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HOSANA FERREIRA RATES
CUIDADO DE SAÚDE DO IDOSO, NO DOMICÍLIO:
IMPLICAÇÕES PARA AS CUIDADORAS, NO DISTRITO
RESSACA- MUNICÍPIO DE CONTAGEM/MG
Belo Horizonte
Escola de Enfermagem
Universidade Federal de Minas Gerais
2007
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HOSANA FERREIRA RATES
CUIDADO DE SAÚDE DO IDOSO, NO DOMICÍLIO:
IMPLICAÇÕES PARA AS CUIDADORAS, NO DISTRITO
RESSACA- MUNICÍPIO DE CONTAGEM/MG
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em
Enfermagem da Escola de Enfermagem da
Universidade Federal de Minas Gerais, como
requisito parcial à obtenção do título de Mestre em
Enfermagem.
Orientadora: Profª Drª Roseni Rosângela de Sena
Co-Orientadora: Profª Drª Alda Martins Gonçalves
Belo Horizonte
Escola de Enfermagem
Universidade Federal de Minas Gerais
2007
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Rates, Hosana Ferreira
R233c Cuidado de saúde do idoso, no domicílio: implicações para as cuidadoras,
no Distrito Ressaca-município de Contagem-MG/Hosana Ferreira Rates.
Belo Horizonte, 2007.
225f. ilust.
Dissertação.(mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais.
Escola de Enfermagem.
Área de concentração: Enfermagem
Orientadora: Roseni Rosângela de Sena
Co-orientadora: Alda Martins Gonçalves
1.Assistência domiciliar. 2.Idoso. 3.Família/psicologia.
4.Cuidadores/psicologia. 5.Atividades cotidianas. 6.Serviços domésticos/
economia. 7.Relações familiares. I.Título.
NLM: WY 200
CDU: 616-083
Às cuidadoras de
Contagem que me abriram
sua casa e sua alma para
a realização deste
estudo.
Agradecimentos
A Deus, pela proteção.
A meu pai, minha mãe, meus irmãos e meu filho, pelo apoio.
À Professora Dra. Roseni Rosângela de Sena que orientou a minha entrada no
mundo da pesquisa.
À Professora Dra. Alda Martins Gonçalves, pelas orientações.
Aos colegas do NUPEPE, pela parceria na busca do conhecimento.
Aos dirigentes da Secretaria Municipal de Saúde de Contagem, pelo apoio
institucional.
Às pessoas cuidadas, obrigada por fazerem parte deste estudo; sem vocês ele
não existiria.
E a todos que, de uma forma ou de outra, estiveram comigo nesta fase de minha
vida.
RESUMO
Trata-se de estudo das implicações do cuidado de saúde do idoso, no domicílio,
para as cuidadoras, no Distrito Ressaca, município de Contagem, Minas Gerais
(MG). Com o aumento da expectativa de vida e da prevalência das doenças
crônico-degenerativas, face às políticas de humanização e desospitalização,
verifica-se a necessidade de se substituir o modelo de atenção à modalidade de
assistência domiciliar. É essencial implementar ações assistenciais diferenciadas,
no domicílio, como espaço privilegiado para o cuidado de saúde, no sentido de
atender à crescente demanda de atenção aos idosos, de portadores de doenças
crônicas e degenerativas superando a lógica da racionalização. Verifica-se,
entretanto, que nem a assistência suplementar à saúde, nem os serviços públicos
consideram as implicações do cuidado de saúde domiciliar, como os custos
emocionais e financeiros, assumidos pelas cuidadoras, ao se responsabilizarem
pelo cuidado. Com esta pesquisa, busco contribuir para a análise dessas
implicações. Estudo de caráter descritivo e exploratório teve como orientação a
triangulação de abordagens quantitativa e qualitativa, dos instrumentos e na
análise dos dados. Teve como objetivo geral analisar as implicações do cuidado
de saúde domiciliar, prestado à pessoa acima de 60 anos, para as cuidadoras, no
Distrito Ressaca do município de Contagem, MG. Teve como objetivos específicos
conhecer as relações que permeiam a execução do cuidado de saúde domiciliar,
identificar o apoio utilizado pelas cuidadoras e identificar os custos emocionais e
financeiros das cuidadoras com o cuidado de saúde domiciliar, prestado à pessoa
acima de 60 anos. O cenário escolhido foi o Distrito Ressaca por ser, no município
de Contagem, o de maior número de pessoas cuidadas no domicílio, na área
adscrita pelo Programa de Saúde da Família (PSF). As participantes do estudo
foram 17 cuidadoras dos idosos dependentes para as atividades da vida diária. O
período de coleta de dados foi de 03 de julho de 2006 a 02 de outubro de 2006.
Foram utilizados como instrumentos para a coleta de dados: entrevista no
domicílio com as cuidadoras principais, o diário da cuidadora, o diário de campo
da pesquisadora/observação e as planilhas para registro dos gastos da família
com o cuidado no domicílio. As entrevistas foram analisadas por meio de leitura
exaustiva dos discursos dos quais foram extraídas as idéias principais que foram
agrupadas na construção de quatro categorias empíricas: ‘A pessoa cuidada’;
‘Cuidadora: doando, aprendendo e construindo’; ‘Cuidado: construção e
desconstrução’ e ‘Cuidado e a expressão dos gastos’ para a família. A partir das
categorias foram incluídos os dados das planilhas, dos diários das cuidadoras, do
diário da pesquisadora e realizada a análise dos dados. Ao analisar os dados
observei que as relações da pessoa cuidada e da cuidadora se interagem e tem
como interseção o cuidado que é influenciado pela dedicação das cuidadoras que
são, na maioria, mulheres e parentes. Percebi que existem aspectos na relação
cuidadora/pessoa cuidada que facilitam ou dificultam a execução do cuidado no
domicílio. Foram observadas atitudes humanizadoras no locus domicílio. A
dedicação das cuidadoras às tarefas do cuidado influencia diretamente na
qualidade de vida, com perdas de oportunidades de trabalho, de convívio social e
de lazer, com repercussões na saúde física e emocional. Os dados revelaram que
as famílias não contabilizam o gasto com as pessoas cuidadas no domicílio. Foi
necessário recorrer à consulta de preços para relacioná-los com as anotações das
planilhas para se chegar a um gasto aproximado com alimentação, medicamentos,
artigos de consumo, serviço de internação domiciliar e instrumentos para a
execução dos cuidados. A disponibilidade de consultas, o fornecimento de
medicamentos, utilização do laboratório, do serviço de emergência e do hospital,
bem como as remoções feitas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
(SAMU) são itens que auxiliam na redução dos gastos do orçamento
representando economia financeira para os familiares das pessoas cuidadas. Esse
apoio é descontinuado. A alimentação das pessoas cuidadas é realizada segundo
a situação sócio-econômico-financeira e existem cuidadoras que relataram a
dificuldade em comprar alimentos. A fralda geriátrica descartável é o artigo de
maior impacto sobre o orçamento familiar no tema artigos de consumo. Se o
pagamento de internação domiciliar da pessoa cuidada fosse realizado pelos
familiares, esse seria o maior gasto com o cuidado no domicílio podendo atingir
R$2.325,00. Em 2º lugar, o maior gasto das famílias refere-se aos planos de
saúde (R$450,00) e, em 3º lugar, com os medicamentos (R$376,55). No geral, as
cuidadoras vivenciam um orçamento apertado. O maior apoio é o da cuidadora e
que se mostra fundamental para o processo do cuidado no domicílio, como
executora desse cuidado e como financiadora das despesas que ultrapassam o
benefício previdenciário da pessoa cuidada. Conclui-se que, apesar de todas as
práticas reconhecidas como essenciais no cuidado no domicílio, ainda não se
pode se reconhecê-lo como um modelo substitutivo.
Palavras-chave: Assistência domiciliar. Idoso. Família/psicologia.
Cuidadores/psicologia. Atividades cotidianas. Serviços domésticos/economia.
Relações familiares.
ABSTRACT
This work is about the costs of elderly health care at domicile, for the relatives, in
the city of Contagem, Minas Gerais, Brazil. With the increase of life expectations
and the prevalence of chronic-degenerative diseases, facing the humanization and
de-hospitalization politics, the need to replace the model of attention is verified. It is
essential to implement differentiated assistance actions, at domicile, as a privileged
space to health care, in the direction of taking care of the growing demand of
attention of elderly with chronic-degenerative diseases, overcoming the
rationalization logic. However, it is verified that neither the supplemental health
system, nor the public services consider the cost of the relatives, when they take
responsibility for domicile care. With this research, I try to contribute to the analysis
of those costs. This study has a descriptive-exploratory character. It uses a
quantitative and qualitative approach, instruments, and data analysis. The general
goal was to analyze the implications of domicile health care, given to people over
60, for the caregivers. The specifics goals were to know the relations that exist
among the execution of domicile health care, to identify both emotional and
financial costs of the caregivers with domicile health care, given to people over 60.
The scenery chosen for this study was Ressaca district, because it is, in the city of
Contagem, the district with the biggest number of people that are taken care of at
home, in the area of the Family Health Program. The participants were 17
caregivers of elderly that depend of someone for daily life activities. The data
collection period was from July third of 2006 to October second of 2006. The
instruments uses to collect data were: domicile interview with the main caregivers,
caregivers’ diary, field diary of the researcher and the charts with the records of the
family’s expenses with domicile care. The interviews were analyzed through
exhaustive reading of the speeches from which were extracted the main ideas that
were grouped in the construction of four empiric categories: ‘The person taken care
of’; ‘Caregivers: giving, learning and constructing’; ’Care: construction and
deconstruction’ and ‘Care and expenses expression for the family’. From those
categories were included the data from the charts, from the care takers’ diary and
the data analysis was made. When analyzing the data I could observe that the
relations between the caregivers and the person being taken care of interact and
have as interception the care that is influenced by the dedication of the caregivers,
that are, mostly, women and relatives. I noticed that there are aspects in the
relation caregiver/ person being taken care of that facilitate or make difficult the
execution of home care. Humanizing attitudes were observed in the domicile locus.
The caregivers dedication to the person-taken-care-of’s tasks directly influences
quality of life, with loss of work opportunities, of social conviviality and leisure time,
with repercussions in both physical and emotional health. The data reveal that the
family doesn’t account the expenses with the people that are domicile taken care
of. It was necessary to appeal to price consultancy and relate them to the notes in
the charts in order to come to an approximate value of the expenses with food,
medication, consumption items, domicile internment services and instruments to
the care execution. The consultations availability, the medication supply, the
emergency service lab and hospital utilization, and the removals made by the
Mobile Urgency Attendance System are items that help to reduce the budget
expenses, representing financial economy to the relatives of the person being
taken care of. However, this support is discontinued. The alimentation of the
people taken care of is done according to the financial-economical-social situation
and there are caregivers that report difficulty to buy food. The geriatric disposable
diaper is the item of biggest impact on the family budget in the category of
consumption items. If the payment of the domicile internment was made by the
family, this would be the biggest expense, that could get as high as R$2,325.00. In
second place would be health insurance (R$450.00) and, in third place,
medications (R$376.55). In general, the caregivers live in a tight budget. The
biggest support comes from the family that is fundamental for the domicile care, as
the executer of the care and as the financer of the expenses that exceed the
governmental benefits of the person being taken care of. In conclusion: although all
the exercises recognized as essentials in the domicile care, this cannot be
recognized as a substitutive model yet.
Key words: Home Nursing. Elderly. Family/psychology. Caregivers/ psychology.
Daily Activities. Homemaker services. Relative relations.
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1: Categorias, sub-categorias e temas.
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1: Gastos em artigos de consumo, pelas pessoas cuidadas, no período
de 30 dias.
GRÁFICO 2: Gastos com o cuidado no domicílio, no período de 30 dias.
LISTA DE SIGLAS
ABRAZ Associação Brasileira de Alzheimer
ACS Agente Comunitário de Saúde
ADT Assistência Domiciliar Terapêutica
ANS Agência Nacional de Saúde
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
CPG Colegiado de Pós-Graduação
AVD Atividades da Vida Diária
CAIC Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente
CIES Centro Internacional de Informação para o Envelhecimento Saudável
COEP Comitê de Ética em Pesquisa
COFEN Conselho Federal de Enfermagem
CTI Centro de Tratamento Intensivo
DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-
econômicos
DST Doenças Sexualmente Transmissíveis
ESF Equipe de Saúde da Família
FMI Fundo Monetário Internacional
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MHD Materialismo Histórico Dialético
NEAD Núcleo das Empresas de Assistência Domiciliar
NUPEPE Núcleo de Estudo e Pesquisa sobre Ensino e a Prática de
Enfermagem
PACS Programa de Agentes Comunitários de Saúde
PNAD Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios
PNH Política Nacional de Humanização
PNHAH Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar
POF Pesquisa de Orçamentos Familiares
PSF Programa de Saúde da Família
RDC Resolução da Diretoria Colegiada
RMBH Região Metropolitana de Belo Horizonte
SAMU Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
SESP Serviço Especializado de Saúde Pública
SIH Sistema de Informações Hospitalares
SISAN Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
SMS Secretaria Municipal de Saúde de Contagem
SUDS Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde
SUS Sistema Único de Saúde
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UAI Unidade de Atendimento Imediato
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
USF Unidade de Saúde da Família
SUMÁRIO
RESUMO
ABSTRACT
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................. 14
2. PROBLEMA...................................................................................................... 16
3. JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 18
4. CUIDADO DOMICILIAR: ABORDAGENS E CONCEPÇÕES TEÓRICAS...... 25
4.1
ASPECTOS HISTÓRICOS .................................................................................. 30
4.2
CUIDADOR..................................................................................................... 33
4.3
CUIDAR SE ESCREVE EM FEMININO................................................................... 34
4.4
O CUSTO DO CUIDADO NO DOMICÍLIO................................................................ 36
5. OBJETIVOS...................................................................................................... 42
6. METODOLOGIA............................................................................................... 43
6.1
CENÁRIO DA PESQUISA ................................................................................... 45
6.2
SUJEITOS DA PESQUISA .................................................................................. 51
6.3
ASPECTOS ÉTICOS ......................................................................................... 53
6.4
PROCEDIMENTOS PARA O TESTE-PILOTO .......................................................... 53
6.5
INSTRUMENTOS DA PESQUISA.......................................................................... 55
6.6
COLETA DOS DADOS ....................................................................................... 56
6.7
ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS........................................................... 58
7. O CUIDADO NO DOMICÍLIO: UM TRABALHO............................................... 64
7.
1 A PESSOA CUIDADA........................................................................................ 64
7.2
CUIDADORA: DOANDO, APRENDENDO E CONSTRUINDO....................................... 89
7.3
CUIDADO NO DOMICÍLIO: CONSTRUÇÃO E DESCONSTRUÇÃO ............................. 114
7.4
O CUIDADO E A EXPRESSÃO DOS GASTOS....................................................... 137
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 179
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... 186
ANEXOS............................................................................................................. 196
14
1. INTRODUÇÃO
Participei, na condição de Referência Técnica de Enfermagem da
Atenção Básica do município de Contagem, da pesquisa sobre o tema ‘Cuidado
Domiciliar: O trabalho do Cuidador Informal e Formal’ realizada no município de
Contagem, no período de 2003 a 2004, dirigida pelo Núcleo de Estudo e Pesquisa
sobre Ensino e a Prática de Enfermagem (NUPEPE).
O NUPEPE tem como propósito aglutinar docentes, enfermeiros de
serviço, estudantes da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG) e de outras escolas, bem como outros profissionais, em torno da
reflexão sobre a prática do cuidado e do ensino de Enfermagem.
Durante o ano de 2003, participei do NUPEPE como representante da
Secretaria de Saúde de Contagem. Em 2004, participei das reuniões do NUPEPE
e acompanhei estudantes de Enfermagem durante a pesquisa sobre o cuidado
domiciliar o que estimulou meu interesse pela pesquisa em Enfermagem como
uma possibilidade de “fazer” Enfermagem com novo enfoque.
A discussão das pesquisas realizadas pelos integrantes do NUPEPE
sobre o “Cuidado Domiciliar” e os relatos das dificuldades emocionais e
financeiras vivenciadas cotidianamente pelas cuidadoras despertaram em mim o
interesse em conhecer as implicações do cuidado domiciliar para as cuidadoras.
Os resultados da pesquisa: ‘O Cuidado de Enfermagem no Domicílio: A
Internação Domiciliar’ realizada por Sena et al. (2001) também demonstram a
ausência de avaliação do custo-benefício dos serviços de cuidado domiciliar para
15
a família que assume o cuidar no domicílio e apontaram insuficiência de análise
dos custos diretos e indiretos para os familiares.
Os estudos exploratórios que realizei levaram-me à opção de investigar
as implicações do cuidado de saúde domiciliar, para as cuidadoras, à pessoa
acima de 60 anos. Assim, realizei a pesquisa com a expectativa de que seus
resultados contribuam para a definição de ações políticas relacionadas ao cuidado
no domicílio e para o desenvolvimento de redes de solidariedade e apoio aos
familiares e cuidadores. Espero, também, colaborar para que as atividades de
pesquisa no âmbito social e da Saúde aumentem a produção técnico-científica
sobre o tema.
16
2. PROBLEMA
Se, por um lado, o aumento da expectativa de vida e da prevalência das
doenças crônico-degenerativas tem exigido o aumento crescente de leitos
hospitalares para atender essa população, por outro lado, há políticas de
desospitalização e de humanização do cuidado estimulando o cuidado no
domicílio. Ações estratégicas são implementadas para ampliar as possibilidades
assistenciais, como o Programa de Saúde da Família (PSF), o hospital-dia e o
domicílio em seu novo significado de espaço privilegiado para o cuidado.
O domicílio tem sido utilizado como locus para o cuidado de pessoas de
todas as idades, portadoras de doenças crônico-degenerativas, de seqüelas de
diversas doenças e agravos como: lesões raqui-medulares, neoplasias, distúrbios
mentais, doenças genéticas e neurológicas. Privilegia a prevenção, a promoção à
saúde e a prevenção de agravos com ênfase na humanização da atenção.
Mas não existe, na maioria dos municípios brasileiros, política que
defina o cuidado domiciliar como parte da cadeia progressiva de cuidados. Os
familiares assumem responsabilidades que têm repercussões emocionais, sociais
e financeiras relacionadas com o processo de cuidar no domicílio, sem o devido
apoio das instituições de saúde e de assistência social. Nesse contexto, tem sido
das cuidadoras e dos familiares a responsabilidade pelo cuidado no domicílio
incluindo os gastos financeiros.
17
Considerando que o maior número de pessoas cuidadas no domicílio
são idosas (CONTAGEM, 2004), pretendo, com este estudo, analisar as
implicações, para as cuidadoras, do cuidado de saúde domiciliar, prestado à
pessoa acima de 60 anos, no Distrito Ressaca do município de Contagem, MG.
18
3. JUSTIFICATIVA
A população acima de 60 anos, nas últimas décadas, vem crescendo
significativamente, no mundo e também no Brasil. Segundo Patarra (2000), as
melhorias no saneamento básico, o progresso da Medicina em âmbito
internacional, o controle mais eficaz de doenças infecciosas, a ampliação dos
serviços de prevenção e de assistência médica e o uso expressivo de modernas
tecnologias contraceptivas favoreceram as modificações de alguns indicadores
epidemiológicos da população brasileira, tais como: redução da mortalidade geral,
redução da mortalidade infantil, diminuição das taxas de fecundidade e aumento
das taxas de expectativa de vida.
Além das transformações demográficas, o Brasil tem experimentado uma
transição epidemiológica, com alterações relevantes no quadro de mortalidade e
morbidade, caracterizado por enfermidades crônicas, próprias das faixas etárias
mais avançadas, com custos diretos e indiretos mais elevados que combina com
doenças características de sociedade em desenvolvimento (Centro Internacional
de Informação para o Envelhecimento Saudável- CIES, 2005).
Essa mudança no perfil epidemiológico acarreta grandes despesas com
tratamentos médicos e hospitalares. Configura-se em desafio para as autoridades
sanitárias, em especial no que tange à implantação de estratégias para o
enfrentamento do problema (CIES, 2005).
19
Nesse sentido, o cuidado domiciliar pode ampliar as possibilidades
assistenciais e atender à crescente demanda de atenção aos idosos. Cuidar de
pessoa, com quadro clínico estável, em seu domicílio, desde que haja condições
ambientais e materiais adequados e um cuidador é uma alternativa para o usuário
e para os serviços de saúde (ATAS, 2004). Além de reduzir os custos com
internações, (ATAS, 2004) humaniza o atendimento. A atenção domiciliar
possibilita a permanência do usuário com a família o que favorece a sua
recuperação e diminui o risco de infecções hospitalares (BRASIL, 1998a).
Um dos aspectos que justificam o cuidado domiciliar, no Brasil, é o custo
menor em relação à internação hospitalar, sendo apontada uma redução de até
60% (ATAS, 2004). Mas os estudos sobre os custos do cuidado domiciliar para os
familiares são ainda inexpressivos.
Na Holanda, em estudos econômicos realizados com os cuidadores,
concluiu-se que o tempo utilizado com a pessoa cuidada torna-se tão importante
para a qualidade do cuidado, quanto novas drogas e outras tecnologias de saúde
(BROUWER et al., 1999).
Nos Estados Unidos, Connell, Javenic e Gallant (2001) relatam que, com o
envelhecimento da população, houve aumento do número de diagnósticos de
pessoas portadoras de Alzheimer ou outras demências. As autoras relatam que a
maioria da população com doença demencial é cuidada em casa, por um membro
da família que vivencia uma variedade de responsabilidades financeiras e sociais
relacionadas com o papel do cuidador, evidenciando que os familiares tem tido um
20
aumento de atividades cuidativas e de gastos para sustentá-las. (CONNELL;
JAVENIC; GALLANT, 2001).
Björnsdóttir (2002) afirma que, na Islândia, os serviços públicos têm
transferido para as famílias os cuidados de saúde dos idosos. Aponta que os
cuidadores, em muitas situações, têm experimentado imensas responsabilidades,
dificuldades financeiras e problemas de saúde. Acrescenta que o governo está
recuando de obrigações definidas previamente para a saúde e o bem-estar da
população, ao mesmo tempo em que responsabiliza os cidadãos pela provisão de
cuidados domiciliares de saúde.
No Brasil, a Portaria nº 1.892, de 18 de dezembro de 1997, do Ministério da
Saúde incorporou ao Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de
Saúde SIH/SUS a modalidade de Internação Domiciliar, considerando que a
internação domiciliar amplia as condições de atendimento hospitalar e a qualidade
da assistência do SUS (BRASIL, 1997). No ano seguinte, em 23 de março de
1998 foi publicada a Portaria 2.416, do Ministério da Saúde, que estabeleceu
requisitos para o credenciamento de hospitais e critérios para a realização de
internação domiciliar no SUS, considerando que a internação domiciliar
proporciona a humanização do atendimento e um maior contato com a família,
favorecendo a recuperação e diminuindo o risco de infecções hospitalares
(BRASIL, 1998a).
Destaca-se, ainda, a Lei Federal nº 10.424, de 15 de abril de 2002 que
regulamenta a assistência domiciliar no SUS acrescentando capítulo à Lei Federal
n° 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre as condições para a
21
promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento de
serviços correspondentes e dá outras providências. (BRASIL, 2002a).
A normalização técnica e a definição das atividades dos profissionais de
Enfermagem envolvidos no cuidado domiciliar estão explicitados na Resolução do
Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) nº 267/2001, (CONSELHO
REGIONAL DE ENFERMAGEM DE MINAS GERAIS, 2003). Esse mesmo
Conselho promulgou, em 18 de abril de 2002, a Resolução COFEN-270/2002 que
aprova a regulamentação das empresas que prestam serviços de Enfermagem
domiciliar - home care.
O Conselho Federal de Medicina (CFM), por sua vez, em 07 de maio de
2003 definiu as responsabilidades do médico, do hospital, das empresas privadas
por meio da Resolução 1.668/2003 (CFM, 2004).
Em primeiro de outubro de 2003, a Lei Federal nº
10.741 regulamentou o
Estatuto do Idoso. Merece destaque seu Capítulo IV que relata sobre o direito à
saúde. O 2º parágrafo do artigo 15 define que “incumbe ao Poder Público fornecer
aos idosos medicamentos, especialmente de uso contínuo, assim como próteses,
órteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação”. A
análise do Estatuto do Idoso permite inferir que existe um esforço legal para
assegurar condições mínimas para a efetivação do cuidado no domicílio. O
mesmo capítulo (artigo 15, parágrafo 1º) assegura que a prevenção e manutenção
da saúde do idoso serão efetivadas por meio de atendimento domiciliar, incluindo
22
a internação domiciliar para a população que dela necessitar e que esteja
impossibilitada de se locomover (BRASIL, 2004a).
A Consulta Pública nº 81, de 10 de outubro de 2003, realizada pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), dispõe sobre o Regulamento Técnico
contendo as normas de funcionamento de serviços que prestam assistência
domiciliar, considerando a necessidade de propor os requisitos mínimos de
segurança para o funcionamento de Serviços de Assistência Domiciliar nas
modalidades de Atendimento ou Internação Domiciliar e considerando a
necessidade de desenvolver e estabelecer diretrizes para uma política nacional de
Assistência Domiciliar (ANVISA, 2003). Em 26 de janeiro de 2006, essa consulta
pública resultou na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 11 que “dispõe
sobre o Regulamento Técnico de Funcionamento de Serviços que prestam
Atenção Domiciliar” (ANVISA, 2006).
Em 19 de outubro de 2006, foi publicada a Portaria 2.529, do Ministério da
Saúde que institui a Internação Domiciliar no âmbito do SUS, “considerando a
incorporação tecnológica de caráter substitutivo à intervenção hospitalar”
(BRASIL, 2006a). Dessa forma, revogou-se a Portaria 2.416, de 23 de março de
1998, que estabelecia requisitos para credenciamento de hospitais e critérios para
a realização de internação domiciliar no SUS. (BRASIL, 1998a).
A Portaria 2.529 define a composição de equipe multiprofissional e de
equipes matriciais de apoio dos Serviços de Internação Domiciliar, a
territorialização, a meta mensal de internações por equipe e a retaguarda no
período da noite e finais de semana para as pessoas sob os cuidados das
23
equipes. Define ainda as prioridades de eleição e exclusão dos usuários, bem
como o incentivo financeiro para os municípios implementarem a atenção
domiciliar incluindo a internação. (BRASIL, 2006a).
Consideram-se avanços para a população brasileira e desafios para os
gestores dos sistemas de saúde públicos a ampliação e a consolidação da
internação domiciliar, tendo em vista os princípios de humanização e de
interseção dos saberes sistematizados dos diversos grupos profissionais e dos
usuários (BRASIL, 2006a). Para o Ministério da Saúde, a formulação de uma
modalidade de assistência que objetiva a internação domiciliar torna-se ação
estratégica para a construção de relacionamentos dos serviços que a integram: a
atenção básica, a urgência e emergência, o SAMU e a área hospitalar (BRASIL,
2006a).
Simultaneamente a saúde suplementar, setor que reúne as empresas
operadoras de planos de saúde reguladas pelo Ministério da Saúde, pela Agência
Nacional de Saúde (ANS) disponibiliza, para os usuários, os serviços de atenção
domiciliar por apresentar redução dos custos quando comparados com a
internação hospitalar. Mas a Lei nº 9.656, de três de junho de 1998, que “dispõe
sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde”, não inclui em seus
benefícios a assistência domiciliar (BRASIL, 1998b).
Dal Ben e Gaidzinski (2007) relatam no livro ‘Home care: Planejamento e
Administração da Equipe de Enfermagem’, que as associações de assistência
domiciliar despenderam esforços na tentativa de fazer com que a prática dos
cuidados aos doentes no domicílio seja reconhecida. Assim é que, em julho de
24
1995, foi criada a primeira delas: a Associação Brasileira de Home Health Care
(ABRAHHCARE). Em 1997, foi criada a Associação Brasileira de Empresas de
Medicina Domiciliar (ABEMID) e, em 2003, foi criado o Núcleo das Empresas de
Assistência Domiciliar (NEAD). Graças ao empenho dessas associações a
atenção domiciliar no Brasil foi regulamentada pela RDC nº 11 (DAL BEN,
GAIDZINSKI, 2007).
Apesar disso, nem a saúde suplementar nem os serviços públicos
consideram os custos emocionais e financeiros que estão sendo assumidos pelas
cuidadoras e pelos familiares, ao se responsabilizarem pelo cuidado domiciliar, o
que justificou a realização deste estudo.
25
4. CUIDADO DOMICILIAR: ABORDAGENS E CONCEPÇÕES
TEÓRICAS
No final de 1970, iniciou-se, no Brasil, o Movimento da Reforma Sanitária,
que preconizava a universalização, a descentralização, a regionalização e a
democratização dos Serviços de Saúde, como estratégia político-organizacional,
para a garantia da qualidade da assistência à saúde da população brasileira. O
movimento criticava o modelo hospitalocêntrico que apresentava fortes
inadequações à realidade sanitária nacional, como uma prática médica dominante
baseada nos aspectos curativo-reabilitadores, com incapacidade de reduzir os
perfis de morbimortalidade; os custos crescentes, inviabilizando sua expansão;
ausência de critérios para compra de serviços dos hospitais privados; modelo dual
gerando superposições, descoordenações e ausência de controle. Agregando-se
a esses fatores, verificava-se a crescente insatisfação dos usuários, de
prestadores de serviços e de trabalhadores de saúde com a gradativa perda de
qualidade dos serviços prestados, direta ou indiretamente, pela Previdência Social
(MENDES, 1994).
A Reforma Sanitária foi um marco na reorganização do Setor Saúde no país
com uma proposta abrangente de mudança social, para enfrentar a
mercantilização da saúde. O movimento foi uma “batalha política pelo
reconhecimento da saúde como direito social, pela universalização do acesso aos
serviços de saúde e pela integralidade da atenção à saúde, na luta mais ampla
26
pela construção da cidadania que marcou o final do regime militar” no Brasil
(BRASIL, 2002b, p.13).
A VIII Conferência Nacional de Saúde foi realizada em 1986, com a
participação de trabalhadores, usuários, gestores e representantes sociais de todo
o país e teve, como desdobramento, um conjunto de instrumentos político-
ideológicos defendidos pela Comissão Nacional da Reforma Sanitária. Esse
conjunto de instrumentos influenciou, de forma significativa, dois processos que se
iniciaram, concomitantemente, no ano de 1987: um, no executivo, com a
implantação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS) e, outro,
no poder legislativo, a elaboração da nova Constituição Brasileira (MENDES,
1994). Como conseqüência desse fortalecimento político, o Movimento conquistou
a incorporação de alguns dos princípios, bem como a determinação da
responsabilidade do Estado na provisão das ações e serviços necessários à
garantia desse direito; conforme artigo 196 da Constituição Federal de 1988:
A saúde é direito de todos e dever do estado, garantido mediante
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação
(BRASIL,1988).
Para assegurar esse direito, a Constituição de 1988 definiu, na Seção II do
Capítulo II, o SUS, sistema público descentralizado, integrado pelas três esferas
de governo, posteriormente regulamentado pelas Leis Orgânicas da Saúde nº
8.080/1990 e nº 8.142/1990 (BRASIL, 1990). Os princípios doutrinários do SUS
são a universalidade, a eqüidade, a integralidade e o controle social. Os princípios
27
organizativos são: regionalização, hierarquização, descentralização com comando
único e participação popular.
A assistência à saúde, antes destinada somente aos contribuintes da
Previdência, ampliou-se para toda a população, em um contexto econômico
desfavorável de restrição de gasto público. Sem investimentos que permitissem
ampliar as condições da oferta e com a compressão dos valores de remuneração
aos prestadores públicos e privados, o resultado foi uma progressiva degradação
da qualidade dos serviços oferecidos (BRASIL, 2002b).
Apesar das dificuldades, o SUS avançou na descentralização da gestão,
com a criação das Comissões Intergestores, fóruns de pactuação, elaboração e
aplicação de Normas Operacionais Básicas para garantir a gestão do sistema nas
três esferas de governo. Essas normas, além de conferir maior legitimidade e
realismo às decisões, permitem maior velocidade nas respostas às demandas da
população (BRASIL, 2002b). Visando a implementação da descentralização e da
responsabilidade na gestão do sistema de saúde para os municípios, ampliou-se a
cobertura dos serviços, com ênfase especial na Atenção Básica e, a partir de
1991, criou-se o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e,
posteriormente, implantou-se o PSF.
A Estratégia de Saúde da Família se sustenta nas principais diretrizes do
SUS, com vistas a promover a mudança do modelo de assistência à saúde no
país.
28
O objetivo do PSF é a reorganização da prática assistencial em novas
bases e critérios, em substituição ao modelo tradicional de assistência, orientado
para a cura de doenças e voltado para a demanda espontânea.
O Programa está estruturado a partir da Unidade de Saúde da Família
(USF), com uma equipe multiprofissional que assume a responsabilidade por uma
determinada população a ela vinculada onde desenvolve ações de promoção da
saúde, prevenção de agravos, tratamento e reabilitação.
A USF atua com base nos princípios de integralidade e hierarquização,
territorialização e adscrição de clientela e constituição da equipe multiprofissional
básica (um médico generalista, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e
quatro a seis agentes comunitários de saúde- ACS).
Para o cumprimento dos princípios de integralidade e hierarquização, a
Unidade de Saúde da Família deve estar vinculada à rede de serviços, garantindo
assistência integral aos indivíduos e assegurando a referência e a contra-
referência para os diversos níveis do sistema, sempre que for necessária maior
complexidade tecnológica para a resolução de problemas identificados na
unidade.
A territorialização e a adscrição referem-se a território de abrangência
definido onde a equipe de Saúde da Família é responsável pelo cadastramento e
pelo acompanhamento da população adscrita a essa área. Cada equipe assume
de 2400 a 4500 pessoas.
A Saúde da Família tem sido descrita como um estado ou processo da
pessoa como um todo, em interação com o ambiente, sendo que a família
29
representa um fator significativo no ambiente, bem como o seu funcionamento na
sociedade (ÂNGELO, BOUSSO, 2001). Para o Ministério da Saúde:
A atenção está centrada na família, entendida e percebida a partir
de seu ambiente físico e social, o que vem possibilitando às
equipes de Saúde da Família uma compreensão ampliada do
processo saúde/doença e da necessidade de intervenções que
vão além das práticas curativas (BRASIL, 2001. p. 5).
A estratégia do PSF foi criada em um contexto de restrição e de
racionalização dos gastos em saúde, decorrentes da implementação de medidas
de ajuste estrutural, prescritas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo
Banco Mundial. As reformas propostas por essas agências basearam-se no
diagnóstico da inadequação dos gastos brasileiros em saúde, considerados
excessivos além das ações não atingiriam as regiões e os grupos sociais mais
pobres. Ao mesmo tempo, o Banco Mundial criticou o modelo de assistência,
assentado no cuidado hospitalar ineficaz, na especialização da atenção
ambulatorial, na rápida incorporação de procedimentos de alta tecnologia e no
pouco investimento nas ações preventivas e de promoção à saúde (SENNA,
2002).
O estímulo financeiro do Ministério da Saúde tem contribuído efetivamente
para a expansão do Programa em todo o país e, apesar dos avanços do PSF, os
resultados são pouco perceptíveis na estruturação dos serviços de saúde, por não
promover mudanças significativas do modelo assistencial (SENNA, 2002).
Esse modelo enfrenta muitos desafios, como a formação e a fixação dos
profissionais de Saúde. Aqui faço um recorte quanto à implementação do cuidado
30
domiciliar com qualidade, que somente será alcançado com equipes
multiprofissionais para acompanhar o cuidado realizado no domicílio em co-
participação com as ESF.
4.1 Aspectos históricos
Atender doentes em casa é uma atividade que remonta aos tempos
bíblicos. O cuidado domiciliar em ambientes de vida cotidiana é uma ação antiga e
tem seu registro em todas as organizações sociais, com relatos de pessoas que
eram cuidadas em casa, conforme a Bíblia. O Cristianismo sempre teve como uma
de suas ações o cuidado de doentes. De acordo com o Evangelho de São João,
Jesus dissera “levanta-te de tua cama e anda”; e assim, imediatamente, curara um
aleijado sem esperança. O triunfo da fé cristã possibilitou a institucionalização dos
cuidados, precursores dos de enfermagem e da invenção do hospital como um
lugar de cuidados à saúde (PORTER, 2001).
No Brasil, segundo Cunha (1991), o desenvolvimento do cuidado domiciliar
manteve estreita relação com o descobrimento da Enfermagem. As primeiras
atividades de cuidados domiciliares foram descritas em 1919, com a criação do
Serviço de Enfermeiras Visitadoras do Rio de Janeiro, voltado às áreas de
tisiologia e atenção à população materno-infantil. Nessa época, a população era
assolada por várias epidemias, como a peste e febre amarela, que chegavam a
comprometer a economia impedindo a exportação de produtos e a imigração. Tais
fatos forçaram as autoridades a tomarem medidas específicas, para implementar
31
ações de combate às epidemias. Carlos Chagas trouxe ao Brasil enfermeiras
americanas com o objetivo de preparar profissionais para atuarem no combate às
epidemias. Essa iniciativa culminou, em 1923, com a criação do primeiro Curso de
Enfermeiras Visitadoras, posteriormente transformado na Escola de Enfermagem
Ana Néri. As formadas foram contratadas pelo Departamento Nacional de Saúde
Pública para atuarem diretamente nos domicílios, na orientação das famílias.
O desenvolvimento do país em direção à região Centro-Sul propiciou a
criação, em 1942, do Serviço Especializado de Saúde Pública (SESP), que utilizou
a assistência domiciliar como estratégia para atender aos indivíduos e suas
famílias na comunidade em que viviam. Observa-se que, em sua maioria, os
serviços de atendimento domiciliar, no Brasil, estiveram, de alguma forma, desde
seu início e atualmente com o PSF, ligados à área de Saúde pública, visando à
promoção da saúde e à prevenção de doenças (CUNHA, 1991).
Os conceitos de cuidado domiciliar carecem de um significado comum. São
utilizados diferentes conceitos na tentativa de caracterizar e demonstrar a
natureza do cuidado no domicílio. Cunha (1991, p. 28) afirma que o cuidado no
domicílio:
... é uma atividade desenvolvida desde a antiguidade, estando
porém mais atual a cada dia que passa [...] e ela é redescoberta
como uma resposta à necessidade de se prestarem cuidados aos
pacientes em suas próprias casas, quer por falta de Instituições
Hospitalares, quer pela dificuldade financeira deles frente a esta
situação e até mesmo pelos altos custos relativos aos tratamentos
e permanência hospitalares.
32
Adotei, neste estudo, a definição de cuidado de Boff (2001a): para quem o
cuidado representa uma atitude de ocupação, de preocupação, de
responsabilização, de zelo, de atenção e de envolvimento afetivo com o outro
porque, sem o cuidado, o ser humano deixa de ser humano. Se não receber
cuidado, desde o nascimento até a morte, o ser humano desestrutura-se, definha,
perde sentido e morre. Nesse sentido, consideramos o cuidado domiciliar uma
parte integrante desse grande processo que é o cuidar com conotação de vínculo
afetivo, já que o cuidado domiciliar, geralmente, é exercido por familiares.
Ao estudar o cuidado domiciliar, considerei a família como um sistema ou
uma unidade cujos membros podem ou não estar relacionados ou viver juntos,
onde existe compromisso e vínculo entre os seus integrantes, sendo que as
funções de cuidado consistem em proteção, alimentação e socialização
(ÂNGELO, BOUSSO, 2001).
Nesse contexto, a RDC nº 11, da ANVISA que dispõe sobre o Regulamento
Técnico contendo as normas de funcionamento de serviços que prestam
assistência domiciliar estabelece que a atenção domiciliar é o “termo genérico que
envolve as ações de promoção à saúde, prevenção e tratamento de doenças e
reabilitação desenvolvidas no domicílio”. A RDC nº 11 estabelece também que a
assistência domiciliar é o “conjunto de atividades de caráter ambulatorial,
programadas e continuadas, desenvolvidas no domicílio” e a internação domiciliar
é o “conjunto de atividades prestadas no domicílio, caracterizadas pela atenção
em tempo integral ao paciente com quadro clínico mais complexo e com
necessidade de tecnologia especializada” (ANVISA, 2006). A internação domiciliar
33
necessita do apoio da família e do cuidador formal ou informal para a continuidade
da assistência, segundo as necessidades, demandas e graus de dependência da
pessoa cuidada.
4.2 Cuidador
O cuidador é um recurso fundamental e quase sempre presente no cuidado
domiciliar. Ele representa o elo entre o ser cuidado, a família e os Serviços de
Saúde. Segundo Leitão e Almeida (2000), o cuidador é aquele que assume a
responsabilidade de cuidar, dar suporte e atender às necessidades do ser
cuidado, tendo em vista a melhoria de sua saúde e da qualidade de sua vida.
O cuidador é definido como informal e formal, primário e secundário.
Entende-se por cuidador informal, o membro da família ou a ela relacionado, sem
formação específica em saúde, responsável pelo desenvolvimento das ações
cuidativas relativas às necessidades emanadas pela pessoa cuidada (DUARTE,
1997), que pode ou não receber honorários.
Compreende-se por cuidador formal ou profissional “aquele que tem uma
formação específica para os cuidados que presta e, geralmente, é remunerado
(...)”. (AZEVEDO, SANTOS, 2006). Esse cuidador pode trabalhar em qualquer
instituição de Saúde, como: hospitais, clínicas de saúde, maternidades, asilos,
USFs, unidades’ básica de saúde, ambulatórios, unidades de
urgência/emergência, unidades móveis de urgência, ou nos domicílios, atuando
como profissional autônomo.
