
maioria das vezes, resultados inteiramente diferentes dos resultados desejados, e
freqüentemente opostos a esses resultados desejados, e que, por conseguinte, os seus
móveis, igualmente, não tem mais do que uma importância secundaria para o conjunto
do resultado. Por outro lado, restaria saber que forças motrizes se ocultam, por seu
turno, por trás desses móveis, quais são as causas históricas que, na cabeça dos homens
atuantes, se transformam em tais móveis". A seqüência da exposição de Engels precisa
o problema: são essas forças motrizes que devem ser definidas, isto é, as forças que
"põem em movimento povos inteiros e por sua vez, em cada povo, classes inteiras; e
isso... através de uma ação durável e que resulta em uma grande transformação
histórica". A essência do marxismo científico consiste em reconhecer a independência
das forças motrizes reais da história com relação à consciência (psicológica) que os
homens têm dela.
No nível mais primitivo do conhecimento, essa independência se expressa,
originariamente, no fato de que os homens vêem uma espécie de natureza nessas forças,
e que nelas, e nas leis que as unem, distinguem leis Naturais "eternas". "A reflexão
sobre as formas da vida humana", diz Marx a propósito do pensamento burguês, "e,
portanto, sua análise científica, toma, em geral, um caminho que é o oposto ao da
evolução real. Essa reflexão começa a súbitas, e, por conseguinte, pelos resultados
acabados do processo de evolução. As formas... já possuem a estabilidade das formas
naturais da vida social, antes que os homens procurem levar em conta não o caráter
histórico dessas formas que de preferência lhes parecem já imutáveis - mas do seu
conteúdo"
[2]
Marx opõe a esse dogmatismo - cujas expressões foram, de um lado, a
teoria do Estado da Filosofia clássica alemã, e, de outro, a Economia de Smith e de
Ricardo - um criticismo, uma teoria da teoria, uma consciência de classe. Sob muitos
aspectos, é esse criticismo uma crítica histórica que dissolve, antes de tudo, nas
configurações sociais, o caráter fixo, natural, subtraído ao devir; que revela a origem
histórica dessas configurações, e que, conseqüentemente, e sob todos os pontos de vista,
estão submetidas ao devir histórico e também predestinadas ao declínio histórico. A
história, por conseguinte, não ataca unicamente o interior do domínio da validade
dessas formas (o que implicaria ser a história apenas a mudança dos conteúdos, dos
homens, das situações, etc., segundo princípios sociais eternamente válidos); e
tampouco essas formas são o alvo a que toda a história se propõe, cuja realização
aboliria toda a história, ao ter esta cumprido sua missão. Ao contrário, a história é, antes
de mais nada, a história dessas formas, de sua transformação, enquanto formas da
reunião dos homens em sociedade, formas que, a partir das relações econômicas
objetivas, dominam todas as relações dos homens entre si (e, por conseguinte, também
as relações dos homens com eles próprios, com a natureza, etc.).
Aqui, contudo, o pensamento burguês depara com uma barreira intransponível, posto
que seu ponto de partida e seu objetivo são sempre, mesmo de modo inconsciente, a
apologia da ordem de coisas existente ou, pelo menos, a demonstração de sua
imutabilidade.
[3]
"Portanto, já houve, mas não há mais, história", diz Marx,
[4]
reportando-se á economia burguesa. E esta afirmação é válida para todas as tentativas
do pensamento burguês por assenhorear-se, pelo pensamento, do processo histórico.
(Aqui, outrossim, se encontra um dos limites, com freqüência assinalado, da filosofia
hegeliana da história.) Desse modo, é dado ao pensamento burguês ver a história como
tarefa, mas como tarefa insolúvel. Porque ou ela deve suprimir completamente o
processo histórico e aprender, nas formas presentes de organização, as leis eternas da
natureza, as quais, no passado - e por razões "misteriosas" e de maneira incompatível