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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
TEREZA CRISTINA BERNARDO DA CÂMARA
CORPOREIDADE E HUMANESCÊNCIA NA FONTE DOS SABERES DA VIDA: A
FORMAÇÃO DE PROFESSORES QUE VALORIZA O SER
NATAL/RN
2005
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9
TEREZA CRISTINA BERNARDO DA CÂMARA
CORPOREIDADE E HUMANESCÊNCIA NA FONTE DOS SABERES DA VIDA:
A FORMAÇÃO DE PROFESSORES QUE VALORIZA O SER
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, como requisito parcial à obtenção do
título de Mestre em Educação
.
Orientadora: Dra. Kátia Brandão Cavalcanti
Natal/RN
2005
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Divisão de Serviços Técnicos
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede
Câmara, Tereza Cristina Bernardo da.
Corporeidade e humanescência na fonte dos saberes da vida: a
formação de professores que valoriza o ser / Tereza Cristina Bernardo da
Câmara. – Natal, RN, 2005.
146 f.
Orientadora: Kátia Brandão Cavalcanti.
Dissertação (Mestrado) -Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós-
Graduação em Educação.
1. Formação de professores – Dissertação. 2. Educação física –
Dissertação. 3. Corporeidade – Saberes docentes – Dissertação. 4.
Humanescência – Saberes docentes – Dissertação. I. Cavalcanti, Kátia
Brandão. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/UF/BCZM CDU 377.8 (043.3)
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
CORPOREIDADE E HUMANESCÊNCIA NA FONTE DOS SABERES DA VIDA:
A FORMAÇÃO DE PROFESSORES QUE VALORIZA O SER
Elaborada por
TEREZA CRISTINA BERNARDO DA CÂMARA
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________________
Dra. Kátia Brandão Cavalcanti – Orientadora
_______________________________________
Dr. Edmilson Ferreira Pires – Co-Orientador
_________________________________________
_________________________________________
11
À Vida
12
AGRADECIMENTOS
A todas e a todos, especialmente:
A Deus, essência do saber humanizar-se;
À minha Família, Salete, Assis, Robinson e Filipe, Nathalie e
Marcos, fonte abundante do saber sentir;
À professora Kátia Brandão, berço fecundo do saber criar;
Aos colegas do Instituto Kennedy, de Baía Formosa, da Base de
Pesquisa em Corporeidade e aos “Especiais”, pelos momentos de
ludicidade no saber brincar;
Aos alunos do Instituto Kennedy, queridos provocadores do saber
pensar.
13
RESUMO
O presente estudo é oriundo de inquietações de uma postura investigativa assumida
por uma Professora Formadora de Educação Física, perante sua ação educativa
com professores em formação. A pesquisa foi realizada com 16 (dezesseis)
professores de Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental que
lecionam em Escolas da Rede Pública de Ensino. Os referidos professores são
alunos do Curso Normal Superior do Instituto de Educação Superior “Presidente
Kennedy”, Natal/RN. A análise e discussão do entrelaçamento dos saberes através
dos quatro Pilares da Educação, na Fonte dos Saberes da Vida, metáfora
especialmente criada para este estudo como estrutura epistemológica e
metodológica norteadora de todo processo investigativo, propiciou evidenciar a
repercussão do banhar-se e do beber nessas águas humanescentes de uma prática
pedagógica que valoriza o Ser, rumo a sua autotranscendência. As conclusões
apontadas pelo estudo foram as seguintes: 1) O professor, ao banhar-se na fonte
dos Saberes da Vida reflete acerca de sua vida, pessoal e profissional, resgatando
sentimentos e emoções que ao longo do tempo foram sendo “esquecidos”, mas que
ao serem “relembrados” e vividos os impulsiona para a humanescência. 2) Ao
banhar-se na fonte dos saberes da vida, o professor reconhece que é despertado
para os saberes humanescentes, passando a ter uma preocupação com a prática
que desenvolve em sua sala de aula. Prática que considera o ‘aprender a conhecer’,
‘aprender a fazer’, ‘aprender a conviver’ e ‘aprender a ser’ de forma integrada no
Ser. 3) Quando existe, por parte do professor em formação, a preocupação com o
desenvolvimento do Ser, há uma prática que evidencia a teia dos saberes da
corporeidade – ‘saber brincar’, ‘saber criar’, ‘saber sentir’, ‘saber pensar’ e ‘saber
humanizar-se’. 4) A presença do profissional da Educação Física com conhecimento
e vivência dos pressupostos da corporeidade, é de fundamental importância no
processo de formação de professores do Ensino Infantil e anos iniciais do Ensino
Fundamental, pois ele tem uma grande responsabilidade no desenvolvimento de
uma educação para o desenvolvimento humanescente do Ser, em uma proposta de
educação que ocorra ao longo de toda a vida. 5) O profissional de Educação Física
tem um espaço a conquistar, pois a lacuna existente no processo educacional em
relação a compreensão de corpo e da corporeidade na perspectiva da totalidade,
urge ser transformada em nome de uma outra humanidade, plena de
humanescência.
Palavras-chave: Educação Física; Corporeidade; Formação de Professores;
Saberes Docentes; Humanescência.
14
SUMMARY
The present study comes from inquietudes of an investigative posture assumed by a
Physical Education Graduation Professor, before her educative action with
undergraduate teachers. The research was done with 16 (sixteen) Kindergarten and
Elementary School teachers, who teach at public schools. The referred teachers are
undergraduate students of the “Graduating Normal Course” at Superior Educational
Institute President Kennedy, in Natal/RN. The analysis and discussion of the
intertwining of knowledge, within the four Pillars of Education, at the “Fountain of
Knowledge”, is a metaphor, especially created for this study, as for its
epistemological and methodological structure, guiding all the investigative process. It
provided to show up the repercussion of bathing and drinking these humanizing
waters of a pedagogical practice that values the Being, aiming his self-
transcendence. The conclusions obtained were the following: 1) The professor, while
bathing himself in the Fountain of Life Knowledge, reflects his personal and
professional life, recalling feelings and emotions that through time were forgotten, but
as they were remembered and lived again, impulse people towards humanity. 2)
While bathing himself at the Fountain of Life Knowledge, the professor realizes he is
awoken to humane knowledge, caring about his practices, which he develops in the
classroom. Practices he considers the learning of knowing, of doing, of living
together, and of learning how to be, having and integrated form on the Being. 3)
When the worries about the developing of the Being exist – coming from the
undergraduate teacher – there is a practice the shows up the web of corporeity
knowledge – knowing how to play, how to create, how to feel, how to think, and how
to humanize. 4) The presence of the professional of Physical Education, with
knowledge and experience of the budgets of corporeity, is essential in the process of
graduating the Kindergarten and first years of Elementary School undergraduate
teacher, for he, the former, has a huge responsibility as to the learning and
developing of the educational process – the humanizing developing of the Being – In
a proposal of education that occurs through the whole life. 5) The Professional of
Physical Education has positions to conquer, for the existent gap in the educational
process, as for the understanding of the body and of corporeity in the perspective of
totality, urges to be modified in name of another mankind, with full humanity.
Key-words: Physical Education; Corporeity; Graduation of Teachers; Knowledge;
Professors; Humanity;
15
SUMÁRIO
RESUMO
SUMMARY
CAPÍTULO I – PROBLEMA ..................................................................................
8
1.1 Sobre a Fonte dos Saberes da Vida ...............................................................
8
1.2 Problematizando a Formação de Professores: o papel da Ludicidade
Humanescente .............................................................................................
21
1.3 Objetivo do Estudo .........................................................................................
35
1.4 Pressupostos Teóricos ...................................................................................
35
1.5 Justificativa .....................................................................................................
36
CAPÍTULO II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................
39
2.1 Os Saberes da Vida ........................................................................................
39
2.2 Os Pilares Condutores: Criar, Brincar, Sentir, Pensar e Humanizar-se .........
53
2.3 Corporeidade e o Saber Criar .........................................................................
64
2.4 Corporeidade e o Saber Brincar .....................................................................
68
2.5 Corporeidade e o Saber Sentir .......................................................................
72
2.6 Corporeidade e o Saber Pensar .....................................................................
77
2.7 Corporeidade e o Saber Humanizar-se ..........................................................
79
2.8 Corporeidade e Experiência de Fluxo ............................................................
82
2.9 A ÁGUA que Transforma o Ser ......................................................................
87
2.10 O AR e a Libertação do Sensível .................................................................
90
2.11 A TERRA como Matéria Viva Harmonizada .................................................
93
2.12 O FOGO e a Transcendência Humanescente .............................................
97
CAPÍTULO III – METODOLOGIA ........................................................................
100
3.1 Natureza da Pesquisa ....................................................................................
100
3.2 Características do Grupo Investigado ............................................................
103
3.3 A Pesquisa no Processo Formativo e Autoformativo de uma Professora
Formadora .......................................................................................................
105
CAPÍTULO IV - APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DAS DESCOBERTAS:
DESVELANDO A FONTE DOS SABERES DA VIDA ........................................
111
4.1 Teorização do Plano da Disciplina Educação Física e a Fonte dos Saberes
da Vida ..................................................................................................................
111
4.2 Saberes da Vida para a Vida .........................................................................
120
4.3 O ‘Saber Ser’, os Pilares da Educação e os Saberes da Vida .......................
129
4.4 Ser Integral e com plexo: Ser Corpo e Ser Corporeidade ..............................
129
4.5 Ser e os Saberes da Corporeidade ...............................................................
132
4.6 O Ser e o Entrelaçamento dos Saberes da Vida ............................................
134
CAPÍTULO V – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ....................................
137
5.1 Mergulhando da Fonte dos Saberes da Vida e “sacudindo” gotas de Águas
Humanescentes ...................................................................................................
137
5.2 Conclusões: Na Fonte dos Saberes da Vida, um banho finito e Infinito com
Água que Sacia sem Saciar .................................................................................
137
5.3 Recomendações: Renovação e purificação das Águas Humanescentes que
Jorram da Fonte dos Saberes da Vida .................................................................
139
REFERÊNCIAS ....................................................................................................
140
ANEXOS
16
CAPÍTULO I
PROBLEMA
1.1 SOBRE A FONTE DOS SABERES DA VIDA
Jorra uma fonte! Fonte de ludicidade, de alegria, de humanescência!
1
Nela, banham-se professores em formação. A água simboliza a vida e os saberes
para bem viver. Apresenta-se, tal como na epistemologia bachelardiana, como um
Ser total, que tem um corpo, uma alma e uma voz, superando dicotomias e
envolvendo o desejo e o medo, o bem e o mal, o branco e o preto, ou seja, a alma
inteira. Ela é um elemento favorável para representar combinações, pois “assimila
tantas substâncias! Traz para si tantas essências!” (BACHELARD, 1997b, p. 97).
A água permite a aceitação de dicotomias como complementares e não
como excludentes. Visualizamos, no banho provocado pela fonte dos saberes da
vida, a presença da teoria e da prática, da autoridade e da liberdade, da ignorância e
do saber, do respeito ao professor e do respeito ao aluno, do ensinar e do aprender.
Ao brincarem
2
na fonte dos saberes da vida, os professores parecem
renascer de modo irresistível e contínuo: entregam-se, distanciam-se, aproximam-
se, correm, giram, dançam, vivem... Tal como crianças, vivenciam a plenitude do
1
Conceito aqui apresentado com base nas teses apresentada por Serres, Nietzsche,
Csikszentmihalyi e Cavalcanti. Serres (2003), aponta o começo de uma outra humanidade; Nietzsche
(1995), “espírito livre”, que admite como sendo sua libertação do que não pertencia à sua natureza;
o conceito de “personalidade autotélica”, de Csikszentmihalyi (1999), alcançada, segundo o autor,
quando conseguimos viver a vida com envolvimento e entusiasmo. Cavalcanti (2005), considera que
é um processo de expansão da Essência que irradia luminosidade envolvendo outros seres, a
natureza, a sociedade, o planeta. Surge então o ser humanescente como aquele cada vez mais
humano que irradia luz na forma de amor e alegria.
2
Brincar no sentido que nos apresenta Maturana e Verden-Zöller (2004), ou seja, “Amor e brincadeira
são modos de vida e relação. São domínios de ações e não são conceitos nem distorções reflexivas,
comportamentos maus ou bons, virtudes ou valores” (p. 249).
17
Ser, uma vez que, “no momento de brincar, as crianças (e também os adultos,
quando brincam) são o que a brincadeira indica” (MATURANA e VERDEN-ZÖLLER,
2004, p. 241).
A água humanescente que jorra da fonte toca os corpos dos professores,
despertando-lhes os sentidos, sensibilizando-os para a vida. Banhando-se,
reaprendem a brincar, brincar com o corpo, brincar com a alma. No corpo,
reaprendem a viver um espaço de brincadeiras como uma experiência legítima e
fundamentalmente humana. Brincando, os sentimentos fluem e o ser toma
consciência de si. Lowen (1990) afirma que, para estar consciente do eu, necessário
se faz perceber as sensações produzidas pelo corpo.
Nessa fonte de vida, inspirada no Relatório “Delors”
3
(2003) e constituída
de quatro pilares, que assumem a função de condutores de água humanescente,
pode ocorrer, em alguns momentos, que um desses pilares passe a jorrar com mais
intensidade do que os outros, sobrepondo-se, permitindo que alguns saberes se
sobressaiam perante outros de acordo com as necessidades e situações
vivenciadas. Os saberes da vida, como jatos d’água, podem se sobressair um e
outro em determinados momentos; em outros, podem misturar-se, entrelaçando-se,
possibilitando à fonte jorrar com mais intensidade, tornando o banho revigorante,
revelador, transformador, verdadeiramente capaz de impulsionar o processo de
humanescência do Ser.
Transformador, no sentido de provocar (re)descobertas, novos olhares,
(re)leituras, mudanças de atitude. Em sua prática pedagógica, o professor apresenta
características do que Schön (1995, p. 83) identifica como sendo as de um professor
reflexivo, que reflete-na-ação. O autor considera que “um professor reflexivo permite-
3
Modo como é conhecido o Relatório elaborado por uma comissão da UNESCO, presidida por
Jacques Delors, onde são apontados saberes necessários à Educação do século XXI.
18
se ser surpreendido pelo que o aluno faz”; em seguida, “reflete sobre esse fato, ou
seja, pensa sobre aquilo que o aluno disse ou fez e, simultaneamente, procura
compreender a razão por que foi surpreendido”, tendo também a capacidade de
surpreender-se consigo mesmo, não se acomodando e estando sempre exercitando
uma prática dialética, analisando o que ocorre no exterior e no seu interior.
Buscar a água humanescente nessa metáfora nos conduz novamente a
Bachelard (1997b, p. 192): “A água é senhora da linguagem fluida, da linguagem
sem brusquidão, da linguagem contínua, continuada, da linguagem que abranda o
ritmo, que proporciona uma matéria uniforme a ritmos diferentes”. Água, onde
flutuam os saberes da vida, que jorram da fonte continuamente, com ritmos e
intensidades variadas e que permitem ao professor em formação vivenciar
experiências corporais, construindo e redimensionando saberes que repercutirão em
novas práticas e estratégias de ação. Para Freire (2001), não é possível o educador
ajudar o educando a superar sua ignorância se não superar permanentemente a
sua. Não é possível ensinar o que não se sabe. Assim, é na prática educacional que
o professor em formação se desenvolve. Assim, é na vida.
Trazer o professor, que é o próprio “ser”, para o centro do debate
educativo e científico se faz necessário, pois ele é a via essencial que integra e dá
vida a todos os saberes. É no cerne desse viver que os saberes dançam,
entrelaçam-se e jorram na fonte da vida, não se devendo perder de vista o binômio
Ser-Vida, que evolui em conexão.
O professor, ao banhar-se na água dessa fonte, renova-se, renovando o
seu Ser, renovando a sua vida. Não poderá ser mais o mesmo. E tantas quantas
forem as vezes em que esse professor banhar-se, não será o mesmo professor a
banhar-se, nem será a mesma fonte, tal qual o ensinamento heraclitiano. Para
19
Bachelard (1997b, p. 07), a água é “um elemento transitório”, como transitória é a
vida do Ser.
Banhar-se na fonte dos saberes da vida proporciona libertar-se
corporalmente, numa perspectiva de totalidade, libertar-se do torpor causado pela
submissão do corpo, provocado pelo mecanicismo racionalista dominante, que
submete a subjetividade à marginalidade, discriminando sentimentos e emoções,
considerando-os sem muita importância no desenvolvimento do Ser. Em nossa
cultura, é comum usar a razão para “negar ou obscurecer nossas emoções e avaliar
nossa conduta como se estivéssemos fora delas” (MATURANA e REZEPKA, 2000,
p. 43). Razão e emoção passam a ser consideradas, em estudos recentes, por
diversas ciências humanas, sociais, biológicas não como forças antagônicas, mas
complementares na constituição do Ser.
Cavalcanti (2004, p. 4-5) ressalta que o encontro entre ciência e
sentimentos é recente. A autora afirma que “o que dá sentido à vida é o sentimento
da vida cultivado nas emoções de alegria e tristeza, de prazer e dor”. E continua: “na
busca da perfeição do Ser está implicado o amor e sua expressão de alegria. O
desejo que nasce da alegria é impulsionado pela própria alegria”. [...] “A alegria que
for desejada para si deverá ser desejada para o outro”.
A realidade vivenciada na fonte dos saberes da vida permite e estimula
sentimentos e emoções como componentes da inteireza do ser, proporcionando,
inclusive, o resgate de situações que ficaram pendentes do período da infância do
professor.
O professor em formação, além de banhar-se nessas águas
humanizantes, também bebe nessa fonte cristalina de harmonização de emoções e
sentimentos. Bebe a água sempre renovada de uma fonte viva. Bebe, purificando-se
20
e amando. Amando a si e ao outro, tornando-se cada vez mais humano, realizando
assim sua humanescência. Como afirma Régis de Morais (2003, p. 149),
[...] a humanidade de nós se realiza no encontro entre um Eu e
um TU – ‘o encontro humano” em sua mais profunda significação
[...] tanto nossas relações com as coisas quanto com as pessoas
só ganham plenitude na mais transcendente das relações: a de
nós e nosso mundo com Deus (o TU-ETERNO).
No Relatório “Delors” (2003, p. 19) são analisadas modificações nas
concepções de educação e de existência humana, mudanças que nos colocam no
dever de compreender melhor o outro, de compreender melhor o mundo. Conforme
esse Relatório, o mundo encontra-se carente de compreensão mútua, de atitudes
solidárias e de harmonia. O que leva seus relatores a ressaltar a importância de um
dos pilares da nossa fonte: “trata-se de aprender a viver juntos, desenvolvendo o
conhecimento acerca dos outros, da sua história, tradições e espiritualidade”. No
entanto, é relevante entender-se que, compreendendo os outros, cada um poderá se
conhecer melhor e, conhecendo-se melhor, poderá interagir melhor com o mundo.
A interação e o cuidado com o outro fazem com que a fonte se torne um
agradável local de encontros, onde o eu, o outro e o mundo constituem um tripé que
caminha junto na vida e evolui naturalmente. Ranghetti ([s.d.], p. 8) afirma que:
[...] descobrir-se a si mesmo, deparar-se com o seu eu, sua
interioridade, para descobrir o outro, deparar-se com o outro,
comunicar-se, é estabelecer uma parceria com a vida, é estar em
sintonia, é envolver-se e deixar-se ser envolvido. Por isso, requer
a descoberta de si, para poder estar aberto a descobrir o outro e
relacionar-se.
Ao ser banhado pelos saberes da vida que entrelaçados jorram dessa
fonte, o professor pode renascer de forma plena. Renasce no sentido de ser
21
singular. As vivências corporais que são propiciadas nos momentos de formação
estimulam a articulação dos saberes e a transformação do ser porque provocam
emoção, despertam a sensibilidade. Para Bachelard (1997b, p. 15), “a fonte é um
renascimento irresistível, um nascimento contínuo”. Ela não é dormente, está
sempre se renovando. Como se renovando deve estar constantemente o ser.
A Escola deve ser um espaço que deveria oportunizar a construção
permanente do Ser. Escola que Barbosa e Bulcão (2004, p. 74) vislumbram dever
ser “um lugar de formação, mas principalmente de deformação e de reforma”. E
acrescentam:
Só há formação quando há negação das verdades armazenadas
na memória e, conseqüentemente, invenções de novas idéias,
pois esse processo de retificação do saber e de si mesmo constitui
o processo mesmo da educação humana (BARBOSA e BULCÃO,
2004, p. 78).
Sentimentos e emoções como enlevo, alegria, medo, insegurança e
prazer não devem ser como historicamente vêm sendo assimilados, relegados a um
segundo plano na formação profissional. Não, se considerarmos o ser humano em
sua totalidade e em um momento histórico de mudanças, de (re)pensar, de
enfrentar, de conhecer e de analisar velhos problemas com novos olhos. Para
Barbosa e Bulcão (2004, p. 51), “conhecer é se aventurar no reino do novo e do
abrupto, é estabelecer novas verdades através da negação do saber anterior e da
retificação de conceitos e idéias que anteriormente nos pareciam sólidos”.
Para as autoras, a noção de Formação é mais ampla e completa do que a
de Educação, que é arraigada de uma tradição que nos faz confundir conhecimento
com repetição e memorização. Formação deve ser entendida como reforma do
sujeito. Reforma no sentido de auto-aperfeiçoamento do sujeito inteiro, objetivo e
22
subjetivo.
Mudar o olhar, modificar a forma de olhar para “velhas” ações significa
transformação. Para isso, segundo Schön (1995, p. 86), é preciso arriscar e buscar
“autoconfiança, desenvolvida a partir de uma consciência interior e da auto-estima”.
Conhecimento provocado a partir do corpo, de vivências corporais que
reconhecem o ser em toda sua inteireza. Rubem Alves alerta para a necessidade de
que a sensibilidade seja educada, pois prazer e alegria são o sentido da vida. No
corpo de cada um encontram-se adormecidos os sentidos, sendo preciso despertá-
los, para expandir a capacidade de sentir alegria e prazer. Recuperar a sensibilidade
perdida é tarefa essencial no processo educativo atual, pois “a arte de viver não se
faz com a inteligência instrumental. Ela se faz com a inteligência amorosa” (ALVES,
2002b, p. 113).
Os professores se reformam ao se banharem na fonte desses saberes da
vida. Reforma provocada pelo prazer, pelo amor, mas também pelo temor, pela dor.
Ao se banharem na luderescência
4
da vida, os diferentes seres percebem que
reagem de modo singular ao banho naquela fonte, pois cada um chega até a fonte
com vivências anteriores distintas e histórias diferentes. Segundo Tardif (2002), ao
longo de sua história de vida pessoal e escolar, o professor interioriza
conhecimentos, competências, crenças, valores que se manifestam em suas ações
e reações.
Com prazer ou com dor, ao banhar-se na fonte dos saberes da vida, o
professor transforma-se, supera-se. Desafia medos, insegurança e se expõe. Brinca
relembrando a criança que um dia foi: criança alegre ou triste. Dança sem nunca ter
dançado. Expõe-se e evolui junto com outros colegas professores. Alguns relutam
4
É o brincar humanescente.
23
em banhar-se, de corpo e alma, precisam ser convidados, seduzidos, e quando
cedem, reconhecem que não são mais os mesmos. A água humanescente da fonte
representa, então, como afirma Bachelard (1997b, p. 6), “um destino essencial que
metamorfoseia incessantemente a substância do ser”, pois ela é um elemento
transitório, que une e desune. Uma vasta unidade que abraça o ser “na alegria e na
dor, em seu tumulto e em sua paz, em suas brincadeiras e em seus queixumes”.
Brincando na fonte, os professores têm a oportunidade de evoluir: “o
máximo de maturidade que um homem pode atingir é quando ele tem a seriedade
que têm as crianças quando brincam” (NIETZSCHE citado por ALVES, 2002b, p.
119).
Brincar! Eis um grande desafio! Na Cultura Ocidental muitos perderam
essa capacidade em decorrência da exigência pela competição, pela obtenção de
êxito a qualquer custo, por viver bem no futuro, numa luta constante pela existência.
Maturana e Verden-Zöller (2004, p. 140) alertam para o fato de que “nossa atenção
está tão orientada para os resultados do que fazemos que raramente vivemos o
nosso fazer como um ato no presente”. No entanto, brincando tem-se a possibilidade
de desfrutar do presente e não apenas lastimar o que se perde, mas, principalmente,
projetar o que se quer.
Acredita-se, assim como Maturana e Rezepka (2000, p.10), que o futuro
deve pertencer aos que viverão no futuro, ou seja,
[...] homens e mulheres que deveriam ser seres íntegros,
autônomos e responsáveis pelo seu viver e pelo que fazem,
porque o fazem a partir de si; homens e mulheres sensíveis,
amorosos, conscientes do seu ser social e de que o mundo que
vivem surge como seu viver.
Desse modo, a tarefa da Educação deve ser formar para o presente seres
24
íntegros, nos quais os outros possam confiar e a quem possam respeitar, que sejam
capazes de refletir acerca de tudo o que fazem, fazendo de sua vida um ato
responsável, um ato humanescente de existir.
Existir no presente, pois vivemos no presente. Maturana e Rezepka
(2000, p. 9) estendem a compreensão de presente, quando defendem que “o futuro
é um modo de estar no presente, e o passado também”. Diríamos, portanto, que a
vida é um presente e que vivemos o presente no presente.
Ao jorrarem dos quatro pilares que compõem a nossa fonte, os saberes
que flutuam nas águas humanescentes da vida misturam-se e criam efeitos visuais
diversos no ar e na terra, adquirindo forma e força variadas, tocando os Seres de
corpo e alma que se banham com diferenças de intensidade. Os professores se
molham, sentindo o prazer da mudança, transformando e sendo transformados,
vivendo sua individualidade na coletividade do desafio educativo humanescente,
vivendo o momento presente, condição indispensável da ludicidade humana. Para
Maturana e Verden-Zöller (2004, p. 230), “brinca-se quando se está atento ao que se
faz no momento em que se faz”. Também para Bachelard (1985, p. 13), o homem só
consegue tomar consciência de si no instante presente quando ele afirma ainda que
o único tempo real é o instante, sendo, portanto, “uma realidade entre dois nadas”.
Diante desses argumentos, pode-se dizer então que o brincar e a consciência são
presentes da vida presente, vivente. O brincar humanescente constitui a
luderescência da vida.
O banho na fonte dos saberes da vida é real, é presente, desperta a
consciência da corporeidade, o que é fundamental para a melhoria da qualidade de
vida, pois, segundo Assmann (1995, p. 75-76),
[...] corporeidade é tão agudamente relevante para a Educação em
geral, para a vida humana e para o futuro humano neste planeta
25
ameaçado, que urge alargar nossa visão para incluir necessidades
ainda não suficientemente despertadas, mas que seguramente se
manifestarão mais e mais ao ritmo da deteriorização da Qualidade
de Vida. Porque Qualidade de Vida mesmo no seu sentido mais
espiritual, sempre significa Qualidade da Corporeidade
Vivenciada.
Vida! Construir a vida, preservar a vida, viver a vida, viver bem a vida. O
banho na fonte dos saberes da vida oportuniza o encontro com dicotomias e sua
superação enquanto excludentes, permitindo que elementos opostos e contraditórios
se integrem no todo que é o Ser. Banhando-se nessas águas humanizantes, o
professor desenvolve a competência de atuar em sua própria formação, vivendo e
projetando sua autoformação, buscando a beleza de seu cotidiano educativo, a
beleza de sua vida. Paulo Freire (2001, p. 106) enfatiza que não há lugar nessa
“boniteza” para a falta de decência, para a grosseria, nem para o puritanismo. “Só há
lugar para a pureza”.
Pureza, beleza, amor. Na fonte dos saberes da vida que se entrelaçam e
jorram continuamente, os professores vivenciam os sentimentos e emoções
presentes no despertar da consciência de si, e já não é mais possível, como até o
século passado, as ciências continuarem omitindo sua importância para a vida
humana.
A corporeidade no contexto de formação vivenciado na fonte dos saberes
da vida deve ser percebida como integrada na unidade do Ser. Ela está presente e
próxima do Ser e o constitui. O amor a Si e ao Outro é um caminho para harmonizar
o Ser com toda sua existência cósmica. É o caminho para fazer florescer a
corporeidade.
Amor pode ser considerado, para alguns, algo muito comum, muito
simples, até piegas. No entanto, ele é do ponto de vista biológico, conforme
26
Maturana e Verden-Zöller (2004, p. 235) bem destacam, “a disposição corporal sob
a qual uma pessoa realiza as suas ações que constituem o outro como um legítimo
outro em coexistência”. Para existir e co-existir com o Outro, o Ser precisa amar.
Como os demais sentimentos, o amor foi execrado por muitos das discussões
científicas, tornando-se, segundo Alves (2002, p. 113), uma palavra maldita entre os
educadores que pensam a Educação como ciência dos meios:
Envergonham-se que a educação seja coisa do amor – piegas.
Mas o amor - Platão, Nietzsche e Freud o sabiam – nada tem de
piegas. Amor marca o impreciso círculo de prazer que liga o corpo
aos objetos. Sem o amor tudo nos seria indiferente – inclusive a
ciência...a ciência desconhece o amor – tem de desconhecer o
amor, para ser ciência. Tem de ser assim para que ela seja a
coisa eficaz que é. Mas a vida, toda ela, é feita com decisões e
direções. E essas direções e decisões são determinadas pela
relação amorosa com os objetos.
A necessidade de tornar o mundo mais harmonioso, com possibilidades
de permitir a evolução do Ser, exige que se traga para o centro do processo
educativo o próprio Ser, o Ser que ama, que pode odiar, mas que tem capacidade,
essencialmente, para amar, reconhecendo que são os desejos e as emoções que
orientam o devir humano. Desse modo, Cavalcanti (2004, p. 6) argumenta que:
Introduzir a noção de corporalização nos estudos que envolvem a
vida humana, particularmente a educação, significa reconhecer a
implicabilidade dos sentimentos e emoções que fazem brilhar a
presença do Ser no mundo. A maior ou menor intensidade desse
brilho depende da força interior que impulsiona o Ser para o
autodesenvolvimento através da autotranscendência.
Transcendência entendida, segundo a própria autora, como o caminho
para a evolução humana, onde “o pessoal se converte em universal no
reconhecimento da união total com o infinito” (CAVALCANTI, 2001, p. 50).
27
Assim, antes do pessoal converter-se em universal, é preciso que se olhe
para dentro de si, sem temores, sem falso pudor e sem medo do prazer e da alegria
de viver. Com a intenção de trazer o corpo vivo, aquele que sente, que recebe
informações, que manifesta opiniões, temores, alegrias, possibilidades, criação,
renovação para assumir seu lugar não só na sala de aula, mas em toda a vida, é
que a fonte dos Saberes da Vida permanece jorrando, banhando professores em
formação. Da mesma maneira que se acredita não ser possível exercer a profissão
docente como se nada ocorresse com quem a vivencia, acredita-se que não é
possível entrar na fonte da luderescência e não se molhar, não se purificar, não se
aperfeiçoar como Ser humano.
A fonte dos Saberes da Vida aqui investigada, durante dez anos, vem
sendo construída e, hoje, pode jorrar banhando professores que são transformados
e que se transformam. Durante todo esse tempo vem acolhendo grande número de
professores que se banham em diferentes momentos de suas vidas com muito
amor, entendendo amor como Maturana e Rezepka (2000, p. 14-15): “o domínio de
condutas relacionais através dos quais o outro surge como um legítimo outro em
convivência com alguém”. O ser humano é perito em emocionar-se, entretanto esse
direito muitas vezes lhe é negado, o que empobrece a vida. A fonte dos saberes da
vida, da luderescência oportuniza a vivência do amor. É preciso acreditar que,
talvez, assumindo a responsabilidade por suas emoções, o professor possa dar-se
conta do que quer, aonde pretende chegar, ou por onde caminhar.
Quando se faz referência ao fato de que a fonte vem jorrando durante dez
anos, percebe-se uma estrita relação com os estudos de Tardif (2002, p. 23),
quando o autor afirma que nos últimos dez anos vêm ocorrendo, em muitos países,
reformas na formação de professores, o que para o autor evidencia “a vontade de
28
encontrar, nos cursos de formação de professores uma nova articulação e um novo
equilíbrio entre os conhecimentos produzidos pelas universidades a respeito do
ensino e dos saberes desenvolvidos pelos professores em suas práticas cotidianas”,
não sendo possível deixar de considerar, como de extrema relevância, as
necessidades das sociedades e dos seres que as constituem.
A aproximação entre a teoria e a prática na Educação é uma evidência de
que continua-se buscando contribuir com a humanização do Ser, podendo surgir
como “um trunfo indispensável à humanidade na sua construção dos ideais da paz,
da liberdade e da justiça social” (DELORS, 2003, p. 11), oportunizando um
desenvolvimento humano mais harmonioso.
No entanto, nem sempre foi assim. Até aqui se fala do presente, pois se
conta uma história de amor, que, segundo Alves (1999, p. 170), “é a vida
acontecendo no momento: sem passado, sem futuro, presente puro, eternidade
numa bolha de sabão”.
Este estudo configura-se como recorte de uma história. Desse modo,
busca-se o processo histórico que a comporta, situando-o num contexto – macro de
educação e de formação docente, para não cair no erro de acreditar, como afirma
Régis de Morais (2003, p. 117):
Tudo o que não podemos é nos sentir como sendo o centro do
universo, a única realidade verdadeiramente importante à qual as
demais realidades devem submissão. O maior perigo que pode
ameaçar a qualquer ser humano é uma terrível incapacidade de
partilhar a vida e o mundo com os outros.
1.2 PROBLEMATIZANDO A FORMAÇÃO DE PROFESSORES: o papel da
ludicidade humanescente
29
O resgate histórico aqui realizado pretende analisar o cenário, a partir do
qual a fonte da luderescência, dos saberes da vida, foi construída. Ela emerge no
seio de uma realidade educacional de formação docente que tece fios em torno de
determinações e reconfigurações diante de necessidades sociais e econômicas que
exigem respostas imediatas a determinadas decisões políticas.
A última década do século passado configurou-se como um momento
histórico de consolidação de reformas educacionais, tendo sido o marco institucional
dessas reformas no Brasil, a Constituição de 1988, que consagra em seu Art. 205 —
“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.”
O pleno desenvolvimento da pessoa aparece no texto da Constituição
como um dos objetivos da Educação. A pessoa é o Ser que, na nossa proposta
educativa, banha-se nas águas cristalinas, bebendo na fonte da da ludicidade, da
alegria de viver, conhecendo, fazendo, convivendo e sendo. Investindo e
vivenciando em seu processo auto-formativo, além das exigências institucionais, o
sentir-se Ser Humano em plenitude.
A promulgação da Lei Constituinte exigia, portanto, uma outra que a
regulamentasse, o que o fez a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional –
LDBEN n° 9394, de 12/1996). Um conjunto de acontecimentos gerou, naquela
ocasião, discussões na área educacional, muito embora, como alerta Freitas (1999),
desde o final dos anos 70, com o processo de democratização da Sociedade,
30
exigências tenham sido colocadas para a melhoria da Escola Básica e para a
Formação de Professores.
No Instituto de Formação de Professores “Presidente Kennedy”, a LDBEN
9394/96 já encontrou uma experiência de formação docente, uma pequena fonte de
saberes da vida que jorrava desde 1994, ano em que se iniciou a primeira turma, em
Nível Superior. Os pressupostos da Corporeidade começavam a ser conhecidos
pelas Professoras Formadoras da disciplina de Educação Física, as quais, na prática
educativa que desenvolviam procuravam dar vida ao que era apresentado nos
trabalhos de Santin (1987 e 1992), Cavalcanti (1996) e Gonçalves (1994). Naquela
ocasião, outro teórico de fundamental importância foi Nóvoa (1995, p. 32), que
provocava reflexões ao apresentar como integrantes de um mesmo Ser o
profissional e a pessoa que ensina. O autor afirmava que “há o reconhecimento de
que não é possível construir um conhecimento pedagógico para além dos
professores, isto é, que ignore as dimensões pessoais e profissionais do trabalho
docente”.
Era a construção de uma Educação Física que, tendo como objeto de
estudo o Ser corpóreo que se movimenta, desenvolvia uma prática que considerava
a totalidade do Ser que estava em formação,
As discussões em torno das reformas necessárias à formação de
professores eram realizadas por Universidades e Associações de Profissionais da
Educação, como Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
- ANPEd, Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação -
ANFOPE, Association Francophone Internationale de Recherche Scientifique en
Education - AFIRSE, dentre outras. E realizações como a Conferência Mundial de
31
Educação para Todos, em Jomtien, na Tailândia, em 1990, e como desdobramento
desta, o Acordo Nacional e o Pacto pela Valorização do Magistério e Qualidade da
Educação, deram origem ao Plano Decenal de Educação para Todos, fruto de uma
parceria entre o Poder Público, as Organizações não-Governamentais e as
Entidades Acadêmicas e Sindicais do Movimento de educadores brasileiros
(FREITAS, 1999).
O Plano Decenal de Educação estipula metas que deverão ser
alcançadas no prazo estabelecido — dez anos –, dentre as quais, a formação de
todos os professores que atuam na Educação Básica, em Nível Superior. Educação
Básica que passa a contemplar, a partir da Lei 9394/96, além do Ensino
Fundamental, a Educação Infantil e o Ensino Médio.
O Artigo 87 das Disposições Transitórias da LDBEN reza que “É instituída
a década da Educação, a iniciar-se um ano após a publicação desta Lei”. Explicita,
ainda, em seu § 4º, que “até o fim da Década da Educação somente serão admitidos
professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço”
(BRASIL, 1996, p. 24). Decisão que sofreu prorrogação em decorrência da
impossibilidade de cumprimento em tempo hábil.
As reformas no âmbito da formação de professores, conforme analisam
Lüdke, Moreira e Cunha (1999), ocorriam não apenas no Brasil e demais países da
América Latina, mas também em países como Portugal, Espanha, Islândia, França,
dentre outros, trazendo a marca de mudanças ligadas à globalização econômica,
que enfatiza aspectos como produtividade, privatização e competência. Nóvoa,
citado por Lüdke, Moreira e Cunha (1999, p. 282), destacam que
32
[...] a racionalização e a privatização constituem momentos de um
mesmo processo de controle externo da profissão docente. Elas
integram uma proposição política na qual os docentes são
definidos de acordo com critérios de racionalidade técnica, que
reforçam as separações entre a teoria e a prática e a ambigüidade
de suas relações com o saber. Enquanto nas academias os
experts pregam a autonomia, a auto-reflexão e a qualificação
científica dos professores, as reformas educativas buscam obter
legitimidade propondo uma descentralização e um controle maior
do professor sobre seu próprio trabalho.