34
Dependendo da complexidade do cuidado no domicílio, geralmente existe
um cuidador primário ou principal, cuidadores secundários e, nos casos de
internação domiciliar, com o necessário apoio técnico do cuidador formal. Amigos,
vizinhos, membros de instituições religiosas e voluntários têm-se constituído em
cuidadores, formando uma rede de suporte social.
Cuidador primário ou principal é aquele que assume a responsabilidade
integral de supervisionar, orientar, acompanhar e cuidar diretamente do ser
cuidado realizando a maior parte das tarefas. O cuidadores secundários são
pessoas da família ou apoiadores que podem desempenhar o mesmo tipo de
tarefa do cuidador primário, mas que não têm o mesmo grau de envolvimento e
responsabilidade pelo cuidado, podendo substituir o cuidador primário ou socorrê-
lo em situações emergenciais (SILVERSTEIN, LITWALK, 1993).
4.3 Cuidar se escreve em feminino
Gênero, convivência e parentesco são as categorias mais freqüentes para
predizer qual pessoa do núcleo familiar será o cuidador principal. As mulheres,
majoritariamente, assumem o papel de cuidadora principal, acumulando, assim, a
responsabilidade com as tarefas domésticas (GARCÍA-CALVENTE; MATEO-
RODRÍGUEZ; EGUIGUREN, 2004).
García-Calvente, Mateo-Rodríguez e Eguiguren, (2004); Taub Andreoli e
Bertolucci (2004); Sena et al (2004) e Karsch (2003), apontam que a maioria dos
cuidadores é do sexo feminino. Karsch (2003) no ‘Estudo do Suporte Domiciliar
35
aos Adultos com Perda de Independência e Perfil do Cuidador Principal’, realizado
entre 1992 e 1997, no município de São Paulo, pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo revelou quem são os cuidadores principais nos domicílios
de 102 pessoas com mais de 50 anos, que sofreram o primeiro episódio de
acidente vascular cerebral. Em 98% dos casos pesquisados, o cuidador era
alguém da família, predominantemente do sexo feminino (92,9%). A maior parte
era formada de esposas (44,1%), seguidas pelas filhas (31,3%).
O estudo de Taub, Andreoli e Bertolucci (2004) com 50 cuidadores aponta
que 82% eram mulheres, com idade variando de 23 a 81 anos de idade (média de
56 anos), 78% casadas, 70% eram esposas, 56% eram filhas das pessoas
cuidadas. Quanto à faixa etária, o estudo demonstrou que 59% dos cuidadores
estavam acima de 50 anos e 41% tinham mais de 60 anos. Esse estudo foi
realizado com os cuidadores dos pacientes ambulatoriais da Clínica de
Neuropsicologia e Saúde Mental do Hospital Albert Einstein, com os
freqüentadores do Grupo de Apoio para os familiares dos pacientes portadores de
Alzheimer da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAZ) e com os cuidadores
dos pacientes que são atendidos no Ambulatório de Neurologia Comportamental
da Universidade Federal de São Paulo. O objetivo da pesquisa foi avaliar a
confiabilidade da versão brasileira do Inventário de Sobrecarga do Cuidador em
familiares de pacientes com demência.
Na Espanha, na cidade de Andaluzia, realizou-se uma pesquisa sobre
cuidados informais, com uma amostra de 3.160 domicílios, na qual foram
identificados 1000 cuidadores/cuidadoras principais. Os dados desta pesquisa
36
revelaram que há predomínio de mulheres como cuidadoras e que as mães
assumem, majoritariamente, o cuidado de crianças portadoras de enfermidade
infantil (83%), seguida pelas avós (7%). Se a mãe estava empregada, 14% das
avós cuidavam das crianças enfermas (GARCÍA-CALVENTE; MATEO-
RODRÍGUES; MAROTO-NAVARRO, 2004).
A análise desses estudos permite-nos inferir que o cuidado domiciliar é
praticado fundamentalmente às custas do trabalho e do tempo das mulheres. Os
estudos citados demonstram que as mulheres que cuidam no domicílio, em geral,
têm baixo nível de escolaridade, não têm emprego e têm baixo poder aquisitivo.
(GARCÍA-CALVENTE, MATEO-RODRÍGUEZ, MAROTO-NAVARRO, 2004; SENA
et al., 2000). As investigações sobre o cuidado informal e o gasto com o cuidado
indicam que as mulheres dedicam mais tempo a cuidar que os homens, conforme
afirmam García-Calvente, Mateo-Rodríguez, Maroto-Navarro, (2004). Reconhece-
se, assim, que as cuidadoras são de fundamental importância para manter o ser
cuidado no domicílio.
4.4 O custo do cuidado no domicílio
Silveira, Osório e Piola (2002) analisaram os gastos das famílias com
saúde, a partir de duas fontes distintas: a Pesquisa de Orçamentos Familiares
37
habitação, alimentação, transporte, saúde, vestuário, educação, lazer, serviços
pessoais, higiene pessoal e diversos.
A pesquisa de orçamentos familiares considerou os gastos em saúde, as
despesas com medicamentos em geral, de uso regular ou não; de analgésicos,
vasodilatadores, antidepressivos e hipoglicemiantes. Incluíram nesse grupo
produtos farmacêuticos como seringas e material para curativos.
Na PNAD de 1998, foram inicialmente captadas informações relativas ao
estado individual de saúde, seguidas por características dos Planos de Saúde,
depois por um conjunto de questões relativas ao acesso e à utilização de serviços
de saúde.
Silveira, Osório e Piola (2002) consideram, a partir dos dados da PNAD,
que os dispêndios, efetuados pelas famílias com saúde, são o quarto grupo mais
volumoso das despesas de consumo familiar. A maior parte desses dispêndios é
empenhada na compra de medicamentos e no pagamento de mensalidade de
Planos de Saúde. A maior parcela desse gasto é efetuada pelas famílias cujos
membros pertencem ao grupo dos 30% mais ricos da população.
Os autores encontraram que, entre os mais pobres, o gasto em saúde é
majoritariamente realizado com a compra de medicamentos. Considerando que o
preço do medicamento é o mesmo para qualquer pessoa independente da classe
social, as despesas com medicamentos têm um impacto maior sobre os
rendimentos das famílias mais pobres.
Dada a desigualdade na distribuição da renda entre as famílias, os gastos
representam, em média, quase um quarto do rendimento das famílias cujos
38
membros estão entre os 10% mais pobres da população. Segundo a PNAD de
1998, 95% das consultas médicas e 93% das internações hospitalares de pessoas
que pertenciam aos 20% mais pobres da população foram cobertas pelo SUS. Em
48% dos casos em que um medicamento é receitado para essas pessoas que
fazem parte dos 20% mais pobres, o mesmo é fornecido “gratuitamente”
(SILVEIRA; OSÓRIO; PIOLA, 2002).
Entretanto Sena et al. (2004) apontam dificuldades financeiras que as
famílias enfrentam no domicílio. As autoras identificaram que os recursos
financeiros são insuficientes para aquisição de materiais indispensáveis para a
realização dos cuidados. Sondas e fraldas, medicamentos e alimentos foram
citados pelas autoras como importantes itens no processo de cuidado no
domicílio. A pesquisa de Sena et al. (2004) demonstrou ainda a necessidade que
a família tem de definir estratégias para adaptar as atividades cuidativas às
condições físicas no domicílio, já que não dispõem de recursos financeiros para
realizar reformas no ambiente domiciliar.
Mendes (2002), ao analisar os dados do ‘Estudo do Suporte Domiciliar aos
Adultos com Perda de Independência e Perfil do Cuidador Principal’, realizado
entre 1992 e 1995, no município de São Paulo, concluiu que a renda familiar, nos
casos pesquisados, variava de US$ 50,00 a mais de US$ 500,00; 46,3%
possuíam renda até US$ 300,00, sendo que 24% tinham uma renda até US$
150,00. Trata-se, assim, de famílias em situação de pobreza, com uma qualidade
de vida precária (MENDES, 2002).
39
Brouwer et al. (1999) citam que uma das variáveis que mais influencia o
cuidado informal, quando o avaliam em uma estimativa econômica, é o tempo. O
tempo utilizado pelo cuidador informal poderia ser investido em um trabalho
remunerado ou em lazer. Os autores utilizam três eixos para analisarem o custo
em relação ao tempo. O primeiro calcula a quantidade exata do tempo gasto no
cuidado informal. Durante a realização do cuidado, várias atividades regulares são
produzidas simultaneamente. Isso prova ser difícil separar atividades de cuidado
de atividades regulares. O preparo de refeições é considerado uma tarefa regular,
mas o auxílio na alimentação é uma atividade cuidativa.
O segundo eixo avalia o tempo utilizado no cuidado informal fazendo uma
aproximação com o preço de mercado. O preço de mercado é igual ao custo da
contratação de um cuidador profissional para realizar atividades cuidativas. O
tempo dos cuidadores informais pode ser avaliado como sendo de mercado,
similar aos métodos sugeridos para avaliar o tempo das donas de casa nos
trabalhos domésticos. Nenhum oferece um método de adequação de um salário-
padrão para o tempo dispensado em um trabalho não-remunerado.
O terceiro eixo avalia o tempo de lazer que contribui positivamente para
uma qualidade de vida e é sacrificado pelas pessoas comprometidas com o
cuidado informal. Brouwer et al. (1999) observaram que a avaliação da perda de
qualidade de vida analisada em uma estimativa financeira é difícil, se não
impossível.
O custo de cuidar é muito mais alto do que a soma das horas dedicadas à
realização de determinadas tarefas cuidativas. García-Calvente, Mateo-Rodríguez
40
e Maroto-Navarro (2004) afirmam que cuidar de um familiar dependente e
desempenhar um trabalho remunerado resulta em uma situação difícil de se
manter, para a maioria das cuidadoras. Uma das conseqüências mais freqüentes
é o abandono temporário ou definitivo do trabalho remunerado e, até mesmo, a
recusa de um emprego. As autoras apontam que 35% das mulheres que
assumem o cuidado estão excluídas do mercado de trabalho aumentando para
46% quando se considera a exclusão temporária.
A impossibilidade ou perda do trabalho remunerado tem importantes
repercussões para as cuidadoras. Supõe uma perda econômica para a cuidadora
e para a unidade familiar em seu conjunto com impacto mais crítico para as
cuidadoras de classe social menos privilegiada. A exclusão do mercado de
trabalho traz conseqüências a longo prazo, especialmente a falta de acesso ao
seguro desemprego, aposentadoria e pensões. Por isso, as mulheres cuidadoras
têm muitas possibilidades de encontrar-se em situação de pobreza e exclusão
social.
Os discursos das cuidadoras, analisados por Sena et al. (2004), confirmam
que o trabalho fora do lar constitui uma importante fonte de renda. A função que
essas mulheres exercem no lar dificulta ou impede que elas exerçam trabalho
remunerado. As cuidadoras relataram que a necessidade de assumir o cuidado no
domicílio foi o motivo que as levou a abandonar o emprego. Revelam, ainda, a
busca de diferentes fontes alternativas de renda, incluindo trabalho autônomo,
sem vínculo empregatício e a conciliação do emprego com o cuidado no domicílio,
embora com dificuldade. Algumas entrevistadas participantes da pesquisa de
41
Sena et al. (2004) declararam também, que a única fonte de renda com que
contam, para cuidar, consiste no benefício previdenciário da pessoa cuidada.
42
5. OBJETIVOS
GERAL
Analisar as implicações do cuidado de saúde domiciliar, prestado à pessoa
acima de 60 anos, para as cuidadoras, no Distrito Ressaca do município de
Contagem, MG.
ESPECÍFICOS
Conhecer as relações que permeiam a execução do cuidado de saúde
domiciliar, vivenciadas pelas cuidadoras da pessoa acima de 60 anos, no
Distrito Ressaca do município de Contagem, MG.
Identificar o apoio utilizado pelas cuidadoras, referente ao cuidado de saúde
domiciliar, à pessoa acima de 60 anos, no Distrito Ressaca do município de
Contagem, MG.
Identificar os custos emocionais e financeiros, para as cuidadoras, com o
cuidado de saúde domiciliar, prestado à pessoa acima de 60 anos, no Distrito
Ressaca do município de Contagem, MG.
43
6. METODOLOGIA
O estudo foi realizado utilizando-se abordagens quantitativas e qualitativas,
fazendo-se uma triangulação metodológica no processo de coleta e análise dos
dados. Os dados quantitativos e qualitativos permitiram analisar as implicações do
cuidado de saúde domiciliar, para as cuidadoras, bem como identificar os custos
emocionais e financeiros, no cuidado de saúde domiciliar e a compreensão das
subjetividades que permeiam a prestação do cuidado, a partir da visão das
cuidadoras.
Para Leopardi (2002), a triangulação é definida como um processo para
garantir confiabilidade a dados coletados, por uma combinação de metodologias,
no estudo do mesmo fenômeno. São usados múltiplos pontos de referência para
determinar características de um objeto de estudo com maior confiabilidade,
buscando-se maior precisão na interpretação dos dados obtidos.
Para Minayo (2005), a triangulação de métodos valoriza a quantificação,
compreende a quantidade como indicador e parte da qualidade dos fenômenos,
dos processos e dos sujeitos sociais, marcados por estruturas, relações de
subjetividade, culturalmente específicas de classes, grupos e segmentos
profissionais, gênero, etnia e idade.
Para identificar como as cuidadoras sustentam o cuidado no domicílio,
assumindo gastos com a alimentação, o vestuário, a higiene, os materiais e
equipamentos médico-hospitalares, o transporte, a adaptação da área física do
44
domicílio, os medicamentos e o tempo de trabalho da cuidadora utilizei um
instrumento para captar o valor quantitativo devido à importância de uma visão
objetiva. Objetividade, na perspectiva de uma abordagem quantitativa, significa
que os achados devem ser reconhecidos da maneira como realmente são, porque
os fatos existem independentes do pesquisador (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004).
Segundo Polit, Beck e Hungler (2004), os métodos qualitativos de
investigação lidam com o aspecto da complexidade inerente aos seres humanos,
a sua capacidade de dar forma e criar suas próprias experiências e a idéia de que
a verdade é a possibilidade de aproximar de um agregado de realidades.
Conseqüentemente as investigações qualitativas enfatizam a compreensão da
experiência humana tal como é vivida e relatada pelos sujeitos que colaboram na
pesquisa.
Para conhecer as implicações do cuidado domiciliar para as cuidadoras e
identificar os custos emocionais e financeiros com esse cuidado, apoiei-me no
referencial teórico-metodológico do Materialismo Histórico Dialético (MHD).
Busquei a essência dos fenômenos na análise das relações entre os sujeitos
históricos em um processo de aproximações sucessivas da realidade conforme
orientam Minayo (1999) e Gadotti (1997).
Segundo Leopardi
(2002), o MHD fundamenta-se em dois componentes:
dialética materialista e materialismo histórico. O materialismo histórico refere-se às
condições materiais da existência social que definem a História da humanidade
pelo desenvolvimento de formas coletivas de trabalho. O controle sobre a
produção, a distribuição e o consumo de bens produzidos gerou uma divisão de
45
classe nas sociedades – as classes sociais – de acordo com o acesso a esses
bens. O outro componente é a dialética materialista sustentada na filosofia que
compreende os fenômenos como conseqüência de interações constantes entre
natureza e sociedade.
No transcurso da pesquisa, a dialética permitiu-me compreender que os
dados subjetivos e objetivos são inseparáveis e interdependentes. Ao mesmo
tempo, a dialética possibilitou-me desenvolver um processo de dissolução de
dicotomias: entre quantitativo e qualitativo; entre macro e micro; entre interior e
exterior; entre sujeito e objeto segundo as orientações de Minayo (2005).
Munida do método dialético, analisei as implicações, para as cuidadoras, do
cuidado de saúde domiciliar, prestado a pessoa idosa, fazendo sucessivas
aproximações de sua totalidade em constante transformação. Assim,
considerando os aspectos que envolvem o modo de produção da vida material das
famílias, suas estratégias para cuidar de seus familiares em um contexto
condicionado pelo processo de vida social e econômico, busquei também
conhecer as relações que permeiam a execução do cuidado de saúde e as causas
das inquietações referentes aos custos com cuidado de saúde domiciliar prestado
a pessoa acima de 60 anos, no Distrito Ressaca do município de Contagem, MG.
6.1 Cenário da pesquisa
O cenário escolhido para o estudo foi o Distrito Ressaca do município de
Contagem, MG. A opção de realizar o estudo nessa cidade deve-se a minha
46
inserção profissional como enfermeira em unidade básica de saúde e,
posteriormente, como Referência Técnica de Enfermagem da Atenção Básica, da
Secretaria Municipal de Saúde de Contagem e atualmente como enfermeira em
uma Unidade de Pronto Atendimento, também em Contagem.
Contagem está localizada a 23 quilômetros (Km) do Centro de Belo
Horizonte, na zona metalúrgica do Estado de Minas Gerais. Faz limite com a
capital do estado, integra-se ao núcleo polarizador das atividades urbanas e
econômicas da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). São também
limites municipais: Betim, Esmeraldas, Ibirité e Ribeirão das Neves (CONTAGEM,
2003).
A integração interna e a articulação de Contagem com os principais centros
urbanos regionais do país e do estado realizam-se por meio de um sistema viário
complexo, formado por: BR 381, ligando Contagem a São Paulo; BR 040, ligando
Contagem a Rio de Janeiro e Brasília; BR 262, ligando Contagem a Vitória, e a
MG 432 estrada de Esmeraldas.
Entre os principais eixos de articulação urbana, estão a Via Urbana Leste-
Oeste, a Via Expressa, a avenida Integração que liga a primeira à avenida João
César de Oliveira (CONTAGEM, 2003).
A área territorial compreende: zona urbana - 132,1 Km
2
(67,0%), zona rural
- 63,1 Km
2
(32,3%), com uma extensão total de 195,2 Km
2
(CONTAGEM, 2003).
A população de Contagem, registrada no censo demográfico de 2000 e
atualizado pelo Ministério da Saúde em 2002, era de 556.623 habitantes. A
distribuição da população, por grupo etário, tinha a maior concentração nas faixas
47
etárias respectivamente: 20-29 anos (19,81%); 30-39 anos (16,60); 40-49 anos
(12,35%). O grupo etário de 60 anos e mais correspondia a 6,22% da população,
o equivalente a 34.666 pessoas (CONTAGEM, 2003).
O município apresenta, como principais causas de óbito, as doenças
relacionadas ao aparelho circulatório, seguidas das causas externas, das
neoplasias, doenças do aparelho respiratório e afecções originadas no período
perinatal. Contagem acompanha a distribuição de óbitos que vem sendo
observada no Brasil, nas últimas décadas: a importância das doenças crônico-
degenerativas, associadas ao envelhecimento da população, associado ao
aumento significativo de óbitos por causas externas (CONTAGEM, 2003).
O município conta com ações de saúde como o Saúde da Família, Saúde
da Mulher, atenção à Saúde da Criança e do Adolescente, atenção à Saúde do
Idoso, Saúde do Trabalhador, Saúde Bucal, Saúde Mental, Tuberculose e
Hanseníase, Doenças Crônico-Degenerativas, Urgência-Emergência, Doenças
Sexualmente Transmissíveis (DST)/ Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
(Aids) e outras preconizadas pelo Ministério da Saúde. Em 2006 foi criado o
Centro de Referência da Saúde do Homem, projeto pioneiro no Brasil, em parceria
com UFMG e o Ministério da Saúde, que será implementado em 2007.
(CONTAGEM, 2007).
No ano de 2006, Contagem destinou 29% do orçamento anual em gastos
com a rede de saúde municipal, o que correspondeu aproximadamente R$ 90
milhões de investimentos principalmente na reforma, ampliação e construção de
unidades de saúde, aquisição de equipamentos médico-hospitalares, e o
48
oferecimento de Cursos de especialização e capacitação em Gestão em Saúde e
Saúde da Família, para os profissionais de saúde. Para 2007 a previsão
orçamentária reserva cerca de R$ 163 milhões em gastos com a saúde
(CONTAGEM, 2007).
As ações de atenção domiciliar são desenvolvidas pelo PSF, Programa de
Prevenção e Tratamento de Lesões; Vacinação de Acamados, e Assistência
Domiciliar Terapêutica (ADT), sendo que a última é direcionada exclusivamente
aos pacientes portadores de aids
1
.
A Secretaria Municipal de Saúde tem como proposta, para 2007, a
implementação do Programa de Assistência Domiciliar com a retaguarda do
Hospital Municipal
1
, um projeto elaborado em 2004.
Atualmente a rede municipal de Saúde de Contagem é composta de:
87 equipes de saúde da família;
05 unidades de referência para as equipes de saúde da família;
18 centros de saúde;
03 unidades de atendimento de urgência;
01 hospital municipal;
01 maternidade municipal;
02 clínicas de especialidades;
01 pronto-socorro;
01 centro de referência da criança e do adolescente;
1
VIEGAS, M. B. Entrevista concedida a Hosana Ferreira Rates. Belo Horizonte, 10 jan. 2007.
49
01 centro de atenção psicossocial da criança e do adolescente;
01 centro de atenção psicossocial do adulto;
01 centro de referência saúde da mulher;
01 centro de referência saúde do homem;
01 centro de referência saúde do trabalhador;
01 centro de testagem e aconselhamento;
01 centro de referência e tratamento de portadores de hepatites virais;
01 central de imunização;
36 unidades de atendimento básico de imunização;
01 centro de abastecimento farmacêutico;
11 farmácias distritais;
09 consultórios de odontologia básica sediados em escolas;
02 consultórios de odontologia básica móveis;
01 laboratório municipal
10 postos de coleta laboratorial.
A rede municipal de saúde também conta com serviços de apoio e
diagnóstico (CONTAGEM, 2007).
As unidades de saúde estão localizadas em 07 distritos sanitários, a saber:
Distrito Sanitário Eldorado, Distrito Sanitário Sede, Distrito Sanitário Industrial,
Distrito Sanitário Petrolândia, Distrito Sanitário Nacional, Distrito Sanitário Várzea
das Flores e Distrito Sanitário Ressaca (CONTAGEM, 2007).
50
Foi escolhido, para cenário desta pesquisa, o Distrito Sanitário Ressaca por
ser uma área totalmente coberta pelo PSF o que facilitou a obtenção de dados, e,
também, por conter o maior número de pessoas cuidadas no domicílio, conforme o
mapeamento orientado por Sena et al. em 2003 (CONTAGEM, 2004). O Distrito
Ressaca apresenta 243 pessoas cuidadas no domicílio. Os outros distritos exibem
os seguintes números: Petrolândia: 132; Sede: 122; Industrial: 91; Nova
Contagem: 79 e Nacional: 104. (CONTAGEM, 2004).
O Distrito Ressaca faz divisa com o município de Belo Horizonte, Ribeirão
das Neves e com o Distrito Sanitário Nacional. Conta com uma população,
predominantemente urbana, correspondente a aproximadamente 20% da
população de Contagem. Milanês, Oitis, Rosemeire, Jardim Laguna II, Parque
Recreio e Vila Pérola são regiões que fazem divisa com Belo Horizonte, através
do bairro Coqueiros, e Arvoredo faz divisa com o município de Ribeirão das Neves
(CONTAGEM, 2005).
O Distrito Ressaca possui 22 equipes de Saúde da Família onde foram
cadastradas 22 340 famílias no Sistema de Informação de Atenção Básica – SIAB,
tendo 91 240 pessoas atendida por estas equipes. Além dessas equipes o distrito
tem outros serviços de saúde: Referência do Centro de Atenção Integral à Criança
e ao Adolescente- CAIC Laguna; Farmácia Distrital; Centro de Referência da
Mulher; Centro de Saúde Ceasa e Unidade de Atendimento Imediato-UAI
Ressaca (CONTAGEM, 2005).
Dos dados da infra-estrutura do Distrito Ressaca constam: (CONTAGEM,
2005).
51
tratamento da água no domicílio: 92,42% das famílias cadastradas;
abastecimento de água pela rede pública: 98,86% das famílias cadastradas;
casa de tijolo: 99,57% das famílias cadastradas;
destino do lixo: 97,01% coleta pública;
destino das fezes e urina: 90,80% sistema de esgoto público;
energia elétrica: 97,27%.
6.2 Sujeitos da pesquisa
Os sujeitos desta pesquisa foram 17 cuidadoras principais de pessoas
acima de 60 anos, cuidadas no domicílio, com Índice de Katz G e moradoras do
Distrito Ressaca. Esses critérios de inclusão foram definidos a partir do
mapeamento realizado em 2003 (CONTAGEM, 2004). Entre as 871 pessoas
identificadas no mapeamento, recebendo cuidados domiciliares, 221 tinham de 14
a 59 anos e 535 tinham mais de 60 anos, o que representa 61,4% das pessoas
cuidadas no domicílio (CONTAGEM, 2004). Esse dado justificou a adoção do
critério de idade acima de 60 anos.
Utilizei um instrumento de classificação do grau de dependência dos
indivíduos, chamado Índice de Katz, baseado na escala de Indicadores de
Autonomia nas Atividades da Vida Diária (KATZ; DOWNS; CASH; 1970). A escala
refere-se à avaliação do grau de dependência das pessoas cuidadas no domicílio,
de A a G, para realizar as funções de vida diária : banhar-se, vestir-se, ir ao
52
toalete, controlar os esfíncteres, locomover-se e alimentar-se. Decidi incluir na
pesquisa as pessoas classificadas no Índice de Katz G por pressupor que a
dependência total para as funções da vida diária incide sobre os custos no
domicílio.
Contei com a participação dos ACS para a avaliação do Índice de Katz
(ANEXO 01). Como estratégia, fiz uma reunião com o líder dos ACS de cada
equipe do PSF, indicado pelo coordenador do Distrito, totalizando 22 agentes.
Dentre os assuntos abordados na reunião (ANEXO 02), destaco a carta de
solicitação para a atualização do mapeamento que foi entregue a cada ACS
indicado pelo coordenador (ANEXO 03). Foi estabelecido o prazo de 01 mês para
a entrega desse material que foi encaminhado à Coordenação do Distrito
Sanitário. Foram registrados no formulário do mapeamento: pessoas cuidadas no
domicílio, endereço, idade, nome das cuidadoras, e suas respectivas equipes de
saúde da família numerando os formulários de 01 a 81.
Duas equipes- a Equipe de Saúde da Família (ESF) 35, Parque Recreio e
ESF 49, Campina Verde- foram excluídas. A primeira por não possuir usuário que
atendesse aos critérios da pesquisa e a segunda, por não fornecer os dados,
alegando outras prioridades, no momento do mapeamento. Após a atualização do
mapeamento das pessoas cuidadas no domicílio, foi realizado o sorteio e
organizada nova lista das cuidadoras a serem entrevistadas. De posse desses
dados, realizei o teste piloto para adequação do instrumento. A cuidadora do
teste- piloto foi excluída da lista para as entrevistas.
53
6.3 Aspectos éticos
Para a realização desta pesquisa foi observada a Resolução 196/96 do
Ministério da Saúde (BRASIL, 1996) que regulamenta a pesquisa com seres
humanos. Para tal, o projeto de pesquisa foi submetido à aprovação do Comitê de
Ética em Pesquisa (COEP) da UFMG e da Secretaria Municipal de Contagem.
Solicitei à Secretaria Municipal de Saúde de Contagem (SMS) a
autorização para a realização da pesquisa no Distrito Ressaca (ANEXO 04). Após
aprovação do projeto pela SMS (ANEXO 05) o mesmo foi encaminhado ao
Colegiado de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem para análise e envio ao
COEP da UFMG. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da UFMG em 09 de
junho de 2006 (ANEXO 06).
Uma carta foi entregue para as cuidadoras (ANEXO 07), esclarecendo os
objetivos da pesquisa, a utilização dos resultados para fins científicos, o
compromisso de sigilo e anonimato e o não custo e remuneração de qualquer
natureza para os participantes. Cada cuidadora que aceitou participar da pesquisa
assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) em duas vias,
sendo que uma ficou com a cuidadora e a outra em meu poder (ANEXO 08).
6.4 Procedimentos para o teste-piloto
A partir da relação de pessoas acima de 60 anos, com índice de Katz G,
residentes no Distrito Ressaca do município de Contagem, identificadas com a
atualização do mapeamento realizado por Sena et al. (CONTAGEM, 2004) foi feito
54
sorteio aleatório de 05 cuidadoras que foram numeradas na seqüência 1, 2, 3, 4 e
5, para a realização das visitas domiciliares e fazer a proposta de participação na
pesquisa. Fiz contato telefônico com o ACS responsável para verificar a
disponibilidade da cuidadora para me receber. Como houve aceitação da
cuidadora número um, foi combinado, com o ACS, de nos encontrarmos na USF
na qual trabalha e seguirmos para a casa da cuidadora. Ao chegarmos à
residência, fui apresentada, citei o tema da pesquisa, seus objetivos e entreguei
carta com leitura e explicação das dúvidas pertinentes. Em seguida, li o TCLE e
propus assinatura do mesmo em duas vias. Após o cumprimento desses preceitos
éticos, realizei a entrevista orientada pelas perguntas do roteiro semi-estruturado.
Fiz a entrevista e gravei em fita-cassete. Na mesma visita justifiquei, para a
cuidadora, o uso do diário da cuidadora dizendo sobre a importância de se ter o
registro dos cuidados prestados diariamente, o valor dos gastos e as sensações e
sentimentos relacionados aos cuidados. Em seguida, orientei como preencher a
planilha. No teste-piloto o diário da cuidadora permaneceu no domicílio por 07
dias, incluindo um final de semana. Após o tempo proposto, recolhi e perguntei
para a cuidadora o que foi escrever nesse diário e se teria mudanças e sugestões
relacionadas ao preenchimento da planilha.
Depois de analisado o teste-piloto, foram feitas as correções e adequações
necessárias no roteiro da entrevista e na planilha, juntamente com as
orientadoras. Eliminou-se esse material e iniciou-se a coleta propriamente dita. Na
coleta de dados, o diário permaneceu com a cuidadora por 30 dias para as
55
anotações das atividades realizadas, bem como o registro dos gastos com o
cuidado no domicílio.
6.5 Instrumentos da pesquisa
Para a obtenção dos dados, foram utilizados como instrumentos: entrevista
individual com as cuidadoras principais (ANEXO 09), diário da cuidadora (ANEXO
10) contendo duas planilhas de custos (ANEXO 11) e o diário da
pesquisadora/observação (ANEXO 12).
Segundo Cruz Neto (2004), a entrevista é o procedimento mais usado no
trabalho de campo. Com ela, o pesquisador obtem informes contidos na fala dos
atores sociais envolvidos. Ela não significa uma conversa despretensiosa e neutra;
é um meio de coleta dos fatos relatados pelos atores, sujeitos da pesquisa, que
vivenciam a realidade focalizada.
Fiz entrevista individual com roteiro semi-estruturado. Optei pela entrevista
no domicílio. Essa foi a maneira de acessar os sujeitos da pesquisa, minimizando
aspectos dificultadores como deslocamento, custo e tempo da pessoa
entrevistada, bem como a necessidade de disponibilizar outra cuidadora. Apesar
de algumas desvantagens constatadas em pesquisas como: ‘Cuidado domiciliar: o
trabalho do cuidador informal e profissional’, realizada por Sena et al. (2004), na
qual se descrevem situações de constrangimentos do entrevistado e falta de
privacidade, decidi pela realização da entrevista no domicilio que foram gravadas
56
em fitas-cassete e transcritas. Após a defesa da dissertação, as fitas foram
destruídas.
O diário da cuidadora foi um instrumento no qual as cuidadoras registraram,
diariamente, os gastos em planilhas com as atividades cuidativas e os aspectos
relacionados com o cuidado no domicílio. Utilizei esse instrumento conforme
empregado por Sena et al (2004).
As cuidadoras fizeram os registros durante trinta dias e seu preenchimento
foi orientado considerando os seguintes itens: alimentação, higiene, vestuário,
roupas de cama, materiais e equipamentos médico-hospitalares, transporte,
medicamentos e outros. Para o preenchimento das planilhas de custos, foi
considerado a especificidade dos gastos de cada família com o cuidado de saúde
realizado no domicilio. Foram fixadas duas planilhas no diário da cuidadora , uma
na cor azul para a 1ª quinzena do estudo e outra na cor rosa para a 2ª quinzena
de modo a facilitar a sua aplicabilidade. Ao final da pesquisa, os diários das
cuidadoras foram fotocopiados e o original devolvido às cuidadoras.
O diário da pesquisadora/observação foi um caderno paginado onde foram
anotados observações, cenário, pessoas presentes, fatos, interações ocorridas e
impressões durante as entrevistas.
6.6 Coleta dos dados
O período de coleta de dados foi de 03 de julho a 02 de outubro de 2006.
Fiz sorteio aleatório, do formulário 01 a 81, de 30 cuidadoras do mapeamento das
57
pessoas acima de 60 anos, classificadas no índice de Katz G, residentes no
Distrito Ressaca do município de Contagem. Depois de sorteadas, as cuidadoras
foram ordenadas na seqüência de 1 a 30. Para ter acesso às cuidadoras
sorteadas, realizei contato telefônico com o ACS responsável que verificou a
disponibilidade da cuidadora para me receber e marcar a 1ª visita .
Para nortear o trabalho de campo, foi elaborado um roteiro do agendamento
das visitas com os seguintes dados: nome da ESF, endereço, número de telefone,
ACS responsável, orientação do trajeto a ser realizado para se chegar à equipe,
nome da pessoa cuidada e nome da cuidadora.
Deparei com alguns fatos que alteraram o planejamento inicial tais como:
nove pessoas com mudança do grau de dependência e conseqüente alteração do
Índice de Katz; uma pessoa transferida para outra cidade; duas hospitalizações e
dois óbitos de pessoas cuidadas; uma desistência de cuidadora; uma recusa em
gravar a entrevista; e um óbito após a 1ª visita.
Foi combinado com o ACS que nos encontraríamos na unidade de saúde
da família em que trabalha. Depois, seguimos, a pé, para a residência das
cuidadoras. Para se criar um clima descontraído, na primeira visita, como
orientado por (MINAYO, 1999) iniciamos a entrevista com a seguinte pergunta:
Como é o seu dia a dia cuidando do(a) .........................(nome da pessoa
cuidada)? Dessa forma, introduzi, gradativamente as perguntas do roteiro semi-
estruturado da entrevista. Terminada a entrevista, entreguei o diário à cuidadora
orientando-a quanto ao uso e o preenchimento da planilha.
58
No 15º dia após a primeira entrevista, realizei a 2ª visita. Verifiquei como
estavam sendo feitas as anotações, as dificuldades encontradas e reorientei o
preenchimento da planilha e do diário.
No 30º dia, realizei a 3ª visita, recolhi o diário, agradeci a participação na
pesquisa e combinei a devolução do diário das cuidadoras.
Após a realização de 12 entrevistas com as 03 visitas preconizadas fiz, com
as orientadoras, uma análise geral dos dados e decidimos por realizar mais 05
entrevistas, para se assegurar a saturação dos dados completando 17 cuidadoras
entrevistadas. Assinalo que identifiquei apenas um cuidador do sexo masculino.
Dessa forma, utilizei a palavra cuidadora para todo o estudo.
Ao término da realização das entrevistas com as 17 cuidadoras considerei
que os dados empíricos captados no trabalho de campo eram suficientes devido à
repetição das idéias acerca dos objetivos da pesquisa seguindo assim as
orientações de Gomes et al., (2005), para interrupção do trabalho de campo.
6.7 Análise e interpretação dos dados
Para a análise dos dados qualitativos, foi utilizada a orientação de Fiorin
(1998), para quem o discurso é a combinação de elementos lingüísticos usados
pelos sujeitos com o propósito de exprimir seus pensamentos, de falar do mundo
exterior ou de seu mundo interior, de agir sobre o mundo. É o discurso que vai
revelar quem é o sujeito, qual é sua visão de mundo, expressão de sua vida real.
59
Sendo assim, a análise de discurso desenvolveu-se, à medida que estudei
os elementos discursivos identificando, por inferência, a visão de mundo dos
sujeitos da pesquisa por meio das idéias principais de seus discursos.
Por meio da análise de discurso, foi possível apreender como os sujeitos da
pesquisa percebem a realidade naquele dado momento em que se realiza o
cuidado no domicílio e, a partir daí, captei suas concepções acerca das relações
entre o cuidador, ser cuidado, as demais pessoas da família, os profissionais de
saúde e das condições materiais para a realização do cuidado.
Para a análise dos dados, foi adotada a orientação de Minayo (1999) de
acordo com os seguintes passos:
1º) Ordenação dos dados: comecei por ordenar as entrevistas e, a partir
delas, incluí os dados das anotações do diário da cuidadora, das planilhas e das
observações do diário da pesquisadora. Nessa etapa, foi feita a transcrição das
entrevistas gravadas e a leitura de todos os dados ordenados. A verificação de
uma maior quantidade de produção de material foi proporcionada devido à
abordagem qualitativa como descrito por Minayo (1999).
As entrevistas foram transcritas na íntegra com o auxílio de estudantes de
Graduação do Curso de Enfermagem da UFMG. Conferi e corrigi as transcrições
confrontando-as com a gravação original. Os nomes próprios mencionados nos
dados obtidos foram registrados somente com iniciais para se assegurar o
anonimato. O material foi codificado em:
C= Cuidadora (1 a 18)
E=Entrevista (1= 1ª entrevista, 2= 2ª entrevista, 3= 3ª entrevista)
60
DC= Diário da Cuidadora
P= Planilha (1, 2)
DP= Diário da Pesquisadora (1= 1ª entrevista, 2= 2ª entrevista, 3= 3ª
entrevista)
Exemplificando: C2E3= 3ª entrevista da Cuidadora nº 2
C10DC= Diário da Cuidadora nº 10
C9DP1= 1ª entrevista do Diário da Pesquisadora referente à Cuidadora nº 9
Essa codificação foi utilizada na apresentação dos dados, na análise.
Uma cópia de uma entrevista escolhida aleatoriamente foi entregue para
duas pesquisadoras do NUPEPE, indicadas por uma orientadora, para a validação
da identificação das idéias centrais. Após a identificação das idéias centrais, por
mim e pelas pesquisadoras, em separado, foi feita a validação das três
entrevistas, pela discussão dos pontos convergentes e divergentes das frases
temáticas identificadas.
2º) Classificação dos dados: foi realizada por meio de leitura exaustiva das
entrevistas transcritas na íntegra e repetida por três vezes. Na 4ª leitura,
identifiquei o que surgiu de relevante dos atores sociais e codifiquei. Após a
codificação recortei as idéias principais agrupando-as por frases temáticas,
encontrando, assim, as categorias.
Os enunciados das entrevistas nortearam a análise e, somente após a
identificação das categorias, inseri os dados das planilhas, do diário da cuidadora
e do diário da pesquisadora. Vale registrar que as entrevistas foram copiadas na
61
íntegra e guardadas em local seguro antes do recorte das idéias centrais segundo
orientado por Gomes et al. (2005).
Os processos de construção, desconstrução e reconstrução dos discursos
apontaram quatro categorias empíricas, 09 sub-categorias e 29 temas
demonstrados no Quadro 1.
62
QUADRO 1: Categorias, sub-categorias e temas
Categorias Sub-categorias Temas
Aspectos facilitadores na
relação com o idoso
Dedicação e carinho com a
pessoa cuidada
Respeito e estímulo pela
autonomia da pessoa cuidada
Lazer da pessoa cuidada
Dificuldades na relação com a
pessoa cuidada
Singularidade da pessoa
cuidada
Alterações de comportamento
da pessoa cuidada
Sentimentos da cuidadora pela
pessoa cuidada
Descuido com a pessoa
cuidada
A PESSOA CUIDADA
Características da pessoa
cuidada
--------------
A cuidadora no domicílio -------------- CUIDADORA: DOANDO,
APRENDENDO, E
CONSTRUINDO
História de vida da cuidadora
A saúde da cuidadora
A cuidadora que cuida de 02
pessoas
Privações da cuidadora
Consciência política
A convivência com o cuidador
informal remunerado
A convivência com o cuidador
profissional
O cotidiano do cuidado no
domicílio
Autonomia do cuidado
A responsabilidade do cuidado
no domicílio
Estratégias para o cuidado
Adaptação do domicílio para
facilitar o cuidado
A hospitalização
CUIDADO: CONSTRUÇÃO E
DESCONSTRUÇÃO
Cuidado solidário Compartilhando o cuidado
A retribuição do cuidado
SUS O SUS como facilitador do
cuidado no domicílio
As dificuldades no SUS
Saúde suplementar
O CUIDADO E A EXPRESSÃO
DOS GASTOS
Gastos com o cuidado no
domicílio
Orçamento apertado
Medicamentos
Alimentação
Instrumentos para a execução
do cuidado
Artigos de consumo
Transporte
63
3º) Análise final: nessa fase, estabeleci articulações entre os dados e os
referenciais teóricos da pesquisa, com base nos objetivos geral e específicos
propostos.
Os registros dos gastos realizados pelas cuidadoras foram incompletos e
insuficientes.
Para a análise dos dados quantitativos, foi utilizada a consulta de preços a
serviços de cuidado no domicílio, rede de farmácias, supermercados e de artigos
especializados. Os preços obtidos foram organizados nos anexos 15, 16, 17, 18,
19, 20 e 21.
Para a análise dos gastos com medicamentos, alimentação e artigos de
consumo, optei por fazer o cálculo da quantidade registrada com os preços
encontrados nos levantamentos.
Por fim, utilizei, na análise, a triangulação proposta por Gomes et al. (2005)
articulando os dados qualitativos das entrevistas, dos diários das cuidadoras e das
pesquisadoras com os dados quantitativos obtidos nas planilhas e no
levantamento de preços.
