade”.
Para Bakhtin, nas diferentes esferas da atividade humana, o uso da língua se
dá sob a forma de enunciados, orais ou escritos, que são concretos e únicos,
refletindo as especificidades e finalidades de cada atividade “não só por seu
conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos
recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais – mas também
por sua construção composicional”. Dentro de cada uma dessas esferas de
utilização da língua, são elaborados “tipos relativamente estáveis de enunciados do
ponto de vista temático, composicional e estilístico”, os chamados “gêneros do
discurso” (1992, p. 279-284).
Assim, o estilo faz parte da unidade de gênero de um enunciado, pertence por
natureza ao gênero. Segundo Bakhtin (1992, p. 286), quando há estilo, há gênero, e
a própria escolha de uma ou outra forma gramatical já é um ato estilístico.
Como as atividades humanas são diferentes e variadas, os gêneros do
discurso são muitos e de diversas formas e funções, o que, para Bakhtin (1992, p.
280), é a causa provável da difícil explicação para o problema geral destes gêneros.
Quanto ao estilo, Brait (2005, p.84) apresenta o exemplo do jornal, que teria
um estilo “estabelecido a partir não apenas dos assuntos em pauta, mas das
escolhas verbo-visuais que são feitas para expor esses tópicos, e, também, da
relação que o jornal mantém, ou pretende manter, com seus leitores”. Segundo a
autora, os jornais teriam um estilo de fazer notícia, o que mostraria um determinado
ponto de vista frente aos fatos noticiados. O estilo seria um elemento constituinte do
gênero de um enunciado, faria parte desse gênero. Para Brait,
a concepção de estilo, no sentido bakhtiniano, pode dar margens a muito mais do que a
simples busca de traços que indiciem a expressividade de um indivíduo. Essa concepção
implica sujeitos que instauram discursos a partir de seus enunciados concretos, de suas formas
de enunciação, que fazem história e são a ela submetidos (2005, p. 98).
Conforme Bazerman (2005, p. 16-24), mais do que textos gramaticalmente
bem escritos, é necessário que estes sejam ferramentas comunicativas eficientes, já
que existem gêneros responsáveis por criar fatos sociais que afetam a vida das
pessoas. Fatos sociais são acontecimentos, nem sempre envolvendo a linguagem,
que dependem de acordos entre indivíduos e da existência de instituições políticas,