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O que hoje tem esse nome não passa de uma reunião confusa de homens e mulheres
descabelladas, atracados aquelles nestas, corpos unidos, a rodarem pelos quatro
cantos da sala, ao som do piano ou da sanfona, sem arte e sem compasso.
Foram-se os soireés familiares, porque essas se nivelaram as danças públicas, aos
chamados bailes de sociedade, onde a democracia excede as raias da conveniência, e
onde apparece também a moda sem modos das filhas de Eva.
E o namoro!! Que desbragamento, que pouca vergonha! As moças sahem de casa e
vão onde querem, sem dar satisfação aos paes, afim de juntarem-se aos namorados,
com os quaes ficam horas e horas, sem que os paes saibam por onde andam.
E o resultado de tudo isso é perder a mulher a consideração que outrora gosava.
Hoje, os homens não se levantam para ceder as senhoras o logar, na estrada de ferro,
no bonde, nas reuniões quaesquer; não lhes cedem a vez nas barbearias, nem o
transito nos passeios das ruas.
Ellas assim o querem, masculinisando-se, portanto... sua alma, sua palma.
Pois é. Assim que é, mas não devia ser.
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A crítica ao comportamento das moças também se volta para a educação doméstica.
Vae sendo muito descurada entre nós a educação doméstica das moças. Sabem estas
muitas coisas acessórias, como sejam: vestir-se elegantemente, pintar-se, tocar
piano, falar francez, etc., porém ignoram tudo quanto é necessário fazer para a bôa
ordem e o conforto do lar. […]
Qual a causa dessa anomalia?
Ora, são moças de famílias abastadas, que tendo creadas a serviço não julgam
necessário preoccupar-se com semelhantes ninharias; ora trata-se de jovens operarias
que vão trabalhar diariamente nas fabricas e não têm tempo para exercitar-se nos
misteres caseiros. […]
Pensem bem nisto as mães de família, e procurem ensinar as filhas os serviços
caseiros, de cujo conhecimento e pratica dependerá, não raro, a sua felicidade futura.
O discurso da Confederação Católica do Trabalho, concernente ao papel da mulher na
sociedade, reflete o pensamento oficial da Igreja, também expresso por Leão XIII:
Trabalho há também que se não adaptam tanto à mulher, a qual a natureza destina de
preferência aos arranjos domésticos, que, por outro lado, salvaguardam
admiravelmente a honestidade do sexo, e correspondem melhor, pela sua natureza,
ao que pede a boa educação dos filhos e a prosperidade da família. (1991, p. 27)
Essa campanha pela moralização do comportamento das mulheres corresponde
também a idéia de divisão sexual do trabalho e do espaço social. A boa moral reservava às
mulheres o espaço doméstico e as atividades desenvolvidas no lar. No entanto, é importante
destacar que, em 1921, as mulheres representavam 26,4% do pessoal ocupado, em Belo
Horizonte. Elas chegavam a ocupar mais vagas que os homens no setor têxtil
52
. Embora
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BOCÓ, Zé. ZIG-ZAGS. O Operário, Anno V, n. 29. Bello Horizonte, 20 de abr. de 1925, p. 3.
52
Fonte: Minas Gerais. Annuário estatístico, 1921. Bello Horizonte, Imprensa Official, 1926, vol. III, 254-275.
apud DUTRA, Eliana Regina de Freitas. . Caminhos operários nas Minas Gerais. São Paulo: Hucitec, 1988.
p.36.