
70 Comunicação Social e Sociologia do Conhecimento: Artigos. 2006 © Jacob (J.) Lumier
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des com particular relevo, conduzindo à ne-
cessidade da colaboração de todos os quadros
sociais e de todos os indivíduos para chegar a
uma visão de conjuntos. Por essa via, verifi-
cam-se duas descobertas fundamentais para
toda a sociologia do conhecimento: (a) - a
multiplicidade dos gêneros de conhecimento e,
(b) - a diferente intensidade de ligação entre
esses gêneros de conhecimento e os quadros
sociais. O conhecimento, tomado desde sua
tendência a ser coletivo, pode definir-se como
“participação de uma realidade a uma outra”
sem que nesta outra se produza qualquer mo-
dificação (é o sujeito cognoscente que sofre
alterações em virtude do conhecimento). Daí,
contrariando ao mencionado Karl
MANNHEIM, se chega à formulação propri-
amente sociológica de que: (a) - a relação
entre quadro social e conhecimento não
é
geralmente uma ligação causal; (b) - não se
pode afirmar nem que a sociologia do conhe-
cimento institui a realidade social como causa
e o conhecimento como efeito, nem que o
conhecimento, como tal, age como causa
sobre os quadros sociais. Por isso a perspecti-
vação sociológica do conhecimento nada tem
a ver em si própria com a afirmação de que
um conhecimento é uma projeção ou um epi-
fenômeno de um quadro social, ou ainda que é
uma superestrutura ideológica. Trata-se, afi-
nal, de verificar a coerência de um conheci-
mento; trata-se da procura de correlações
funcionais entre os quadros sociais e o conhe-
cimento; trata-se de um estudo explicativo que
não levanta a questão do condicionamento de
uns em relação ao outro, mas limita-se a veri-
ficar seu paralelismo. Sob esse paralelismo
posto em destaque pelas correlações funcio-
nais podem surgir, segundo GURVITCH,
ademais da dependência ao mesmo fenômeno
social total, as relações entre o simbolizado e
o simbolizante. Quer dizer, dessa dependência
configurando uma realidade particularmente
qualitativa e contingente em mudança decorre
que a afirmação do significado em sua au-
tonomia relativa a respeito do significante -
ou do simbolizado a respeito do simbolizan-
te- seja também a antecipação no presente
de um tempo futuro, seja também “um
futuro atual”. Portanto, na nova sociologia
do conhecimento a subjetividade coletiva é
reconhecida do ponto de vista da metodologia
como eficaz e levada em conta em nível ope-
rativo. Se o conhecimento não
é separado
da mitologia, podemos notar finalmente, em
conseqüência, que, para a compreensão dos
sistemas cognitivos, se impõe o estudo do
coeficiente existencial do conhecimento. Por
sua vez, nesse estudo do coeficiente existenci-
al do conhecimento – incluindo os coeficientes
humanos (aspectos pragmáticos, políticos e
ideológicos) e os coeficientes sociais (varia-
ções nas relações entre quadros sociais e co-
nhecimento) -- deve-se ter em conta não so-
mente o reconhecimento da autonomia do
significado, mas deve-se acentuar igualmente
a equivalência dos momentos antitéticos (anu-
lação da oposição espiritualismo-
materialismo): a realidade que a sociologia
estuda é a condição humana considerada
debaixo de uma luz particular e tornando-se
objeto de um método específico.
Contrariando os que buscam o determinismo
único em sociologia, na maioria das vezes
atribuído às infra-estruturas, neste ensaio
seguimos a orientação de G.GURVITCH
(1894 – 1965) - o continuador/renovador dos
trabalhos do grupo de Émile DURKHEIM e
Marcel MAUSS - ao chamar a atenção para a
evidência de que, sem falsear e sem desacredi-
tar um conhecimento em sua coerência relati-
va não se pode afirmar que seja uma simples
projeção ou um epifenômeno da realidade
social. Quer dizer, antes de buscar a aplicação
da causalidade, deve-se ter em conta que na
sociologia do conhecimento (nova), a explica-
ção, a formulação de enunciados determinísti-
cos, não deve nunca na ‘primeira instancia’ ir
mais além do estabelecimento: (a) - de corre-
lações funcionais, (b) - de regularidades ten-
denciais e (c) - de integração direta nos qua-
dros sociais, pelo que se verifica a coerência
relativa de um conhecimento. Só então, uma
vez empreendida a verificação da coerência,
se poderá passar à fase de refutação ou desa-
creditar tal conhecimento para, enfim, nessa
suposição, mostrá-lo como epifenômeno de-
terminado pelas infra-estruturas. Além disso, é
preciso ter em conta que a sociologia do co-
nhecimento (nova), ao não atribuir valor ao
saber, não pode ela servir para invalidar o
‘falso saber’, isto é, invalidar a manifestação
que, desde o ponto de vista de sua realidade
social, parece e funciona como se fosse um
fato de conhecimento sem que o seja. Cabe
antes à sociologia do conhecimento renovada
estudar as variações do saber e para isso
estabelece o coeficiente social adequado ao
conhecimento mediante as correlações funcio-
nais que lhe são próprias. Pode então nossa
disciplina fazer sobressair a ineficácia do
“saber adequado” mediante a colocação do
conhecimento em perspectiva sociológica
possibilitando a constatação de perspectivas
utópicas, ideológicas, mitológicas, como as