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Presidente da República
Fernando Henrique Cardoso
Ministro da Educação e do Desporto
Paulo Renato Souza
Secretário Executivo
Luciano Oliva Patrício
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL
COLEÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS DO
REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL
PARA AS ESCOLAS INDÍGENAS:
informações para o professor
Presidente da República:
Fernando Henrique Cardoso
Ministro da Educação e do Desporto:
Paulo Renato Souza
Secretário Executivo:
Luciano Oliva Patrício
COLEÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS DO REFERENCIAL CURRICULAR
NACIONAL PARA AS ESCOLAS INDÍGENAS:
informações para o professor
Editor
Luís Donisete Benzi Grupioni
Com a colaboração de
André Toral, Bruce Albert, Denise Fajardo Grupioni,
Ismael Tressmann. Jussara Gruber. Kléber Gesteira e Matos,
lydia Poleck. Manana Kawall Leal Ferreira.
Nietta Lindenberg Monte e Sílvia Lúcia Bigonjal Braggio.
Capa
Fernando Secchi
Projeto gráfico/editoração
Vera Feitosa
Brasília. 1998
Secretária de Educação Fundamental:
Iara Glória Areias Prado
Diretora do Departamento de Política da Educação Fundamental:
Virgínia Zélia de Azevedo Rebeis Farha
Coordenadora Geral de Apoio às Escolas Indígenas:
Ivete Maria Barbosa Madeira Campos
MEC/SEF/DPEF
Coordenação Geral de Apoio às Escolas Indígenas
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Sala 615
70047-902, Brasília - DF
Tel: (061) 224-9598 e (061) 410-8630
Fax: (061) 321-5864
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Grupioni, Luís Donisete Benzi (Editor)
Coleção de livros didáticos do referencial curricular
nacional para as escolas indígenas: informações para o
professor / Luís Donisete Benzi Grupioni (Editor) - Ministério
da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Funda-
mental, Departamento de Política da Educação Fundamental,
Coordenação de Apoio às Escolas Indígenas.
Brasília: MEC/SEF/DPEF/CGAEI, 1998
42p.:il.
1. Educação escolar indígena. 2. Livro didático.
CDU 371.671.1
índice
Apresentação
7
Geografia indígena
9
O Livro das Árvores
13
Xanetawa Parageta - Histórias das Nossas Aldeias
16
Yama Ki Hwërimamouwi thë ã oni - Palavras escritas para nos curar
19
Pangyjej Kue Sep - A nossa língua escrita no papel
23
Adornos e Pintura Corporal Karajá
26
Atlas Geográfico Indígena do Acre
29
Aprendendo Português nas Escolas da Floresta
30
Txopai e Itôhã
35
O tempo passa e a história fica
37
"Madikauku - os dedos das mãos": Matemática e Povos Indígenas no Brasil
40
Apresentação
O programa de apoio à produção de material didático para as esco-
las indígenas da Secretaria de Educação Fundamental foi desenvolvido tendo
em vista a escassez de material em língua indígena que contemplasse as reais
necessidades dos diversos povos indígenas brasileiros, e que levassem em conta
os aspectos culturais, lingüísticos e demais saberes.
Como parte da política implementada pelo Ministério da Educação e do
Desporto para a educação escolar indígena está o apoio técnico e financeiro
aos cursos de formação de professores indígenas e à produção e publicação de
material didático-pedagógico a ser utilizado nas escolas indígenas. Dos livros pu-
blicados pela SEF para as escolas indígenas foram selecionados os que atendes-
sem a cada área do conhecimento trabalhada no Referencial Curricular Nacio-
nal para as Escolas Indígenas.
A produção de textos para as escolas indígenas concretiza-se com a
publicação de livros de qualidade, que resultam direta ou indiretamente dos
cursos de formação de professores indígenas. Em tais cursos, desenvolvem-se
idéias de construção de material didático, onde os professores expressam e re-
gistram as diferentes formas de linguagem, partindo de seus conhecimentos étni-
cos, com a orientação de profissionais experientes nessas atividades.
Apresentamos, assim, esta coleção de livros elaborados por professo-
res de diferentes etnias, pretendendo oferecer referências, exemplificando como
é possível a construção de material didático de qualidade adequado a cada
comunidade indígena, e ao mesmo tempo, iniciar um intercâmbio entre os dife-
rentes povos e escolas indígenas do país.
Secretaria de Educação Fundamental
Geografia indígena
GEOGRAFIA INDÍGENA
Parque Indígena do Xingu
Projeto de Formação de Professores
Indígenas do Parque Indígena do Xingu
ISA/MEC/PNUD
São Paulo, 1996, 63 págs.
O livro - O livro "Geografia Indígena -
Parque Indígena do Xingu" foi escrito e de-
senhado pelos professores índios do Parque
Indígena do Xingu e das Terras Indígenas
Kapôt/Jarina e Mekangotire, envolvidos no
"Curso de Formação de Professores Indí-
genas do Parque Indígena do Xingu para
o Magistério (2° Grau)". Ele é o resultado
de um conjunto de atividades didáticas de
geografia, coordenadas pelo geógrafo Re-
nato Antonio Gavazzi, durante o III Curso de
Formação de Professores índios, realizado no
final do inverno de 1995 nos Postos Indíge-
nas Pavuru e Diauarum. Na época, o curso
estava sob coordenação da Associação
Vida e Ambiente, mas a publicação foi en-
caminhada para edição pelo MEC, quan-
do o Instituto Socioambiental assumiu o ge-
renciamento do programa de formação
dos professores indígenas, em 1996.
Dividido em quatro capítulos (O que é
geografia?, O mundo no universo, Geogra-
fia da Área Indígena e O que é cidade?),
o livro contém textos, desenhos, pergun-
tas e exercícios preparados pelos profes-
sores índios para uso nas escolas indígenas
do PIX. Escrito em português, o livro regis-
tra a reflexão dos professores indígenas
sobre os seus conhecimentos étnicos e so-
bre os novos conhecimentos adquiridos
durante o curso e sintetiza, em textos e
desenhos, um novo saber geográfico.
O projeto - O Programa de Formação de
Professores Indígenas do Parque Indígena
do Xingu para o Magistério tem como ob-
jetivo formar 53 professores indígenas dos
povos Kuikuro, Kalapalo, Matipu, Nahukuá,
Mehinako, Waurá, Aweti, Kamaiurá, Trumai,
Suiá, Kaiabi, Yudjá, Tapaiuna e Panará, que
lecionam atualmente para cerca de 850
alunos, entre crianças e adolescentes, em
30 escolas em funcionamento.