Despertar a consciência do professor acerca de seu próprio trabalho era
uma finalidade da prática de formação desenvolvida pela disciplina “Educação
Física”, na ocasião em que a fonte dos saberes da vida começava a jorrar –
1994/1995. Ao vivenciarem atividades corporais que valorizavam o Ser, os
professores eram despertados para a importância de sua existência, como
Profissionais e como Seres em evolução. Ali se fortaleciam e passavam a querer
saber cada vez mais. Tal desejo correspondia ao que era apresentado, logo em
seguida, pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da
Educação Básica, recomendando que os professores deveriam apresentar
“disposição para atualização constante de modo a inteirar-se dos avanços do
conhecimento nas diversas áreas, incorporando-os, bem como aprofundar a
compreensão da complexidade do ato educativo em sua relação com a sociedade”
(BRASIL, 2001, p. 10).
Com a homologação da LDBEN em 1996, tem-se um marco da
institucionalização de políticas educacionais gestadas e implantadas pelo Ministério
da Educação e Cultura, dentre elas a criação do Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério – FUNDEF
33
(1996) – , Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), Exame Nacional de Cursos
(1996-2003), dentre outras.
No entanto, a Lei 9394/96, no que se refere à formação de professores, é
considerada bastante reduzida, pois, sob o título “Dos profissionais da educação”,
traz apenas seis artigos, nos quais pretende definir os fundamentos, os conceitos e
a delimitação dos níveis e locais de formação. E ilustra mais uma vez a busca de
legitmidade das reformas educacionais, quando coloca o professor na posição de
protagonista, esperando dele
[...] um nível mais rigoroso de formulação e responsabilidade,
elencando, ao lado das incumbências já consideradas rotineiras, a
participação na elaboração da proposta pedagógica da escola,
espaço que pode vir a ser estimulador da conquista de crescentes
estágios de autonomia escolar e de democratização da gestão
(MELO, 1999, p. 50).
Colocando o professor como protagonista, de quem se espera atividades
que vão além do ato de dar aulas ou, talvez, ir além de ensinar o conhecimento
sistematizado, exige dos cursos de formação uma adequação a essas exigências,
reconhecendo toda a complexidade que envolve essa “práxis”. De outro modo, o
professor pode desenvolver um sentimento de frustração e incapacidade, em vez de
ver fortalecido o seu papel social. O professor vive, segundo Nóvoa, citado por
Lüdke, Moreira e Cunha (1999, p. 281), “uma situação paradoxal: de um lado, uma
desvalorização dos professores e de seu status profissional, de outro, sua
permanência, no discurso político e no imaginário social, como um dos grupos
decisivos para a construção do futuro”. Há, portanto, um distanciamento entre o que
34
rezam os documentos oficiais e estudos sobre a temática e a realidade vivenciada
pelos professores.
A prática daquela Educação Física que estava em construção era real,
antes mesmo de ser considerada como essencial pelos documentos normativos.
Nela, os professores sentiam-se valorizados, vivos. Tinham consciência do seu
papel e de sua importância para a vida de seus alunos. Estava em construção um
novo quadro de referências no que tange à Educação e a Formação docente, fruto
do avanço tecnológico e científico nas sociedades modernas. Mas ali também
estava em construção uma prática preocupada com a humanescência do Ser.
Em 1996, a UNESCO publicou um relatório com vistas a oferecer esse
quadro de referências, que passa a ser denominado “Relatório Delors”, em
homenagem a Jacques Delors, que presidia a comissão. Tal documento foi
elaborado visando a uma aprendizagem ao longo de toda a vida, numa concepção
sistêmica de formação. No Instituto “Kennedy”, a fonte que iniciava a jorrar os
saberes da vida tornava real o que era apresentado pela Comissão.
Os Institutos Superiores de Educação foram criados quando a Lei
9394/96 em seu Artigo 62 já afirmava que:
A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á
em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena,
em universidades e institutos superiores de educação, admitida
como formação mínima para o exercício do magistério na
educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino
fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal
(BRASIL, 1996, p. 18).
35
Esse artigo apresenta-se de modo ambíguo, permitindo dupla
interpretação, ou seja, a escolaridade mínima para docência na Educação Infantil e
séries iniciais do Ensino Fundamental é de Nível Superior, ou aceita-se a de Nível
Médio? Essa ambigüidade torna-se objeto de discussões com a finalidade de que
seja definido, de maneira clara, qual a formação mínima exigida a esses
professores, pois, do modo como foi redigido, o artigo se contrapõe ao de n° 87, e
seu § 4º, onde se afirma que “Até o final da Década da Educação somente serão
admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em
serviço” (BRASIL, 1996, p. 24 ).
Vale ressaltar, no entanto, que, anteriormente à criação dos Institutos
Superiores de Educação pela LDBEN 9394/96, em meados de 1994, o Governo
Brasileiro, em parceria com o Governo Francês, criou dois Institutos de Formação de
Professores: um em Minas Gerais e outro no Rio Grande do Norte, ambos sob a
“custódia” de Universidades. No caso específico do RN, a Universidade Estadual do
Rio Grande do Norte (UERN) assumiu esse papel. As referências teóricas naquele
momento eram fruto das discussões que estavam sendo travadas nos meios
educacionais, em relação à formação de professores no País e no Mundo, e o
modelo prático era dos lnstituts Universitaires pour la Formation des Maítres
(IUFMS). Contava-se, na ocasião, com a assessoria prestada pelo Professor Michel
Brault, que trazia “A Experiência Francesa”.
Quando o Conselho Nacional de Educação (CNE), em seu Decreto nº
3.276/99, regulamenta os Institutos, provoca mais discussões, ao definir que a
formação de professores para esses níveis de ensino ficaria restrita
“exclusivamente” aos Cursos Normais Superiores. Os Institutos Superiores de
36
Educação, com seu Curso Normal Superior, passam a ser alvo de críticas de
centenas de instituições, entidades, Conselhos de curso e educadores, que
enviaram manifestações ao CNE, pelo fato de este não considerar as contribuições
históricas dos Cursos de Pedagogia e das Licenciaturas oferecidas pelas
Universidades. Segundo Freitas (1999, p.29), a Pedagogia poderia sofrer uma
“crise” com “a separação da formação de professores, a retomada das habilitações e
a fragmentação dos especialistas”. O que era considerado um retrocesso no modelo
historicamente construído. Como conseqüência das intervenções e debates, a
redação do Decreto nº 3.276/99 sofreu alterações, na forma do Decreto 3.554, de
07/08/2000, modificando o § 2° de seu Artigo 1°, que assumiu o seguinte texto:
Art. Iº, § 2° do art. 3° do Decreto n° 3.276 de 6 de dezembro de
1999, passa vigorar com a seguinte redação:
§ 2° A formação em nível superior de professores para a atuação
multidisciplinar, destinada ao magistério na educação infantil e nos
anos iniciais do ensino fundamental far-se-á, preferencialmente,
em cursos normais superiores
.
O CNE trata de especificar as funções e a natureza de cada instituição e
delega aos Institutos Superiores de Educação:
Art. 1° - Os institutos superiores de educação, de caráter
profissional, visam à formação inicial, continuada e
complementar para o magistério da educação básica, podendo
incluir os seguintes cursos e programas:
1 — curso normal superior, para licenciaturas de profissionais em
educação infantil e de professores para os anos iniciais do ensino
fundamental;
37
É importante analisar que, mesmo sendo alvo de infinitas críticas, dentre
elas o de se caracterizar, como “[...] um curso de caráter técnico-profissionalizante”
(FREITAS, 1999, p. 21), o que, na compreensão da autora, desqualifica e banaliza o
rigor necessário que deveria ser exigido dos estudos superiores; a realidade oferecia
uma demanda de profissionais que estavam atuando em Escolas Públicas sem
Formação em Nível Superior já que não tinham tido acesso às Universidades e se
encontravam sedentos para investir em sua formação.
Os Institutos Superiores e o Curso Normal Superior são hoje uma
realidade e, tal como ocorre com qualquer outro tipo de instituição, são regidos por
uma legislação básica e ideológica que pode ser seguida na íntegra, de forma
acrítica e mecanicista, ou, como na realidade do Instituto “Kennedy”, pode acontecer
de maneira criativa, crítica e humanizante.
Pode ser enriquecedor para todos, que se aproveite os espaços de
discussão coletiva, para que as experiências desenvolvidas em qualquer esfera
educacional possam ser compartilhadas em prol da melhoria da qualidade da
educação. Tardif (2002, p. 244) defende a “unidade da profissão docente, do pré-
escolar à universidade” pois, conforme o autor,
[...] seremos reconhecidos socialmente como sujeitos do
conhecimento e verdadeiros atores sociais quando começarmos a
reconhecer-nos uns aos outros como pessoas competentes, pares
iguais que podem aprender uns com os outros. Diante de outro
professor, seja ele do pré-escolar ou da universidade, nada tenho
a mostrar ou provar — mas posso aprender com ele como realizar
melhor nosso ofício comum.
38
A experiência adquirida com a construção e vivência na fonte dos saberes
da vida ia amadurecendo e, em maio de 2001, foram aprovadas as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em
Nível Superior, Curso de Licenciatura, de Graduação Plena, com o intuito de dar
continuidade a implantação das políticas educacionais, iniciadas com a aprovação
da LDB nº 9394/96. Scheibe (2003, p. 177) analisa que
[...]
com base em proposta inicial elaborada por uma comissão de
colaboradores/assessores do Ministério da Educação, tais
diretrizes foram aprovadas pelo CNE quase na sua totalidade,
num processo mais homologatório do que propriamente de
discussão. Apesar de terem sido realizadas várias audiências
públicas e outras reuniões nacionais e regionais com as mais
diversas entidades educacionais do país, estas não conseguiram
instaurar um autêntico diálogo que oportunizasse a discussão da
proposta apresentada pelo MEC e muito menos garantir sua
reproposição com base na consulta realizada
A autora alerta para a necessidade de uma mobilização no sentido de
encaminhar propostas que possam fazer avançar o modelo afirmado. Pode-se
observar, durante todo o processo histórico de instauração das medidas
governamentais, a posição de educadores comprometidos que se preocupam com o
que é imposto, analisando os pontos que convergem ou divergem dos que foram
propostos pela categoria às custas de muitos estudos e discussões. Schulman,
citado por Lüdke (1999, p. 279), alerta para o fato de que “não há reforma
educacional que não precise passar pelo filtro de aprovação dos professores”. Ou
seja, não ocorrerão mudanças concretas se não houver envolvimento e
concordância com o que é proposto.
De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de
Professores da Educação Básica (BRASIL, 2001), no que diz respeito às grandes
39
dificuldades enfrentadas por estados e municípios na implementação das políticas
educacionais, que se pretendem capazes de promover a superação das
desigualdades sociais e a promoção do desenvolvimento sustentável,
[...]destaca-se o preparo inadequado dos professores cuja
formação de modo geral, manteve predominantemente um formato
tradicional, que não contempla muitas das características
consideradas, na atualidade, como inerentes à atividade docente,
(p. 4)
Dentre essas características, o documento ressalta:
a)
orientar e mediar o ensino para a aprendizagem dos alunos; b)
comprometer-se com o sucesso da aprendizagem dos alunos; c)
assumir e saber lidar com a diversidade existente entre os
alunos; d) incentivar atividades de enriquecimento cultural; e)
desenvolver práticas investigativas; f) elaborar e executar
projetos para desenvolver conteúdos curriculares; g) utilizar novas
metodologias, estratégias e materiais de apoio; h) desenvolver
hábitos de colaboração e trabalho em equipe (BRASIL, 2001,
p. 4).
Analisando-se as características consideradas fundamentais aos
professores na atualidade, e as confrontando com os saberes apresentados pelo
Relatório “Delors” (2003, p. 107) - aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a
conviver e aprender a ser – , é perceptível a predominância do aprender a fazer, o
que provoca reflexão sobre que modelo de professor é esse que o documento
propõe que se forme. O Relatório destaca que “o saber conhecer, o saber-fazer, o
saber viver juntos e o saber ser constituem quatro aspectos, intimamente ligados, de
uma mesma realidade”. Em assim sendo, o que propõe as Diretrizes para a
formação de professores prioriza apenas um dos saberes, o que a deforma,
tornando-a distante das necessidades provindas da realidade.
40
A superação de dicotomias é uma das metas da disciplina “Educação
Física” nesse contexto formativo: conhecer e fazer, conviver e ser, pessoal e
profissional, corpo e mente. Esses elementos passam a ser trabalhados não como
excludentes mas como complementares.
Com carga horária de 100 horas/aula, distribuídas em dois semestres, a
disciplina tem hoje a seguinte ementa:
Sob a luz do paradigma da corporeidade: entender o corpo como
ponto de partida da aprendizagem; como forma de linguagem e
expressão; a atividade lúdica corporal no processo de
desenvolvimento infantil; o lúdico e a prática pedagógica;
conhecimento sobre jogos e brincadeiras, especialmente em
relação à intencionalidade dessa ação educativa; desenvolvimento
motor e aprendizagem motora; educação motora na educação
infantil e anos iniciais do ensino fundamental; as tendências
curriculares no ensino da educação física; a cultura corporal nas
diferentes manifestação da cultura popular (Plano de Curso –
Anexo A).
Trabalhar à luz dos pressupostos da corporeidade exige que se abandone
a prática da receita, das apostilas, das atividades mecânicas e descontextualizadas.
Não é mais aceitável que se reproduza o modelo tão presente na educação física
escolar, que se utiliza predominantemente de exercícios calistênicos ou de
desportos. É preciso inovar. Trabalhar em harmonia com o sujeito que se forma e a
realidade onde ele atua. Instigá-lo a autodescobrir-se, respeitando-se e respeitando
o outro em suas relações.
Trabalhar nessa Instituição sempre representou para as professoras
formadoras da Educação Física um momento de formação simultânea, pois, ao
41
mesmo tempo em que se forma, se é formado. As professoras formadoras
consideram fundamental que os alunos, que também são professores, vivenciem
corporalmente, integralmente, as atividades, para que possam “sentir na pele” as
emoções e descobertas que elas lhes causam.
Entender o ser humano em suas múltiplas dimensões, corporal,
emocional, racional, espiritual, social, faz com que a Educação Física trabalhada no
Instituto “Kennedy” vá além do corpo objeto, enveredando na subjetividade do ser,
subjetividade que, conforme Tardif (2001, p. 116),
[...] não se limita à cognição ou às representações mentais, mas
engloba toda a história de vida dos professores, suas
experiências familiares e escolares anteriores, sua afetividade e
sua emoção, suas crenças e valores pessoais etc
O Ministério de Educação e Cultura apresenta em maio de 2000, um
Projeto de estruturação do Curso Normal Superior, onde define os seguintes
objetivos para a Educação Física:
a)
aprofundar e ampliar seu conhecimento sobre os jogos e
brincadeiras, especialmente em relação à intencionalidade dessa
ação educativa, capacitando-se a reconhecer as diferentes
categorias (procedimental, conceitual e atitudinal) presentes
naquele conteúdo. b) identificar as principais características das
orienta ações curriculares para o ensino da educação física
elaboradas nas últimas décadas. c) identificar as principais
dificuldades enfrentadas pelos alunos na aprendizagem de
conteúdos da educação física. d) analisar concepções de
desenvolvimento motor e aprendizagem motora, para fazer
escolhas adequadas e coerentes com as aprendizagens que
pretende promover (BRASIL, 2000, p. 26).
42
Por essa ocasião - ano 2000 -, a disciplina “Educação Física”, ministrada
no Curso Normal Superior do Instituto de Educação “Superior Presidente” Kennedy,
estipula competências a serem alcançadas pelos professores alunos. Algumas
competências são mais gerais e delas surgem outras mais específicas.
As competências gerais são adotadas a partir da noção de que são mais
abrangentes, ou seja, extrapolam o aspecto pedagógico da Educação Física e
englobam a vida do Ser. São elas:
1) Mobilizar sua corporeidade e seus conhecimentos na
elaboração de propostas de intervenção no ensino da Educação
Física, considerando as necessidades individuais de seus alunos e
a cultura corporal; 2) Adquirir uma postura investigativa da sua
prática pedagógica, reconhecendo a contribuição das atividades
corporais expressivas e a importância do lúdico no processo de
ensino e aprendizagem de seus alunos; 3) Estabelecer relações
entre as atividades de ensino, os níveis maturacionais, a realidade
social e as prioridades das crianças da Educação Infantil e anos
iniciais do Ensino Fundamental, sem preder de vista a totalidade
do ser; 4) Relacionar as informações, conhecimentos e
experiência corporais para construir argumentações consistentes
nas intetvenções acadêmicas, profissional e pessoais. (NATAL,
2000, p. 3).
As Competências Específicas são mais diretamente voltadas para a área
de conhecimento da Educação Física, embora esta trabalhe na perspectiva de
totalidade do Ser. A saber:
1) Reconhecer o movimento humano como meio natural, próprio
da criança e fundamental ao seu desenvolvimento integral; 2)
Compreender as diferentes formas de como a Educação Física e o
corpo vem sendo vivido no processo histórico, bem como as
tendências pedagógicas surgidas, tendo como referências as
diferentes sociedades e costumes; 3) Favorecer o processo de
ensino e aprendizagem, utilizando-se do jogo, elemento da cultura
corporal, como veículo que pode promover a competição e/ou
43
cooperação; 4) Fazer evoluir, no âmbito da sala de aula e da
escola, o resgate das manifestações da cultura infantil, valorizando
as diferenças sócioculturais, propiciando uma aprendizagem
contextualizada e significativa; 5) Compreender e diferenciar
crescimento físico e desenvolvimento global, de forma a favorecer
uma prática pedagógica consciente e reflexiva, que considere a
individualidade de seus alunos; 6) Perceber as vivências corporais
como momentos de reflexão acerca do próprio corpo e como fator
de expressão e ludicidade, reconhecendo a importância de
participar desses momentos, refletindo sobre os resultados em si
próprios; 7) Identificar estratégias de ensino que propiciem a
melhoria das percepções e demais elementos da
psicomotricidade, contribuindo assim com a organização da
consciência corporal e conseqüentemente com o desenvolvimento
global de seus alunos; 8) Reconhecer a importância das atividades
corporais expressivas, como elemento dinamizador da prática
pedagógica, ao mesmo tempo em que favorece as relações inter e
intra pessoais e estimula as funções cognitivas da criança, tendo
em vista o seu desenvolvimento global; 9) Identificar e diferenciar
as diferentes estratégias/conteúdos de ensino da Educação Física
(jogo, brinquedo, brincadeira, ginástica historiada e atividades
rítmicas e expressivas) (NATAL, 2000, p. 3-4)
Diante do trabalho realizado no Instituto “Kennedy” e do relatório
apresentado pela comissão da UNESCO, onde são apontados os Quatro Pilares da
Educação (aprender a ser, aprender a conviver, aprender a fazer e aprender a
conhecer), considerados saberes necessários à Educação do século XXI, surge a
questão: Como um Programa de Curso de Educação Física, em um Curso Normal
Superior, que tem como princípio norteador a corporeidade, pode mobilizar o
entrelaçamento dos saberes docentes, considerando os quatro pilares da Educação,
essenciais à formação de professores, igualmente relevantes?
1.3 OBJETIVO DO ESTUDO
44
Investigar como vivências corporais que valorizam o Ser mobilizam o
entrelaçamento dos saberes docentes na formação de professores.
1.4 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
1 - A Corporeidade, numa visão transdisciplinar, oportuniza uma trans-
relação que liga os quatro pilares do novo sistema de Educação e que tem sua
origem em nossa própria constituição de seres humanos (NICOLESCU, 1999).
2 - “O processo de formação do ser humano é tão rico, complexo e
variado quanto o próprio ser humano. O ser humano é, a um só tempo, um
manipulador de fenômenos objetivos, sociais e humanos; é um negociador que
discute com seus semelhantes; é um ser que pauta seus comportamentos por
normas e que descobre, no ambiente em que vive, desde o nascimento, modelos de
comportamento que tende a reproduzir; é também um ser que expressa sua
subjetividade e que orienta sua vida de acordo com uma dimensão afetiva e
emocional. Em suma, o processo de formação do ser humano reflete exatamente
todas as possibilidades e todas as matizes dos seres que somos” (TARDIF, 2002, p.
174).
3 – “A práxis humana se efetiva porque o homem é um ser corpóreo, que
possui necessidades materiais e espirituais. Sua relação com o mundo não é
simplesmente a relação de uma consciência que pensa o mundo, sem deixar-se
tocar, mas é a relação de um ser engajado no mundo — que tem emoções, que
45
ama, que odeia, que tem fome, que tem dor, que vive a solidão, a amizade, o
desprezo etc — enfim, de um ser que sente, solo sobre o qual o pensamento se
edifica” (GONÇALVES, 1994, p. 176)
4 - Brincar - aqui adotado na amplitude da palavra francesa “jouer” -, diz
respeito, extensivamente, a tudo que lembra a atitude da criança que joga ou a
mentalidade que parece corresponder-lhe, assim como o que é aprendido através do
processo do jogo (LEGRAND, 1986). Representa aqui uma mentalidade, um
comportamento, um estado do espírito e pode estar presente nas mais diversas
atividades, desde que sejam realizadas com prazer.
1.5 JUSTIFICATIVA
Desenvolver esta pesquisa faz parte de um processo de aprofundamento
teórico de uma prática auto-formativa em permanente construção. Ela surge da
necessidade de sistematizar reflexões na busca de teorização dessa prática
educativa desenvolvida por uma professora de Educação Física, no Curso Normal
Superior do Instituto de Educação Superior “Presidente Kennedy”. Uma prática
sentida. Alicerçada em uma base de muita afetividade, ou, como afirma Bachelard
(1997b, p. 1-2), uma causa do coração, que tem necessidade de tornar-se uma
causa formal para “que a obra tenha a variedade do verbo, a vida cambiante da
luz”.
46
A prática educativa, a que nos remetemos, vem sendo construída há dez
anos e durante esse tempo vem sendo analisada e redimensionada, sempre no
intuito de contribuir com a melhoria da qualidade da formação oferecida aos
professores. Em 1996, foi construída uma Monografia de Especialização intitulada O
Lúdico na concepção pedagógica de professores do ensino fundamental, que teve
como objetivo identificar e analisar a presença do lúdico nas concepções
pedagógicas dos professores-alunos (CÂMARA, 1996).
Naquela ocasião, já existia a compreensão de que o processo de ensino e
aprendizagem deveria ser considerado como “uma ação que vê o homem como uma
unidade, como um ser-no-mundo, como uma forma de resgatar o ‘humano’ no
sistema educacional, ou segundo Santin (1994), o ser sensível do homem”
(CÂMARA, 1996, p. 12). Esse pressuposto continua norteando nossa prática nos
dias atuais, quando estudos acerca da formação docente trazem para o centro das
discussões a subjetividade dos professores, pois, segundo Tardif (2001, p. 113), “os
professores de profissão possuem saberes específicos que são mobilizados,
utilizados e produzidos por eles no âmbito de suas tarefas cotidianas”. Ainda
segundo o autor, “essa perspectiva de pesquisa foi negligenciada durante muito
tempo nas ciências da Educação e, de maneira geral, pelos teóricos e
pesquisadores que atuam nas Ciências Sociais e Humanas e se interessam pelo
ensino”.
A Educação Física, nesse contexto de Formação, traz para o centro de
sua ação pedagógica o ser, esse ser professor, objetivo e subjetivo, racional e
sensível. Nesse nosso universo, ele brinca, sente, cria, reflete e humaniza-se.
47
Trabalhamos na direção do que nos aponta Assmann (1995, p. 77), quando afirma
que é preciso
[...]
um teimoso empenho para que a Corporeidade passe a ser
considerada a referência absolutamente central (embora não
exclusiva) na elaboração de critérios — valorativos e pedagógicos
— para a educação em geral e, por sobre-evidência para a
Educação Física
Acredita-se que esta pesquisa contribuirá com a área de conhecimento da
Educação Física, que, trabalhando à luz dos pressupostos da Corporeidade, pode
conquistar um importante espaço enquanto disciplina básica no processo formativo
dos professores-alunos.
Este estudo justifica-se, ainda, pelo momento histórico em que vivemos,
quando estão ocorrendo diversas discussões quanto aos saberes que servem de
base à prática educativa dos professores na Escola. Fazendo–se necessário
portanto, conforme Siloé Pretto (1978), a realização de trabalhos em que, mais do
que enfatizar os aspectos técnicopedagógicos necessários à prática da docência,
enfatizem os aspectos pessoais e humanos da Educação e da Vida.
Existe uma necessidade real de que o professor seja formado na
perspectiva de seu reconhecimento como um Ser humanescente que produz
saberes e recebe deles a sua capacidade de transformar-se, condição essencial
para tornar o Mundo mais humano.
48
CAPÍTULO II
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Este capítulo apresenta-se como uma construção em que se procura
explicitar o referencial teórico utilizado para dar conta da necessidade deste estudo,
respaldando as análises e discussões dos resultados encontrados. Sua estrutura
compreende as seguintes seções: (a) Os Saberes da Vida; (b) Os Pilares
Condutores: Criar, Brincar, Sentir, Pensar e Humanizar-se. (c) Corporeidade e
Experiência de Fluxo.
2.1 OS SABERES DA VIDA
O início do Terceiro Milênio tem provocado reflexões daqueles que
acreditam que o importante na vida é evoluir vivendo-se em harmonia consigo
mesmo, com os outros, com a Natureza, com a Sociedade, com o Planeta.
Deparamos-nos com uma dura realidade social que provoca desigualdades,
49
desequilíbrios, tensões e dor. O paradigma cartesiano já não pode mais dar conta da
complexidade da vida humana. Muitos estudiosos, de diversas áreas do
conhecimento têm procurado por novos paradigmas, como é o caso do paradigma
da complexidade, concebido por Edgar Morin. O autor acredita que a complexidade
ainda é considerada marginal no pensamento científico, à exceção do estudo
epistemológico que nos apresenta Gaston Bachelard, que considera que não há
nada simples na natureza, o que há são simplificações (MORIN, 1998).
Simplificações decorrentes da Ciência Clássica que tudo fragmenta, empobrecendo
o que o Cosmo tem de mais requintado que é a vida. Num universo que, segundo o
autor, “[...] tem, para além de todas as misérias, um destino de felicidade. O homem
deve reencontrar o paraíso” (BACHELARD, 1994, p. 21).
É importante, entretanto, que não se considere a complexidade como
receita que nos dirá passo a passo “o que” e “como fazer” para superar as
adversidades que nos apresenta a vida. Ela é, de outro modo, como afirma Morin
(1998, p. 176), “uma motivação para pensar [...] um substituto eficaz da
simplificação mas que, como a simplificação, vai permitir programar e esclarecer”.
Programar e esclarecer, neste trabalho, as relações estabelecidas entre saberes e
vida, saberes e seres que vivem a vida, saberes e professores em formação,
saberes e corporeidade, saberes da corporeidade. Essas relações não se dão de
modo linear, uniforme, objetivamente apenas. As relações se estabelecem enquanto
conexões, inter-relacionando-se, auto-formando-se e, no presente estudo, vão
permitir que se reflita acerca do entrelaçamento de saberes que brotam da vida para
a própria vida.
50
Os estudos acerca da complexidade e da articulação de saberes indaga:
quem vai educar os educadores para esse novo ensino? Para um ensino que, nesse
contexto, terá como foco, a humanização do Ser?
A autora desta Dissertação defende que experiências no sentido de
articular saberes em busca da dinamização do conhecimento de modo fecundo são
positivas e sempre bem-vindas. Afinal, é a condição humana que está em jogo. Já
no século XVIII, na crise da passagem do Mundo Clássico para o Mundo Romântico,
Rousseau afirmava que o verdadeiro estudo deveria ser o da condição humana.
Segundo Damásio (2004), o filósofo sempre se referiu ao ser humano com um olhar
para sua nobreza e aspecto bondoso.
No contexto de formação docente investigado neste estudo, a educação
escolar aparece como um trunfo de que a humanidade lança mão, não como um
“santo remédio” ou “salvação da pátria”, mas como um caminho autêntico que pode
conduzir a um desenvolvimento humano
5
, verdadeiramente humanescente. É a
busca da hominização de que nos fala Morin (2003), que só será alcançada quando
o homem modificar suas relações em busca de uma vida melhor. Faz-se necessário
melhorar as relações do Ser humano consigo mesmo, com o outro, com o
conhecimento e com a natureza, para que se possa viver com compreensão,
solidariedade, compaixão e amor. Michel Serres (2003) defende a tese da
hominescência para apontar o começo de uma outra humanidade.
A Educação, compreendida como desenvolvimento humano, aceita a
visão de totalidade e plenitude do ser e exige dos profissionais uma transformação
no modo de pensar e agir. Faz-se necessário humanizar-se e humanizar, sendo
5
Que pode ser aqui compreendido, conforme apresenta o Relatório da UNESCO, ou seja, como: “um
processo que visa ampliar as possibilidades oferecidas às pessoas. Em princípio, estas
possibilidades podem ser infinitas e evoluir com o tempo... as três principais [...] são ter uma vida
longa e com saúde, adquirir conhecimentos e ter acesso aos recursos necessários a um nível de vida
decente [...]” (DELORS, 2003, p. 81).
51
necessário, para isso, como ressalta Cavalcanti (2001), transcender o individual para
se unir à totalidade, converter-se em energia que ilumina.
Na educação escolar defendida nesta pesquisa, aquela que se volta para
um desenvolvimento mais humano do Ser, os saberes trabalhados na Escola devem
extrapolar o que Schön (1995, p. 81) denomina de “saberes escolares”, que são “um
tipo de conhecimento que os professores são supostos possuir e transmitir aos
alunos”, e que Jeanne Bamberger e o referido autor denominam de representações
“formais”, ou seja, “implicam referências fixas, tais como linhas, escalas, mapas com
coordenadas, medidas uniformes de distância”.
Faz-se necessário, extrapolar os saberes escolares e caminhar no sentido
do que o autor denomina como representações “figurativas” que “implicam
agrupamentos situacionais, contextualizados: as relações que se estabelecem na
maior proximidade possível das experiências quotidianas” (SCHÖN, 1995, p.85).
Essas últimas se aproximando mais do que poderíamos chamar de “saberes da
vida”.
Saberes de uma vida, em que todas as coisas estão interconectadas.
Régis de Morais (2003, p. 107) refere-se a Maturana e Varela (1995), quando
reconhece que “viver é conhecer. Conhecer é experimentar algo novo a cada
minuto, a cada instante. Assim, vida e aprendizagem não estão separadas, já que a
cognição envolve todo o processo da vida, incluindo a emoção, a percepção e o
comportamento”. O autor afirma ainda que
[...] viver nada mais é do que conviver. É viver junto a
potencialidade, a beleza, o encantamento e a magia que o
universo nos oferece com toda a sua complexidade, majestade e
grandeza; é saber escutar a mensagem um do outro (RÉGIS DE
MORAIS, 2003, p. 49).
52
Viver a magia, o encantamento, o pensamento. Barbosa e Bulcão (2004,
p. 73) analisam que “o tempo da razão e o tempo da imaginação são superiores ao
tempo da vida” e por esse motivo o tempo da vida é comandado pelo da razão e
pelo da imaginação, sendo que o primeiro ecoa horizontalmente, enquanto “o da
ciência e da poética elevam o espírito verticalmente, permitindo que o homem tenha
um crescimento espiritual”.
Os saberes que jorram na fonte – metáfora símbolo dessa investigação -
são saberes da vida, saberes que não se limitam a simplesmente instruir, mas
ousam despertar os sentidos, a emoção e a sensibilidade dos professores em
formação, buscando oportunizar, também, a elevação do ser espiritual.
Desenvolver uma prática pedagógica de formação que considera
extremamente relevante a subjetividade do Ser é algo ainda bastante pontual, visto
que o saber institucionalizado vem, historicamente, desenvolvendo saberes
objetivos, formais. Entretanto, estudos como o de Tardif (2002) acerca dos saberes
necessários aos professores, em que o autor apresenta o saber docente como um
saber plural, formado pelo conjunto dos saberes oriundos da formação profissional e
de saberes disciplinares, curriculares e experienciais, corroboram a necessidade de
se considerar o ser, professor em formação, em toda a sua plenitude, objetivamente
e subjetivamente; racionalmente e emocionalmente.
Tardif (2002, p. 36) compreende por saberes profissionais, “o conjunto de
saberes transmitidos pelas instituições de formação de professores (escolas normais
ou faculdades de ciências da educação)”. A esses saberes, ditos profissionais,
advindos das Ciências da Educação, predominantemente teóricos, aliam-se outros
que podem ser chamados de “pedagógicos”: os disciplinares e os curriculares. Os
disciplinares “são saberes que correspondem aos diversos campos do
53
conhecimento, aos saberes de que dispõe a nossa sociedade, tais como se
encontram hoje” (TARDIF, 2002, p. 38). Poderiam ser reconhecidos também como
construções histórico-sociais.
Quanto aos saberes curriculares, o autor afirma que eles “correspondem
aos discursos, objetivos, conteúdos e métodos a partir dos quais a instituição escolar
categoriza e apresenta os saberes sociais por ela definidos e selecionados como
modelos da cultura erudita” (TARDIF, 2002, p. 38). Por fim, Tardif analisa os saberes
experienciais, que reconhece como sendo saberes específicos, baseados no
trabalho cotidiano do professor e no conhecimento de seu meio, e acrescenta:
“esses saberes brotam da experiência e são por ela validados. Eles incorporam-se à
experiência individual e coletiva sob a forma de habitus e de habilidades, de saber-
fazer e de saber-ser” (TARDIF, 2002, p. 39). São também chamados de saberes
práticos, construídos/vividos pelos seres.
Tardif (2002, p. 54) reconhece que os saberes experienciais se
constituem como núcleo vital dos saberes docentes, “núcleo a partir do qual os
professores tentam transformar suas relações de exterioridade com os saberes em
relações de interioridade com sua própria prática”. São saberes necessários à
prática docente e não provêm de instituições de formação nem dos currículos.
Em um trabalho formativo pautado nos pressupostos da Corporeidade, a
prática pedagógica vivenciada busca oportunizar ao ser em formação, ir se elevando
em humanescências, enquanto sujeito do conhecimento e, conseqüentemente,
enquanto ser humano. Nesse sentido, Barbosa e Bulcão (2004, p. 72) destacam que
o “eu” deve “caminhar em direção ao futuro, acrescentando sempre a si mesmo algo
novo, ou seja, instruindo-se”, sentindo, vivendo e amando.
54
Essa concepção de formação do ser, relacionada não só com o aspecto
profissional mas também pessoal, aproxima-se do pensamento de Paulo Freire
(2001, p. 106), quando afirma: “me movo como educador porque, primeiro, me movo
como gente” e acrescenta:
Posso saber pedagogia, biologia como astronomia, posso cuidar
da terra como posso navegar. Sou gente. Sei que ignoro e sei que
sei. Por isso, tanto posso saber o que ainda não sei como posso
saber melhor o que já sei (FREIRE, 2001, p. 106).
Outro autor que considera a dualidade pessoal/profissional não como
antagônicas, mas complementares, é Nóvoa (1995, p. 31), enfatizando que: diga-me
como ensinas que lhe direi quem és e vice-versa. O autor reconhece que
a crise de identidade dos professores, objeto de inúmeros
debates, não é alheia a essa evolução que foi impondo uma
separação entre o eu pessoal e o eu profissional. A transposição
dessa atitude do plano científico para o plano institucional
contribuiu para intensificar o controlo sobre os professores.
São saberes vivos, daí optar por considerar os saberes nesse estudo
como saberes da vida. Isso é tomar uma decisão pela vida, pela vida harmoniosa,
pela vida que é vivida não apenas no momento de formação acadêmica, mas em
todos os espaços onde possa se encontrar o Ser e a Vida. Vivenciar situações
corporais que estimulam o auto-conhecimento, a solidariedade, a ludicidade, o amor,
tem se apresentado como meio de oportunizar o entrelaçamento dos saberes.
Necessidade sentida, uma vez que, segundo Morin (2004, p. 13),
[...] há inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre
55
os saberes separados, fragmentados, compartimentados entre
disciplinas, e, por outro lado, realidades ou problemas cada vez
mais polidisciplinares, transversais, multidimensionais,
transnacionais, globais, planetários.
Os saberes precisam fazer sentido para a vida. Precisam ser pensados
em seu contexto, vividos e pensados, de maneira a oportunizar a evolução
humanescente do Ser. Sendo assim, é inaceitável que o saber torne-se, como
considera Morin (2004, p. 19), “cada vez mais esotérico (acessível somente aos
especialistas) e anônimo (quantitativo e formalizado)”. O autor clama para que se
consiga integrar “nossos conhecimentos para a condução de nossas vidas” (MORIN,
2004, p. 17). Vida que oportunize o desenvolvimento humano verdadeiramente
humanescente.
Os saberes apresentados no Relatório “Delors” (2003, p. 90) organizam-
se como aprendizagens fundamentais que, “ao longo de toda a vida, serão de algum
modo para cada indivíduo, os pilares do conhecimento”. Conhecimento necessário,
acredita-se, para a vida. Para o bem viver. São pilares que simbolizam “aprender a
conhecer”, “aprender a fazer”, “aprender a viver juntos” e “aprender a ser”. Pilares
que conduzirão os saberes da corporeidade, que entrelaçados irão jorrar da fonte e
banhar os professores que criam, brincam, sentem, pensam e humanizam-se.
6
O pilar que representa o “aprender a conhecer” no referido Relatório
apresenta-se como:
Tipo de aprendizagem que visa não tanto a aquisição de um
repertório de saberes codificados, mas antes o domínio dos
próprios instrumentos do conhecimento pode ser considerado,
simultaneamente, como um meio e como uma finalidade da vida
humana. Meio, porque se pretende que cada um aprenda a
compreender o mundo que o rodeia, pelo menos na medida em
6
Saberes da Corporeidade que serão retomados mais adiante.
56
isso lhe é necessário para viver dignamente, para desenvolver as
suas capacidades profissionais, para comunicar. Finalidade,
porque seu fundamento é o prazer de compreender, de conhecer,
de descobrir (DELORS, 2003, p. 90-91).
Conhecer que é construído no encontro com um outro conhecimento, já
anteriormente também construído, ocorrendo o que Bachelard (1996, p. 17)
considera, quando afirma que “no fundo, o ato de conhecer-se dá-se contra um
conhecimento anterior, destruindo conhecimentos mal estabelecidos, superando o
que, no próprio espírito, é obstáculo à espiritualização”. Conhecer para viver. Viver e
se desenvolver, compreendendo que “aprender a conhecer”, assim como as demais
aprendizagens ocorrem ao longo de toda a vida, por isso nunca está acabado, como
inacabado encontra-se infinitamente o Ser.
