
A DESCOBERTA DA INDIA I43
O Gama, porém, voltou-se e tremulo,
n'uma viva emoção, mandou arvorar a
bandeira real como para annunciar-se aos da
terra e elle mesmo, veneradamente, foi, de
uma em uma, accendendo as lâmpadas que
illuminavam os retábulos,
O porto estava vasio, barcos miudos ape-
nas por elle andavam com as suas velas de
palma e, sob a chuva que caía miuda, pondo
uma tela diante da vista, Calecut foi
desapparecendo como um sonho que se
houvesse esvaecido. Veio á noite, porém,
clara, de luar, e a India alli se mostrou
formosa, adormecida nos mares, dominada
pelas naus como a princeza da bailada que,
depois de quebrado o encanto que a guar-
dava, apparecia linda e solitaria, á espera do
beijo que a devia despertar para o amor. E o
Gama, no castello da nau que se balouçava,
com a face na mão, contemplava aquella
maravilha emquanto a maruja, grata ao
Senhor, entoava contente a oração da noite.
De quando em quando, no silencio das
horas mortas, as vigias de uma nau bra-
davam para as da outra: — A India! e o
Gama, que velava pensativo, com o espirito