64
7. O CUIDADO NO DOMICÍLIO: UM TRABALHO
7. 1 A pessoa cuidada
Essa categoria se apresenta como uma parte das articulações das idéias
expressas pelas cuidadoras para a compreensão das implicações do cuidado de
saúde domiciliar. Tendo como referência o cuidado, a pessoa idosa no domicílio, a
categoria comporta três sub-categorias: ‘Características da pessoa cuidada’,
Aspectos facilitadores na relação com o idoso’ e ‘Dificuldades no relacionamento
com a pessoa cuidada’. Essas sub-categorias revelam as características das
pessoas cuidadas e as vivências das cuidadoras no relacionamento das
cuidadoras com as pessoas cuidadas.
A sub-categoria ‘Características da pessoa cuidada’ foi identificada a partir
do roteiro estruturado. As sub-categorias ‘Aspectos facilitadores na relação com o
idoso’ e ‘Dificuldades na relação com o idoso’ surgiram dos discursos das
cuidadoras, e das anotações realizadas pela pesquisadora no diário de campo,
durante as visitas domiciliares.
7.1.1 Características da pessoa cuidada
Essa sub-categoria foi identificada a partir das respostas das entrevistadas
às perguntas do roteiro semi-estruturado. Após a sistematização desses dados, as
características da pessoa cuidada foram descritas. Das 17 pessoas cuidadas, 13
são do sexo feminino e quatro são do sexo masculino.
65
Entre as 17 pessoas cuidadas, 16 recebem benefício previdenciário no
valor equivalente a um salário mínimo e somente uma pessoa possui benefício no
valor aproximado de um mil reais.
A maioria das pessoas cuidadas no domicílio, isto é, 12 pessoas são
viúvas, representando 70,6% do total. Três são solteiras, uma é casada e a outra
pessoa vive maritalmente com a cuidadora.
Os dados demonstraram que a idade das pessoas cuidadas no domicílio
varia de 63 a 101 anos. Sete pessoas cuidadas têm a idade entre 81anos e 90
anos, representando 42%. Quatro pessoas têm idade entre 61 a 70 anos, três
pessoas têm de 91 a100 anos, duas pessoas têm a idade entre 71 e 80 anos, e
apenas uma pessoa tem 101 anos.
A proporção da população idosa e da “mais idosa”, ou seja, a de 80 anos e
mais, no total da população brasileira está aumentando e existe uma
predominância de mulheres entre os idosos. Essa predominância tem
repercussões importantes nas demandas por políticas públicas pois acredita-se
que, atualmente, a maioria dessas mulheres seja de viúvas, sem experiência de
trabalho no mercado formal e com baixo nível de escolaridade. Requer em maior
assistência do Estado e das famílias, por não possuírem aposentadoria por tempo
de serviço. (BRASIL, 2004a). Veras (2003, p.706), ao refletir sobre os resultados
da longevidade na população feminina afirma que a “proporção de mulheres
viúvas e vivendo sós deverá aumentar, com conseqüências ainda pouco
reveladas”. Essas afirmações, embora em contextos diferentes, coincidem com os
66
achados deste estudo, a saber: de 17 pessoas cuidadas no domicílio, nove são do
sexo feminino, possuem a idade acima de 80 anos e 8 são viúvas. Todas as
viúvas acima de 80 anos possuem renda mensal de um salário mínimo.
7.1.2 Aspectos facilitadores na relação com o idoso
Essa sub-categoria revelou que a dedicação e o carinho, associados ao
respeito e ao estímulo da autonomia e às atividades de lazer, são facilitadores do
relacionamento da cuidadora com a pessoa cuidada no domicílio e, dessa forma,
influenciam positivamente a realização do cuidado.
Dedicação e carinho com a pessoa cuidada
As cuidadoras expressam dedicação, carinho e respeito pelas pessoas
cuidadas, além de estimularem a sua autonomia. Observei, durante a entrevista,
que a dedicação e o carinho com a pessoa cuidada são demonstrados por gestos
de cuidados de higiene com a pele, com a alimentação e por atitudes de atenção,
o que se pode comprovar no discurso da cuidadora e na observação registrada no
diário da pesquisadora.
Uma cuidadora relatou que a pessoa cuidada, portadora de Alzheimer,
demonstra sentimento de afeição pelas pessoas, principalmente com o neto que
compartilha a mesma moradia. Esses sentimentos são demonstrados por afagos,
abraços e beijos. Para Boff (2001):
“O órgão da carícia é, fundamentalmente, a mão: a mão que toca,
a mão que afaga, a mão que estabelece relação, a mão que
acalenta, a mão que traz quietude. Mas a mão não é
67
simplesmente mão. É a pessoa humana que através da mão
revela um modo-de-ser carinhoso. A carícia toca o profundo do ser
humano, lá onde se situa seu centro pessoal. Para que a carícia
seja verdadeiramente essencial precisamos afagar o eu profundo
e não apenas o ego superficial da consciência”.
Com a gente ela fala, mas com ele é mais. É mais quem fica com
ela. Ele toda hora abraça ela! Ele ficou uns dias sem vir, ah, ela
ficou toda! Ele às vezes chega de madrugada, ela tá acordada ele
vai lá e beija ela. É os dodói. Que ela tem mais neto, né. Mas esse
é mais agarrado com ela. Esse mora com a gente. Ela ri às vezes,
mas quando não gosta da pessoa ela fecha o olho, e não abre
mesmo. (C8E1-40)
Uma entrevistada, além de cuidar da higiene, utiliza talco para proporcionar
um cheiro agradável e pomada para prevenir lesões na pele. Essas atitudes
demonstram zelo, carinho e dedicação com a pessoa cuidada.
(...) dou banho de chuveiro todo dia nela, dou de talco, porque ela
é muita vaidosa, ela gosta muito de ficar cheirosa! (...) Eu procuro
assim passar uma pomadinha onde dá uma coisa, (...) é por isso
que eu uso a pomada, aquela pomada. Porque eu falei com ela,
ela fala que não dói, mas isso aqui se não cuidar vira ferida, né,
vira ferida, então no calor piora...(C12E1-6)
Essa mesma cuidadora providencia o corte do cabelo da pessoa cuidada
para manter sua aparência, e afirma que esses cuidados são necessários e são
realizados regularmente.
Hoje vai vim um moço pra cortar o cabelo dela. (...) Ele vem eu
ponho um pm o ummponé p. némoahe(oa els ge)-5.5(nt)8.a(o)-5.5(,)2.8(pe7( cort)8.a(o)-5.ai )5.d geco7( edobge)-5.ro(r )-5.6((p)5.pge)-5.mpo7(. por)-9.5(quo2( )]TJT*-0.0011 Tc0.6819 Twc4(a)-9.7(belo d)-5.laai )5.é(a)-9. (pa)-5.scu-811.3(m)15.5(,)4.3( )-5.mascuv5amspaae delaai v5v5a11
68
alimentação de preferência, numa tentativa de compensar a insuficiência alimentar
que a pessoa cuidada teve durante a convivência com seu marido. Segundo a
cuidadora, sua irmã foi vítima de fraturas causadas por agressão do marido
quando se encontrava alcoolizado. Durante esse tempo, também lhe faltava uma
alimentação adequada.
Dessa forma, a cuidadora relata que a dedicação da cuidadora possibilita
uma atenção diferenciada, o que não seria possível em uma internação hospitalar
da irmã.
(...) ela não come sem carne. Isso aí fatal, ela não gosta de ovo!
Ela tomou pavor de ovo, porque lá no interior eles só dava ovo frito
pra ela, ela não gosta de ovo, então é comida normal feijão, arroz,
é verdura, ela come verdura, costumei ela comer verdura eu
compro, toda semana eu compro alface ali, sabe, e aí fruta ela
gosta, ela come fruta, depois do almoço ela come mamão com
farinha industrializada. Eu compro frutas, posso até te mostrar que
eu fui agora lá comprar, é, leite, ela também toma leite, ela toma
leite de manhã, ela toma leite de tarde, ela toma leite pra dormir,
eu faço um cafezinho com leite, outro dia, eu faço leite com
todinho. Agora que ela tá alimentando, e ela gosta, eu procuro
saber o que ela gosta. Eu vou na padaria e trago sempre uma
coisa diferente pra ela sempre, cê entendeu né? Porque ela sofreu
muita necessidade de alimentar, então o que eu posso fazer pra
ela é isso coitadinha, pra poder ela aproveitar um pouco da vida,
ao menos se alimentar, e Deus ajuda que consegue e tô
conseguindo. (C12E1-61)
Outra cuidadora afirmou que os seus filhos demonstram afeição pela avó,
que é a pessoa cuidada, ao esconder os seus cigarros, com esperança de que ela
possa abandonar o vício e assim viver mais e melhor. A pessoa cuidada é
portadora de doença pulmonar obstrutiva crônica, hipertensão arterial, foi vítima
de cinco episódios de acidente vascular cerebral e mesmo, assim, continua
69
fumando muito.
(...) tem hora que os meninos vem cá e pega o cigarro dela e
esconde. "Ô vovó, é pra você não fumar, vovó". Ela fala: "Você é
besta, 'paia', 'páia'." E tem hora que tem que briga com eles: " Tá
achando que vai fazer ela parar de fumar?" Mas eles não tem
noção. (...) Meus meninos por exemplo é danado pra fazer isso
com ela. O meu caçulinha fala: "Só tenho você de vovó, minha
outra já foi pru saco”. E minha sogra já morreu, só tem ela de avó.
Então ele não quer que ela morre, entendeu? Quer dizer, 'vou tirar
o cigarro dali, aonde ela soca a mão e pega, e guardar aqui prá
ela não fumar.' Aí, ela enfeza. Eu tenho que vir brigar com ele
perto dela que ele não pode fazer aquilo. Mas na visão dele, ele
quer que ela pára de fumar. Não vai parar assim. Na mente dele,
ele quer fazer que ela pare. Ele não consegue, tadinho. (C16E1-
38)
Os dados mostram que o cuidado domiciliar permite a humanização da
atenção por atitudes de carinho e afago, além de manter o vínculo com os
familiares, o que seria difícil em uma internação hospitalar.
A assistência humanizada é uma das preocupações do Ministério da Saúde
expressa no Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar
(PNHAH). Nesse Programa, propôs-se estabelecer uma nova relação entre o
usuário, os profissionais, o grupo gestor dos serviços de saúde e a comunidade
visando a melhoria da qualidade e a eficácia dos atendimentos prestados
(BRASIL, 2006a). Dada a sua importância, o Programa foi substituído por uma
política de assistência: a Política Nacional de Humanização (PNH) que tem como
princípio norteador, ente outros, a valorização subjetiva e social em todas as
práticas de atenção e gestão do Sistema Único de Saúde, fortalecendo o
compromisso com os direitos do cidadão (BRASIL, 2004c).
70
Um parâmetro para acompanhamento da implementação da PNH é a
“existência de mecanismos de desospitalização, visando alternativas às práticas
hospitalares como as de cuidados domiciliares” (BRASIL, 2004c). Nesse sentido,
considerando a humanização como política transversal na rede SUS, foi instituída
a internação domiciliar, pela Portaria nº 2.529, do Ministério da Saúde, que deverá
induzir ações políticas dos municípios de atenção domiciliar (BRASIL, 2006a).
A desospitalização, associada ao cuidado domiciliar, proporciona um maior
contato da pessoa cuidada com a família, favorecendo a sua recuperação e
possibilitando a execução de um cuidado de saúde humanizado e com qualidade.
Respeito e estímulo pela autonomia da pessoa cuidada
Além da humanização que o cuidado domiciliar proporciona, evidenciam os
dados das entrevistas que as cuidadoras respeitam a pessoa cuidada em suas
limitações motoras, físicas e cognitivas mas, ao mesmo tempo, estimulam a
autonomia criando condições para que a pessoa cuidada possa alimentar-se, ir ao
banheiro, até sair para receber pessoalmente a sua aposentadoria.
Uma cuidadora não aceita interditar a mãe porque ela apresenta momentos
de lucidez e prefere providenciar um transporte para levá-la à agência bancária e
receber a aposentadoria.
(...) no caso pra mim ir no fórum pra poder pedir pra interditar ela,
ah, sei lá eu acho assim que deve dá como se ela tivesse morta,
sabe? Interditar uma pessoa que num tá em condições de nada,
tem hora que ela lembra...aí eu fico morrendo de dó, porque eu
acho que procê interditar uma pessoa cê praticamente tá tirano a
71
pessoa de circulação de tudo, né? (C14E1-32)
Outra cuidadora estimula a independência da pessoa cuidada deixando-a
segurar a fruta para comer, e alimentar-se sob sua supervisão. O relatado é
comprovado pelo registro a seguir.
(...)assim pra ela pegar uma caneca, ela tem dificuldade de firmar
na mão, mas (...) ela pega com as mãos, porque não pode ficar
também tão dependente. Ai eu descasco a banana dou pra ela, e
quando eu chego com a banana descascadinha, ela fica assim, eu
falo: "Não pega a banana aqui, segura a banana aqui." Ponho ela
sentada aqui pra fazer a refeição, ela come deixa derramar um
pouquin. "Ô Guta", ela me chama de Guta, "eu deixei derramar".
"Não tem problema não, da próxima não deixa não." (C12E1-29)
Caso semelhante de valorização da autonomia, verifica-se com outra
pessoa cuidada que se alimentava por sonda nasoentérica e se encontrava com
limitações de movimentos devido a episódio de acidente vascular cerebral. Após
melhora clínica, foi retirada a sonda e iniciada a dieta pastosa que passou a ser
oferecida pelos cuidadores. Por meio de estímulos adequados do cuidador e do
filho do cuidador sobre como segurar o alimento e com conversas e brincadeiras,
desenvolveu-se uma certa autonomia da pessoa cuidada. Todos participaram e o
cuidador ficou satisfeito com a recuperação da pessoa cuidada, conforme o que se
pode verificar no que se segue.
(...) o meu menino chega em casa fica uma hora, uma hora e meia
brincando com ele, mexendo com ele, fazendo raiva nele. Mas não
é fazendo raiva... é pra você ver é estimulando. E... às vezes a
gente pensava meio que tava atrapalhando, o tratamento, não,
"Não vocês não tão atrapalhando, não, vocês tão ajudando." E é
isto mesmo. É... às vezes... éh... a minha mulher arrumava a
comida, bife. Antes dava tudo na boca, aquele negócio todo, né.
72
Você corta um bife, um bife macio, põe a mão dele e diz assim,
segura. Hoje você vê que ele já... mexe. Éh... esses últimos dias, o
copo, a água, ele quer pegar. Então você dá pra ele. Ele já
pegando o negócio. Ele já tá fazendo todos os movimentos. Então
eu acho interessante a recuperação dele. (C18E1-15)
Mesmo com dificuldades quanto ao manuseio e a vontade de manter a
autonomia da pessoa cuidada, outra entrevistada prefere levar a pessoa cuidada
que apresenta impossibilidade de deambulação, no banheiro, em cadeira de
rodas. As eliminações são realizadas na fralda somente quando a pessoa cuidada
apresenta alterações de motilidade intestinal.
Sempre ela faz quando eu levo ela no banheiro. Só quando o
intestino tá meio solto ela faz na fralda. (C9E1-9)
Biologicamente, o processo de envelhecimento é natural, dinâmico,
progressivo e irreversível e, neste estudo, as pessoas cuidadas apresentam-se
dependentes de um cuidador para manter a sobrevivência, pois as atividades da
vida diária estão comprometidas. Mesmo assim, os cuidadores estimulam o auto-
cuidado do idoso no sentido de preservar a sua capacidade motora e cognitiva.
Essa atitude remete-nos à teoria de Orem que desenvolveu uma teoria de
Enfermagem que enfatiza as necessidades de auto-cuidado. Para Orem, o auto-
cuidado é uma atividade apreendida e orientada a fim de sustentar a vida e a
saúde, recuperar-se da doença ou lesão e lidar com seus efeitos. Para ela, o
objetivo é o de ajudar a pessoa a realizar o auto-cuidado (POTTER, PERRY,
2004). As cuidadoras informais respeitam as limitações das pessoas cuidadas e
também estimulam o auto-cuidado e a construção progressiva da autonomia.
73
Lazer da pessoa cuidada
Outra atividade que estimula a promoção do bem-estar é a que as
cuidadoras denominam de lazer da pessoa cuidada. Das pessoas cuidadas por 17
cuidadoras, cinco realizam alguma atividade de lazer. Essas atividades são
restritas e pontuais como ouvir rádio, ir à igreja e visitar outras pessoas doentes, o
que se evidencia nos enunciados das entrevistas e no registro do diário da
pesquisadora.
Uma cuidadora falou que a pessoa cuidada tem como distração ouvir rádio,
principalmente os jogos de futebol de
pruu
74
arrumadinha, prontinha, aí vai pra igreja porque ela é evangélica,
né? Por volta das 10 horas ela chega...então é assim (...). (C15E1-
15)
Uma entrevistada relatou que o pastor ou o seu filho levam a pessoa
cuidada à igreja evangélica nas segundas, quartas e sextas-feiras e aos
domingos. Utilizam a cadeira de rodas para a locomoção até o carro, e até à igreja
a pessoa cuidada é transportada em veículo automotor.
Tem vez que meu menino leva. Aí tem vez que o pastor vem cá
buscá ele. Quando meu menino não pode o pastor vem cá buscar
ele.(...) Ele vai segunda, quarta e sexta e domingo. (C6E2-2)
Essa entrevistada comentou que sua mãe, a pessoa cuidada, gosta de
passear na rua e visitar uma senhora doente.
Eu fico assim com ela, levo lá pru terreiro, levo pra rua um
mucado...gosta muito de ir lá pra rua, sentá lá fora...levo ela pra
visitar Dona J. que também é doente...(C7E1-19)
Verifiquei que a realização de atividades de lazer é dificultada pela
deficiência na capacidade motora, auditiva e cognitiva ou por conseqüência das
patologias da pessoa cuidada, mas principalmente pela falta de recursos da
família: dinheiro, transporte e tempo. Diante dos gastos com o cuidado domiciliar,
de pessoas cuidadas, com uma renda de um salário mínimo, a alimentação, os
medicamentos e as fraldas são priorizados em detrimento de atividades de lazer.
Feliciano, Morais e Freitas (2003) mostraram que 56,4% dos entrevistados
realizavam atividades de distração ou lazer. As autoras destacaram a importância
75
de incentivar e proporcionar recreação e lazer às pessoas idosas como estratégia
para a redução do isolamento, da inserção do idoso no meio social e do
desenvolvimento de novas habilidades, o que pode refletir diretamente na melhora
da auto-estima e da condição de saúde. Esse estudo delineou o perfil de saúde de
uma população idosa, residente em São Carlos, São Paulo, Brasil, com 523
pessoas com 60 anos e mais, cadastradas no PSF e no Cartão Nacional de
Saúde.
O Estatuto do Idoso, em seu Capítulo V, afirma que “o idoso tem direito a
educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que
respeitem sua peculiar condição de saúde.” Para induzir a participação dos idosos
em atividades culturais e de lazer, o Estatuto do Idoso garante que sejam
proporcionados descontos de, pelo menos 50%, nos ingressos de eventos
artísticos, culturais, esportivos e de lazer (BRASIL, 2004a).
Dessa forma, para que se efetivem esses direitos, é preciso divulgar e
discutir o Estatuto do Idoso com toda a sociedade e desenvolver ações nos
serviços de assistência social e de saúde. Acredito que os profissionais de Saúde
devem interagir com outros setores dos serviços públicos e da sociedade para
proporcionar a adesão e a implementação do Estatuto, como instrumento de
exercício da cidadania. E esse é um movimento que pode ser implementado no
município-cenário desta pesquisa.
7.1.3 Dificuldades na relação com a pessoa cuidada
Essa sub-categoria é composta dos seguintes temas: ‘Singularidade da
76
pessoa cuidada’, ‘Alterações de comportamento da pessoa cuidada’, ‘Sentimentos
da cuidadora pela pessoa cuidada’, ‘Descuido com a pessoa cuidada’.
Durante a atividade de cuidado no domicílio, foi revelado pelas
entrevistadas que é impossível não manifestar os sentimentos entre a pessoa
cuidada, cuidadora, entre as demais pessoas da família e os profissionais de
Saúde. Esses sentimentos são permeados de conflitos, contradições, amor e,
algumas vezes, até descuido. As cuidadoras relatam que as tarefas do cuidado
diário, muitas vezes, tornam-se difíceis, pelas características de cada pessoa
cuidada e pela complexidade das relações que se estabelecem.
Singularidade da pessoa cuidada
As entrevistadas, ao relatarem seu cotidiano, expressaram a singularidade
da pessoa cuidada e do próprio cuidado.
Uma das pessoas cuidadas, objeto deste estudo, escolhe quem deve trocar
suas fraldas ou realizar o banho. Para a cuidadora, essas atitudes dificultam a
execução do cuidado, limitando-o a poucas cuidadoras. Considerando todas as
atividades domésticas que necessita realizar, precisa de muita paciência para
conviver com esse tipo de exigência.
Não é todo mundo que ela deixa trocá, das filhas é só três, das
77
facilitar o seu cotidiano.
Ela não deixa colocar fralda. Então, às vêis eu dô banho de
manhã, quando é de tarde, eu tenho de dá banho de novo, e é
mais dificultoso. Para levar para o banheiro, às vezes eu esquento
água ali, porque é mais fácil, ficá carregano é muito peso, porque
ela é pesada. (C2E1-20)
Outra cuidadora demonstrou irritação com a pessoa cuidada que só ingere
o medicamento que lhe interessa. Essa atitude interfere no tratamento e, por isso,
preocupa a cuidadora.
Porque tem hora que a gente fica assim irritado, porque ela não
quer obedecer, a gente tem que dar conta. Ela tava escondendo
os remédio todo, até falei com Dr. F. Ela tava escondendo, ela
sabe separá, porque ela é muito assim sábia. Então eu dava ela
dois comprimido, ela punha os dois na boca, uma era cápsula e o
outro era o Furosemida. Ai, não sei como ela separava os dois
comprimido, um ela engolia o outro, e o outro ficava. Eu achei
isso... quer dizer, ela tem uma capacidade, prá você ver que ela
nessa idade! (C13E1-11)
Uma entrevistada informou que a pessoa cuidada não aceita mudanças na
dieta. A cuidadora preocupa-se, mas aponta que, até aquele momento, não houve
complicações. Esse fato é mais uma situação agravante no dia a dia das
cuidadoras, pois atitudes como essas dificultam o relacionamento e o tratamento
de saúde da pessoa cuidada.
É muito difícil...um dia eu tentei dá ela café com adoçante, ela:
"Não...num quero essa porcaria não, num quero não..." e num
aceita mesmo,né? Põe, e ela: "Num quero isso não..." Refrigerante
ela gosta muito, ele (médico) falava pra dá ela refrigerante diet,
ela: "Eu num gosto desse, eu quero é do ôtro.." Aí a gente dá e
num tem complicação não, graças a Deus. (C14E1-28)
78
Outra cuidadora relatou que o relacionamento com a pessoa cuidada é
difícil, exige paciência, quando a pessoa cuidada realiza atividades repetitivas,
próprias da senilidade.
Tem hora me dá uma falta de paciência, óh meu Deus do céu,
misericórdia! Sabe, ela é muito boazinha, mas tem vez que ela
começa a xingá, xingá! Tem dia que ela xinga, xinga, xinga, até a
boca secá!! (C2E2-2)
Além do desgaste provocado pelas tarefas diárias, as entrevistadas
relataram que, em diferentes situações, é necessário ter paciência para que o
cuidado se efetive. Revelaram sobre a singularidade das pessoas cuidadas:
escolher quem troca sua fralda, não deglutir todos os medicamentos prescritos,
não aceitar o uso de adoçante e xingar muito. Disseram, também, que essas
singularidades dificultam a realização do cuidado ou impossibilitam um tratamento
adequado e provocam o desgaste emocional e físico da cuidadora.
A análise dos dados permite reconhecer que, na realização do cuidado, a
paciência e o afeto estão diretamente ligados à qualidade dos relacionamentos
entre pessoas cuidadas e cuidadoras. As cuidadoras contaram que as pessoas
cuidadas demonstram preferências e que é preciso habilidade para prestar os
cuidados de saúde necessários sem contrariá-las. O bom relacionamento entre a
cuidadora e a pessoa cuidada e a aceitação de sua singularidade estão
intimamente relacionados com a preservação de sua saúde. Para Sena et al
(2004, p.547) “... o cuidado exige muito mais do que uma simples execução de
79
tarefas, depende de disponibilidade, dedicação e comprometimento do cuidador
com o ser cuidado.”
Alterações de comportamento das pessoas cuidadas
As cuidadoras relataram que identificam alterações de comportamento das
pessoas cuidadas manifestadas no cotidiano do cuidado. Disseram que, além das
atividades diurnas que desenvolvem, muitas das vezes se ocupam com as
pessoas cuidadas à noite, pois algumas apresentam mudanças de comportamento
no período noturno.
Uma cuidadora relatou que sua mãe parece ter alucinações visuais durante
o sono. Com freqüência, a cuidadora observou que sua mãe tem alterações de
percepção e da memória, apresentando ocasionalmente alucinações visuais ou
auditivas, bem como alteração da memória provocada pela doença. A cuidadora
revelou que sua mãe tem um retorno ao tempo, relatando situações detalhadas
contidas na sua imaginação ou registro de fatos reais que se confundem.
Se ela está falando, aí ela quer descer da cama, ela mexe as
pernas, ela mexe os braços, e ela vê muito bicho na casa, ela vê
aranha, ela vê vaca, ela vê cachorro, ela vê menino. Tem umas
meninas que não dá ela sossego, ela fica: "Óh L. olha essas
meninas aqui, a menina está na beirada da cisterna, a menina
está na janela, tira ela de lá" Dá um trabalho danado pra ela cuidar
dessas meninas. Então, mas ela cuida das meninas a noite inteira,
a noite inteira. Faz festa de aniversário dela, agradece o pessoal
de ter vindo visitar ela. Presente, ela recebe tem dia que é a noite
inteira, ela recebe presente. Serve janta pro povo, essas
preocupações que tinha quando trabalhava. Então na mente dela
ela ainda está fazendo as coisas, que é lavar as vasilhas, junta,
vem trazendo as cobertas assim, traz tudo, diz que está dobrando
a toalha da mesa, são esses problemas. (C3E17)
80
Uma idosa apresentou confusão mental trocando os horários de
alimentação diurna pela noturna. A entrevistada disse que a pessoa cuidada
acorda inquieta, pede café e comida em horários noturnos.
Às vezes ela acorda muito de noite...ela chama muito. De sexta
pra sábado...sexta ela chamou muito...aí eu levanto ela e
pergunto: "O quê que a senhora quer mãe?" "Ah, eu quero
água..." Aí senta ela na cama e a gente leva água, dá ela, ela
deita, a hora que apaga a luz, ela: ''...Ô Z.! Z.! Ô Z.!"...e vai
chamando, vai chamando...aí levanta. "O quê que foi mãe, Z. tá
dormino, o quê que a senhora quer"? "Eu quero café". Aí vô, pego
café. Tem dia que duas, três hora da manhã ela tá pedindo
comida. "Eu quero comida, eu quero comida..."(C14E1-15)
Outra cuidadora relatou momentos em que a mãe troca o dia pela noite. Ela
apresentou agitação, ansiedade e grita como se fosse uma criança precisando de
atenção. A cuidadora disse que a paciência é importante e quase sempre são
necessários cuidados como se a pessoa fosse um bebê. Relatou, ainda, que a
medicação ansiolítica, nessa fase de agitação, também é importante para o
controle do quadro.
Ela faz daquele jeito quando perde o sono à noite, minha fia, não
deixa ninguém dormi! Grita, grita, grita que eu preciso levantá,
igual menino! Eu preciso fazer mamadeira e trazê. Se é farta de
remédio, né, eu pego dou ela um remédio, dô ela mamadeira de
M..(C9E1-10)
Ela teve forte demais, nosso Deus! Eu passei uma luta uma noite
que eu tava ruim demais menina! Madrugada eu acordei com a
mãe nessa gritaiada aí, gritando, gritando, e eu num agüentando
minha fia, aquela friagem que eu num tava guentando. Aí eu fiz
mamadeira pra ela, dei ela, dei ela o remédio de dormi e falei:
“Fica quetinha aí que eu nu tô güentando também não”. Aí ela
ficou quetinha, tampei ela, ela ficou quetinha, adorei, né.(C9E1-41)
81
Outra cuidadora relatou o desenvolvimento do quadro de demência da
pessoa cuidada caracterizado por confusão mental e fugas de casa. A dificuldade
de compreender o comportamento da pessoa cuidada fez com que os familiares
pesquisassem sobre o mal de Alzheimer mesmo antes do diagnóstico do médico.
(...) eu sempre morei com ela, nós somos filhas. E (...) então ela
começou a piorar mesmo em junho de 2004, que (...) veio a
segunda fase e ficou mais firme. Ela tentou... ela fugiu. Eu tava
num shopping com ela, ela sumiu, ficou 5 horas sumida. Ela
tentou pular a janela, ela trocava, pegava as fezes e rolava punha
dentro do banheiro, punha dentro do guarda-roupa, você tinha que
tirar os detergente que ela tomava o detergente. Então você
passa... De manhã você tinha que fechar tudo, ela arrumava a
bolsinha dela: “Vou embora pra minha casa”. Até dezembro ela
ainda andava, devagarzinho, depois ela parou de andar. Então foi
desde essa época que nós começamos mesmo. Porque até então
a gente não sabia, os médicos falavam que não sabia o quê é que
era. Eu falava: “Ela tem Alzheimer!”, num é, eu falei: “Tem sim!”,
porque ela mudou totalmente o comportamento dela. Porque a
gente passou a pesquisar sobre a doença. Eu tenho lá dentro, um
livro que minha irmã arranjou, só sobre Alzheimer. Peguei o filme
“Íris”, fala sobre Alzheimer. Aí, eu comecei a pesquisar e falei:
“Tem sim, ela tá com Alzheimer”. (C8E1-13)
Potter e Perry (2004) afirmam que existe uma concepção errônea de que os
comprometimentos cognitivos estão presentes em muitas pessoas idosas. Três
condições afetam a cognição: o delírio, a demência e a depressão. É essencial
saber diferenciá-las para apoiar e fazer a intervenção adequada e oportuna.
O comprometimento cognitivo dificulta a execução do cuidado, ocasionando
insegurança e estresse nas cuidadoras informais. As cuidadoras revelaram que é
importante que elas saibam se essas alterações são próprias do envelhecimento
ou das doenças da pessoa cuidada. A depressão, o acidente vascular cerebral e o
mal de Alzheimer são algumas das patologias que podem causar alterações de
82
comportamento no idoso.
Os dados permitem apreender que as cuidadoras informais, sujeitos deste
estudo, necessitam ser orientadas sobre os sintomas das doenças que acometem
as pessoas cuidadas no domicílio, bem como as condutas que devem ser
adotadas. Entretanto é fundamental que os profissionais de Saúde estudem sobre
o cuidado de pessoas idosas em virtude do aumento da população idosa no Brasil
e também visando orientar os cuidadores para a execução do cuidado de saúde
no domicílio.
Os sentimentos da cuidadora pela pessoa cuidada
Como já descrito, o cuidado no domicílio sustenta-se na qualidade da
relação que se estabelece entre a pessoa cuidada e a cuidadora.
Uma cuidadora mostrou-se tolerante para com a tarefa do cuidado no
domicílio e agradece a Deus a saúde que possui para cuidar de sua irmã.
Acrescentou que, para exercer a atividade de cuidadora, é necessário ter
predicados como amor, paciência e integridade:
(...) mas eu não reclamo não, tá muito bom obrigada, eu falo: "Obrigada
meu Deus" toda hora. Eu vou levar ela no banheiro eu olho ali, tem uma
igreja ali, eu olho na janela e falo: “Senhor obrigada pela saúde e pela
paciência” porque tudo cê tem que ter amor, paciência, amor e integridade,
porque se não tiver cê não cuida não. (C12E1-46)
Outra cuidadora relatou que sente raiva e fica irritada com os gritos da
pessoa cuidada porque ela se encontra demente e a chama pelo seu nome, por
83
mãe, por filha, e durante esses momentos os sentimentos são intensos e assim o
cuidado “perde o sentido”:
Eu fico com raiva de vez em quando memo. Tem hora que irrita. A
gente apavorada tem tanta coisa pra fazê e fica aquela
gritaiada...dá prá irrita um mucadinho. Tem hora que a gente até ri.
Como diz o outro, a gente ri pra num chorá. É ruim demais. A
pessoa perde o sentido, fica ruim pra cuidá. (C9E1-30)
Outro relato mostrou que as atividades de cuidado como levar ao banheiro
e administrar medicamentos interrompem seu sono e impedem um repouso
adequado. A diminuição do sono causa-lhe irritabilidade o que dificulta a
realização de outras atividades que são remuneradas:
Hoje por exemplo, eu levantei, eu fui no quarto dela 1:15, aí depois
3:20 ela levantou, fez xixi a noite toda, não quer pôr fralda. Aí 4:30
eu pus o relógio pra despertar que eu tinha que dar remédio 6hs.
Aí eu levantei num nervo (...)! Sabe, eu tava nervosa porque eu
não conseguia dormi. Eu falei assim: "Agora a menina chega eu
vou deitá e tentá dormir". Aí elas ficaram conversando no quarto
ali e meu quarto é de lá e dá na janela dela...Aí eu falei: "Pronto!
Vou ter que levantar que eu não consigo dormi!" Aí eu pus a mão
aqui assim (na testa) e fiquei assim, muito tempo sabe! Tipo
pedindo força mesmo. (C11E1-16)
Outra entrevistada relatou que o cotidiano e as várias atividades sob sua
responsabilidade como limpeza da casa, o auxílio do dever escolar da filha e a
inexistência de outra cuidadora para dividir as tarefas do cuidado no domicílio,
somadas à execução desse cuidado, provocam diminuição de humor e propicia
momentos de estresse. Evidencia-se, na análise dos dados, que situações de
estresse são comuns na vida das cuidadoras que cuidam de pessoas acima de 60
anos com limitações das atividades da vida diária (AVD).
84
Que tem dia (...) que eu tô meia chateada, eu tô aburrecida às
vezes, porque sempre tem um dia que a gente tá mais
nervosa...levanta nervosa. Minha menina L. com trabalho de
escola pra fazer e tem que levantar cedo, fazer almoço e arrumar
casa...ela chega aqui, e eu tô num estresse, sabe? "P. sua vó tá
querendo sair da cama, ela tá pedino café" E L. com trabalho pra
fazer, às vezes eu tenho que sair e correr atrás de trabalho com
ela, que ela (P.) tava morando no Rio, agora que ela veio embora
pra cá, mas enquanto ela tava pro Rio eu passei muito aperto com
ela (pessoa cuidada). (C14E1-36)
Observei que o cansaço e a irritabilidade, associados às impossibilidades
relacionadas às atividades remuneradas e às domésticas, além da função de
cuidadora principal de pessoas dependentes levam a situações estressantes. A
análise dos dados permite inferir que esses fatos são agravados pelo reduzido
poder aquisitivo das famílias onde as dificuldades decorrentes da doença somam-
se às financeiras.
Além do tempo que as cuidadoras dedicam à pessoa cuidada, em sua
maioria, também, assumem os afazeres domésticos como: cuidar da limpeza da
casa, da alimentação e roupas dos demais moradores da casa, o que lhes
acarreta sobrecarga física e emocional. Sena et al. (2004), verificaram, em
pesquisa com cuidadoras, que elas não têm com quem dividir o cuidado e outras
atividades. A cuidadora vê-se sobrecarregada física e emocionalmente o que a
torna susceptível a ter a sua saúde comprometida.
Apesar dessa adversidade, as cuidadoras respeitam e estimulam a
autonomia da pessoa cuidada e dedicam-se a ela com carinho mesmo se, em
alguns momentos, apresentam sentimentos conflituosos. As cuidadoras relataram
85
que agradecem a Deus a saúde e a paciência para cuidar do idoso no domicílio.
Esse discurso remete-nos a Boff (2001b) quando diz que a espiritualidade é
uma dimensão que cada um de nós tem e que se revela pela capacidade de
diálogo consigo mesmo e com o próprio coração, traduzida pelo sentimento de
amor, pela sensibilidade, pela compaixão, pela responsabilidade e pelo cuidado
como atitude humana fundamental. O autor acrescenta que os portadores
permanentes da espiritualidade são as pessoas consideradas comuns, que vivem
a retidão da vida, e que a espiritualidade está relacionada com as qualidades do
espírito humano tais como: paciência, tolerância, capacidade de perdão e de
solidariedade.
Descuido com a pessoa cuidada
As entrevistadas referiram-se, também, à conduta de alguns profissionais
de Saúde e de familiares que, segundo elas, poderia indicar atitudes de descuido
com o idoso cuidado no domicílio.
Uma cuidadora relatou que o relacionamento com os profissionais de
Saúde que prestam cuidados a seu pai, no domicílio, é conflituoso. Afirmou que
eles se desinteressam pelos cuidados de saúde devido à idade avançada de seu
pai e também pela gravidade de seu quadro clínico. Ela questionou a falta de
orientação dos profissionais de Saúde considerando a presença das úlceras de
pressão e também infecção urinária que poderia, para ela, indicar falta de
orientação dos profissionais para os familiares e a cuidadora. Relatou que é
importante continuar tratando e cuidando de seu pai, pois acredita na cura que
86
quase é impossível, considerando a sua crença em Deus.
Eles acham que a pessoa tá nessa idade... igual agora... chega
um ponto, eles acham assim...ele não tem realmente mais o que
fazer... pra eles. Pra Deus nada é impossível. Mas eu acho que
eles vão perdendo o interesse, vão perdendo. Então se você não
ficar de cima, eles não tão nem aí não. Não preocupa nem um
pouco, pra eles, tanto faz como tanto fez. Então é uma briga.
(C10E1-14)
(...) ele teve uns pico de febre, você sabe... que... ele tá com
infecção de urina e ninguém faz nada. E ninguém preocupa. Quer
dizer, além de você tá com a pessoa ali, tá cuidando, você vê que
tá piorando, tá dando febre...e o descaso. Isso eu acho que acaba!
Acaba, entendeu? Por outro lado, como diz meu irmão: “T., a
gente ainda tem que agradecer, que ele ainda tem um convênio
que o pessoal ainda manda alguém, tem uns que não tem". Eu
falo: “Se tivesse no hospital, tinha morrido há muito tempo”. E é o
que acontece. Todo mundo que chega aqui vira e fala assim: “Ele
é muito bem cuidado, ele é muito bem cuidado”. Eu fico olhando
assim... bem cuidado? Se fosse realmente bem cuidado, ele não
estaria com escara, ele não taria com nada disso. (C10E1-32)
Outra entrevistada relatou que uma profissional de Saúde da equipe de
Saúde da Família não atendeu a sua solicitação para avaliar a lesão com
drenagem de secreção, de sua mãe. Foi necessário que a cuidadora recorresse a
estratégias para a prevenção de miíase. Assim declarou:
Ela tinha um caroço aqui, também (...) Ele era grandão assim ó,
...., quando foi um dia ele furou, sem mais nem menos, furô, aí foi
saindo um negócio branco, foi saindo, aí o dia que a C. veio cá
vaciná ela, eu falei com a C.: "Depois você vem cá olhá pra mim
como é que tinha ficado o buraquinho". Eu tava até comprando
bandaid, eu tava com medo de mosquito aposá e pegá bicho. E aí
até hoje ela não veio, também. Não adianta mostrá não, eles não
tá nem aí não, ainda mais com uma pessoa de idade assim... eles
não tá nem aí. (C4E1-31)
Um cuidador, vizinho da pessoa cuidada, relatou que foi necessário
87
denunciar judicialmente as pessoas que se julgavam parentes da pessoa cuidada.
Como eles não se manifestavam em situações de adoecimento, de remoção para
hospitais e de acompanhamento em hospitalizações, ele assumiu o papel de
cuidador. E, hoje, ele cuida dessa pessoa em sua casa, contando com o apoio de
sua mulher e de outros vizinhos.
(...) nós fizemos uma denúncia, porque...algumas pessoas se
julgaram parentes deles e... estavam ausente naquele
compromisso de olhá-los. E a gente, que há mais de quatro, cinco
anos, que nós vizinhos que tá tomando conta, fazendo esse papel.
Só que (...) eles... estavam dependendo de uma pessoa que fosse
responsável mesmo direto, da família. Aí então, eu fui obrigado a
acionar. Todo mundo ficou assim, meio com medo de mexer, falei:
“Não, nós não temos que ficar não, nós temos é de procurar”. Aí,
fomos, procuramos. Entramos em contato com as pessoas que
falou que dizia que era parente deles. Mas não se manifestaram,
mas sempre quando adoecia era eu, a minha esposa, a vizinha
que tinha que acionar SAMU, tinha de internar, tinha de
acompanhar no hospital. (C18E1-2)
Uma cuidadora informal, remunerada pela família da pessoa cuidada,
salientou a indiferença dos familiares, fato que lhe causa perplexidade.
Acrescentou que cuidadora remunerada como ela e outras, mesmo não tendo
parentesco com a pessoa cuidada, têm mais carinho com ela do que seus
familiares. Informou também que a pessoa cuidada não recebe visita de seus
familiares:
(...) eu nunca vi umas pessoas desse jeito, eu tô por ver outra. A
88
eu tô por ver. Também num sei como que foi a criação, (...)
independente de qualquer coisa, agora o pessoal dela tadinha,
nem aqui vem, não num vem não, sabe assim aquelas pessoas
que é como se não existisse família, aquela pessoa que não tem
família? (C15E1-11)
Santos (2002) alerta que essa situação de abandono dos parentes pode ser
decorrente da falta de um bom relacionamento familiar ao longo da vida.