O Programa de Formação teve início
em 1994 com a Associação Vida e Ambi-
ente, com apoio da Rainforest Foundation
da Noruega. Em 1996 passou a ser geren-
ciado pelo Instituto Socioambiental. Até
novembro de 1998, nove cursos foram re-
alizados, sendo que sete contaram com a
parceria financeira do Ministério da Educa-
ção e do Desporto. O programa se realiza
através de dois cursos anuais ministrados
por especialistas -lingüistas, antropólogos,
matemáticos e educadores- e de acom-
panhamento pedagógico às escolas indí-
genas nos períodos intermediários entre os
cursos. O Programa tem impulsionado o
estudo das línguas indígenas faladas no
Parque do Xingu e a produção de ortogra-
fias, que permitam o ensino da língua indí-
gena nas escolas e a produção de materi-
al didático-pedagógico diferenciado. Até
este momento, quatro livros foram edita-
dos com apoio do MEC (Geografia Indíge-
na, em 1996, Tisakisü, em 199, Kamajura
Jemo'etap, em 1988 e Livro de História, em
1998), e outros 5 estão em fase de publica-
ção.
O Programa, reconhecido em 1998
pelo Conselho Estadual de Educação do
Mato Grosso, tem uma duração prevista de
6 anos e pretende capacitar os professo-
res indígenas como educadores e pesqui-
sadores de suas culturas, de forma que eles
se tornem os agentes do processo de ensi-
no e aprendizado de suas escolas e sejam
capazes de formular e conduzir currículos
próprios, adaptados à sua realidade. Para
isso, o Programa tem investido no estudo,
por parte dos professores indígenas, de suas
línguas nativas e no desenvolvimento da
escrita nessas línguas, de forma a garantir
o uso da língua indígena ao longo de todo
o processo educacional, como disciplina
em si e como instrumento de ensino em
todas as outras disciplinas do currículo es-
colar. Temas como preservação dos recur-
sos naturais, melhoria de saúde e qualida-
de de vida, invasão de madeireiros, garim-
peiros, pescadores e caçadores, alternati-
vas econômicas e relacionamento com a
sociedade envolvente, em especial a dos
municípios vizinhos,m sido tratados nos
cursos visando uma integração da escola
no cotidiano dos grupos indígenas do Par-
que do Xingu. O Programa de Formação
dos Professores está articulado com dois
outros programas existentes dentro do Par-
que do Xingu: o de formação de agentes
indígenas de saúde, promovido pela Uni-
dade de Saúde e Meio Ambiente da
UNIFESP, e o de alternativas econômicas e
fronteiras, promovido pelo ISA.
Os autores e usuários do livro - O Par-
que Indígena do Xingu abriga, em seus
2.642.003 hectares no estado de Mato
Grosso, uma surpreendente variedade de
grupos indígenas, diferenciados dos pon-
tos de vista étnico, lingüístico e Sócio-Cultu-
ral.o quinze povos, com uma popula-
ção estimada em 3.496 pessoas (EPM/97),
distribuídos em 32 aldeias.
Procedendo do norte até o extremo
sul do Parque, encontramos os Suyá e os
Tapayuna, falantes de línguas do tronco;
os Kayabi e os Juruna, povos Tupi do alto
curso do Xingu; os Ikpeng (Txikão), grupo
Karibe, e os Trumai, falantes de uma língua
isolada. Até recentemente, também vivi-
am no Parque, os Panará, que reconquis-
tando parte de seu território tradicional,
mudaram-se para a TI Panará, localizada
no Pará.
Na porção meridional do Parque, na
bacia dos rios formadores do Xingu, sobre-
vive até hoje um conjunto de povos que
ao longo de séculos constituiu uma socie-
dade intertribal com uma organização so-
cial e traços culturais compartilhados. Esta
região, conhecida como Alto Xingu, é tam-
m uma unidade geográfica e ecológi-
ca, protegida pelo leque dos rios Kuluene,
Kuliseu, Batovi, Ronuro e Von den Steinen
e pelas serras Formosa, a oeste, e do Ron-
cador, ao les-
te, pelo Cha-
padão mato-
grossense, ao
sul, e pelas
corredeiras
do Xingu, ao
norte. Foi para
essa região
que confluí-
ram em suces-
sivas migrações e deslocamentos grupos
Tupi como os Kamayurá e os Aweti; gru-
pos Aruak, co-mo os Yawalapiti, os Mehi-
nako e os Waurá e grupos Karibe como os
Nahukwá, os Matipu, os Kalapalo e os
Kuikuro. No Alto Xingu foi se formando uma
rede de intensas trocas matrimoniais, co-
merciais e cerimoniais. Rituais como o
Kwarup, o Yamurikumalu, o Javari continu-
am agrupando as aldeias em grandes fes-
tas coletivas que recriam periodicamente
os laços de alianças entre unidades soci-
ais que prezam sua autonomia numa con-
vivência sempre realimentada. Esse pro-
cesso ainda hoje conduz as mudanças da
sociedade alto xinguana e suas estratégi-
as políticas de convivência interna e exter-
na, face a outros povos indígenas e face
aos brancos.
Os conhecimentos disponíveis sobre
a história do Alto Xingu, até o final do sécu-
lo XIX, fundamentam-se em pesquisas ar-
queológicas e em relatos da memória oral
indígena. A história escrita pelos brancos
começa com as viagens do etnógrafo ale-
o Karl Von den Steinen no final de 1800.
Foi ele quem apontou para o mundo a ri-
queza cultural da região. Nos anos 40, a
Expedição Roncador-Xingu, liderada pelos
irmãos Villas Boas marcou o contato defi-
nitivo com o universo dos brancos e com a
presença do Estado. O território alto
xinguano foi fechado e demarcado pelo
processo de criação do Parque, processo
que se desenrolou do início dos anos 50 até
1978. Para os índios, cuja população já ti-
nha sofrido sucessivas baixas demográficas,
em decorrência das violentas incursões dos
bandeirantes nos séculos XVIII e XIX e das
epidemias que acompanharam todas as
fases do contato, a criação do Parque sig-
nificou proteção, dependência e um terri-
tório com fronteiras definitivas. Deste foram,
todavia, excluídas áreas com valor históri-
co e cosmológico, e hoje grandes fazen-
das formam um anel de desmatamentos
e queimadas. Os riscos de contaminação
das nascentes do Xingu, que estão todas
fora dos limites do Parque, invasões de
madeireiros, garimpeiros, pescadores e
caçadores, novas necessidades de consu-
mo impostas pelo contato e o confinamen-
to nos limites do Parqueo os desafios atu-
ais para os povos xinguanos.