Quanto ao “aprender a fazer”, o Relatório o apresenta como, em larga
medida, indissociável do “aprender a conhecer”, o que pode ser também ampliado
às outras aprendizagens – conviver e ser, pois se entende que estes compõem algo
maior que é a vida do Ser, que, ao evoluir, não evolui isoladamente, mas em
harmonia com todo o universo. Conforme Laszlo (1999, p. 198), “todos evoluem
juntos”.
No contexto em que se configura o Relatório “Delors” (2003, p. 93),
“aprender a fazer” está mais estreitamente relacionado “à questão da formação
profissional: como ensinar o aluno a por em prática os seus conhecimentos”,
analisando também como adaptar a Educação ao trabalho futuro, quando não se
pode prever como será a sua evolução. Seria a instrumentalização dos alunos em
formação para que possam lidar com as exigências e necessidades da Sociedade,
sendo possível que, pela forma como os acontecimentos estão se dando no meio
social, a necessidade seja mais de ordem comportamental do que intelectual.
57
Nessa direção, surge o “aprender a viver juntos” ou “aprender a viver com
os outros”, que o Relatório considera como sendo, hoje em dia, um dos maiores
desafios da Educação, pois “o mundo atual é, muitas vezes, um mundo de violência
que se opõe à esperança posta por alguns no progresso da humanidade” (DELORS,
2003, p. 96). O documento analisa o fato de que, no decorrer do século XX, foi
criado pela Humanidade um extraordinário potencial de auto-destruição e que “até
agora, a educação não pôde fazer grande coisa para modificar esta situação real”,
apontando para a necessidade de conceber uma educação capaz de resolver os
conflitos de forma pacífica, que desenvolva o conhecimento e o respeito dos outros,
da sua cultura e da sua espiritualidade.
Diante do que expõe o Relatório “Delors” (2003, p. 97), vislumbra-se uma
Educação que desenvolva, na aprendizagem de conviver, dois caminhos: a
descoberta do outro e a participação em projetos comuns. Enquanto descoberta do
outro, acredita que “a educação tem por missão, por um lado, transmitir
conhecimentos sobre a diversidade da espécie humana e, por outro, levar as
pessoas a tomar consciência das semelhanças e da interdependência entre todos os
seres humanos do planeta”. A descoberta do outro passa, necessariamente, pela
descoberta de si mesmo, pois só assim poderá pôr-se no lugar dos outros e
compreender as suas reações.
Quanto à participação em projetos comuns, faz com que “se ultrapassem
as rotinas individuais, que valorizam aquilo que é comum e não as diferenças”
(DELORS, 2003, p. 98). Para tanto, a Educação deve, em seus programas, iniciar os
jovens em projetos de cooperação, que oportunizem ações solidárias e
humanizantes.
Por fim, mas de forma alguma essa ordem implica hierarquia, pois que
58
aqui eles estão entrelaçados: o “aprender a ser” torna-se foco e aparece como
princípio fundamental, uma vez que, para a Comissão da Unesco que elaborou o
Relatório, “a Educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa –
espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade
pessoal, espiritualidade” (DELORS, 2003, p. 99). Deve ainda, segundo o texto da
Comissão, dar importância especial ao desenvolvimento do ser, à imaginação e à
criatividade, pois, se assim ocorrer, haverá, conforme esclarece Barbosa e Bulcão
(2004), progresso e crescimento espiritual decorrente do vaivém energético,
proveniente da imaginação em contato com a materialidade do Mundo.
Nos quatro pilares da Educação analisados, é possível vislumbrar que o
aprender a ser é a via que integra as outras três aprendizagens e o Ser é quem lhe
dá vida. No entanto, há diferenças, ou seja, em alguns seres ou em determinados
momentos, um ou outro saber se sobressai aos demais, mas estão todos
entrelaçados no Ser.
Morin e Kern (2003, p. 177) dá uma pista para o fato do aprender a ser,
representar a síntese dos demais saberes e que o Ser constitui o impulso da vida no
entrelaçamento de todos os saberes, quando afirma que “aprender a ser é aprender
a viver, a partilhar, a comunicar, a comungar, numa dimensão planetária” e pode-se
acrescentar, numa dimensão cósmica, pois segundo o autor “é no cosmos que
devemos situar nosso planeta e nosso destino, nossas meditações, nossas idéias,
nossas aspirações, nossos temores, nossas vontades” (MORIN, 2003, p. 46). Não
se deve perder de vista a conexão existencial que articula não apenas saberes
técnicos, lineares e fragmentados, mas também e, sobretudo, os saberes sociais,
subjetivos, afetivos, criadores. Saberes da vida e para a vida, pois, como defende
Assmann (1998a, p. 9), a própria vida é constituída mediante processos de
59
aprendizagem: “Onde eles faltam, desaparece a vida”. Pode-se afirmar que é
vivendo que se aprende e que os saberes são da vida e para a vida. Literalmente,
vivendo e aprendendo.
Aprender significa para Freire (2001, p. 77) “construir, reconstruir,
constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do
espírito”. Arriscar-se na aventura do espírito. Na aventura de viver. Viver o universo
interior e exterior do Ser e a interação entre esses dois universos.
O “eu” e o cosmos, dois lados de uma mesma entidade, o Ser.
Csikszentmihalyi (1999, p. 11-12) ressalta que o grande desafio de viver constitui-se
em “viver de forma plena, sem desperdício de tempo e potencial, expressando a
própria individualidade, mas participando intimamente da complexidade do cosmos”.
O autor vai além e destaca que “não é possível que uma pessoa leve uma vida
realmente excelente sem sentir que pertence a algo maior e mais permanente do
que ela mesma” (CSIKSZENTMIHALYI, 1999, p. 128).
Buscar uma vida excelente! Buscar o Paraíso! O paraíso que, segundo
Bachelard (1994), o homem deve encontrar. Para Alves (2002b, p. 82), sua filosofia
da Educação resulta desse ato de fé, o que o leva a resumi-la da seguinte maneira:
“o objetivo da educação é aumentar as possibilidades de prazer e alegria”. Para
isso, ele inverte o que vem sendo historicamente defendido e incutido nas Ciências
Positivistas, ou seja, para o autor, “o destino da razão é servo do prazer e da alegria
[...] Uma inteligência feliz é uma inteligência [...] mais inteligente [...]”. O autor se
reporta a Nietzsche, com a sabedoria de Zaratustra, quando este afirma que “Meu
irmão: lá atrás dos seus pensamentos e sentimentos, se encontra um senhor
poderoso, um sábio desconhecido, cujo nome é ‘você mesmo’. Ele mora no seu
corpo. Há mais razão no seu corpo que na sua melhor sabedoria” (ALVES, 2002b,
60
p. 82).
Sabedoria da vida! Saberes da vida para melhorar a própria vida. Ser
corpóreo, pleno, cuja sabedoria mora no corpo, e que Alves (2002b, p. 72-73)
apresenta assim: “A sabedoria é o corpo dizendo para si mesmo as suas razões
para viver”, dando sentido ao viver. O autor chama atenção para o fato de que “o
saber é sempre posterior à sabedoria”. Seria então a sabedoria do corpo e o saber
da razão. Byington (1996, p. 14) acredita que “o principal fator que separa a erudição
da sabedoria é a vivência e a compreensão da sua função no processo existencial”.
Os saberes da vida necessitam tanto de um como do outro na busca da plenitude e
da harmonia do Ser. Um ser no mundo e seu saber para a vida. Saber que é belo e
fascinante se for construído nos caminhos da imaginação e do amor.
Saber contextualizado, contextualizado na vida, pela própria vida.
Segundo Morin et al. (2002, pp. 29-30), “um saber só é pertinente se é capaz de se
situar num contexto”. Se fizer sentido, se for vivo, pois somos criadores do nosso
mundo, somos, segundo Assmann (1998, p. 61), “inventores do ‘nosso mundo’,
fabuladores e sonhadores do ‘nosso mundo’, transformadores do mundo real
porque, em primeira instância, transformadores do nosso próprio ‘mundo interno’”.
O ser humano é criador de seu mundo, condutor de sua própria vida.
Bachelard (1996, p. 20) defende que
pelas revoluções espirituais que a invenção científica exige, o
homem torna-se uma espécie mutante, ou melhor dizendo, uma
espécie que tem necessidade de mudar, que sofre se não mudar.
Espiritualmente o homem tem necessidade de necessidades.
Necessidades do Ser, “saber ser”. Saber do Ser, saberes da
Corporeidade. Assmann (1998, p.29) enfatiza que toda
61
[...] aprendizagem é, antes de mais nada, um processo corporal.
Todo conhecimento tem uma inscrição corporal. Que ela venha
acompanhada da sensação de prazer não é, de modo algum um
aspecto secundário.
Gostar de si, gostar da vida. Aprender de si, aprender da vida. Saber de
si, saber da vida. Ser-Vida. O Ser vivendo a vida com prazer e amor. O Ser que é
vida e a vida que é o Ser. O autor chama atenção ainda para o fato de que
A vida ‘se gosta’. Por isso os/as educadores/as deveriam analisar
de que forma a vida dos/as alunos/as é uma vida concreta que,
em seu mais profundo dinamismo vital e cognitivo, sempre gostou
de si, ou ao menos tentou e volta a tentar gostar de si (ASSMANN,
1998, p. 29).
Saberes da Corporeidade: Criar, brincar, sentir, pensar e humanizar-se.
Saberes que precisam ser aprendidos/vividos pelos alunos da vida, pois para Régis
de Morais (2003, p. 36), “só aprendem e crescem os que se têm por aprendizes,
modestamente se assumem como alunos da vida”. O autor afirma ainda que “temos
o direito de estar aqui, porque temos o direito de aprender e crescer” (RÉGIS DE
MORAIS, 2003, p. 32).
Nesse sentido, os saberes da Corporeidade apresentam-se como aliados
nessa evolução, pois esta, compreendida como existência energética do humano
neste mundo, coloca-se na opção da evolução, do desejar viver para evoluir.
Conforme Nicolescu (2002), “ninguém e nada pode nos obrigar a evoluir. Nós temos
a escolha entre evoluir ou desaparecer. A nossa evolução é uma auto-
transcendência”. Saberes da vida para auto-transcender, evoluir, elevar-se
espiritualmente, humanescentemente [...].
Na fonte dos Saberes da Vida, os professores podem entrar e sair
transformando-se. Eles podem optar se gostariam de banhar-se em suas águas
62
luderescentes ou apenas observar quem se permite banhar-se. É possível perceber
que aqueles que aceitam o desafio de adentrar na fonte elevam-se espiritualmente,
enquanto os que apenas observam transformam-se se conseguem perceber a
transformação dos outros.
2.2 OS PILARES CONDUTORES: CRIAR, BRINCAR, SENTIR, PENSAR E
HUMANIZAR-SE
Nesta seção, encontra-se a busca por referências, para respaldar a
presença dos Pilares da Educação entrelaçados nas vivências corporais realizadas
no processo de formação de professores aqui investigado (Anexo B), reconhecendo-
os como Condutores dos Saberes da Corporeidade, que se apresentam divididos
nas subseções: (a) Corporeidade e o Saber Criar; (b) Corporeidade e o Saber
Brincar; (c) Corporeidade e o Saber Sentir; (d) Corporeidade e o Saber Pensar; (e)
Corporeidade e o Saber Humanizar-se.
Os quatro Pilares da Educação que nos apresenta o Relatório “Delors”
(2003) – “aprender a conhecer”, “aprender a fazer”, “aprender a conviver” e
“aprender a ser” – a são os pilares de sustentação da prática pedagógica aqui
apresentada e analisada, por considerar que os saberes que eles conduzem são
saberes fundamentais para a vida. Esses pilares, neste contexto, não são rígidos
nem calcificados, mas são, por outro lado, flexíveis e harmoniosos, articulam-se
abraçando uns aos outros, quando se aproximam, e, quando se distanciam,
63
mantêm-se ainda conectados, entrelaçando-se ludicamente.
Imaginemos esses quatro pilares como condutos, por onde transitam os
saberes, simbolizados na forma líquida da água, que flui pelos condutos. A água,
segundo Bachelard (1997b), é a substância que melhor se oferece às misturas, que
no contexto deste trabalho apresentam-se como entrelaçamentos. Em um
determinado momento, os condutos se integram, entrelaçando os saberes. Ao
solidarizar-se, dançam, vibram, eclodem, emergem, vêm à luz e jorram; jorram como
uma fonte que simboliza a vida.
Os pilares, condutores de saberes, conectam-se, integram-se, criando o
que Laszlo (1999) chama de “campo”, constituindo, segundo ele, um “meio contínuo”
que conecta os saberes. Para o autor, esses “campos não são comumente
observáveis em si; apenas os seus efeitos o são” (LASZLO, 1999, p. 170).
No nosso contexto de formação de professores, ao banharem-se e
beberem na fonte dos Saberes da Vida – criando, brincando, sentindo, pensando e
humanizando-se
7
–, os efeitos observáveis são as práticas docentes que os
professores desenvolvem e que são parte de seu cotidiano educativo, de sua própria
vida.
O banho na fonte dos Saberes da Vida, gerado pelo entrelaçamento da
diversidade dos saberes conduzidos pelos pilares da Educação, envolve o Ser em
sua totalidade. O ser que se banha nessa fonte humanescente e aprende a
“conhecer”, “fazer”, “conviver” e “ser”, criando, brincando, sentindo, pensando e,
sobretudo, humanizando-se.
Os quatro pilares representam quatro aprendizagens fundamentais, em
torno das quais, segundo o Relatório “Delors”, a Educação deve organizar-se. Esses
7
Esses são os Saberes da Corporeidade, segundo Cavalcanti (2005).
64
pilares serão, de algum modo, para cada indivíduo, os Pilares da Educação, ao
longo de toda a vida. O Relatório também considera que essas quatro vias do saber
constituem na realidade apenas uma, dado que existem entre elas vários pontos de
contato, de interligação e de trocas. São “quatro aspectos, intimamente ligados, de
uma mesma realidade” (DELORS, 2003, p. 107).
“Aprender a conhecer”, compreende adquirir os instrumentos de
compreensão dessa realidade. Nessa perspectiva, a Educação deve permitir o
acesso de todos ao conhecimento do corpo e da corporeidade, visando cumprir o
seu papel em uma nobre tarefa universal, a saber: “ajudar a compreender o mundo e
o outro, a fim de que cada um se compreenda melhor a si mesmo” (DELORS, 2003,
p. 50).
A Educação Física ministrada no Curso Normal Superior do Instituto de
Educação Superior “Presidente Kennedy”, faz jorrar a fonte dos saberes da Vida,
onde os professores brincam conhecendo a Si, ao Outro e as relações que se
estabelecem. Em seu Plano de Curso, a disciplina aborda conteúdos, na intenção de
instrumentalizar o professor em processo de formação para desenvolver uma prática
educativa consciente e uma vida bem vivida.
Faz-se necessário assumir o controle da própria vida, tomar decisões,
assumir as conquistas e as dificuldades; compreender o absurdo da violência, da
injustiça e do desamor. Para poder eliminar as tensões que ameaçam a vida em
nosso Planeta, torna-se necessário “um novo tipo de educação que leve em conta
todas as dimensões do ser humano” (NICOLESCU, 2000, p. 9).
O autor alerta para o fato de que a Educação atual ainda privilegia a
inteligência em detrimento da sensibilidade e que isso talvez tenha sido necessário
em certa época para permitir a explosão do saber. Mas acredita no fato de que, se
65
essa preferência continuar, a Humanidade continuará sendo conduzida a uma lógica
estúpida da eficácia pela eficácia, que só poderá levar a espécie humana à
autodestruição.
O professor compreende conceitos que jorram da fonte dos Saberes da
Vida, com os quais ele brinca de maneira intensa. Esses conceitos, como por
exemplo: Cultura Corporal, Desenvolvimento Motor, Movimento Humano Expressivo,
são alguns que ganham vida na fonte e os professores, banhando-se, amadurecem
para incorporá-los em sua ação cotidiana. Uma ação cotidiana que é refletida,
discutida e redimensionada na e a partir da fonte dos Saberes da Vida.
Refletir a vida com sensibilidade. Pensar a prática profissional. Teorizar a
prática. É o encontro e superação de mais uma dicotomia, que a complexidade de
Edgar Morin permite entender como complementares e não como excludentes,
tentando religar, conforme Mariotti (2000), o que o modelo disciplinar e
compartimentalizado disjuntou e fragmentou. Uma religação não apenas de
domínios separados do conhecimento, mas também – dialogicamente – de
conceitos antagônicos.
A Educação proposta pela UNESCO é uma educação que precisa ser
considerada em toda a sua plenitude, ou seja, é “a realização da pessoa, que, na
sua totalidade, aprende a ser” (DELORS, 2003, p. 90). Ela é uma experiência global
levada a cabo ao longo de toda a vida, no plano cognitivo e no plano prático para o
Ser que convive em sociedade.
Uma educação ao longo de toda a vida é coerente com o que vislumbra
Assmann (2004, p. 39), quando ressalta que “uma das características da espécie
humana é que seus membros podem continuar aprendendo a vida inteira”. Para
isso, o autor vai trazer a curiosidade como sendo necessária, ponderando que
66
aprender ao longo de toda a vida
[...] pressupõe que se tenha conservado ou readquirido a
curiosidade e a fascinação para gostar de aprender. Trata-se de
uma experiência vital que, junto com a persistência no exercício da
curiosidade, leva a surpreendentes desenvolvimentos do potencial
humano.
Em se tratando de Educação, de Formação de Professores, a curiosidade
e fascinação para aprender suscitam, além do desejo interno, a reflexão sobre a vida
e nela a sua prática profissional, sua ação docente.
Uma vida consciente, uma prática refletida. Freire (2001, p. 24) considera
que “a reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação
teoria/prática sem a qual a teoria pode ir virando “blá-blá-blá” e a prática, ativismo”.
Refletir a vida. Pensar sobre a vida vivida, compreendê-la para “melhor amá-la”
(FREIRE, 2001, p. 44).
Com alegria, na fonte dos Saberes da Vida, os professores reconhecem
que o gosto pelo conhecimento e pela Vida os torna mais felizes. Deixar fluir a
luderescência no banho da fonte dá “gosto” ao viver. O conhecimento de Si, dos
Outros, das Coisas, da Vida, torna, segundo Snyders (1993), os “alunos felizes”.
Citando Einstein, o autor reconhece que a “arte mais importante do mestre é
provocar a alegria da ação criadora e do conhecimento” (SNYDERS, 1993, p. 21).
Conhecer para criar, para mudar, para transcender.
Se não for possível mudar a vida que vivemos, é possível mudar como
viver a vida. Compreender o que, em um primeiro momento, está fora de nós,
provoca a compreensão de quem é sujeito e objeto – mais uma dicotomia que se
articula –, que, convivendo, procura fazer da sua vida uma vida melhor,
transformando-se e transformando-a. Régis de Morais (2003, p. 20) considera que,
67
[...] se não pudermos mudar o mundo que nos rodeia, sempre
podemos mudar a nossa forma de relacionarmo-nos com o
mundo. E o que é curioso: se lograrmos lidar de modo construtivo
com nosso mundo, muito do que está a nossa volta (pessoas,
relações, situações) acaba se transformando também.
Um professor que brinca na fonte com os Saberes da Vida, ao
desenvolver sua ação docente, vive essa transformação quando lança um “novo”
olhar sobre a sua “velha” prática, o que oportuniza realizar uma releitura e uma
reelaboração de Si mesmo e do próprio trabalho, refletindo sua visão de mundo e
sensibilizando-se para a vida. Toda a ação desempenhada na vida ao viver vai ao
encontro dessas definições. Laszlo (1999, p. 204) considera que “[...] o modo como
nos relacionamos com o outro e com a natureza vai depender de nossos conceitos
de natureza, de vida e de ser humano como pensamento e emoção – conceitos que
são sutilmente, porém significativamente, influenciados pela ciência”. Ciência que
modifica seu paradigma para responder às questões subjetivas da vida.
Num desafiador exercício de tratar isoladamente um dos quatro pilares do
conhecimento, ao mesmo tempo que fica evidenciado seu entrelaçamento, o
segundo pilar – “aprender a fazer” – passa a ser o foco que irradia e que tem os
outros três ao seu lado e o professor em formação entre eles, ou sujeito e objeto de
todos eles.
“Aprender a fazer”, conforme apresenta o Relatório da UNESCO, é um
pilar do conhecimento necessário para a Educação do século XXI. Deve
instrumentalizar o educando para que este possa agir sobre o meio envolvente. Ter
a capacidade de discernir e nele intervir.
No caso específico deste estudo, os professores, banhando-se e bebendo
68
na fonte dos Saberes da Vida, poderão melhorar sua qualidade de vida, passando a
tomar posse de suas próprias ações. O fazer, as ações do professor são vivenciadas
em parte, nessa fonte de águas humanescentes. A maneira como cada ser se banha
nessa fonte mostra muito de si, de seus pensamentos, de seus sentimentos e de
suas emoções.
A aprendizagem surge com a vivência e a vivência oportuniza
compreender a realidade. Situações de cooperação, solidariedade, respeito mútuo,
desafios e superações são oportunizadas e o professor, em seu processo de
formação, defronta-se com seu ser. É levado a agir e refletir cada ação. A prática de
refletir a ação transpõe-se para sua ação docente. E o seu fazer ganha colorido
advindo da curiosidade, da descoberta e do prazer.
Na fonte dos Saberes da Vida, da luderescência, ocorre o que defende
Maturana e Rezepka (2000, p. 16), vivenciam-se valores, pois os autores acreditam
que “não se deve ensinar valores, é preciso vivê-los a partir do viver... Não se deve
ensinar cooperação, é preciso vivê-la desde o respeito por si mesmo, que surge no
conviver no respeito mútuo”.
A ação que nasce resultante dessa vivência é preocupada com a
qualidade de vida das pessoas envolvidas no processo formativo, e é determinada
pelos pensamentos e emoções daqueles que constituem o grupo.
O fazer docente é uma constante aprendizagem à medida que ele é fruto
de uma relação humana entre professor e aluno. Relação dialética que comporta
toda a complexidade do ser, relação onde o inesperado é esperado; em que a
subjetividade é objetiva – enquanto real – e onde quem ensina também aprende e
quem aprende ensina ao aprender. É uma relação onde, segundo Tardif (2002,
p. 49),
69
[...] os condicionantes aparecem relacionados a situações
concretas que não são passíveis de definições acabadas e que
exigem improvisação e habilidade pessoal, bem como a
capacidade de enfrentar situações mais ou menos transitórias e
variáveis.
São saberes que se manifestam ou são evidenciados nos fazeres.
“Aprender a fazer” sintetiza a compreensão – conhecimento – acerca do que é vivido
e conhecido, dos conceitos formulados e das relações estabelecidas. Desse modo, o
terceiro pilar condutor da educação – “aprender a viver juntos” – é condição
indispensável no fazer humano, como maneira “de participar e cooperar com os
outros em todas as atividades humanas” (DELORS, 2003, p. 90).
O “aprender a viver juntos” e o “aprender a ser”, de certa maneira são
‘oficializados’ pelo Relatório, o que deve ser considerado um grande avanço em
termos educacionais, uma vez que
[...] o ensino formal orienta-se essencialmente, se não
exclusivamente, para o aprender a conhecer e, em menor escala
para o aprender a fazer. As duas outras aprendizagens
dependem, a maior parte das vezes, de circunstâncias aleatórias
quando não são tidas, de algum modo como prolongamento
natural das duas primeiras...a Comissão pensa que cada um dos
‘quatro pilares do conhecimento’ deve ser objeto de atenção igual
por parte do ensino estruturado (DELORS, 2003, p. 90).
O que Maturana e Verden-Zöller (2004, p. 132) denominam como
“operações relacionais” são situações responsáveis por todas as dimensões da
percepção, desde dar-se conta de si mesmo, até o como perceber o outro.
Compreendendo e fazendo.
A percepção da parceria estabelecida na vida com os outros seres é, em
proporção micro, similar à relação macro que se estabelece com o Cosmos. A
70
consideração, cuidado e respeito que devem existir nas relações entre os pares
devem ampliar-se e irradiar por toda a natureza e tudo que envolve os seres. Laszlo
(1999, p. 201) enaltece esse fato quando afirma que
[...] nós todos somos parceiros na dança cósmica constante e
infinita [...] nós podemos e devemos ficar conscientes dela e
permitir que ela reforce nossas sensações de unicidade com a
natureza e de solidariedade com nossos companheiros humanos.
É preciso que se esteja consciente de que o que se pensa e o que se
sente pode ter conseqüência direta sobre os outros e sobre o mundo. Assim se
admitindo, cria-se uma nova sensação de responsabilidade com a vida.
Desse modo, “aprender a conviver” amplia-se, extrapolando as relações
entre humanos e contemplando a vida. Csikszentmihalyi (1999, p. 137-138)
evidencia que
[...] estamos descobrindo o modo como todas as formas de vida
dependem umas das outras e do meio ambiente; quão
precisamente cada ação produz uma reação equivalente; como é
difícil criar ordem e energia útil, e como é fácil desperdiçá-la em
desordem. Aprendemos que as conseqüências das ações
podem não ser visíveis imediatamente, mas podem ter efeitos
futuros, porque tudo o que existe faz parte de um sistema
interconectado.
O ser, professor em formação, é o ator, protagonista de sua história, de
sua vida, interconectada. Tardif (2002) ressalta que os saberes vividos pelos
professores são incorporados à sua prática social e são construídos na relação entre
ele e os outros, repercutindo nele.
Conviver de maneira evolutiva, respeitando as diferenças e
transformando-as em aprendizagens é um desafio posto ao ser humano que se
71
encontra em processo de humanescência, de elevação espiritual. O cuidado com o
outro é aliado nesse caminho e Maturana e Verden-Zöller (2004, p. 127) acreditam
que
[...] a atenção aos desejos e necessidades do outro destrói a
autoridade (domínio) e cria a amizade ( companhia). Quando isso
ocorre, a obediência é substituída pela cooperação e a luta se
transforma em aceitação em respeito mútuos na existência.
A existência do Ser pressupõe que se viva não um viver espontâneo, mas
que se assuma a direção da própria vida, pois do contrário ela será controlada pelo
mundo exterior para servir a propósitos alheios a esse Ser. Csikszentmihalyi (1999,
p. 134) alerta que “muitas pessoas passam suas vidas inteiras sentindo-se como
marionetes que só se movem porque seus cordões foram puxados”. Tomar posse da
própria vida. Eis um grande desafio!
Para o Relatório “Delors” (2003, p. 90), o pilar correspondente ao
“aprender a ser” é a “via essencial que integra as três precedentes”, pois é no Ser
que os outros saberes ganham vida, transformam-se em ação. O Ser aprende e
vive. Ele é o sujeito do conhecimento. Tardif (2002, p. 242) advoga que é preciso
[...] abrir um espaço maior para uma lógica de formação
profissional que reconheça os alunos como sujeitos do
conhecimento e não simplesmente como espíritos virgens aos
quais nos limitamos a fornecer conhecimentos disciplinares e
informações procedimentais.
A Comissão propôs acrescentar à Educação saberes até então
‘marginais’, como o conhecimento de si mesmo e dos meios de manter a saúde
física e psicológica. Uma Educação que assume investir numa vida melhor, através
72
do conhecimento, da experiência e da construção de uma cultura pessoal, cabendo
a ela
[...] a nobre tarefa de despertar em todos, segundo as tradições e
convicções de cada um, respeitando inteiramente o pluralismo,
esta elevação do pensamento e do espírito para o universal e para
uma espécie de superação de si mesmo. Está em jogo [...] a
sobrevivência da humanidade (DELORS, 2003, p. 16).
Nessa compreensão, a Educação contribui efetivamente para o
desenvolvimento humano. É a Educação fornecendo ao Ser, como afirma Delors
(2003), “o passaporte para a vida”, que pode levá-lo a compreender-se melhor a si
mesmo e aos outros, participando na obra coletiva e na vida em Sociedade.
Para compreender o outro é preciso anteriormente compreender a si
mesmo. O auto-conhecimento, segundo Morin (2002, p. 88) é uma necessidade
interna e “pode começar quando a reflexão nos objetiva em relação a nós
mesmos”.
Considerar o Ser – subjetivo e complexo, como via essencial de
integração dos Pilares da Educação é um desafio posto perante o modelo da
educação formal atual. A experiência com formação de professores que este estudo
investiga traz o Ser para o centro do processo, pois defende, assim como Alves
(1995, p. 96), que “o conhecimento não é coisa de cabeça e nem de pensamento. É
coisa de corpo inteiro, dos rins, do coração, dos genitais”. Aprender com o corpo
inteiro, para viver a vida plena, ou, como afirma Assmann (1998, p. 11-12),
“aprende-se a vida inteira e por todas as formas de viver”.
Os Pilares da Educação conduzem saberes da vida que jorram da fonte.
73
Nela, os professores se banham e se transformam. Transformam-se corporalmente,
emocionalmente, mentalmente e espiritualmente: Integralmente.
Os saberes da corporeidade se manifestam ao banhar-se na fonte,
estando presentes o saber criar, o saber brincar, o saber sentir, o sabe pensar e o
saber humanizar-se. Também entrelaçados, esses saberes flutuam nas águas
humanescentes da fonte propiciando os professores vivenciarem a busca de sua
humanescência. São saberes, que, no processo de aprender a ser, apresentam-se
como subjetivos, pessoais e únicos. Únicos para cada um e comuns a todos.
2.3 CORPOREIDADE E O SABER CRIAR
Os saberes da corporeidade são saberes vivenciais, analisados em um
contexto de entrelaçamento no Ser que aprende, ao mesmo tempo em que convive,
conhece e faz.
Inicialmente, o “saber criar” é o foco, é aquele que recebe o destaque
analítico na fonte dos Saberes da Vida, enquanto os outros – saber brincar, saber
sentir, saber pensar e saber humanizar-se – participam como complementares.
As práticas pedagógicas que os professores aqui analisados realizam são
refletidas a partir, dentre outros aspectos, do que eles vivenciam, corporalmente, em
seu Curso de Formação. O pensar sobre, nasce com a vivência corporal, que passa
a ter um sentido para ele. Aqui, as reflexões oriundas das vivências corporais, ao
relacionarem-se mais especificamente com o saber criar, trazem para si um
elemento essencial que é a curiosidade. O que será que elas provocam para
despertar, em quem delas participa, um olhar mais amoroso em relação a si, aos
74
outros e à vida?
A curiosidade aqui abordada caminha no sentido do conceito Curiosità
apresentado pelo artista Leonardo da Vinci, e inclui tanto a insaciável busca da vida,
quanto a incansável vontade de conhecimento. Assmann (2004, p. 17) considera
que o desenvolvimento criativo se dá a partir de um fator elementar: “o prazer de
pensar”. Gardner (1996, p. 23) recorre à psicóloga social Teresa Amabile para
afirmar “que as soluções criativas dos problemas ocorrem com maior freqüência nos
indivíduos empenhados numa atividade por puro prazer, do que quando eles o
fazem por possíveis recompensas externas”. Um curioso entrelaçamento do saber
pensar com o saber criar, trazendo também, para essa relação, o prazer de brincar.
Brincar com o saber, saber brincar, brincar com o conhecimento para dele se
apropriar com a criatividade e dar-lhe sentido, sentido para a vida.
A insaciável busca da vida e a incansável busca do conhecimento,
objetos da curiosidade que dão origem ao saber, são inerentes ao Ser, já que,
segundo Assmann (2004, p. 21), “todos os seres humanos nascem com o desejo de
aprender”. O autor ressalta que existe um desejo intenso de ver, ouvir, saber,
experimentar alguma coisa, e que a sensação de descobrir coisas é positivo e dá
prazer, afirmando categoricamente que “a curiosidade representa a base da
disposição para aprender, da busca do conhecimento” (ASSMANN, 2004, p. 26).
Trazer a curiosidade para junto dos saberes da corporeidade passa pelo
entendimento de que aprender com curiosidade de aprender é, para Assmann
(2004, p. 39), “o despertar do prazer de conhecer, de compreender, descobrir,
construir e reconstruir o conhecimento, ter curiosidade”. Especificamente em relação
ao saber criar, a curiosidade é mola propulsora dessa ação, pois, como uma função
psíquica estruturante, segundo Byington (1996), ela ajuda o Ser a elaborar seus
75
símbolos criativamente. É a subjetividade humana no saber criar, já que Régis de
Morais (2003) tão sabiamente defende que o novo mora primeiramente no coração e
só depois na idéia. É subjetivo para depois tornar-se objetivo. É sentido para ser
vivido e é vivido para ser sentido.
No Ensino Tradicional, predominantemente racional, professores e alunos
embotam sua criatividade em nome da formalidade e em conseqüência da
fragmentação alienante dos saberes. É preciso dar-se conta dessa realidade, e
Byington (1996, p. 25) chama atenção para esse fato ao afirmar que
[...] quando nos damos conta do não-aproveitamento da
criatividade dos alunos, percebemos também que, com esse
ensino racional, a criatividade de muitos professores também não
está sendo aproveitada. Ela está em grande parte ainda
embutida, esperando um ensino integral para desabrochar. Trata-
se da formação e do desenvolvimento do professor, através da
vocação de transmitir amorosamente o saber com toda sua
emoção e criatividade existencial.
A relação que existe entre a criatividade do adulto e da criança é
analisada por Gardner (1996) que considera a necessidade de o adulto ter formação
e raciocínio “adequado” para responder às perguntas de uma criança talentosa.
Como característica da criatividade, ressalta o fato de que “importantes dimensões
da criatividade adulta tem suas raízes na infância do criador” (GARDNER, 1996, p.
26).
Na fonte dos Saberes da Vida, bebendo das águas humanescentes ou
banhando-se nelas, os professores em formação brincam e dançam, manifestam-se
em sua totalidade. Vivem a plenitude da infância e permitem, muitas vezes, o
florescimento da criança que habita o seu Ser. É possível considerar que ocorre uma
interseção do infantil e do maduro, que Gardner (1996, p. 9) defende ser condição
76
essencial para a descoberta criativa, acrescentando que “importante num estudo da
criatividade é a sensibilidade às maneiras inovadoras de aproveitar a visão de
mundo da criança pequena”.
O banho na fonte dos Saberes da Vida é a síntese de um Ensino integral,
que sob o pressuposto da corporeidade se propõe desafiador e gerador da
criatividade, por entender que é necessário que o corpo assuma um lugar central na
aprendizagem, a fim de que os alunos aprendam a comunicar-se corporalmente,
sem se envergonhar de suas atitudes, recuperando o direito de serem criativos e de
tornarem-se agentes e sujeitos de transformação. Segundo Pierrakos (1990, p. 18),
“a inteligência e harmonia da criação aponta para uma consciência que é, ao mesmo
tempo, totalmente abrangente e minuciosamente específica”, considerando que
“toda existência forma uma Unidade que se move em direção a uma evolução
criativa, tanto do todo como dos seus inúmeros componentes” (PIERRAKOS, 1990,
p. 15).
A criatividade é, para Gardner (1996, p. 10) um processo dialético, que
ocorre na interação entre o indivíduo, o objeto de trabalho e os outros indivíduos,
constituindo o que o autor denomina de “triângulo criativo”. Em suas palavras, “toda
a atividade criativa se origina, primeiro, da relação entre o indivíduo e o mundo
objetivo do trabalho e, segundo, dos laços entre o indivíduo e os outros seres
humanos”. É interessante essa ressalva, pois muitas vezes se imagina que os
indivíduos criativos trabalham em isolamento. No entanto, o papel das outras
pessoas é determinante em seu desenvolvimento.
O ser criativo, na concepção de Gardner (1996, p. 30-31), caracteriza-se
como “uma pessoa que regularmente soluciona problemas, cria produtos ou define
novas questões num domínio de uma maneira que inicialmente é considerada nova,
77
mas que acaba sendo aceita num determinado ambiente cultural”.
O método racional e a exclusão da subjetividade são enormemente
responsáveis pelo modo como se tornou o ensino e conseqüentemente a
aprendizagem, ou seja, entediante e previsível. A criatividade inesperada, a
sensibilidade e o divertimento devem ser saberes presentes no desenvolvimento
humano.
O prazer de aprender advém da consciência da capacidade de criar, com
emoção, um pensar criativo que torne o Ser cada vez mais humano.
2.4 CORPOREIDADE E O SABER BRINCAR
O “saber brincar” aqui se apresenta como um saber da corporeidade. A
ludicidade como essência do brincar e fator de humanização é presença
fundamental em uma educação que se dá ao longo de toda a vida, uma vez que ela
deve ser desfrutada em sua realização. Brincar para bem viver. Para devolver ao
mundo o amor, a harmonia e a fantasia. Para banir da normalidade situações de
violência e de injustiça social. Maturana e Verden-Zöller (2004, p. 245) acreditam
que
[...] para recuperar um mundo de bem-estar social e individual – no
qual o crime, o abuso, o fanatismo e a opressão mútua não sejam
modos institucionalizados de viver, e sim erros ocasionais de
coexistência – devemos devolver ao brincar o seu papel central na
vida humana.
Deixar de brincar, segundo o autor, faz com que o Ser perca sua
consciência social individual, transformando sua vida numa contínua justificação de
78
suas ações em função de suas conseqüências, em um processo em que ele
considera que “nos torna insensíveis em relação a nós mesmos e aos demais”
(MATURANA e VERDEN-ZÖLLER, 2004, p. 232).
Insensíveis quanto a si próprios e no viver junto aos outros não condiz
com uma Educação voltada para o desenvolvimento humano do Ser. Nesse modelo
de Educação, faz-se necessário exercitar o amor, companhia legítima do brincar. A
esse respeito, Maturana e Verden-Zöller (2004, p. 245) afirmam que “sem um
desenvolvimento adequado do sistema nervoso no amor, tal como vivido no brincar,
não é possível aprender a amar e não é possível viver no amor”. É necessário
ampliar a visão a que o amor conduz, assim como é preciso viver a liberdade que
induz à mudança de vida proporcionada pelo brincar, para que a reflexão sobre a
própria vida torne-se possível.
Pensar e envolver-se com a vida de modo prazeroso é uma forma de
manifestar-se ludicamente, brincando. Aqui, mais uma vez, as dicotomias se
complementam fazendo parte de um mesmo elemento: a vida. É sério brincar com a
vida. É responsável lutar por oportunizar a manifestação do saber brincar em um
processo formativo humanescente. No entanto é escandaloso afirmar a bondade do
prazer no Ocidente, uma vez que a espiritualidade ocidental se constituiu sobre a
negação do prazer, a negação do corpo, a negação do Eu (ALVES, 2002).
O homem moderno elegeu a razão como filosofia de vida. Quais as
conseqüências dessa “opção”? E o seu aspecto sensível, como ficou? Perdeu-se
junto com as brincadeiras, a alegria e o prazer? Segundo Santin (1994, p. 13),
“desde que a racionalidade tornou-se a única maneira respeitada das manifestações
do homem, o brinquedo foi banido para os espaços periféricos da existência
humana”.