Os discursos das cuidadoras revelam que o descuido, como afirma Boff
(2001a, p.161) “o cuidado em sua carência” está presente em duas situações
distintas: uma relacionada aos cuidadores profissionais que não se envolvem com
o tratamento de saúde da pessoa cuidada e a outra situação são os familiares que
não querem assumir a relação com a pessoa cuidada bem como os cuidados de
saúde.
Os entrevistados revelam que,
apesar do avanço das políticas públicas
dirigidas aos idosos persistem estereótipos negativos relacionados ao
envelhecimento. A forma estereotipada empregada no cuidado ao idoso, afeta de
maneira adversa as atitudes dos profissionais de Saúde em relação aos idosos e à
qualidade do cuidado de saúde executado. Para Pottter e Perry (2004) é
importante que os cuidadores profissionais e informais avaliem suas atitudes em
relação ao idoso, ao seu próprio envelhecimento e ao envelhecimento de sua
família, amigos e pessoas cuidadas, porque essas atitudes influenciam a
realização da tarefa do cuidado aos idosos.
Ao analisar os dados da categoria ‘Pessoa cuidada’ verifiquei que a
atenção à pessoa cuidada tem uma polaridade entre os que falam da dedicação; e
89
as dificuldades relatadas pelas cuidadoras revelam as interações dos idosos com
os familiares e até descaso. As cuidadoras relataram que o respeito pelas
deficiências cognitivas e motoras associado ao carinho, e estímulo ao auto-
cuidado são aspectos identificados como facilitadores de cuidado de saúde no
domicílio. Apontaram ainda que, em contraposição, os aspectos dificultadores no
relacionamento com o idoso manifestam-se na singularidade de cada pessoa
cuidada e referem-se prioritariamente às mudanças cognitivas próprias das
doenças e pelas condutas de alguns profissionais de Saúde e familiares.
As cuidadoras expressam carinho, dedicação e estimulam a autonomia da
pessoa cuidada, e consideram essas atitudes humanizadoras do cuidado no
domicílio. Afirmaram que essas condutas não são possíveis em ambientes
institucionais onde há um padrão rígido de normas a serem cumpridas pelos
usuários e profissionais. Dessa forma, o cuidado domiciliar deve ser estimulado e
assegurado, pois é obrigação da família, da comunidade e da sociedade a
convivência familiar, bem como a priorização do atendimento do idoso por sua
própria família, em detrimento das instituições asilares (BRASIL, 2004b).
7.2 Cuidadora: doando, aprendendo e construindo
A categoria ‘Cuidadora: doando, aprendendo e construindo’ originou-se nos
discursos das cuidadoras, no registro do diário das cuidadoras e nas anotações no
diário de campo, durante as entrevistas.
Essa categoria apresentou-se também como parte do processo para a
90
compreensão da expressão dos gastos que as cuidadoras têm com o cuidado no
domicílio. Está organizada em duas sub-categorias: ‘A cuidadora no domicílio’ e
‘História de vida da cuidadora’.
A sub-categoria ‘História de vida da cuidadora’ originou-se nos discursos
das cuidadoras sobre acontecimentos de suas vidas, as suas privações e a
convivência com os cuidadores profissionais que revelam os temas: ‘A saúde da
cuidadora’, ‘A cuidadora que cuida de 02 pessoas’, ‘Privações da cuidadora’,
‘Consciência política’, ‘A convivência com o cuidador informal remunerado’ e ‘A
convivência com o cuidador profissional’.
7.2.1 A cuidadora no domicílio
Essa sub-categoria surgiu das respostas das entrevistadas às perguntas do
roteiro semi-estruturado e do diálogo estabelecido entre cuidadora e pesquisadora
nos três encontros no domicílio.
Neste estudo, encontramos 16 cuidadoras e um cuidador, o que comprova
que o cuidado domiciliar é exercido predominantemente por mulheres.
Taub, Andreoli e Bertolucci (2004) demonstram que, em 50 cuidadores
participantes da pesquisa que realizaram, 82% são do sexo feminino. A pesquisa
foi realizada por Taub, Andreoli e Bertolucci (2004) com os cuidadores dos
pacientes ambulatoriais da Clínica de Neuropsicologia e Saúde Mental do Hospital
Albert Einstein, tendo como sujeitos os participantes do Grupo de Apoio para os
familiares dos pacientes portadores de Alzheimer da ABRAZ e com os cuidadores
dos pacientes que são atendidos no Ambulatório de Neurologia Comportamental
91
da Universidade Federal de São Paulo. Todas essas unidades de saúde estão no
município de São Paulo. O objetivo do estudo foi o de avaliar a confiabilidade da
versão brasileira do Inventário de Sobrecarga do Cuidador em família de pacientes
com demência.
Na presente pesquisa, constatei que a idade das cuidadoras varia de 28 a
80 anos, sendo que quatro cuidadoras têm mais de 60 anos. Encontrei cuidadoras
idosas cuidando de idosos, representando 23,5% das entrevistadas. No estudo de
Taub, Andreoli e Bertolucci (2004) os dados mostraram que 39,3% de cuidadores,
entre 60 e 80 anos, cuidavam de 62,5% de pessoas da mesma faixa etária.
Quanto ao estado civil encontrei: uma cuidadora divorciada, quatro
solteiras, quatro casadas, cinco viúvas e três estão em convivência marital. Não
observei interferência do estado civil das cuidadoras no cuidado de saúde no
domicílio.
A escolaridade vai do ensino fundamental ao ensino médio, sendo que nove
possuem o fundamental incompleto, ou seja: 53% das cuidadoras.
Em estudo realizado por Sena et al. (2000) que abordou o cuidado
executado por cuidadores do Programa de Internação Domiciliar de Betim, MG, foi
identificado que a baixa escolaridade é predominante no grupo das entrevistadas,
o que pode influenciar na tarefa de cuidado no domicílio, dificultando a
compreensão das orientações dos profissionais de Saúde. Verifiquei que as
cuidadoras com baixa escolaridade apresentaram limitações para fazer o registro
no diário.
Quanto ao vínculo da cuidadora com a pessoa cuidada, os dados desta
92
pesquisa apontam que, em 82% dos casos, há parentesco, sendo que: 10
cuidadoras são filhas das pessoas cuidadas, uma é irmã, uma é prima e uma
sobrinha. Existem apenas três casos sem laços de consangüinidade, sendo: uma
vive maritalmente com a pessoa cuidada, um cuidador é vizinho, e outra é uma
cuidadora informal remunerada.
Karsch (2003), no estudo sobre ‘Suporte Domiciliar aos Adultos com Perda
de Independência e Perfil do Cuidador Principal’ realizado entre 1992 e 1997, no
município de São Paulo, analisou o perfil das cuidadoras principais de 102
pessoas, com mais de 50 anos, cuidadas no domicílio, que sofreram o primeiro
episódio de acidente vascular cerebral. Em 98% dos casos pesquisados, o
cuidador era alguém da família, predominantemente do sexo feminino (92,9%)
(KARSCH, 2003).
Também constatei que o tempo que as cuidadoras dedicam às tarefas de
cuidados domiciliares varia de três meses a sete anos, sendo que seis cuidadoras
executam essa tarefa há mais de quatro anos. Pode-se inferir que o tempo de
trabalho na função de cuidadora interfere na qualidade de vida das cuidadoras.
Outra constatação é de que a renda das cuidadoras varia de zero a
R$1.281,00. Onze cuidadoras (65%) têm renda de zero a um salário mínimo. Vale
ressaltar que 29,5% das cuidadoras, ou seja, cinco cuidadoras não possuem
nenhum tipo de renda. Uma cuidadora realiza trabalho informal como manicure em
sua residência e não informou a renda. Uma é vendedora autônoma de livros e a
sua renda é em torno de R$400,00. Outra recebe o equivalente a dois salários
mínimos: um como cuidadora e o outro por benefício previdenciário. Duas
93
cuidadoras recebem o benefício de aposentadoria no valor de R$1.040,00 e
R$1.200,00. Já outra cuidadora recebe R$1.281,00 de pensão alimentícia
(ANEXO 13).
Estudo realizado em Andaluzia, Espanha, sobre os cuidados informais de
Saúde, com 1000 cuidadores principais, obteve-se como resultados que o cuidado
informal resolve-se fundamentalmente à custa do trabalho e do tempo das
mulheres. (GARCÍA-CALVENTE, MATEO-RODRIGUEZ, MAROTO-NAVARRO,
2004). As autoras mostraram que as mulheres que realizam o cuidado domiciliar
são, em geral, de baixa escolaridade, sem emprego e de baixo poder aquisitivo.
As cuidadoras do presente estudo são, na maioria, parentes da pessoa cuidada,
do sexo feminino de baixa escolaridade e de baixa condição sócio-econômica.
7.2.2 História de vida da cuidadora
A análise dos dados revelou a trajetória de vida das cuidadoras. Destaco
trechos das trajetórias, sem deixar de mencionar que todos os acontecimentos são
importantes para cada uma das cuidadoras.
Uma cuidadora fala que aprendeu a ler sozinha, nunca foi à escola e
mesmo sem escolaridade, tem autonomia para cuidar de sua vida e também da
vida de sua mãe.
Eu falo a verdade. Nunca tive aula nem um dia. Eu sei lê, eu leio
bastante, faço bastante coisa, mas é tudo...da minha cabeça
mesmo. Assino meu nome, tenho meus documento tudo
arrumadinho, faço tudo. Fazê conta eu faço de cabeça, fazê
conta, de lápis, de máquina eu não sei. Mas, eu cuido das minha
coisa. (C9E1-22)
94
Outro cuidador falou de suas lutas e das dificuldades que teve na vida, da
realização de um trabalho menos valorizado e da família numerosa. Mas hoje,
mesmo com todas as adversidades, considera-se um vitorioso além de ter se
aposentado com um cargo de chefia.
Entrei na turma de fininho, não sei nem se você lembra o quê que
é isso. É tirar aquelas graminha nos calçamentos que existia.
Varri rua, limpei Rio Arruda. Eu sou dessa época, lá no Parque
Municipal, aquela região toda ali. E estudando com muita
dificuldade, lá em casa eu sou o mais velho de quê... de 11 filhos.
E a gente vai fazendo... e vai ajudando... aquele negócio todo. E
eu consegui aposentar como chefe geral de transporte de Belo
Horizonte. (C18E1-27)
Outra cuidadora relatou os problemas da sua vida que a impediram de
estudar e evoluir e comparou com as facilidades de hoje em que as jovens têm
mais liberdade para conquistar um futuro promissor.
(...)depois a vida joga muito com a gente, a gente não pode mais
estudar e o aperto, a gente não pode ler mais e não pode seguir.
Com aquilo a gente se perde, porque o que vai evoluindo, a
evolução do tempo, e a gente não tem condição. E o trabalho da
vida, então é assim eu deixei de ler muito (...). Agora de repente a
vida foi trazendo problema, problema mesmo, eu fiquei sozinha.
(...) Naquele tempo também não tem a facilidade que tem hoje as
moças de saí e de ter mais liberdade, eu não tive, a gente era
muito presa. (C13E1-2)
Outra cuidadora falou do término de seus noivados para de dedicar ao
cuidado de sua mãe. Seu pai fazia uso de bebidas alcoólicas e ela se sentia na
obrigação de proteger a sua mãe das agressões do pai. A cuidadora relata que
95
seria esse um dos motivos por qu
ê não se casou, além dos namorados ciumentos.
Essa cuidadora é um exemplo de dedicação de uma vida em função de sua mãe.
Revelou que sua mãe é o seu maior bem e o mais precioso.
Eu tive noiva três vezes. (...) os menino pequeno, a L. morava no
Rio, ele (o pai) bebendo sem parar, eu ia casar? E ainda arranjava
um namorado ciumento pra daná, eu falava com as minha irmã:
“Ah, não. Não vou casar com esse cara aqui não”. (C8E1-73)
Foi gratificante constatar que as entrevistas proporcionaram, às cuidadoras,
um momento de reflexão sobre a sua prática. As falas das cuidadoras
apresentaram-se permeadas de sentimentos de lutas, de sucessos, mas também
expressam oportunidades de trabalho perdidas. Os relatos das cuidadoras
revelaram atitudes de responsabilidade e compromisso com as pessoas cuidadas.
Marques (2003) pontua que tornar-se cuidadora nem sempre é uma opção
mas, quando toma essa decisão, a pessoa está cheia de coragem, dedicação e
afeto. Coragem para abdicar de seu tempo, de seus sonhos e planos pessoais.
A saúde da cuidadora
A saúde da cuidadora foi revelada pelos relatos nas entrevistas e no diário
da pesquisadora. A análise dos dados permitiu observar que a atividade do
cuidado no domicílio potencializa as causas dos desgastes que sofrem as
cuidadoras que, muitas vezes, não recebem tratamento de saúde oportuno e
adequado. Três cuidadoras entrevistadas apresentaram queixas de agravo de sua
saúde em função do cuidado.
96
Uma cuidadora relatou agravamento de sua saúde devido ao manuseio de
sua mãe, sem contar com o auxílio de outra pessoa, por sete anos consecutivos.
Relatou a associação desse desgaste com as tarefas domésticas que se
manifestam por sintomas de dores no braço sendo necessário recorrer a uma
lavadeira para a ajuda nas atividades domésticas.
(...) eu falo que até preciso de arrumar uma pessoa pra podê lavá
rôpa pra mim, porque antes tinha minha filha que ajudava. Aí
agora eu também tava passando meio mal, meus braço tava
doendo, não sei se é por pegá ela sozinha, ou o quê que era, aí
precisei arrumar uma pessoa prá lavá rôpa. Toda quarta-feira vem
uma dona lavá as rôpa prá mim. (C4E1-15)
Outra cuidadora alegou que, devido à atividade doméstica associada às do
cuidado, não tem tempo para o repouso. Essa falta de repouso agravou o quadro
de artrose. Enfatizou que anda mais do que se estivesse trabalhando fora de casa.
(...)parou assim de dá erisipela, muito tempo, que eu tomo muita
Benzetacil. Agora apareceu também esse tal do joelho, artrose,
parece que quando piora a artrose, eu tô sentindo mais no andar,
aqui demais. O médico proibiu eu de andar muito, ele falou: “Ó cê
tem que fazer repouso” e eu não posso fazê repouso, eu não
sento pra fazer repouso, é mais de horas, 12 horas, porque eu
tenho que ir lá, às vezes ela não quer uma coisa, eu torno voltar lá:
“então me dá água” eu vou lá e levo água, “então me dá isso”. É
roupa é tudo, que eu vou lá e tiro uma, deixo a outra de molho no
sabão com água sanitária, pra desinfetar, aí eu volto pra trocar.
Tem que ficar tudo desinfectando ali de acordo. Então eu ando
mais do que se eu tivesse trabalhando fora. (C13E1-31)
Outra cuidadora informou que, durante os três meses em que a mãe ficou
internada e ela teve que acompanhá-la, apresentou um ganho ponderal de 20
quilos. Relatou o desejo de se submeter à cirurgia bariátrica para controle de
97
obesidade.
E eu escrevo isso, ela é tudo pra mim. Então, atualmente eu tinha
que... eu queria fazer operação de estômago, já quis fazer, mas
como é que eu faço. Lá no hospital eu engordei 20 quilo, minha
filha! Nos três mês que eu fiquei lá. Agora pra emagrecer...(C8E1-
66)
Outra cuidadora relatou que é portadora de doença cardiovascular e
melhorou, segundo ela, com a bênção de Deus, para seguir cuidando de seu
companheiro que adoeceu e precisou de seus cuidados no domicílio.
Então tava com problema de coração fiquei internada em vários
hospitais, vinha pra casa, voltava pro hospital, vinha pra casa
voltava pro hospital. E ele ia lá cuidava de mim, ficava cuidando de
mim, tadinho, ele e as meninas também cuidando de mim. Com
pôco daí um pouquinho eu miorei. Quando foi em maio do ano
passado eu tive uma miora, e eu vim embora pra casa, eu pedi
muito a Deus e Deus abençuô que consegui ficar boa. Vim embora
pra casa em maio, quando cheguei, quando foi no dia 12 de maio,
ele pegou e passou mal de uma hora pra outra assim. (C6E1-3)
Outra cuidadora mostrou-se preocupada com o controle de suas doenças
fazendo uso regular de medicamentos para se manter saudável e, assim,
continuar a realização dos cuidados de que sua irmã necessita.
Eu tive aneurisma também, então eu evito assim ficar viajando,
essas coisas, porque eu tenho muito medo assim. (...) eu tive um
por cento de chance pra viver. E não fiquei com uma seqüela (...)
Mas eu tomo Hidantal, seis da manhã, isso sagrado, duas da tarde
e dez da noite. (...) E tomo o remédio de pressão, a minha pressão
pode tá boa, igual tava 14/8 ontem, mas se eu deixar de tomar ele
sobe pra 18, então eu tenho que ficar em cima, sabe? E, eu cuido
muito de mim, pra mim poder cuidar dela também. (C12E1-8)
98
Das 17 cuidadoras entrevistadas, sete já apresentavam algum tipo de
doença ou fazem uso contínuo de medicamento. Dessas sete, quatro têm idade
superior a 60 anos, como foi apresentado na sub-categoria: ‘A cuidadora no
domicílio’.
O impacto negativo de cuidar é identificado pelas cuidadoras. Segundo
García-Calvente, Mateo-Rodriguez e Maroto-Navarro (2004) a maioria das
mulheres assume a responsabilidade pelo cuidado pagando um elevado custo de
cuidar em sua própria qualidade de vida, e isso repercute em dispêndios sociais,
psicológicos e econômicos para os familiares, cuidadores, pessoa cuidada e para
a sociedade em geral. Os dados analisados permitem indicar a necessidade de
políticas públicas direcionadas às cuidadoras pois elas são pacientes em
potencial, em função de sua idade e da natureza da própria atividade de cuidar
que é causadora de desgaste físico e emocional.
Posso inferir também que a saúde da cuidadora tem relação direta com o
cuidado que desempenha e que os problemas poderiam ser minimizados com o
auxílio de cuidadores secundários. A participação dos cuidadores secundários
permitiria que a cuidadora principal realizasse atividades como ir à consulta
médica, participar de alguma atividade de lazer e ter momentos livres para
desfrutar de ocupações que consideram agradáveis ou que lhes sejam
necessárias. Essa seria uma forma de lhes proporcionar bem-estar e melhor
saúde física e mental o que influi na qualidade do cuidado no domicílio.
Os dados permitem reconhecer que a prevenção e o tratamento dos
problemas relatados pelas cuidadoras poderiam contribuir para sua melhor
99
qualidade de vida, para a continuidade do cuidado no domicílio, e para a redução
ou o adiamento da institucionalização da pessoa cuidada. Os dados permitem
reconhecer que as políticas de apoio aos cuidadores também devem levar em
conta as desigualdades de gênero e sociais. Esse suporte aos cuidadores
familiares representa novo desafio para o Sistema de Saúde brasileiro e para os
profissionais que assistem as pessoas no domicílio.
A cuidadora que cuida de 02 pessoas
Algumas cuidadoras revelaram que, além dos idosos sob sua
responsabilidade, cuidam de outros familiares no domicílio. As cuidadoras
expressaram o quanto as sobrecarrega essa situação. Três cuidadoras cuidam
também de outra pessoa além daquela que está dentro dos critérios de inclusão
desta pesquisa.
A cuidadora relatou que cuidou de seu filho portador do vírus HIV que
apresentou risco de morte devido à gravidade de quadro clínico. Em decorrência
das infecções oportunistas, o filho esteve em coma durante 27 dias, com
desenvolvimento de úlceras de pressão que foram tratadas pela cuidadora com a
ajuda de uma Auxiliar de Enfermagem da USF responsável. A cuidadora relatou
que, durante esse tempo que cuidava dos dois, o seu nível de estresse e cansaço
foi elevado porque teve de se desdobrar para atendê-los de forma satisfatória.
Cuidava ainda de sua irmã que apresenta dependência nas atividades da vida
diária: alimentar-se, vestir-se, utilizar o banheiro e locomover-se.
100
Desde de dezembro é, sem querer, sem saber, ele começou
primeiro com febre, com febre e tal, aí ele descobriu que tava HIV
e não sabia, ele mesmo não sabia, não sabe como pegou. (...)
depois teve que hospitalizar porque há cinco anos atrás ele teve
hepatite. E ele pegou um fungo, nessa hepatite ele pegou um
fungo, e esse fungo alojou no fígado e esse fungo foi progredindo.
Ele entrou em coma, ficou 27 dias em coma. Aí ele entrou em
coma ele deu escara. Então assim, minha vida tem sido muito
atribulada. Agora hoje tá fazendo doze dias que ele teve que voltar
pro hospital, porque tá dando muito cansaço (...) (C12E1-12)
Outra cuidadora, além de cuidar de sua mãe, cuida de seu filho com quadro
de alcoolismo associado a transtorno psiquiátrico. Ela disse que cuidar do filho é
uma luta e, quando ele adoece, ela fica sobrecarregada pois, além do trabalho
com sua mãe no banho, na alimentação e na troca de fraldas, é necessário lavar
suas roupas e preparar sua alimentação.
Esse aqui é o meu filho mais véi. Ele mora lá embaixo, na rua
debaixo, tem um barraquinho dele lá. Mas ele fica mais aqui. (...)
Esse aí eu faço uma luta também cuidando dele. Quando ele
adoece, F. lembra. Eu cuidando da mãe, tinha que ir lá cuida dele
também. Tava todo paralisado, num andava também não. Ficou
uns dez dia paralisado na cama, não levantava nem pra ir no
banheiro. (C9E1-27)
Uma cuidadora revelou que cuida da mãe obesa. A mãe sofreu fratura de
fêmur e se locomove com o auxílio de andador, além de ser possuidora de outras
patologias. A outra pessoa cuidada é portadora de hipertensão arterial e
Parkinson, possui jejunostomia, não tem controle dos esfíncteres, faz uso de
coletor urinário ou fraldas geriátricas e, ainda, apresenta total dependência para
alimentação, banho e locomoção.
101
A minha mãe quebrou o fêmur, ela anda no andador. (...) a mamãe
toma 18 remédio. Que é pro coração, diabetes, não sei mais o quê,
pressão. É eu que dou , tá tudo controladinho aqui, já guardei tudo
de cabeça. (C17E1-12)
Os dados analisados demonstram que as cuidadoras responsáveis por
duas pessoas têm uma situação de estresse maior em relação às que cuidam de
uma só pessoa. O relato das cuidadoras demonstra que cuidar de duas pessoas é
difícil, o que reforça a importância de se desenvolverem redes de solidariedade
para minimizar o cotidiano dessas cuidadoras. Foi expresso que a saúde da
cuidadora tem relação direta com o cuidado que desempenha e que os problemas
poderiam ser minimizados com o auxílio de cuidadores secundários.
Segundo Potter e Perry (2004), nos Estados Unidos, existem serviços de
cuidado de saúde institucionais e baseados na comunidade. O serviço é prestado
em casa ou na instituição. São serviços de arrumadeira e de cuidado de saúde
domiciliar que visam o descanso do cuidador familiar. Esse tipo de cuidado
possibilita que o cuidador se ausente por algumas horas ou por vários dias ou
semanas. São alternativas que o Brasil pode em futuro próximo, devido ao
aumento de longevidade da nossa população.
Privações da cuidadora
Nos discursos foram citadas as atividades que as cuidadoras deixam de
realizar em função do cuidado.
Uma entrevistada relatou que deixa de ir à missa, de sair de casa. Seus
sentimentos são contraditórios, pois ao mesmo tempo em que fala que é um
102
prazer cuidar, fala que se priva de muita coisa.
Eu não saio quase mais de casa, também não vou quase à missa,
fico mais dentro de casa com ela. Mas é meu prazer, falo com
você com sinceridade. Peço a Deus que deixa ela comigo mais
tempo. Então a gente priva de muita coisa, tanto faz eu como a
minha filha, pois somos nós duas que cuidamos mais dela, então
a gente priva de muita coisa, mas está bom. (C3E1-14)
Uma cuidadora disse que se sentiu na obrigação de abandonar seu
trabalho para dedicar seu tempo à pessoa cuidada que necessita de ir a consultas
médicas e ao banco para receber a pensão, sem deixar de mencionar as
atividades de alimentação e higiene, que consomem seu tempo.
Eu trabalhei fora muito tempo mais eu fui obrigada a sair do
serviço por causa dela, porque ela não sabe ler e nem escrever, aí
precisa dum médico, precisa tá correndo pra levar num banco,
receber um dinheiro que ela é pensionista...(C14E1-5)
Outra cuidadora relata que deixou de realizar um trabalho remunerado
informal e abdicou de um possível desenvolvimento profissional e da realização
pessoal. Disse que se privou de viver a sua vida para viver a vida da pessoa
cuidada, que apresenta limitações de atividades da vida diária e também
limitações decorrentes da idade avançada.
(...) eu fazia meu churrasquim, (...) na porta da mercearia do J. C.
aí devido eu me dedicar a maior parte do meu tempo a ela, eu
num fiz o churrasquim mais não, num tem como, num tem tempo
não. Fiquei quetinha porque o churrasquim geralmente é depois
de 4 hora...tem que tá mais quetinha com ela, cê tem que tá
preparando alguma coisa também, e(...) eu num gosto de deixar a
mamãe sozinha não. (C7E1-27)
103
Essa mesma cuidadora relatou que abdicou de atividades de lazer e de se
relacionar com outras pessoas para cuidar de sua mãe, ainda que esta insista
para que se divirta.
A mamãe fala comigo assim dia de sábado, ela fala: "Ôh...minha
fia cê pode por uma fralda ni mim, num mim incomoda não, pode
por uma fralda ni mim...e pode ir numa quadrilha", que tinha
quadrilha aqui embaixo..."pode ir na quadrilha ali embaixo, pode ir
lá na rua conversar com seu colega...". Ah mãe, os colega meu
que quiser vem aqui e conversa comigo, ué, eu num vou em
quadrilha não". Sentei e fiquei assistindo Belíssima
(telenovela)...(C7E1-28)
Ao abdicar de atividades de lazer, a cuidadora revelou também que deixou
de fazer pequenas coisas, como assistir a um jogo esportivo de seu interesse.
Essa cuidadora (C8) coloca as atividades cuidativas com a sua mãe, que é a
pessoa cuidada, acima de todos os seus desejos e vontades.
Se tiver passando ali um jogo que eu gosto, mas eu tiver que olhar
ela, eu olho ela primeiro, depois eu faço as coisas. A minha irmã
briga comigo às vezes; a outra. Às vezes ela fala: “Olha lá, olha
lá”, eu falo: “Não quero olhar não, vou olhar ela primeiro aqui,
depois eu olho”. (C8E1-64)
Muitas vezes, o abandono do emprego traz conseqüências a longo prazo,
especialmente a falta de acesso ao seguro desemprego, à aposentadoria e a
pensões. Por isso, as mulheres cuidadoras podem encontrar-se em situação de
pobreza e de exclusão social. Para melhor compreensão do custo dessas perdas,
seriam necessários estudos específicos.
Outra questão é o tempo de lazer que contribui positivamente para uma
qualidade de vida e é sacrificado pelas pessoas comprometidas com o cuidado
104
informal. Brouwer et al. (1999) apontam a dificuldade em avaliar a perda de
qualidade de vida em uma estimativa financeira.
Consciência política
Os enunciados das entrevistas revelaram a consciência política das
cuidadoras sobre o contexto e de suas condições de vida.
Uma cuidadora relatou o desprezo das autoridades com o bairro onde
mora, as promessas feitas durante o período eleitoral e que não se realizam.
Falou, também, da falta de saneamento, da falta de segurança e da inexistência
de locais públicos de diversão para as crianças.
Uma entrevistada disse que está descrente dos políticos.
(...) Esse bairro aqui é jogado as traças, (...) eles num olham muito
não, eles num olham nada. (...) Todo ano da política eles vem aqui
pede os trouxa, os trouxa vai lá e vota nele..., depois eles vai
embora. (...) Esse córrego aí, passa política, vai ano, passa ano
eles vem e mede tudo, fala que tal dia vai vim pessoalmente.(...)
(C14E2-1)
Também foi revelada, por uma cuidadora, a dificuldade em transportar a
pessoa cuidada para um serviço de urgência. Disse que na unidade de saúde que
freqüenta, o aparelho de RX funcionava precariamente e faltavam cobertores para
os idosos. Apontou, ainda, a impossibilidade de denúncia dos fatos.
Eu tenho muita dó das pessoas que tem necessidade. (...) o
médico veio aqui, pediu uma radiografia porque ela tava muito
gripada e então pra descer essas escada foi muito sacrifico,
peguei um táxi, cheguei lá quantas pessoas pior que ela estava.
105
Encontrei uma cuidadora que havia participado na pesquisa: ‘Cuidado no
domicílio: o trabalho do cuidador formal e informal’ (SENA et al., 2004). Ela relatou
que, a partir de sua participação naquele estudo, não houve a obtenção de
nenhum tipo de benefício. Agora, espera que esta pesquisa traga resultados para
a família das pessoas cuidadas com necessidades sócio-econômico-financeiras.
Reiterou-se o compromisso de apresentação da pesquisa às autoridades de
Saúde e a entrevistada manifestou interesse de estar presente para a
reivindicação de benefícios como: fraldas para as pessoas cuidadas e cestas-
básicas para os familiares que são cuidadores.
(...) vamos ver se dessa vez a gente consegue alguma coisa na
prefeitura, né? (...) eles tava falando na reunião lá era sobre
isso...sobre a possibilidade assim de pessoas que, igual no meu
caso, por exemplo, que a mamãe recebe a pensão que o papai
deixou...muitos anos 350,00 reais só, né! E eu tenho meu
barracão aqui que tá alugado agora por 120,00 reais...esse
dinheiro, eu num tô dizendo procê que eu gasto com supérfulo
não, mas eu vou te falar procê, ...o mês é terrível...Nossa Senhora,
Jesus Amado, num dá pra nada! (...) Na reunião foi falado sobre
isso e agora com essa renovação dessa reunião vai sair melhorias
pra quem no meu caso cuida assim, pelo menos uma fralda no
meio do mês...a pessoa pode tá dando aquele pacotão, cê pode tá
ganhando uma cesta básica pra ajudar na despesa do dia-a-dia,
porque eu vou te falar, é duro. (...)(C17E1-5)
Nessa sub-categoria, os discursos revelaram que as cuidadoras
demonstraram ter consciência política e sabem reconhecer as falhas do Sistema
de Saúde Pública, além de exercerem o poder de cidadania de diferentes formas.
Algumas cuidadoras participam de associações de bairro, reivindicando benefícios
para as pessoas cuidadas, ou simplesmente denunciando o comportamento das
106
autoridades. Essas cuidadoras demonstraram que, mesmo com toda a
simplicidade em que vivem, são conscientes de seus direitos como cidadãs e do
papel que desempenham na sociedade e sabem ainda de suas obrigações e de
suas responsabilidades. Disseram que guardam uma força interior e uma certeza
de que, apesar de suas lutas serem árduas, irão conseguir algum tipo de vitória.
Brito, (2001) afirma que as mulheres, mesmo partindo da esfera privada,
podem agir politicamente, utilizando recursos específicos, seguindo caminhos que
cruzam os espaços públicos e privados. Afirma que a dimensão política não se
restringe à esfera pública, mas está presente também no cotidiano de homens e
mulheres. Identifica que as mulheres brasileiras, especialmente nas últimas
décadas, das mais diversas formas, têm afirmado a sua cidadania, constituindo-se
como sujeitos sociais.
A convivência com o cuidador informal remunerado
Das 17 cuidadoras entrevistadas, somente três compartilham os cuidados
domiciliares com cuidadores informais remunerados. Duas são do sexo feminino e
um do sexo masculino. Esses três cuidadores recebem um salário mínimo por
mês como descrito nas entrevistas e no diário da pesquisadora.
Uma entrevistada relatou que houve a necessidade da contratação de uma
cuidadora secundária para dividirem a tarefa do cuidado no domicílio. A pessoa
cuidada mora em um barracão nos fundos da casa de seu filho e, para mantê-la
no seu ambiente, as cuidadoras vão para a residência da pessoa cuidada e
realizam as atividades de banho, higiene, alimentação e eliminações. A
107
remuneração é realizada pelos filhos da pessoa cuidada. A cuidadora principal é
nora da pessoa cuidada e sua irmã é a cuidadora secundária. Dessa forma,
ambas se revezam nesses cuidados.
Agora uma noite dorme uma, e a outra noite a outra. Porque a
gente fica 24 horas aqui, ela não fica tempo nenhum sozinha,
porque depende do banho, que a gente tem que dá, levá no
banheiro, pô na cama, levá e trazê pro sol. O meu marido e o
irmão dele tão pagando ela pra ajudar. Estão pagando M. L. 350.
(C1E1-3)
O recurso proveniente da aposentadoria da pessoa cuidada também é
utilizado no pagamento do salário das cuidadoras, conforme relatos da
entrevistada. Como os seus familiares não se responsabilizam pela pessoa
cuidada, ela reveza as atividades cuidativas com outra cuidadora, que também é
remunerada, segundo o diário da pesquisadora. (C15DP1-1, p.35).
Ela é uma cuidadora remunerada. Disse que tira R$350,00 da
aposentadoria da pessoa cuidada como salário, mas o divide
também com M. J. a outra cuidadora que a auxilia. (C15DP1-1)
Outra cuidadora relatou que conta com a ajuda de um cuidador informal,
que fica de 7 às 19 horas, para executar as atividades de higiene e alimentação. A
remuneração do cuidador, no valor de um salário mínimo, é realizada por seu
irmão e sua tia.
É um salário que a gente paga ele (cuidador) (C17E2-1)
Apenas 17,6% das cuidadoras contam com o auxílio de cuidadores
remunerados. Infere-se que existem dificuldades financeiras para a contratação de
108
um cuidador.
Devido à escassez de pesquisas sobre a remuneração de cuidadores
informais, utilizei o trabalho de Ribeiro et al. (2006). Esse trabalho avaliou o perfil
dos cuidadores de idosos das instituições de longa permanência filantrópicas e
privadas de Belo Horizonte – MG. Uma amostra de 181 cuidadores, 98 em
filantrópicas e 83 em privadas, foi aleatoriamente selecionada e os cuidadores
submetidos a entrevista estruturada. As variáveis avaliadas foram gênero, faixa
etária, escolaridade, estado civil, remuneração mensal (em salários mínimos),
condição econômica, tempo de trabalho na instituição e tempo na função de
cuidador. Segundo os autores, a remuneração dos cuidadores de idosos das
instituições filantrópicas e privadas foi de até dois salários mínimos, sendo a faixa
salarial mais comum, independentemente do perfil da instituição. Esse dado não
coincide com os achados desta pesquisa em que os cuidadores recebem um
salário mínimo.
A convivência com o cuidador profissional
As entrevistadas manifestaram sentimentos contraditórios quanto aos
profissionais da Saúde que são denominados “bons ou maus".
Uma cuidadora elogiou o trabalho e o esforço dos profissionais da equipe
de Saúde da Família que estão prontos a atender, com carinho, as necessidades
da sua irmã, que é a pessoa cuidada.
Tenho como suporte muito importante o posto de saúde do bairro,
auxílio total e muito satisfatório de todos: visita a domicílio do
médico, enfermeira, agentes de saúde, que a todo momento estão
109
prontas para atender as necessidades de minha irmã. Destacando
a importância de sempre me atender com muito carinho e sem
medir esforços. (C12DC3)
Outra cuidadora elogiou a profissional que está aposentada e auxilia no
banho de sua mãe, e destacou a sua disponibilidade, afeto e excelência do
trabalho.
Nossa mãe! A B. ela trabalhou durante tantos anos no hospital,
excelente 'enfermeira', ela vem dá o banho com todo carinho,
também nunca reclama de jeito nenhum, no dia que ela não pode
eu dou, minha mãe dá. (C3E1-40)
Essa entrevistada relatou que sua mãe ficou internada durante quatro
meses e, em todo esse tempo, todos os profissionais de Saúde foram atenciosos.
Ela ficou quatro meses no hospital direto. Ela ficou. E, são muito
bom, porque eles dão uma atenção pra ela danada. (C8E1-5)
Outra entrevistada teve experiências negativas e positivas relacionadas aos
cuidadores profissionais. Falou que, com a convivência com esses profissionais,
desenvolveu a habilidade de diferenciar o "bom do mau" profissional e destacou
qualidades como humanidade, dedicação, responsabilidade dos bons
profissionais. Ao mesmo tempo, apontou características como desumanidade,
indiferença, inabilidade técnica e descompromisso nos maus profissionais.
(...) porque a enfermeira que vem aqui, ela é muito humana
também. Tem uns bons, assim, humanos. Agora tem uns que são
frios, são mal profissional mesmo, não sabem trabalhar mesmo, e
não tá nem aí mesmo. Então assim, você passa a conviver todo
110
dia com a pessoa, você conhece a pessoa. (...)C10E1-39)
Essa mesma cuidadora apontou que uma profissional de Saúde foi dormir
durante a sua ausência e deixou a pessoa cuidada sem a atenção necessária.
Cheguei seis e vinte. (...) Entrei bati na porta, ela demorou. Tudo
escuro. Aí eu falei assim: “Gente, não acredito que essa menina
tá dormindo”. Aí tornei a bater na porta, aí ela veio. Ela veio assim
com um olho assim, aí eu olhei e disse: “Você tava dormindo?”.
Ela falou assim: “Não, dei só uma cochilada”. (...) Eu falei assim:
“Tem quanto tempo que ele tá nessa posição?”, “Não, tem muito
tempo, não”. Aí eu falei assim “Tá, e você consegue trocar ele
sozinha, virar ele sozinha?”, porque ele era mais forte. “Não,
consigo a gente pega pelo traçado”. Falei nada, porque essa, eu
não tinha intimidade com ela. Aí só entrei, coloquei minhas coisas
no quarto. Aí ela falou assim: “Você me ajuda a virar ele?”. Falei:
“Ajudo”. Quando eu olhei, ele tava ensopado, mais o traçado, as
costas, tava todo molhado. Aí eu virei para ela e falei assim: “Que
horas você trocou?”. (Aí ela ficou assim apertada, porque ela viu o
tanto que ele tava ensopado.) “Duas horas”. Eu falei assim:
“Duas horas da tarde? São seis, ele desse jeito...” (C10E1-35)
Relata, ainda, que foi treinada por profissionais de equipe multidisciplinar de
um serviço de internação domiciliar e assim soube apontar as falhas técnicas de
outros cuidadores profissionais. Os relatos mostraram que o a execução de
técnica de um curativo de úlcera de pressão foi desenvolvida incorretamente por
uma profissional de Saúde.
Igual a menina lavando a escara dele, com soro, e só assim, só
joga assim e pronto, né. E a médica aqui quando nós aprendemos,
foi com a médica, uma fisioterapeuta e uma enfermeira. As três
nos ensinaram. Era meio litro de soro porque as escara dele tava
escura. "Lava bem mesmo, tem que lavar bem". Aí você aprende
de um jeito, depois você vê o pessoal fazendo. A menina enxugou
com a gazinha assim, por fora, depois pôs dentro. E a hora que eu
falei e ela: “Não quê isso? Num foi eu!”. Eu falei: “Eu tô vendo você
fazer”. Sabe, são coisas assim que não dá. (C10E1-21)
Uma cuidadora elogiou, na entrevista, a atuação de um profissional médico
111
e criticou a inexistência de prevenção de úlceras de pressão em um CTI do
Hospital onde seu filho ficou internado. Ficou indignada com a situação e informou
que teve dificuldades para tratar as lesões formadas no calcâneo e na região
sacral.
Eu não reclamei no H. porque ele tá sendo muito bem atindido por
um médico que trabalha lá dentro, que é parente de uma vizinha.
E ele cuidou todo esse ano do tratamento dele. Mas gente, se põe
uma pessoa no CTI aquele colchão de napa aquilo esquenta a
pessoa fica só numa posição, quando eles volta do coisa, cê vê a
escara que deu nele, né J.? Que coisa horrorosa. (...) porque que
já não protege com uma bóia, eu ofereci, assim com muito jeito pra
não ofender, perguntei, a minha sobrinha prontificou, falou: “Não
tia Augusta, se precisa eu compro a bóia dele” pra poder evitar,
eles deixam dá escara primeiro pra depois, não tem recurso.
Depois que dá acabou, deu uma no pé, no calcanhar, e outra aqui
assim, nessa região aqui embaixo. Nossa foi difícil pra curar a
dele! (C12E1-25)
As entrevistadas disseram que a aprendizagem e a prática como
cuidadoras as possibilitaram avaliar os profissionais de Saúde tanto técnica
quanto eticamente, e apontam as falhas que observam.
Nesse sentido, quando um dilema ético se faz presente, os valores da
atenção à saúde podem ser refletidos e analisados como comenta Tocantins,
Silva, Passos (2003). Para tanto o Código de Ética dos Profissionais de
Enfermagem deve ser utilizado e aplicado. Esse código é um documento-guia que
focaliza os valores que devem fundamentar o conhecimento, a atitude e a prática
de toda e qualquer pessoa que desenvolve ações de Enfermagem (TOCANTINS,
SILVA, PASSOS, 2003).
Nesta pesquisa, foi relatado por uma cuidadora que houve ausência de
112
ações para a prevenção de lesões cutâneas, execução incorreta de técnica de
curativo e a não-realização de cuidados básicos de higiene, como troca de fralda.