O Livro das Arvores
O livro - "O Livro das Árvores", editado pela
Organização Geral dos Professores Ticuna
Bilíngües, contou com a participação de
cerca de 200 professores indígenas, envol-
vidos no Curso de Formação de Professo-
res Ticuna - habilitação para o magisté-
rio. Organizado pela artista plástica
Jussara Gomes Gruber, o livro reúne de-
senhos e textos coletivos preparados pe-
los professores durante as etapas do cur-
so de formação. O livro faz parte de um
projeto intitulado "A natureza segundo os
Ticuna", que teve início em 1987, e que
tem como objetivo a realização de regis-
tros, levantamentos e pesquisas, além de
desenhos, sobre a fauna e a flora regionais,
que possam compor materiais didático-
pedagógicos para as escolas ticuna.
"O livro das Árvores" apresenta a inten-
sa e rica relação dos Ticuna com as árvo-
res que formam a floresta, com enfoque
especial para o valor e o significado das
várias espécies importantes para a sobre-
vivência física e cultural do grupo. Mais que
um livro de botânica, trata-se, na verda-
de, de uma memória das árvores, onde os
professores Ticuna registraram, nos textos e
nas imagens, conhecimentos práticos e va-
lores simbólicos. O livro foi premiado pela
Fundação Nacional do Livro Infantil e Ju-
venil, em 1997, como melhor livro informa-
tivo e melhor projeto editorial.
Jussara Gomes Gruber (Org.)
Projeto Educação Ticuna
Organização Gerai dos
Professores Ticuna Bilíngües
Benjamin Constant 1997, 96 págs.
O projeto - A Organização Geral dos Pro-
fessores Ticuna Bilíngües (OGPTB) foi cria-
da em dezembro de 1986. Ela é a res-
ponsável pelo curso de formação dos
professores Ticuna, que funciona no Cen-
tro de Formação de Professores Ticuna -
Torü Nguepataü ("nossa casa de estu-
dos"), localizado na aldeia de Filadélfia,
município de Benjamin Constant (AM). O
Centro foi planejado pelos professores e
construído em 1993, dispondo de salas
de aula, biblioteca e alojamentos para
os cursistas. Durante o período letivo, o
Centro abriga duas salas de aula de alu-
nos da 5° e 7° séries, e nos períodos de
férias, de janeiro/fevereiro e julho, acon-
tecem os cursos de formação dos pro-
fessores Ticuna.
O Curso de Formação de Professores
Ticuna - Habilitação para o Magistério teve
início em 1993 e, a partir desta, data fo-
ram realizadas 10 etapas. Em 1996,212 pro-
fessores ticuna concluíram o 1° grau com
qualificação para o magistério. Este curso
foi reconhecido pelo Conselho Estadual de
Educação do Amazonas em 1997, fican-
do a OGPTB autorizada a emitir os certifi-
cados de conclusão.
O Curso de Formação, que integra o
Projeto Educação Ticuna, envolve uma
série de atividades desenvolvidas com a
participação dos alunos/professores índios,
tais como a organização de materiais di-
dático-pedagógicos e a preparação de
um currículo diferenciado para as escolas
ticuna, além de sub-projetos voltados para
as áreas de saúde, meio ambiente e cultu-
ra. O Curso é ministrado por professores
com experiência em educação indígena,
procedentes de universidades e outras ins-
tituições de ensino do país.
Na produção de materiais didáticos,
os professores recebem orientação sobre
metodologia de pesquisa e participam
de oficinas para produção de textos e
desenhos. Além de "O livro das Árvores",
foram preparados outros materiais para
uso nas escolas: "Manual da Escrita -
Ngiã Tanaütchicünaagü", "Livro do Pro-
fessor" para aplicação do Manual da Es-
crita, "A Matemática do Meu Dia", e "Ma-
nual de Saúde - Doenças Sexualmente
Transmissíveis e Aids". Estão em prepara-
ção outros 10 livros, o Livro dos Peixes e o
Dicionário Ticuna/Ticuna e Ticuna/Portu-
guês.
O Projeto Educação Ticuna abrange
professores e escolas dos municípios de
Benjamin Constant, Tabatinga,o Paulo
de Olivença, Amaturá e Santo Antônio do
Içá. Nesses municípios existem 92 escolas
e cerca de 7.000 alunos ticuna. O Projeto
tem apoio do Fundo Internacional do De-
senvolvimento Agrícola - FIDA, Ministério da
Educação e do Desporto, Fundação Naci-
onal do índio, além da colaboração de
algumas prefeituras municipais do Amazo-
nas.
Os autores e usuários do livro - Os
Ticuna vivem no Brasil, na Colômbia e no
Peru. No Brasil, estão localizados no esta-
do do Amazonas, ao longo do rio Solimões,
nos seus afluentes e ilhas. Atualmente cons-
tituem o mais numeroso grupo indígena do
país, com aproximadamente 28.000 pes-
soas, e suas aldeias, cerca de 100, locali-
zam-se em terras dos municípios de Benja-
min Constant, Tabatinga,o Paulo de
Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá,
Fonte Boa, Anamã e Beruri.
Os Ticuna falam uma língua conside-
rada isolada, queo mantém semelhan-
ça com nenhuma outra língua indígena.
Sua característica principal é o uso de di-
ferentes alturas na voz, peculiaridade que
a classifica como uma língua tonai. Os
Ticuna estão organizados em clãs, ou "na-
ções", agrupados em metades, que regu-
lam os casamentos. Membros de uma
metade devem casar-se com pessoas da
metade oposta, e seus filhos herdam o clã
do pai. Numa das metades agrupam-se os
clãs com nomes de aves: mutum, maguari,
arara, japó, etc. Na outra metade estão os
clãs que possuem nomes de plantas e de
animais, como o buriti, jenipapo, avaí,
onça, saúva.
As primeiras notícias sobre a presença
dos Ticuna na região do alto rio Solimões
datam da metade do século XVII. Os con-
tatos com os brancos, todavia, acentua-
ram-se a partir das últimas décadas do-
zando, direta e indiretamente, a força de
trabalho indígena. Após o declínio da ex-
ploração da seringa, os Ticuna retornaram
às suas atividades agrícolas tradicionais, in-
tegrando-se, gradativamente, à economia
regional. Hoje em dia, constituem os princi-
pais fornecedores de farinha de mandio-
ca e de frutas para os mercados das cida-
des da região.
Apesar do longo contato com os
brancos e das formas de dominação, ex-
ploração e aculturação impostas pelas
frentes de expansão e pelas diferentes mis-
sões religiosas em atuação entre eles, os
Ticuna mantêm viva sua língua e sua orga-
nização social. Desde 1980, os Ticunam
lutando pelo reconhecimento oficial de
suas terras. Já foram homologadas 14 áre-
as, num total de 1.272.742 ha no Amazo-
nas.
culo passado,
quando suas
terras foram
maciçamente
ocupadas por
seringalistas e
comerciantes
que aí se esta-
beleceram
para extrair a
borracha, utili-
Xanetawa Parageta
Histórias das
Nossas Aldeias
Comunidade Tapirapé
MARI/MEC/PNUD
o Paulo/Brasília, 1996, 112 págs.