79
Poucas coisas são tão puras e honestas quanto o prazer, e, de acordo
com Alves (1995, p. 89), é nele que “o corpo fala sua linguagem mais profunda,
universal, irrefutável”. É na atividade lúdica que o corpo é feliz, é onde ele cria asas
e alça vôos na busca de sua inteireza, de sua plenitude, alcançada na harmonia que
estabelece com a totalidade de sua existência.
Vale ressaltar que a harmonia interna do Ser não pode ser alcançada pelo
apego a coisas materiais, externas, nem mediante o esforço permanente em
controlar a própria vida ou o mundo de objetos no qual se vive. Ela é, de outro modo,
conseguida, vivendo-se uma “vida de auto e hétero-respeito. Isso só é possível –
acreditamos – numa vida em que se conservem o amor e a brincadeira como modos
de viver na sensualidade e ternura em todas as dimensões da existência”
(MATURANA e VERDEN-ZÖLLER, 2004, p. 251).
A atividade lúdica não se resume a alguns momentos privilegiados de
“efervescência”, produzido pelas festas – o que a caracteriza como uma descoberta
vertical e descontínua –, mas agrega-se às manifestações horizontais
[...] que obedecem ao caráter coletivo de um estilo comum que
invade, durante um período mais ou menos longo, o campo das
consciências individuais e dos grupos, animando atitudes comuns
e sugerindo uma cumplicidade entre tendências contrárias
(DUVIGNAUD, 1980, p. 87).
Eis um grande desafio posto no trabalho desenvolvido na formação de
professores: advogar que o ensino que faz emergir o lúdico, imagético, atraente,
dramático, divertido e até mesmo fascinante é eficaz, sério e profundo. Byington
(1996, p. 163) alerta que é importante, porém, saber “introduzir o jogo e a ludicidade
no ensino no dinamismo matriarcal, pois com isso aprendemos subsídios
80
importantes para manter um determinado nível de prazer, que torna o aprendizado
vivo e atraente”.
Trazer a ludicidade para o contexto de formação de professores é uma
opção ousada de quem crê na necessidade de que estes devem assumir uma
atitude diante da vida. Duvignaud (1980, p. 88) considera que essa atitude é
assumida quando se “questiona o mundo, joga com a ordem, joga com os costumes,
joga com Deus”.
A Escola, em nome da reprodução do sistema econômico, decretou a
morte do prazer, da criação, do lúdico. No entanto, resgatar a ludicidade da criação
no espaço escolar oportunizará a seus atores a reapropriação e a posse de suas
vidas, de sua história e de sua cultura, possibilitando a crítica e recriação, não só da
lógica da Escola, como da lógica social. Marcellino (1990) considera esse fenômeno
como manifestação da utopia e, dialeticamente, como denúncia da realidade. Uma
realidade que considera trabalho e lazer como excludentes entre si. O fluxo lúdico,
segundo Duvignaud (1980, p. 135), “é um fluxo que provavelmente provoca uma
revolução nas relações entre o homem e o trabalho”.
Dar vida ao trabalho. Transformar a sala de aula em um ambiente de
divertimento, pois até o trabalho mais exigente, se enfrentado com espírito alegre,
pode ser divertido. A brincadeira possibilita uma maior riqueza de reações e
melhoria na capacidade de adaptação. Ou seja, o brincar torna mais flexíveis os que
dele participam. Segundo Nachmanovitch (1993), o ser humano, quando se diverte,
descobre novas maneiras de se relacionar com as pessoas, com os animais, com as
idéias, com as imagens, consigo mesmo.
Saber brincar. Acatar e desenvolver esta aprendizagem no contexto
educacional e na formação docente é condição imprescindível para que a prática
81
pedagógica ocorra em conformidade com a vida que implora por amorosidade para
se tornar humana. Rousseau, citado por Régis de Morais (2003, p. 59), convoca:
“Homens, sejam humanos, é o seu primeiro dever. Amem a infância; favoreçam seus
jogos, seus prazeres, seu agradável instinto. Quem de vocês nunca sentiu por vezes
a perda dessa idade em que o sorriso está sempre em paz?”. Ao que Alves (1999, p.
170) complementa: “Ponho-me a brincar com a vida e uma estranha metamorfose
acontece: deixo de ser velho. Sou criança de novo [...]”.
Brincar com a vida, sentir prazer em criá-la, amar vivê-la. Aprender que é
possível sorrir como criança amando prazerosamente a vida em toda a sua
complexidade, plenamente. Huizinga (1990, p. 16) considera que a ludicidade do
brincar “é capaz de absorver o jogador de maneira intensa e total”, levando-o a
perceber-se vivo, pulsante; conhecedor de suas possibilidades e limites ou, como
analisa Régis de Morais (2003, p. 117), “imperfeitos mas heróicos; frágeis mas
determinados; presos em nossa imanência de filhos da natureza e desta libertos
para transcendência do intuir e do sentir inteligente; somos uma encantadora
dialética entre fracassos e conquistas”. Enfim, humanos.
2.5 CORPOREIDADE E O SABER SENTIR
O saber sentir apresenta-se como um saber da corporeidade, juntamente
com o saber criar e o saber brincar, formando os três primeiros raios da teia, sendo
responsável por sua estabilidade vivencial. Com o saber pensar e o saber
humanizar-se completam-se os saberes fundamentais da corporeidade. Esses
saberes não se coadunam com uma educação mecânica, acrítica e racionalizante,
mas com uma educação criativa, sensível e lúdica que visa a amar e respeitar a
82
vida.
No presente estudo, o corpo e a mente são parceiros constitutivos do Ser,
de maneira harmônica, complementar e integral. O sentimento, nesse contexto,
apresenta-se, segundo o que considera Damásio (2004, p. 95):
Na sua essência, um sentimento é uma idéia, uma idéia do corpo,
uma idéia de um certo aspecto do corpo quando o organismo é
levado a reagir a um certo objeto ou situação. Um sentimento de
emoção é uma idéia do corpo quando este é perturbado pelo
processo emocional, ou seja, quando um estímulo
emocionalmente competente desencadeia uma emoção.
O autor acrescenta que “os sentimentos de emoção são funcionalmente
distintos porque a sua essência consiste em pensamentos sobre o corpo
surpreendido no ato de reagir a certos objetos e situações” (DAMÁSIO, 2004, p. 93).
Os estudos acerca da forma como os pensamentos desencadeiam as
emoções e de como essas emoções modificam o corpo no momento em que se
transformam nos fenômenos mentais, aqui chamados “sentimentos”, possibilitam um
novo olhar sobre a mente e sobre o corpo, contribuindo para que ambos sejam
percebidos, como afirma Damásio (2004, p. 15-16), como “duas manifestações
aparentemente separadas de um organismo integrado e singular”.
Trazer o amor, como sentimento essencial do saber sentir, é ousado, uma
vez que falar de amor é ser romântico e, afinal, quem vai ter respeito intelectual por
um romântico? Que ciência vai abandonar seu status alcançado devido a sua
objetividade racional para enveredar no caminho da subjetividade amorosa?
No entanto, tratar de educação por essa seara exige ousadia, coragem e
compromisso com a vida. Fazer formação docente tendo como pressupostos teórico-
práticos advindos da corporeidade conduz por esse caminho. É relevante o respaldo
83
de Freire (2001, p. 50-51) quando afirma que:
O que importa, na formação docente, não é a repetição mecânica
do gesto, este ou aquele, mas a compreensão do valor dos
sentimentos, emoções, do desejo, da insegurança a ser superada
pela segurança, do medo que, ao ser ‘educado’, vai gerando a
coragem.
As emoções como, por exemplo, a alegria e a tristeza são, conforme
Damásio (2004, p. 62), “um meio natural de avaliar o ambiente que nos rodeia e
reagir de forma adaptativa”. Equivocadamente, tende-se a acreditar que os
sentimentos antecedem a expressão das emoções. No entanto, esse é um equívoco
que causa atraso nos estudos neurobiológicos dos sentimentos. O autor ensina que:
“temos emoções primeiro e sentimentos depois porque na evolução biológica as
emoções vieram primeiro e os sentimentos depois. As emoções foram construídas a
partir de reações simples que promovem a sobrevida de um organismo e que foram
facilmente adotadas pela evolução” (DAMÁSIO, 2004, p. 37).
É possível afirmar que os sentimentos falam do estado da vida na
linguagem do espírito e que, segundo Damásio (2004, p. 91), “é diferente de
qualquer outro tipo de pensamento”, sendo a representação mental do corpo. Ele é
“o sentimento de uma emoção”.
A relação que o ser estabelece com a vida não é apenas pensada, mas é
também sentida, para poder ser plenamente vivida. Ao atuar sobre a natureza
exterior a ele e modificá-la, o Ser também é modificado e se modifica interiormente,
uma vez que o Eu e o Outro é uma relação dicotômica que se encontra harmonizada
no contexto de formação aqui abordado. Nessa perspectiva, é compreensível o que
afirma Régis de Morais (2003, p. 20) quando analisa que “ao longo do tempo foi-se
percebendo que aqueles que não se aceitam e não se amam, mostram enorme
dificuldade de amar ao próximo”. Não é possível uma educação humanizante sem
84
amor.
O professor, ao vivenciar o sentimento do amor no seu processo
formativo, contribui para que sua vida melhore, e assim sendo melhorará a de todos
que estão à sua volta. De outro modo, dificultando ou impedindo o sentimento do
amor, dificulta-se e impede-se o seu crescimento, sua evolução humana, pois,
segundo Byington (1996, p. 114) “sentimentos constituem expressões de vida”.
Impedidos, a energia do Ser acumula-se e a pessoa estagna.
Aqui, uma bifurcação configura-se, e Régis de Morais (2005, p. 61)
apresenta a seguinte alternativa:
Ou somamos mais tumulto e sofrimento a um mundo demasiado
tumultuado e sofrido, ou estimulamos a alegria de viver – isto sem
alienações estagnantes [...] alegria deve ser um sentimento
luminoso e sereno dentro de cada um de nós. Alegria de viver será
a percepção de que, se não podemos mudar o mundo, podemos
ao menos mudar a nossa forma de nos relacionar com o mundo.
O autor acrescenta que se existe o desejo de alcançar esta alegria é
necessário que se esteja em paz e para tanto é preciso despertar para a
“amorização da vida” (RÉGIS DE MORAIS, 2005, p. 20).
Amar a vida de corpo e alma. Talvez seja necessário reaprender.
Conhecer-se e amar-se para poder conhecer e amar o outro e a vida. Gonçalves
(1994, p. 17) reconhece que,
o homem foi tornando-se, progressivamente, o mais independente
possível da comunicação empática do seu corpo com o mundo,
reduzindo sua capacidade de percepção sensorial e aprendendo,
simultaneamente, a controlar seus afetos, transformando a livre
manifestação de seus sentimentos em expressões e gestos
formalizados.
85
O desconhecimento de si traz riscos à saúde do ser, empobrecendo sua
qualidade de vida. Em relação a esse aspecto, Maslow (1975, p. 87) considera que
“a grande causa de muita doença psicológica é o medo de conhecermo-nos a nós
próprios – as nossas emoções, impulsos, recordações, capacidades,
potencialidades, o nosso próprio destino”.
O processo formativo vivenciado na fonte dos Saberes da Vida
sustentada pelos quatro pilares da Educação e de onde jorram os saberes, em
águas humanescentes, oportuniza aos professores fazerem descobertas e
experimentarem sentimentos que se encontravam adormecidos, às vezes
manifestados – vividos, mas poucas vezes sentidos – refletidos. Talvez pelo que
pondera Maturana e Verden-Zöller (2004, p. 237), afirmando que “é corriqueiro que
[...] se ache que as emoções são uma perturbação que interfere com a
racionalidade”, ou talvez, e também porque, como afirma Csikszentmihalyi (1999,
p. 25):
[...] as emoções são, em certos aspectos, os elementos mais
subjetivos da consciência, já que só a própria pessoa pode dizer
se sente verdadeiramente o amor, a vergonha, a gratidão ou a
felicidade. Porém, uma emoção é também o conteúdo mais
objetivo da mente, porque a sensação física que experimentamos
quando estamos apaixonados, assustados ou felizes é geralmente
mais real para nós do que aquilo que observamos no mundo
exterior, ou o que quer que aprendamos com a ciência e a lógica.
O fato é que a situação de marginalidade imposta aos sentimentos e
emoções no Mundo Ocidental torna o ser geralmente incapaz de perceber o
entrelaçamento natural entre eles, a fisiologia e a anatomia como um aspecto normal
e espontâneo da história de vida individual, do nascimento até a morte. Segundo
86
Pierrakos (1990, p. 19), “a emoção é uma pulsação do todo do organismo” e
manifesta-se corporalmente. Desse modo, conforme Maturana e Verden-Zöller
(2004, p. 237), “se quiseres conhecer a emoção olha para a ação, se quiseres
conhecer a ação, olha para a emoção”. Enquanto Damásio (2004, p. 35) considera
que
[...] as emoções são ações ou movimentos, muitos deles públicos,
que ocorrem no rosto, na voz ou em comportamentos específicos
[...] os sentimentos, pelo contrário, são necessariamente invisíveis
para o público, como é o caso com todas as outras imagens
mentais, escondidas de quem quer que seja exceto do seu devido
proprietário.
Em assim sendo, busca-se em Alves (1995, p. 155) o apelo de que “é
preciso reaprender a linguagem do amor, das coisas belas e das coisas boas, para
que o corpo se levante e se disponha a lutar”.
Diante da relação evidenciada entre corpo e emoção é possível perceber
que a vida, vivida corporalmente, é complexa e comporta atos, sentimentos e
pensamentos.
2.6 CORPOREIDADE E O SABER PENSAR
Historicamente foi sendo concebido que os estudos referentes aos
saberes reforçaram a cultura dominante, oriunda do pensamento cartesiano, que
enfatiza o aspecto cognitivo da condição humana em detrimento de outros como
afetividade, sensibilidade, espiritualidade. No presente estudo, o saber pensar,
juntamente com os demais saberes da corporeidade entrelaçam-se na perspectiva
da humanização do Ser.
87
Os professores, banhando-se e bebendo na fonte dos Saberes da Vida,
refletem. Refletem a própria vida, na busca da sua humanização. Csikszentmihalyi
(1999, p. 52) acredita que “[...] o primeiro passo para melhorar a qualidade de vida é
prestar atenção ao que fazemos todo dia e notar como nos sentimos em diferentes
atividades, lugares, horas do dia e com diferentes companhias”.
O que o autor sugere pode parecer uma prática óbvia, corriqueira;
racionalmente óbvia, entretanto prestar atenção ao que se está fazendo, como, por
que e para que, é um exercício de mergulho interior que o Ser realiza e que pode
provocar desconforto, muito embora, também, prazer.
O modelo de educação tradicional, formal, linear e mecanicista não
oportuniza situações pedagógicas em que atividades formativas contemplem os
saberes de natureza mais subjetiva. Conduz-se pelo caminho contrário e o pensar
para e sobre o que estava fora do ser, em seu entorno. Essa prática provocou,
dentre outras coisas, o aniquilamento da subjetividade e o congelamento dos
sentimentos. Fugir de si, talvez devido ao fato de que, conforme Maturana e
Rezepka (2000, p. 31), “diante da reflexão, a principal dificuldade que se enfrenta é
precisamente o medo de perder o que se acredita ter e do desconhecido que a
mudança traz”. Por outro lado, os autores entendem que “a reflexão é um ato que se
dá no desapego que, quando é feita, nos liberta de qualquer armadilha”.
A possibilidade de liberdade provocada pelo pensar é infinita. O
pensamento livre de ‘pré-conceitos’ e voltado para a auto-evolução é o pensamento
de um ser que se reconhece em processo de formação. Para Gardner (2005, p.
173), o pensamento pode ser reformado, reformulado, reconstruído, transformado,
combinado, alterado e destruído. Ele está, em resumo, segundo o autor, “em nossas
mãos e dentro da nossa mente”.
88
Modificar a maneira de pensar é provavelmente um ato de humildade e de
amor. Gardner (2005, p. 173) acredita que mudar a maneira de pensar é fácil e que
o difícil é passar a agir de acordo com o novo pensar. O autor reconhece que “a
nossa mente muda ou porque nós queremos mudá-la ou porque acontece algo em
nossa vida mental que justifique uma mudança”. Acrescenta ainda que “a mudança
pode ocorrer em qualquer esfera: nossas crenças políticas, nossas crenças
científicas, nosso credo pessoal, nossa visão de nós mesmos”.
Freire (2001) considera que um dos desafios do professor é ser coerente,
agindo de acordo com o que pensa, precisando para tanto que “corporifique” seu
pensamento, sentimento ou emoção. Pode-se analisar, então, que corporificar é dar
vida, tornar vivido o que pensou ou sentiu. Ele é vivido em um contexto para poder
fazer sentido para quem o vive.
Pensar o conhecimento, dar vida ao conhecimento. Morin (2004, p. 16)
reconhece que “o conhecimento só é conhecimento enquanto organização,
relacionado com as informações e inserido no contexto destas”. Saber pensar para
organizar o conhecimento e trazê-lo para a vida, fazendo com que a qualidade da
vida vivida melhore cada vez mais e que o Ser evolua nessa vida.
2.7 CORPOREIDADE E O SABER HUMANIZAR-SE
Humanização, a grande meta que o ser deve atingir. Saber humanizar-se,
aprendizagem necessária à evolução humana. Neste estudo, o saber humanizar-se
é um dos saberes da corporeidade e seu desenvolvimento se dá concomitantemente
ao saber criar, saber brincar, saber sentir e saber pensar.
Os saberes da corporeidade não se desenvolvem plenamente nos seres
89
que vivem isolados, mas nos que interagem com os outros e com o seu meio, além
de ter como grande desafio o seu auto-conhecimento para melhorar, para auto-
melhorar-se. Régis de Morais (2003, p. 40) entende por auto-melhoramento “essa
capacidade de aperfeiçoamento que é infinita”, mas para que isso aconteça, o autor
considera que “não desenvolvemos nossa humanidade sem que estejamos em
relação” (RÉGIS DE MORAIS, 2003, p. 45).
O papel que a Educação pode desempenhar no processo de
humanização do ser é extremamente relevante, uma vez que, além de promover o
desenvolvimento humano ao longo de toda a vida, é concebida, também, da maneira
considerada por Régis de Morais (2003, p. 57), ou seja, como “o mais luminoso olhar
da mente e do coração”.
Na fonte dos Saberes da Vida, onde se bebe a água límpida e
humanescente da transformação, os professores em formação são estimulados a
olhar a vida com o olhar luminoso da mente e do coração, encantando-se com a
riqueza das diferenças na trilha do desconhecido, do (re)conhecido e do novo.
Maturana e Verden-Zöller (2004, p. 125) ressaltam que “o ser humano
que um humano chega a ser vai se constituindo ao longo da vida humana que ele
vive”. Ele vai adquirindo e desenvolvendo saberes que provocam sua evolução. Os
saberes da corporeidade são saberes humanos que alcançam o Ser em sua
essência, em seu mais profundo desejo de auto-aperfeiçoamento, de evolução.
Algumas vezes esse desejo precisa ser descoberto e estimulado. Maslow (1975, p.
199) lembra que “se desejamos ajudar os humanos a tornarem-se mais plenamente
humanos, devemos compreender não só que eles tentam realizar-se a si próprios,
mas também são relutantes, incapazes ou têm medo de fazê-lo”.
O medo não pode ser obstáculo definitivo no processo de humanização,
90
pois pode estagnar o ser. Ele deve, por outro lado, agir como elemento instigador,
provocador de respostas e de questionamentos; como uma pausa para que se
pense e siga adiante. Caso apareça, pode ser encarado como um elemento
metamorfoseador do ser. Uma grande “arma” para enfrentar o obstáculo do medo é
o amor, o amor a si. Régis de Morais (2003, p. 114) considera que “amar-nos é
reconhecer nossas precariedades e fraquezas, querendo fazer o esforço de
superação destas, perseguindo com tenacidade a renovação íntima que nos
concederá irmos de lagartas a borboletas”.
Trazer a humanização do ser para o processo de formação de
professores é possível e extremamente urgente, em um momento em que verdades
são revisitadas, paradigmas são questionados, certezas são contestadas. Um
momento histórico em que o ser, que nasceu para humanizar-se, vive na miséria,
sofre pré-conceito e discriminação, num mundo em que existe grande carência de
amor. Esse quadro, que bem que poderia ser surreal, precisa ser recolorido. Para
isso, como afirmam Maturana e Verden-Zöller (2004, p. 256), “é preciso que
tenhamos a audácia de viver seriamente a responsabilidade de seres humanos que
querem gerar no dia-a-dia, um mundo humano em harmonia com a natureza a que
pertencem”.
A alteridade – capacidade de comungar com os outros – é, como defende
Régis de Morais (2003, p. 45) “o fundamento de nossa evolução”. Colocar-se no
lugar do outro, procurando sentir o que ele sente, tentando entender o que e como
pensa, é uma maneira de entender e descobrir saídas para a situação em que ele se
encontra.
É muita alegria poder trazer o Ser e sua evolução humana – criando,
brincando, sentindo e pensando –para este trabalho de investigação, ainda mais por
91
perceber, assim como Régis de Morais (2003, p. 53), que os valores sagrados
começam “a voltar para o nosso mundo e – isto é formidável! – agora trazidos, em
grande parte, pelas mãos da ciência”.
2.8 CORPOREIDADE E EXPERIÊNCIA DE FLUXO
Nesta seção abordaremos mais especificamente a Corporeidade dos
professores que se banham e que bebem na fonte dos Saberes da Vida, enquanto
vivenciam atividades corporais oportunizadoras de experiências de fluxo. Far-se-á
uma relação do ser que brinca na fonte com os elementos da natureza.
8
Trazer os quatro elementos da natureza foi uma opção inspirada na obra
poética de Gaston Bachelard, que apresenta os devaneios poéticos do mundo
onírico, de valores espirituais, o ‘homem noturno’ poético. Serres (2004, p. 61) avalia
que “se a existência do corpo se decifra a partir de suas pantomimas quando está
desperto, o sono negro da noite, vazio de poder, envolve sua essência”. Aqui a
referência que mais interessa é a do ‘homem noturno’, especificamente os quatro
elementos poéticos.
O Ser corpóreo que habita a terra será tratado neste estudo como
Corporeidade, em toda sua inteireza. Caminhar com a corporeidade demonstra,
dentre outras, a preocupação com a vida do ser na Educação, por entender, assim
como Assmann (1998), que toda aprendizagem tem inscrição corporal e que,
segundo o autor, o novo conhecimento acontece no interior do movimento humano.
Serres (2004) compartilha também com essa afirmação quando defende que o
8
Aqui em número de quatro, pois são os que existem objetivamente no mundo da matéria densa e
têm expressão e manifestação objetiva no mundo material: ar, terra, água e fogo.
92
conhecimento emerge, em grande parte, das imitações que tornam possível a
plasticidade do corpo. Nele, com ele e por ele começa o saber.
Neste estudo, a corporeidade é a referência mais radical acerca do papel
da prazerosidade na cognição e nas atividades corporais. Nessa perspectiva, urge
esclarecer que a concepção cartesiana não dá conta do corpo que é aqui
apresentado e discutido. Chauí (1995, p. 111), quando conceitua corpo e alma,
recorre a Espinosa e sua ética da alegria e da felicidade, afirmando que ambos se
constituem como
[...] uma unidade estruturada: não é um agregado de partes, mas
unidade de conjunto e equilíbrio de ações internas interligadas de
órgãos, portanto, indivíduo ... o corpo, sistema complexo de
movimentos internos e externos, pressupõe e põe a
intercorporeidade como originária.
Corpo vivo, do ser vivo, pulsante, inteiro, humano. Possuidor de
qualidades como: racionalidade, sensibilidade, emotividade, subjetividade, que,
segundo Rocha (2002, p. 76), precisam ser respeitadas em nome da legitimidade do
outro que exerce sua autonomia, enquanto ser corpóreo cognoscente, permitindo
“um desenvolver ético no mundo”. Nessa perspectiva é que reconhecemos o corpo
como forma de presença no mundo, não apenas isso, mas, conforme Régis de
Morais (2003, p. 72), “corpo que também é linguagem de emoções, que também é
tradutor dos estados mentais e espirituais”.
Trata-se de um corpo real, não aquele que se revela cada vez mais um
fetiche e uma abstração, idealizado e perfeito, mas aquele que é “antes de tudo uma
entidade real, uma realidade material, o substrato carnal de cada pessoa”
93
(MARZANO-PARISOLI, 2004, p. 24).
Um corpo que fala, que comunica, que se expressa e que, com um
esforço amoroso, permite-nos decifrá-lo, sob pena de, tal qual a esfinge, ele nos
devorar. Devorar no sentido de ignorar-nos, de viver como se não fizéssemos parte
dele, como se não entrássemos nele ou, conforme Chauí (1995), não fôssemos uma
unidade estruturada. Unidade estruturada que é uma pequena parte do Universo e
que, como este, é formado por água, terra, fogo e ar. Entender esse mistério faz
com que cada ser vivo seja reconhecido como uma pequena representação do
Cosmos. Desde o nascimento, a dualidade nos compõe e, segundo Serres (2004, p.
24), “nascer implica expor o frágil ao rigor, o morno ao gelado, o flexível ao rígido, o
terno à violência”. O autor afirma que isso é conhecer. Gonçalves (1999) concorda
quando afirma que nada é virtualmente uma coisa só.
O simbolismo dos quatro elementos comunga e reforça a idéia de que
nada é virtualmente uma coisa só e influenciam as ações humanas sobre o mundo
natural. Gonçalves (1999, p. 7) ilustra esse fato quando considera que “o Fogo
destrói e solidifica. A Água e o Ar são, igualmente, destruidores e protetores. A Terra
é vontade e repouso. Todos os elementos exteriorizam contradições, antinomias,
dualidades, quer materiais, quer espirituais”. A autora acrescenta: “A nossa
imaginação alimenta-se dessas antíteses...o ‘leite negro’, a ‘água seca’, o ‘fogo frio’
ou o vinho que é ‘água e fogo’ ao mesmo tempo, são contrários ou
complementares”.
As ações humanas, ou suas atitudes, conforme afirma Régis de Morais
(2003, p. 97), citando Edmond Barbotin, são atitudes que “significam as pessoas,
suas intenções, seus sentimentos, sua profundidade e sua mobilidade. Elas nunca
são coisas só corporais; as atitudes são uma espécie de linguagem do espírito”.
94
Conduzir uma investigação sob a “custódia” dos pressupostos da
corporeidade é trazer o espírito para a ciência, num mundo reconhecidamente
energético, do qual somos seus filhos. Assim, o Ser pode ser considerado como
pontos de luz, que precisam despertar, iluminando a vida, que nos é dada como
“empréstimo divino, cuidando do nosso corpo como ‘templo do Espírito Divino’. Em
seguida, portanto, será necessário despertarmos para as nossas forças mentais e
espirituais” (RÉGIS DE MORAIS, 2003, p. 18).
Essa unidade é presente, é real na pesquisa que aqui se configura. Os
professores investigados são reconhecidos em sua totalidade plena. As vivências
corporais na fonte dos Saberes da Vida oportunizam o auto-conhecimento e a
convivência com o outro. Segundo Serres (2001, p. 56) “não sou nada mais do que
as outras coisas, acrescidas dos outros homens do mundo”. Essa convivência é
estabelecida, no presente contexto, com ludicidade e harmonia; harmonia
conquistada pelo fato de estarem presentes na mesma atividade, o coração, a
vontade e a mente.
Nesse sentido, o prazer está presente e não existe preocupação em
chegar a um produto final, pois se vive intensamente todo um processo, o que tem
um imenso valor para a evolução do Ser. Csikszentmihalyi (1999, p. 38) afirma que
“quando todo o ser de uma pessoa é levado ao funcionamento total do corpo e da
mente, o que quer que se faça torna-se digno de ser feito por seu próprio valor; viver
se torna sua própria justificativa”. O autor complementa: “... a excelência da vida
cotidiana depende em última instância não do que fazemos, mas de como fazemos”
(CSIKSZENTMIHALYI, 1999, p. 54).
Essa vivências corporais prazerosas se apresentam como o que
Csikszentmihalyi (1999, p. 136) denomina de “experiência de fluxo”, entendendo
95
como fluxo “uma fonte de energia psíquica que concentra a atenção e motiva a
ação”. Energia advinda do brincar, brincar que remete, relembra e ressuscita a
infância e que abre a consciência para o Ser no presente, como se seu fazer não
tivesse nenhum objetivo externo. De acordo com Maturana & Verden-Zöller (2004, p.
145),
Brincadeira [...] é uma atividade vivida sem objetivos – mesmo
quando, por outro lado, tenha um propósito. E que com freqüência
a realizamos de modo espontâneo, tanto na infância quanto na
vida adulta, quando fazemos o que fazemos atendendo – em
nosso emocionar – ao fazer e não às suas conseqüências.
Para Heráclito, “tudo flui”, tudo está em movimento e nada dura para
sempre. Tudo se transforma e as transformações da natureza surgem da
combinação de quatro “raízes” que depois se separam, voltando a reunir-se para
mais uma vez separar. [...] Existe, no entanto, a predominância de um elemento
sobre os outros. Quando se fala em predominância, por exemplo, da água, não há
referência à predominância no plano físico do elemento, mas à predominância
energética.
Em um estudo realizado à luz da corporeidade essa abordagem simbólica
é plenamente coerente à medida que esta transcende o Ser em relação à
materialidade do corpo físico e comporta sua plenitude cósmica. Segundo Byington
(1996, p. 46) “o corpo simbólico inclui tudo o que é anatômico e fisiológico e, ao
mesmo tempo, tudo o que é significado metafórico e imaginário”.
A Água simbolizará as transformações operadas nos seres pelos seres e
sua constante renovação. Abordará a existência de uma matéria uniforme a ritmos
diferentes, que fluem no saber brincar. O Ar trará o movimento corporal que liberta o
96
Ser ao purificar o seu espírito através das emoções e dos sentimentos. A Terra é a
matéria, aquela que dá vida e que comporta a inteireza do Ser. Relaciona-se ao
inteligível e abarca as divergências/contradições em busca da harmonia. O Fogo é o
elemento dialetizante que leva à transcendência. Transcendência que traz para si o
princípio Divino enquanto presença em si mesmo, em seu interior e à nossa volta.
2.9 A ÁGUA QUE TRANSFORMA O SER
A transformação provocada nos seres que brincam na fonte dos Saberes
da Vida acontece de maneira bastante individualizada e única. Ela é provocada a
partir do estímulo à auto-descoberta e ao auto-conhecimento. Segundo Serres
(2004, p. 74), “raramente temos conhecimento do que sabemos e do que não
sabemos, essas duas enormes proezas da inteligência”. Raramente, também, sabe-
se por que se age dessa ou daquela maneira; por que se sente isso ou aquilo, isso
ou não aquilo.
Cada professor em formação apresenta maior ou menor mudança
conforme sua disposição existencial. Respeitar os diferentes ritmos pessoais é
condição fundamental para que seja realizado um trabalho construtivo e lúcido. É
preciso reconhecer que
[...] a vida prática ensina, acima de tudo, a respeitar o que a coisa
prescreve e não a opinião que se tem sobre ela. Em qualquer
atividade a que nos dedicamos, o corpo é o suporte da intuição, da
memória, do saber, do trabalho e, sobretudo, da invenção
(SERRES, 2004, p. 36).
A corporeidade humana não é fixa, muito embora exista no ser uma
97
matéria densa. As interações Ser-Ser, Ser-Outro e Ser-Mundo são responsáveis por
mudanças que ocorrem na totalidade do Ser. Como afirma Marzano-Parisoli (2004,
p. 46) “o corpo não é mais visto como um objeto estático: ele testemunha uma
finalidade, manifesta uma interioridade, faz aparecer um mundo”. Um mundo
particular que representa o que se tem e o que se é; representa uma coisa, uma
coisa que é minha, uma coisa que sou eu. Segundo a autora, “é a experiência que
cada um tem de seu corpo, que o torna incomparável aos outros corpos”
(MARZANO-PARISOLI, 2004, p.80).
Brincando com a água da fonte dos Saberes da Vida, o professor em
processo de formação vive plenamente, transformando-se a cada vivência. A Água é
o símbolo da vida e, de acordo com Souza ([s.d.], p. 01), “desde a mais remota
antigüidade o homem pressente a importância que tem o elemento água enquanto
fonte de energia imprescindível tanto para o surgimento como para a manutenção da
vida em todo o planeta Terra”. Ela transforma e quem nela ‘mergulha’, ressuscita,
renascendo, fazendo e sendo diferente.
A cultura em que o ser está inserido é, em grande parte, responsável pela
forma como se percebe, se conhece e se valoriza. O consumismo da Sociedade
Capitalista impõe modelos, considerados ideais, que passam a nortear a maneira de
viver. Os “ritmos” diferentes são considerados sem importância na busca da
uniformidade que não considera a unidade. Faz-se necessário viver a vida no
presente - a vida que é um presente. O que acontece, no entanto, é uma busca
eterna em ser diferente, não no sentido de melhorar, mas de ser igual. Igual ao
modelo imposto; igual ao que está fora, ao que não lhe pertence. Como afirma
Marzano-Parisoli (2004, p. 26),
98
[...] existe hoje um verdadeiro projeto de construção e de
manipulação do corpo que visa recriá-lo segundo as regras do
mercado, recusando e culpabilizando ao mesmo tempo os corpos
que se afastam e se diferenciam dos modelos propostos.
Trata-se de uma medida que delibera não “apenas” sobre o corpo do ser,
mas sobre a sua vida. Engessa o Ser, impedindo-o de vibrar e de viver plenamente.
O fenômeno lúdico, segundo Huizinga (1990, p. 217), até o século XIX, teve
respaldo cultural para contribuir com a evolução do Ser, levando-o a vibrar e viver
plenamente. O autor questiona: “Em que medida a cultura atual continua se
manifestando através de formas lúdicas? Até que ponto a vida dos homens que
participam dessa cultura é dominada pelo espírito lúdico?”
Na fonte dos Saberes da Vida, os seres vivenciam momentos de
ludicidade. Naquele momento presente, vivem sua inteireza. Bachelard (1997, p. 53)
chama atenção para o fato de que “uma poça contem um universo. Um instante de
sonho contém uma alma inteira”. A ludicidade seria, nesse contexto, uma poça, que
na fonte de águas humanescentes revela a alma inteira. o Ser inteiro! Maturana e
Verden-Zöller (2004, p. 132) consideram que “é nossa orientação cultural para a
produção que nos insensibiliza, a cada momento para o presente [...] Para estar no
presente, devemos simplesmente estar no que estamos no momento”.
Viver o momento presente é uma característica essencial do brincar e
brincando o Ser flui e evolui. Régis de Morais (2003, p. 118) acredita que “[...] aquele
que verdadeiramente frui, não sente necessidade de um dado ponto de chegada,
pois, em cada passo e em cada trecho, parece ter chegado a uma visão nova”.
Na fonte dos Saberes da Vida o professor brinca, vivendo uma
experiência de fluxo que o alegra. Csikszentmihalyi (1999, p. 69) reconhece que “os
seres humanos se sentem melhor no fluxo, quando estão totalmente envolvidos em
99
lidar com um desafio, resolver um problema, descobrir algo novo”. O ser vivencia o
prazer, pois, dentre outros elementos, o brincar permite auto-expressar-se e Lowen
(1982, p. 43) acredita que “o prazer e a satisfação são...o resultado imediato das
experiências de auto-expressão”. Aqui, ela é uma experiência de fluxo fruto da
luderescência que se revela no brincar. É um fluxo pleno que causa prazer. O autor
considera que, quando o fluxo de excitação é livre e pleno, os Seres que vivenciam
tal instante humanescente sentem e transbordam prazer.
A ludicidade transforma – o que é uma de suas características – porque
tem a força de atingir às mais altas regiões do espírito, o que, segundo Huizinga
(1990) é uma forma de identificação com o sagrado, não desmerecendo um ou
outro, mas pelo contrário, exaltando-os. O lúdico respeita o ritmo individual, ao
mesmo tempo em que o harmoniza, transformando-o em humanescências.
2.10 O AR E A LIBERAÇÃO DO SENSÍVEL
O Vento sopra e agita a Água que jorra na fonte dos Saberes da Vida,
fazendo-a dançar e brincar com a vida dos seres que se banham nela para
celebrarem a luderescência, a dançarescência
9
; a humanescência que revela as
profundezas da alma. Os professores têm a sua sensibilidade respeitada e
valorizada nos momentos de formação, quando são “seduzidos” a entrarem na fonte
de águas humanescentes e a eles é dada a liberdade de optar se aceitam ou não o
convite. Os que aceitam o desafio lúdico transformam-se mais rapidamente que
outros, embora todos possam ser despertados. Gonçalves (1999, p. 6) afirma que “o
Ar é movimento e libertação”. Tal como o Ar, o Ser ascende, o que o ajuda a (re)criar
9
É o dançar humanescente.
100
a harmonia na natureza de forma sábia e prudente, de maneira diferente de como
faria anteriormente.
O ser reflete em seus movimentos e ações o que pensa e sente,
expressando-se e dizendo, através de seus gestos, quais são seus valores e
crenças. Lowen (1995, p. 7), citando Ralph Waldo Emerson, afirma que “toda
organização do temperamento tende a refletir-se no semblante. O corpo é muito
eloqüente”.
O corpo, na perspectiva da corporeidade, é a vida manifesta. A Água da
fonte dos saberes da vida, que se sensibilizou ao ser tocada pelo Ar, toca os
professores através de seus corpos sensibilizando-os, libertando-os. Algo que de
maneira geral é ignorado nos processos formativos “tradicionais”. A sensibilidade na
educação formal, na grande maioria das vezes é tolerada e em raras exceções é
estimulada e refletida. Damásio (2004, p. 15) acredita que “a emoção e as várias
reações com ela relacionadas estão alinhadas com o corpo, enquanto os
sentimentos estão alinhados com a mente”. Ambos se manifestam
aparentemente ou não nos movimentos do corpo. É o Ser vivendo a vida! Huizinga
(1990, p. 20) considera que “a emoção, o arrebatamento perante os fenômenos da
vida e da natureza é condensado pela ação reflexa e elevado à expressão poética e
à arte”.
Existe liberdade para as múltiplas vivências na fonte dos Saberes da
Vida. Liberdade de escolha, liberdade de expressão. Liberdade que transforma,
liberdade para amar e bem viver. Bachelard (1997a, p. 117) afirma que “não é o
conhecimento do real que nos faz amar apaixonadamente o real. É o sentimento que
constitui o valor fundamental e primeiro”. Cada um – com o outro – vive seus
sentimentos ao banharem-se e beberem na fonte dessas águas humanescentes.