Uma pergunta deve ser apresentada: teriam esses profissionais infringido um dos
princípios fundamentais do Código de Ética de que a Enfermagem é uma
profissão comprometida com a saúde do ser humano e da coletividade, que atua
na promoção, proteção, recuperação da saúde e reabilitação das pessoas,
respeitando os preceitos éticos e legais? (COREN, p. 41, 2003). Outra pergunta é:
os profissionais descumpriram um dos deveres da Enfermagem que é “prestar à
clientela uma assistência de Enfermagem livre dos riscos decorrentes de
imperícia, negligência e imprudência?” (COREN, p. 41, 2003). Não cabe, no
âmbito desta pesquisa a resposta a estas perguntas que necessitam ser
analisadas pelos órgãos competentes.
Outra questão que merece ser analisada é a capacitação dos profissionais
para a atenção à saúde da pessoa maior de 60 anos nas instituições e nos
domicílios. O Anexo da Portaria Nº 2.528, do Ministério da Saúde, que aprova a
Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa tem, entre outras diretrizes, “o
provimento de recursos para ações de qualificação e capacitação de recursos
humanos e incremento da qualidade técnica dos profissionais de Saúde do SUS
na atenção à pessoa idosa” (BRASIL, 2006b, p.8). Dessa forma, os profissionais
de Saúde devem ser sensibilizados para as peculiariedades do processo de
envelhecimento e capacitados para o atendimento de saúde do idoso no contexto
sócio-cultural em que estão inseridos. Por outro lado, as cuidadoras elogiam a
atuação dos profissionais da ESF e de um hospital particular.
113
A análise dos dados dessa categoria permitiu reconhecer que o trabalho do
cuidado domiciliar deve-se fundamentalmente às mulheres, sendo a maioria filhas,
com reduzido poder aquisitivo e baixa escolaridade. As cuidadoras deste estudo
assemelham-se por apresentarem uma história de vida marcada por lutas, com
renúncias pessoais e uma sobrecarga da tarefa do cuidado quando cuidam de
dois familiares ao mesmo tempo. Pode-se dizer de uma particularidade das 17
cuidadoras quanto às privações de lazer, de limitação do convívio com familiares e
pela perda de oportunidades de empregos e de ensino formal. Também não
cuidam de sua saúde apesar de reconhecerem sua importância.
Além disso, as cuidadoras relataram que, para a execução do cuidado,
necessitam desenvolver posturas como doação, amor e paciência, mesmo na
situação de adversidade em que vivem. Lutam por seus direitos e têm consciência
de seu papel como cidadãs. As cuidadoras exigem que os cuidadores informais
remunerados e os cuidadores profissionais tenham a mesma dedicação e
empenho que elas têm com as pessoas cuidadas. As cuidadoras valorizam as
habilidades técnicas dos cuidadores profissionais e destacaram a importância
deles possuírem atributos como: humanidade, dedicação, responsabilidade,
profissionalismo e honestidade. As cuidadoras estão a todo tempo observando os
cuidados realizados em seus familiares e reivindicam um atendimento de
qualidade.
As cuidadoras manifestaram que doam desvelo, dedicação e humanismo e
apreendem as tecnologias leve-duras e as tecnologias duras descritas por Merhy
(1997). Para esse autor, a produção do cuidado efetivo exige a combinação das
114
tecnologias leves, leve-duras e duras. As tecnologias duras referem-se aos
equipamentos tecnológicos, área física, insumos. As tecnologias leve-duras são
aquelas decorrentes do uso de saberes bem estruturados como a clínica médica,
protocolos, normas e as tecnologias leves são aquelas presentes no processo das
relações que, nesse caso, é o espaço intersubjetivo entre a pessoa cuidada e a
cuidadora.
7.3 Cuidado no domicílio: construção e desconstrução
A categoriaCuidado no domicílio: construção e (des)construção’ surgiu dos
discursos e dos registros dos diários das cuidadoras, das anotações realizadas no
diário de campo da pesquisadora e das anotações nas planilhas.
Essa categoria tem uma interseção com a categoria pessoa cuidada e
cuidadora. Ao analisar os dados incluídos nessa categoria foi possível identificar
gastos que os familiares têm com o cuidado no domicílio. Os achados estão
expressos nas sub-categorias: ‘O cotidiano do cuidado no domicílio’ e ‘Cuidado
solidário’.
7.3.1 O cotidiano do cuidado no domicílio
A sub-categoria ‘O cotidiano do cuidado no domicílio’ surge dos discursos
das cuidadoras, na descrição das atividades de cuidado que desenvolvem no
domicílio e está organizada nos seguintes temas: ‘Autonomia do cuidado’, ‘A
responsabilidade do cuidado no domicílio’, ‘Estratégias para o cuidado’,
115
‘Adaptação do domicílio para facilitar o cuidado’ e ‘A hospitalização’.
As cuidadoras relataram que as tarefas do cuidado domiciliar, com pessoas
dependentes, para as atividades da vida diária requerem dedicação e paciência.
Uma cuidadora relatou que as atividades diárias incluem: banho, troca de roupas
de cama e vestuário.
(...) eu levo ela no banheiro, eu num vou levando assim direto e
dando o banho já dando o banho direto. Eu levo ela pra lá, coloco
ela lá, dô um prazo pra ela, e venho e tiro o lençol da cama, forro a
cama de novo, deixo tudo no jeito. Aí saio pra fora, volto, pego a
roupa de banho dela, tudo. Ponho no jeito. Aí eu dô um tempo e
pergunto pra ela:“E agora já dá pra tomar o banho?”. “Ah, dá.” Aí
eu pego, dô o banho, enxugo tudo direitinho e ponho na cadeira,
trago ela pra cá pra passar pra outra cadeira. (C9E1-11)
Outra cuidadora disse que a pessoa cuidada apresenta dependência total
para o banho, administração de dieta via oral, administração de medicamentos e
de água via jejunostomia.
Ah, ele é acamado. Ele é dependente de tudo. É a gente que dá
banho, a gente é que dá comida na boca, dá a água, e tem a
sonda que a gente passa medicamento, passa água durante a
noite. (C17E1-1)
Em alguns casos, a dependência da pessoa cuidada é intermitente, existem
momentos em que consegue alimentar-se sozinha; outros em que é dependente e
necessita de ajuda. De toda forma, a supervisão dos cuidados é constante.
Uma das pessoas cuidadas apresenta depressão, glaucoma, desnutrição,
hipertensão, surdez parcial e diabetes o que demanda aumento de tempo do
cuidado:
116
Ela num ajuda muito...num fica sentada sozinha, num fica em pé
sozinha...ela depende da gente pra tudo. Pra dá um banho, pra dá
comida...tem dia que ela come sozinha, tem dia que não, tem dia
que ela segura uma caneca de água na mão sozinha, tem dia que
não...é muito complicado...corrido, muitas vezes pra mim sair
assim, pra mim viajar ela tem, às vezes tem até que faltá sirviço 2,
3 dia pra tomá conta dela (...). (C14E1-3)
Outra entrevistada relatou dificuldades na execução do cuidado. Seu
discurso revelou um fazer contínuo: café, banho e troca de roupa. Depois destes
cuidados a cuidadora leva a pessoa cuidada para a varanda, faz almoço, oferece
o almoço, administra o medicamento, leva para a varanda, depois leva para o
quarto e ajuda a colocar a pessoa cuidada na cama, coloca novamente na
cadeira, oferece o lanche, água, jantar, troca a fralda e coloca na cama.
É um pouco difici, só que a gente faz assim, por exemplo, eu dô
café ele, daí a pouquin ele quer, fala que quer ir ao banheiro, vai
no banheiro, fica lá um pouco, enquanto isso eu arrumo a água
dele, preparo pro banho. Aí depois eu vou lá, dô o banho nele,
enxugo ele, troco ele de roupa, ele fica um pouco sentado aí na
varanda, deixa ele lá sentado na cadeira, vem cá pego a cadeira
dele ponho aqui na varanda, e busco ele e sento ele lá, ele fica um
pouco na varanda sentado. Depois na hora do almoço eu já trago
ele, ponho ele sentado na mesinha, aí ele senta. Depois do
almoço ele toma o AS, e fica um pouquin lá, aí eu falo com ele “Oh
não vai deitar agora não, fica mais um pouquin aqui”, aí ele volta
pra varanda fica mais um pouquin lá, depois ele fica cansado e
quer deitar, aí eu trago ele pro quarto, ele deita. (C6E1-25)
Outra entrevistada falou que seu cotidiano é fazer e (re)fazer, o que exige
muita paciência e dedicação.
(...) porque sempre que tiver sentada pergunta: "Ô irmã cê que
uma fruta, cê quer um iogurte?" Porque às vezes tá com vontade
e num pede, né? (...)"quer um cafezinho, tomá um copo d’água?"
117
Assim é o tempo inteiro, aí eu falo pra elas: "A partir da hora que
não tiver mais paciência é só falar que aí ou arrumo outra pessoa
ou chamo a família dela pra poder cuidar, num é mesmo?" Aí já
deixa o lugar pra outra pessoa que queira, mas não grita
não,...chamou a noite, levanta. Durante o dia toda hora que quiser
fazer xixi, leva no banheiro pra ela fazer, ou se não quiser ir no
banheiro se ela tiver deitada põe o pinico assim, tudo assim com
muito cuidado pra carregar, pra descer aquela escada, pra por na
cadeira, eu vou te falar tem que ter muita, muita paciência (...).
(C15E1-37)
Uma cuidadora relatou que, durante o período noturno, a pessoa cuidada
necessita de auxílio nas eliminações, com intervalo de três em três horas,
impossibilitando seu repouso.
O cuidado com a pessoa dependente é uma atividade que toma o dia e, às
vezes, a noite da cuidadora e que implica também em um condicionamento físico
capaz de dar conta de tarefas ‘pesadas’, como a locomoção da pessoa cuidada e
a capacidade de recuperação rápida de uma noite mal dormida (MENDES, 2002).
Mas aí, então minha vida é essa. A noite toda ela pede pra fazer
xixi. Ela dorme 10 horas da noite, quando dá meia noite, uma
hora, uma hora certinha da manhã ela pede pra fazer xixi, três
horas ela pede pra fazer xixi e de manhã seis horas, de três em
três horas é o normal mesmo dela. (C12E1-19)
A análise dos dados demonstra que as cuidadoras estão envolvidas com as
tarefas de cuidado no período diurno e noturno. O cotidiano das cuidadoras é um
fazer e (re) fazer, o que exige tempo, paciência, esforço, energia e preparo físico.
Atividades como banho, controle das eliminações, troca de roupas de cama e
vestuário; preparo e administração de dietas, administração dos medicamentos
fazem parte do cotidiano das cuidadoras juntamente com as atividades
domésticas. Saber conciliar as atividades domésticas e cuidadoras requer
118
habilidade na organização do tempo (MENDES, 2002).
Para García-Calvente, Mateo-Rodríguez e Maroto-Navarro, (2004) as
cuidadoras, ao assumirem o cuidado no domicílio, tornam-se responsáveis por
uma variedade de tarefas. As autoras relatam que as cuidadoras assumem
atividades que, nas instituições hospitalares, são realizadas pela Enfermagem,
Serviço de Nutrição, Psicologia e, ainda, de conselheira junto à pessoa cuidada.
Simultaneamente continuam com a responsabilidade de mãe, esposa, filha, dona
de casa, e às vezes, ainda exercem trabalho remunerado. Dessa forma, a jornada
de trabalho dessas cuidadoras não tem princípio nem fim. Não se pode utilizar
aqui o conceito de dupla ou terceira jornada, mas o de jornada contínua e
simultânea. Não há descanso noturno nem folgas nos finais de semana e feriados.
É um fazer e (re) fazer contínuo.
Autonomia do Cuidado
Os dados das entrevistas mostram como se processou a aprendizagem dos
cuidados pelas cuidadoras.
Uma cuidadora informou que aprendeu a realização dos cuidados de saúde
durante a internação da pessoa cuidada. Essa aprendizagem aconteceu por meio
de observações e pelas explicações dos profissionais de Saúde durante a
realização dos procedimentos. Acrescentou que, por permanecer mais tempo com
o seu pai no hospital durante a internação, ela foi se ‘acostumando’ com as
atividades rotineiras de cuidados.
119
Ah, mas a gente vai acostumando, porque no hospital onde ele
ficava, geralmente eu ficava com ele. Então a gente aprende a
fazer. As enfermeiras lá vão explicando e tal e a gente aprende.
(C17E1-4)
Essa mesma cuidadora relatou que não teve treinamento para a realização
do cuidado no domicílio, mas conta com a ajuda dos profissionais de Enfermagem
da unidade básica de saúde próxima à sua casa.
Éh, a gente vai perguntando, vai olhando como é que faz.
Entendeu? Não tem curso, não sei de nada. Às vezes, eu tenho
alguma dúvida aqui, eu corro lá, pergunto pras meninas do posto.
“Ó, como é que é que faz?” Aí, elas fala lá. (C17E1-28)
Outra cuidadora relatou que aprendeu sobre prevenção de lesões cutâneas
com a vizinha que é uma auxiliar de Enfermagem aposentada. Ela disse ficar
satisfeita, pelo fato de a mãe não apresentar lesões cutâneas.
Fica sentada, tem hora que entorta na cadeira, fala que está
machucando, mas fica bem. Graças a Deus ela não tem, assim,
ferida nenhuma no corpo, não tem nada. Agora está assim uma
erupçãozinha aqui assim (...) ela passa pasta d’água, passa
bastante pasta d’água e tudo, cuida dela assim. (C3E1-15)
Outro cuidador disse ter dificuldades relacionadas com a debilidade
apresentada pela pessoa cuidada e em manusear artigo médico-hospitalar.
Relatou que a convivência com essa situação foi aprendida no próprio ato de
cuidar com bom senso e muita atenção ao que faz.
Então, aí eu trouxe ele pra cá. E no princípio, eu tive um pouco de
dificuldade, porque ele tava muito debilitado. Muito fraquinho,
120
muito fraquinho. Pra você ter uma idéia, quando ele veio aqui pra
casa, ele tava com sonda... nasoentérica. Então era uma luta pra
você dar alimentação, você dá banho, remédio, aquele negócio
todo. Aí nessa parte eu nunca tinha convivido, não. Mas eu e
minha mulher, nós fomos levando aquele negócio. (C18E1-11)
Esse mesmo cuidador mencionou que tratou das úlceras de pressão
localizadas na região sacral e no calcâneo da pessoa cuidada. Apesar de já ter
experiência com o tratamento de úlceras de decúbito, as pessoas duvidavam da
possibilidade da cura da pessoa por ele cuidada, devido ao fato de ser portadora
de diabetes e estar debilitada, mas ele conseguiu.
Ponho, ponho ele sentado, levo ele pra área. Viro ele assim de
três em três horas. E vira ele lá. Ele... quando ele veio do hospital,
ele veio com uma escara na poupa. Uma escara grande assim. E
no tornozelo...você precisava de ver que luta que foi. E o pessoal
falava que a gente não ia conseguir não porque ele é diabético.
Tem que ter fé nesses negócio. E eu sei que nós conseguimos.
Ele não tem nada
disso mais. (C18E1-18)
Outra entrevistada demonstrou segurança na execução de procedimentos
como micronebulização, aspiração de traqueostomia e curativos.
Igual ele com esforço. Aí tem que fazer micro, eu aprendi. Agora
eu já ... já faço manobra, eu aspiro, eu faço tudo. Fazendo tudo,
trocando os curativos. (C10E1-4)
Essa mesma entrevistada relatou ter insegurança e medo de seu pai
apresentar uma parada respiratória em decorrência da aspiração da
traqueostomia. Disse que, apesar de sua apreensão, realizava esses cuidados,
pedindo a Deus misericórdia para não acontecer esse fato com ela, pois não teria
121
estrutura emocional para suportar um possível óbito durante o procedimento.
(...)tem hora que a gente fica assim, (...) você fica com medo de
fazer alguma coisa, insegurança. Agora vou te falar, agora eu não
tenho medo mais não. Agora se precisar eu faço. É manobra, eu
faço. Mas assim, no fundo, eu só tenho medo assim, igual eu já
falei até com a enfermeira, eu não sei nem que reação, vamos
supor se ele pára comigo, se ele tem alguma coisa comigo
aspirando, igual a fisioterapeuta, já aconteceu com ela. Ela me
contou: “Quê? Já perdi um paciente assim”. Ah, eu acho que... eu
peço a Deus sabe pra ele ter misericórdia e não acontecer isso
comigo não. Porque a estrutura da gente acho que (...)... vai ver
arrebenta! Você vai tentar ajudar e ainda acontece uma coisa
dessa! Só isso que eu fico apreensiva. Agora no mais, se precisar
fazer, essas coisa dá. Não tem problema não
. (C10E1-59)
Segundo Santos (2002, p.26) “as rotinas domésticas passam a ser
redefinidas a partir do familiar dependente, pois ele passa a ser o foco de atenção
da família”. Ela acrescenta que o cuidado com a pessoa dependente, por ser uma
atividade nova introduzida no cotidiano da família, é construída pela cuidadora no
espaço domiciliar intermediado pelas outras rotinas já existentes.
Os dados analisados permitem reconhecer que foi necessária para as
cuidadoras a adaptação à situação de dependência da pessoa cuidada, bem como
122
todas as dificuldades, apresentam uma relativa autonomia na execução do
cuidado de saúde no domicílio e no desempenho do novo papel.
A responsabilidade do cuidado no domicílio
As cuidadoras manifestaram que experimentam diferentes problemas na
realização do cuidado no domicílio mas que os enfrentam com muita
responsabilidade.
Uma cuidadora revelou despreparo para solucionar situações de risco que
surgem em decorrência da atividade do cuidado no domicílio, pois não domina a
tecnologia necessária para a realização de um cuidado de qualidade.
(...) a gente passa aperto, teve um dia que ela tava aqui com o
marido dela, ele tava dano ela almoço, pra mim, eu tava com um
cliente aqui fazeno unha, "Ôh F. (...) cê dá almoço a mãe pra
mim?" E ele tava dano ela, ela engasgou... e ela ficou (imitando a
mãe engasgada) e eu larguei a cliente e falei: "Nossa Senhora, a
mãe tá engasgano!" E levantamo o braço dela e nada, e batemo
nas costa dela e nada, e sopramo o rosto dela e levantamo o
braço e batia nas costa foi aí que ela desengasgou...tem dia que a
gente passa muito aperto, muito mesmo! (C14E1-37)
Outra cuidadora relatou não dispor de recursos humanos, para auxiliá-la
nas tarefas diárias do cuidado domiciliar. A cuidadora vivenciou momentos
estressantes que colocaram em risco a vida da pessoa cuidada durante o banho.
Aí dêu descê com ela pru banheiro, tem degrau, aí a perna dela
esbarrou na minha, num sei como é que foi, aí o pedaço que tava
torto assim, começou a quebrar, o negócio é igual a uma berruga,
igual a uma unha, um trem parecendo uma unha, sei lá, trem
esquisito! Aí esbarrou na minha perna, sei lá onde esbarrou, aí
começou a quebrar, aí veio aquela sangüera, se tivesse lembrado
123
naquela hora de ter chamado o SAMU. Tinha levado e tirado, mas
eu não lembrei na hora, fiquei apavorada. Aí amarrei o pano tudo
direitinho, aí ficou aquele trem, muito tempo lá, e agora outro dia
caiu, mas só agora tem a raiz, tem que tirá a raiz. (C4E1-28)
Essa mesma cuidadora relatou que a realização do cuidado às pessoas
dependentes para as atividades da vida diária, muitas vezes, requer a ajuda de
outra pessoa, devido às limitações de movimentos decorrentes das patologias e
do grau de dependência da pessoa cuidada. Essa cuidadora realiza todos os
cuidados necessários sem a ajuda de outras pessoas, mas existem momentos em
que precisa da ajuda de seu filho para diminuir o risco de acidente.
Ela é bem pesada, aí ponho ela na cadeira, aí vô pru banheiro, e
dô banho. Ôtro dia ela tava quase caino lá. Precisei gritar esse
menino aí pra ele vim me ajudá. Porque ela foi escorregando
assim, foi escorregando assim, acho que ela tava sentindo dor, aí
eu chamei ele. (C4E1-23)
A análise dos dados permitiu reconhecer que a falta de recursos humanos,
de domínio e de disponibilidade de tecnologia adequada e a limitação das
atividades motoras associadas a um ambiente domiciliar não adaptado à condição
da pessoa cuidada, são fatores que aumentam a responsabilidade da cuidadora
na execução do cuidado domiciliar.
Os dados apontam que existem situações em que os profissionais de
Saúde dos hospitais e/ou da atenção básica podem atuar na capacitação de
cuidadores das pessoas internadas para que, ao receberem alta hospitalar,
possam ser cuidadas no domicílio. As entrevistadas apontaram temas e
procedimentos sobre os quais precisariam receber orientações que poderiam
124
ajudar os futuros cuidadores sem experiência a fim de minimizar possível
insegurança.
Marques (2003), ao desenvolver um estudo etnográfico cujo objetivo foi o
de compreender a experiência de familiares cuidadores que prestavam cuidados
diários a um parente doente, sem possibilidade de cura no domicílio, relatou que
umas das dificuldades do cuidar nesse ambiente é a necessidade de desenvolver
habilidades e de aprender rapidamente a manusear medicamentos, materiais e
toda uma variedade de procedimentos que nunca imaginavam precisar saber. A
autora acrescentou que o medo e a dúvida acompanham o cuidador,
principalmente no início do cuidado no domicílio. Nesse sentido, a capacitação das
cuidadoras poderia diminuir ou minimizar dificuldades encontradas no domicílio.
Estratégias para o cuidado
As entrevistadas informaram que, para facilitar a tarefa diária da execução
do cuidado no domicílio, desenvolveram diferentes estratégias.
Uma cuidadora relatou que colocava fralda
2
(fralda para bebês até 5kg) no
pênis da pessoa cuidada para economizar o uso da fralda geriátrica. A utilização
de ‘fralda de pênis’ resulta em economia já que a fralda infantil possui custo
inferior à fralda geriátrica. Também ela economiza seu tempo e sua energia, pela
diminuição da freqüência na troca das fraldas.
2
Utilizado como referência o valor da fralda descartável de uso infantil, tamanho pequeno. Apresentação:
pacote com 28 unidades. Marca: S. L. Preço: R$9,42. Disponível em: <www.rimed.com.br
>. Acesso em: 11
de janeiro 2007. (R$9,42÷28 unidades=R$0,33). 4 fraldas infantil x 30 dias= 120 fraldasxR$0,33= R$39,60//
1 fralda geriátricax30 dias= 30 fraldasxR$1,06= R$31,80// R$39,60 + R$31,80= R$71,40. R$190,80-
R$71,40= R$119,40
125
(...) compro fralda de neném, essas pequenininha, que é mais
baratinha. Porque a maior... é... se ele evacuar, troca. Se não eu
só vou trocando, eu enrolo ela no pênis, (...), ele faz xixi, eu tiro
ela. E não molha a outra (...) porque ele faz muito xixi (...). Porque
se não eu tenho que ficar trocando a grande, aí eu tenho que virar
ele prum lado eu viro pro outro. E ele é pesado (...).(C10E1-67)
Essa pessoa cuidada fazia uso de seis fraldas geriátricas ao dia, durante 30
dias o gasto seria de 180 fraldas/mês. Cada fralda geriátrica de tamanho médio
tem o valor unitário
3
de R$1,06 totalizando R$190,80 (cento e noventa reais e
oitenta centavos)
Com a utilização de quatro ‘fraldas de pênis’ (C10P1) ao dia + uma fralda
geriátrica tamanho médio ao dia, durante 30 dias, o custo total seria de R$71,40.
R$190,80- R$71,40= R$119,40. Com a economia de R$119,40, valor que pode
permitir a cobertura de outros itens de despesas como alimentação e medicação.
Além da economia financeira, deve-se acrescentar que a troca freqüente de
fraldas, com a devida higienização, previne a dermatite amoniacal e a infecção
urinária. Essa prevenção é também uma forma de economia em medicamentos e
em tempo despendido.
Um cuidador indicou o uso de coletor urinário para a incontinência urinária
masculina. Entretanto é necessário advertir que, se não se fizer a higienização
adequada, se não se fizer a troca diária ou, no caso de a pessoa apresentar
3
Utilizado como referência o valor da fralda descartável de uso adulto, tamanho médio. Apresentação:
pacote com 30 unidades. Marca: B. Preço: R$31,92. Disponível em: <www.rimed.com.br
>. Acesso em: 11 de
janeiro 2007. OBS: no estudo foi utilizado o valor de R$1,06 para o cálculo de gasto de fraldas.
(R$31,92÷30unidades=R$1,06)
126
alergia ao látex do preservativo, o uso do coletor urinário poderá causar lesões ao
pênis. Dessa forma, a ‘fralda para pênis’ utilizada pela cuidadora pode ser a
tecnologia adequada que traz economia de gastos e previne infecções.
Outra cuidadora utiliza canudo de plástico (tipo de refrigerante), para a
administração da dieta. A pessoa cuidada tem dificuldade de deglutição e, com
essa técnica, ela se alimenta sem esforço, sorvendo toda a dieta triturada no
liquidificador. A técnica possibilita a ingestão adequada dos alimentos
indispensáveis à manutenção das condições nutricionais.
Tem que ser batida no liquidificador, tem que ser, senão ela cospe.
Você faz a sopa com pedaços, ela cospe, então você tem que
bater, batendo ela toma no canudinho tudinho. (C3E1-28)
Uma entrevistada relatou que oferece a dieta na mamadeira, com leite e
farinha vitaminada. Utiliza um lençol debaixo da mamadeira para calçá-la e mantê-
la firme, o que possibilita, à pessoa cuidada, segurá-la e ingerir o alimento. Dessa
forma, a cuidadora realiza outras tarefas domésticas e economiza sua energia.
A utilização dessa técnica possibilita a ingestão de nutrientes essenciais. É
necessária, entretanto a supervisão freqüente para prevenir possíveis engasgos e
a aspiração que pode causar complicações como pneumonia.
É, na mamadeira eu dou... sabe porque, quando é muita gente pra
cuidar, aí tem mais ânimo porque é muita gente pra cuidar. Mas a
gente sozinho, aí economiza um mucado porque senão a gente
vai, e a pessoa doente fica. Aí eu dando a mamadeira, eu carço
ela, e ela põe a mão e consegue mamar tudo. (...)Aí eu dou a
mamadeira, e ela dorme. Eu falo: “ Agora fica caladinha, vamos
dormir igual neném .” Aí ela fica caladinha, pega e dorme. (C9E1-
10)
127
Verifiquei, na análise dos dados, que as cuidadoras, ao buscar a economia
de custos de tempo e de esforço físico, utilizaram a criatividade para o
desenvolvimento de técnicas adequadas. Essas técnicas permitiram agilizar as
tarefas e deixar tempo disponível para outras atividades. Outro fator positivo é a
economia financeira proveniente dessas estratégias de cuidado. Além dessa
economia que pode ser mensurada, destaco a economia ‘invisível’ relacionada à
prevenção de agravos. Um exemplo refere-se ao estado nutricional adequado que
dificultará o desenvolvimento de doenças alimentares e infecciosas.
Sena et al. (2004) afirmam que é interessante conhecer as diferentes
maneiras de ‘levar a vida de cuidadora no domicílio’ e o processo de criar e utilizar
os recursos existentes no ambiente sem aumentar os custos do cuidado
domiciliar.
Adaptação do domicílio para a realização do cuidado
Os discursos surgiram ao se perguntar às cuidadoras sobre a realização de
algum tipo de adaptação física no domicílio para facilitar o cuidado.
As entrevistadas citaram, como adaptações, a troca da cama da pessoa
cuidada para a sala, a pintura das paredes do barracão, a construção de uma
varanda. Relataram adaptações no piso do banheiro para prevenir quedas. Essas
adaptações foram financiadas pela cuidadora e por seu irmão.
(...) no caso a cama teve que vim pra sala...(...) tive que por essa
cama aqui por causa do conforto, (...) pra ficar mais com a
128
perninha esticada, pode deitar de dia...vê a televisão que ela
gosta. O banheiro também era (...) tudo na cerâmica e nela tomar
banho molha, e aí eu fico com medo de ficar escorregano, aí eu
pedi o rapaz que tava trabalhando pro P. ele estragou a cerâmica
assim, sabe? Fez uns grosso na cerâmica do banheiro pra poder
num...escorregar porque o piso num é antiderrapante. (...) Aí agora
num escorrega mais não. E aqui na casa também era tudo sujo,
tava tudo escrito número de telefone, (...) Tudo sujo cheio de teia
de aranha, aí o P. foi e pintou tudo, o P. reformou...a reforma foi
por conta dele. (...) A pintura foi ele, e fiz essa varanda aí também,
num tinha não. (C7E1-22)
Outra cuidadora relatou que trouxe a pessoa cuidada para sua casa,
pintando o quarto próximo à sala para facilitar a recepção de visitas.
(...) A única coisa que nós fez aqui, é que os quarto trocou, né. Eu
pus ela nesse quarto aqui, porque é muito mais fácil receber visita.
Porque antes ela recebia muita visita, quase todo o dia. (C9E1-13)
A análise dos dados permitiu verificar a existência de relatos de adaptações
no domicílio, mas as cuidadoras não citam os valores monetários agregados a
estas adaptações. As cuidadoras citam desde mudanças de locais da cama da
pessoa cuidada até pinturas das paredes dos quartos, e pequenas reformas, como
parte do cuidado e para proporcionar maior conforto e facilitar a realização do
cuidado sem, entretanto, contabilizar o gasto.
Segundo Szrajer (2002), as adaptações do domicílio aos cuidados deverão
ser sugeridas pelos profissionais de Saúde, considerando a situação sócio-
econômica e cultural da família. Acrescento que essas mudanças devem ser
discutidas com os cuidadores e os familiares para serem realizadas segundo a
realidade de vida das famílias.
129
A hospitalização
A possibilidade de hospitalização é um fato vivido pelas cuidadoras em seu
cotidiano. A saúde das pessoas cuidadas está sempre oscilando e as cuidadoras
vivem a expectativa com relação ao futuro da pessoa cuidada: ou é hospitalizada,
ou tem seu quadro de saúde agravado até a morte.
Um cuidador relatou a necessidade de internação hospitalar para
tratamento de pneumonia grave, exigindo a internação em Centro de Tratamento
Intensivo (CTI) durante 20 dias.
(...) ele teve dois meses internado com pneumonia nos dois
pulmão. E ele teve muito ruim mesmo. Assim, os médicos
desenganaram ele, sabe, ele ficou 20 dias no CTI. Aí recuperou,
recuperou até bem demais. (C17E1-3)
Outra cuidadora informou que a pessoa cuidada se recusava a ingerir os
medicamentos anti-hipertensivos, o que ocasionou elevação da pressão arterial e
a necessidade urgente de levá-la para uma unidade de emergência, para
atendimento imediato em hospital.
(...)deve ter uns 5, 6 meses atrás que ela duma hora pra outra ela
resolveu num tá tomando os remédio da pressão...punha na boca
dela ela tirava. (...) tem que fazer ela ingulir, como ela ela num
ingulia, é muito complicado, ai ela doeceu. A gente teve que
chamar carro, meu irmão num tava aí, teve que chamar carro
depressa, levar pra policlínica, ela tava quase dano um
derrame...(C14E1-24)
Outra cuidadora relatou que, durante uma hospitalização prolongada, sua
mãe apresentou riscos de óbito. Houve a necessidade de transfusão sanguínea,
controle da glicemia, controle da temperatura e a administração de antibióticos
130
para tratar de um quadro de infecção hospitalar. Durante a hospitalização a
cuidadora e a família vivenciaram momentos em que sentiram que sua mãe iria
morrer.
Aí ela fez a transfusão de sangue, a... glicose dela, tava tudo lá
em baixo. Aí de repente, de madrugada, ela abre o olho, deu
assim um sorriso assim. Aí eu falei com ela: “Ô mãe, a senhora tá
voltando pra mim ou a senhora tá indo embora?”. Aí ela deu um
sorriso, mas parecia que ela tava chorando de dor, alguma coisa.
Quando chegou de manhã, minha filha, ela começou uma falação.
E o médico chegava, perguntava “Oi, dona D., tá boa?”, “Tô boa e
você?”Gente ...veio o hospital inteiro! É... tanto o diretor... todo
mundo! Ninguém acreditava. Eles chegavam, falavam assim: “Mas
ela é forte, hein!”. Noventa dias dentro de um hospital, com
131
7.3.2. Cuidado solidário
A subcategoria ‘Cuidado solidário’ originou-se da pergunta feita para a
cuidadora se, para exercer o cuidado no domicílio, ela tinha a ajuda de outra
pessoa. Caso a resposta fosse positiva, perguntávamos quando ela recebia essa
ajuda e quem a ajudava.
Essa sub-categoria é constituída pelos seguintes temas: ‘Compartilhando o
cuidado’ e ‘A retribuição do cuidado’.
Um entrevistado relatou que acolheu e cuidou de uma pessoa sem
parentes em sua residência, e contou com a permissão de sua esposa e de seus
filhos. Além disso, a pessoa cuidada foi acomodada no quarto do filho mais novo
do cuidador.
(...) a dona dele veio a falecer, ele ficou sem referência. E como a
última vez que foram internados, os dois juntos, eu que
acompanhei diretamente, ia no hospital todos os dias, a coisa ficou
sob a minha responsabilidade. Aí ela veio a falecer. O médico
perguntou assim “Como é que você vai fazer agora?” Éh, ele não
tem parente, não tem nada. "Vocês vão ter que tirá-lo daqui,
porque ... tá perigoso dele pegar uma infecção." Aí....eu fiquei
apertado. Vinha conversava com um, conversava com outro e
nada. (...)Aí vim conversei com minha mulher, conversei com
minha menina (..). Esse meu menino me ajudava a dar banho nele
também. Tá com 22 anos. Ele falou:“Não, não tem problema, não.”
Então, eu falei assim: "Mas eu vou trazê-lo e colocá-lo no seu
quarto." Ele falou: “Não tem problema”. (C18E1-3)
Uma cuidadora relatou que, em casos de urgência, os vizinhos colaboram
com a disponibilidade de transporte para a unidade de emergência mais próxima
da residência. Ela acrescentou que os vizinhos têm essa disponibilidade,
independente do horário, diurno ou noturno.
132
E
ssa vizinhança aqui...tudo ajuda a gente, é todo mundo aqui é
muito prestativo...se pricisar de uma urgência aí na hora cê recebe
atendimento, qualquer casa que cê for...que cê bater, tira o carro
na hora e leva. (C7E1-31)
Outra cuidadora utiliza uma cama hospitalar que foi recebida como doação
de uma vizinha de seu irmão.
(...) no L. tinha um pessoal lá que tinha essa cama. Aí o moço
morreu e ela falou comigo: "Procura saber de quem é a cama,
como eles conseguiram a cama, aí cê arruma prá mim". Ela
procurô sabê, era de uma mulher que morava lá, ela tinha
comprado a cama pra mãe dela, só que a mãe dela não durou
muito tempo, e aí ela fica 'doando' a cama prus outro, tem um ano
que a cama tá aqui comigo. (C4E1-20)
Uma cuidadora relatou que a solidariedade e a união dos irmãos está
presente para a compra de medicamentos e para o financiamento de uma cadeira
de rodas.
Quando assim, quer comprar alguma coisa, um remédio que às
vezes é caro, e que nós, eu e ela não tem, aí ajunta os irmão tudo
nosso, e todo mundo ajunta os irmão tudo e compra. A cadeira
mesmo foi assim, a gente comprou financiado, mas todo mundo
deu uma parte. Todo mundo colabora. (C16E1-40)
Os discursos das cuidadoras revelam que a solidariedade está expressa na
vida cotidiana da pessoa cuidada: para a compra e empréstimo de cadeira de
rodas, para o auxílio com o transporte de urgência e para acolher e cuidar de uma
pessoa sem parentes em sua residência.
Para Gonçalves (1999, p.136) à medida que se cria uma rede de apoio e de
133
solidariedade, “surge envolvimento, encurtam-se as distâncias, diminuem as
diferenças, desponta o compromisso, o afeto toma o lugar da indiferença e a
solidariedade se manifesta”.
Compartilhando o cuidado
O cuidado é compartilhado por cuidadores (as) secundárias (os) quando a
situação exige, ou seja: durante a realização de um cuidado que demanda o
auxílio de outra pessoa e eventualmente, quando a cuidadora principal necessita
de tempo para seus assuntos.
Uma cuidadora relatou que o cuidado é compartilhado pela vizinha, ou pela
filha que ajudam no banho.
É, cuido, e tem a 'enfermeira' que mora aqui que dá banho nela
para mim. Ela é minha vizinha, que ela é 'enfermeira' aposentada,
então ela dá o banho em mãe pra mim. No dia que ela não pode,
aí eu dou, M. dá. (C3E1-4)
Uma das entrevistadas, cuidadora remunerada, disse contar com outras
pessoas que a auxiliam no cuidado. A cuidadora fez uma viagem longa e as
cuidadoras secundárias a substituíram.
(...) agora mesmo eu vou viajar que minha menina mudou pra
Goiânia e eu tô indo sexta-feira viajar, mas ela vai ficar...tem a M.
J. e tem a L. que são duas pessoas boas de confiança, gente boa
mesmo. (C15E1-6)
Uma cuidadora disse que conta com ajuda na execução de alguns
cuidados, como a troca de fraldas. Relata que, às vezes, até uma criança colabora
134
no cuidado.
Pra trocar uma flauda às vezes quando ela vem cá...ela me
ajuda...porque tem que segurar ela, porque ela num fica em pé
sozinha...eu coloco a flauda, outra hora é minha minina de 11
anos que me ajuda. (C14E1-4)
Para uma cuidadora entrevistada as atividades domésticas são conciliadas
com as atividades de cuidado. Relata que as filhas que são cuidadoras se
revezam semanalmente na realização do cuidado e assim não a sobrecarregam
em demasia. Como os barracões delas têm conexões, essa alternativa foi viável.
Se ela ficasse na minha casa ou só na casa dela, um só dá conta.
Mas ela aqui, nós temos nossos afazeres nas nossas casas.
Temos nossos filhos. Então é assim: enquanto ela tá aqui, cada
semana, de um sábado no outro,... essa semana ela tá aqui com
ela. E eu tô na minha casa. Aí, sábado ela vai pra casa dela com
os filhos dela, e eu venho pra cá com os meus. (C16E1-12)
Outra cuidadora contou que, quando precisa ausentar-se para a realização
de outras atividades, uma das cuidadoras secundárias assume a tarefa do
cuidado.
(...) aqui a gente é dividido. Essa que saiu pra trabalhar, ela de
manhã me ajuda a dar banho nela, lava as roupa, porque troca de
três em três dias, aí essa outra fica em casa, me ajuda, quando eu
tenho que sair ela fica com ela, dá as coisa, só na hora de trocar
que... tem que ser eu também. É, porque elas não agüentam
segurar ela. Eu antes trocava sozinha, quando todo mundo
trabalhava, mas agora não tem condição. Ela não deixa, a mão
dela, ela coça, você tira dum lado, ela pega do outro. Então tem
que ficar uma segurando
pra você trocar. (C8E1-36)
Apreendi, na análise dos dados que o cuidado compartilhado é solidário e
135
sobrecarrega menos os ‘ombros’ da cuidadora principal. O ‘peso’ é distribuído e a
responsabilidade também se dilui. Cuidado compartilhado, cuidado solidário.
A retribuição do cuidado
Os cuidados que as cuidadoras prestam aos familiares são vistos como
uma retribuição do que esses familiares fizeram para a família e para a cuidadora.
Uma entrevistada relatou que sua mãe, pessoa cuidada, cuidou dos oito
filhos. Agora, chegou o momento deles retribuírem o cuidado.
Os dados permitem inferir que a cuidadora considera uma obrigação por
parte dos filhos a retribuição do cuidado que receberam da mãe. Para Mello
(2002), em estudo fenomenológico sobre o sentido que o cuidador informal atribui
ao seu fazer junto à pessoa crônica que está sob os seus cuidados no domicílio,
apreendeu dos cuidadores que cuidar é um dever familiar, uma obrigação que é
determinada por valores, princípios morais e por laços afetivos.
Mendes (2002), ao analisar os dados da pesquisa sobre o suporte
domiciliar ao adulto com perda de independência e o perfil do cuidador principal,
constatou também que muitos dos cuidadores viam essa atividade de cuidar como
um dever moral decorrente das relações pessoais e familiares inscritas na esfera
doméstica.
A gente tem que cuidar. Ela cuidou da gente a vida inteira. Agora
chegou a nossa vez, entendeu? Sorte dela que ela tem oito filho
pra cuidar dela. (C16E1-16)
Segundo Sena et al. (2000, p.548) “O cuidar é visto por alguns cuidadores
136
como uma obrigação, um favor que deve ser retribuído ao doente, em gratidão às
suas atitudes anteriores”.
Uma das entrevistadas disse querer retribuir o cuidado que o seu pai
proporcionou aos filhos da melhor maneira possível e acrescentou que, graças a
seu pai, eles têm estudos, casa e profissão.
Por mais que você tenta fazer o melhor... igual dizem: “Ele é muito
bem cuidado!”, é lógico que tem que ser e ainda falta. Ele cuidou
da gente a vida inteira. Se a gente tá aqui hoje, se nós estudamos,
se nós temos essa casa aqui, isso tudo aqui foi ele que deu pra
gente. Como que você não vai cuidar de uma pessoa que cuidou
de você a vida inteira? (C10E1-37)
Uma cuidadora entrevistada valoriza a idade de sua mãe, sua experiência
de vida e acrescentou que a pessoa cuidada merece ser tratada com respeito,
carinho e serenidade.