O livro - O livro "Xanetawa Parageta-His-
tórias das nossas aldeias" reúne histórias
pesquisadas sobre o território tradicional
dos Tapirapé pelos alunos da Escola Esta-
dual de Primeiro Grau Tapirapé, em 1992.
O projeto foi coordenado pelo antropólo-
go André Amaral de Toral e pelos indige-
nistas Eunice Dias de Paula e Luiz Gouvêa
de Paula.
Os Tapirapé encontram-se envolvidos
num processo de recuperação territorial e,
preocupados com o pouco conhecimen-
to das novas gerações a respeito de seu
território tradicional, as lideranças deste
grupo indígena, utilizaram-se da escola
como veículo para recuperação desse co-
nhecimento. Excursões, organizadas a
partir da escola e orientadas por mem-
bros mais velhos da comunidade, tenta-
ram minorar o pouco conhecimento dos
mais jovens a respeito das terras do gru-
po. Convertidos em autores e pesquisado-
res, os alunos reuniram parte do acervo da
memória tribal sobre a terra em que vive-
ram nos últimos dois séculos e com elas
compuseram este livro.
O projeto - Em 1973, o casal de indigenis-
tas Luís e Eunice Gouvêia de Paula, apoia-
do pela Prelazia deo Félix, instalou-se na
aldeia Tapirapé, atendendo o pedido do
grupo indígena por ensino feito ao bispo D.
Pedro Casaldaliga. O trabalho iniciou-se
com estudos sobre a língua e a grafia e
prosseguiu até a elaboração de um currí-
culo diferenciado e próprio para a escola
Tapirapé. Foi o primeiro currículo diferencia-
do de uma escola indígena reconhecido.
Hoje a "Escola Estadual de Primeiro Grau
Tapirapé" conta com professores indígenas
formados na escola. Todos os Tapirapé em
idade escolar aprendem a ler e escrever
em sua própria língua e em português.
A elaboração do livro visou a valoriza-
ção do conhecimento da história do terri-
tório tradicional Tapirapé, estimulando con-
sultas aos membros mais velhos do grupo
e às atividades de pesquisa realizadas no
espaço da escola. Ao mesmo tempo, o li-
vro serve de subsídio para a reflexão da
comunidade sobre a situação atual de seu
território, divulgando suas demandas
territoriais aos membros mais jovens e junto
a órgãos do governo.
O trabalho de feitura do livro iniciou-se
com a pesquisa dos alunos com seus pa-
rentes mais velhos. Muitos deles, nesse pro-
cesso, recuperaram parte da memória de
sua família sobre parcialidades de seu ter-
ritório tradicional. Juntando todas essas vi-
sões parciais reuniu-se um bom material
sobre a totalidade do território. Depois que
fizeram a pesquisa com os mais velhos, os
textos foram trabalhados em grupos pelos
alunos, que se encarregaram de juntar e
sistematizar as versões individuais em uma
só e ilustrar as histórias. O resultado desse
primeiro trabalho foi digitado e apresenta-
do aos alunos para alterações em novem-
bro de 1995 e setembro de 1996.
Uma vez editado, com o apoio do Mi-
nistério da Educação e do Desporto e do
Mari - Grupo de Educação Indígena da
USP, o livro foi distribuído aos Tapirapé. Ele é
um estímulo para novas pesquisas e con-
versas, além de ser material de leitura na
língua do grupo atualmente utilizado na
escola. Para o público mais amplo, o livro
é um testemunho da antigüidade da pre-
sença dos Tapirapé no Serra do Urubu Bran-
co e o registro poético da memória desse
povo sobre o local onde viveram. Anima-
dos com o livro e sua repercussão junto a
comunidade, os professores Tapirapé já es-
o em fase de finalização de um novo li-
vro. O novo livro dedica-se a registrar os
cantos religiosos do grupo e traz, também,
uma descrição de suas festas e rituais mais
importantes. Está sendo organizado e será
editado pelos próprios Tapirapé. Xanefawa
Parageta abriu o caminho: outras obras
m vindo na mesma trilha.
Os autores e usuários do livro - Os Ta-
pirapéo um povo de língua da família
Tupi-Guarani que habitam terras no Estado
do Mato Grosso, próximo à foz do rio Tapi-
rapé com o Araguaia. Por volta de 1900,
acredita-se que os Tapirapé somavam cer-
ca de 1.500 pessoas. Eles passaram a ter
contato regular com a sociedade brasilei-
ra a partir de 1950, quando se estabelece-
desapareceram. Quando em 1952, a Mis-
o das Irmãzinhas de Jesus, a pedido do
bispo dominicano de Conceição do Ara-
guaia, instalou-se entre eles, para prestar
assistência na área de saúde, a população
estava reduzida a cerca de 50 pessoas.
Na década de 60, toda a região do
Mato Grosso começou a ser ocupada por
grandes companhias agropecuárias e fa-
zendas que avançaram sobre os territórios
indígenas. A 30 km da aldeia cresceu o po-
voado de Santa Terezinha, depois transfor-
mado em município. Posseiros foram em-
purrados pelas novas fazendas para den-
tro do território indígena, na época ainda
o demarcado. Só em 1983, a Terra Indí-
gena Tapirapé-Karajá foi demarcada, com
a extensão de 66.166 ha, nos municípios de
Luciara, Comodoro e Santa Terezinha.
Hoje, o grupo experimenta um vigoro-
so processo de recuperação populacional:
somam 363 pessoas e estão envolvidos
num processo de recuperação de suas ter-
caça e coleta. Decididos a recuperar a
área e cansados de esperar uma ação por
parte da Funai, os Tapirapé procuraram for-
talecer sua presença no local que culmi-
nou com a re-instalação de uma aldeia,
chamada Tapi'itawa, que havia sido aban-
donada devido a um ataque dos Kayapó
em 1947. Ali edificaram uma aldeia no es-
tilo tradicional: um círculo de casa tendo
ao centro a takara, a casa dos homens.