101
Restrepo (1998, p. 105) reconhece que
[...] a ternura, a dependência, a gratuidade e a busca da
singularidade são experiências que só podem acontecer na
geografia do corpo. Lugar onde se desenvolve a vida... lugar onde
se arraiga e reproduz a cultura, da mesma maneira que a alma – a
psyché grega – não é outra coisa que uma representação ávida de
corpo que se aninha em diferentes localizações corporais,
dependendo da emoção comprometida. Imagem necessitada de
músculos e sangue, a alma não é uma substância incorpórea que
impõe desdenhosa suas formas à existência, mas enxame de
símbolos que buscam ansiosos um corpo para reproduzir-se.
O corpo liberto expressa o Ser em sua plenitude. Na fonte dos Saberes
da Vida, o Ser é observado e observa; fala, escuta e é escutado. É reconhecido
como linguagem transcorporal porque é corporeidade. O movimento expressivo do
corpo – voluntário e involuntário, é razão e emoção. Régis de Morais (2003, p. 85)
acredita que “há uma linguagem do corpo que faz de nós, amigo, seres
constantemente falantes”. O autor considera que se pode reconhecer se alguém
está desagradado ou feliz; basta olhar e ficar atento “às vozes” do seu corpo, de sua
corporeidade. Essa fala pode ser a fala propriamente, ou pode “ocorrer em sorrisos,
fisionomia reticente ou tensões musculares que nos traduzem interioridade”.
Corroborando com essa idéia, Serres (2004, p. 15) argumenta que “o corpo em
movimento federa os sentidos e os unifica nele”. Em relação aos atos involuntários,
Lowen (1995, p. 71) considera que eles “constituem (uma) manifestação direta da
vivacidade do corpo”.
A consciência dessa capacidade é extremamente relevante na formação
do ser que, nesse contexto, é professor e pode ser considerado como um Ser liberto
que ascende espiritualmente. Pierrakos (1996, p. 274) reconhece que
[...] na verdade, a Essência exprime e é a espiritualidade do ser
102
humano. Cada pessoa tem a capacidade de mobilizar essa
poderosa força criativa, tomando consciência das forças
psicológicas e emocionais que criam os bloqueios inibidores do
movimento da vida. Quando aumentamos a consciência que
temos dessas forças interiores, aumentamos também nossa
capacidade de compreender a vida e de controlar nossas forças
interiores. Assim, começamos a mudar a qualidade da nossa vida
e a preenchê-la com a alegria e os sentimentos de amor que
desejamos.
Essa transformação é oriunda da liberdade e do auto-conhecimento e leva
o ser ao auto-melhoramento, evoluindo em sua corporeidade. Maturana e Verden-
Zöller (2004, p. 139) reconhecem que “tornamo-nos o que somos segundo o modo
como nos movemos – a sós ou com os outros – e à maneira como nos tocamos
mutuamente, constituindo, momento a momento, espaços de ação na transformação
de nossa corporeidade”. O Ser e o Outro, componentes de uma mesma entidade
que evolui em sua relação com o outro e que comporta o outro nele mesmo,
expressando o que pensa e sente, agindo.
2.11 A TERRA COMO MATÉRIA VIVA HARMONIZADA
O Ar (O Céu) está sempre associado ao elemento Terra, que representa a
matéria e oportuniza ao Ser tornar-se visível. Ela comporta o Ser em sua totalidade,
superando dicotomias consideradas, historicamente, como opostas e excludentes,
para convergir no Ser. Gonçalves (1999, p. 7) afirma: “Terra e Céu e Céu e Terra. O
istmo do mundo marginal faz a mediação entre o mundo material e o mundo
espiritual, entre o inteligível e o sensível, entre o imaginário e o simbólico”. Seria a
materialização do espírito e a espiritualização da matéria. O Ser dialetizado precisa
ter espaço para alojar-se no corpo material e não desprezado como sendo
103
pecaminoso e desprezível. Bachelard (1997, p. 54) reconhece que “a imaginação
tem uma necessidade incessante de dialética”.
Trazer para o banho na fonte dos Saberes da Vida o Ser que bebe a água
da sabedoria é proposta do trabalho desenvolvido, tendo como referência os
pressupostos da corporeidade, que supera a visão fragmentada do Ser e o
considera em toda sua plenitude. Jung citado por VIANA (2001) considera que
[...] se ainda estivermos apegados à velha idéia de uma antítese
entre mente e matéria, o presente estado das coisas significa uma
contradição incontrolável, pode até nos dividir contra nós mesmos.
Mas se pudermos nos conciliar com a misteriosa verdade de que o
espírito é o corpo vivo visto de dentro, e o corpo a manifestação
do espírito vivo – os dois na verdade sendo realmente um – então
poderemos compreender por que a tentativa de transcender o
presente nível de consciência deve ser feita através do corpo.
Veremos também que acreditar no corpo não pode tolerar uma
visão que negue o corpo em nome do espírito.
É possível compreender que a matéria está longe de ser rejeitada ou
escarnecida, como pregam algumas culturas. Ao contrário, ela é concreta e
representa, ou é o próprio Ser. Bachelard (2002, p. 56) reconhece que “uma alma
também é uma matéria tão grande! Não ousamos olhá-la”. O Ocidente, que
favoreceu dissociações no Ser, privilegiando e discriminando partes do todo que
representa o ser total, cria, dessa maneira, segundo Restrepo (1998), um ser
abstrato que estabelece uma relação funcional com a natureza, não conseguindo
perceber-se como parte integrante dela, compondo junto com ela o macrocosmos.
Essa forma de viver fragiliza o ser, pois enfraquece sua conexão cósmica ao mesmo
tempo que o leva equivocadamente a acreditar que domina a natureza e tem poder
para agir indiscriminadamente sobre ela.
Na fonte dos Saberes da Vida, na proporção em que bebem de sua
água humanescente, os professores em formação (re)estabelecem a relação de
104
harmonia com seu corpo, tomando posse dele, assumindo sua corporeidade,
reconhecendo assim, como Maturana e Verden-Zöller (2004, p. 127), que “como
humanos, existimos de fato no entrelaçamento de emoção e razão”. Seres humanos
que vivem na terra – matéria, experimentando por meio de atos, conforme
Csikszentmihalyi (1999, p. 17), “sentimentos e pensamentos”.
Dançando e brincando na fonte dos Saberes da Vida, os professores se
transformam; percebem que estão, hoje, diferentes de ontem e amanhã não estarão
como hoje. Conscientizam-se de que comportam dicotomias que os fazem Ser. Os
professores são provocados, ao banharem-se nessas águas luderescentes, a
perceberem que o vínculo que estabelecem com o seu corpo é, como nas palavras
de Marzano-Parisoli (2004, p. 80-81),
[...] muito mais forte do que aquele que temos com todos os outros
objetos: quando corremos, comemos ou nos alegramos
experimentamos uma identidade entre nós mesmos e nosso
corpo, porque somos o corpo que corre, come e se alegra. No
entanto, vivemos às vezes nosso corpo como um objeto físico, não
diferente dos outros objetos, que podemos utilizar e dominar e do
qual, finalmente, podemos até nos alienar.
A proposta de Educação apresentada pelo Relatório “Delors”, quando
reconhece o ser como foco irradiante do processo formativo, não pode conceber um
corpo como objeto físico, pois a própria origem do conhecimento, não apenas o
intersubjetivo, mas também o objetivo vive nele.
Quando o espírito se purifica na fonte dos Saberes da Vida, o professor
passa a enxergar esse e outros equívocos cometidos historicamente contra o ser
humano. O embotamento clareia e o Ser brilha, libertando-se da domesticação que
lhe é imposta pela mídia contemporânea. Le Breton (2003) considera que essa
domesticação construiu um modelo de corpo ideal, como um meio para convencer
105
os indivíduos do seu poder sobre a matéria, sem considerar o corpo como uma parte
de cada pessoa ao mesmo tempo em que é um objeto do mundo.
Faz-se necessário ter bastante cuidado para não se perder de vista a
unidade do Ser, visto que, fragmentado, ele se fragiliza. Na fonte de águas
humanizantes, ele é forte na sua inteireza abandonando a docilidade histórica que
permite a sua dominação. O alerta é feito por perceber que são criadas
constantemente maneiras diversas de manter o domínio sobre o corpo para atingir a
corporeidade, seja desprezando a matéria viva, inteira, seja marginalizando os
sentimentos, seja negando a espiritualidade. Marzano-Parisoli (2004, p. 43) cita
MacSween para afirmar que
[...] o corpo, enquanto lugar de controle prático, torna-se um corpo
completamente dócil, cujas energias são regulamentadas a partir
de fora e cujas sensações são cada vez menos diversificadas. O
resultado desta construção do corpo é a introdução de uma nova
forma de dualismo entre o corpo sinônimo de materialidade, e a
vontade que representa, ao contrário, o verdadeiro si mesmo de
cada pessoa. Este dualismo busca portanto opor o homem a seu
corpo sem permitir-lha aceitar sua finitude material, como também
seus desejos e suas emoções. A tendência geral se torna então,
fazer do corpo um parceiro a bajular ou um adversário a combater
ou remanejar.
Buscar o equilíbrio harmônico é o que a fonte dos Saberes da Vida
estimula no ser em formação, livrando-o da domesticação e “alforriando” seus
caracteres físicos, mas também as sensações, desejos e relações emocionais mais
íntimas, sendo esse o meio encontrado para que a liberdade da totalidade possa fluir
nas escolas da vida pelos que acreditam que estão aqui para transformar.
2.12 O FOGO E A TRANSCENDÊNCIA HUMANESCENTE
106
O Fogo é o elemento mais dialetizado e, na fonte dos Saberes da Vida,
ele é um elemento vivo, presente e pulsante nos Seres, pois aquece seus corpos e
seu coração ao provocar a transcendência. Através do Fogo vem a transformação e
a purificação. Suas qualidades purificadoras são a chave para o equilíbrio, pois é
somente através da transformação e da renovação que o novo tem chance de surgir.
Gonçalves (1999, p. 4) acredita que é numa chama e numa luz que a
transcendência é simbolizada e que “as alterações materiais em reunião com as
modificações espirituais correspondem-se com o fogo dialetizado, objeto e também
sujeito, os antagonismos iniciais no passado e futuro, iluminado e arrefecido”. Nesse
sentido, Cavalcanti (2004, p. 6) considera: “a maior ou menor intensidade desse
brilho depende da força interior que impulsiona o Ser para o autodesenvolvimento
através da autotranscendência”.
Na fonte dos Saberes da Vida, dançando e brincando com o corpo e no
corpo, com suas emoções, com o seu pensamento, o Ser erige seus valores e
afirma sua capacidade de transcendência, percebendo que a natureza inteira é uma
extensão do seu corpo. Régis de Morais (2003, p. 31), citando um autor anônimo,
afirma que “você é um filho do universo, tanto quanto as árvores e as estrelas”.
Mais uma vez é evidenciado o abismo criado pela Cultura Ocidental entre
humanidade e natureza, intuição e razão, entre pessoa humana e o Eu interior.
Desse modo, como pode o Ser libertar-se e transcender? Visto que, como afirmam
Maturana e Varela (1995, p. 26), “a libertação do ser humano está no encontro
profundo de sua natureza consciente consigo mesma [...]”?
Concordando com os autores citados, Nicolescu (2002) considera que,
[...] o que nós chamamos de trans-humanismo é uma nova forma
107
de humanismo que oferece a cada ser humano a capacidade
máxima de desenvolvimento cultural e espiritual. Trata-se de
buscar o que há entre, através e além dos seres humanos. O que
nós poderíamos chamar ‘o ser dos seres’.
A fonte dos Saberes da Vida, ao jorrar água humanescente que
transforma o ser, desperta-lhe os sentidos quando toca seu corpo de forma lúdica e
plena, levando-o à transcendência. Para tanto, faz-se necessário que haja a
conquista de “uma consciência deusa de nós próprios e do nosso tempo, revertendo
essa compreensão em benefício da vida e da humanidade” (RÉGIS DE MORAIS,
2003, p. 39). Transcender o Ser-uno-corpóreo em direção ao ser-múltiplo-energético
é característica, segundo Bachelard (2001, p. 42), da vida espiritual que “quer
crescer, quer elevar-se”.
É a Essência do Ser que conquista, na fonte de águas humanescentes
espaço para viver. Pierrakos (1990, p. 27) considera que
[...] a Essência é a capacidade humana total, uma massa vital e
luminosa, a fonte e a consciência da força vital. A Essência tem
completa unidade. Não existe dualidade nesse primeiro nível de
realidade, nenhum isso ou aquilo, nenhum bom ou mau. É uma
operação vibratória indivisível, um processo no qual cada pessoa
conhece instintivamente a verdade, sentindo o pulso da vida. As
características qualitativas dos movimentos da Essência são as
emoções positivas primais, ou movimento para fazer contato e
unificar a pessoa com o mundo exterior. Elas podem ser
resumidas numa expressão sublime: o amor.
O amor e o prazer do bebê; a criatividade e a imaginação da criança; o
divertimento e a ludicidade do menino e da menina; o romance e a aventura do
adolescente e a realidade e a responsabilidade do adulto são qualidades que, de
acordo com Lowen (1982), é preciso que sejam mantidas no Ser que deseja
transcender e ser feliz! Os elementos da natureza representam essa felicidade ao
comportar, segundo Bachelard (2001), a alegria terrestre que é riqueza e peso; a
alegria aquática – moleza e repouso; a alegria ígnea, fonte de amor e desejo e; a
108
alegria aérea, que simboliza a liberdade. É preciso ser feliz para amar e amar,
segundo o autor, é voar.
CAPÍTULO III
METODOLOGIA
3.1 NATUREZA DA PESQUISA
109
Realizar uma pesquisa que tem como objeto de estudo o ser humano e
seus saberes, numa perspectiva de educação centrada no presente, que oportunize
viver num mundo mais harmonioso, isto nos faz caminhar por uma abordagem
qualitativa de pesquisa, que não nasceu por acaso, mas do desejo voluntário de
refletir e narrar o próprio trabalho em Educação. Um trabalho que não distancia
sujeito e objeto de pesquisa. Uma pesquisa desenvolvida como fruto de uma
intervenção, que tem a intenção de
[...]
explorar o comportamento e as representações de um sujeito
ou de um grupo de sujeitos diante de uma situação concreta, para
compreender-lhes o sentido colocando-se alternadamente na
perspectiva de observador e na de sujeitos- atores e de sua
vivência (BARBIER, 1985, p. 46)
Este estudo caminha por uma abordagem qualitativa de pesquisa, pois
apresenta as cinco características básicas para ser considerado como tal, segundo
Bogdan & Biklen (1994): 1) A fonte direta de dados é o ambiente natural
- Desse
modo, caminhamos pelos locais de estudo, pela preocupação com o contexto e por
entender que as ações podem ser melhor compreendidas se forem observadas no
seu ambiente natural de ocorrência; 2) A investigação qualitativa é descritiva
- Os
dados coletados e analisados são em forma de palavras ou imagens e não de
números; 3) O pesquisador dessa abordagem se preocupa mais com o processo do
que apenas com o produto final
É relevante nesse tipo de estudo o modo como as
definições se formam; 4) O pesquisador tende a analisar os dados de forma indutiva.
Os dados não são recolhidos com o objetivo de confirmar hipóteses construídas
previamente; e 5) O significado é de importância vital nesse tipo de abordagem
- O
pesquisador está interessado no modo como diferentes pessoas dão sentido às
suas vidas.
110
Cento e vinte e cinco professores em formação foram divididos entre
cinco professores formadores, dois de Educação Física e três de Arte, cabendo a
cada um orientar orientar um grupo de vinte e cinco, por ocasião da realização do
Projeto de Investigação Didática (Anexo C).
A esta pesquisadora coube, como aos demais, vinte e cinco professores,
para orientar o processo de investigação, discutindo e analisando com o grupo o que
era vivenciado por eles no percurso. Aprofundava-se o estudo sobre sensações e
percepções, além de ser oportunizado a esses professores refletirem sobre sua
formação em serviço, através do que sentiam no momento presente, enquanto Ser
em evolução.
Posteriormente, de posse dos relatórios finais, esta pesquisadora realizou
uma análise documental, na qual foi observado, principalmente, as reflexões dessas
professoras com relação ao entrelaçamento dos saberes enfocados nas disciplinas
“Educação Física” e “Arte”, mais especificamente àquelas provocadas pelas
vivências corporais. Esta pesquisa reflete, portanto, o que afirma Tardif (2002, p.
236): “Longe de se posicionar simplesmente do lado da teoria, a pesquisa na área
da educação é regida e produzida por um sistema de práticas e de atores”.
Desse modo, iniciamos uma busca para encontrar, entre eles, os que
evidenciavam em suas “falas” a presença dos Saberes da Vida, aqui caracterizados
pelos saberes apresentados pelo Relatório da UNESCO (2003). Os professores em
formação deveriam fazer referência às transformações sentidas a partir do “banho
que tomavam na fonte dos saberes da vida, dançando e brincando”, assim como dos
“saberes por eles bebidos”, e como tais mudanças teriam afetado sua prática
profissional e sua vida.
111
De maneira geral, em seus depoimentos, os professores em formação
destacaram a relevância do autoconhecimento proporcionado pelas vivências
corporais de harmonização realizadas ao longo do curso. Chamaram a atenção para
o fato de que esse autoconhecimento leva a uma evolução enquanto ser, o que
possibilita melhorias no seu fazer docente, e uma maior preocupação com a
qualidade do que oferecem aos seus alunos, além de proporcionar um melhor
convívio entre seus pares, colegas de turma, familiares e alunos.
Ao analisar os relatos da prática docente, na qual os professores em
formação têm a oportunidade de reconstruir saberes e fazeres através da reflexão
coletiva de suas próprias práticas profissionais e da interlocução com teóricos
dessas áreas de conhecimento e com seus pares, pode-se observar que esses
relatos se constituem como narrativas das aprendizagens de vida. Acredita-se,
assim como Lowen (1995), que, ao poderem se envolver em atividades dessa
natureza e libertarem seus sentimentos, libertam também o próprio espírito,
transformando-se.
Depois de selecionar os dezesseis relatórios que abordavam alguma
reflexão acerca dos Quatro Pilares da Educação apresentados no Relatório “Delors”
(2003), duas questões (Anexo E) foram elaboradas e aplicadas com o grupo com a
intenção de analisar de que forma os professores percebiam o entrelaçamento dos
saberes no ser do professor em formação, tendo como elemento sensibilizador
dessa reflexão a vivência corporal na fonte dos Saberes da Vida.
Para respaldar a análise das narrativas, foi de grande utilidade o trabalho
do romeno Basarab Nicolescu (1999) intitulado “O Manifesto da
Transdisciplinaridade”. Essa opção deu-se em função de reconhecer, assim como o
112
autor, que “a abordagem transdisciplinar nos faz descobrir a ressurreição do
indivíduo e o começo de uma nova etapa de nossa história” (NICOLESCU, 1999, p.
9), pois “o papel da transdisciplinaridade é trabalhar no sentido de sua escolha e
mostrar em ato que a ultrapassagem das posições binárias e dos antagonismos é
efetivamente realizável” (NICOLESCU, 1999, p. 132), considerando, para tanto, que
o rigor, a abertura e a tolerância devem estar presentes na pesquisa e na prática de
natureza transdisciplinar. E o que pode ser mais transdisciplinar que o ser humano
compreendido numa perspectiva da corporeidade? Esta pode não ser o único
caminho, mas com certeza é um caminho, que pode ser testemunho “de nossa
presença no mundo e de nossa experiência vivida através dos fabulosos saberes de
nossa época. Uma voz onde ressoam as potencialidades do ser” (NICOLESCU,
1999, p. 152).
3.2 CARACTERÍSTICAS DO GRUPO INVESTIGADO
O grupo investigado que aqui se configura é constituído por professores
em formação e é uma amostra de dezesseis, numa população de centro e vinte e
cinco alunos, concluintes da Turma 2005.1, do Curso Normal Superior do Instituto de
Educação Superior “Presidente Kennedy”, situado em Natal, Rio Grande do Norte.
Os alunos do Curso Normal Superior aqui investigados já são professores
e atuam em salas de aula do Ensino Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
Fazem uma formação em serviço e já possuem uma formação inicial em Nível Médio
113
(Curso de Magistério). São nove lecionando no Ensino Fundamental (1º e 2º ciclos)
e seis na Educação Infantil (neste caso de quatro a seis anos). Eles têm entre vinte
e quatro e quarenta e sete anos de idade e trabalham todos em Escolas da Rede
Pública, sendo quatro na Rede Estadual e doze, na Rede Municipal. Quanto à
questão de gênero, um é do sexo masculino e quinze são do feminino.
Os dados referentes à questão de gênero é uma amostragem da
realidade educacional que apresenta uma superioridade numérica de mulheres no
magistério da Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental em nosso
país. Fenômeno este que podemos observar ser invertido na disciplina Educação
Física, na qual se dá a predominância de profissionais do sexo masculino, o que nos
leva a acreditar que, lentamente, essa realidade vem sendo modificada.
Optamos, diante desse fato, e a partir deste momento, tratar os
investigados na condição de gênero feminino, pois questionamos, assim como
Fernandez (1994), se é natural que, pela presença de um único homem, todas as
quinze professoras perdessem o sexo feminino. Não haverá aprofundamento
quanto a esta questão, por não ser a mesma objeto deste estudo, muito embora
reconheça que trabalhar à luz da corporeidade, implica em suscitar, dentre outras,
reflexões sobre sexualidade, sobre prazer.
As professoras atuam em sala de aula com um tempo que varia entre
quatro a vinte e seis anos. Assim distribuídos:
114
TEMPO DE SERVIÇO
NÚMERO DE
PROFESSORES
4 anos 01
6 anos 02
8 anos 03
9 anos 01
11 anos 01
12 anos 01
15 anos 03
16 anos 01
18 anos 02
26 anos 01
TOTAL 16
O Curso Normal Superior, do qual as professoras são alunas, tem
duração de 3 anos, sendo que nos dois primeiros anos elas participam de aulas de
Educação Física, com uma carga horária total de 100 horas/aula assim destribuídas:
50 horas no primeiro ano e 50 horas no segundo.
3.3 A PESQUISA NO PROCESSO FORMATIVO E AUTOFORMATIVO DE UMA
PROFESSORA FORMADORA
Quem é a pesquisadora revelada e reveladora deste estudo? Qual o
papel da pesquisa no processo formativo e auto-formativo de uma Professora
Formadora na área de Educação Física? Buscar respostas para essas questões
provoca um auto-revelar-se. Não apenas por escrito, mas em uma relação com a
115
vida.
Inicialmente, descobrimo-nos como um ser humano repleto de
contradições, o que consideramos de extrema relevância nesse processo reflexivo.
Como professora de Educação Física que desenvolve uma prática educativa à luz
dos pressupostos e estudos da corporeidade, concebíamos o Ser como
contraditório, mas descobrir-nos como um desses seres foi bastante desconcertante.
Em seguida, vem a pergunta: Como nos tornamos pesquisadora?
Procurar descobrir em que momento de nossa vida fomos “tocada” pelo
desejo de fazer pesquisa, levou-nos a recordar da infância, onde aprendemos a ler
com nosso pai. Ele era muito instigador e fazia de nossas brincadeiras momentos de
muita ludicidade e aprendizagem. Fazia perguntas que exigiam uma intensa busca
pelas respostas, que nunca eram dadas prontas, mas era sempre o início de uma
aventura encantadora. Acreditamos que é daí que nasceu nossa concepção atual de
aprendizagem, de que o ato de aprender, de interagir com o conhecimento pode e
deve ser algo prazeroso, lúdico, estimulante e envolvente.
Pode ter sido a partir desses momentos de aprendizagem, que eram
verdadeiras brincadeiras, que, refletir sobre a prática, refletir sobre a vida, fez-se
presente em nossa existência, sistematizada em pesquisas ou simplesmente vivida.
Fazer um Curso de Pós-graduação lato sensu foi uma maneira encontrada para
aprofundar estudos teóricos, de maneira sistematizada; fundamentar uma ação
concreta; buscar respostas para questionamentos surgidos, ou situações vividas e,
também, melhorar a qualidade do trabalho oferecido. Foi também um investimento
na auto-formação.
Por aquela ocasião, a temática da Ludicidade esteve presente na
Monografia do Curso de Especialização em Educação Física Infantil, intitulada: O
116
Lúdico na Concepção Pedagógica de Professores do Ensino Fundamental. Essa
pesquisa teve como objetivo identificar e analisar a presença do elemento lúdico nas
concepções pedagógicas de professores/alunos do Curso de Pedagogia do Instituto
de Formação de Professores “Presidente Kennedy”, em Natal, Rio Grande do
Norte.
O fenômeno lúdico e os pressupostos da Corporeidade eram, e ainda
hoje são, fios condutores do processo vivido nas aulas de Educação Física no
Instituto “Kennedy”, e os professores em formação sempre expressando-se de
diversas maneiras, acerca de como aquele processo formativo estava repercutindo
em sua ação profissional. Naquele momento, o nosso olhar detinha-se mais no
aspecto profissional. A posteriori, ampliou-se e passou a “enxergar” outras
informações que chegavam e não diziam mais respeito apenas ao aspecto
profissional, mas também ao pessoal. Passando, de maneira prática, ou seja,
refletida nas ações que realizávamos: ambos, componentes de algo maior, o Ser.
Essa mudança de olhar e as novas descobertas e inquietações provocadas por ela
foi o que levou ao Curso de Mestrado.
Uma outra prática sistematizada de pesquisa ocorreu por volta de 1995,
quando Programas de Pesquisa e Extensão da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte levaram pesquisadores da Instituição a desenvolverem projetos no Instituto
de Formação “Presidente Kennedy” – IFP. Era um momento de muita efervescência
nas Ciências Humanas, mais especificamente na área da Educação, que revisitava
concepções e, no Brasil, suscitava discussões nos meios educacionais. Refiro-me à
Lei de Diretrizes e Bases 9394/96.
A pesquisa foi, naquele momento, um divisor de águas. Investigar os
117
memoriais de formação
10
elaborados pela primeira turma do Curso de Pedagogia foi
de extrema relevância em meu processo formativo. Trabalhar com categorias,
pressupostos, diferentes abordagens metodológicas de pesquisa, analisar discursos,
socializar os resultados, todo esse processo transformou-nos. Ampliou-se a noção
de responsabilidade do trabalho que desenvolvíamos, bem como o desejo de
transformar práticas educativas e de Vida.
Durante todo o processo, a reflexão acerca do nosso papel como
professora, que professores estamos formando e para que sociedade, tornou-nos
cada vez mais consciente da relevância e finalidade da prática educacional, o que
tem-nos permitido reconhecer que todos os desafios são momentos de ensino, de
troca e de aprendizagem, proporcionando-nos viver, “a beleza de ser um eterno
aprendiz”.
11
Descobrimos, nesse momento, que a pesquisa talvez seja o ponto de
equilíbrio entre a ação profissional de cunho predominantemente coletivo e um
momento mais intimista, um mergulho com os autores lidos e com os colegas da
BACOR/UFRN
12
, refletindo sobre as ações.
Essa pesquisa para a Dissertação de Mestrado significa um ato de
compromisso com uma prática educativa que se fundamenta numa educação
integral do homem, alicerçada no aprender a Ser, por acreditar, assim como
Nicolescu (1999, p. 146), na necessidade de superação de uma das maiores
tensões de nossa época, aquela entre o material e o espiritual:
10
Trabalho realizado pelos professores alunos por ocasião da conclusão do Curso Superior no
IFP/IFESP.
11
Música de Gonzaguinha.
12
Base de Pesquisa em Corporeidade na UFRN.
118
A sobrevivência de nossa espécie depende, em grande parte, da
eliminação desta tensão, mediante uma conciliação vivida, num
nível de experiência diferente do corriqueiro, entre essas duas
contradições aparentemente antagônicas.
É nessa perspectiva de totalidade que trabalhar o Ser no seu contexto de
formação se torna necessário, pois assim ele poderá ter consciência da sua
dimensão humana e poderá corporificar essa consciência, agindo, interagindo,
conhecendo, fazendo, sendo e vivendo.
Desenvolver uma pesquisa sob a luz da corporeidade constitui um desafio
epistemológico e metodológico, pois esta configurar uma realidade humana subjetiva
e complexa, que já nasceu transdisciplinar. Como ressalta Pires (2000, p.80), a
corporeidade ainda vive a plenitude de uma sabedoria infantil e os estudos nela
embasados exigem abordagens metodológicas complexas, para poder adequar-se
“à contemporaneidade de sua essência transdisciplinar”.
Durante dois anos, professores, alunos do Curso Normal Superior do
Instituto de Educação Superior “Presidente Kennedy’ – IFESP – tiveram momentos
de formação, planejados e desenvolvidos por professores formadores de Educação
Física, que constou de vivências corporais e discussões teóricas acerca das
vivências. As discussões tiveram como referência teórica o pressuposto da
corporeidade, que significa, “presença, participação e significação do homem no
mundo” (PIRES, 2000, p. 34). Assim, enfatiza-se o saber ser, como sustentação
para o saber conviver, saber conhecer e saber fazer.
O desafio é refletir sobre o entrelaçamento desses saberes para a vida,
proporcionando a evolução do Ser. Qual a amplitude dessa evolução do Ser? Esse
Ser torna-se melhor educador? Desenvolve uma prática profissional mais eficiente
119
(saber fazer)? Melhora a qualidade do que é ensinado (saber conhecer)? Respeita
as normas que regem as relações entre os seres (Saber ser e conviver)?
Ao entrelaçarem-se, jorrando na fonte, os Saberes da Vida deverão
oportunizar um redimensionamento do ser, não podendo ser mais o mesmo que
antes de banhar-se na proposta educativa da Fonte dos Saberes da Vida.
A necessidade de investir em um projeto auto-formativo levou-nos a
compreender, assim como Nóvoa e Finger (1988), que dificilmente poderemos
pretender interferir na formação dos outros, sem antes termos procurado
compreender o nosso próprio processo de formação; entendendo-se para poder
entender o outro; formando-se para poder o outro formar. Alguns tipos de pesquisa
qualitativa têm adotado esse imbricamento entre sujeito e objeto, e pesquisar com a
corporeidade só terá sentido se o pesquisador se apresentar profundamente
envolvido com essa aventura epistemológica de auto - formação. A pesquisa é
então nesse contexto um elemento formativo por excelência e a pesquisadora que
coordenou especificamente esta pesquisa reconhece-se como um Ser resgatador de
esperança
.
Numa perspectiva transdisciplinar de pesquisa, o pesquisador é reconhecido cada vez mais como
“resgatadores de esperança” (NICOLESCU, 1999, p. 09)
120
CAPÍTULO IV
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DAS DESCOBERTAS:
DESVELANDO A FONTE DOS SABERES DA VIDA
4.1 TEORIZAÇÃO DO PROGRAMA DE CURSO DA DISCIPLINA EDUCAÇÃO
FÍSICA E A FONTE DOS SABERES DA VIDA
A Fonte dos Saberes da Vida onde se banham professores em formação
no Instituto Kennedy, antes de ser apresentada de forma poética, pois ela também o
é, teve uma origem teórico-prática, ou talvez tenha tido essa fundamentação por já
ter sido vivida em sonhos. Para Bachelard, “as imagens são formadas a partir das
experiências do sonho e das experiências da vida” (BARBOSA e BULCÃO, 2004, p.
43). O espaço em que essa origem teórico-prática foi sistematizada foi o Programa
de Curso da Disciplina Educação Física no Curso Normal Superior.
Algumas concepções alicerçam o Programa de Educação Física nesse
contexto de formação, dentre elas o próprio conceito de Formação, o de Educação,
de Escola e de Corpo. Tardif (2002, p. 174) discorre sobre formação como um
processo inerente ao ser humano, rico, complexo e tão variado quanto o próprio ser.
O autor defende que
[...] o ser humano é, a um só tempo, um manipulador de
fenômenos objetivos, sociais e humanos; é um negociador que
discute com seus semelhantes; é um ser que pauta seus
comportamentos por normas e que descobre, no ambiente em que
vive, desde o nascimento, modelos de comportamento que tende
a reproduzir; é também um ser que expressa sua subjetividade e
121
que orienta sua vida de acordo com uma dimensão afetiva e
emocional. Em suma, o processo de formação do ser humano
reflete exatamente todas as possibilidades e todas as matizes dos
seres que somos.
O fato de que é observada a necessidade urgente de sensibilizar o
humano do homem faz com que se compreenda a Educação como detentora de um
papel fundamental nesse processo. Assim como Assmann (1998, p. 26), acredita-se
que a “educação terá um papel determinante na criação da sensibilidade social
necessária para reorientar a humanidade”. Desse modo, compreende-se que esse
processo formativo em que o professor encontra-se inserido deve oportunizar,
dentre outros aspectos, a consciência de sua função social, percebida como viés da
realização de sua ação profissional.
Para dar conta da necessidade de humanizar o Ser, a Escola apresenta-
se, segundo Barbosa e Bulcão (2004, p. 78-79), apoiando em Bachelard, como
[...] aquela que tem como objetivo primordial a formação do
homem, deve ser uma escola que substitui o instinto conservador
pelo instinto criador e a passividade e a ociosidade pelo
dinamismo espiritual. A verdadeira faz reviver, em cada um, a
dialógica do racionalismo docente/discente, ao mesmo tempo em
que eleva o espírito, através da imaginação criadora num vôo
ascensional, profundo e verticalizante.
Diante das concepções apresentadas e da realidade percebida na
Educação, existe uma preocupação que permeia todo o Plano de Trabalho em
questão, que é a necessidade de dar mais vida a educação, para tanto, a
Corporeidade surge como “foco irradiante primeiro e principal” (ASSMANN, 1995, p.
77). Sob a luz da Corporeidade, a proposta de trabalho ganha VIDA e transforma-se
em fonte de saberes da vida.
O Plano de Trabalho, ou Programa de Curso, da disciplina Educação
122
Física no Curso Normal Superior (Anexo A), contém entre seus conteúdos, alguns
que são comuns à disciplina Arte, entre eles a Educação da Sensibilidade.
Assim, objetivamos estabelecer relações entre essas duas áreas de
conhecimento, na tentativa de enriquecer a formação das professoras, procurando,
cada uma com sua especificidade, trabalhar de maneira integrada, utilizando como
estratégia metodológica um Projeto de Investigação Didática (Anexo C), para
desenvolver o conteúdo Estruturação da Consciência Corporal, mais
especificamente as sensações e percepções, através da Psicomotricidade, uma vez
que esse conhecimento é uma exigência curricular para professores que atuam na
Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental.
Para que o Projeto de Investigação não se caracterize como contraditório
ao trabalhar Psicomotricidade à luz da Corporeidade, e por entender a totalidade
do ser e as relações que ele estabelece com o seu entorno como um dos
pressupostos da Corporeidade, e a psicomotricidade como movimentos intencionais
realizados na busca de bem viver, é possível perceber a relação existente entre
elas. Embora, para alguns, a forma como ainda enxergam o mundo, sob um prisma
fortemente arraigado do Paradigma Cartesiano, não lhes sejam permitidos, ainda,
estabelecer relações complementares e não excludentes entre alguns conceitos.
A Percepção, o Esquema Corporal e a Coordenação Motora constituem o
tripé da Psicomotricidade, ou seja, são elementos que nos permitem viver a vida
interagindo com os outros e com o meio, nos levando a perceber, a descobrir e a
transitar pela vida.
Falar especificamente sobre percepção pode ser ousado, pois desde
Descarte (1999), os sentidos não são considerados dignos de confiança, por não
trazerem nenhuma marca de verdade. No entanto, caminhando com Merleau-Ponty
123
(1999), percebemos que a cada instante, no movimento da existência, estamos
integrados ao mundo por meio de nosso corpo. Essa é nossa condição. E, para
compreendê-la, temos de reavaliar o fenômeno da percepção.
Além das concepções de que tratamos uma outra referência para a
construção da Proposta são os Princípios Gerais apontados pelo Projeto do Curso
Normal Superior e o Perfil do Profissional que se pretende formar. O referido Projeto
tem como princípios gerais
[...] a ressignificação do papel social e pedagógico do professor.
Essa ressignificação, do ponto de vista da formação dos docentes,
implica na mobilização dos conhecimentos, construção e
desenvolvimento de competências profissionais a serem
traduzidas em ações pedagógicas que atendam efetivamente às
demandas educativas da sociedade (NATAL, 2001, p. 9).
Outros dois Princípios aparecem ainda como norteadores do Curso: “a
associação entre teoria e prática e o aproveitamento da experiência anterior dos
alunos”. Com base nesses princípios, o processo formativo desenvolvido na
Instituição em questão, deverá oportunizar a professora que encontra-se na
condição de aluna no Instituto Kennedy.
[...] abertura à pesquisa, como suporte do processo de ensino-
aprendizagem; inserção numa dinâmica de educação permanente,
capaz de assegurar-lhe uma constante atualização das práticas
pedagógicas; redefinição de sua trajetória profissional, pelas
responsabilidades que este deverá assumir na
aquisição/desenvolvimento de competências profissionais
(NATAL, 2001, p. 11)
Quanto ao Perfil do Profissional que se pretende formar, o mesmo
124
encontra-se em consonância com os fins e valores da Educação Nacional e
princípios éticos-políticos e pedagógicos expressos na Lei de Diretrizes e Bases nº
9394/1996, bem como nos Parâmetros Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil e Ensino Fundamental. Diante disso, espera-se que se construa um Perfil
Profissional baseado em competências, onde se evidencie a capacidade de:
x Conhecimento dos fundamentos teóricos, científicos e técnicos
necessários ao bom desempenho da função docente e ter clareza
dos princípios éticos, estéticos, legais e políticos que baseiam a
sua atuação como profissional e cidadão;
x Reconhecimento e respeito à diversidade manifestada pelos
seus alunos, nos aspectos cognitivos, culturais, físicos e sociais, o
que implica em atitudes de solidariedade e responsabilidade ao
buscar alternativas didáticas que viabilizem aprendizagens
significativas;
x Compreensão do papel social da escola e do professor, domínio
dos conteúdos de ensino, dos meios (instrumentos) e
procedimentos didáticos, organização e administração das
situações de aprendizagem;
x Atuação profissional na qual a relação teoria-prática aconteça de
forma articulada, envolvendo conhecimentos, habilidades, valores
e atitudes e que seja didaticamente consistente, direcionada a
objetivos coerentes em relação aos fins educacionais, às
propostas curriculares, às capacidades e ao nível de
aprendizagem/desenvolvimento dos alunos;
x Investigação do contexto educativo na sua complexidade e
análise da própria prática profissional, tomando-a continuamente
como objeto de reflexão para compreender e gerenciar os efeitos
das ações propostas, a avaliação de seus resultados e sua
sistematização, na perspectiva da elevação do padrão de
qualidade da atuação docente e da aprendizagem dos alunos;
x Trabalho em equipe, metacomunicação, negociação, gestão das
diferenças e dos conflitos mediante o diálogo interdisciplinar e da
troca de experiência com outros profissionais, da participação
solidária e cooperativa no trabalho coletivo de elaboração, gestão
desenvolvimento e avaliação do projeto educativo da escola;
x Intercâmbio com outros profissionais pela participação em
associações da categoria em eventos de natureza científica,
cultural e sindical;
x Administração do seu conhecimento profissional, num diálogo
permanente entre os diferentes saberes, através de uma postura
interdisciplinar e da elaboração e desenvolvimento de projetos
pessoais de estudo e trabalho;
x Visão globalizada acerca das questões que envolvem o trabalho
docente, autonomia para tomada de decisões, consciência do seu
papel na tomada de decisões e responsabilidades pelas opções
decididas. (NATAL, 2001, p. 12-13).
