
conteúdos que os professores, após muita
luta, conseguiram 6% do tempo de ensino
para atividades à sua escolha. Em 1990 o
novo regime substituiu os currículos ofi-
ciais por programas temporários. Assim,
por exemplo, nas escolas acadêmicas de 2
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grau, o programa de Matemática deixava
a critério do professor 18% do tempo na
primeira série, 25% na segunda série, 15%
na terceira série e 40% na quarta. Todavia,
o problema mais dramático foi o de His-
tória, onde se realizava a maior parte da
doutrinação política: os professores pas-
saram a contar com 70% do tempo a seu
critério na primeira série, 69% na segunda,
57% na terceira e 66% na quarta. Na escola
de lº grau a situação se tornou similar. A
razão disso é que os velhos livros-texto são
inservíveis e alguns anos seriam neces-
sários para produzir novos materiais.
Inúmeros tópicos de História foram aban-
donados, enquanto temas da História
polonesa, inclusive sua participação na
Segunda Guerra Mundial, foram acrescen-
tados. Em literatura novos autores, antes
desconhecidos, foram incluídos: Rabelais,
Boccaccio, Descartes, Pascal, Appolinaire,
Kafka, Garcia Márquez, Fromm, Simone
Weil e muitos outros, além de grande
número de autores poloneses antes con-
siderados "politicamente incorretos" (Koza-
wiewicz, 1992).
Atores fundamentais na reforma são evi-
dentemente os professores. Degradados em
seu status pela crise econômica dos anos
80, seu recrutamento passou a ser feito
entre pessoas menos capacitadas. Segundo
uma pesquisa, 75% dos alunos de escolas
acadêmicas de 2
9
grau que escolheram o
magistério não conheciam a profissão, suas
exigências, vantagens e desvantagens. O
aconselhamento era, portanto, falho (Ku-
zma, 1992). Talvez pior que isso, porém,
sejam as difíceis relações entre o Estado e
os professores. Do meio milhão de mestres,
cerca de 1/3 era filiado ao Solidariedade e
os demais à Associação Polonesa de Pro-
fessores (ZNP), um sindicato de 80 anos,
de tendência mais esquerdista que propria-
mente comunista. Anteriormente um em
cada três professores era filiado ao Partido
e 10% aos partidos a ele aliados. Os super-
visores e diretores eram necessariamente
membros do Partido Comunista. O gover-
no pós-sociahsta, apesar das promessas,
não havia ainda aberto à livre competição
os cargos de diretor de escola. Esta-
beleceu-se então uma "limpeza da casa",
utilizando métodos similares aos do antigo
regime. Segundo professores, bastava ter
pertencido ao Partido, independente de
competência, para não merecer nenhum
cargo relevante (Kozakiewicz, 1992).
Por outro lado, o Solidariedade, ao contrá-
rio de outros setores, não tinha grande
penetração no magistério. Prag-
maticamente, o ZNP defendia de modo
obstinado privilégios, como aposentadoria
especial (com menos cinco anos de ser-
viço), gratificações por tempo de serviço e
estabilidade no cargo. Se era então um
obstáculo às reformas neoliberais que se
processavam em relação a outros grupos
profissionais, como os dos policiais, milita-
res e mineiros (Kozakiewicz, 1992).
Fica claro que prossegue a tendência a
cortar mais despesas no item pessoal,
sendo difícil imaginar como se enfrentará
a crise em tais circunstâncias. Kuzma
(1992) declara que as reformas financeiras
arruinaram as áreas de ciência, educação,
cultura, saúde e bem-estar social, muito
frágeis para serem deixadas exclusivamen-
te "à mão invisível do mercado". Em sua
crítica, ele frisa que tais áreas em todo o