
114 CÉOS E TERRAS DO BRASIL
a tamanhas canseiras, sepultando-as condi-
gnamente no interior do meu estomago. No que
diz respeito a aves, havia enorme quantidade.
Em zig-zags subiam pelos troncos os topetudos
pica-páos, que os indios chamam uapicús,
sondando com valentes bicadas e olhar
penetrante os pontos em que apodrecera a
madeira, ao passo que as almas de gato se
esgueiravam silenciosas, desconfiadas de tudo
e medrosas da mesma sombra; umas,
acinzentadas no ventre e cor de barro nas
costas, desde a ponta da cauda até ao alto da
cabeça, de todo verdes, mas tão ricas de pennas
acatasoladas e tão fantasticas, que pareciam
fugidas do paraiso de Adão e Eva. Na ramada
chilreavam, com mil gorgeios e jovial
garrulice, corriam, espanejavam-se, pulavam,
brincavam, saracoteavam, apparecendo,
perseguindo-se uns aos outros, erguendo
repentino vôo e logo após pousando com
grande alarido, centenas e centenas de
innocentes volateis; araçaris que, embora pe-
queninos, querem passar por tucanos, mas
ficam na intenção; mimosos curruís (1), thyés,
vermelhos como se saissem de um banho de
sangue, e sahys de todas as pintas e tamanhos,
desde o sahy-roxo até ao sahy-xé, cuja
plumagem variegada, verde, azul, negra
(i) E’ o Heliophüus taunaysii, dedicado por Descourtilz a meu
pai Felíx Emilio Taunay, barão de Taunay.