Esse local, que constitui o "coração" do ter-
ritório tradicional Tapirapé, é denso de sig-
nificado afetivo, religioso e histórico. Seus
habitantesm sofrendo hostilidade decla-
rada de fazendeiros da região e da popu-
lação regional contrária ao reconhecimen-
to deste território, que recentemente foi
declarado como de posse permanente
dos Tapirapé. A demarcação física do
território Tapirapé já foi concluída. Falta ain-
da a retirada dos ocupantes. Os Tapirapé
estão confiantes que conseguirão, em bre-
ve, recuperar seu território tradicional.
ras tradicionais. Em 1993, os
Tapirapé reocuparam uma
parcela de seu território, in-
vadido por fazendas, no mu-
nicípio de Confresa e Santa
Teresinha, no extremo norte
do Mato Grosso. Esse territó-
rio, conhecido como Terra In-
dígena Urubu Branco, vinha
sendo utilizado nos últimos
anos pelos Tapirapé para
ram junto a um posto indíge-
na do antigo Serviço de Pro-
teção aos índios (SPI), na foz
do rio que leva o nome da tri-
bo, no noroeste do estado de
Mato Grosso. Na época, em
função do contato, do apa-
recimento de epidemias e
em conseqüência de ata-
ques de grupos indígenas
vizinhos, os Tapirapé quase
Esco/a dos Watoriki theripe
Programa de Educação de CCPY
CCPY/MEC/PNUD
o Paulo, 1997, 92 págs.
O livro - O livro 'Yama ki hwerimamouwi
the ã oni - Palavras escritas para nos cu-
rar" reúne cinco cartilhas bilíngües Yano-
mami-Português, produzidas na Escola dos
Watoriki theri pe ("habitantes da serra do
vento forte"), no período de 25 de maio a
17 de junho de 1996, no âmbito dos proje-
tos de educação e de saúde desenvolvi-
dos pela Comissão Pró-Yanomami (CCPY),
com o apoio do Ministério da Educação e
do Desporto. As cinco cartilhas versam so-
bre as epidemias dos brancos, o mal da
malária, o mal da gripe, o mal da tosse e
as dores de dentes.
A elaboração das cartilhas contou
com a participação de quatro jovens alfa-
betizados, Joseca, Cláudia, Geraldo e
Tenosi, todos fluentes na escrita do Yano-
mami; dos líderes da comunidade Lourival
Yanomami e Davi Kopenawa; e de quatro
assessores não-índios: Deise Francisco (mé-
dica), Ana Isabel Dias (dentista), Maria
Edna de Brito (educadora) e Bruce Albert
(antropólogo). Além de propiciar conhe-
cimentos básicos sobre questões de saú-
de relevantes para aquela comunidade,
a produção das cartilhas teve como obje-
tivo incentivar os alunos a produzirem tex-
tos na sua própria língua, gerando materi-
al de leitura para o processo de alfabeti-
zação em curso na escola daquela comu-
nidade.
Yama ki hwérimamouwi
the ã oni -
Palavras escritas
para nos curar
O projeto - A Comissão Pró-Yanomami
tem como objetivo a defesa dos direitos,
da cultura e das terras dos Yanomami da
Amazônia Brasileira. Em 1978, quando foi
criada, a CCPY desenvolveu uma grande
campanha pela demarcação do território
dos Yanomami. Paralelamente colocou
ênfase na defesa da vida deste povo indí-
gena através de um programa de saúde
desenvolvido na área. Para dar aos Yano-
mami condições de enfrentar o contato, a
CCPY iniciou em 1995 a implantação de
um projeto de educação integrado, que
além da alfabetização, visa a formação de
monitores de saúde e professores entre os
próprios índios.
O projeto de educação tem como
objetivo principal a oferta de subsídios e
mecanismos para a implantação de uma
política educacional que valorize a cultu-
ra yanomami e ao mesmo tempo prepare
esse povo para uma convivência digna
com a sociedade brasileira mais ampla. O
projeto visa, num primeiro momento, intro-
duzir o processo de alfabetização para que
os Yanomami possam ler e escrever em sua
língua materna, concomitantemente com
o aprendizado oral do português. Num se-
gundo momento, visa passar da escrita em
Yanomami para a escrita em português.
O projeto, que conta com apoio do
Ministério da Educação e do Desporto,
UNICEF e Earth Love Fund, iniciou-se na al-
deia dos Watoriki theri pe, sub-grupo Yano-
mami, que conta com uma população de
101 pessoas, das quais quase a metade
tem menos de 10 anos de idade. Este pro-
jeto foi estendido em 1998 para as aldeias
da região vizinha do rio Toototobi e alto
Demini (Balawaú).
Os autores e usuários do livro - Os Ya-
nomamio um povo da floresta amazô-
nica, cuja população é estimada em 22
mil pessoas, habitando um território no oes-
te do Maciço das Guianas, região de fron-
teira entre o Brasil e a Venezuela. No Brasil,
este território compreende parte dos Esta-
dos de Roraima e Amazonas. Aqui eles so-
mam cerca de 10.500 pessoas, distribuídos
em aproximadamente 220 comunidades,
numa área contínua de 9.419.108 ha.
O termo Yanomami é usado de ma-
neira genérica para designar o conjunto
cultural e territorial constituído pelo grupo
indígena como um todo. No plano lingüís-
tico designa uma família de quatro línguas
subdivididas em vários dialetos.
Os Yanomami praticam a caça, pes-
ca, coleta e, em menor grau, agricultura.
Habitualmente uma casa Yanomami abri-
ga de 30 a 150 moradores, podendo che-
gar a 300. Os grupos locais podem ser cons-
tituídos por uma ou várias casas comunitá-
rias, que mantém entre si intenso contato,
consolidado por relações econômicas,
matrimoniais, rituais ou de aliança política.
Da movimentação entre as aldeias ou con-
junto de aldeias depende a dinâmica e o
equilíbrio da vida econômica e social das
comunidades Yanomami. Essa movimen-
tação envolve, freqüentemente, contatos
intensos e prolongados entre aldeias que
distam de um a cinco dias ou mais de via-
gem a pé pela floresta, ou mais raramente
de canoa.
As cerimônias em homenagem aos
mortos (reahu) atraem grande número de
hóspedes de aldeias próximas e distantes.
Podem durar uma semana ou mais, pre-
cedidas por caçadas coletivas, feitas pe-
los anfitriões e pelos visitantes, muitas dan-
ças, pajelanças, prantos, brincadeiras, jo-
gos e desafios.o ocasiões para troca de
notícias e de objetos, para casamentos, re-
feições abundantes, definição de alianças
políticas e resolução das divergências.
A tradição oral indígena e o relato de
expedições científicas enviadas a essa re-
gião comprovam a presença yanomami
nesta área pelo menos desde o fim do-
culo XVIII. A partir da década de 50 insta-
bre a existência de ouro, cassiterita e ou-
tros minérios na região, dando início a uma
verdadeira corrida a essas riquezas. A par-
tir de 1987 a invasão dos garimpeiros che-
gou a 40 mil, levando malária, pneumonia,
fome e morte a 20% dos Yanomami.