125
Construir este Perfil oportunizará a professora em formação refletir acerca
de sua identidade, não apenas como professora, mas como Ser vivente. As
docentes da disciplina Educação Física comungam da idéia de Maturana e Rezepka
(2000, p. 10), quando afirmam que “quem busca sua identidade fora de si está
condenado a viver na ausência de si mesmo”, pois “sua identidade não está na
atividade, mas em seu ser humano”.
Perceber-se e conhecer-se para poder perceber e conhecer os outros;
sensibilizar-se para poder sensibilizar. Sensibilizar através de vivências corporais de
auto-descoberta, auto-conhecimento, de convivência, de aprendizagem e de
“ensinagem”, de maneira lúdica e reflexiva, bem como através de leituras, reflexões
e discussões de textos, que levem ao auto-aperfeiçoamento é isso que se propõe,
pois, tal como Bachelard, citado por Barbosa e Bulcão (2004, p. 77), formação
“implica fundamentalmente no dinamismo do espírito, de um espírito cuja
constituição de si mesmo é permanentemente retomada”. Todo esse processo é
vivenciado com muito amor, pois assim como Alves (1995, p. 97), é reconhecido que
“para conhecer é preciso primeiro amar”. Amar a si para amar o outro.
O mestre Paulo Freire (2001, p. 25) sabiamente afirma que “quem forma
se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado”.
Vai além ao dizer que “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao
aprender”. O trabalho desenvolvido com as professoras em formação caminha
nessa direção apontada por Paulo Freire em que todos ensinam e todos aprendem
e também vai além com o Mestre quando ele afirma que “como professor não me é
possível ajudar o educando a superar sua ignorância se não supero
permanentemente a minha. Não posso ensinar o que não sei” (FREIRE, 2001, p.
126
107).
É preciso que a educadora seja educada, pois segundo argumenta Régis
de Morais (2003, p. 60) “como educadores somos chamados para intervir em vidas”.
Assim é preciso que se saiba ouvir o outro com educação e respeito, que se saiba
também contrapor a emocionalidade descontrolada de um adolescente, de forma
serena e sensível, falando como quem está a doar-se. A esse respeito, Restrepo
(1998, p. 12) coloca que “alguns ditames de nossa cultura proíbem ao homem falar
da ternura ou abrir-se à linguagem da sensibilidade, pois em sua educação instituiu-
se que deve mostrar dureza emocional e autoridade a toda prova”. É como, agindo-
se assim, estivesse sendo colocada em evidência a sua competência enquanto
educadora. Grande engano! Não é possível que se prossiga ensinando professores
a continuarem manipulando os seus alunos, em busca de aprendizagens. É preciso
que haja consciência e envolvimento quanto à singularidade de suas vivências, pois
“o que resta, no final de um período de formação acadêmica, não é só um conjunto
de conhecimentos, mas também e de modo muito especial, um conjunto de hábitos,
de escrúpulos morais e comportamentos rotineiros que acabam exercendo um
grande poder de regulamentação cognitiva sobre o educando” (RESTREPO, 1998,
p. 15).
Maturana e Rezepka (2000) apresentam duas classes distintas de
fenômenos, ou seja, a formação humana e a capacitação. Essas duas classes
compõem a amplitude do que se pretende alcançar com esse processo. A Formação
humana é entendida pelo autor como sendo o desenvolvimento como pessoa, como
um ser capaz “de viver no auto-respeito e no respeito pelo outro”, enquanto por
capacitação é entendida a “aquisição de habilidades e capacidade de ação”
(MATURANA e REZEPKA, 2000, p. 11). Pode-se vislumbrar, no que apresenta os
127
autores, o mesmo que Delors (2003) aponta como sendo os quatro pilares da
educação, a saber: aprender a ser, a conviver, a conhecer e a fazer.
Refletindo sobre os dois fenômenos apresentados por Maturana e
Rezepka, é possível perceber que a formação humana é o fundamento de todo o
processo educativo, pois, para os autores, ela é essencial para que o aluno em
formação possa viver como um ser “socialmente responsável e livre, capaz de refletir
sobre sua atividade e seu refletir, capaz de ver e corrigir erros, capaz de cooperar e
de possuir um comportamento ético, porque não desaparece em suas relações com
os outros” (MATURANA E REZEPKA, 2000, p. 11-12).
A capacitação é reconhecida por Maturana e Rezepka (2000, p. 12),
como “um instrumento e caminho na realização da tarefa educacional”. É preciso
centrar a Educação na Formação Humana e não apenas na técnica, muito embora a
primeira se realize através da aprendizagem da segunda. Desse modo, os dois
fenômenos devem estar presentes no processo formativo das professoras.
Nessa perspectiva, é necessário que, na formação de professores, todos
sejam tratados do mesmo modo que se espera que eles tratem os seus alunos. Para
isso, é preciso estimular o seu “olhar reflexivo que lhes permite ver suas próprias
emoções como o espaço de capacitação em que se encontram em cada momento
sem perder o respeito por si mesmos, porque podem reconhecer os seus erros,
pedir desculpas e ampliar o olhar reflexivo com seus alunos sem desaparecer nele”
(MATURANA e REZEPKA, 2000, p. 17). As emoções são profundamente relevantes
nesse contexto, visto que elas guiam o fluir do comportamento do homem, dando-lhe
seu caráter de ação.
O ser e o fazer em comunhão são essências da Educação, visto que o ser
vivo, como unidade dinâmica, condensa essas duas essências. Bachelard, citado
128
por Barbosa e Bulcão (2004, p. 54), acredita que a formação deve ser entendida
fundamentalmente como reforma íntima do sujeito. Assim, “o sujeito só evolui
quando, num trabalho ativo, afasta ilusões primeiras, para num processo de
retificação constante e de desconstrução do saber e de si mesmo, ir se elevando
espiritualmente, enquanto sujeito do conhecimento e conseqüentemente enquanto
homem”.
A Corporeidade é o fio condutor do trabalho realizado que flui na fonte
dos saberes da vida e vai se defrontar com uma cultura que separa corpo e alma
como opositores e se apresentar exatamente na perspectiva de mediadora desse
“reencontro” histórico e tão necessário para o ser. Desse modo,
[...] a aceitação corporal e a rejeição corporal são aceitação e
rejeição da alma do outro na unidade do ser do fazer. Ao mesmo
tempo, a aceitação e a rejeição da alma na unidade do ser e do
fazer do outro são a aceitação e a rejeição de sua corporalidade.
As duas aceitações criam aproximações infinitas, que tornam
possível, na educação, a formação humana, e as duas rejeições
criam distâncias infinitas, que impedem, na educação, a formação
humana (MATURANA e REZEPKA, 2000, p. 41).
Aceitar o outro implica em aceitá-lo corporalmente, emocionalmente,
energeticamente, de outra forma o negamos. Na unidade corpo e alma, negar um
dos dois aspectos significa negar o Ser em sua inteireza o que o diminui,
fragmentando-o. O que se precisa inicialmente é assumir essa consciência, uma vez
que segundo Pierrakos (1990, p. 269) “os seres humanos acreditavam e agiam
como se a criação fosse fragmentada”, como se o modelo normal, natural, seja esse.
O autor propõe o que ele denomina como fusão e que caracteriza-se como sendo a
união da energia com a consciência (PIERRAKOS, 1990).
129
4.2 SABERES DA VIDA PARA A VIDA
As referências realizadas no sentido apontado pelos saberes
representados pelos Pilares da Educação (DELORS, 2003), por ocasião da
elaboração de relatórios reflexivos, por parte de professoras em processo de
formação, enquanto banhavam-se e bebiam na fonte dos saberes da vida, foi
evidenciado um entrelaçamento desejável, revelando aspectos fundamentais da
ludicidade humana. Considera-se pertinente afirmar que é no ser que esses saberes
se entrelaçam e ganham vida. Tardif (2002, p. 16) reconhece que:
[...] o saber do professor parece estar assentado em transações
constantes entre o que eles são (incluindo as emoções, a
cognição, as expectativas, a história pessoal deles, etc) e o que
fazem. O ser e o agir, ou melhor; o que Eu sou e o que Eu faço ao
ensinar...
Em suas “falas”, algumas professoras mostram claramente essa
articulação quando consideram que o processo formativo pelo qual estavam
passando transformava o seu ser e o seu fazer. A professora ACF
13
ilustra o fato,
quando afirma:
Ao longo desses dois anos de curso, tivemos a oportunidade de
vivenciar em Arte e Educação Física intensos momentos de
reflexão e prática de atividades que nos proporcionaram a
descoberta do nosso próprio corpo, como fator de expressão,
ludicidade, comunicação, articulado à percepção, imaginação,
emoção, sensibilidade. Esses pressupostos práticos,
fundamentados teoricamente, alicerçaram nossa trajetória
profissional nos credenciando a realizar em nossa sala de aula um
trabalho consciente (ACF, 2005).
13
Os atores dessa pesquisa aparecem referenciados com letras maiúsculas, que representam as
iniciais de seu nome.
130
Também reconhecendo essa articulação, a professora LAN considera que
a vivência leva a uma compreensão harmônica do ser e das relações que ele
estabelece. Em suas palavras, ela reconhece que:
[...] o professor deve ser sempre o primeiro a vivenciar, organizar-
se, aprender, conhecer-se, ter a experiência própria, assim
passará a idéia com muito mais clareza e segurança, ganhará
credibilidade em seu trabalho. A verdadeira harmonia tem que
começar com harmonia dentro de si mesmo (LAN, 2005).
A provocação realizada por ocasião da Investigação Didática em relação
ao fazer docente, foi considerada por ABP como a possibilidade de despertar um
olhar para quem estava desenvolvendo a ação, o que a fez refletir que:
Busco relatar, de maneira clara e objetiva, como ocorreu todo o
processo da prática desenvolvida e ao mesmo tempo fazer uma
reflexão da minha própria ação, que não é tarefa fácil, e exige por
parte de quem o faz, um compromisso e preparo, pois refletir
sobre nossas ações é um processo de aprofundamento da própria
formação, que nos leva a descobertas, dúvidas, renovação e,
sobretudo, transformações (ABP, 2005).
Aqui, ACF, LAN e ABP, consideram a relação direta entre o que
vivenciaram ao banharem-se na fonte dos saberes da Vida e as reflexões que
realizaram ao beberem nessa fonte, e como essa oportunidade repercute em seu
fazer docente. As professoras trazem como elementos a descoberta do
próprio corpo, a harmonia a partir de si, a consciência do compromisso que
assumem ao enxergar-se como ser-professora e como esses elementos se
pensados forem, favorecem e estimulam uma prática consciente, harmoniosa e
transformadora.
131
O entrelaçamento dos saberes, analisado nas narrativas das professoras
faz com que eles não sejam aqui tratados de modo fragmentado. Acontecerá que
em alguns momentos, um ou outro ser evidenciado apenas com finalidade de
análise.
“Aprender a conhecer”, segundo Nicolescu (2001, p. 142), “significa antes
de mais nada a aprendizagem dos métodos que nos ajudam a distinguir o que é real
do que é ilusório, e a ter assim um acesso inteligente aos saberes de nossa época”.
O autor ressalta a necessidade de se fugir das respostas prontas, impedindo o ser
de conhecer. Ele alerta para o fato de que não é a quantidade, mas a qualidade do
que é ensinado que estimula o espírito científico
14
necessário para “aprender a
conhecer”.
Questionar as “certezas” foi algo provocado pelo banho na fonte dos
saberes da vida. DLO, reconhece o fato, ao afirmar: “comecei a me questionar sobre
o que sentia, o que pensava em relação a minha prática pedagógica”. Da mesma
maneira EGF, relata que:
[...] consigo me questionar e buscar soluções, por isso acredito
que o trabalho que desempenho hoje tem melhorado
consideravelmente e tem me feito ansiar não só pelo
profissionalismo, mas também, pelo fazer bem feito, pelo simples
gosto de acreditar no que pratico (EGF, 2005).
Revisitar antigas concepções e posturas é outro aspecto relevante que foi
observado nas narrativas. O professor JEA considera que, “durante os dois anos de
14
[...] “Uma das maiores aquisições da aventura humana ... baseado no questionamento, na recusa
de qualquer resposta pré-fabricada e de toda certeza em contradição com os fatos” (NICOLESCU,
2001, p. 142).
132
formação, as disciplinas Arte e Educação Física vêm nos proporcionando um olhar
diferente sobre os conteúdos propostos e as tendências exigidas”, complementando
que “podemos mudar nossos paradigmas conservadores, livrar-nos dos reflexos do
passado, perceber o processo atual, avaliar o novo criticamente e aplicar no
contexto de nossa realidade.” Nesse sentido, quem reforça é a professora NACS,
quando afirma que as “disciplinas Arte e Educação Física que me fizeram ver com
outros olhos, como é importante trabalhar com a mente e o corpo da criança”.
O conhecimento construído pela disciplina Educação Física, nesse
contexto de formação, é reconhecidamente um conhecimento imbricado com a vida
do ser. Talvez por esse motivo, tem uma identificação imediata com o cotidiano do
professor, especificamente em relação a sua prática profissional. A professora ABP
considera que: “antes eu não tinha essa clareza em relação ao desenvolvimento
diante do processo de ensino-aprendizagem, certamente por falta de conhecimento
teórico pedagógico que fundamentasse o meu fazer profissional”. GFM reforça essa
opinião ao reconhecer que com “as orientações dos professores formadores posso
compreender minha prática, tornando-a reflexiva”.
Extrapolando o aspecto profissional, também pôde ser percebida a
influência dos saberes vivenciados na fonte das águas humanescentes em relação
ao plano pessoal. A professora GLS reconhece que: “... percebi que as disciplinas
são de suma importância para a formação do indivíduo, pois possibilita o
desempenho na aprendizagem escolar, na área afetiva e social e no domínio do seu
próprio corpo”.
Foi possível identificar, nas narrativas, o que Nicolescu (2001, p. 143)
denomina como estabelecer pontes – entre “os diferentes saberes, entre estes
saberes e seus significados para nossa vida cotidiana; entre estes saberes e
133
significados e nossas capacidades interiores”. EGF, em sua narrativa, ilustra o que
afirma o autor, quando reconhece que:
[...] durante o período de execução do projeto, pude observar
muitos aspectos que permeiam meu fazer pedagógico, pude rever
as questões teóricas, bem como as questões práticas que
emergiram diante dos questionamentos que me fiz durante esse
período; O que estou pondo em prática com os alunos, está
coerente com a realidade deles? Será que enquanto educadora
minha postura tem feito os alunos perceberem que há uma ponte
entre sua realidade e a realidade do mundo?” (EGF, 2005).
Para que isso ocorra, a referida professora reconhece que é preciso
“experimentar, sonhar, viajar não só com a cabeça, mas com o coração, sentindo o
significado de cada processo” (EGF, 2005).
“Aprender a conhecer” e “aprender a fazer” são percebidos como
intimamente relacionados, aproximando a prática com a teoria vivenciada na
formação e conduzindo a teoria estudada para a prática vivida. IPM analisa que:
“todos esses elementos me ajudarão a mudar e a ter um olhar crítico e reflexivo em
função do melhoramento de meu fazer pedagógico. Atualmente sou mais segura, sei
o que faço e porque estou fazendo” (IPM, 2005). A professora LAN também
considera que,
[...] nesses (02) dois anos de curso no IFESP, através de
conhecimentos adquiridos, tanto teóricos, como práticos,
orientados pelos professores formadores das disciplinas Arte e
Educação Física, percebo avanços significativos dentro de minha
prática pedagógica (LAN, 2005).
O Relatório Delors (2003) reforça o que afirmam as professoras, quando
reconhece que “aprender a conhecer e aprender a fazer são, em larga medida,
indissociáveis. Mas a segunda aprendizagem está mais estreitamente ligada à
questão da formação profissional: como ensinar o aluno a pôr em prática os seus
134
conhecimentos...” (DELORS, 2003, p. 93).
Refletir e reconhecer a maneira como desenvolve sua prática profissional
como fazer, é uma das conseqüências do banho na fonte dos saberes da vida por
ocasião do processo formativo dos professores aqui investigados. A professora EGF
analisa: “as disciplinas Arte e Educação Física, me fizeram ao longo das atividades e
das reflexões, fazer um resgate acerca de minha trajetória enquanto professora,
minha prática, planejamentos, metodologias, me auto-avaliar” (EGF, 2005).
Enquanto NFJ declara que: “logo nas primeiras aulas de Arte e Educação Física,
pude realizar uma análise das minhas práticas pedagógicas” (NFJ, 2005). A
professora NACS também reconhece que a fonte dos saberes da vida “serviu-me de
subsídio para analisar o meu fazer pedagógico, pois a ação leva a reflexão” (NACS,
2005).
Outro aspecto em relação ao “aprender a fazer” analisado nas narrativas
das professoras diz respeito ao fato de reconhecerem o surgimento de uma prática
diferente da que realizavam até então, que alguns até denominavam como nova
prática. Nicolescu (1999, p. 144) afirma que “’Fazer’ também significa fazer o novo,
criar, trazer suas potencialidades criativas à luz”. LAN reconhece que: “pude refletir o
quanto anteriormente eu trabalhava equivocada sem nenhum olhar investigador em
relação ao aluno e sem posicionamento crítico na postura enquanto educadora”
(LAN, 2005). A professora MVC compartilha como o nosso propósito educativo ao
afirmar: “percebo uma nova mediação didática de minha parte com meus alunos e
percebo neles a capacidade de expressarem-se com facilidade” (MVC, 2005).
Enquanto ABP analisa:
[...] passei a observar cada detalhe individual e coletivos do aluno,
passando a estimulá-los, me integrando com sua participação,
interagindo junto aos mesmos para que, ouvindo-os,
acompanhasse no desenvolvimento das atividades, observando
135
com mais atenção na forma de executar e questionar suas idéias,
suas ações (ABP, 2005).
Quando analisam o seu novo fazer, elementos como o prazer e a
criatividade são reconhecidos como presentes e relevantes no processo de ensino e
de aprendizagem. Nicolescu (1999) reconhece que o “Fazer” pode significar sofrer
ou prazer, e que fazer com prazer advém de um equilíbrio entre o homem exterior e
o homem interior, o que é possível quando vivenciam-se fenômenos como
ludicidade e criatividade, destacado-se a contribuição desses ‘elementos’ no
processo de aprendizagem dos alunos. Há uma preocupação com a vida cotidiana,
que extrapola os muros escolares. A professora ABP concorda com essa idéia e
afirma que,
Com esta ligação existente entre as duas disciplinas Arte e
Educação Física e com os fundamentos adquiridos, percebo que a
criança traz consigo conhecimentos e marcas das suas condições
de existência, seus hábitos, valores e ao professor cabe a função
de estimulá-lo propiciando atividades lúdicas, jogos de forma
contextualizada para que as mesma s explorem o meio e interajam
com o mesmo, construindo e reconstruindo seus conhecimentos,
ao mesmo tempo dando-nos oportunidade de melhor conhecê-lo
(ABP, 2005).
A referida professora afirma que busca hoje trabalhar “repensando a
minha prática pedagógica, explorando caminhos que permeiam e oportunizem o
aguçar do senso crítico, a criatividade e a expressividade dos alunos, para que
atuem na sociedade com sabedoria e justiça” (ABP, 2005). A professora NFJ
reconhece que
[...] foi preciso criar momentos que proporcionassem a liberdade
de expressão sempre orientados e incentivados por mim ... Com o
tempo percebi que as crianças já desenvolviam melhor a
aprendizagem, envolviam-se mais, eram mais autônomas,
participavam mais das aulas (NFJ, 2005)
.
136
A preocupação com a qualidade de vida dos alunos é encontrada nas
narrativas das professoras. É o reconhecimento do Outro no “aprender a viver em
conjunto”. Nicolescu (1999, p. 145) ressalta que esse é um “aspecto capital da
evolução transdisciplinar da educação: reconhecer-se a si mesmo na face do Outro”.
O autor afirma que
[...] ’aprender a ser’ também é aprender a conhecer e respeitar
aquilo que liga o Sujeito e o Objeto. O outro é um objeto para mim
se eu não fizer este aprendizado, que me ensina que o outro e eu
construímos juntos o Sujeito ligado ao Objeto.
A professora IPM (2005) ressalta a importância de “desenvolver
atividades corporais sempre, conduzindo o aluno a situar-se no seu mundo,
descobrindo seu valor, aprendendo lidar consigo e com os outros” e GFM, considera
que “é importante ouvir o que o outro diz, sendo preciso escutar para falar, respeitar
o próximo para que a aula venha a ter aprendizagem, transmitindo segurança em
relação professor e aluno, aluno e aluno” (GFM).
A totalidade do ser na convivência com o outro, nesse caso específico, a
professora em processo de formação, foi considerada como pré-requisito
fundamental na busca de um desenvolvimento humano harmonioso. Nicolescu
(1999, p. 147) reconhece que “uma educação só pode ser viável se for uma
educação integral do homem...uma educação que se dirige à totalidade aberta do
ser humano e não apenas a um de seus componentes”. A professora JMSS,
entende que o banho na fonte dos saberes da vida
[...] possibilitou-me desenvolver um fazer pedagógico reflexivo,
comprometido com o ensino, voltado a atender necessidades e
expectativas dos meus alunos, valorizando significativamente o
processo de desenvolvimento global dos educandos (JMSS,
137
2005).
JEA afirma por outro lado que:
Os trabalhos corporais-expressivos são prazerosos e dinâmicos.
Permitem refletir sobre os caminhos tomados e criar novas formas.
O envolvimento facilita a socialização, o compromisso entre todos,
além de ser uma ótima oportunidade para o professor observar o
desempenho geral do aluno (comportamento, criatividade,
relacionamento e personalidade (JEA, 2005).
Nicolescu (1999, p. 146-147) considera que há uma inter-relação bastante
evidente entre os quatro pilares do novo sistema de educação como: aprender a
fazer aprendendo a conhecer, e como aprender a ser aprendendo a viver em
conjunto. Segundo o autor, “na visão transdisciplinar, também há uma trans-relação
que liga os quatro pilares do novo sistema de educação e que tem sua origem em
nossa própria constituição de seres humanos”. Perceber-se como Ser que integra os
quatro saberes apresentados por Delors (2003), foi algo presente de maneira
implícita nas narrativas, mas, poucas vezes foi claramente explicitado. A professora
NFJ evidenciou sua compreensão sobre o fato ao afirmar que: “O nosso corpo está
a todo momento agindo e reagindo de acordo com nossos pensamentos, nossas
emoções...Tomar consciência deste movimento é uma forma de entrar em contato
com o nosso corpo, com nossas emoções, é perceber a vida que existe em nós”
(NFJ, 2005).
4.3 O ‘SABER SER’, OS PILARES DA EDUCAÇÃO E OS SABERES DA VIDA
138
Trazer o ser como sujeito e objeto do entrelaçamento dos saberes, por
ocasião do banho na fonte de águas humanescentes onde brincavam, dançavam e
bebiam dessa água que levava a transformação, exigiu um instrumento de coleta de
dados específico para esse fim. Duas questões foram aplicadas (Anexo E) na busca
de averiguar se as professoras em processo de formação tinham consciência de si
como Ser Integral e Complexo. Que elementos dariam pistas dessa consciência e
como compreender o entrelaçamento dos saberes nas suas vidas.
Por ocasião da análise das narrativas, os saberes da corporeidade –
saber brincar, saber criar, saber sentir, saber pensar e saber humanizar-se,
estiveram presentes em todo momento, evidenciando o seu desenvolvimento no Ser
transcorporal que é Corporeidade, no Ser que é Vida.
4.4 SER INTEGRAL E COMPLEXO: SER CORPO E SER CORPOREIDADE
A água da fonte dos saberes da vida toca as professoras através de seus
corpos sensibilizando-as para a vida, despertando-as para si enquanto Ser Integral e
Complexo que se constrói na relação com o Outro. A professora ABP reforça a idéia
aqui apresentada quando afirma:
Através do auto-conhecimento passamos a perceber que todos
somos diferentes, cada um com seus limites e especificidades e
que precisamos dos outros para que nossa vida se torne ‘leve’. Do
outro que também tem seus limites e especificidades (ABP, 2005).
A professora GFM corrobora o que apresentou sua colega, quando avalia
que:
139
A disciplina de Educação Física contribuiu para que eu tivesse
mais domínio do meu corpo, reconhecendo e valorizando cada vez
mais minhas diferenças para com os outros. Quando eu me tocava
não valoriza as partes internas, só as externas, só o que eu via, a
aparência. Hoje me valorizo como mulher. Desde a hora em que
acordo começo a me cuidar, observando como estou me sentindo,
aprendi a ouvir a mim e ao outro (GFM, 2005).
Enquanto a professora NACS arremata: “Sem dúvida! Acredito que mudei
muito, não só em relação ao meu eu, mas também em relação a como aprendi a ver
os meus alunos, amigas e mundo ao meu redor” (NACS, 2005).
A idéia de inteireza, de perceber-se não de forma fragmentada, dualista,
está presente nas narrativas de forma bastante significativa. A professora ACF
chama atenção para esse fato quando reconhece que:
Foi através das leituras e discussões dos textos e das práticas que
eu percebi a indissociabilidade do corpo e da mente e a
necessidade de nós educadoras criarmos estratégias que auxiliem
o aluno a refletir sobre as ações que realiza e que ao mesmo
tempo possa aprender a partir do seu próprio corpo (ACF, 2005).
A professora GLS também aborda a consciência de totalidade ao relatar:
Aprendi que nós, seres humanos, não somos uma dualidade,
mente e corpo, mas um conjunto de mente, corpo e espírito.
Através do auto-conhecimento interagimos com nosso meio com a
consciência dos movimentos e das reações mentais que estão
manifestadas nele, tendo consciência também de nossas
limitações (GLS, 2005).
Por sua vez, a professora RMSD arremata que: “o corpo humano é muito
mais que um corpo físico. Ele é emocional, mental e social e representa o meu “eu”
140
na sua totalidade” (RMSD, 2005).
O banho na fonte dos saberes da vida faz renascer no sentido de
provocar um despertar para si, “abrindo os olhos da alma”. A professora ABP
reconhece que essa descoberta é fonte de prazer, afirmando que:
Através das vivências corporais proporcionadas pela disciplina
Educação Física pude começar a prestar mais atenção em mim
mesma, nas minhas dificuldades, limitações, timidez e comecei a
sentir prazer em participar das mesmas (ABP, 2005).
A professora IPM reconhece que: “O aprender a ser, provocou-me uma
descoberta de mim mesma, não só no físico, mas também no mental. Eu me
descobri como pessoa e senti-me especial no mundo, pois parecia que há muito
tempo eu tinha parado de viver” (IPM, 2005). Já a professora NFJ revela: “percebi o
quanto eu não me conhecia, senti vergonha ao me tocar, ao me perceber. Me vi
rejeitando os toques e a percepção das sensações ocorridas” (NFJ, 2005). Por fim,
NACS considera que:
As vivências que a disciplina de Educação Física proporcionou a
meu corpo, a mim, fez com que eu valorizasse desde a minha
respiração até meus dedos dos pés. Isso porque fui trabalhada
com muita segurança e aproveitei para utilizar esse conhecimento
na sala de aula e em particular ao meu próprio corpo. Os
resultados de cada aula dessa disciplina, era como se eu
estivesse a cada instante batendo um raio x de meu próprio corpo,
ou de minha própria alma, ou seja me era oportunizado a
conhecer melhor cada parte do meu corpo. Aprendi a escutar mais
e com calma os batimentos do meu coração e a minha respiração
(NACS, 2005).
4.5 O SER E OS SABERES DA CORPOREIDADE
141
A narrativa da professora DLO explicita que, quando trata dos ‘saberes da
corporeidade’, há a compreensão de que eles se encontram entrelaçados na
essência do Ser. Ela reconhece que:
As atividades corporais proporcionaram o auto-conhecimento
porque partem da integração do corpo e mente, uma concepção
global do ser humano. Nos momentos em que desenvolvíamos as
atividades de vivências atribuindo sentido, nossa percepção,
através das sensação de alegria, prazer, encantamento, bem-
estar, despertava a sensibilidade e a espiritualidade do ser (DLO,
2005).
O ‘saber brincar’ foi o saber da corporeidade mais evidenciado nas
narrativas dos professores, cabendo ressaltar, no entanto, que os outros estão de
certa forma, contidos nele, na totalidade do ser.
A professora ACF reconhece que na fonte dos saberes da vida,
banhando-se voltou a ser criança. Ela afirma que: “nesses momentos eu era igual a
uma criança que quando começa a participar de uma brincadeira, não quer mais
parar” (ACF, 2005). Enquanto sua colega ABP reconhece: “percebi que tinha
esquecido durante muitos anos, a verdadeira alegria, a alegria da criança que
vivencia tudo com muito prazer” (ABP, 2005). O professor JEA avalia que “é
inegável a fantasia e o prazer das brincadeiras. O curso dá abertura para reviver a
infância, a mágica de ser criança outra vez, sendo a forma mais consciente de
alimentar o espírito” (JEA, 2005).
Ter oportunidade de brincar, de viver momentos de ludicidade, é algo que
permite a professora em processo de formação sentir o prazer e a alegria de beber
na fonte de águas humanescentes. A professora IPM relata: “Fazia muito tempo que
eu não dançava. Mesmo errando os passos na dança coletiva, era magnífico sentir
142
toda aquela energia. Nós nos contagiávamos de alegria” (IPM, 2005). MMCS
reconhece que “quando brincava sentia-me livre para fazer da forma que eu queria”
(MMCS, 2005). E a professora NACS reforça que:
A disciplina de Educação Física pode, de certa forma, oferecer a
meu corpo e a minha mente, a mim, uma descoberta de prazeres
que eu até então não havia despertado. Ou seja, o verdadeiro
valor do brincar, do sentir, do tocar etc. Isso envolve algo muito
valioso: o coração (NACS, 2005).
Ser feliz! O ‘saber sentir’ foi outro saber evidenciado nas narrativas dos
professores, como quando a professora EGF destaca: “através da Educação Física
aprendi a respeitar meus próprios limites e o dos outros. A cada aula eu sentia
emoções e sensações diferentes” (EGF, 2005). Sua colega IPM reforça, ao afirmar:
O relaxamento me fazia muito bem e a respiração profunda, me
levava a jogar fora todas as energias negativas que absorvemos
durante a vida, pois sempre estamos esquecendo de coisas muito
simples e significativas como essas, que renovam nossas energias
(IPM, 2005).
Sobre esse saber, a professora NACS assim se expressa:
A dança me proporcionou sentir uma sensação valiosa, onde pude
perceber que conhecendo meu corpo, também através do toque,
eu estava conhecendo meus limites, meus desejos e minhas
necessidades de cuidar e proteger um corpo com variáveis
sensações (NACS, 2005)
.
O ‘saber pensar’ surge quando a professora EGF relata que: “os
conhecimentos que adquiri através das vivências corporais me proporcionaram um
143
melhor desempenho na minha vida profissional e pessoal” (EGF, 2005). O professor
JEA considera que “é pertinente que sejamos mediadores do saber adquirido,
melhorando comportamentos e estratégias para agir e interagir com o ambiente e
com a natureza” (JEA, 2005). Enquanto RMSD confirma: “a disciplina Educação
Física me proporcionou momentos significativos de aprendizagem, onde através das
situações vivenciadas pude, entre outras coisas reelaborar conceitos e ampliar a
percepção do meu próprio corpo” (RMSD, 2005).
Os saberes da Corporeidade: Saber Brincar, Saber Criar, Saber Sentir,
Saber Pensar e Saber Humanizar-se, aparecem aqui de maneira explícita e
implícita, conforme o caso, evidenciando que a partir do momento em que a
professora que está vivenciando o seu processo de formação percebe-se e percebe
o outro como portador de múltiplos saberes, e valoriza não apenas seus aspectos
objetivos e racionais, mas, também, sua subjetividade sensível.
4.6 O SER E O ENTRELAÇAMENTO DOS SABERES DA VIDA
A fonte dos saberes da vida jorra e banha as professoras que bebem
desses saberes humanescentes. Tais saberes entrelaçam-se nas suas vidas
enquanto seres. Ressalta ABPF que,
Nessas aulas, esquecíamos de tudo e mergulhávamos de cabeça
e corpo naquilo que estávamos fazendo, deixando-nos levar pelo
momento. Com isso conhecemos melhor nosso próprio corpo e os
outros que estão a nossa volta, tomando consciência dos meus
avanços e esquecendo em alguns momentos a minha timidez.
Ajudando também no meu entrosamento com os outros que estão
a minha volta (ABP, 2005).
Vivenciando momentos de ludicidade, brincando, jogando e dançando
(Anexo B), a professora “mergulha” em si. Reflete sobre o que sente e pensa,
144
imagina, fantasia e cria. Vive no respeito a si e ao outro, considera a qualidade do
que oferece ao outro. Preocupa-se com e como faz a sua prática como profissional e
pessoa que é.
ABP evidencia os Saberes da Vida entrelaçados a partir da compreensão
do próprio ser e o reflexo disso nas relações que estabelece com os outros e com
seu entorno.
A professora EGF analisa:
Com certeza todos os saberes são essenciais na vida dos
educadores que estão sempre buscando conhecimentos,
trabalhando em equipe e aprendendo a conviver com o outro,
ampliando e transformando o seu fazer pedagógico e fazendo do
mesmo um momento de reflexão na ação, sempre em busca de
novos horizontes e ampliando o seu universo de conhecimentos
(EGF, 2005).
Evoluir no coletivo e com o coletivo foi um ponto destacado por quem
reconhece a presença e a importância do entrelaçamento dos saberes da vida.
Saberes que podem levar a transformar a realidade em que vive, pois como afirma
Maturana e Rezepka (2000, p. 9), “nós, os seres humanos, fazemos o mundo que
vivemos em nosso viver”. Ele emerge com cada um e o grau de sensibilidade e
envolvimento de cada ser refletirá em seu mundo.
Vivências corporais, que promovem o auto-conhecimento, como Yôga,
danças circulares, exercícios de relaxamento, meditações e movimentos de livre
expressão (Anexo B), foram oportunizadas no intuito de sensibilizar as professoras
rumo a percepção do entrelaçamento dos saberes em seu ser.
Em sua narrativa, a professora GLS, registra:
145
O auto-conhecimento ajuda na convivência com os outros no
sentido de conhecer seus avanços e limites. A partir daí surge as
parcerias, a cooperação, as trocas, contribuindo assim para nosso
enriquecimento profissional e pessoal ... Aprendemos a ser
humildes e a reconhecer que crescemos mais quando estamos no
grupo respeitando as opiniões dos outros e demonstrando firmeza
nas nossas idéias, reconhecendo que nossas limitações nos
impele a trocar idéias e aceitar o pensamento do outro (GLS,
2005).
A professora IPM reforça ao afirmar:
Acredito que o auto-conhecimento (aprender a ser) entrelaça
todos os outros saberes, pois melhorei em todos os aspectos.
Uma de minhas maiores dificuldades era conviver. Hoje sou mais
tolerante e compreensiva com as outras pessoas; sou capaz de
refletir sobre o meu eu, tanto quanto pessoa quanto profissional
(IPM, 2005).
Enquanto a professora RMSD confirma:
O conhecimento de mim mesma, me conduziu a um processo de
maturação que me fez ser capaz de desenvolver uma auto-
avaliação e de reconhecer que essa condição melhora os outros
saberes (aprender a conviver, a conhecer e a fazer).
Na minha concepção, o auto-conhecimento se manifesta e se
desenvolve na interação com o outro. Portanto, na medida que o
amplio passo a me relacionar melhor comigo, com o outro e com
o ambiente, ou seja, passo a ter um convívio social mais
equilibrado (RMSD, 2005).
Entrelaçar os saberes na vida do ser configura-se como manifestação
humanescente desse ser. Estabelecer relação entre o ser-mundo é buscar evoluir e
Ser. Só assim pode-se, como afirma Assmann (1995), criar e inventar o próprio
mundo, sonhar seu próprio mundo e transformar o mundo real, visto que torna-se
capaz de transformá-lo.
CAPÍTULO V
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
:
146
5.1 MERGULHANDO NA FONTE DOS SABERES DA VIDA E “SACUDINDO”
GOTAS DE ÁGUAS HUMANESCENTES
Este Capítulo é dedicado às conclusões e recomendações do estudo,
elaboradas tendo por base o referencial teórico construído para analisar a presença
dos quatro Pilares da Educação e seu entrelaçamento na fonte dos saberes da vida,
por professoras do Curso Normal Superior do Instituto de Educação Superior
Presidente Kennedy, em Natal, Rio Grande do Norte.
5.2 CONCLUSÕES: NA FONTE DOS SABERES DA VIDA, UM BANHO FINITO E
INFINITO COM ÁGUA QUE SACIA SEM SACIAR
Aqui é considerado, assim como o é por Assmann (1995, p. 85), que
“nenhuma resposta deve ser considerada completa”, mas apenas um caminho que
pode servir de acesso a outros caminhos. O que foi descoberto vislumbra
possibilidades de novas descobertas.
Com base na fundamentação teórica elaborada e na discussão das
descobertas vivenciais evidenciadas pelo estudo, podem-se considerar as seguintes
conclusões:
1. A professora, ao banhar-se na fonte dos saberes da vida reflete acerca
de sua vida, pessoal e profissional, resgatando sentimentos e emoções que ao longo
do tempo foram sendo “esquecidos”, mas que ao serem “relembrados” e vividos os
147
impulsiona para a humanescência.
2. Ao banhar-se na fonte dos saberes da vida, a professora reconhece
que é despertada para os saberes humanescentes, passando a ter uma
preocupação com a prática que desenvolve em sua sala de aula. Prática que
considera o ‘aprender a conhecer’, ‘aprender a fazer’, ‘aprender a conviver’ e
‘aprender a ser’ de forma integrada no ser.