Porque eu acho que a pessoa com 101 anos, a experiência de
vida, o que ela já deixou para a gente, merece ser tratada com
respeito. (C3E1-41)
Os dados revelam que o cuidado é visto como obrigação, retribuição e
respeito pela pessoa cuidada, sendo como uma continuidade da vida. Para Boff
(2000), o cuidado sempre acompanha o ser humano porque este nunca deixará de
amar e de se desvelar por alguém, nem deixará de se preocupar e de se inquietar
pela pessoa amada. Dessa forma, as cuidadoras dão significado e sentido à vida,
cuidando e mantendo a vida das pessoas cuidadas.
O cotidiano do cuidado no domicílio é um fazer e (re)fazer que se traduz em
relativa autonomia, responsabilidade e compromisso. Pela insuficiência de poder
137
aquisitivo, as cuidadoras desenvolvem estratégias e adaptam o domicílio para
facilitar o cuidado. A hospitalização é uma incerteza que assola as cuidadoras que
se encontram mais sobrecarregadas ainda nesse período. Entretanto, quando o
cuidado é compartilhado, ele fica mais ‘leve’, torna-se um cuidado solidário em
que as cuidadoras podem, de alguma forma, retribuir o cuidado que receberam em
suas vidas.
7.4 O cuidado e a expressão dos gastos
A categoriaO cuidado e a expressão dos gastos’ revelou-se a partir dos
discursos das cuidadoras e principalmente quando da orientação para o
preenchimento das planilhas.
A planilha foi o instrumento quantitativo utilizado pelas cuidadoras para o
registro dos gastos com o cuidado no domicílio, sob orientação da pesquisadora.
A 1ª planilha foi orientada na 1ª visita e a 2ª planilha foi orientada no 15º dia após
a 1ª visita. O diário da cuidadora e o diário da pesquisadora serviram de
complementação para os dados quantitativos e qualitativos. Somente uma
cuidadora registrou o valor dos gastos com o cuidado no domicílio. Portanto foi
necessário recorrer à consulta de preços para os itens listados nas planilhas para
se chegar a um gasto aproximado da família com alimentação, medicamentos,
artigos de consumo, serviço de internação domiciliar e instrumentos para a
execução dos cuidados. A verificação dos preços foi realizada no mês de janeiro
138
de 2007 em farmácias, supermercados, e sites específicos para produtos e
instrumentos médico-hospitalares, no município de Belo Horizonte.
Essa categoria compreende duas sub-categorias: ‘O SUS’ e ‘Gastos com o
cuidado no domicílio’.
7.4.1 O SUS
A sub-categoria ‘O SUS’ é composta dos temas: ‘O SUS como facilitador do
cuidado no domicílio’, ‘As dificuldades apresentadas pelo SUS’ e a ‘Saúde
suplementar’.
O SUS como facilitador do cuidado no domicílio
A saúde é um direito de todos e dever do estado garantido pela
Constituição Federal por meio do SUS, que tem como princípios doutrinários a
universalidade, a eqüidade, a integralidade e o controle social.
Um dos desafios do SUS, desde a sua criação, é a construção da eqüidade
que consiste em investir na oferta de serviços para grupos populacionais com
acesso e utilização insuficientes, sem reprimir a demanda de serviços necessários
a segmentos e grupos que já tem o acesso garantido (BRASIL, 2002).
Nesse sentido, as pessoas cuidadas no domicílio têm o direito
constitucional de acesso universal e oportuno a serviços de propedêutica e
terapêutica em Saúde.
Uma cuidadora informou que, quando se faz necessário, a pessoa cuidada
é atendida no serviço de emergência ou no domicílio, pelos profissionais de Saúde
139
do PSF, próximo a sua casa. Informou que os medicamentos prescritos como anti-
hipertensivos e hipoglicemiantes orais são fornecidos pela Farmácia Distrital.
(....) o médico passa a receita e a gente vai na farmácia, na
farmacinha do SUS e pega. (C14 E1-9)
...até que daqui o atendimento da policlínica daqui, é ruim assim
pra gente quando adoece chegar lá, moooofa lá, fica sentado lá
um tempão. Mas no caso dela quando passa mal assim, chega e
eles já manda entrá ela, atende rapidim...quando é preciso dela
ficar lá internada, fica, as enfermeira são super gente boa da
policlínica, as minina aqui do posto, a D. vira e mexe tá passano
aqui, “sua mãe tá bem, I. ?”, tá precisano da visita do médico? Aí
quando tá, eu falo tá, mas tem o quê? Uns 3 mês que o médico
num vem, graças a Deus num tá sendo preciso. (C14E1-26)
(...) ela toma glibemclamida, que é pra diabete, toma 3 tipo pra
pressão, eu até tô precisando ir no posto conversar com o médico,
prá ver que tem um dos remédio dela pra pressão que ele cortou,
o captropil...ela não tá tomando, ela tá tomando o
hidroclorotiazida, o nifedipina (C14 E1-9)
Outra cuidadora relatou que a Policlínica conta com um serviço de
laboratório domiciliar para as pessoas acamadas e a pessoa cuidada tem utilizado
esse serviço.
E o laboratório vem colhe sangue dela aqui, o primeiro paguei, o
segundo J. conseguiu que viesse, veio fez a coleta dela, deu tudo
bem graças a Deus. (C12E1-20)
Um cuidador falou já acessou várias vezes o SAMU para o atendimento em
casos de emergência. Esse serviço é equipado com ambulâncias que realizam
remoções de pessoas impossibilitadas de deambular, seja por gravidade do
quadro clínico, por debilidade ou por serem portadoras de acometimento nos
membros inferiores, com quadro clínico caracterizado como urgência ou
140
emergência.
(...) tem um documento, quando eu entro em contato com o SAMU,
que eles me atendem eu já explico...tudo prá eles e eles mais ou
menos já sabem do caso dele, porque quando ele morava lá em
baixo, a gente que acionava o SAMU, a maioria das vezes fui eu
que acionei o SAMU. ... não tem hora não, onze horas da noite,
duas horas da madrugada. (C18E1-52)
Esse mesmo cuidador utilizou preservativos, fornecidos pela ESF, como
coletor urinário para a pessoa cuidada, que apresenta incontinência.
Ele usa o coletor, o coletor com o preservativo. Preservativo, se
não tiver, tem que comprar. É, se tiver no posto, eles me doam.
(C18E1-51)
Uma entrevistada falou da excelência do hospital municipal que conta com
médicos especialistas, leitos e conforto e pode ser utilizado pela pessoa cuidada,
sempre que necessita.
(...) podia M. C. arrumar um, um jeitim de aceitá ao meno uma
pessoa mais de 65. Deus ajuda que não, mas se mamãe
conseguisse entrar naquele L. F. ali ia ser bom demais, ali tem
cardiologista...tem geriatra, ali tem conforto, cama à vontade, é um
excelente hospital, ninguém fica no chão (...) (C7E1-3)
Outras cuidadoras relataram que recebem medicamentos como diuréticos,
vitaminas e pomadas, fornecidas pelo SUS.
Fora disso é só o AAS, que ela toma diariamente, e o Lasix um dia
sim um dia não, e isso nós conseguimos no posto. (C8E1-46)
Igual há pouco tempo nós tivemos pneumonia. Ela teve, eu tive, foi
na Semana Santa que a gente teve, aí toma remédio, mas só o
tanto assim que precisa. Mas ela toma é... Complexo B, uns
fortificantes, umas coisas assim que às vezes até o médico lá do
posto mesmo tem receitado pra ela. (C3E1-9)
141
O dexametasona também tem no posto. (C17E1-35)
Os dados revelam que a disponibilidade de consultas, o fornecimento de
medicamentos, a utilização do laboratório, a utilização do serviço de emergência e
do hospital, bem como as remoções feitas pelo SAMU são itens que auxiliam na
redução dos gastos representando economia financeira para os familiares das
pessoas cuidadas. No entanto, as famílias não contabilizam os gastos dos
serviços e medicamentos oferecidos pelo SUS e aqueles adquiridos por conta
própria.
Segundo Giacomin, Uchoa e Lima-Costa (2005), em estudo realizado sobre
as características do processo de cuidar e a experiência de 10 mulheres que
cuidam de seus maridos idosos em Bambuí-MG, de maneira geral, as informantes
do estudo atribuem ao SUS uma ajuda irregular, de qualidade inferior e têm
também, dificuldades em reconhecer o valor do SUS, o que se verificou no
presente estudo também.
As dificuldades no SUS
Em contraponto às facilidades relatadas pelas entrevistadas, foram
descritas dificuldades relacionadas aos serviços do SUS, como a descontinuidade
da atenção do médico e demais profissionais de Saúde.
...depois que o Dr. G. saiu, não veio mais. O Dr. G. vinha. A gente
pedia, quando às vezes precisava ele vinha, ou às vezes até sem
pedir ele vinha. Mas agora, depois que ele saiu, os médicos que
vem aí não ficam e não vem nas casas. (C3E1-24)
142
Só que não tem médico no posto. Lá tem até plaquinha: ‘ Não tem
médico.’ Eu até falei com a mamãe: "Mãe não tem médico, tem
que achar um que tem." (C11E1-6)
Outra deficiência apontada pelas entrevistas foi a insuficiência de material
como, por exemplo, gazes para os curativos realizados no domicílio.
Aí aqui tava difícil prá me arrumar gazinha, aí eu conversei com
ela, vê se lá onde cê mora é mais fácil, aí ela que tá me
arrumando, me manda os rolo assim ó. Aí eu vou cortando e faço
os curativo, ela tá me ajudando, senão eu precisava comprá ou
ficava cortando pano velho, cortando lençol, blusa, o que achava
na frente, que tem de fazé curativo 2 vezes, de manhã e de tarde.
Ainda que os outro machucado melhorô, só tem 2, um na coxa e
outro assim onde ela quebrou o fêmur. (C4E1-9)
Uma entrevistada citou como exemplo de dificuldade a morosidade do
serviço especializado, aqui relatado pela demanda de uma pequena cirurgia.
Então tá difícil tem quase um ano já que ela não vai no médico.
Ela tá também com um negócio assim na perna tipo assim uma
berruga. Só que o trem cresceu, ficô desse tamanho assim e virô
assim de tanto que cresceu. Aí fizemo o negócio
(encaminhamento) pra tá fazendo a cirurgia e até hoje não
chamaram! (C4E1-27)
Uma entrevistada apontou a carência de cobertores, de fraldas geriátricas e
de leitos em um serviço de urgência do SUS.
Eu falei: "Mas doutor cumé que ela vai ficar aqui nesse banco
doutor...eu tô disprivinida de fralda, já fez xixi na fralda, cumé que
eu tô pra arrumar? A cubertinha que eu tinha levado era pôco, a
policlínica num tem cobertor, não tem cobertor...Cumé que eu vou
fazer? (C7E1-1)
Uma cuidadora falou das dificuldades de acesso à atenção de fisioterapia,
caracterizadas por descontinuidade e morosidade dos serviços especializados.
143
O ruim é porque eles fazem assim. Eles marcam só dez sessões,
dez vezes. Aí elas faz dez vezes. Dói muito no começo, depois da
quinta em diante, já aliveia. Faz e não vai doer mais. Aí quando
acaba as dez, fica 6 meses sem fazê, 3 meses, aquelas dez que
ela fez não adianta mais. Ela vai começar tudo de novo. Ou para
ou faz direto. Tudo bem, se ela ficar sem fazer, ela vai atrofiá tudo.
(...) Já tem quase ano que ela não tá fazendo. Então não adianta.
Agora, se começar agora, ela vai sentir dor tudo de novo. Porque
os movimento que faz, dói, porque o nervo tá parado. (C16E1-46)
Duas cuidadoras utilizam estratégias para suprir a deficiência do serviço de
fisioterapia por meio da rede social de relacionamentos.
A moça ficou fazendo fisoterapia por uns tempo aqui em casa aí
depois conseguiu a vaga pra ele, saiu a vaga pra ele no H. S. P. Aí
a gente levou ele pra lá e ele ficou cinco mês lá no H. S. P.
fazendo fisoterapia. Aí depois de cinco mês ele voltou pra casa,
agora tá em casa esperando pra ver se sair outra vaga pra fazer
fisoterapia. (C6E1-5)
... ele estava inerte na cama, ele mexia pouco com as mãos, com
os pés nada. E agora a gente tem uma filha dum vizinho nosso
aqui em cima, que ela tá formando em fisioterapia, aí eu falei com
ela: "Vai lá, faz uma visita e vê como que mexe com ele, como é
que faz."Ela veio aqui: "Arruma uma bolinha faz isso, aquilo outro."
Aí nós compramos uma bolinha pra ele. Eu marquei uma consulta
com o Dr. R. ele ficou espantado: "Mas o seu A. tá...só tá faltando
andar." (C18E1-13)
Diante das dificuldades do SUS apresentadas pelas cuidadoras, algumas
optam pela utilização da saúde suplementar na tentativa de garantir o acesso da
pessoa cuidada aos serviços e continuidade do tratamento, mesmo reconhecendo
que é oneroso para os familiares.
Segundo Veras (2003), o atual sistema de atenção à saúde é precário,
desorganizado, não criando condições para que os recursos sejam utilizados
melhor e adequadamente. Também nos países desenvolvidos, os gastos com a
144
saúde dos idosos são elevados, mas os recursos são aplicados de forma judiciosa
e resolutiva.
Saúde suplementar
Cinco pessoas cuidadas possuem planos de saúde. Duas pessoas
cuidadas estão em internação domiciliar por seus respectivos planos. As outras
três não possuem em seu contrato a modalidade de atenção domiciliar.
A filha de uma das quatro pessoas cuidadas que pagam um plano de saúde
conta com uma equipe multiprofissional composta de médico, enfermeira,
nutricionista e fisioterapeuta para o cuidado no domicílio, que são acessados
quando necessário. Uma cuidadora relatou que optou por esse plano de saúde
pela garantia da retaguarda de um hospital e de ambulância para realizar a
remoção em caso de urgência. Salientou que o pagamento do plano no valor de
R$450,00 tem impacto no orçamento familiar.
Dela pago 450 de convênio, mas eu não posso deixar porque a
gente, tudo bem, você consegue, mas e pra ela, se ela precisar
urgente, e não tiver um hospital para dar apoio. Bem que a gente
pensava, mas vai fazer o quê? Então...aí fui obrigada porque tem
médico domiciliar (...) Ele vem uma vez por mês, mas quando o
quadro tá pior, ele vem sempre. Aí vem a enfermeira que é a H.
quando tem... igual ela tava cheia de negócio ela veio, deu a
pomada, e quando melhorou ela falou: “Agora eu venho daqui um
mês, mas se tiver alguma coisa, você me liga.” Tinha a
nutricionista, tinha a fisioterapeuta. Vão que ela precise os hospital
entra tudo em greve, como é que você faz? Aí você tem que
pagar. Aí, esse é o pesado, a U. é o pesado. (C8E1-31)
Tem ambulância, eles pegam, mas eles não trazem. Quando
interna a gente paga táxi. (C8E1-47)
145
O plano de saúde de outra pessoa cuidada, era pago por seu filho que
colocou a pessoa cuidada como dependente. A quantia aproximada de R$300,00
era descontada na folha de pagamento do filho. Fornecia assistência domiciliar de
equipe multiprofissional, todos os medicamentos e materiais médico-hospitalares,
bem como as fraldas geriátricas descartáveis. Esses dados podem ser
evidenciados no relato do diário da pesquisadora
(C10DP1-2).
O convênio é da C. e tem o serviço de internação domiciliar. É o
convênio, meu irmão que paga. Ah, agora tá uns trezentos e
pouco, porque é antigo. Se ele ficar internado fica tudo por conta
da C. eu não pago nada, até fralda eles tem que dar. (C10E1-8)
Ela me informou que o valor das fraldas e dos medicamentos é
pago pelo plano de saúde após visita de auditor em sua casa. O
plano é da C., o seu irmão trabalha nessa firma e ele sempre
pagou o seu plano, agora que veio precisar mais. Fomos no quarto
e observei que o leito é hospitalar sendo que tem um colchão tipo
caixa de ovo em cima do outro, tinham três balas grandes de
oxigênio, aspirador de secreções e suporte de soro, tudo do
serviço de internação domiciliar. A pessoa cuidada estava com
punção venosa, coletor urinário, e traqueostomia por onde recebe
oxigênio. Na mesa tinha medicamentos, frascos de soro, e vários
materiais médico-hospitalares. Existia também um prontuário com
o nome de toda a equipe que presta atendimento a ele: médico,
enfermeira, fisioterapeuta, nutricionista e dois técnicos de
enfermagem. (C10DP1-2)
Utilizei os critérios da ANVISA (2003) para a avaliação de elegibilidade da
pessoa cuidada para o serviço de assistência domiciliar. Apliquei-os na pessoa
cuidada da C10. Para a classificação do grau de dependência utilizei a tabela do
NEAD (DAL BEN, GAIDZINSKI, 2007) (ANEXO 14) chegando à avaliação de
complexidade.
Para o Programa de Internação Domiciliar a pessoa cuidada necessitaria de
146
12 horas de cuidados profissionais atingindo o valor
4
de R$2.325,00 por 30 dias.
Inferi que esta quantia extrapola o orçamento domiciliar das famílias do nosso
estudo.
A classificação da complexidade de cuidados de saúde realizada com o
cálculo da assistência domiciliar foi utilizada devido à recusa de fornecimento de
dados das empresas que prestavam atendimento domiciliar, no momento da
coleta de dados, para a pessoa cuidada do estudo que se encontrava em
internação domiciliar.
Entretanto, mesmo na saúde suplementar, existem planos de saúde que
não apresentam a modalidade de atenção domiciliar. No caso de uma terceira
pessoa cuidada, o valor do plano é descontado na aposentadoria da filha. A
cuidadora relatou que, quando necessita da visita de um médico, a remuneração
no valor de R$180,00 é realizada separadamente, o que onera o orçamento da
família. Se se considerar o salário mínimo, essa quantia representa 51,4%, sem
levar em conta os gastos com a alimentação, higiene, medicamentos, fraldas,
artigos de limpeza, utilização de eletricidade e água, o que contribui para elevar os
gastos com o cuidado no domicílio.
Não tenho condições de levar ela no médico. Era importante se o
médico viesse na casa. Eu pago plano de saúde,
mas o plano de
saúde que eu pago também não manda em casa, pra mandar eu
teria que pagar. (...) o médico vai, mas cobra R$ 180,00. Não
tenho condições de pagar R$ 180,00 pro médico vir aqui em casa,
vão dizer de mês em mês, de dois em dois meses. O salário que
4
VALÉRIO, M. H. (Comunicação pessoal) Através de contato telefônico, foi informado: o home care dispõe de
atendimento de saúde domiciliar prestado por uma equipe multiprofissional de saúde aos clientes estáveis
clinicamente, que são classificados em três níveis de assistência: alta complexidade: requer atenção de
enfermagem por 24 horas. Valor da assistência: R$155,00/24hs. Média complexidade: enfermagem por 12
horas. Valor da assistência: R$77,50/12 hs. Baixa complexidade: procedimentos de enfermagem. Disponível
no site: <www.hospitalresidencia.com.br/
>. Acesso e contato telefônico em: 12 jan. 2007.
147
eu recebo é o quê? (...) eu não tenho condições de ficar levando.
Mas graças a Deus, como ela também não sente as coisas, ela
não queixa, não fico levando. Igual a A. combinei de ela vir aqui,
mas assim ela vem particular, ela não vem pelo INPS, ela vem
pelo particular, então é assim que acontece. (C3E1-25)
Uma quarta pessoa cuidada relatou que o valor do plano de saúde de
R$300,00 é descontado na folha de pagamento de sua esposa. A cuidadora
informou que foi solicitado serviço de atenção domiciliar mas esse benefício ainda
não se efetivou.
A PV é paga. Minha mãe que paga ela. Ah, ela paga 600,00 reais
por mês, só pros dois. Mas também é um plano, assim, meu pai
ficou lá dois meses internado...Lá no S. éh... tratamento vip. Se
pedir tem, é fisioterapeuta, é fonoaudiólogo. Mas ele não
conseguiu. Mas a gente não conseguiu ainda. Que não é todo
mundo que faz, entendeu, dentro do plano. (C17E1-26)
No caso da quinta pessoa cuidada que tem plano de saúde, o valor de
R$160,00 é descontado de sua aposentadoria. (Anotado no diário da
pesquisadora: C15DP1-9).
Ao analisar os dados apresentados pelas cuidadoras foi possível inferir que,
se os familiares das pessoas cuidadas não possuíssem plano de saúde, não
teriam condições financeiras de arcar com as despesas do cuidado domiciliar.
O menor valor dos planos de saúde é de R$160,00 e o maior é de
R$450,00, o que representa impacto no orçamento dos familiares das pessoas
cuidadas. Das 17 pessoas cuidadas deste estudo 29,4% possuem plano de
saúde.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
148
2007) a população brasileira atual é estimada em 187.927.409 habitantes e a ANS
(ANS, 2007) estima que aproximadamente 37 milhões de consumidores utilizam a
saúde suplementar, o que representa 19,8% da população brasileira é assistida
com os planos privados de saúde no país.
Mas, mesmo na saúde suplementar, existem planos de saúde que não
apresentam a modalidade de atenção domiciliar, negando o direito do idoso
estabelecido no Estatuto do Idoso: Capítulo IV, “Do Direito à Saúde”, e artigo 15, &
1º: a prevenção e manutenção da saúde do idoso serão efetivadas por meio de
atendimento domiciliar, incluindo a internação, para a população que dele
necessitar e esteja impossibilitada de se locomover (BRASIL, 2004). Sendo assim,
acredito que seria responsabilidade também dos planos de saúde e da rede
pública de serviços de saúde a atenção domiciliar do idoso quando atende aos
critérios de elegibilidade para essa modalidade de cuidado.
7.4.2 Gastos com o cuidado no domicílio
Essa sub-categoria apresenta os seguintes temas: ‘Orçamento apertado’,
‘Medicamentos’, ‘Alimentação’, ‘Instrumentos para a execução do cuidado’,
‘Artigos de consumo’, e ‘Transporte’.
Orçamento apertado
No geral, as cuidadoras relatam que vivenciam um orçamento apertado.
Elas procuram, de várias formas, equilibrar o orçamento e garantir o mínimo e o
básico para a sobrevivência da família e do cuidado no domicílio.
149
Uma cuidadora relatou que se esforça para evitar que a pessoa cuidada
“adoeça” e assim piore a situação do orçamento familiar. A cuidadora falou que
busca forças espirituais para vencer a sobrecarga da tarefa do cuidado no
domicílio e equilibrar o orçamento. Marques (2003), em estudo etnográfico com o
objetivo de compreender a experiência de familiares cuidadores que prestavam os
cuidados diários a um parente doente, sem possibilidades terapêuticas de cura, no
ambiente domiciliar; apreendeu dos discursos das informantes, que a força
propulsora para o cuidado é a fé em Deus, independente da religião. No presente
estudo, as cuidadoras evocaram Deus nas mais diversas situações, como um
suporte em que se pode confiar sempre.
Tô pedindo a Deus que ela num adoeça não. Porque se ela
adoece o negócio complica pra mim. Porque a gente vai lutando,
lutando, e a gente não agüenta ficá enfrentando o hospital. A
idade que ela tá, ela não fica sozinha no hospital. Eu não tenho
condição de pagar a ninguém pra ficar lá. Igual eu já enfrentei
muito, a gente tinha que pagar. Eles pedia aí R$ 25,00 pra ficar
uma noite com ela no hospital. Eu paguei de uma noite ou duas, o
resto a família teve memo que sofrer e vim do serviço e ficá lá pra
descansar eu. Senão a gente não guenta! Então eu tô pedindo a
Deus que ela não adoeça não! (C9E1-39)
Essa mesma cuidadora tentou remunerar uma empregada doméstica, mas
concluiu que não possui condições financeiras para esse gasto. Nesse relato,
novamente a cuidadora mencionou Deus como apoio e companheiro na realização
do cuidado, revelando uma crença religiosa e uma esperança de que pode vencer
os desafios do cuidado diante da falta de recursos humanos e financeiros:
Tem veiz que às veiz a gente sente que não tá dando conta,
pensa às veiz em pagar uma pessoa pra tomar conta. A gente
pensa pra lá e pra cá é difícil. Porque a gente vai pô uma pessoa
150
pra ajudar e as veiz não tem condição, pra pagar aquela pessoa.
Eu teve uma veiz que eu mandei aí uma menina que veio do
interior que ficou comigo. Ela ficou comigo, ela não resistiu mais
que um mêis. Quando eu vi que as coisa tava complicando, e ia
complicá, antes de complicá eu falei: "Ô minha fia eu não tenho
nada que reclamar do cê, mas as coisa eu já medi e não dá pra
ocê ficá comigo, e não tenho condição de te dar um dinheiro. E
além disso ela tinha a menininha dela que eu tinha que cuidá, do
mesmo que eu tratava da mãe eu tinha que tirá pra menininha
dela. "Então, é melhor ocê ir embora". Aí eu falei: "Eu vou
enfrentar sozinha memo com Deus" (C9E1-42)
Para Giacomin, Uchoa e Lima-Costa (2005, p. 1.514), “essa crença
religiosa tampona sofrimentos individuais, mas também colabora para minimizar a
responsabilidade social pelo cuidado e esconde a descrença nos aparelhos
públicos existentes”. Dessa forma, a sobrecarga do cuidado no domicílio fica entre
quatro paredes, no íntimo solitário do cotidiano das cuidadoras, não ultrapassa o
ambiente privativo, não tem repercussões na esfera política.
Uma entrevistada falou das dificuldades financeiras da família que conta
como orçamento familiar o valor de um salário mínimo. Ela relatou que, para a
compra de fraldas, medicamentos e frutas foi necessária a ajuda do irmão.
...Nossa Senhora, Jesus amado, num dá pra nada! Compra fralda,
compra remédio, tem ajuda dos filhos, claro...Num caso assim,
faltou a fralda...P. compra. Faltou o norfloxacina...P. compra, mas
é, tem uma carne, a gente não consegue manter assim um
ritmo...é muito pouco. É um suco, é uma coisa assim supérfulo,
porque o pobre, o pobre muito pobre, que vive só de trezentos e
pouco por mês ele passa apirrêio. Ele passa dificuldade na
vida...chega no mei do mês, pra mim fazer um suco de laranja,
natural, bonitim, pra resfriado, gripe, cê tem que deixar de fazer
outra coisa pra cê ir ali e comprar meia dúzia de laranja. O pobre
num passa fome não, mas pra ele manter ali a vidinha, pra
manter...uma alimentação, ele passa aperto. (C7E1-6)
Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-
151
econômicos (DIEESE, 2007), o salário necessário para cobrir os itens definidos na
Constituição do Brasil capazes de atender as necessidades vitais básicas e das
famílias como: moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene,
transporte e previdência social, em novembro de 2006, seria de R$1.613,00,
considerando uma família de dois adultos e duas crianças sendo que estas
consomem o equivalente a um adulto (DIEESE, 2007).
A família da C7 tem uma pessoa idosa, e duas adultas, com a renda familiar
de R$720,00 (C7P1), valor insuficiente considerando o salário necessário,
segundo o DIEESE, sem considerar os gastos com o cuidado domiciliar. Para
compensar esse déficit, nesse caso, os familiares dão o suporte necessário, na
compra de frutas, carne, fraldas e dos medicamentos não fornecidos pelo SUS.
Uma única entrevistada falou que as tarifas de água e luz também causam
impacto para quem sobrevive com um salário mínimo.
E aperta pra gente, porque 350 reais não é dinheiro pra gente
manter. Porque quem leva mesmo é o próprio governo, porque ele
leva na luz, eu tenho um tanquinho aí eu não tô nem ligando, pra
ver se diminui a água, a luz tá 67 se liga alguma coisa, tem hora
que a Cemig manda aí 80 reais, 80 e tantos, a água minha é 80 e
tantos. (C13E1-34)
Nesse caso considerado, o valor das duas tarifas foi o equivalente a
R$160,00; atingindo 46% do salário mínimo. Essa pessoa cuidada utilizou durante
30 dias o equivalente a 62 fraldas (C13P1-2) no valor total de R$65,72
5
. Segundo
o DIEESE a cesta básica de alimentos para Belo Horizonte, em novembro de 2006
5
Utilizado como referência o valor da fralda descartável de uso adulto, tamanho: média, apresentação: pacote
com 30 unidades. Marca: 1 Preço: R$31,92. (R$31,92÷30unidades=R$1,06)- 62xR$1,06=R$65,72
Disponível em: <www.rimed.com.br
>. Acesso em: 11 de janeiro 2007.
152
foi o equivalente a R$179,25. Somando-se esses três itens (tarifas, fraldas, cesta
de alimentos), o valor encontrado é R$404,97 o que ultrapassa o salário mínimo
dessa pessoa cuidada. Considerando as outras despesas com medicamentos,
artigos de limpeza e higiene (C13P1-2) a quantia equivalente a um salário mínimo
é insuficiente para as despesas da pessoa cuidada.
Essa mesma cuidadora relatou a ajuda dos netos para a compra das
fraldas.
Agora que ela tá doente a fralda é mais, então tem dia que ela fica
sem fralda aí, então quando a minha sobrinha que chama eu de
vovó, a minha neta ela trazia a fralda pra ela, agora esse que tá
trabalhando também quando falta a fralda, ele compra pra ela, eu
compro. Porque não dá pra sustentar o mês todo e ela não pode
ficar sem. (C13E1-25)
Nesse caso relatado, moram na casa outros dois adultos que dividem as
despesas. Segundo a cuidadora, é necessário que os netos auxiliem na compra
de fraldas para a pessoa cuidada considerando que o valor da aposentadoria da
pessoa cuidada é insuficiente para manter todas as suas despesas.
Os dados demonstraram que as pessoas cuidadas que possuem plano de
saúde privado também passam por dificuldades econômicas e se esforçam para
mantê-lo. Quando uma cuidadora estava trabalhando, ela gastava até R$1.000,00
com os medicamentos e fraldas para seu pai que se encontrava em internação
domiciliar. Verificou-se também o aumento nas contas de luz, devido à utilização
de aspirador de secreções, o que não foi contabilizado. A pessoa responsável
ficou desempregada e exigiu a presença de um auditor do plano de saúde para
153
que assumissem as despesas do cuidado no domicílio.
Antes eu gastava, mas como eu fiquei desempregada, eu pedi
prum auditor vim aqui e ver a casa primeiro. Aí ele veio, expliquei a
situação, e falei assim: “Olha, antes eu tinha uma renda de x, só
que agora, só a farmácia dele com fralda com tudo fica mais de
1000 reais, 900 por mês. Como que eu vou poder parar de
trabalhar e cuidar dele com a farmácia desse preço? Não tem
condição. Aí vocês vão ter que pensar aí. Se eu parar de trabalhar
eu não vou poder ter uma despesa dessa aí não.” Porque só o...
aquele aparelho pra poder aspirar, o aspirador, já gasta, aí tinha o
outro pra fazer a micro, cortei e falei assim “Não vou usar, vou
fazer no oxigênio”. Aí tá fazendo no oxigênio. Eu falei assim: “Eu
não posso. Eu tenho que cortar tudo”, porque a água, a luz, já
aumentaram. (...) Então isso pra mim já é gasto, eu tenho que
passar a roupa dele todo dia, não tem como. (C10E1-46)
Essa mesma cuidadora relatou que o valor dos atendimentos ambulatoriais
realizados cobrados pelo plano de saúde é dividido em 5 vezes para desconto na
folha de pagamento, o que onera o orçamento familiar.
Vamos supor, se ele passar mal for só no hospital fazer algum
exame e voltar, então é cobrado. Aí tem que pagar. Sabe, aí por
mês tem uns descontos. Eles dividem em tudo em 5 vezes. Bom,
em janeiro pra variar ele ficou no B. Nós ficamos um dia com ele.
Nove da manhã, saímos às nove da noite. Seiscentos e pouco.
Teve que pagar. (C10E1-13)
Para uma pessoa cuidada que não possui familiares que assumem o
manejo do orçamento, a cuidadora informal se responsabiliza pelo controle do
valor da aposentadoria e o pagamento das tarifas de luz, água, telefone, com as
despesas de alimentação, medicamentos e o salário das cuidadoras.
É 1.000,00 reais... se fosse pagar um salário pra cada uma, a
aposentadoria num dava, cê tem que controlar esse dinheiro muito
bem, ter que manter a casa, pagar as conta, (...) ela tem que ter
154
uma alimentação mais ou menos, senão acaba adoecendo e
fica mais caro. Graças a Deus, ela é uma pessoa que nunca
adoeceu depois que eu entrei aqui, tem essa doença dela aí que é
mal de Parkinson, mas nada mais. Então eu tenho que rebolar pra
ela ter um dinheiro assim, quando é assim uma fruta ou uma coisa
assim, meu genro tem uma loja de fruta no Ceasa, aí ele traz. Do
meu salário eu tiro e pago pras duas, agora como eu vou viajar eu
já num vou receber, então quem vai receber é a outra que vai ficar
no meu lugar, é assim que a gente controla...Uma pessoa só aqui
num tem jeito, que é 24 horas, de dia e de noite. (C15E1-52)
155
medicamentos são comprados pelos familiares. Apreendi que o suporte financeiro
familiar é importante para a execução do cuidado no domicílio. As entrevistadas
relataram que se apegam a Deus para terem força interior para exercer esse
cuidado com as dificuldades que se apresentam. Para as pessoas com renda
familiar de até três salários mínimos, a contratação de um cuidador informal ou
mesmo uma empregada doméstica para diminuir a sobrecarga das tarefas
domésticas e do cuidado domiciliar, mostrou-se inviável.
Segundo as informantes do estudo de Marques (2003), as dificuldades
financeiras influenciam na qualidade do cuidado prestado, mesmo se tratando das
necessidades básicas como alimentação e medicamentos. Os dados que analisei
também apontam que as dificuldades financeiras interferem na qualidade do
cuidado e da vida das cuidadoras.
Medicamentos
A sistematização dos dados das planilhas evidenciou que 70% das famílias
assumem os gastos com medicamentos e também os adquirem pelo SUS; 18%
adquirem somente pelo SUS e 12% compram medicamentos (ANEXO 15). O
maior valor de medicamentos foi de R$376,55 (ANEXO 16) e o menor valor
encontrado foi de R$4,40.
Como as cuidadoras não registraram o valor dos medicamentos, foi
necessário fazer levantamento de preços dos dados das planilhas em site
6
6
Foi utilizado como referência o site: <www.consultaremedios.com.br>. Acesso em: 11 de janeiro 2007.
156
específico. Apenas uma cuidadora registrou o valor dos medicamentos utilizados
pela pessoa cuidada (C14P1-2).
Para Silveira, Osório e Piola (2002), em estudo que discute as principais
características dos gastos das famílias brasileiras a partir da POF e da PNAD, nas
famílias das pessoas que pertencem aos 90% mais pobres da população, a maior
parte das despesas com saúde é com a compra de medicamentos.
As entrevistadas relataram que os analgésicos, anti-hipertensivos,
hipoglicemiantes e ansiolíticos são fornecidos pelo SUS de forma irregular. Já
antibióticos, bronco-dilatadores, colírios e medicamentos para Doença de
Parkinson representam impacto no orçamento doméstico por serem comprados.
As pessoas cuidadas utilizam também medicamentos tópicos, anti-depressivos,
remédios para constipação intestinal, anti-ácidos e para hipotireoidismo,
geralmente adquiridos pela família.
Alimentação
Somente uma cuidadora fez o registro do valor dos alimentos nas planilhas
(C8P1-2). Cinco cuidadoras registraram os alimentos utilizados, sem anotação do
valor. Os dados do valor da alimentação registrados por essa cuidadora foram
calculados pela consulta de preços em supermercado
7
. O menor valor gasto com
alimentação foi R$41,40 e o maior valor foi de R$226,30 (ANEXO 17).
7
Dados incompletos que foram valorizados pelos preços do supermercado DMA Distribuidora S/A – Belo
Horizonte- MG- Consulta realizada dia 18-01-2007
157
Uma cuidadora disse que não tem condições de comprar frutas, pois a sua
renda é somente de um salário mínimo.
Não, eu nem compro fruta pra mim direito, sabe, falá a verdade,
porque não tem condições pra isso, como é que vai comprar? A
gente que ganha salário mínimo não tem condições de ficar
comendo fruta não. Compro uma vez assim, vou lá compro uma
banana assim, mas pêra, uva, essas coisa é de vez em quando,
então eu falo mesmo, é de vez em quando, eu não uso isso não.
(C13E1-39)
Uma cuidadora relatou que faltam frutas e leite para a alimentação da
pessoa cuidada, por limitação do orçamento familiar.
Bom..., faltá, falta. Mas a gente não tem condições, fazê o quê,
então... vive do que dá, do que tem condições. Falta assim uma
fruta, alguma coisa melhor, (...) ela gosta de tomar um leite. O que
tem come, o que não tem, não come. O importante é que o arroz
com feijão não falta. (C2-E1-15)
Outra cuidadora relatou que houve aumento do consumo de alimentos após
adoecimento da pessoa cuidada. Acrescentou que a mesma dieta oferecida para a
sua mãe é também oferecida para a tataraneta considerando que convivem na
mesma casa. Preparam vitamina de frutas com leite e sopa com legumes, todos
triturados no liquidificador, devido a dificuldade de deglutição. Utilizam também
farinha de cereal com preparação instantânea e enriquecida com vitaminas, e
também suplemento alimentar.
(...) todos os dias gastam isso pra ela e a gente faz a sopa dela.
Tem a sopa todo dia, tem a vitamina de frutas que a gente faz
batendo, então é frutas a mais e legumes a mais. (...) A gente
gasta a mais do que gastava antes dela adoecer. E na fruta aí, já
158
tinha, mas acontece que agora faz a vitamina pra ela e põe o leite.
(...) É vitamina, porque compra pra ela e pra J. aí faz junto, com a
da neném. O que faz a sopinha da minha avó é da neném, o que
faz a vitamina é da neném também, é igualzinho. Igual hoje por
exemplo, quase dez horas eu dei pra ela vitamina de frutas e a J.
tomou. (...) Tem que ser batida no liquidificador. Você faz a sopa
com pedaços, ela cospe, então você tem que bater, batendo ela
toma no canudinho todinho. (...) Então o que faz pra ela, faz pra J.
Então é uma lata de farinha enriquecida por mês, uma lata de
suplemento alimentar por mês. (C3E1-27)
Essa mesma cuidadora disse que são oferecidos também, iogurtes.
Gelatina, doce e queijo são comprados somente quando a pessoa cuidada solicita.
E dou ela gelatina quando ela quer, dou ela farinha enriquecida
com vitaminas, suplemento alimentar. Compro iogurtes tudo isso
eu compro pra ela, tudo diferente. Doce que ela quer eu compro,
dia que ela fala: "Estou com vontade de comer um pedacinho de
queijo". Vou lá, compro o queijo. A gente tem sempre, mas às
vezes ela pede e se não tenho eu vou lá e compro. Essas
despesas que a gente tem que ter mesmo. (C3E1-21)
Uma entrevistada informou que segue todas as orientações da nutricionista
e, dessa forma, a pessoa cuidada não apresentou perda de peso. A dieta é para
diabético e são utilizados legumes, carne, arroz, feijão e macarrão para o preparo
de sopas. Na vitamina de frutas a cuidadora utiliza leite. O mingau também é
preparado com leite e farinhas industrializadas e enriquecidas e acrescentada uma
colher de óleo. Todos esses alimentos são preparados, triturados no liquidificador
e coados para serem administrados pela sonda de jejunostomia.
Ela não emagreceu, porque era pra emagrecer. Que quem toma,
igual, você põe aqui, você põe trezentos ml de vitamina mais
duzentos de água. Isso é de hora em hora, eu dou água, eu dou
suco. Quer dizer, era pra emagrecer, mas não emagrece porque
eu sigo à risca o que ela falou. Mingau eu ponho leite, ponho
159
farinha de cereal. Ponho uma colher de leite em pó e uma colher
de óleo. Na vitamina dela de frutas, todas as frutas que a gente
compra, põe leite que ela manda por, põe cenoura, só que o dela
separa pra não por açúcar . A sopa dela... tudo quanto é verdura
que você imaginar, eu ponho. Eu ponho carne, feijão, arroz ou
macarrão. Bate tudo, côa, pra passar porque senão não passa.
(C8E1-44)
Conforme o preenchimento da planilha, os gastos com alimentação
totalizaram R$226,30 (C8P1-2). Se se considerar o salário mínimo, esse valor
representa 64,6%, o que onera o orçamento familiar, sendo que as outras
despesas da pessoa cuidada devem ficar sob a responsabilidade de outros.
Uma cuidadora falou que a dieta da pessoa cuidada é pouco condimentada,
hipolipídica, hipossódica e pastosa
. São oferecidos sucos também.
(...) a comida dela é assim (...) é com 'isso' de óleo, na carninha
moída eu nem ponho óleo, (...) pitadinha da sal, que tem que ser
muito assim...ó, arroz tem que ser bem cozidinho, quase que sem
sal, o feijão bem batidinho quase que sem sal...pra num engasgar,
e assim a comida dela assim é temperadinha, mas porém assim,
(...) pouco tempero, muito pouco e e óleo quase que nada, no
feijão e no arroz, é tem que ser um nada, cê faz uma verdurinha é
muito pouco (...) assim, a comida dela é essa. Muito suco, ela
bebe água, muita água assim. C15E1-30)
Outra cuidadora oferece alimentos como macarrão com caldo de feijão,
iogurte e vitamina de frutas. O leite é oferecido com farinha industrializada
enriquecida com vitaminas.