Em 1978 foi criada a Comissão pela Cri-
ação do Parque Yanomami (CCPY), com
sede emo Paulo, que inicia uma cam-
panha nacional e internacional pela de-
marcação das terras Yanomami contra
uma primeira tentativa de desmembra-
mento do território Yanomami pelo gover-
no militar da época.
No final da década de 1980, o gover-
no federal começa a implantar o proje-
to Calha Norte, para a proteção de uma
extensa faixa ao longo da fronteira ama-
zônica brasileira. O território Yanomami é
fragmentado e demarcado em 19 pe-
quenas ilhaso contíguas, inseridas
numa reserva florestal destinada à explo-
ração econômica. Enquanto isso, fome e
morte alastram-se nas aldei-
as Yanomami.
Em 1991, o governo fede-
ral realizou uma operação de
retirada dos garimpeiros e a
terra Yanomami foi reconhe-
cida e demarcada fisicamen-
te como um território contí-
nuo. Em maio de 92, o presi-
dente da República homolo-
gou a demarcação do terri-
lam-se em terras Yanomami
várias missões religiosas, en-
tre elas a Missão Salesiana, a
Missão Consolata, a Missão
Evangélica da Amazônia
(Meva) e a Missão Novas Tri-
bos do Brasil. Na década de
70 a rodovia Perimetral Norte
corta o território Yanomami, e
o também divulgados os re-
sultados do Projeto Radam so-
tório e, neste mesmo ano, recomeçou a
invasão dos garimpeiros e eles ainda con-
tinuam na área, ilegalmente, ainda que em
número menor que na corrida ao ouro
(1987-1989).
Em 1998, o mega-incêndio que atingiu
o centro-oeste e o norte do país também
consumiu parte da floresta dos Yanomami.
Hoje, projetos de colonização contíguos à
área indígena estão avançando sobre o
território demarcado, abrindo caminho
para a invasão de colonos.
Pangyjej Kue Sep
A nossa língua escrita
no papel
Escola Zoró da Barreira / Depto. para
Assuntos Indígenas do Conselho
de Missão entre índios
(COMIN/IECLB) I NEIRO
Parque Indígena Aripuanã,
1994, 97págs.v
O livro - O livro "Pangyjej Kue Sep-Anos-
sa língua escrita no papel" contém textos
elaborados por Xinepusat Waratã Zoró,
com a colaboração de Xinepukujkap Zoró
e de outros alunos da Escola Zawãkej Alakit
(Escola Zoró da Barreira). Ilustrado por
Mbedurap Zoró, o livro foi organizado por
Ismael Tressmann, indigenista que viveu
cerca de um ano e meio entre este grupo
indígena.
O livro, todo escrito em língua Zoró,
destina-se à alfabetização de adultos e à
formação de professores indígenas. Temas
como o artesanato, a construção das
malocas, a floresta, os animais, a roça, a
alimentação, as festas, as músicas, a guer-
ra, a pajelança, o casamento e a história
do contato deste povo Tupi-Mondé com
os não-índioso tratados no livro. Foi o pri-
meiro livro didático editado pelo MEC den-
tro da linha de apoio à produção de
matérias didático-pedagógicos para as
escolas indígenas.
O projeto - O Projeto de Educação Esco-
lar entre os Zoró, realizado em parceria
com o Núcleo de Educação Indígena de
Rondônia, está inserido dentro de uma uni-
dade maior, o PROARI (Projeto de Assesso-
ria ao Parque Indígena Aripuanã). Os tra-
balhos de assessoria estão voltados para
as áreas de educação, saúde e apoio jurí-
dico, e incluem além dos Zoró, os vizinhos,
Cinta-Larga.
O objetivo principal do Projeto de Edu-
cação é a formação de professores indí-
genas, dentro da proposta de uma edu-
cação intercultural, comunitária, bilíngüe,
específica e diferenciada. A proposta do
projeto é fazer com que a educação es-
colar seja somada aos processos educati-
vos próprios da sociedade Zoró e criar con-
dições para que a própria comunidade
indígena possa gerir a sua escola.
Entre 1993 e 1994, o trabalho em edu-
cação escolar seguiu as seguintes etapas:
coleta de dados e pequenas descrições e
análises da língua; proposta de uma es-
crita, em colaboração com os educan-
dos; alfabetização de algumas pessoas
do grupo; e realização de dois encontros/
cursos para a elaboração de textos na
língua. O resultado desse trabalho foi o
livro "Pangyjej Kue Sep - A nossa língua
escrita no papel" e a publicação de um
Caderno de Preparação para a Escrita.
A proposta do livro partiu dos próprios índi-
os que desejavam um material acessível
que abordasse seus etno-conhecimentos e
sua cosmologia e que lhes permitisse exer-
citar a leitura.
A implantação da Escola Zawãkej
Alakit foi igualmente uma iniciativa dos pró-
prios Zoró. Com o aumento do número de
alunos, o barracão improvisado foi substi-
tuído por um espaço físico mais amplo,
construído com recursos da própria comu-
nidade.
Os autores e usuários do livro - Os Zoró
se autodenominam Pangyjej, que significa
"nós comemos carne moqueada". Povo
de língua da família Mondé, pertencem ao
complexo Tupi-Mondé, do qual também
fazem parte os povos Cinta Larga, Gavião,
Mondé, Surui, Aruá, todos de Rondônia, e
os Arara do Beiradão (MT).
Vivem na Terra Indígena Zoró, no mu-
nicípio de Aripuanã, Rondônia, entre os rios
Branco e Roosevelt/14 de Abril, tributários
da margem direita do rio Madeira. A área
localiza-se no Parque Indígena Aripuanã,
que abriga ainda os Cinta Larga e os Surui.
Algumas famílias Zoró vivem na Área Indí-
gena Igarapé Lourdes junto ao povo Ga-
vião e outras entre os vizinhos Cinta Larga,
na Área Indígena Roosevelt.
Os Zoró distribuem-se em vários grupos
locais semi-nômades, autônomos em ter-
mos políticos e econômicos, que falam
uma mesma língua e compartilham um
mesma cosmovisão. Hoje somam cerca de
300 pessoas.
A penetração e avanço da socieda-
de nacional naquela região a partir dos
anos 60, e mais intensivamente na déca-
da de 70, ocasionou uma enorme depo-
pulação, perda de parcelas do território
tradicional e outras conseqüências nega-
tivas que perduram até hoje. Os Zoró es-
tabeleceram seus primeiros
contatos amistosos com pe-
ões das fazendas próximas
em 1976. Na época, estima-
se que eles eram umas 800
pessoas. Em outubro do ano
seguinte um grupo Zoró, se-
guido pelos demais, aceitou
o contato com uma frente de
atração da Funai. O contato
oficial ocasionou a perda da
autonomia política e econômica, a seden-
tarização dos diferentes grupos locais numa
única aldeia, além de impor o cultivo de
grandes roçados para a produção de ex-
cedentes.