3. Quando existe, por parte da professora em formação, a preocupação
com o desenvolvimento do Ser, há uma prática que evidencia a teia dos saberes da
corporeidade – ‘saber brincar’, ‘saber criar’, ‘saber sentir’, ‘saber pensar’ e ‘A
presença do profissional da Educação Física com conhecimento e vivência dos
pressupostos da corporeidade, é de fundamental importância no processo de
formação de saber humanizar-se’.
4. Professores do Ensino Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental,
pois ele tem uma grande responsabilidade no desenvolvimento de uma educação
para o desenvolvimento humanescente do Ser, em uma proposta de educação que
ocorra ao longo de toda a vida.
5. O profissional de Educação Física tem um espaço a conquistar, pois a
lacuna existente no processo educacional em relação a compreensão de corpo e da
corporeidade na perspectiva da totalidade, urge ser transformada em nome de uma
outra humanidade, plena de humanescência.
5.3 RECOMENDAÇÕES: RENOVAÇÃO E PURIFICAÇÃO DAS ÁGUAS
HUMANESCENTES QUE JORRAM DA FONTE DOS SABERES DA VIDA
148
A partir das conclusões deste estudo, recomenda-se que:
1. Os cursos de formação de professores para a Educação Infantil e anos
iniciais do Ensino Fundamental, tenham em seu currículo disciplinas que atuem no
sentido de sensibilizar as professoras em formação quanto à compreensão da
plenitude do próprio Ser.
2. No processo de formação acadêmica, as professoras sejam
despertadas para a necessidade de desenvolverem uma prática preocupada com o
desenvolvimento humanescente de seus alunos.
3. Os saberes da corporeidade se façam presentes – vividos, no processo
de formação de professores, oportunizando-os a auto-descoberta e o auto-
aperfeiçoamento do Ser, o que o levará a auto-transcendência.
4. A presença do profissional da Educação Física seja assegurada nos
cursos de formação de professores, para que eles possam contribuir com subsídios
vivenciais em relação ao corpo e a corporeidade, vistos como manifestações da
totalidade do Ser.
5. O profissional de Educação Física procure desenvolver o seu trabalho
educativo integrado aos demais profissionais da instituição, para assim realizar uma
prática coletiva de construção de conhecimento, contribuindo, desse modo, com a
especificidade do seu saber.
REFERÊNCIAS
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_________. O Amor que acende a lua. Campinas, São Paulo: Papirus, 1999.
149
_________. Por uma educação romântica. 2 ed. São Paulo: Papirus, 2002a.
_________. Livro sem fim. 2 ed. São Paulo: Loyola, 2002b.
ASSMANN, H. Paradigmas educacionais e Corporeidade. São Paulo: Ed. da
UNIMEP, 1995.
_________. Metáforas novas para reencantar a educação, epistemologia e didática.
2 ed. São Paulo: Editora Unimep, 1998a.
_________. Reencantar a Educação: rumo à sociedade aprendente. 3 ed. Rio de
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aprendizagem criativa. Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 2004.
BACHELARD, G. La intuition de l’instant. Paris: Denoel, 1985a.
_________. O novo espírito científico. 2 ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
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_________. O direito de sonhar. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.
_________. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do
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1996.
_________. La terre el les rêveries du repos. 17 ed. Paris: J. Corti, 1997a.
_________. A Água e os Sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria. Tradução
de Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1997b.
_________. A Poética do Devaneio. Tradução Antonio de Pádua Danesi. São Paulo:
Martins Fontes, 2001a.
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156
ANEXO A
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR PRESIDENTE KENNEDY
CURSO NORMAL SUPERIOR
GRUPO INTERDISCIPLINAR DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
PLANO DE CURSO
I - IDENTIFICAÇÃO
157
Disciplina: Educação Física
Curso: Curso Normal Superior
Carga Horária: 100 h
50 h - Educação Física I
50 h - Educação Física II
Professoras Formadoras: Elen Dóris Barros Carlos de Amorim
Tereza Cristina Bernardo da Câmara
Ano: 2002/04
II - EMENTA
EDUCAÇÃO FÏSICA I
Sob a luz do Paradigma da Corporeidade, entender: o lúdico como elemento
dinamizador da prática educativa; a atividade lúdica corporal no processo do
desenvolvimento humano (ênfase para a infância e adolescência); conhecimento
sobre jogos e brincadeiras, especialmente em relação à intencionalidade dessa ação
educativa; tendências curriculares no ensino da Educação Física; a cultura corporal
nas diferentes manifestações da cultura popular; a sensibilidade do professor.
EDUCAÇÃO FÍSICA II
Sob a luz do Paradigma da Corporeidade, entender: o corpo como ponto de
partida da aprendizagem; o corpo como forma de linguagem e de expressão; o
corpo como totalidade do ser; desenvolvimento motor e aprendizagem motora;
educação motora na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental; a
sensibilidade do professor.
III - JUSTIFICATIVA
Tendo em vista o "perfil do professor que se pretende formar"
15
, é de
fundamental importância elucidarmos alguns princípios filosóficos da disciplina
15
Ver o projeto do Curso Normal Superior.
158
Educação Física no Curso Normal Superior, que habilita professores para
lecionarem na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Educação Física, nome de uma disciplina que reflete no imaginário Social
uma multiplicidade de sentidos, onde é comum aparecer idéias de fragmentação,
dualidade corpo e mente, quando sabemos que o homem é um ser indivisível e toda
fragmentação o aliena. Portanto, é no ato de criação que entram em jogo
capacidades e habilidades cognitivas, modalidades de percepção, formas de
organização de conhecimentos e de reorganização de elementos. Entrelaçados e
inseparáveis das habilidades estão as motivações, emoções e valorações, tudo isso
transparecendo em uma forma global, através da expressão corporal.
Do ponto de vista sócio-político, a extensão do ato da criatividade se traduz
ou através de uma produção potencialmente útil à sociedade, ou através das
atitudes de um ser social que, ao sentir-se capaz de criar sente-se capaz de
transformar, de mudar, de melhorar. Levando em consideração este princípio, o
nosso trabalho tem como ponto de partida oportunizar o autoconhecimento aos
professores alunos tendo como linha de ação uma educação lúdica.
Proporcionar o desenvolvimento da consciência corporal, neste contexto de
formação, gera a possibilidade do encontro com seu próprio corpo bem como a
descoberta e desenvolvimento das suas potencialidades, não somente motoras, mas
afetivas, relacionais, cognitivas e sociais.
O lúdico, na perspectiva desta proposta, situa-se na esfera do simbolismo, o
que significa dizer que é uma valoração, um sentido, uma intencionalidade. Nesta
aspecto, a disciplina procura redimensionar o cotidiano escolar, especialmente o
processo educativo.
Aliado à ludicidade, temos um componente de suma importância no processo
pedagógico, que é o movimento, uma vez que as atividades motoras proporcionam a
criança não só alegria como, também, favorece a sua aprendizagem.
Através dos movimentos a criança interage com os outros e com o meio
ambiente, alcança objetivos, satisfaz suas necessidades e também desenvolve sua
cognição, conforme afirma Tani, o movimento se relaciona com o desenvolvimento
cognitivo no sentido de que a interação das sensações provenientes de movimento
resulta na percepção, e toda a aprendizagem simbólica posterior depende da
159
organização destas percepções em forma de estruturas cognitivas (1988, p. 12).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, assim como o trabalho de um Coletivo
de Autores, propõem à Educação Física uma concepção mais ampla, compreendida
como Cultura Corporal por entender que a mesma pode contribuir para o pleno
exercício da cidadania, na medida em que, tomando seus conteúdos e as
capacidades que se propõe a desenvolver como produtos sócioculturais, afirma
como direitos de todos o acesso a eles (PCNs, 1997, p. 28). Dentro dessa
perspectiva seguirá também o trabalho que nos propomos realizar.
Assim sendo, a referida disciplina propõe fundamentar o professor aluno, para
que redimensione sua prática pedagógica, de forma criativa, numa perspectiva
interdisciplinar, através da construção do conhecimento, contribuindo, assim, na
formação de sua competência intelectual e técnica, elevando sua consciência crítica
e profissional.
IV - COMPETÊNCIAS GERAIS
1) Mobilizar sua corporeidade e seus conhecimentos na elaboração de
propostas de intervenção no ensino da Educação Física, considerando as
necessidades individuais de seus alunos e a cultura corporal;
2) Adquirir uma postura investigativa da sua prática pedagógica,
reconhecendo a contribuição das atividades corporais expressivas e a importância
do lúdico no processo de ensino e de aprendizagem de seus alunos;
3) Estabelecer relações entre as atividades de ensino, os níveis
maturacionais, a realidade social e as prioridades das crianças da Educação Infantil
e anos iniciais do Ensino Fundamental, sem perder de vista a totalidade do ser
(domínios cognitivo, sócio-afetivo e motor);
4) relacionar as informações, conhecimentos e experiências corporais
para construir argumentações consistentes nas intervenções acadêmicas,
profissional e pessoal.
160
V - COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS
1) reconhecer o movimento humano como meio natural, próprio da criança
e fundamental ao seu desenvolvimento integral;
2) Compreender as diferentes formas de como a Educação Física e o
corpo vem sendo vivido no processo histórico, bem como as tendências
pedagógicas surgidas, tendo como referência as diferentes sociedades e costumes;
3) Favorecer o processo de ensino e aprendizagem, utilizando-se do jogo,
elemento da cultura corporal, como veículo que pode promover a competição e/ou
cooperação;
4) Fazer evoluir, no âmbito da sala de aula e da escola, o resgate das
manifestações da cultura infantil, valorizando as diferenças sócio-culturais,
propiciando uma aprendizagem contextualizada e significativa;
5) Compreender e diferenciar Crescimento físico e Desenvolvimento
global, de forma a favorecer uma prática pedagógica consciente e reflexiva, que
considere a individualidade de seus alunos;
6) Perceber as vivências corporais como momentos de reflexão acerca do
próprio corpo e como fator de expressão e ludicidade, reconhecendo a importância
de participar desses momentos, refletindo sobre os resultados em si próprios;
7) Identificar estratégias de ensino que propiciem a melhoria das
percepções e demais elementos da psicomotricidade, contribuindo assim com a
organização da consciência corporal e conseqüentemente com o desenvolvimento
global de seus alunos;
8) Reconhecer a importância das atividades corporais expressivas, como
elemento dinamizador da prática pedagógica, ao mesmo tempo em que favorece as
relações inter e intrapessoais e estimula as funções cognitivas da criança, tendo em
vista o seu desenvolvimento global;
9) Identificar e diferenciar as diferentes estratégias/conteúdos de ensino
da Educação Física (jogo, brinquedo, brincadeira, ginástica historiada e atividades
rítmicas e expressivas).
161
VI - UNIDADES DE TRABALHO
Os conteúdos abaixo relacionados serão trabalhados a partir de temáticas
norteadoras.
Educação Física I
Temáticas: O lúdico na Educação Física
O movimento humano na Vida do Ser
1) Histórico da Educação Física
1.1 - Tendências
1.2 - Concepções
1.3 - Relevância Social
2) Educação da Sensibilidade
3) Pedagogia do Movimento Humano
3.1 - Educação Lúdica
3.2 - Conteúdos da Educação Física – PCNs e RCNEI
- Conhecimento sobre o corpo
- Brincadeiras, ginástica e atividades rítmicas e expressivas.
3.3 - A importância do movimento humano no processo de ensino e aprendizagem
3.4 - Movimento e desenvolvimento global
3.4.1 - Movimento e domínio cognitivo
Movimento e percepção
3.4.2 - Movimento e domínio sócio-afetivo
3.4.3 - Movimento e domínio motor
- Capacidades motoras
- Habilidades básicas
- Combinação de movimentos
3.5 - Movimento expressivo e as manifestações da Cultura Popular
Educação Física II
Temáticas: A Educação Física e a aprendizagem
Corporalizando a relação professor-aluno
1) Educação da Sensibilidade
2) Crescimento físico e desenvolvimento global
3) O processo de desenvolvimento motor
3.1 - Fases
3.2 - Características de movimentos por idade
3.3 - Processo evolutivo
4) Estruturação da Consciência Corporal
4.1 - Esquema corporal
4.2 - Imagem corporal
162
4.3 - Sensações e percepções
VII - METODOLOGIA
A abordagem metodológica que norteia o plano de trabalho da disciplina
Educação Física no Curso Normal Superior - Licenciatura Plena, baseia-se na
aquisição do conhecimento alicerçada num processo socialmente construído.
A Educação Física surge, nesse contexto, como área de conhecimento cujos
conteúdos devem ser compreendidos como elementos historicamente construídos e
representativos de uma sociedade.
A forma como a Educação Física e a cultura Corporal vêm sendo tratadas nos
documentos oficiais do MEC, Parâmetros Curriculares Nacionais, Referenciais
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e Proposta para a Formação Inicial
de Professores da Educação Básica, em cursos de nível superior, serão tomadas
como referência, na tentativa de oportunizar reflexões acerca das concepções
existentes no ensino da Educação Física por parte dos professores alunos, ao
iniciarem este curso.
Na tentativa de promover nos professores alunos, reflexões acerca da sua
corporeidade e dos seus alunos, bem como o desenvolvimento das competências
estabelecidas, e instrumentalizá-lo para que isso possa de fato acontecer,
desenvolveremos situações sistematizadas, tais como: aulas expositivas, vivências
corporais reflexivas, investigação didática, estudos dirigidos e oficinas pedagógicas.
Estão presentes em todos os momentos de ensino, a estimulação da
criatividade do professor aluno e a capacidade de integração dos conteúdos, bem
como o exercício do ler, do escrever e do dizer, efetivados através de uma
diversidade de estratégias específicas buscando a construção coletiva do
conhecimento.
VIII - AVALIAÇÃO
A avaliação terá como referência as competências definidas para cada
unidade e terá um caráter diagnóstico e contínuo, considerando aspectos
quantitativos e qualitativos, devendo possibilitar ao professor aluno dimensionar
seus avanços e suas dificuldades no processo de ensino e de aprendizagem.
163
Para tanto a disciplina pretende verificar e desempenho e a evolução do
professor aluno através das seguintes estratégias:
a) Participação significativa nas aulas, refletindo sobre o seu desempenho
nas discussões, atividades práticas e elaboração de tarefas escritas;
b) Aplicação da teoria aprendida, na prática regular de sua sala de aula e
em laboratório no IFESP;
c) Auto-avaliação;
d) Resumo do desempenho do professor aluno, traduzido em forma de
conceito.
IX - BIBLIOGRAFIA CONSULTADA E RECOMENDADA
ALMEIDA, Paulo N. Educação Lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. São Paulo:
Loyola,1987.
ARAÚJO, Vânia C. de. O Jogo no Contexto da Educação Psicomotora. São
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CELANO, Sandro. Corpo e Mente na Educação: uma saída de emergência.
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COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino da Educação Física. São
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FREIRE, João B. Educação de Corpo Inteiro: teoria e prática da Educação Física.
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__________________________________ _____________________________
Tereza Cristina Bernardo da Câmara Elen Dóris Barros Carlos de Amorim
Professora Formadora Professora Formadora
167
ANEXO B
VIVÊNCIAS CORPORAIS HUMANESCENTES QUE JORRAN NA FONTE DOS
SABERES DA VIDA
Durante um ano, realizamos, aproximadamente, vinte e cinco momentos de
vivências corporais, com professoras em formação, no Curso Normal
Superior/IFESP, os quais depois de vividos e sentidos, foram refletidos. Foi um
168
conhecimento construído a partir do vivido. Um vivido que é racional, mas também é
emocional e, sobretudo, existencial e cultural.
Descrever essas vivências e como elas aconteceram é importante para
compreender porque provocaram mudança de cosmovisão nas professoras e como,
mediadas pelo corpo, as transformações na vida de cada uma ocorreram.
Para tanto, trazemos três modalidades de vivências corporais, representando
as experiências concretas por meio das quais as professoras tiveram oportunidade
de repensar a sua prática corporal, construir outros movimentos e reaprender sua
própria expressividade.
Tal como a água, os Jogos, as Danças e os Movimentos de Livre Expressão
jorram na Fonte dos Saberes da Vida, e as professoras, puderam banhar-se e
beberem dessas águas. Estas águas, às vezes claras, nos momentos de
tranqüilidade, segurança e alegria; às vezes turvas, nos desafios e incertezas, e, às
vezes escuras, nos momentos de medo e tristeza, são os saberes que jorram na
forma de atividades autotélicas, aquelas que, como apresenta Csikszentmihalyi
(1999), são realizadas por si mesma, tendo a própria experiência como meta
principal. Nelas, as professoras foram impulsionadas a conhecer, fazer, conviver e
ser, envolvidas que foram pelo entusiasmo, amor e alegria.
JOGOS E BRINCADEIRAS
Viajar no tempo e voltar à infância, relembrar a criança que um dia foi,
resgatar as brincadeiras que brincava, os sentimentos que sentia, os movimentos
que fazia e como fazia serviu de leito para a correnteza das águas que fluem para as
fontes dos Saberes da Vida. Esse resgate pode trazer muita alegria, mas também
muita tristeza. Focalizar o que de bom aconteceu é nossa orientação. O que foi
aprendido e descoberto? Vamos identificar? Vamos reviver?
Da mesma forma, vivenciar brincadeiras da cultura infantil, jogar de forma
plena é uma proposta normalmente bem aceita. O envolvimento das professoras e
delas no jogo é quase total, e em alguns momentos o é, posto que competindo ou
cooperando as risadas vêm chegando e a seriedade também. O outro é importante
para mim. Brincamos fundamentalmente com o outro e não contra o outro, pois
entendemos, assim como Brotto (2001), que se competir é importante, mais ainda é
cooperar, ou seja, ao incluir a Ética do Jogo Cooperativo em nosso cotidiano,
169
conforme o autor, “recuperamos o gosto pela aventura e ousadia; o sentido de
participação com liberdade e responsabilidade; tomamos consciência de ser parte-e-
todo; desfrutamos a beleza da criação; colaboramos para a transformação de
barreiras em pontos e de adversários em solidários” (BROTTO, 2001, p. 6-7).
Assim, viver ludicidade, sentir-se inteira, liberar a criança adormecida que
existe dentro de nós. Quanta alegria! Nas brincadeiras e jogos que propomos
procuramos fazer com que a mesma seja plenamente desfrutada por quem a
vivencia.
Reaprender a brincar foi um desafio que lançamos às professoras, já que
somos todas frutos de uma cultura Ocidental moderna que desdenha o brincar e não
o reconhece como característica fundamental na vida humana integral.
DANÇAS
(CIRCULARES/FOLCLÓRICAS/CRIATIVAS)
Parafraseando o grande compositor Luiz Gonzaga Júnior, dançar e não ter a
vergonha de ser feliz foi a que nos propomos. Em círculos, livres no espaço, aos
pares, trios..., sozinhos ou todos juntos. Mãos que falam pés que gritam, ombros que
sorriem, felizes por estarem renascendo. Mexer o quadri, mulheres e homens, é
mexer, o sacro, o lugar sagrado. Leloup (1998), em sua abordagem simbólica do
corpo relembra que os Antigos consideram o ventre sagrado, um lugar de
transformação. É necessário fortalecê-lo, amá-lo e, com ele, amar-se.
Fizemos a leitura simbólica do corpo de diversas maneiras: deitados, de pé,
dançando. Varia a maneira, mas permanece a intenção.
Algumas professoras-alunas nunca haviam dançado, e ao fazê-lo pela
primeira vez, transformaram-se. Não foi fácil para todas. Há o medo de se expor, o
receio diante do desconhecido, o desafio da superação. Nesse momento se faz
necessário, após o convite inicial, insistir, chegar perto, pegar na mão, dançar junto.
Homens com homens, homens com mulheres, mulheres com mulheres. Seres que
dançam e se divertem, riem, sofrem, desejam e seguem, superando tabus.
Propomos algumas danças circulares, de mãos dadas. Uns ajudando aos
outros, dando força, todos juntos. No sentido por nós aplicada, é uma dança
sagrada. Sagrada, de acordo com Berni (1998, p. 65), “no sentido de que só quem
viveu a experiência sabe valorizar”. Utilizamos esse argumento para seduzi-los a
170
participar. Quem se permitiu vivenciar a dança jamais a esquecerá, pois com ela se
transformou.
Dançar em círculo implica também em olhar o outro, tocar o outro e interagir.
Costa (1998, p. 23), considera que “ao dançar em roda, o indivíduo coloca-se em
contato com o seu corpo em movimento, com o seu ser em expressão e com o
grupo, estabelecendo e transformando suas relações sociais”.
Dançamos a dança da vida, a dança da liberdade. Dançando e girando, as
professoras transformam-se em fênix e voam.
MOVIMENTOS DE LIVRE EXPRESSÃO
(GINÁSTICA/YÔGA/BIOENERGÉTICA/TOQUE/ALONGAMENTO)
Convidamos as professoras para se movimentar livremente ou de maneira
conduzida, mas que permitisse a expressão própria de cada uma. Em alguns
movimentos, a referência teórica é a Yôga, em outros a bioenergética, a ginástica,
os alongamentos. Da primeira surgem os exercícios de postura (ásanas), que
trabalham a força, o equilíbrio e a concentração para facilitar a liberação do fluxo de
energia. A respiração também foi lembrada, valorizada e estimulada como fonte de
energia que precisa jorrar em nome de uma vida melhor.
Também foram realizados relaxamentos a partir de princípios da Yôga, os
quais consideram que saber relaxar bem é saber viver bem. Através da Yôga, as
professoras puderam descobrir o seu corpo e a sua vida, pois não existe melhor
Mestre do que a consciência interior.
Da segunda, Bioenergética, vem conceitos como, “a energia é a força que
está por trás do espírito e, portanto, a base da espiritualidade do corpo” (LOWEN,
1995, p. 30). O autor afirma também que a respiração é uma manifestação da
espiritualidade do corpo, e nós estimulamos essa manifestação através de
exercícios respiratórios. Movimentos realizados para despertar o pensar sobre ele,
observando a energia que flui, também foram propostos, pois acreditamos que
respirar profundamente é sentir e sentir-se profundamente.
O toque, contato físico, foi oportunizado. Tocar a si próprio e também ao outro
permite conhecer e conhecer-se. Lowen (1995) advoga que contatos físicos
agradáveis têm um efeito positivo ao longo da vida, renovando o entusiasmo e a
energia vital dos seres tocados.
171
A ginástica e os alongamentos estiveram presentes estimulando a percepção
de si e do outro.
No início, observamos as seguintes reações: as costas incomodavam, os
olhos não queriam fechar, respirar profundamente deixava tonta, levantar os braços
causavam desconforto. O corpo estava esquecido, mas se dispor a participar fez
com que dificuldades iniciais fossem superadas. Às vezes é preciso insistir no
convite, seduzir, pois para algumas pessoas não é fácil entregar-se a si mesmas.
Jorrando da Fonte, os saberes proporcionados por essas vivências fez o ser
renascer. As professoras sentiram-se vivas e capazes de transformarem-se e
transformar a sua vida.
172
ANEXO C
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR PRESIDENTE KENNEDY
CURSO NORMAL SUPERIOR
GRUPO INTERDISCIPLINAR DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
DISCIPLINAS: ARTE E EDUCAÇÃO FÍSICA
173
PROJETO DE INVESTIGAÇÃO DIDÁTICA
Coordenadores:
Antônia Nogueira Queiroz
Claudete Ferreira Moreira Gomes
Elen Dóris Barros Carlos de Amorim
Gilmar Félix da Silva
Tereza Cristina Bernardo da Câmara
NATAL
2004
APRESENTAÇÃO
Projeto de Investigação Didática, a ser desenvolvido pelos professores alunos
do 2º ano do Curso Normal Superior, atendendo às disciplinas Educação Física e
Arte, do grupo Interdisciplinar de Comunicação e Expressão do Instituto de
Educação Superior Presidente Kennedy.
174
JUSTIFICATIVA
Vivemos, agimos e interagimos no nosso meio social, corporalmente.
Corporalmente no sentido atribuído pelo paradigma da corporeidade visto como “o
modo do homem estar no mundo (temporalmente)” (CAVALCANTI, 2001, p. 33).
O modelo positivista de ciência segue fielmente o paradigma cartesiano da
fragmentação, da dualidade. Dualizada polarizada, ou isso ou aquilo, ou branco ou
preto, ou mente ou corpo.
A Educação Física através dos tempos vem mostrando que o corpo, era visto
e tido como receptáculo do cérebro, meramente mecânico, existindo a serviço dele.
Entretanto esta dicotomia não existe de fato. Iwanowicz (1994, p. 64) nos provoca
acerca disso, quando chama atenção em seus estudos para a importância da
estimulação do meio para o processo de desenvolvimento humano. A autora afirma
que nessa interação é preciso um corpo que “reage, ... sente, [...] guarda a sua
vivência emocional, sensorial etc”. Desse modo, um corpo robotizado não daria
conta, pois deixaria de exercer plenamente toda a sua potencialidade, pensando,
sentindo, agindo e interagindo, construindo, reconstruindo, querendo, vivendo. “Não
posso falar do meu corpo para o meu corpo, sem ser o meu corpo” (DE MARCO,
1995, p. 27).
Atualmente, os estudos na área da Educação Física salientam a necessidade
de se superar a concepção do corpo enquanto objeto fragmentado, dou, acrítico e
empobrecido, reconhecendo-o como representação da nossa própria presença no
mundo, em que somos emoções, pensamentos, movimentos, interações, ou seja,
corpo-sujeito.
Apesar das discussões sobre este tema estar presente nos centro de
formação acadêmica, estas ainda não estão de forma significativa nas ações
educativas cotidianas, existindo, portanto, um distanciamento real entre o produzido
e o vivido.
Nos propomos nesta investigação didática desenvolver, junto aos professores
alunos do Curso Normal Superior, ações educativas que provoquem reflexões
acerca desse distanciamento enfatizando a necessidade deles em lidar com seus
175
alunos em toda sua inteireza complexa. Para tanto, lançaremos mão dos
conhecimentos teóricos e práticos construídos através de leituras, reflexões,
discussões e vivências corporais ao longo das aulas.
A Arte, assim como a Educação Física, contribui para o processo de formação
do indivíduo como ser integral, oportunizando o desenvolvimento da comunicação e
da expressão através das diferentes linguagens artísticas.
O educador conhecendo os alunos, nos seus diferentes aspectos, poderá
considerar a imensa teia que envolve o processo ensino e aprendizagem e
assegurar o desenvolvimento do trabalho escolar. Segundo o Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil (2002, p.18)
[...] o movimento para a criança pequena significa muito mais do que
mexer partes do corpo ou deslocar-se no espaço. A criança se
expressa e se comunica por meio de gestos e das mímicas faciais e
interage utilizando fortemente o apoio do corpo. A dimensão
corporal integra-se ao conjunto da atividade da criança. O ato motor
faz-se presente em sua função expressiva, instrumental ou de
sustentação às posturas e gestos.
A criança observa, percebe, fala, escuta, brinca de faz-de-conta, gesticula, se
expressa corporalmente e verbalmente comunicando suas idéias e sentimentos,
desenvolvendo sua imaginação e criatividade; a Arte se constitui num canal para
esse processo de comunicação e expressão. Nessa concepção, o movimento é
compreendido em toda a sua complexidade. Segundo De Marco (1995, p. 28), “o
homem não se movimenta, mas sim transcende e tenta atingir por meio de sua
intencionalidade uma totalidade plena ainda desconhecida”.
As disciplinas Arte e Educação Física, que no Curso Normal Superior do
IFESP, tem uma carga horária de 100 horas cada, distribuídas ao longo de 02 (dois)
anos. Sendo assim propomos no segundo ano do Curso, desenvolver de forma
integrada, este projeto de investigação didática, tendo como referência a
fundamentação teórica trabalhada.
Servirá de referência teórica nesta investigação, os estudos dos Parâmetros
Curriculares Nacionais, de Arte e Educação Física, os referenciais Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil, os estudos sobre corporeidade (Cavalcanti,
2001, Pires, 2000, Santin 1987) e motricidade (De Marco, 1995 e Melo, 1997) na
vertente da psicomotricidade (Le Boulch, 1982 e 1995), com um olhar especial para
176
as percepções (Le Boulch, 1982 e 1995, e Ballone, 1999) entendida nesse contexto
como “apreensão de uma situação objetiva baseada em sensações, acompanhada
de representações e freqüentemente de juízos” (BALLONE, 1999, p. 03).
A escola, enquanto espaço sistematizador do saber, precisa levar em conta o
conhecimento trazido pela criança, expresso através do movimento, uma vez que
ela carrega na sua inteireza, as possibilidades de expressar afetos, desafetos e a
percepção de si na sua interação com o outro e com o meio, enquanto pessoa capaz
de se compreender com limites, enfrentando desafios, visando seu desenvolvimento
pleno.
OBJETIVO GERAL
Oferecer subsídios teóricos e práticos, para que os professores alunos
possam desenvolver, de forma consciente com seus alunos, práticas corporais,
identificando nelas os elementos da psicomotricidade, enfatizando as percepções,
com vistas a formação global do ser humano.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Oportunizar situações em que os professores alunos:
Planejem intervenções pedagógicas que visem trabalhar o movimento,
considerando os três domínios do comportamento humano (cognitivo, afetivo
e motor);
Utilizem no processo de ensino e aprendizagem as diferentes linguagens
artísticas e da cultura corporal, como meio do desenvolvimento psicomotor,
enfatizando as percepções;
Identifiquem os elementos da psicomotricidade presentes nas atividades
artístico-culturais e corporais-expressivas vivenciadas pelos alunos, visando
seu desenvolvimento global;
demonstrem uma postura investigativa no seu fazer pedagógico.
QUESTÕES DE ESTUDO
177
Os professores alunos desenvolvem sistematicamente atividades
corporais-expressivas com os seus alunos?
Os professores alunos, ao desenvolverem atividades corporais-expressivas
com seus alunos, têm clareza dos elementos da psicomotricidade estimulados
nessas vivências?
Os professores alunos percebem a contribuição da estimulação dos
elementos da psicomotricidade para o processo de aprendizagem de seus
alunos?
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Tendo como referência os diversos autores estudados nesses dois anos de
curso, elencamos os seguintes pressupostos teóricos:
Conceito de Corporeidade enquanto presença, participação e significação
do homem no mundo. Pires, 2000.
O primeiro objetivo da Educação Psicomotora é permitir à criança viver
um corpo disponível, caracterizado por um bem-estar e uma harmonia de
seus movimentos. Le Boulch, 1982.
A Percepção proporciona dados sobre o fisicamente sentido, porém esses
dados variam de acordo com as condições do fundo pessoal e a forma
percebida passa a transcender o objeto simplesmente sentido. Ballone, 1999.
METODOLOGIA
Este projeto de investigação didática segue uma abordagem qualitativa
descritiva de intervenção da prática. Concentrando-se na interpretação dos dados
como totalidade de uma especulação que tem como base, “...a percepção de um
fenômeno num contexto. Por isso, não é vazia, mas coerente, lógica e consistente”
178
(TRIVIÑOS, 1987, p. 128). Desse modo, seus resultados são expressos através de
descrições, narrativas, fotografias, depoimentos etc.
Optar por essa abordagem demonstra, também, estar preocupado com o
processo e não apenas com os resultados e o produto. Segundo Barbier, citado por
Haguette, 1997, p. 111), “quando falamos de pesquisa, estamos pensando em
pesquisa-ação, isto é, uma ação em nível realista, sempre acompanhada de uma
reflexão autocrítica objetiva e de uma avaliação dos resultados”. Em se tratando de
pesquisa em ensino, que tem como foco o ato de ensinar, não faria sentido deixar de
relacionar essa atividade ao processo de aprendizagem. Ela se apresenta, portanto,
neste contexto, como uma oportunidade de ensinar aprendendo e aprender
ensinando.
O projeto prevê uma seqüência de ações que se efetivarão a partir da
fundamentação teórica e prática ocorrida durante os dois anos do curso, atendendo
aos objetivos e competências das disciplinas Arte e Educação Física
especificamente; destacando-se o estudo da corporeidade e motricidade na vertente
da psicomotricidade, com olhar especial para as percepções.
Inicialmente os professores alunos tomarão ciência do que propõe o referido
projeto e em seguida, elaborarão o planejamento de atividades motoras. O
planejamento será de 06 (seis) atividades, 03 (três) que contemplem os conteúdos
de Educação Física e 03 (três) que contemplem os conteúdos de Arte, envolvendo
uma das quatro linguagens artísticas. Das seis atividades planejadas, no mínimo
cinqüenta por cento deve evidenciar a estimulação da coordenação motora ampla.
Após a aplicação de cada atividade motora, o professor aluno fará uma
reflexão (balanço) sobre os resultados obtidos, as dificuldades encontradas e os
avanços percebidos, registrando-os por escrito. Durante o processo, o professor
alunos fará, sempre que necessário, o replanejamento e/ou ajustes das atividades.
Ao final da investigação, o mesmo elaborará um relatório descritivo e reflexivo.
AVALIAÇÃO
Dar-se-á mediante apreciação do relatório e dos planos das atividades
desenvolvidas, como também da participação dos professores alunos nos momentos
de orientação com os professores coordenadores.
CRONOGRAMA
179
AÇÕES
PROPOSTAS
01/04 22/04 12/04
12/05
29/04 13/05 03/06 24/06 01/07 Local
01
Apresentação
do Projeto
x
IFESP
02
Planej. das
ativ. motoras
xx x
IFESP
03
Aplicação dos
Planejamentos
x
SALA
LAB.
04
Balanço do
processo
xx
IFESP
05
Replanej. e
ajustes no proc
xx
IFESP
06
Elaboração do
Relatório
xxxx
IFESP
S.L.
07
Cont. da
fundamentação
xx
IFESP
08
Conclusão e
entrega do Rel.
x
IFESP
09
Apres. Final do
trab. desenv
x
IFESP
10
Retorno dos
relatórios
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NACHMANOVITCH, Stephen. Ser criativo: o poder da improvisação na vida e na
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PIRES, Edmilson Ferreira. Corporeidade e Sensibilidade: o jogo da beleza na
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RS: UNIJUí, 1987.
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TANI, Go. Educação Física Escolar: fundamentos de uma abordagem
desenvolvimentista. São Paulo: EPU, 1988.
TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa
qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1992.
182
183
ANEXO D
TRECHOS DOS RELATÓRIOS
Ana Cristina Ferreira (ACF)
[...] “Ao longo desses dois anos de curso, tivemos a oportunidade de
184
vivenciar em Arte e Educação Física intensos momentos de reflexão e prática de
atividades que nos proporcionaram a descoberta do nosso próprio corpo, como fator
de expressão, ludicidade, comunicação, articulado à percepção, imaginação,
emoção, sensibilidade. Esses pressupostos práticos, fundamentados teoricamente,
alicerçaram nossa trajetória profissional nos credenciando a realizar em nossa sala
de aula um trabalho consciente.
A partir de uma análise acerca dos objetivos propostos no plano, pude
notar que os resultados das atividades apresentaram-se bastante satisfatórios, pois
houve um grande empenho dos alunos em colaborar com todos os exercícios
encaminhados. Sempre que abrimos espaços para a expressão artística e corporal
os resultados são animadores”.
Andréia Brich Paiva (ABP)
[...] “Busco relatar, de maneira clara e objetiva, como ocorreu todo o
processo da prática desenvolvida e ao mesmo tempo fazer uma reflexão da minha
própria ação, que não é tarefa fácil, e exige por parte de quem o faz, um
compromisso e preparo, pois refletir sobre nossas ações é um processo de
185
aprofundamento da própria formação, que nos leva a descobertas, dúvidas,
renovação e, sobretudo, transformações”.
[...] “Com esta ligação existente entre as duas disciplinas Arte e Educação
Física e com os fundamentos adquiridos, percebo que a criança traz consigo
conhecimentos e marcas das suas condições de existência, seus hábitos, valores e
ao professor cabe a função de estimulá-lo propiciando atividades lúdicas, jogos de
forma contextualizada para que as mesmas explorem o meio e interajam com o
mesmo, construindo e reconstruindo seus conhecimentos, ao mesmo tempo dando-
nos oportunidade de melhor conhecê-lo”.
[...] “Todas as atividades desenvolvidas tiveram a participação dos alunos
e da mediadora direcionando ... passei a observar cada detalhe individual e coletivos
do aluno, passando a estimulá-los, me integrando com sua participação, interagindo
junto aos mesmos para que, ouvindo-os, acompanhasse no desenvolvimento das
atividades, observando com mais atenção na forma de executar e questionar suas
idéias, suas ações”.
[...] “Refletindo o passado, percebo, diante dos conhecimentos adquiridos,
das reflexões que faço sobre os mesmos, relacionando-os com minha prática
compreendo que a aprendizagem não é linear; ela procede de ensaios, tentativas e
erros, hipóteses, recuos e avanços.
Ao refletir acerca das experiências da minha prática passada procuro fazer
sempre uma relação com a atual e logo percebo grandes mudanças. Infelizmente,
antes eu não tinha essa clareza em relação ao desenvolvimento diante do processo
de ensino-aprendizagem, certamente por falta de conhecimento teórico pedagógico
que fundamentasse o meu fazer profissional, impossibilitando a enxergar que toda
criança traz consigo para a escola, uma longa experiência, que aprende interagindo
com sua família e a sociedade”.
[...] “Hoje, busco trabalhar, repensando a minha prática pedagógica,
explorando caminhos que permeiam e oportunizem o aguçar do senso crítico, a
criatividade e a expressividade dos alunos, para que atuem na sociedade com
sabedoria e justiça”.
186
Débora Lima de Oliveira (DLO)
[...] “O trabalho sugere uma consonância entre os estudos sistematizados
por, aproximadamente, dois anos e as práticas vivenciadas, uma relação entre teoria
e prática, enfocando novamente a perspectiva de interação”.
[...] “Nesse sentido, comecei a me questionar sobre o que sentia, o que
pensava em relação a minha prática pedagógica e na tentativa de considerar
relevantes os estudos acerca da psicomotricidade, investi no projeto e
187
redimensionei-o na busca do conhecimento do corpo, na compreensão dos
processos perceptíveis ao espaço/tempo e na apreciação motora manual”.
[...] “(...) a reflexão será um trabalho na prática pedagógica que é
proporcionado por inúmeros momentos no ambiente-sala e que agora também será
tratado com o apoio dos momentos de introspecção, não apenas como exercício
imaginativo, mais numa opção conjunta do pensar, sentir e agir ao determinado
objeto, seja ele, o próprio objeto, pessoal ou situação”.
[...] “Nesse contexto, constatou-se que é impossível uma educação
voltada as ações cooperativas a luz de uma abordagem interacionista, percepção do
EU e sua relação com o OUTRO no processo de desenvolvimento social, emocional
e intelectual do ser humano”.