Ela usa leite, que ela não come, só na hora do almoço que eu
uma sopinha pra ela. Aí mais é leite com farinha enriquecida e
industrializada, iogurte, vitamina, que eu dô. Eu dô sopinha de
macarrão, eu côo o feijão, faço com macarrão fininho, é o que ela
come. Tudo que tivé assim um carocinho, um trem quarquer, ela
cuspe fora. Mais é a sopinha de manhã, aí de tarde eu nem dô
160
comida de sal para ela não, porque ela custa assim cumê quando
é de manhã, aí de tarde eu dô leite, com farinha enriquecida e
industrializada, dô iogurte. (C4E1-13 )
Conforme a planilha da C4 (C4P1) a alimentação da pessoa cuidada é
composta de leite, iogurte e farinha de cereal industrializada e enriquecida com
vitaminas. Não houve registro de alimentos reguladores como as frutas e legumes.
Vale ressaltar que, nesse domicílio, moram a cuidadora, dois filhos da cuidadora e
a pessoa cuidada. Os dois filhos não têm renda e o orçamento familiar é
constituído por dois benefícios: o da pessoa cuidada e o da cuidadora, como foi
relatado no diário da pesquisadora (C4DP, folha sete); o que configura uma
questão social quando o idoso cuidado é arrimo de família. Em 2005, 65,3% dos
idosos foram consideradas pessoas de referência no domicílio (IBGE, 2007).
Dessa forma, dois salários mínimos para quatro pessoas se alimentarem são
insuficientes o que pode influenciar a condição nutricional da pessoa cuidada.
Caldas (2003, p.777) afirma que “embora o idoso brasileiro nos estratos
mais pobres da população contribua com sua renda para o sustento da família,
nem sempre ele recebe o respaldo de que necessita, tanto por ser insuficiente o
recurso quanto pelas dificuldades que a família encontra para dele cuidar”.
Ao analisar os discursos das cuidadoras, verifico que a alimentação das
pessoas cuidadas geralmente é preparada especialmente para elas e adaptada
conforme a situação sócio-econômico-financeira, ao gosto da pessoa cuidada
quando essa consegue opinar e conforme as condições de deglutição. Existem
cuidadoras que relataram sobre a dificuldade em comprar frutas, pois a renda é
161
somente o salário mínimo, valor insuficiente para uma alimentação adequada.
O estudo de Najas et al. (1994) ao pesquisarem sobre o padrão alimentar
de 283 idosos do sexo masculino e feminino pertencentes ao projeto multicêntrico
"Identificação de Necessidades dos Idosos Residentes em Zona Urbana do
Município de São Paulo", estratificados por nível sócio-econômico em três regiões
do Município de São Paulo, SP, verificou-se que mais de 85% dos indivíduos têm
por hábito consumir frutas, verduras folhosas e legumes mas, ao se avaliar o
consumo diário, verificou-se que o consumo é mais freqüente na região de melhor
nível sócio-econômico. A alimentação adequada e suficiente está diretamente
relacionada ao poder aquisitivo dos familiares da pessoa cuidada.
Evidencia-se, também, pelos discursos das cuidadoras, que geralmente as
dietas são pastosas, hipossódicas, hipolipídicas e para diabéticos, quando têm
alguma doença associada que requer dieta especial. A maioria das cuidadoras
relatou a utilização do leite associado a farinhas de cereal enriquecidas e também
suplemento alimentar. As cuidadoras que têm condição financeira relatam que
oferecem frutas, sucos, vitaminas de frutas, gelatina, iogurte, queijos e doces.
A deficiência alimentar não é um problema só das famílias das pessoas
idosas cuidadas no domicílio, mas de muitos brasileiros. Para superar esse
problema, em 15 de setembro de 2006, o governo brasileiro promulgou a Lei Nº
11.346 que cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN)
com vistas a assegurar o direito à alimentação adequada, com destaque ao artigo
3º:
162
A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do
direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de
acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em
quantidade suficiente sem comprometer o acesso a outras
necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares
promotoras de saúde que respeitam a diversidade cultural e que
sejam ambiental, cultural e econômica socialmente sustentáveis
(BRASIL, 2006c).
Essa lei é mais um instrumento de que a população pode fazer uso,
principalmente os grupos de maior vulnerabilidade social, como é o caso das
pessoas cuidadas de que trata este estudo.
Instrumentos para a execução do cuidado
Esse tema revelou-se ao se perguntar, à pessoa cuidada, se ela tinha os
materiais para a execução do cuidado no domicílio e qual a forma de sua
obtenção. Apresenta os sub-temas: ‘Cadeira de rodas e de banho’, ‘Cama
hospitalar’ e ‘Outros instrumentos’.
Cadeira de rodas e de banho:
Em sua maioria, as pessoas cuidadas utilizam cadeira de rodas para banho
e locomoção para tomar banho de sol ou se dirigir aos serviços de Saúde.
Uma cuidadora falou que a cadeira de rodas foi emprestada pela nora da
cuidadora.
A cadeira foi minha nora que emprestou, que o pai dela teve
derrame, já milhorou, já tá andando, aí ela arrumou pra mim.
(C6E1-19)
Outras cuidadoras também conseguiram as cadeiras de rodas e de banho
163
por meio de empréstimo.
Cadeira de rodas foi o meu irmão lá no Glória que conseguiu, e a
de banho foi de uma dona que eu conhecia. O neto dela tinha
tomado um tiro, ele ficou deficiente, perdeu as perna, aí ela não
tava usando a cadeira e ela me arrumô a cadeira. (C4E1-18)
Tô até preocupada, têm tempos que tô com essa cadeira. (...) É da
LBA, ela emprestou a primeira vez, ficou uns dois mês. Ela pegou
andar de novo, aí num tava precisando mais, entreguei. Com pôco
a mãe torna arruiná de novo, torno a pegá emprestado. Taí até
hoje. A de banho também é emprestado, do moço também.(C9E1-
16)
Somente uma cuidadora relatou que a cadeira de rodas de sua mãe foi
comprada por meio de financiamento e o valor de R$500,00 foi dividido entre os
irmãos, cada mês um irmão pagava uma parcela.
Ela ficou mais de quinhentos reais, ela foi financiada. A gente não
comprou a vista. Compramos a cadeira, depois trocamos o pano,
porque, de vez em quando, não tem jeito, acaba rasgando, com a
umidade não tem jeito. (C16E1-32)
Outra cuidadora relatou que não tem espaço para a movimentação de uma
cadeira de rodas para o banho. Para transportar e dar o banho na pessoa cuidada
utiliza uma cadeira de PVC.
Muita gente já falou comigo: "I. cê num acha mais fácil, cê
conseguir uma cadeira de roda?" Porque pra gente dar banho
nela, o banheiro é alí fora, é preciso eu pegá ela aqui pela cintura,
minha irmã pega pelos pé, quando ela num tá trabaiano ela vem
aqui, ela me ajuda, ela pega pelos pés e a gente leva ela no
banheiro, senta ela na cadeira e dá o banho, pra trazer pra dentro
é a mesma coisa...tem dia que eu dou conta eu pego ela em peso,
ela também pega, mas tem dia que a gente tá mais fraco num dá
conta. Ai é muito complicado, eu falei, cadeira de rodas pra quê?
Pra ficar na área aqui, pra ir até lá no portão da rua e voltar, aqui
dentro num tem espaço não, pra cadeira de rodas. (C14E1-34)
164
Atualmente, a variação do preço
das cadeiras de roda, segundo
levantamentos que realizei
7
é de R$162,50 a R$1.572,22 a. As cadeiras
motorizadas são no valor de R$5.761,26 e R$10.156,69, que são inacessíveis
para os familiares das pessoas cuidadas, sujeitos deste estudo. As cadeiras de
banho
8
variam de R$95,00 a R$769,93.
Quanto à cama hospitalar, somente quatro pessoas cuidadas as utilizam.
Três camas hospitalares foram disponibilizadas por meio de empréstimo.
(...) a mãe de um amigo nosso faleceu, ela também tinha
Alzheimer, então ele emprestou a cama (...) (C8E1-16)
Aí, quando aconteceu o negócio, o pessoal falou assim: “Você não
vai ter condição, não”. Eu falei: “Eu vou provar pra vocês que eu
tenho condição, sim”. Aí eu consegui a cama hospitalar... arrumei
tudo aqui, pintei o quarto. (C18E1-8)
E essa cama eu custei muito tempo pra eu consegui, essa cama
que tem aí agora. Consegui agora, tem um ano, minha amiga
conseguiu pra mim. Lá onde ela mora, no Laguna, tinha um
pessoal que tinha essa cama, aí o moço morreu, aí eu falei com
ela: "Procura saber de quem é a cama, como eles conseguiram a
cama, aí cê arruma pra mim. " Ela procurô sabê, era de uma
mulher que morava lá. Ela tinha comprado a cama pra mãe dela,
só que a mãe dela não durou muito tempo, e ela fica doando a
cama prus outro, aí tem um ano que a cama tá aqui comigo,
emprestada. (C4E1-19)
Outra pessoa cuidada utiliza uma cama hospitalar alugada, o valor não foi
revelado. O aluguel mensal de uma cama hospitalar é aproximadamente R$60,00
9
A cama hospitalar facilita a execução do cuidado e auxilia na prevenção de
postura inadequada para a cuidadora impedindo doenças relacionadas à falta de
8
Foi utilizado como referência o site: <www.rimed.com.br>. Acesso em: 11 de janeiro 2007.
9
Consulta realizada dia 18/01/2007 em uma loja de aluguel e venda de cadeira de rodas, cadeira de banho,
camas hospitalares, etc; na área hospitalar de Belo Horizonte-MG.
165
ergonomia. Seria interessante a disponibilidade de camas hospitalares pelo
serviço público, para utilização das pessoas cuidadas no domicílio.
A gente teve até que alugar cama hospitalar, pra ficar mais fácil,
porque essas cama é muito baixa. (C17E1
-13)
Outros instrumentos:
Com base no registro no diário da pesquisadora (C3,C8,C6,C11,C15) das
anotações, no diário das cuidadoras e nos discursos das entrevistadas verifiquei a
existência de outros equipamentos que auxiliam o cuidado no domicílio que foram
comprados pela família como: aparelho
10
de pressão digital de pulso automático
(R$255,06)
aspirador
10
de secreções portátil (R$211,09) vaporizador
101
(R$54,05),
tala (C6DC1) adaptada para locomoção (R$148,00), bengala (C6DC1)
(R$220,00),
comadre
101
(R$10,82), andador
101
(R$67,01), espaçador (C15P1-2)
de medicamento em aerosol (75,68) e artigo para colocar no vaso sanitário para
facilitar o uso de pessoas com deficiência motora e colher adaptada para
alimentação da pessoa cuidada (C6DP2-5, folha 19).
Em alguns casl0.2(foo (R Tw 6(C8,C6)6.36(C8f) )]h(R çãocbaix-6.4ao d)-4.3e,C6issãouotiad(s pels)
166
Ele tem o colchão dele normal e um outro colchão...caixa de ovo.
(C18E1-50)
Atualmente são disponibilizados vários produtos que auxiliam na prevenção
de úlceras de pressão. No caso citado, a cuidadora comprou uma almofada
d’água higiênica
11
(bóia) no valor de mercado por R$28,90 e um colchão anti-
escaras (colchão caixa de ovos), no valor de R$30,84, ambos similares ao
adquirido pela cuidadora. Esses artigos, quando associados a outras medidas de
prevenção de feridas como mudança de decúbito, higiene adequada, uso de
creme hidratante na pele, avaliação das áreas de pressão, dieta equilibrada e
tratamento de doenças e agravos, possibilitam economia na prevenção de feridas
de pressão (BACKES et al., 1999). Considerando um tratamento de escara sacral
no valor
12
de R$600,00 e a compra dos artigos (almofada e colchão) no valor de
R$69,74 tem-se uma economia de R$530,26, além do bem estar da pessoa
cuidada e da imensurável satisfação dos familiares pelo fato da pessoa cuidada
não apresentar feridas.
Uma cuidadora falou que o aspirador de secreções, as balas de oxigênio, o
suporte de soro, a cama, a cadeira de banho e o colchão caixa de ovo foram
emprestados pelo serviço de internação domiciliar do plano de saúde.
O aspirador de secreções, as balas de oxigênio, o suporte de soro,
a cama, a cadeira de banho e o colchão caixa de ovo, pertencem
ao serviço de internação domiciliar.
(C10DP1-1)
11
Foi utilizado como referência os valores do site: < www.rimed.com.br >. Acesso em: 11 de janeiro 2007
12
Foi utilizado como referência os valores do site: < www.socurativos.com.br >. Acesso em: 11 de janeiro
2007.
167
O Estatuto do Idoso, Capítulo IV, do direito à saúde, conforme artigo 15, &
2º menciona que incumbe ao Poder Público o fornecimento de medicamentos,
especialmente de uso contínuo, assim como próteses, órteses, e outros recursos
relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação da pessoa idosa (BRASIL,
2004).
Nesse sentido, as cuidadoras poderiam requisitar todos esses materiais e
equipamentos, se tivessem a informação.
Os instrumentos para a execução dos cuidados (aspirador de secreções,
umidificador, andador e cadeira de rodas) além de ser considerados bens
duráveis, (duram mais de um ano), não foram comprados durante o período da
pesquisa. Durante a coleta de dados houve somente o registro da compra de um
liquidificador para o preparo de dieta artesanal e vitaminas de frutas, para a
pessoa cuidada (C8P1), e um espaçador de medicamento em aerosol (C15P1-2).
Artigos de consumo
Considerei como artigos de consumo os seguintes itens: ‘Fralda geriátrica
descartável’, ‘Produtos de higiene/Cuidados com a pele’, ‘Vestuário/roupas de
cama’ e ‘Produtos de limpeza’.
Fralda geriátrica descartável:
A análise dos dados permite afirmar que a fralda geriátrica descartável é o
artigo que mais causa impacto no orçamento familiar da pessoa cuidada, no tema
artigos de consumo.
168
Uma cuidadora faz economia de fralda descartável utilizando lençol
dobrado, mas aumenta o trabalho em lavá-lo; e há os gastos com o sabão e a
água que não são mensurados por ela.
...tem mês que aperta, tem mês que é mais controlado, tem mês
que às vezes precisa de comprar um remédio alguma coisa,
aperta mais. Às vezes dá um gasto maior de fralda também. Eu
economizo muita fralda nela, porque se eu for pôr assim, à
vontade memo, trocar direitinho memo a gente nem consegue dá
conta não! Com esse dinheirinho dela não dá conta. Então eu
levo muito na economia com ela. Tem vez que eu ponho lençol
dobrado mas aí dá mais mão de obra pra mim, porque eu preciso
tá lavando né. A fralda favorece mais, eu creio assim se colocar
fralda pelo menos três veiz por dia já favorece mais. (C9E1-15)
Outra cuidadora informa que a pessoa cuidada faz uso de fraldas e
absorvente geriátrico noturno. Ao fazer o cálculo verifiquei que um pacote
contendo 10 unidades de absorvente
13
geriátrico tamanho único: R$4,39x3=
R$13,17. R$190,00 (valor fornecido pela cuidadora) +R$13,17= R$203,17 o que
corresponde 58% do salário mínimo.
Fralda gasta são cinco por dia. E ainda tem aquele grande
também o absorvente que a gente põe à noite.
(C8E1-50)
Outra entrevistada falou que durante o período de internação, o uso de
fraldas aumenta e o benefício previdenciário da pessoa cuidada é insuficiente para
os seus gastos.
Dependendo do uso, do que precisa dá. Igual a época que ela
esteve internada teve que comprar fralda descartável, então, o
dinheiro não dá (...) (C1E1-2)
13
Foi utilizado como referência os valores do site: <http://\www.rimed.com.br >. Acesso em: 17 de janeiro de
2005
169
A freqüência de troca de fraldas geriátricas descartáveis varia de uma a
seis por dia e o valor varia de R$31,80 a R$190,00 (ANEXO 18) no período de 30
dias. Considerando o salário mínimo, o valor gasto com as fraldas (R$190,00)
equivale a 54,3%, inviável para quem recebe somente um salário mínimo de
benefício previdenciário, o que acontece com 94% das pessoas cuidadas
retratadas neste estudo.
Onze das 17 pessoas cuidadas (65%) estavam utilizando fraldas no período
da pesquisa. Seis pessoas cuidadas não estavam utilizando fraldas descartáveis,
entretanto, as cuidadoras relataram que já utilizaram quando foram hospitalizadas.
Sena et al. (2004), em estudo sobre o trabalho das cuidadoras informais,
relataram que foi evidenciada a dificuldade em adquirir material como fraldas e
sondas, que são necessários para a realização do cuidado no domicílio.
Material médico-hospitalar:
Dez pessoas não utilizam material médico-hospitalar (52,94%). Quatro
pessoas (23,52%) compram todo o material médico-hospitalar. Apenas duas
pessoas (11,76%) utilizam o material médico-hospitalar fornecido pelo SUS, e uma
utiliza o material fornecido pelo plano de saúde. O maior valor é de R$57,00 e o
menor valor é R$2,50 (ANEXO 19).
Os materiais médico-hospitalares identificados neste estudo foram: material
para a realização de curativo: gazes de algodão, soro fisiológico, fita crepe,
esparadrapo anti-alérgico, e também: coletor urinário, luvas de procedimento,
seringas descartáveis e equipos para administração de dieta pela jejunostomia.
170
Produtos de higiene e cuidados com a pele da pessoa cuidada:
As cuidadoras relataram outros artigos consumidos que foram relacionados,
ao se perguntar como é o dia-a-dia da pessoa cuidada. As cuidadoras falaram do
banho e dos produtos de higiene utilizados para o banho e para a hidratação da
pele tais como: sabonete, creme hidratante para o corpo e para os pés, lenços
umedecidos, gazes de algodão, cotonete, protetor solar, óleo de girassol, e
desodorante, o que auxilia na manutenção e integridade da pele.
Os registros dos dados das planilhas com relação a esse sub-tema
estavam incompletos sendo impossível a análise. Foi realizada consulta em
farmácia para a verificação dos preços dos produtos de higiene e cuidados com a
pele. Sendo assim, os valores foram calculados e apresentados. Oito cuidadoras
fizeram o registro e os valores totais dos produtos consumidos variaram de R$1,35
a R$46,49. O valor médio gasto em produtos de higiene e cuidados com a pele,
dentre as pessoas que fizeram registro é de R$13,23 (ANEXO 20).
Produtos de limpeza:
Ao se orientar o preenchimento da planilha sobre o item material de
limpeza, os discursos das cuidadoras abordaram o tema.
Devido a maior quantidade de roupas a serem lavadas em função do
cuidado no domicílio, uma cuidadora falou que o gasto do sabão em pó aumentou.
O uso de água sanitária também aumentou devido a desinfecção do banheiro
171
após sua utilização pela pessoa cuidada.
(...) sabão em pó. Gasto mais, por causa da lavação todo o dia.
Minha menina fica: "Mãe a senhora precisa lavar roupa todo o dia,
não, descansa!" Mas não tem jeito, quando eu falo que vou
descansar não tem jeito, tem que lavar. Tem uma roupa que cê
num pode guardá ela, tem que lavá. Então eu jogo pra lá e já tô
lavando. É, eu compro água sanitária pra desinfetá banheiro,
cabou de tirá ela ninguém entra, eu uso, limpo pra eles. (C9E1-35)
O uso de sabão em pó, desinfetante e água sanitária foi mencionado por
outra cuidadora como aumento da quantidade utilizada depois de se iniciarem as
atividades de cuidado no domicílio.
É... sabão, água sanitária, é...um desinfetante que tem que tá
limpando aqui dentro, tem que tá passando porque o cheiro da
urina dela tem um cheiro muito forte, por causa do diabete...tem
que tá usando constantemente, nesse ponto aí aumentou.
(C14E1-20)
Uma entrevistada relatou que houve aumento do uso de álcool que é
utilizado na desinfecção das roupas da pessoa cuidada
.
A roupa dele é lavada separada mesmo. Aí eu ponho álcool pra
poder bater. Mas sabão é o mesmo, aí eu o ponho amaciante e
ponho o álcool pra desinfetar. Mas eu lavo separado. (C17E1-33)
Houve apenas um registro de valor pela cuidadora, na planilha, sobre o item
material de limpeza. Três cuidadoras registraram o item sem mencionar o valor, fiz
um levantamento de preços, de cada item, num supermercado
14
.
14
Dados incompletos que foram valorizados pelos preços do Supermercado DMA Distribuidora S/A- Belo
Horizonte- MG- Consulta realizada dia 18-01-2007
172
O maior valor gasto foi R$20,64 e o menor foi R$7,96 (ANEXO 21). O valor
médio gasto em material de limpeza, dentre as pessoas que registraram os dados
é de R$13,36.
As cuidadoras mencionaram a utilização de: sabão em pó, sabão em barra,
desinfetante, água sanitária, álcool, e amaciante de roupas, para limpeza das
roupas e do ambiente das pessoas cuidadas.
Vestuário/Roupas de cama
Os discursos das cuidadoras foram revelados ao se orientar o
preenchimento da planilha sobre o item vestuário/roupas de cama.
Uma cuidadora revelou que houve aumento do uso de roupa de cama, mas
não foi contabilizado o custo.
Igual essa irmã que eu falei, ela manda muita rôpa de cama, acha
que já tá velha, mais usada, então ela manda, nossa, usa muita
rôpa de cama! Se não fosse ela, nó, era difícil! (C4E1-21)
Um cuidador falou da necessidade de reposição de lençóis, e da troca de
colchão.
Roupa de cama, nós estamos usando, hoje mesmo eu vou
encontrar com a M. filha da Dona H. que eu quero fazer com ela
uma lista pra mim comprar é... lençol, que o lençol é esse que
prende do lado aqui, que ele já tem, já veio dele lá, quero comprar
mais uns dois ou três e comprar... e trocar o colchão. (C18E1-49)
Outra cuidadora relatou o aumento da freqüência das lavagens das roupas
e a necessidade da reposição de roupas de cama, refletindo no aumento da conta
173
de luz devido ao uso de máquina de lavar, porém não foram contabilizados.
(...) já tem noite que ela mija bastante, no outro dia molha cobertor,
molha a blusa que ela mija muito e o xixi vem até as costa, molha
blusa, bermuda...a gente tem que tá trocando, tem que tá
lavando...a luz, porque tem que tá lavando na máquina, eu uso a
máquina pra lavar, pra centrifugar...gasta muita roupa de
cama...isso aí ela gasta bastante mesmo. Eu vi esses
aumentos...os lençol vai indo, vai lavando todo dia, ele vai ruindo,
rasga tudo, aumenta, aumentou muito. (C14E1-18)
Uma entrevistada falou da necessidade de reposição de peças de
vestuário; foi observada, mas não foi considerada prioridade para a cuidadora. A
cuidadora comentou que um pijama foi orçado em R$40,00, o que representa
11,4% do salário mínimo. Entretanto, as peças de vestuário só são adquiridas
quando há disponibilidade de recurso financeiro.
Calcinha, pijama, igual agora ela tá precisando de outro pijama. Eu
fui ali, eu não tenho tempo de ir na cidade, porque na cidade eu
sei que encontra mais barato, igual assim na M.. Trinta e nove
reais, quase quarenta reais num pijama! E ela tá precisando de um
pijama, porque ela só tem um, ela tem dois pra trocar, mas um é
fininho, pra calor, e um pra frio. Então ela tá precisando de outro
pra não precisar ficar lavando às pressas, porque eu mesmo lavo
o pijaminha dela. E roupa tem que tá sempre renovando, uma
blusa de frio, ela tá precisando de uma blusa de frio, mas tem de
sobrar o dinheiro pra comprar. Porque ela engordou muito, perdeu
muita roupa. (C12E1-60)
Verifiquei também que, devido a um orçamento apertado, as reposições do
vestuário não são a prioridade, sendo a alimentação a prioridade máxima.
Porque roupa a gente não compra todo dia, mas alimentação tem
que ter todo dia
(C12E1-73)
As cuidadoras relataram que o vestuário, e principalmente as roupas de
cama precisam ser repostas devido às lavagens freqüentes, mas não é possível
174
pelo déficit no orçamento familiar.
O tema ‘Artigos de consumo’ é composto de cinco sub-temas e, para
valorizar os dados coletados, foi construído o GRAF. 1 com os maiores valores de
cada um dos itens considerados: fraldas, material médico-hospitalar, produtos de
higiene e material de limpeza.
O sub-tema vestuário/roupas de cama não foi considerado, pois não houve
registro de aquisição. Somente foi relatada a necessidade de comprar peças de
vestuário e de roupas de cama.
GRÁFICO 1
175
Transporte da pessoa cuidada
Os discursos das cuidadoras foram revelados ao se orientar o
preenchimento da planilha sobre o item transporte.
Uma cuidadora utiliza serviço de táxi de um parente para o transporte da
pessoa cuidada quando suas condições físicas e motoras assim o permitem.
Tem um amigo nosso, um primo que tem táxi, aí ele pega ela.
Agora não sei como que vai ser. Porque do jeito que tá... ela ainda
senta. Mas a gente tá evitando de levar ela pro hospital. (C8E1-48)
Outra cuidadora conta com o auxílio de um parente. No momento, esse
parente se encontra ocupado com estudos, não sendo possível ajudá-la. A
cuidadora não quer solicitar auxílio aos vizinhos para não incomodá-los.
Não tem médico ali, para eu sair com ela é difícil, porque não tem
carro, tem que ficar chamando os outro, fica amolando um e outro.
Eu tinha um sobrinho que vinha, mas agora ele está fazendo uns
curso então fica difícil de ele vim. (C4E1-26)
Essa entrevistada utiliza o SAMU para situações de emergência.
Outro dia, ela estava chiando, ficô ruim, num parava de jeito
nenhum, tava cansada, cansada, aí eu chamei o SAMU, aí eles
vieram. Aí levaram pra Policlínica, não tinha jeito de colocá ela lá,
levaram lá pro Eldorado, chegou lá eles fizeram eletro, fizeram
exame de sangue, os médico achou que era princípio de enfarte
que tava dando, tirou raio X, não deu nada. (C4E1-29)
Uma entrevistada informou que o benefício da pessoa cuidada é
insuficiente para cobrir a conta de transporte quando é necessário. Essas
despesas são pagas pelo filho da pessoa cuidada.
176
É, sempre precisa porque sempre tem de comprar um remédio a
mais. E a gente paga, igual agora nós pagamos a água dela,
quando precisa de levar no médico, tem de pagá um carro. Então
sempre precisa completar um pouco. (C1E1-1)
Outra entrevistada relatou que utilizou o serviço de táxi para o
deslocamento da pessoa cuidada para o banco. O valor pago foi de R$30,00.
Igual mesmo em setembro tenho que levar, o mês passado eu
paguei R$30,00 reais um cara, tem um cara aí que ele vira e mexe
ele sempre leva, o L. Ai ele vem aqui na porta, pega, ele vai
comigo no banco, leva ela, ele fica esperando do lado de fora por
R$30,00 reais a cada vez...ai é na Caixa Econômica lá no Padre
Eustáquio, a gente vai lá, ai ela renovou a senha, agora em
setembro ela tem que fazer um censo senão ela perde. Aí já vai
sexta-feira eu ter que levar ela lá de novo, mais R$30,00 reais.
(C14E1-31)
As cuidadoras utilizam geralmente táxi ou veículo de familiares para o
transporte das pessoas cuidadas. O SAMU é utilizado somente em urgências.
Esse tipo de gasto também causa impacto no orçamento doméstico. Caldas
(2003), em artigo sobre as demandas e responsabilidades da família que cuida de
idosos com dependência, alerta que o transporte adequado é um dos fatores que
contribui para o aumento dos gastos com o cuidado no domicílio considerando que
quando as pessoas cuidadas conseguem tratamento ambulatorial quase sempre
não tem disponibilidade do transporte contribuindo assim para o círculo vicioso:
doença, falta de tratamento, e aumento dos gastos.
Pelos discursos das cuidadoras e pela análise das planilhas, inferi que a
prioridade dos gastos com o cuidado no domicílio são medicamentos,
alimentação, fraldas e planos de saúde.
177
A sistematização dos gastos totais com os cuidados no domicílio têm
melhor visualização no GRAF. 2. Se considerar que o pagamento de internação
domiciliar da pessoa cuidada fosse realizado pelos familiares, sem dúvida esse
seria o maior gasto com o cuidado no domicílio: R$2.325,00. Em 2º lugar, são os
planos de saúde (R$450,00) e, em 3º lugar, são os medicamentos (R$376,55).
Para todos os itens utilizei o maior valor encontrado com o propósito de
valorização dos dados coletados. No tema artigos de consumo, foram também
somados os maiores valores dos itens: fraldas, material médico-hospitalar,
produtos de higiene e produtos de limpeza.
GRÁFICO 2
63%
12%
10%
9%
6%
Internação
Domiciliar
Plano de
Saúde
Medicamentos
Alimentação
Artigos de
Consumo
Gastos com o cuidado no domicílio no período de 30 dias
178
Não foram incluídos no GRAF. 2 o custo do transporte da pessoa cuidada
porque não há registro de utilização durante o período da pesquisa, nem as contas
de luz e de água pois só obtive um registro.
Segundo Ramos (2003), a principal fonte de suporte, para a população
idosa, é a família, principalmente aquela que vive em domicílios multigeracionais.
O estudo de Ramos (2003) apresenta dados do primeiro inquérito populacional de
seguimento com idosos desde 1991 na cidade de São Paulo, sendo um dos
objetivos apontar os fatores que determinam um envelhecimento saudável.
O estudo demonstrou que 94% das pessoas cuidadas recebem benefício
previdenciário no valor de R$350,00, mas esse valor é insuficiente para as
despesas com pagamento de planos de saúde, medicamentos, alimentação e
artigos de consumo. Sendo assim, os familiares assumem os custos com o
cuidado no domicílio. Além de contribuírem com a execução do cuidado, abdicam
de suas vidas pessoais em função da pessoa cuidada.
179
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observei, ao analisar os dados da pesquisa, que a pessoa cuidada e a
cuidadora interagem e têm, como interseção, o cuidado. A marca desse cuidado é
que é a dedicação das cuidadoras, em sua maioria, parentes e mulheres.
Percebi que a atenção à pessoa cuidada tem uma polaridade entre os que
falam da dedicação, carinho e respeito com a pessoa cuidada e os que
apresentam dificuldades na interação com o idoso chegando até ao descuido
(neste estudo, houve apenas um caso). Considero que o respeito às deficiências
cognitivas e motoras dos idosos associadas ao estímulo ao auto-cuidado são
aspectos identificados como facilitadores do cuidado de saúde no domicílio. As
cuidadoras apontam como dificultadores, no relacionamento com o idoso, as
singularidades das pessoas cuidadas, as mudanças cognitivas próprias das
patologias que os idosos apresentam e as condutas de alguns profissionais de
Saúde.
O cuidado no domicílio propicia um ambiente onde é possível que as
cuidadoras expressem atenção à pessoa cuidada e estimulem sua autonomia, o
que considero como atitudes humanizadoras, que são contrapostas, com os
ambientes institucionais que têm um padrão rígido de normas e rotinas que
balizam as relações com os usuários e seus familiares.
Reconheço que as cuidadoras foram impelidas a se adaptar à situação de
dependência da pessoa cuidada, bem como aprenderam as técnicas de cuidados
180
sem terem capacitação específica. Verifiquei a inexistência de programas de
capacitação e acompanhamento para os cuidados no domicílio. A aprendizagem
dos cuidados de saúde bem como o manuseio dos instrumentos e saberes
próprios dos profissionais de Saúde ocorreram por esforço próprio, durante as
observações na realização do cuidado, e pelas explicações dos profissionais
durante o período de internação. As cuidadoras aprenderam também com vizinhos
e com os profissionais da equipe de Saúde da Família. Mas, apesar de todas as
dificuldades relatadas pelas cuidadoras, elas apresentam relativa autonomia na
execução do cuidado de saúde no domicílio e no desempenho desse novo papel.
Constatei que são recomendáveis programas para orientação e
acompanhamento das cuidadoras informais que necessitam ser norteadas sobre
os cuidados de saúde, bem como noções das patologias das pessoas cuidadas.
Precisam conhecer as peculiaridades do processo saúde-doença do idoso, e de
novos conhecimentos para estabelecerem novas práticas com as pessoas
cuidadas. Especialmente frente à possibilidade de agravos e intercorrências no
domicílio e na prioridade e essência das relações de subjetividade que
estabelecem e regem o cuidado. É fundamental que os profissionais de Saúde
sejam sensibilizados e capacitados quanto aos aspectos conceituais do cuidado
no domicílio.
As cuidadoras estão envolvidas com as tarefas de cuidado nos períodos
diurno e noturno transformando o cotidiano em um fazer e (re) fazer, o que exige
tempo, paciência, esforço e energia. Atividades como banho, controle das
eliminações, troca de roupas de cama e do vestuário, preparo e administração de
181
dietas e administração de medicamentos fazem parte do cotidiano das cuidadoras
juntamente com as atividades domésticas. Esse fazer contínuo potencializa as
causas dos agravos da saúde das cuidadoras e impede que realizem tratamento
de saúde oportuno e adequado.
A prevenção e o tratamento dos problemas de saúde das cuidadoras
também devem ser considerados em um programa de apoio, com
acompanhamento, podendo contribuir para sua qualidade de vida possibilitando a
continuidade do cuidado no domicílio, e influenciando positivamente na redução
ou adiamento da institucionalização da pessoa cuidada. Recomendo que ações
políticas direcionadas à modalidade de cuidado no domicílio considerem as
desigualdades sócio-econômicas das famílias especialmente as relações de
gênero. Esse suporte aos cuidadores familiares representa um novo desafio para
o Sistema de Saúde brasileiro e para os profissionais que assistem as pessoas no
domicílio tendo que romper com as concepções dos modelos hegemônicos,
construindo novas possibilidades e modalidades de cuidado na rede de Serviços
de Saúde.
Na maioria dos casos do estudo, as cuidadoras não recebem apoio para
compartilharem a execução do cuidado no domicílio. Algumas, além de cuidar da
pessoa idosa, também cuidam de outro parente que necessita de sua atenção. A
participação dos cuidadores secundários permitiria que a cuidadora principal
realizasse atividades como ir à consulta médica, participar de alguma recreação,
ter momentos livres para desfrutar de ocupações que consideram agradáveis ou
que sejam necessárias. Essa seria uma forma de proporcionar bem-estar, que
182
está intimamente relacionado com a saúde mental e influi diretamente na atividade
do cuidado realizado no domicílio. Outra medida interessante pode ser a criação
de hospitais-dia ou outros dispositivos, como a experiência bem sucedida da
Saúde Mental, com disponibilidade de transporte, alimentação, medicação, bem
como a atenção de equipe muti-profissional com médico, enfermeiro, auxiliares e
técnicos de Enfermagem, assistente social, psicólogo, terapeuta ocupacional,
fisioterapeuta, nutricionista, e outros que se fizerem necessários. Poderão ser
criadas novas estações de cuidado que acolhem os idosos com dependência ou
não das atividades da vida diária para o cuidado por períodos, permitindo às
cuidadoras tempo para trabalhar, estudar, cuidar de sua própria vida e de sua
própria saúde.
Verifiquei também que a rede de solidariedade evidencia-se no cuidado
domiciliar pelo empréstimo de cadeiras de rodas para banho e locomoção.
Entretanto o maior apoio, sem dúvida, é o da família que se mostra fundamental
para o processo do cuidado no domicílio, como executora desse cuidado e como
financiadora das despesas que ultrapassam o benefício previdenciário da pessoa
cuidada.
O SUS tem contribuído parcialmente com as famílias disponibilizando
medicamentos, realizando os atendimentos de urgências e emergências,
disponibilizando consultas médicas e transporte da pessoa cuidada. Todavia essa
assistência é desarticulada entre as instâncias da cadeia de atenção à saúde,
descontínua e sem priorização do atendimento ao idoso. Mesmo assim, a
183
assistência do SUS contribui significativamente na redução dos gastos com o
cuidado no domicílio apesar dos familiares não mensurarem essa contribuição.
Diante das deficiências do SUS apresentadas pelas cuidadoras, algumas
optam pela utilização da Saúde Suplementar na tentativa de garantir o acesso aos
serviços e à continuidade do tratamento da pessoa cuidada, mesmo
reconhecendo que é oneroso para os familiares.
Acredito que, com a promulgação da Portaria 2.529, que institui a
Internação Domiciliar no âmbito do SUS, considerando o incentivo do MS para
implantação e implementação das equipes de atenção domiciliar, haverá estímulo
à implantação de programas de atenção domiciliar.
O estudo do custo com o cuidado domiciliar não foi um trabalho simples,
considerando que as famílias não mensuram ou contabilizam os gastos com as
pessoas cuidadas em casa. Não valoram o aumento de gastos com energia
elétrica, água nem do trabalho de quem cuida. Foi mais revelador o que elas
fazem e como fazem. Foi necessário recorrer à consulta de preços para os itens
listados nas planilhas para se chegar a um gasto aproximado da família com
alimentação, medicamentos, artigos de consumo, serviço de internação domiciliar
e instrumentos para a execução dos cuidados.
O estudo demonstrou que todas as pessoas cuidadas recebem benefício
previdenciário no valor de R$350,00, mas esse valor é insuficiente para as
despesas com pagamento de planos de saúde, medicamentos, alimentação e
artigos de consumo. Sendo assim, os familiares assumem os custos com o
cuidado no domicílio, além de contribuírem com a execução do cuidado de forma
184
exclusiva, abdicam de suas vidas pessoais em função da pessoa cuidada.
Entretanto, com a diminuição da fecundidade, as mudanças econômico-sociais na
estrutura da família brasileira e a incorporação da mulher no mercado de trabalho,
fica uma pergunta: Os familiares conseguirão arcar com todas as
responsabilidades e demandas do cuidado domiciliar para o idoso com
dependência para as AVD?
Devido os limites da pesquisa qualitativa, por ser reduzido o número de
informantes, sugiro a realização de estudos demográficos com o objetivo de
avaliar o impacto econômico e social que o cuidado no domicílio para os idosos
com dependência das AVD exerce na família. E também qual o impacto na vida
das cuidadoras considerando-se as perdas de oportunidades de trabalho e de
convívio social, de lazer, enfim, a perda da qualidade de vida. Outra sugestão para
estudo é a avaliação das repercussões físicas, emocionais, psicológicas,
econômicas e sociais da sobrecarga do cuidado no domicílio para as cuidadoras.
Sugiro também a elaboração de programas de atenção específicos para os
idosos fragilizados com mudanças na porta de entrada, reorganização do modelo
assistencial a fim de que se priorize o atendimento a essa parcela da população
que é portadora de doenças crônicas e incapacitantes que consomem uma
parcela considerável de recursos da Saúde. Esses programas devem ser
baseados na prevenção e com vistas ao envelhecimento saudável. O PSF pode
ser um aliado na priorização da atenção domiciliar, principalmente para os que
apresentam dependência para as AVD. Os profissionais de saúde devem ser
conscientizados da importância dessa priorização.
185
Espero que este estudo ontribua para a discussão das responsabilidades e
necessidades do cuidado no domicílio para os idosos que apresentam
dependência para as atividades da vida diária face ao aumento da expectativa de
vida da população brasileira. Espero também que os resultados desta pesquisa
sensibilizem os formuladores de políticas públicas para que estabeleçam medidas
de apoio intersetoriais e integradas para os idosos.
Considero que os dados coletados eram dados brutos, como pedras que
precisavam ser lapidadas e, várias vezes, sonhei com cristais e pedras semi-
preciosas coloridas: verde, lilás, azul, amarelo. Essas pedras eram grandes e
brutas, elas eram o meu tesouro e eu tinha um enorme ciúme delas, não queria
que ninguém as visse daquela forma, sem serem trabalhadas, lapidadas, porque
eu sabia que elas escondiam muita beleza e eram muito valiosas. Assim sendo,
espero que eu tenha conseguido lapidar as minhas pedras de tal forma que elas
mostrem toda a realidade, toda a verdade, toda a singularidade e toda a beleza
que as cuidadoras expressaram em seus depoimentos sobre o cotidiano do
cuidado no domicílio.
186
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196
ANEXOS
ANEXO 01 - Indicadores de Autonomia nas
Atividades da Vida Diária - Índice de Katz
Às Equipes de Saúde da Família do Distrito Ressaca do município de Contagem
O Índice de independência ou autonomia nas Atividades da Vida Diária (AVD) é
usado para avaliar as habilidades dos idosos ou pacientes crônicos na performance
essencial para as funções da vida diária - banhar-se, vestir-se, usar o banheiro, controlar
das necessidades fisiológicas básicas, movimentar-se e alimentar-se. Para delimitar a
amostra de pessoas que recebem assistência no domicílio, solicitamos que cada área,
das funções descritas abaixo, seja preenchida de acordo com a característica que se
aplica ao idoso. Ao final, deveremos classificar a pessoa em seu Índice de Katz.
¾ Banhar-se (com compressa , banheira ou chuveiro).
( ) Não recebe assistência - Independente
( ) Recebe assistência ao lavar somente uma parte do corpo (costas ou pernas,
por exemplo) - Independente
( ) Recebe assistência ao lavar mais que uma parte do corpo (ou não toma
banho) - Dependente
¾ Vestir-se (apanha roupas do armário e gavetas incluindo roupas íntimas, roupas
externas, inclusive, cintas, caso necessite).
( ) Paciente pega roupas e se veste , completamente, sem assistência –
Independente
( ) Pega as roupas e se veste sem assistência, exceto para calçar e/ou amarrar
os sapatos - Independente
197
( ) Recebe ajuda para pegar roupas e vestir-se ou permanece parcial ou
completamente despido – Dependente
¾ Usar o banheiro (ir ao banheiro para evacuar e urinar, em seguida, limpar-se e
arrumar as roupas).