Entre 1978 e 1981, os Zoró foram con-
vertidos por missionários da Novas Tribos, por
meio da pregação de pastores Gaviões
(de Rondônia) e passaram a professar uma
forma de evangelismo fundamentalista. Al-
guns tornaram-se pastores dessa nova igre-
ja e passaram a considerar manifestações
diabólicas os antigos ritos, danças, festas,
mitos e pajelança. Por volta do início dos
anos 90, os Zoró se "desconverteram". Vol-
taram, então, a fazer guerra, tomar chicha
fermentada, fazer festa, dançar e procu-
rar novamente o velho pajé Paiô, para que
se encontrassem com os seres invisíveis e
realizassem os rituais de cura.
Em outubro de 1991, a Área Indígena
Zoró foi homologada com 352.000 ha. Em
setembro de 1992, posseiros invasores fo-
ram retirados da área. Sem as-
sistência, nem para cuidar dos
doentes, os Zoró, influenciados
por seus vizinhos Suruí e Cinta
Larga, se dividiram e cederam
às pressões das madeireiras,
que abriram estradas dentro
da área indígena e estão de-
vastando o território para a re-
tirada do mogno.
Adornos e Pintura
Corporal Karajá
Coleção Textos Indígenas - Série Cultura
Programa de Educação Indígena para o
Estado do Tocantins - Convênio Governo
do Estado do Tocantins/Funai/UFG
Goiânia, 1994, 47 págs.
O livro - O livro ''Adornos e Pintura Corpo-
ral Karajá" integra a coleção "Textos Indí-
genas - Série Cultura", editada pelo Pro-
grama de Educação Indígena para o Es-
tado do Tocantins, por meio do convênio
estabelecido entre o governo do Estado do
Tocantins, Funai e Universidade Federal de
Goiás. Organizado pela lingüista Lídia
Poleck, o livro reúne textos e ilustrações pre-
paradas por professores Karajá, durante a
VI etapa do Curso de Capacitação de Pro-
fessores Indígenas, realizado no município
de Formoso do Araguaia, no Estado do To-
cantins, em setembro de 1992. Os textos e
os desenhos foram elaborados pelos pro-
fessores para dar suporte a uma exposição
de artefatos sobre "festas", que o projeto
de educação realizou em Goiânia, no
Museu Antropológico da UFG, em come-
moração ao Dia Internacional dos Museus.
O livro apresenta um inventário co-
mentado das pinturas realizadas pelos
Karajá e Javaé tanto para uso diário quan-
to para os dias de festa, bem como sobre
o uso de adornos corporais.
O projeto - O Projeto de Educação Indí-
gena para o Estado do Tocantins, que con-
ta com apoio financeiro do MEC, envolve
professores indígenas das etnias Karajá,
Javaé, Xambioá, Xerente, Krahô e Apinayé.
Teve início em 1991 por meio de um con-
vênio entre o Museu Antropológico da Uni-
versidade Federal de Goiás, a Secretaria
de Educação do Estado do Tocantins e a
Funai.
O primeiro curso de capacitação, re-
alizado entre 1991 e 1993, envolveu uma
primeira turma de 38 professores de 37 co-
munidades diferentes, que participaram de
sete etapas de cursos. O segundo curso de
capacitação iniciado em 1994 envolve
uma segunda turma de 47 professores in-
dígenas que participaram de 6 etapas de
cursos. Em maio de 1997 iniciou-se o ter-
ceiro curso de capacitação, envolvendo
uma terceira turma de 19 professores, que
já participaram de duas etapas com um
total de 168 horas de aulas.
Além dos cursos de capacitação, o
projeto envolve acompanhamento dos
professores nas aldeias, preparação de ex-
posições sobre os grupos indígenas do
Tocantins para a sociedade envolvente e
produção de material didático-pedagógi-
co elaborado pelos próprios índios. Em prin-
cípio estes materiaism sido elaborados
nos cursos, mas de acordo com a aborda-
gem pedagógica do projeto eles deverão
ter uma produção contínua, envolvendo
alunos, e textos coletados pelos professo-
res-pesquisadores junto às suas comunida-
des.o textos onde se preservam as
especificidades das línguas indígenas, tan-
to estruturais quanto estilísticas, o que só é
possível a partir do momento em que os
índioso os produtores de seus textos. A
forma como desenvolveram estes textos
nos cursos está intrinsecamente ligada à
prática pedagógica e às futuras decisões
de encontrar-se um espaço para a língua
escrita em suas comunidades.
Os materiais editados pelo Projeto,
dentro da coleção intitulada Textos Indíge-
nas, estão distribuídos em três séries: Cultu-
ra, Natureza e Receituário. Além do livro
"Adornos e Pintura Corporal Karajá", já fo-
ram publicados os seguintes títulos: "Recei-
tas Krahô e Apinajé", "Cobras da Área
Xerente", "Festas Indígenas Xerente", "Pei-
xes da Área Xerente", Festas Krahô", "His-
tória de Aruanã".
Nas comunidades indígenas do Tocan-
tins há escolas ondeo oferecidos cursos
até a 4° série:o ao todo 56 escolas onde
lecionam 87 professores indígenas que
atendem 2.078 alunos. No que se refere
especificamente aos Karajá, há cinco es-
colas indígenas na Ilha do Bananal, onde
lecionam 23 professores que atendem 425
alunos.
Em julho de 1998 foi iniciado um Proje-
to de Formação envolvendo os professo-
res indígenas das três turmas que deverá
habilitá-los como professores da 1° fase do
1° grau, dentro de uma proposta educaci-
onal diferenciada, bilíngüe, específica e
intercultural.
Os autores e usuários do livro - Os
Karajá contam hoje com uma população
vivem na margem do rio Javaé, na Área
Indígena Boto Velho, município de Pium
(GO); os Xambioá, que habitam as mar-
gens do rio Araguaia, Al Xambioá, no mu-
nicípio de Araguaína, extremo norte de
Tocantins; e os Karajá, que vivem em 18
aldeias na ilha do Bananal, no Parque indí-
gena do Araguaia (TO). Há ainda famílias
Karajá que moram no estado de Mato
Grosso (Al Tapirapé-Karajá, Alo Domin-
gos e Al Aruanã ll); em Goiás (Al Aruanã I e
III); e no Pará (Al Maramanduba e na Al
Karajá Santana do Araguaia), além de ou-
tras áreas aindao regularizadas.
