
explicado pelo contexto”.
44
A dissociação da vista e da audição favorece outra maneira de escutar; não simplesmente uma escuta direta
(relacionada ao contexto da visão), mas uma escuta indireta, pautada pelo alto-falante.
45
“Antigamente, era
uma cortina que constituía esse dispositivo; hoje, a rádio e a cadeia de reprodução, em meio ao jogo de
transformações eletroacústicas, nos coloca como modernos ouvintes de uma voz invisível, nas condições de
uma experiência similar”.
46
Com a acusmática, Pierre Schaeffer vislumbrava suplantar o condicionamento cultural em face do sonoro,
dado pela tradição musical. “Tal é a sugestão da acusmática: negar o instrumento e o condicionamento
cultural, e pôr frente a nós o sonoro e seu possível musical”.
47
Escuta reduzida
48
A partir da experiência acusmática, Pierre Schaeffer passou a evidenciar a possibilidade de apreensão do
objeto sonoro, um modo de escuta. “O objeto sonoro surge quando levo a cabo por vez material e
espiritualmente uma redução mais rigorosa, assim como a redução acusmática.”
49
No desenvolvimento de
suas idéias, da busca por uma escuta que apreenda o objeto sonoro em si, o compositor se aproximou dos
conceitos fenomenológicos: epoché (redução do objeto) e “suspensão do mundo”. “Durante anos estávamos
fazendo fenomenologia sem saber”.
50
O epoché (redução) coloca o mundo entre parênteses, o juízo em suspensão, duvidando do objeto e da
44
“Surpris souvent, incertains parfois, nous découvrons que beaucoup de ce que nous croyions entendre n'etait en réalité que
vu, et expliqué, par le contexte.” ” (Schaeffer, 1966, p.93) [Schaeffer, 1988, p.56]
45
“La situation acousmatique, d'une façon générale, nous interdit symboliquement tout rapport ave ce qui est visible,
touchable, mesurable. Par ailleurs, entre l'expérience de Pythagore et celle que nous font faire la radio et l'enregistrement,
les differences séparant l'écoute directe (à travers une tenture) et l'écoute indirecte (par haut-parleur) deviennent, à la limite,
négligeables.” (Schaeffer, 1966, p. 93) “A situação acusmática, de uma maneira geral, nos proíbe simbolicamente toda
relação com o que é visível, tocável e mensurável. Por outra parte, entre a experiência de Pitágoras e o que nos fazem o
rádio e a gravação, as diferenças que separam a escuta direta (por meio de uma cortina) e a escuta indireta (pelo alto-
falante), resultam, para o limite, desprezíveis.” [Schaeffer, 1988, p. 56]
46
“Autrefois, c'est une tenture que constituait le dispositif; aujourd'hui, la radio et la chaîne de reproduction , moyennant
l'ensemble des tranformations élecrto-acoustiques, nous replacent, auditerus modernes d'une coix invisible, dans les
conditions d'une expérience semblable.” (Schaeffer, 1966, p. 91) [Schaeffer, 1988, p. 56]
47
“Telle est la suggestion de l'acuousmatique: nier l'instrument et le conditionnement culturel, mettre face à nous le sonore
et son 'possible' musical.” (Schaeffer, 1966, p. 98) [Schaeffer, 1988, p. 59]
48
Schaeffer fala de muitos aspectos da escuta no Traité, como a escuta reduzida, natural, banal, especializada, direta,
indireta, objetiva, subjetiva, abstrata, concreta, sonora, musical, ativa, passiva, entre outras que poderíamos garimpar com
mais rigor no texto. O que vale é perceber as multiplicidades e nuances que Schaeffer irá apontar recorrendo a termos que
lhe servirão para pensar a condição da escuta e a riqueza que pode assumir tal percepção.
49
“Il objet sonore lorsque j'ai accompli, à la fois matériellement et spirituellement, une déduction plus rigoureuse encore que
la reduction acousmatique.” (Schaeffer, 1966, p. 268) [Schaeffer, 1988, p. 163]
50
“Pendante des années, nous avons souvent fait ainsi de la phénoménologie sans le savoir” (Schaeffer, 1966, p. 262)
[Schaeffer, 1988, p. 159]
18