Elizângela Gurgel de França (EGF)
“Tenho caminhado rumo a uma escola de Educação infantil de qualidade,
buscando oferecer aos meus alunos um trabalho sério e fundamentado, que objetive
ir além das habilidades essenciais à vida de todo ser social, uma escola onde
professor, aluno e funcionários precisam aprender a lidar com a s emoções, com o
desconhecido e com o incontrolável. Precisamos experimentar, sonhar, viajar não só
com a cabeça, mas com o coração, sentindo o significado de cada processo.”
188
[...] “Durante o período de execução do projeto, (...), pude observar muitos
aspectos que permeiam meu fazer pedagógico, pude rever as questões teóricas,
bem como as questões práticas que emergiram diante dos questionamentos que me
fiz durante esse período; O que estou pondo em prática com os alunos, está
coerente com a realidade deles? Será que enquanto educadora minha postura tem
feito os alunos perceberem que há uma ponte entre sua realidade e a realidade do
mundo?”
[...] “Assim acredito que esse projeto investigativo, embora tenha posto em
destaque, apenas as disciplinas Arte e Educação Física, me fizeram ao longo das
atividades e das reflexões, fazer um resgate acerca de minha trajetória enquanto
professora, minha prática, planejamentos, metodologias, me auto-avaliar e me por
em questionamentos; Será que consigo transmitir tudo que pretendo/objetivo, ou
deixo a desejar? Me fazendo chegar a seguinte conclusão, que sou hoje mais que
professora, consigo ir além, sou pesquisadora, mediadora, coordenadora e
reelaboradora de meus próprios conhecimentos, consigo me questionar e buscar
soluções, por isso acredito que o trabalho que desempenho hoje tem melhorado
consideravelmente e tem me feito ansiar não só pelo profissionalismo, mas também,
pelo fazer bem feito, pelo simples gosto de acreditar no que pratico. O que me faz
referir a DEHEINZELIN, 1994, p. 204, onde ela diz que: ‘soubéssemos nós, adultos,
preservar o brilho e o frescor da brincadeira infantil, teríamos uma humanidade plena
de amor e fraternidade, resta-nos então, aprender com as crianças. É o que fazem
os artistas’”.
Gardênia Fernandes de Medeiros (GFM)
[...] “Hoje posso falar, com franqueza, que através das leituras,
discussões, reflexões e das vivências corporais e das linguagens artísticas, contribui
no processo para desenvolver as atividades e ter clareza dos objetivos que pretendo
alcançar com a certeza que estou aprimorando o trabalho em classe [...]”.
[...] “É importante ouvir o que o outro diz, sendo preciso escutar para falar,
respeitar o próximo para que a aula venha a ter aprendizagem, transmitindo
189
segurança em relação professor e aluno, aluno e aluno, portanto o professor
necessita ter uma postura reflexiva diante dos alunos”.
[...] “Graças a este estudo (...) e as orientações dos professores
formadores posso compreender minha prática, tornando-a reflexiva, quando eu
professora construo conhecimentos no processo ensino-aprendizagem dos alunos,
demarcando um campo importante para minha formação [...]”
Geísa Leite da Silva (GLS)
“Ao ingressar no Curso Normal do Instituto de Educação Superior
Presidente Kennedy (IFESP), a minha concepção da disciplina (...) Educação Física
o professor fazia exercícios contínuos nos quais, o mesmo ordenava os movimentos
e os alunos repetiam como bonecos que se locomoviam através de comandos.
Segundo BERTHERAT e BERNTEIN (1987) ‘você pode, no entanto
190
reencontrar as chaves do seu corpo, tomar posse dele habitá-lo enfim e nele
encontrar a vitalidade, saúde e autonomia que lhe são próprias.
A partir deste texto passei a refletir sobre o meu conceito nestas
disciplinas e a conhecer o próprio corpo”.
[...] “Segundo Tani, Go (1988), para que possamos agir e interagir sobre o
meio é necessário ter movimentos, pois através deles é que acontece as grandes
transformações no meio ambiente e no meio cultural e social. E assim passei a
repensar e refletir sobre a minha prática docente...”
[...] “(...) percebi que as disciplinas são de suma importância para a
formação do indivíduo, pois possibilita o desempenho na aprendizagem escolar, na
área afetiva e social e no domínio do seu próprio corpo.”
Iranédia Lemos de Almeida (ILA)
[...] “Com o conhecimento adquirido ao longo desses dois anos, aprendi
que o corpo é portador de uma linguagem expressiva que manifesta idéias,
emoções, sentimentos e que o movimento corporal é um elemento dinamizador da
prática pedagógica em que suas atividades motoras são elementos essenciais no
191
processo do ensino e da aprendizagem”.
[...] “Ao finalizar este projeto de investigação didática, concluo que o
desenvolvimento dessas atividades contribuiu bastante no avanço da turma, percebi
que os alunos estão mais ativos e estimulados. Quanto a minha pessoa posso
afirmar que Arte e Educação Física tem contribuído muito no desempenho da minha
prática em sala de aula, pois percebo que hoje posso desenvolver tais atividades
com mais segurança e eficácia [...]”.
Ivoneide Pereira de Medeiros (IPM)
[...] “Estou oportunizando aos meus alunos o que não me foi dado na
infância, por isso tenho dificuldades de participar de atividades que envolvam o
movimento corporal. No início do Curso sempre que precisava faltar escolhia
Educação Física. Agradeço o incentivo dos professores, as atividades trazidas e
192
apresentadas por eles, como a aula das múltiplas inteligências, a simulação de uma
pessoa nascendo, a dança coletiva, etc... e os textos, além da integração com as
outras turmas. Todos esses elementos me ajudarão a mudar e a ter um olhar crítico
e reflexivo em função do melhoramento de meu fazer pedagógico. Atualmente sou
mais segura, sei o que faço e porque estou fazendo. O que antes era impossível
tornou-se possível.”
[...] “Sobre os processos ocorridos por ocasião da investigação didática, o
mais importante foi o meu crescimento pessoal e profissional; enquanto observei
meu aluno passo a passo, também fiz análise própria, surgindo muitos
questionamentos como: O que posso fazer para tornar minha passagem na vida
dessas crianças, significativa? Passo uma imagem positiva ou negativa? Até onde
cabe a mim, ajudá-lo?...”
[...] “Desenvolver atividades corporais sempre, conduzindo o aluno a
situar-se no seu mundo, descobrindo seu valor, aprendendo lidar consigo e com os
outros. É preciso otimismo, determinação, vontade de mudar fazendo a nossa
parte.”
[...] “ Foi muito bom vê-los produzindo, usando a espontaneidade, e saber
que agora faço a diferença no antes e depois desse processo de meu trabalho e que
estou ajudando através das disciplinas de Arte e Educação Física.”
[...] “Confesso que entrar no mundo da imaginação infantil é algo
desafiador, espetacular. É como abrir uma caixinha de segredo, ou abre e descobre
ou nunca saberemos o que tem dentro.”
José Édson de Araújo (JEA)
“ ‘Água mole em pedra dura tanto bate até que fura’. Este é um adágio que
passa de pai para filho e propaga-se nas gerações vindouras pela linguagem oral. É
bastante pertinente o provérbio remetendo-nos a persistência dos formadores na
convicção de passar os conteúdos adequado aos professores alunos.
193
Durante os dois anos de formação, as disciplinas Arte e Educação Física
vêm nos proporcionando um olhar diferente sobre os conteúdos propostos e as
tendências exigidas. Nestas exigências, observo como professor-aluno a
imaturidade de início de carreira. Buscava, na época, o mínimo de conteúdo das
áreas citadas. O trabalho era tímido, sem objetivos concretos...”
[...] “O Projeto possibilitou uma abertura extraordinária, pois no exercício
dos trabalhos vi o quanto resisti....
Mediar estas atividades conscientiza-nos de que podemos mudar nossos
paradigmas conservadores, livra-nos dos reflexos do passado, perceber o processo
atual, avaliar o novo criticamente e aplicar no contexto de nossa realidade.”
[...] “Os trabalhos corporais-expressivos são prazerosos e dinâmicos.
Permitem refletir sobre os caminhos tomados e criar novas formas. O envolvimento
facilita a socialização, o compromisso entre todos, além de ser uma ótima
oportunidade para o professor observar o desempenho geral do aluno
(comportamento, criatividade, relacionamento e personalidade).”
[...] “Estamos conscientes, enquanto profissionais, que o sucesso ou o
fracasso de nossos alunos, em parte, também somos responsáveis. Somos
espelhos para aquelas grandes criaturas e o reflexo desta deve fluir de forma que
elas possam desenvolver suas potencialidades. Como mediadores devemos, ou
melhor, faz parte da missão (...) pensar criticamente naquilo (objeto) que faz. Para
quem? E para que? Como faço? Auto-avaliar-se para que possa perceber o seu
semelhante”.
Josefa Medeiros de Souto Silva (JMSS)
[...] “Hoje, depois que ingressei no IFESP, fui resgatando aquele
entusiasmo em trabalhar os conteúdos de Educação Física e Arte na escola,
tornando minhas aulas mais produtivas e prazerosas, sabendo-se que é nas
brincadeiras que as crianças vivem situações que provocam a busca de desejos e
194
satisfação em estar naquele momento participando daquela atividade [...]”
[...] “O grande valor pedagógico dessas atividades consiste em
desenvolver as potencialidades expressivas e motoras das crianças, através de um
comportamento criativo, possibilitando-lhes exercitar habilidades e vivenciar
experiências.
Tudo isso foi contemplado durante todo o período em que ocorreu a
investigação Didática, trabalho este que possibilitou-me desenvolver um fazer
pedagógico reflexivo, comprometido com o ensino, voltado a atender necessidades
e expectativas dos meus alunos, valorizando significativamente o processo de
desenvolvimento global dos educandos”.
Lúcia Alves Nogueira (LAN)
“Após os momentos vivenciados nas atividades das disciplinas Arte e
educação Física (...) pude refletir o quanto anteriormente eu trabalhava equivocada
sem nenhum olhar investigador em relação ao aluno e sem posicionamento crítico
na postura enquanto educadora.
195
Nesses (02) dois anos de curso no IFESP, através de conhecimentos
adquiridos, tanto teóricos, como práticos, orientados pelos professores formadores
das disciplinas Arte e Educação Física, percebo avanços significativos dentro de
minha prática pedagógica.
Avanços estes que me possibilitaram a prática à leituras de bons textos,
que os professores sempre nos colocaram a estudar para refletir sobre a nossa
postura como educadora (...)
Essa constatação foi fruto dessas atividades entre outras que já foram
desenvolvidas anteriormente de maneira consciente e objetiva (...) percebo que
preciso estudar mais para melhor oportunizar os alunos a desenvolverem suas
potencialidades, criatividade, socialização e desempenho motor. E que este
desenvolvimento aconteça através de um processo de vivências adquiridas onde
eles possam descobrir a beleza da Arte e Educação Física, no seu cotidiano e a si
mesmo como parte delas.
Analisando as aulas citadas ficou claro mais uma vez para mim a
importância do movimento com brincadeiras (jogos) e linguagens artísticas, pois as
aulas se tornam mais animadas e os assuntos são aprendidos de forma prazerosa e
isso favorece a relação afetivo/social das crianças, oportunizando o desenvolvimento
amplo delas, e que o professor deve ser sempre o primeiro a vivenciar, organizar-se,
aprender, conhecer-se, ter a experiência própria, assim passará a idéia com muito
mais clareza e segurança, ganhará credibilidade em seu trabalho. A verdadeira
harmonia tem que começar com harmonia dentro de si mesmo.
Parar, olhar, ouvir: procurar exercitar esta seqüência porque ela trará um
equilíbrio maior entre corpo-mente e mundo.”
Magnólia Michele da Cruz Souza (MMCS)
[...] “Em cumprimento a mais um planejamento de atividade de atividade
dessa vez evidenciando a linguagem cultura corporal, ou seja, ligada a Educação
Física com motricidade ampla os alunos experimentaram participar de uma atividade
lúdica fora do ambiente de sala de aula. Isso foi para mim como professora e
196
profissional responsável pela aculturação dos alunos a quebra de algemas que
prendiam-me ao medo de não controlar a situação. Para os alunos foi a
oportunidade de se auto-avaliarem frente a realização de atividades lúdicas onde a
violência deveria ser deixada de lado para que pudéssemos dar continuidade a
brincadeira realizada no momento (...), em busca de harmonia nos relacionamentos
e também, na desatenção aos direcionamentos formados normalmente onde é uma
das principais causas de erros na realização de atividades diárias...”
[...] “Por fim, declaro que o percurso transcorrido e os resultados obtidos
neste projeto reafirmam a importância das disciplinas Arte e Educação Física na
formação de professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental, por perceber que
os alunos desenvolvendo se desenvolvem enquanto se movimentam e como afirma
Go Tani ‘o movimento é um aspecto crítico do nosso desenvolvimento
evolucionário’, pois enquanto o ser humano se movimenta, ele conhece e atua no
mundo, desenvolvendo sua cognição, o seu comportamento social e reelaborando a
sua motricidade, fatores que ampliarão os limites de cada ser em questão, levando-
os ao conhecimento de mundo bem mais amplo...”.
Marilane Viana da Costa (MVC)
“As disciplinas Arte e Educação Física pouco foram enfatizadas durante a
minha prática profissional, por não conhecer sua importância no desenvolvimento
dos alunos (...) ainda reflito sobre esta prática e percebo que os objetivos propostos
para essas aulas não permitiam aos alunos desenvolverem-se artisticamente e
197
corporalmente, de forma consciente do meu próprio corpo”.
[...] “Após dois anos de estudo, onde os professores formadores dessas
disciplinas nesta instituição promoveram situações didáticas que unissem
conhecimentos provindos de leituras e realização de atividades, percebo uma nova
mediação didática de minha parte com meus alunos e percebo neles a capacidade
de expressarem-se com facilidade.
Dessa forma, percebo através da capacidade dos alunos uma tendência
aguçada na inteligência corporal-cinestésica defendida por Gardner [...]”
[...] “Neste projeto de investigação vejo a importância do lúdico (...) Assim
sendo, tenho como arma para auxiliar-me no processo ensino-aprendizagem o que
os alunos mais gostam de fazer que é brincar [...]”
[...] “Mediante os trabalhos realizados na sala laboratório pude constatar
avanços no desempenho dos alunos no que diz respeito a motivação, levando-os ao
desenvolvimento de forma espontânea tanto no afetivo, cognitivo como motor, onde
as mesmas não eram enfatizadas de forma coerente dentro das atividades
planejadas diariamente.
Desde então as atividades propostas oportunizaram aos alunos melhor
desempenho na sala de aula, tornando assim as atividades pedagógicas mais
prazerosas.
De acordo com Lemos, ‘uma criança com desenvolvimento motor
satisfatório conhecerá bem seu próprio corpo e através dele chegará ao domínio do
espaço e a adequação no tempo’ o autor completa, a afetividade da criança
exprime-se sempre através da postura, das atitudes e do comportamento. Assim a
evolução afetiva, harmoniosa, os contatos bem sucedidos, a aceitação integral da
criança terá muito mais possibilidade de ser bem sucedida tanto do ponto de vista da
aprendizagem escolar, como afetiva e socialmente”.
Neuma Ferreira Januário (NFJ)
[...] “Ao iniciar o curso superior no IFESP, logo nas primeiras aulas de Arte
e Educação Física, pude realizar uma análise das minhas práticas pedagógicas.
As aulas recreativas realizadas na escola laboratório, não tinham
objetivos, eram o fazer pelo fazer, o brincar pelo brincar nada com significados.
198
Durante as vivências corporais, notei a importância de perceber o nosso
corpo, de sentir os movimentos [...]”
[...] “O nosso corpo está a todo momento agindo e reagindo de acordo
com nossos pensamentos, nossas emoções.
Tomar consciência deste movimento é uma forma de entrar em contato
com o nosso corpo, com nossas emoções, é perceber a vida que existe em nós,
esse agora era o meu objetivo, fazer com que as crianças percebessem seu corpo.”
[...] “Foi preciso criar momentos que proporcionassem a liberdade de
expressão sempre orientados e incentivados por mim.
Com o tempo percebi que as crianças já desenvolviam melhor a
aprendizagem, envolviam-se mais, eram mais autônomas, participavam mais das
aulas”.
Nilza Alves Câmara Sirino (NACS)
[...] “ressalto aqui a importância de se trabalhar com as disciplinas
presentes neste relatório, pois as mesmas estão diretamente ligadas ao lúdico e
visam a totalidade do desenvolvimento humano.
Alguns autores, entre os quais Huizinga e Piaget nos dizem que a
199
atividade lúdica supõe uma ordenação da realidade, seja ela subjetiva e intuitiva ou
objetiva e consciente. Concordando com eles, eu digo como é importante trabalhar,
respeitando os desejos, anseios e interesses das crianças, descobri isto através das
disciplinas arte e Educação Física, que me fizeram ver com outros olhos, como é
importante trabalhar com a mente e o corpo da criança. Conhecer o próprio corpo é
muito mais do que conhecer a sua estrutura biológica e fisiológica; cada ser precisa
tomar conhecimento da sua corporeidade e por conseqüência da sua identidade
corporal.
[...] “Hoje corpo e mente não fazem parte de uma dualidade do ser
humano, onde a mente comanda a inteligência e o corpo só responde
mecanicamente a seus estímulos. A Educação Física junto com a Psicologia
trabalham com o desenvolvimento total do ser humano onde corpo e mente são a
unidade do ser. Para que isso aconteça, é necessário que os professores tenham
consciência e façam presentes em sua prática educativa, tudo que aprendem, nos
centros acadêmicos ou em cursos que lhe são oportunizados.
Ao praticar essas aulas percebi a importância do lúdico nas relações que
as crianças têm com o mundo, pois através do lúdico elas transmitem seus
sentimentos e deixam aflorar suas emoções...”
[...] “O projeto apresentado pelos professores e a investigação didática
desenvolvida por mim, serviu-me de subsídio para analisar o meu fazer pedagógico,
pois a ação leva a reflexão.”
Regina Maria da Silva Dantas (RMSD)
Trabalhar com os conteúdos das áreas de Arte e educação Física não era
prioridade minha por entender, equivocadamente, que estes deveriam ser
desenvolvidos por professores específicos destas áreas, justamente por não ter
200
ciência da importância das atividades psicomotoras para o processo de formação
dos alunos como um ser integral. Frente a aquisição desse conhecimento através de
subsídios teóricos e práticos comecei a rever a minha prática pedagógica [...]”
[...] “Para mim, a oportunidade de rever conceitos, de criar estratégias de
ação, de ampliar conhecimentos teórico e prático, etc.”
[...] “Durante as observações feitas nesse período surgiram indagações
quanto ao meu fazer pedagógico, particularmente em relação as expectativas de
ensino e de aprendizagem. Muitas ainda perdurarão e só a prática irá responder,
entretanto tenho convicção que devo priorizar o planejamento de atividades
semelhantes como forma de sistematizar a aquisição desses conhecimentos até
porque o processo de construção da aprendizagem dos alunos é longo e a escola
tem um papel fundamental nesse processo”.
201
ANEXO E
ENTREVISTA
Questões
1. Você considera que as vivências corporais proporcionadas pela disciplina
EDUCAÇÃO FÍSICA, provocou em você um auto-conhecimento (aprender a
202
ser)? Como? O que lhe dá pistas disso?
2. Você percebe que esse auto-conhecimento (aprender a ser) ocorre entrelaçado
com os outros saberes (aprender a conviver, a conhecer e a fazer) e que ao
melhorar esse auto-conhecimento, você melhora também os outros saberes?
Fale sobre isso.
Respostas à entrevista
Ana Cristina Ferreira (ACF)
1. Sim. Com as aulas de Educação Física aprendi a ser uma educadora mais
competente, pois obtive suporte teórico para as ações desenvolvidas durante as
aulas da mesma. Na prática, a disciplina proporcionou o desenvolvimento, a ação, o
203
vivenciar, o experienciar e os estímulos não faltaram por parte das professoras
formadoras.
Foi através das práticas que eu conheci melhor meu corpo, relaxei, viajei,
dancei, brinquei e isso me levava até a esquecer certos problemas que eu levava de
casa e do trabalho. Nesses momentos eu era igual a uma criança que quando
começa a participar de uma brincadeira, não quer mais parar.
Foi através das leituras e discussões dos textos e das práticas que eu percebi
a indissociabilidade do corpo e da mente e a necessidade de nós educadoras
criarmos estratégias que auxiliem o aluno a refletir sobre as ações que realiza e que
ao mesmo tempo possa aprender a partir do seu próprio corpo.
A maneira como trabalho hoje, as atividades motoras lúdicas é com um olhar crítico
e reflexivo e não apenas para entreter as crianças ou para o tempo passar.
2. Sim, percebo, pois acredito que para ser um bom profissional temos que nos
conhecer e tentar conhecer e respeitar os outros. Durante as aulas eu convivi com
diversas pessoas que encontrei e mantinha um bom relacionamento com todos (as).
Essa convivência me fez melhorar o trabalho com meus alunos.
Andréia Brich Paiva (ABP)
1. Através das vivências corporais proporcionadas pela disciplina Educação Física
pude começar a prestar mais atenção em mim mesma, nas minhas dificuldades,
limitações, timidez e comecei a sentir prazer em participar das mesmas. Com o
passar das aulas comecei a perceber os avanços em minha pessoa. Percebi que
tinha esquecido durante muitos anos, a verdadeira alegria, a alegria da criança que
204
vivencia tudo com muito prazer.
Nessas aulas, esquecíamos de tudo e mergulhávamos de cabeça e corpo
naquilo que estávamos fazendo, deixando-nos levar pelo momento. Com isso
conhecemos melhor nosso próprio corpo e os outros que estão a nossa volta,
tomando consciência dos meus avanços e esquecendo em alguns momentos a
minha timidez. Ajudando também no meu entrosamento com os outros que estão a
minha volta.
2. Através do auto-conhecimento passamos a perceber que todos somos diferentes,
cada um com seus limites e especificidades e que precisamos dos outros para que
nossa vida se torne “leve”. Do outro que também tem seus limites e especificidades.
Só aprendemos aquilo que não sabemos. Para isso dependemos dos outros ou de
situações que nos oportunizem esses momentos.
Débora Lima de Oliveira (DLO)
1. As atividades corporais proporcionaram o auto-conhecimento porque partem da
integração do corpo e mente, uma concepção global do ser humano. Nos momentos
em que desenvolvíamos as atividades de vivências atribuindo sentido, nossa
percepção, através as sensação de alegria, prazer, encantamento, bem-estar,
205
despertava a sensibilidade e a espiritualidade do ser.
2. O aprender a ser que compreende o desenvolvimento global do ser humano –
mente e corpo precede outros conhecimentos, ou seja, o auto-conhecimento revela
potencialidades e o respeito aos limites, valorizando as nossas capacidades e
reconhecendo que somos seres capazes de cometer erros de não conseguir chegar
a uma determinada etapa, porque somos limitados; ao passo que nos ajuda a
reconhecer essas características no outro, respeitando-o e compreendendo-o.
Elizângela Gurgel de França (EGF)
1. Sim, considero, pois através da Educação Física aprendi a respeitar meus
próprios limites e o dos outros. A cada aula eu sentia emoções e sensações
diferentes. Os conhecimentos que adquiri através das vivências corporais me
206
proporcionaram um melhor desempenho na minha vida profissional e pessoal. Hoje,
percebo na minha sala laboratório as mudanças que aconteceram no
desenvolvimento do alunado pois as aulas começaram a ganhar mais alegria.
2. Com certeza todos os saberes são essenciais na vida dos educadores que estão
sempre buscando conhecimentos, trabalhando em equipe e aprendendo a conviver
com o outro, ampliando e transformando o seu fazer pedagógico e fazendo do
mesmo um momento de reflexão na ação, sempre em busca de novos horizontes e
ampliando o seu universo de conhecimentos.
Gardênia Fernandes de Medeiros (GFM)
1. A disciplina de Educação Física contribuiu para que eu tivesse mais domínio do
meu corpo, reconhecendo e valorizando cada vez mais minhas diferenças para com
os outros. Quando eu me tocava não valoriza as partes internas, só as externas, só
o que eu via, a aparência. Hoje me valorizo como mulher. Desde a hora em que
207
acordo começo a me cuidar, observando como estou me sentindo, aprendi a ouvir a
mim e ao outro.
2. As vivências de que participei me levaram a pensar na minha sala laboratório,
quando as crianças já dispõem de uma linguagem verbal, mas comunicam muito
seus sentimentos através do choro e do próprio corpo. Desse modo procuro
entender a criança como um ser que possui sua vida particular e seus
conhecimentos, relacionando-se para desenvolver sua identidade e autonomia sem
bloqueios.
Geisa Leite da Silva (GLS)
1. Sim. Aprendi que nós, seres humanos, não somos uma dualidade, mente e corpo,
mas um conjunto de mente, corpo e espírito. Através do auto-conhecimento
interagimos com nosso meio com a consciência dos movimentos e das reações
mentais que estão manifestadas nele, tendo consciência também de nossas
208
limitações.
2. Acredito que sim. O auto-conhecimento ajuda na convivência com os outros no
sentido de conhecer seus avanços e limites. A partir daí surge as parcerias, a
cooperação, as trocas, contribuindo assim para nosso enriquecimento profissional e
pessoal.
Aprendemos a ser humildes e a reconhecer que crescemos mais quando
estamos no grupo respeitando as opiniões dos outros e demonstrando firmeza nas
nossas idéias, reconhecendo que nossas limitações nos impele a trocar idéias e
aceitar o pensamento do outro.
Iranédia Lemos de Almeida (ILA)
1. Sim, pois através das vivências pude despertar para uma nova concepção de
educação, o que me fez descobrir, reanimar e fortalecer meu potencial não só na
escola como fora dela. Passei também a valorizar as potencialidades dos meus e
209
das demais pessoas do meu cotidiano.
2. Ao desenvolver o auto-conhecimento percebo que o mesmo é via essencial na
integração dos outros saberes e que precisa sempre ser estimulado e aprofundado
durante toda a vida, pois assim estaremos sempre aproveitando os ensinamentos da
vida.
Ivoneide Pereira de Medeiros (IPM)
No início das aulas de Educação Física aqui no IFESP, eu não gostava de
participar das vivências corporais. Usei todas as faltas a que tinha direito, pois
210
quando precisava resolver algo, sempre escolhia o dia de aula dessa disciplina.
Passei a freqüentar por causa do excesso de faltas. No momento das
vivências preferia ficar olhando os outros, muito embora um desejo aflorava dentro
de mim, era a vontade de participar. Mas não conseguia por causa da timidez.
Até que fui incentivada pelas professoras da disciplina a vencer esses
obstáculos, assim como a fazer a leitura dos textos, refletindo as práticas.
Foi muito bom saber a importância do desenvolvimento corporal e o quanto
isso foi significativo para mim. Fazer essa viagem me provoca uma sensação
maravilhosa. Apesar de não ter dado a devida importância no início, aproveitei ao
máximo quando fui despertada para a sua importância em minha vida.
Fazia muito tempo que eu não dançava. Mesmo errando os passos na
dança coletiva, era magnífico sentir toda aquela energia. Nós nos contagiávamos de
alegria.
O relaxamento me fazia muito bem e a respiração profunda, me levava a
jogar fora todas as energias negativas que absorvemos durante a vida, pois sempre
estamos esquecendo de coisas muito simples e significativas como essas, que
renovam nossas energias.
1. O aprender a ser, provocou-me uma descoberta de mim mesma, não só no físico,
mas também no mental. Eu me descobri como pessoa e senti-me especial no
mundo, pois parecia que a muito tempo eu tinha parado de viver.
2. Acredito que o auto-conhecimento (aprender a ser) entrelaça todos os outros
saberes, pois melhorei em todos os aspectos. Uma de minhas maiores dificuldades
era conviver. Hoje sou mais tolerante e compreensiva com as outras pessoas; sou
capaz de refletir sobre o meu eu, tanto quanto pessoa quanto profissional.
Passei a praticar atividades físicas, com o objetivo de melhorar a estética do
meu corpo, pois aprendi a gostar mais de mim. Na sala de aula proporciono
momentos de alegria e prazer aos meus alunos e a mim, pois realizo atividades
como brincadeiras que contribuem para o desenvolvimento do ser.
José Édson de Araújo (JEA)
Vou começar falando sobre a dança na Educação Física, que apresenta
como finalidade o desenvolvimento da mesma na sala de aula. A dança provocou
211
em mim sensações que condicionam a vivência e a percepção do corpo, provocados
por estímulos exteriores, ao mesmo tempo permitindo a construção de movimentos
de expressão, observando o equilíbrio, a coordenação motora, o ritmo, agilidade,
imaginação, raciocínio, além de oportunizar a exploração do meio.
Já o relaxamento diminuía a tensão muscular, deixando-me mais a vontade,
trazendo alívio para as convulsões do dia-a-dia. Permitia, temporariamente, a
inatividade da vontade e da consciência, ou melhor, caracterizando o sono.
Respirar profundamente foi muito além do respirar em si. Houve acima de
tudo um reeducar, reelaborando a postura corporal, condicionamento dos pulmões e
melhor absorção do ar.
Por fim, é inegável a fantasia e o prazer das brincadeiras. O curso dá abertura
para reviver a infância, a mágica de ser criança outra vês, sendo a forma mais
consciente de alimentar o espírito.
1. Quando fala-se em crescimento, conhecimento, vivência, lembro-me de um texto
primordial da disciplina Educação Física: “O seu corpo – essa casa onde você não
mora”, de Thérèse Bertherat e Carol Bernstein. O texto traz vivências da autora,
alunos e outras pessoas. Ele é um reflexo do ser humano nesse cotidiano da
informação. Até então, para mim, o corpo dependia, apenas, de treino, exercício,
especialização, técnica. O princípio do interacionismo de Hipócrates, já postulava
que a mente influencia o corpo e que este influencia a mente.
Identifico que houve uma mudança de paradigma, levando a ampliação e
valorização da cultura, trazendo os brinquedos e a brincadeira, as danças, os
folguedos, para as nossas aulas.
2. O ser humano está em constante interação com o ambiente, em todos os
aspectos (sócio-afetivo, cognitivo, cultural e motor), por isso as ciências humanas se
interligam para que possamos aprimorar nossos conhecimentos em busca de formas
para resolver situações adversas. Aprender a conviver, a conhecer e a fazer nos dá
autonomia para o exercício da nossa prática, nos levando a aceitação do outro,
entender os seus e os nossos limites, praticando a ética humana.
Vejamos, é preciso está consciente do inacabamento desse auto-
conhecimento, porque a diversidade e o contexto social altera-se de acordo com a
necessidade do ser humano, portanto é pertinente que sejamos mediadores do
212
saber adquirido, melhorando comportamentos e estratégias para agir e interagir com
o ambiente e com a natureza.
Josefa Medeiros de Souto Silva (JMSS)
1. As vivências corporais proporcionadas pela disciplina Educação física,
provocaram em mim uma mudança no que se refere a descoberta de alguns
aspectos da minha vida, pessoal e profissional, que não tinha sido despertado.
213
Hoje, compreendo a importância de se trabalhar essa disciplina, oportunizando o
aluno a participar da dança, relaxamento e outras atividades que proporcione prazer,
estimulando cada um a sentir sensações e emoções despertando desde cedo esse
conhecimento que permanecerá para toda a vida.
2. Hoje percebo que esse auto-conhecimento ocorre entrelaçado com outros
saberes, principalmente na turma em que estou lecionando este ano. É uma turma
com alunos portadores de necessidades especiais, trabalhando de forma que os
alunos ditos “normais” aprendam a conviver uns com os outros e ajudar aqueles que
não querem participar das vivências corporais desenvolvidas em sala ou no pátio da
escola.
Quando acontece a aceitação das diferenças individuais, o desenvolvimento
das atividades vai acontecendo naturalmente.
Magnólia Michele da Cruz Souza (MMCS)
Antes de responder as questões, volto no tempo a fim de lembrar das
sensações e emoções sentidas por mim em algumas situações didáticas da
disciplina de Educação Física. Desse modo volto a infância para responder e
214
superar limitações que acompanham-me até os dias de hoje.
Pelo período de ensaio de uma festa junina, quando eu estudava no Ensino
Infantil, errei um passo e a professora me deu uma severa advertência. Desde então
eu não havia dançado mais até a entrada no IFESP, onde eu buscava participar das
danças, mas sentia-me mal, insegura. Somente com as aulas realizadas no período
de festa junina nos anos 2003 e 2004 é que senti verdadeiramente prazer na dança.
As prática de relaxamento permitiam-me refletir sobre o meu interior.
Quando brincava sentia-me livre para fazer da forma que eu queria.
1. Sim. As vivências corporais permitiam-me perceber o quanto nunca fui
trabalhada para experimentar e viver o corpo. Tenho pistas dessa afirmação ao
perceber as dificuldades que sinto de expressar-me corporalmente, seja no teatro,
na dança, nas expressões rítmicas.
2. Posso afirmar que através do reconhecimento de minhas dificuldades e
limitações eu permito e valorizo essas práticas corporais em pessoas que estão mais
próximas de mim. Percebo que hoje convivo melhor com as outras pessoas,
sabendo integrar suas habilidades às minhas. Na medida em que integro essas
habilidades, tenho tido retornos surpreendentes, onde percebo uma concentração
maior e um maior aprendizado.
Marilane Viana da Costa (MVC)
1. Sim. Através da análise e reflexão provocadas pelos textos trabalhados e
vivências realizadas na disciplina Educação Física. A professora formadora que
influencia com ânimo e motivação a turma, despertando o interesse e a participação
215
de todos durante as aulas. Ela auxilia, mas é nossa a responsabilidade maior pelo
aprendizado.
2. A partir do momento em que percebi que o auto-conhecimento estava
envolvido com os outros saberes, melhorei em minhas atividades, tanto na parte
teórica, quanto na prática. A importância dos saberes mexe com as circunstâncias
internas e externas do indivíduo. Não estou falando de qualidades ou defeitos, mas
de situações em que o indivíduo desenvolve o processo de aprendizagem, a sua
capacidade de adaptação e superação das dificuldades.
Neuma Ferreira Januário (NFJ)
1. Ao me transportar mentalmente para as aulas vivenciadas em Educação
Física, recordo que para mim, inicialmente, a disciplina seria de exercícios físicos
forçados, mostrando como exercê-los com as crianças. Ao contrário. A partir das
216
primeiras aulas onde me foi proporcionado o reconhecimento do meu corpo como
minha casa, percebi o quanto eu não me conhecia, senti vergonha ao me tocar, ao
me perceber. Me vi rejeitando os toques e a percepção das sensações ocorridas.
Nas aulas, em alguns momentos me vi como criança, que acabava de se
descobrir, o toque, o refletir, o brincar, dançar etc, foram de suma importância para o
meu aprendizado.
Ao inseri-las no desenvolvimento das aulas da sala laboratório, notei que as
crianças, ao vivenciar as brincadeiras, agora de forma mais coerente, dentro de um
contexto social e cultural, dentro de um planejamento com objetivos, vi que as
mesmas sentiam-se mais livres para aprender a ser, conhecer e fazer com que os
outros os conhecesse.
2. No decorrer das aulas do IFESP, percebi o quanto me auto-conhecer foi
renovador e mais do que nunca senti-me segura ao transmitir o saber. Melhor ainda
foi o diagnóstico que fiz com as crianças e saber o quanto elas se sentiam livres em
expressarem-se por meio de palavras, gestos e muita movimentação. Associar esse
saber com outros saberes foi fonte de aquisição de muitos conhecimentos.
Nilza Alves Câmara Sirino (NACS)
1. Sem dúvida! Acredito que mudei muito, não só em relação ao meu eu, mas
também em relação a como aprendi a ver os meus alunos, amigas e mundo ao meu
217
redor.
As vivências que a disciplina de Educação Física proporcionou a meu corpo,
a mim, fez com que eu valorizasse desde a minha respiração até meus dedos dos
pés. Isso porque fui trabalhada com muita segurança e aproveitei para utilizar esse
conhecimento na sala de aula e em particular ao meu próprio corpo. Os resultados
de cada aula dessa disciplina, era como se eu estivesse a cada instante batendo um
raio x de meu próprio corpo, ou de minha própria alma, ou seja me era oportunizado
a conhecer melhor cada parte do meu corpo. Aprendi a escutar mais e com calma os
batimentos do meu coração e a minha respiração.
Isso me fez ver o quanto é importante ter um tempo para nós mesmas, o
que certamente ajudaria a resolver muitos probleminhas do corpo e da alma. A
dança e o relaxamento, particularmente é o que mais gosto de vivenciar. Acredito
que ‘quem dança seus males espanta’.
A dança me proporcionou sentir uma sensação valiosa, onde pude perceber
que conhecendo meu corpo, também através do toque, eu estava conhecendo meus
limites, meus desejos e minhas necessidades de cuidar e proteger um corpo com
variáveis sensações.
2. Com certeza! A partir do nosso auto-conhecimento é que buscamos realizar algo
de melhor em toda a nossa vida. Acredito que um saber ajuda aos outros e estou
falando de saberes sociais, de conquistas, lutas, consciências dos saberes culturais
e profissionais.
Buscando realizar o melhor, cada um precisa conhecer-se e conhecer os
outros. Não dá para desenvolver os saberes sem antes conhecer meus próprios
limites.
A disciplina de Educação Física pode, de certa forma, oferecer a meu corpo
e a minha mente, a mim, uma descoberta de prazeres que eu até então não havia
despertado. Ou seja, o verdadeiro valor do brincar, do sentir, do tocar etc. Isso
envolve algo muito valioso: o coração.
Regina Maria da Silva Dantas (RMSD)
1. A disciplina Educação Física me proporcionou momentos significativos de
aprendizagem, onde através das situações vivenciadas pude, entre outras coisas
218
reelaborar conceitos e ampliar a percepção do meu próprio corpo. Durante essas
aulas, o compartilhar, a cooperação e o conviver (comigo e com o outro) foram
bastante praticados, provocando em mim um auto-conhecimento.
Nessas vivências pude reconhecer meus potenciais e limitações físicas,
mentais e emocionais, identificando o que precisava superar e o que já estava sendo
modificado (quebra da timidez, auto-confiança, disciplina do corpo e da mente). O
que me conduziu a uma visão mais ampla da responsabilidade social da Educação
Física e que o corpo humano é muito mais que um corpo físico. Ele é emocional,
mental e social e representa o meu “eu” na sua totalidade.
2. O conhecimento de mim mesma, me conduziu a um processo de maturação que
me fez ser capaz de desenvolver uma auto-avaliação e de reconhecer que essa
condição melhora os outros saberes (aprender a conviver, a conhecer e a fazer).
Na minha concepção, o auto-conhecimento se manifesta e se desenvolve
na interação com o outro. Portanto, na medida que o amplio passo a me relacionar
melhor comigo, com o outro e com o ambiente, ou seja, passo a ter um convívio
social mais equilibrado.
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