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Nieves, a professora, aceitou-te, com todo o afeto, como uma criança que
necessitava um pouco mais dela e não poupou dedicação. Dentro de pouco
tempo, brincavas no pátio como todos, te aproximavas para saudar, como todos
faziam, os papais que vinham buscar alguns companheiros teus. Os pais das
outras crianças te acariciavam e ninguém mostrou inconformidade ou estranheza
por tua presença no colégio.
Hoje, Miriam, cresceste. És aluna do 1º de EGB. Estás na classe da senhorita
Dorita. Quando perdeste, ontem, o ônibus do Colégio e te chamaram pelo alto-falante
para que subisses a fim de falar com tua mãe ao telefone, eu estava ali. Alfonso, que
brincava perto de mim com um grupo de colegas, disse alto: “Estão chamando Miriam.
Ela é da minha classe. Quer que vá chamá-la?” Não foi preciso, porque vinhas correndo
com a blusa saindo da calça e dizias: “Maria Teresa, estou subindo para atender o
telefone, pois estão me chamando.” “Corre!” disse eu, em silêncio. Logo deixaste de
lado o telefone e te sentaste junto a mim, no banco de cimento, muito otimista: “Papai
vem me buscar para levar-me a um restaurante”. Agarraste meu braço e apoiaste
nele tua cabeça despenteada. Sentia tuas carícias como prêmio imerecido. Eu que
um dia senti terror de admitir-te no Colégio...
Como é horrível a ignorância! Nunca imaginei que teus afagos fossem tão doces,
tua presença tão agradável. Nunca poderia crer que ao ver hoje, a ti, a Ana, a Cristina
e a David, tão felizes, tão normais, tão pessoais, cada um de vós tão diferente um do
outro nunca poderia acreditar que iria receber tanto por tão pouco que fiz. Como vês,
Miriam, tinha que contar isto.
Agora sinto-me melhor, pois sei que em teu coração não há lugar para o rancor.
Descobri, graças a ti e a outras crianças com as tuas características, que uma criança
com síndrome de Down é simplesmente uma criança. Só isso: uma criança maravi-
lhosa e gratificante.
Obrigada. Despede-se com um beijo,
Maria Tereza”