( ) Vai ao banheiro, faz uso do sanitário, limpa-se, arruma as roupas sem ajuda
(pode estar usando apoio como bengala, andador ou cadeira de rodas e pode
fazer uso de comadre ou urinol à noite, esvaziando o mesmo pela manhã) –
Independente.
( ) Recebe assistência para ir ao banheiro ou para se lavar ou arrumar a roupa
após eliminação ou uso de urinol à noite – Dependente.
( ) Não vai ao banheiro para evacuar ou urinar - Dependente.
¾ Movimentar-se
( ) Deita-se e levanta-se da cama tão bem como se senta ou levanta da cadeira
sem ajuda (pode fazer uso de objeto de apoio como bengala ou andador) -
Independente
( ) Deita-se ou levanta da cama ou cadeira com assistência – Dependente
( ) Não sai da cama - Dependente
¾ Controlar os esfíncteres
( ) Controla urina e evacuação completamente - Independente
( ) Tem “acidentes” ocasionais - Dependente
( ) Necessita de supervisão para urinar ou defecar; utiliza cateter ou tem
incontinência – Dependente
¾ Alimentar-se
( ) Alimenta-se sem ajuda - Independente
198
( ) Alimenta-se só, exceto cortar carne ou passar manteiga no pão-Independente
( ) Recebe assistência para alimentar-se ou é alimentado parcial ou
completamente com sonda, ou líquidos intravenosos – Dependente
¾ Como obter o Índice
1. Observar o número de funções Dependentes (D) e Independentes (I) e
relacionar com as alternativas (de A até Outros).
2. A letra obtida será o Índice de Katz.
¾ Alternativas
Grau A – Independente em todas as suas funções.
Grau B – Independente em tudo, com exceção de uma das funções.
Grau C – Dependente para banhar-se e em mais uma outra função.
Grau D – Dependente para banhar-se, vestir-se e em mais uma outra função.
Grau E – Dependente para banhar-se, vestir-se, ir ao banheiro e em mais uma
outra função.
Grau F – Dependente para banhar-se, vestir-se, ir ao banheiro, locomover-se e em
mais uma outra função.
Grau G – Dependente para todas as suas funções.
Outros – Dependente em, pelo menos, duas destas funções, mas não está
classificado como C, D, E ou F.
ÍNDICE DE KATZ ( )
Fonte: KATZ, S.; DOWNS, T. D.; CASH, H. R. Progress in development of the index of ADL.
Gerontologist. 1970, p. 20-30.
199
ANEXO 02 - Roteiro de reunião com os ACS do Distrito Ressaca
Reunião com os ACS do Distrito Ressaca
DIA: 24/03/2006 HORÁRIO: 13 as 16 horas
LOCAL: Auditório da Coordenação do Distrito Ressaca
¾ Assuntos:
- Lista de presença
- Apresentação/ Crachá
- Solicitação para que todos se apresentem
- Banner
- Nome da pesquisa
- Conceitos: cuidado, cuidado domiciliar, cuidador (1º construção deles)
- Objetivos
- Cenário
- Sujeitos
- Instrumentos para coleta de dados
- Entrevista
- Aspectos éticos
- Apresentação da pesquisadora- TCLE
- Carta para as ESF
- Leitura do Índice de Katz/discussão
- Apresentação da planilha/discussão
- Bibliografia
- Orçamento
- Esclarecimento de dúvidas
- Contatos- Agradecimentos
- Avaliação
- Lanche
200
ANEXO 03 - Solicitação às ESF do Distrito Ressaca no município de
Contagem para atualizar o mapeamento das pessoas cuidadas no domicílio.
Belo Horizonte, março de 2006
Prezados Senhores,
Estamos desenvolvendo um projeto de pesquisa intitulado “Cuidado de saúde do
idoso, no domicílio: os custos para os familiares, no município de Contagem”, que
faz parte do Curso de Mestrado da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de
Minas Gerais, sob a orientação de Profª Drª Roseni Rosângela de Sena e co-orientação
de Profª Drª Alda Martins Gonçalves.
Esta pesquisa se justifica pelo aumento da expectativa de vida e da prevalência
das doenças crônico-degenerativas e, em face às políticas de desospitalização e
humanização, verificando a necessidade de alterar prioridades para o uso dos leitos
hospitalares. Dessa forma, é essencial implementar ações assistenciais diferenciadas no
hospital-dia e em domicílio como espaço privilegiado para o cuidado.
Esse estudo tem como objetivos analisar o gasto financeiro e identificar o apoio
referente ao cuidado no domicílio, utilizado pelos familiares, aos indivíduos acima de 60
anos, no Distrito Ressaca do município de Contagem.
Sendo assim, solicitamos-lhes a atualização do mapeamento realizado em 2003
com o nome das pessoas cuidadas no domicílio e o grau de dependência, segundo o
Índice de Katz (1970). A orientação sobre o preenchimento desses indicadores segue
anexa.
Através da atualização do mapeamento das pessoas que recebem cuidado
domiciliar, delimitaremos aquelas que constituirão a amostra do estudo. É importante
201
esclarecer que os informantes desta pesquisa serão os cuidadores das pessoas
identificadas e que a coleta de dados será realizada pela pesquisadora.
Certas de contar com a colaboração de todos, colocamo-nos à disposição para
quaisquer esclarecimentos. Antecipamos nossos agradecimentos.
Atenciosamente,
________________________________
Hosana Ferreira Rates
Pesquisadora
_______________________________
Profª Drª Roseni Rosângela de Sena
Professora orientadora
______________________________
Profª Drª Alda Martins Gonçalves
Professora co-orientadora
202
ANEXO 04 - Carta à Secretaria Municipal de Saúde
da Prefeitura de Contagem – MG
Belo Horizonte, 02 de fevereiro de 2006
Sra. Dra. Lídia Maria Tonon
Secretária Municipal de Saúde de Contagem
Solicitamos sua autorização para realização da pesquisa: “Cuidado de
saúde do idoso, no domicílio: os custos para os familiares, no município de
Contagem-MG”, que estamos desenvolvendo no Curso de Mestrado da Escola
de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais, sob a orientação da
Profª Drª Roseni Rosângela de Sena e co-orientação da Profª Drª Alda Martins
Gonçalves.
A escolha deste município se deve ao fato da inserção da mestranda,
Hosana Ferreira Rates, como servidora pública desde fevereiro de 1993, e pelo
potencial para a implantação de serviço de Internação Domiciliar.
Esta pesquisa se justifica pelo aumento da expectativa de vida e da
prevalência das doenças crônico-degenerativas e em face às políticas de
desospitalização e humanização, verificando a necessidade de alterar prioridades
para o uso dos leitos hospitalares. Dessa forma, é essencial implementar ações
assistenciais diferenciadas no hospital-dia e no domicílio como espaço privilegiado
para o cuidado. Em 2002, a população das pessoas acima de 60 anos era de
34.666 anos – 6,22% da população, segundo dados do IBGE.
Esse estudo tem como objetivos analisar o gasto financeiro e identificar o
apoio referente ao cuidado no domicílio, dos familiares, aos indivíduos acima de
60 anos com dependência de todas as funções da vida diária (Índice de Katz G),
no Distrito Ressaca deste município.
Para a realização desta pesquisa, optamos por um estudo
quantitativo/qualitativo, descritivo e exploratório e propomo-nos coletar dados
203
através do diário do cuidador e de entrevistas ao cuidador que serão os
informantes.
Para viabilização do estudo, solicitamos a participação das equipes de
saúde da família do Distrito Ressaca para atualização do mapeamento das
pessoas cuidadas no domicílio, realizado em 2003.
Sendo assim, necessitamos de autorização de V. Sª para apresentar o
projeto junto ao Comitê de Ética e Pesquisa da UFMG, atendendo à Resolução
196/96 do Conselho Nacional de Ética em Pesquisas - CONEP, que normaliza as
pesquisas envolvendo seres humanos.
Assumimos a responsabilidade de preservar, em sigilo, o nome dos
participantes envolvidos na investigação, bem como o uso restrito dos dados e
informações para a pesquisa e divulgação dos seus resultados em trabalhos
técnico-científicos e colocando à disposição da instituição os resultados da
mesma.
Certas de contar com a colaboração de V. Sª, antecipamos os nossos
agradecimentos e nos colocamos à disposição para quaisquer esclarecimentos.
Atenciosamente,
__________________________________________
Hosana Ferreira Rates
Mestranda
________________________________________
Prof.ª Drª Roseni Rosângela de Sena
Orientadora
___________________________________________
Profª Drª Alda Martins Gonçalves
Co-orientadora
204
TERMO DE AUTORIZAÇÃO
Eu, __________________________________________________, Secretária de
Saúde da Prefeitura Municipal de Contagem, autorizo a realização da pesquisa:
“Cuidado de saúde do idoso, no domicílio: os custos para os familiares, no
município de Contagem-MG” por intermédio desta instituição. Afirmo que fui
devidamente orientada sobre as finalidades do estudo, bem como da utilização
dos dados obtidos exclusivamente para fins técnico-científicos, sendo que,
segundo me foi assegurado, os nomes dos informantes da pesquisa serão
mantidos em anonimato.
____________________________________________________________
Assinatura
___________________________________________________________
Local e data
___________________________________________________________
Carimbo da instituição
205
ANEXO 05– Aprovação para a realização da pesquisa e do projeto pela SMS
de Contagem-MG
206
ANEXO 06– Aprovação do COEP-UFMG
207
ANEXO 07– Apresentação da pesquisadora às informantes do estudo
Belo Horizonte, _______julho de 2006
Prezado cuidador,
Estamos desenvolvendo uma pesquisa sobre o tema “Cuidado de saúde
do idoso, no domicílio: os custos para os familiares, no município de
Contagem-MG”, que faz parte do Curso de Mestrado da Escola de Enfermagem
da Universidade Federal de Minas Gerais.
A pesquisa tem como objetivo identificar os gastos da família com o cuidado
no domicílio de indivíduos acima de 60 anos, no Distrito Ressaca do município de
Contagem, MG.
Esse estudo faz-se necessário tendo em vista a importância do trabalho dos
cuidadores, e a necessidade de conhecer o custo referente ao cuidado exercido
no domicílio.
Sua colaboração é voluntária e será muito importante para a realização
desta pesquisa, sendo assim, solicitamos sua participação como informante. Para
a coleta de dados, realizaremos uma entrevista que deverá ser gravada em fita-
cassete, buscando apreender os dispêndios que a família tem com o cuidado
domiciliar. Será utilizado, também, um diário em que o cuidador deverá descrever
os gastos nas suas atividades cuidativas desenvolvidas no período de trinta dias.
Caso aceite a participação, você poderá solicitar informações ou
esclarecimentos sobre o andamento da pesquisa, a qualquer momento, bem como
208
desligar-se da mesma e não permitir a utilização dos dados, sem que haja
nenhum prejuízo para você.
Na oportunidade, firma-se o compromisso do uso restrito dos dados e
informações para esta pesquisa e divulgação dos seus resultados, através de
trabalhos técnico-científicos, atendendo à Resolução 196/96 do Ministério da
Saúde que regulamenta as pesquisas envolvendo seres humanos.
Agradecendo a sua colaboração, solicitamos, ainda, a assinatura do termo
de consentimento livre e esclarecido.
Estamos à disposição para maiores esclarecimentos.
Atenciosamente,
_________________________________________________________
Hosana Ferreira Rates
Pesquisadora
Rua João Chagas, 65/1103, Cidade Nova-Belo Horizonte/ MG CEP: 31170 370
Tel: (31) 3486-8216 - 9102-8297 E-mail: hosanabh@yahoo.com.br
________________________________________________________
Profª Drª Alda Martins Gonçalves
Professora co-orientadora
Av. Alfredo Balena, 190, Santa Efigênia-Belo Horizonte/MG CEP: 30130 100
Telefone: (31) 3248-9878 E-mail: [email protected]
________________________________________________________
Profª Drª Roseni Rosângela de Sena
Professora orientadora
Av. Alfredo Balena, 190, Santa Efigênia-Belo Horizonte/MG CEP: 30130 100
Telefone: (31) 3248-9871 E-mail: [email protected]
209
ANEXO 08 - Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
(De acordo com o item IV da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde que regulamenta
as pesquisas envolvendo seres humanos)
Prezado(a) cuidador(a),
Estamos desenvolvendo uma pesquisa sobre o tema “Cuidado de saúde
do idoso, no domicílio: os custos para os familiares, no município de
Contagem-MG”, que faz parte do Curso de Mestrado da Escola de Enfermagem
da Universidade Federal de Minas Gerais.
A pesquisa tem como objetivo identificar os gastos da família com o cuidado
no domicílio: alimentação, higiene, materiais e equipamentos médico-hospitalares,
transporte, adaptação do domicílio, medicamentos, tempo de trabalho do cuidador,
dentre outros; aos indivíduos acima de 60 anos, no Distrito Ressaca do município
de Contagem, MG.
Esse estudo faz-se necessário tendo em vista a importância do trabalho dos
cuidadores, e a necessidade de conhecer o custo referente ao cuidado exercido
no domicílio.
Sua colaboração é voluntária e será muito importante para a realização
desta pesquisa, sendo assim, solicitamos sua participação como informante.
Acreditamos que isso não vai lhe causar riscos e nem desconfortos com exceção
do tempo da entrevista e do preenchimento do diário do cuidador. Como benefício,
encaminharemos cópia da pesquisa para a Secretária de Saúde de Contagem que
poderá se sensibilizar com os resultados e assim prover melhorias na atenção ao
cuidado domiciliar das pessoas acima de 60 anos com redução em realizar
atividades da vida diária. Esperamos, também, contribuir para a definição de
ações políticas públicas relacionadas ao cuidado no domicílio.
210
Para a coleta de dados, realizaremos uma entrevista que deverá ser
gravada em fita-cassete, e serão destruídas ao término do estudo. Será utilizado
um diário em que o (a) cuidador(a) deverá descrever os gastos relacionados às
atividades cuidativas desenvolvidas, no período de trinta dias. As anotações serão
orientadas pela pesquisadora responsável e ao término da pesquisa, os diários
serão devolvidos aos informantes do estudo.
Caso aceite participar da pesquisa, você poderá solicitar informações ou
esclarecimentos sobre o andamento da pesquisa, em qualquer momento, bem
como desligar-se da mesma e não permitir a utilização dos dados, sem que haja
nenhum prejuízo para você.
Informamos ainda que não haverá ressarcimentos ou indenizações
relacionados à sua participação e garantimos o sigilo absoluto de sua identidade.
Não divulgaremos o seu nome e nem o nome da pessoa que você cuida, nem
outros dados que os identifique.
Na oportunidade, firmamos o compromisso do uso restrito dos dados e
informações para a pesquisa e para produção de material técnico-científico. Os
resultados do estudo ficarão acessíveis a qualquer pessoa e serão divulgados
através de publicações e apresentação em reuniões, seminários e congressos.
Será garantido o acesso às pesquisadoras, em qualquer etapa do estudo,
que podem ser encontradas nos endereços abaixo relacionados:
Pesquisadora: Hosana Ferreira Rates
Endereço: Rua João Chagas, 65/1103, Cidade Nova-Belo Horizonte/ MG
CEP: 31170 370 Telefones: (31) 3486-8216 e (31) 9102-8297 E-mail:
Professora co-orientadora: Profª Drª Alda Martins Gonçalves
Endereço: Av. Alfredo Balena, 190, Santa Efigênia-Belo Horizonte/MG CEP:
30130 100 Telefone: (31) 3248-9878 E-mail: [email protected]
211
Professora orientadora: Profª Drª Roseni Rosângela de Sena
Endereço: Av. Alfredo Balena, 190, Santa Efigênia-Belo Horizonte/MG CEP:
30130 100 Telefone: (31) 3248-9871 E-mail: [email protected]
Para maiores esclarecimentos sobre a ética da pesquisa, você poderá
entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa – COEP/UFMG na Av.
Presidente Antonio Carlos, 6627, 7º andar/sala 718- Prédio da Reitoria Campus da
Pampulha- Belo Horizonte/MG - CEP: 31 270 901,telefone: (31) 3499-4592.
Acredito ter suficientemente informado a respeito da pesquisa descrita que
li ou que foram lidas para mim. Eu discuti com a pesquisadora---------------------------
----------------sobre a minha decisão em participar dessa pesquisa. Como
informante, afirmo que fui, devidamente, orientado sobre os propósitos do estudo
e as garantias de confidencialidade, de esclarecimentos permanentes e ausência
de riscos. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o
meu consentimento em qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma.
________________________________________________________
Nome do (a) entrevistado (a)
________________________________________________________
Assinatura do (a) entrevistado (a)
________________________________________________________
Assinatura da pesquisadora
Contagem, _____ de julho de 2006
212
ANEXO 09 – Roteiro de entrevista
Entrevista n° ----------------------- Data: -------------------
Dados de Identificação – Pessoa cuidada
Nome da pessoa cuidada:----------------------------------------------------------CI--------------
Data de nascimento: ------------------------------------ Idade: ------------
Sexo do paciente: M ( ) F ( )
Estado civil do (a) paciente:
Solteiro (a) ( ) Casado (a) ( )
Viúvo(a) ( ) Separado/divorciado(a) ( ) Outros ( )
Endereço: ------------------------------------------------------------------------------------------------
Renda familiar mensal: -----------------------------------------
Dados de Identificação – Cuidador(a) principal
Nome do(a) cuidador(a): -----------------------------------------------------------------------------
Data de nascimento: -------------------------------------------- Idade: ------------
Sexo M ( ) F ( ) Há quanto tempo cuida dessa pessoa:----------
Estado civil
Solteiro (a)( ) Casado (a) ( ) Viúvo (a) ( ) Separado (a) ( )
Divorciado (a) ( ) Outros ( )
Relação com a pessoa cuidada:
Esposo (a) ( ) Filho (a) ( ) Irmã ( ) Outro ( )
Escolaridade: Renda: -------------------
1° grau incompleto ( )
1° grau completo ( )
2° grau incompleto ( ) 2° grau completo ( )
3° grau incompleto ( ) 3° grau completo ( )
213
Perguntas
1- A pessoa cuidada recebe algum tipo de benefício (pensão, aposentadoria)?
2- A pessoa cuidada recebe algum tipo de auxílio de instituições ou de terceiros
(cesta básica, outros)?
3- Você recebe remuneração para ser cuidador?
4- Você deixou de exercer algum tipo de trabalho remunerado para ser cuidador?
5- Você deixa de realizar alguma atividade em função do cuidado? Quais?
6- Para exercer a função de cuidador, você tem ajuda de outra pessoa? Quem?
Quando?
7- Quantas horas você gasta diariamente cuidando da pessoa cuidada?
8- Você tem alguma dificuldade financeira relacionada aos gastos despendidos
com a pessoa de que você cuida? Quais?
9- Você tem alguma facilidade financeira relacionada aos gastos despendidos
com a pessoa que você cuida? Quais?
10- Você considera o domicílio um local adequado para a realização do cuidado?
11- Você considera que tem o material necessário para prestar o cuidado? (roupas
de cama, vestuário, material de higiene/limpeza, dieta, fraldas, materiais e
equipamentos médico-hospitalares).
12- Já foi realizado algum tipo de adaptação física no domicílio para facilitar o
cuidado?
13- Se positivo, qual o valor gasto?
14- Você quer realizar algum comentário sobre o assunto abordado?
214
ANEXO 10 – Diário da cuidadora
Diário da cuidadora
Contagem – 2006
215
ANEXO 11: Planilha do diário da cuidadora
CITE QUANTO GASTA, DIARIAMENTE, COM RELAÇÃO AOS SEGUINTES ITENS:
216
ANEXO 12 – Diário da pesquisadora
Diário da pesquisadora
1- APRESENTAÇÃO
2- CARTA
3- TCLE
4- ENTREVISTA
5- DIÁRIO DO CUIDADOR (escrever sobre os cuidados diários prestados, valor dos
gastos, bem como as sensações e sentimentos relacionados a estes cuidados)
6- ORIENTAÇÃO DA PLANILHA:
¾ Medicamentos (inclusive para lesões, se houver)
¾ Artigos médico-hospitalares.
Fralda descartável, sonda
Equipo, seringa
Gaze, esparadrapo
¾ Equipamentos médico-hospitalares (se foi adquirido)
Cadeira de banho, comadre
Cadeira de rodas, cama hospitalar
¾ Material de limpeza
Sabão em pó, sabão em barra
Desinfetante, água sanitária, amaciante
¾ Vestuário (pijama, camisola, cobertor, lençol, virol)
¾ Alimentação (artesanal, industrializada)
- VERIFICAR APÓS INÍCIO DO CUIDADO DOMICILIAR:
¾ Telefone/Gás de cozinha
¾ Eletricidade/Água
¾ Salário do cuidador e ou transporte.
- CITAR O VALOR DE CADA ITEM
7- REGISTRAR IMEDIATAMENTE APÓS CADA OBSERVAÇÃO:
¾ Cenário/ Pessoas Presentes
¾ Fatos /Interações ocorridas
¾ Descrição das atividades de cuidado
¾ Impressões/Sentimentos
217
ANEXO 13: Tabela do valor da renda mensal das cuidadoras e a
percentagem relacionada ao salário mínimo atual.
Características Valor
Número de
cuidadoras
%
Não tem renda ______ 05
29,50%
Abaixo de 01 SM* R$200,00 01
05,85%
01 SM** R$350,00 05
29,50%
Abaixo de 02 SM R$400,00 01
05,85%
02 SM R$700,00 01
05,85%
Acima de 03 SM R$1.040,00
R$1.200,00
R$1.281,00
03
17,60%
Sem renda fixa -------- 01
05,85%
Total R$5.171,00 17 100%
*SM= salário mínimo
**= salário mínimo vigente: R$350,00
218
ANEXO 14: Avaliação para classificação do grau de complexidade da pessoa
cuidada para internação domiciliar
TABELA DE AVALIAÇÃO PARA INTERNAÇÃO DOMICILIAR - NEAD
Paciente: Pessoa cuidada relativa a Cuidadora 10 (C10)
Convênio: C
GRUPO 1
GRUPO 2
GRUPO 3
Internações no último ano Alimentação Secreção Pulmonar
. 0-1 internação
0 . sem auxílio 0 . ausente 0
. 2-3 internação 1
1
. assistida 1 . pequena/moderada quantidade 1
1
.mais de 3 internações 2 . por sonda 2 .abundante 2
. por cateter 3
3
Tempo dessa Internação Curativos Drenos/Cateteres/Estomias
. menos de 10 dias 0
0
. ausentes
. 10-30 dias 1 . ausentes ou simples
0
. presente com a família apta 1
1
. mais de 30 dias 2 . médios 1 . presente com a família inapta 2
. grandes 2
Deambulação
. complexos 3
Medicações
. sem auxílio 0 . VO ou SNE 0
. com auxílio 1
Nível de consciência
. IM ou SC 1 ou 2xdia 1
. não deambula 2
2
. consciente e calmo 0 . IM ou SC mais 2xdia 2
. consciente e agita 1 . EV 1 ou 2xdia 3
Plegias
. confuso 2 . EV mais 2xdia 4
4
. ausentes 0 . comatoso 3
3
. presentes com adaptação 1
Quadro Clínico
. presentes sem adaptação 2
2
SUBTOTAL 2: 6 . estável 0
. instabilidade parcial 1
1
Eliminações
. instável 2
. sem auxílio 0
Totais Programa
. com auxílio ou sonda
1
< 8
Sem indicação internação
domiciliar
Padrão Respiratório
. sem controle esfíncteres
2
2
8 a 15
Internação domiciliar com
visitas de enfermagem
. eupnéico
0
. sondagem intermitente
3
16 a 20
Internação domiciliar com
até 6 hs de enfermagem
. períodos de dispnéia
1
1
21 a 30
Internação domiciliar com
até 12 hs de enfermagem
. dispnéia constante
2
Estado Nutricional
> 30
Internação domiciliar com
até 24 hs de enfermagem
. períodos de apnéia
3
. eutrófico 0
0
. emagrecido 1
Dependência de oxigênio
. caquético 2 . ausente 0
. parcial (respiração espontânea) 1
Higiene
. contínua (respiração espontânea) 2
. sem auxílio 0 . ventilação mecânica
intermitente
3
. com auxílio 1 . ventilação mecânica contínua 4
4
. dependente 2
2
SUBTOTAL 1: 9 TOTAL 1+2+3
SUBTOTAL 3: 12
Obs.:
9+6+12=27
Conclusão:
Fonte: DAL BEN, GAIDZINSKI, 2007
219
ANEXO 15: Valor dos medicamentos das pessoas cuidadas, utilizados no período de 30 dias*
Ident.
Utilização do
SUS
Medicamentos Apresentação Fabricante Preço R$
Valor p/
30dias
C1P1-2 sim, somente -------- --------- ---------- --------- --------
C2P1-2 sim, somente ------- -------- ---------- --------- --------
C3P1-2 não Clonazepam
Sulfato ferroso
Nistatina
Óxido de zinco
Sulfadiazina de prata
Total
2,5mg/ml gts 20 ml
solução 30m
creme vaginal c/60g + aplic.
frasco 120g
bisnaga- 50g
----------
R.
E.
N.
F.
P. D.
---------
11,10
09,31
07,63
03,01
15,79
-------
11,10
09,31
07,63
03,01
15,79
46,84
C4P1-2 sim Sulfadiazina de prata
Cassia angustifolia
Total
bisnaga- 50g
gel laxante- pote 150 g
----------
P.D.
F.
----------
15,79
25,09
------
15,79
25,09
40,88
C6P1-2 sim Omeprazol 20 mg fr c/ 30 cápsulas
manipulado
**
08,00
08,00
C7P1-2 sim Norfloxacino
Nimesulida
Total
400mg cx c/ 14 comp.
100mg c/ 12 comp.
----------
S.P.
C.
------
14,65
13,31
-------
29,30
13,31
42,61
C8P1-2 sim Levomeprazina
Óxido de zinco
Total
sol. oral vidro ctg x 20 ml
frasco 120g
-----------
S.A.
F.
------
08,27
03,01
-------
08,27
03,01
11,28
C9P1-2 sim Bisacodil 5 mg c/ 20 drágeas B. 04,40
04,40
C10P1-2 não --------- ---------- ---------- --------- ***
C11P1-2 sim --------- ---------- --------- ---------
376,55
C12P1-2 sim Levotiroxina sódica 100 mcg c/ 30 comp. S.A. 08,02
08,02
C13P1-2 sim Levotiroxina sódica 100 mcg c/ 30 comp S.A. 08,02 08,02
C14P1-2 sim, somente ---------- ---------- ---------- -------- -------
C15P1-2 sim Colírios **** ---------- ---------- 180,00
180,00
C16P1-2 sim Bromidrato de fenoterol
Brometo de ipratrópio
Hidralizina
Total
200 mg aer. c/ 15 ml 4mg/ml
0,25 mg/ml sol. inalat. 20ml
25 mg- cx c/ 20 comp.
--------
B.
B.
N.
------
17,83
13,17
03,69
------
17,83
13,17
7,38
38,38
C17P1-2 sim Triexifenidila
Pranifexol
Picossulfato de sódio + agar
Clister glicerinado
Total
2 mg- cx c/ 30 comp.
0,25mg- cx c/ 30 comp.
240 ml- solução
500 ml 12%
---------
A.
B.
P
S.
------
8,65
72,93
12,12
6,17
-------
8,65
72,93
12,12
6,17
99,87
C18P1-2 sim Fluoxetina 20mg- fr c/ 30 cápsulas manipulado
**
8,00
8,00
*Consulta no site:<http://www.consultaremedios.com.br>. Acesso em: 16 jan. 2007. **Consulta por telefone em 16/01/2007: Farmácia de Manipulação em Belo Horizonte-MG
*** Medicamentos fornecidos pelo plano de saúde, não foi informado o valor. **** Valores informados pela cuidadora
220
ANEXO 16: Valor dos medicamentos comprados no período de 30 dias de
acordo com as planilhas 1 e 2 realizada pela cuidadora C11.
MEDICAMENTO APRESENTAÇÃO FABRICANTE
PREÇO
R$
VALOR
(30 dias)
Sulfato ferroso Frasco com 60 drágeas D. 11,04 11,04
Piroxicam 20mg- 5 blisterx2 comp.
Sublingual
P. 34,12 34,12
ÁAS 325mg- caixa com 32 comp. S.P. 15,38 30,76
Ácido fólico 05 mg-caixa com 30 comp. T. 08,82 08,82
Cebronfilina 50mg-xarope- adulto- 120ml N. 21,23 21,23
Omeprazol 20mg- caixa com 28 cáps. C. 58,61 58,61
Teofilina 200mg- 3 blister x 10 comp. A. 19,17 19,17
Salbutamol 0,4mg/ml- xarope- frasco -120 ml C. 03,87 03,87
Cefalexina 500mg- caixa com 40 drágeas A. 73,20 73,20
Salbutamol spray 200 doses G.S. 26,13 26,13
Ferro polimaltosado 8 amp. cx com 5 amp. x 2 ml +5
agulhas
A.P. 44,80 89,60
TOTAL -------- -------- ------ 376,55
* Dados incompletos que foram valorizados pela consulta de preços no site:
http:<www.consultaremedios.com.br>. Acesso em: 18 de jan. 2007.
** Os valores foram registrados pela cuidadora
221
ANEXO 17: Apresentação e valor dos alimentos consumidos pelas pessoas
cuidadas no período de 30 dias*
Ident. Alimentos/Observação Apresentação Marca
Preço
(un.)
Valor R$
(30 dias)
Outros
alimentos
C1P1-2 dados insuficientes para
análise
------ ------ ------ ------
sem alimentação especial
C2P1-2 sem registro de dados ------ ------ ------ ------
sem alimentação especial
C3P1-2
suplemento alimentar
iogurte a
iogurte b
farinha enriquecida
leite longa vida
total
lata 400g
pote 200g
frasco 80 g
lata 400g
caixa 1 litro
------
M. J.
I.
I.
N.
F. M.
------
24,50
0,50
0,83
5,68
1,38
------
24,50
8,50
11,62
5,68
20,70
71,00
sopa de legumes 2x ao dia
e vitamina de frutas 2x ao
dia
C4P1-2
suplemento alimentar
iogurte a
farinha enriquecida
leite longa vida
alimento achocolatado
total
lata 400g
pote 200g
lata 400g
caixa 1 litro
lata 400g
------
M. J.
I.
N.
F. M.
N.
------
24,50
0,50
5,68
1,38
5,48
------
49,00
30,00
22,72
41,10
21,92
187,54
caldo de feijão
1x ao dia
C6P1-2 sem registro de dados ------ ------ ------ ------
sem alimentação especial
C7P1-2 dados insuficientes para
análise
------ ------ ------ ------
leite desnatado, sopa e
mingau de creme de milho
C8P1-
2**
legumes
frutas
leite longa vida
leite em pó
farinha enriquecida
arroz
feijão
carne
total
------
------
------
------
------
------
------
------
------
------
------
------
------
------
------
------
------
------
------
------
------
------
------
------
------
------
------
80,00
60,00
39,00
20,00
22,00
2,80
2,50
20,00
226,30
A dieta da pessoa cuidada
é artesanal por sonda de
jejunostomia
C9P1-2 farinha enriquecida
leite longa vida
macarrão instantâneo
------
lata 400g
caixa 1 litro
pacote 200g
------
N.
F. M.
N. L.
------
5,48
1,38
1,26
------
43,84
21,39
15,21
80,44
Frutas, legumes e suco
C10P1-2 dados insuficientes para
análise
------ ------ ------ ------
Dieta artesanal e
industrializada 3x ao dia
(jejunostomia)
C11P1-2 Dados insuficientes para
análise
------ ------ ------ ------
sem alimentação especial
C12P1-2
suplemento alimentar
leite longa vida
farinha enriquecida
alimento achocolatado
farinha de aveia
amido de milho
chá
gelatina
total
lata 400g
caixa 1 litro
lata 400g
frasco 200g
caixa 250g
caixa 250g
caixa (12 u.)
caixa 85 g
------
M. J.
F. M
N.
T.
Q.
M.
L.
O.
------
24,50
1,38
5,48
2,10
2,28
1,48
2,38
0,65
------
24,50
19,50
5,48
6,30
2,28
1,48
4,76
3,90
68,20
Sopa, frutas, suco,
biscoito, pão
C13P1-2 dados insuficientes para
análise
------ ------ ------ ------
sem alimentação especial
C14P1-2 sem registro de dados ------ ------ ------ ------
sem alimentação especial
C15P1-2 sem registro de dados ------ ------ ------ ------
sem alimentação especial
C16P1-2 leite longa vida
caixa 1 litro
F. M.
1,38
41,40
sem alimentação especial
C17P1-2 sem registro de dados ------ ------ ------ ------
dieta pastosa
C18P1-2 sem registro de dados ------ ------ ------ ------
sem alimentação especial
* Dados incompletos que foram valorizados pela consulta de preços realizada dia 18-01-2007 em supermercado em Belo
Horizonte-MG
** Valores registrados pela cuidadora
222
ANEXO 18: Utilização, freqüência de troca, valor e quantidade de fraldas*
geriátricas descartáveis utilizadas pelas pessoas cuidadas no período de 30
dias.
Identificação Utilização Freqüência de
utilização
Total de
fraldas
Valor total - R$
C1P1-2 não ------- ------- ------
C2P1-2 não ------ ------ ------
C3P1-2 sim 1 a 2 por dia 33
34,98
C4P1-2** sim 10 pacotes/mês ------ -------
C6P1-2 não ------- ------ -------
C7P1-2 sim 2 por dia 60
63,60
C8P1-2*** sim ------- --------
190,00
C9P1-2 sim 2 a 3 fraldas por dia 61
64,66
C10P1-2 sim 1 por dia 30
31,80
C11P1-2 não ------- ------- ------
C12P1-2 não ------- ------- -------
C13P1-2 sim 2 a 3 fraldas por dia 62
65,72
C14P1-2** sim 2 pacotes/mês ------ -------
C15P1-2 não ------- ------ -------
C16P1-2 sim 5 a 6 por dia 159
168,54
C17P1-2 sim 2 por dia 60 63,60
C18P1-2 sim 1 a 2 por dia 36
38, 16
* Valor unitário da fralda: R$1,06
Utilizado como referência o valor da fralda descartável de uso adulto, formato anatômico, indicada para caso de
incontinência urinária/fecal moderada ou forte. Tamanho: média. Apresentação: pacote com 30 unidades. Marca: Biofral.
Preço: R$31,92. Disponível em: <http://www.rimed.com.br
>. Acesso em: 11 de janeiro 2007. OBS: no estudo foi utilizado o
valor de R$1,06 para o cálculo de gasto de fraldas. (R$31,92÷30unidades=R$1,06)
** Dado insuficiente para análise considerando que não foi fornecido a quantidade de fraldas que contêm um pacote
(existem no mercado pacotes contendo 6, 8, 10, 24 ou 30 fraldas).
*** Dado registrado pela cuidadora, não foi fornecido a quantidade de fraldas utilizadas.
223
ANEXO 19: Valor do material médico-hospitalar utilizado pelas pessoas
cuidadas no período de 30 dias*
Ident. Materiais/Observação Apresentação Marca Preço
(un.)
Valor R$
(30 dias)
C1P1-2 não utiliza ------ ------ ------ ------
C2P1-2 fornecido pelo SUS ------ ------ ------ ------
C3P1-2 gazes de algodão 4,5x4,5cm
luvas de procedimento
total
pacote com 10 un.
caixa com 100 un.
------
J.
E.
------
1,30
0,10
------
1,30
1,20
2,50
C4P1-2 gazes de algodão 4,5x4,5cm
fita crepe
solução fisiológica 0,9%
total
pacote com 10 un.
19mmx50m
frasco 500ml
------
J.
J.
F.
------
1,30
6,40
2,00
------
39,00
12,80
4,00
55,80
C6P1-2 não utiliza ------ ------ ------ ------
C7P1-2 não utiliza ------ ------ ------ ------
C8P1-2** equipo para administração de
dieta
fita crepe
seringa 20 ml
gazes de algodão 4,5x4,5cm
total
------
------
------
-----
------
-----
------
----
-----
-----
-----
-----
------
-----
-----
-----
-----
-----
------
------
------
------
------
57,00
C9P1-2 não utiliza ------ ------ ------ -----
C10P1-2 fornecidos pelo plano de
saúde
------ ------ ------ -----
C11P1-2 não utiliza ------ ------ ------ -----
C12P1-2 não utiliza ------ ------ ------ -----
C13P1-2 não utiliza ------ ------ ------ -----
C14P1-2 não utiliza ------ ------ ------ -----
C15P1-2 não utiliza ------ ------ ------ -----
C16P1-2 não utiliza ------ ------ ------ -----
C17P1-2 gazes de algodão 4,5x4,5cm
luvas de procedimento
fita cirúrgica extra flexível
coletor de urina
total
pacote com 10 um.
caixa com 100 um.
rolo 1,2mx4,5m
1,30 m de PVC
------
J.
E.
M.
S.
------
1,30
0,10
1,60
1,24
------
7,80
9,00
1,60
37,20
55,60
C18P1-2 fornecido pelo SUS ---- ---- ----- -----
* Dados incompletos que foram valorizados pela consulta de preços em farmácia de Belo Horizonte e pelo site:
<http://www.rimed.com.br
>. Ambas consultas realizadas em: 18 de janeiro 2007.
** Os valores foram registrados pela cuidadora
224
ANEXO 20: Apresentação e valor dos produtos de higiene/cuidados com a
pele, utilizados nas pessoas cuidadas no período de 30 dias*
Identificação Produtos/Observação Apresentação Marca Preço
(un.)
Valor R$
(30 dias)
C1P1-2 sem registro de dados ----- ----- ----- -----
C2P1-2 sem registro de dados ----- ----- ----- -----
C3P1-2 cotonete haste flexível
creme para pele
total
caixa com 75 un.
frasco 200 ml
-----
J.
M.
-----
1,90
3,49
-----
1,90
3,49
5,39
C4P1-2 sem registro de dados ----- ----- -----
C6P1-2 sem registro de dados ----- ----- ----- -----
C7P1-2 sabonete com hidratante 100g D. 1,35 1,35
C8P1-2 sem registro de dados ----- ----- ----- -----
C9P1-2 sem registro de dados ----- ----- ----- -----
C10P1-2 sem registro de dados ----- ----- ----- -----
C11P1-2 creme hidratante para pele
protetor solar
total
frasco 200 ml
frasco 200 ml
-----
M.
N.
-----
3,49
17,40
-----
3,49
17,40
20,89
C12P1-2 talco
lenços umedecidos
total
frasco 160g
20x16cm
-----
M.
P.
-----
5,15
9,75
-----
5,15
9,75
14,90
C13P1-2 creme hidratante para pele
leite de colônia
total
frasco 200 ml
frasco 100ml
-----
M.
T.
-----
3,49
2,05
-----
3,49
2,05
5,54
C14P1-2 sem registro de dados ----- ----- ----- -----
C15P1-2 creme hidratante para pele
sabonete
desodorante
total
frasco 200 ml
90 g
90 ml
-----
M.
P.
N.
-----
3,49
0,55
3,20
-----
3,49
0,55
3,20
7,24
C16P1-2 sem registro de dados ----- ----- ----- -----
C17P1-2 creme hidratante para pele
sabonete líquido
óleo para o corpo
total
frasco 200 ml
frasco 250 ml
frasco 100 ml
-----
M.
P.
D.
-----
3,49
5,15
32,70
-----
3,49
10,30
32,70
46,49
C18P1-2 Aparador de barba
óleo para o corpo
total
cabo longo com 2 un.
900 ml
-----
P.
L.
-----
1,60
2,98
-----
2,40
1,49
3,89
* Dados incompletos que foram valorizados pela consulta de preços em farmácia de Belo Horizonte. Consulta realizada em:
18 de janeiro 2007.
225
ANEXO 21: Apresentação e valor dos produtos de limpeza utilizados, no
período de 30 dias*
Identificação Produtos/Observação Apresentação Marca Preço
(un.)
Valor R$
(30 dias)
C1P1-2 sem registro de dados ----- ----- ----- -----
C2P1-2 sem registro de dados ----- ----- ----- -----
C3P1-2 sem registro de dados ----- ----- -----
-----
C4P1-2 sabão em pó 1 kg B. 3,98 7,96
C6P1-2 sem registro de dados ----- ----- ----- -----
C7P1-2 sem registro de dados ----- ----- -----
-----
C8P1-2** sabão em
sabão em barra
detergente
água sanitária
total
-----
-----
-----
-----
-----
-----
-----
-----
-----
-----
-----
-----
-----
-----
-----
-----
-----
-----
-----
16,50
C9P1-2 sabão em pó
água sanitária
total
1 kg
1 l
-----
B.
I.
-----
3,98
1,18
-----
15,92
4,72
20,64
C10P1-2 sem registro de dados ----- ----- ----- -----
C11P1-2 sem registro de dados ----- ----- -----
-----
C12P1-2 sem registro de dados ----- ----- -----
-----
C13P1-2 dados insuficientes para
análise
----- ----- -----
-----
C14P1-2 sabão em pó
água sanitária
desinfetante
total
1 kg
1 litro
500 ml
-----
B.
I.
B.
-----
3,98
1,18
1,98
-----
3,98
1,18
1,98
7,14
C15P1-2 sem registro de dados ----- ----- -----
-----
C16P1-2 sem registro de dados ----- ----- ----- -----
C17P1-2 sem registro de dados ----- ----- -----
-----
C18P1-2 sem registro de dados ----- ----- -----
-----
* Dados incompletos que foram valorizados pela consulta de preços em supermercado de Belo Horizonte, realizada em: 18
de janeiro 2007.
** Valores registrados pela cuidadora
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