A história de contato dos Karajá com
a sociedade envolvente foi sempre mar-
cada por lutas de resistência desse povo
pela posse de suas terras, pela preserva-
ção de sua cultura e identidade étnica. É
provável que esse contato tenha se iniciar
do no século XVI e XVII. Os documentos
históricos registram inúmeros conflitos dos
índios com invasores de seus territórios, prin-
Os Karajá compõem uma
sociedade de pescadores e coletores, com
uma produção agrícola pequena. Mora-
dores das praias do Araguaia, acabaram
por especializar-se como fornecedores de
peixes e de mantas de pirarucu salgados
no comércio regional. Exímios artesãos, pro-
duzem grandes quantidades de bonecas
de argila, mudialmente conhecidas.
Os Karajá organizam-se em famílias
extensas. A chefia tradicional é exercida
pelo hyri, xamã, que possui dotes de
vidência e poder de cura. Realizam vários
e elaborados rituais, dos quais se destacam
a festa de Hetohoky, que assinala a fase
de iniciação do menino na sociedade
Karajá, e a festa de Arauanã, realizada
para agradar os espíritos.
estimada em 1.600 pessoas, a
maior parte dos quais vive no
Parque Indígena do Araguaia,
Tocantins. A língua Karajá, per-
tencente ao tronco macro-jê,
é falada por toda a comuni-
dade, exceto algumas pou-
cas crianças de pais com ca-
samentos mistos.
Os Karajá dividem-se em
três sub-grupos: os Javaé, que
cipalmente com explorado-
res de ouro. Esse contato vai
se acelerar a partir dos anos
50 e 60, sobretudo após a cri-
ação de Brasília, e hoje tende
a ser mais destrutivo pela
abertura de estradas na Ilha
do Bananal e pelo estabele-
cimento da hidrovia do Ara-
guaia.
Atlas Geográfico
Indígena do Acre
Projeto de Autoria da Comissão
Pró-índio do Acre CPI-AC
Rio Branco, J 996, 62 págs.
O livro - O livro "Atlas Geográfico Indíge-
na do Acre" foi preparado pelos professo-
res Apurinã, Ashaninka, Jaminawa, Kaxina-
wa, Katukina, Manchineri, Shawãdawa e
Yawanawa, do Acre, durante cinco cursos
de geografia realizados entre 1993 e 1996,
dentro do Programa de Formação de Pro-
fessores Indígenas, desenvolvido pela Co-
missão Pró-índio do Acre (CPI-AC) desde
1983. Organizado pelos geógrafos Renato
Antonio Gavazzi e Márcia Spyer Resende,
este é o oitavo livro didático na área de
geografia de autoria indígena publicado
dentro do projeto "Uma experiência de au-
toria".
Com textos e ilustrações realizadas
pelos professores indígenas, o Atlas congre-
ga diversas informações sobre o estado do
Acre e sua ocupação por índios e não-ín-
dios. Divisão política, hidrografia, ocupação
indígena, relevo, transporte e comércio,
caça e pesca, extrativismo, pecuáriao
alguns dos temas tratados nos diferentes
textos e mapas do Acre, elaborados com
fino acabamento pelos professores indíge-
nas em seu domínio da cartografia, das
técnicas de desenho e de registro históri-
co-geográfico como conteúdo curricular
de sua formação. Este livro, assim como o
próximo, fazem parte do mesmo projeto
descrito a partir da página 31.
Aprendendo Português
nas Escolas da Floresta
Projeto de Autoria da Comissão
Pró-índio do Acre
MEC/UNESCOICPI-AC
Rio Branco, 1997, 77 págs.
O livro - O livro "Aprendendo Português
nas Escolas da Floresta" apresenta textos,
desenhos e atividades voltados ao ensino
do português, elaborados em 1993 pelos
professores índios do Projeto de Autoria da
Comissão Pró-índio do Acre, durante o 12
o
Curso de Formação na Área de Estudo de
Línguas e Pedagogia. O livro contém tex-
tos e desenhos de professores Apurinã,
Ashaninka, Jaminawa, Kaxinawa, Katukina,
Manchineri, Shawãdawa e Yawanawa.
Organizado pela lingüsta Tereza Maher,
com a participação das educadoras Vera
Olinda Sena e Nietta Monte, o livro foi edi-
tado pelo Ministério da Educação e do
Desporto em 1997.
Trata-se de um material de pós-alfa-
betização em português como segunda
língua, voltado aos alunos das escolas da
floresta, para ampliar sua fluência lingüís-
tica oral e escrita. O livro, construído pelos
professores a partir de situações de uso da
língua portuguesa que consideram co-
muns e que necessitam de um enfrenta-
mento discursivo que favoreça sua relação
intercultural, está dividido em duas partes:
falando português na aldeia e falando por-
tuguês na cidade. A primeira é voltada
para crianças e jovens, com um domínio
incipiente do português, que desejam ou
m que interagir com não-índios (asses-
sores, vizinhos regionais, etc) em suas al-
déias. A segunda destina-se a jovens e
adultos, mais fluentes no português, e que
precisam se comunicar nas cidades em si-
tuações diversas como tirar documentos,
negociar produtos, votar, etc.
O projeto - Em princípios do ano de 1983
a Comissão Pró-índio do Acre deu início ao
Projeto "Uma Experiência de Autoria" que
visa possibilitar a formação continuada de
professores indígenas das etnias Kaxinawá,
Katukina, Kaxarari, Ashaninka, Manchineri,
Jaminawá, Shawãdawa, Yawanawá, Apu-
rinã e Poyanáwa, todas localizadas no
Acre. Inaugurava-se, nesta época, uma re-
novação nos modelos de educação esco-
lar no país e no continente, resultado do
momento histórico representado pelos "no-
vos Tempos dos Direitos": os processos de
demarcação de terras indígenas na região
vinham acompanhados pela necessidade
de substituição dos sistemas de dependên-
cia e integração, representados pelas es-
colas das agências missionárias e governa-
mentais, por novas formas de pensar e fa-
zer educação escolar indígena. Para tal
mudança, jovens indígenas eram escolhi-
dos, por suas comunidades, para serem
formados e, ao mesmo tempo, iniciarem
experiências de alfabetização bilíngüe de
seus parentes, cujas terras, na época, esta-
vam em processo de demarcação.
O projeto vem realizando, desde en-
tão, a formação permanente de um gru-
po de mais de 60 professores indígenas; a
elaboração, por uma equipe de assesso-
res e professores indígenas, de currículos
bilíngües e interculturais para as escolas e
para os cursos de magistério indígena; a
produção e publicação de quase uma
centena de materiais didáticos e para-di-
dáticos elaborados nos cursos de forma-
ção pelos professores indígenas e seus as-
sessores, para uso nas escolas; o acompa-
nhamento e assessoria permanente a es-
tes professores nas escolas das aldeias pela
equipe de educadores da entidade, de
forma a possibilitar-lhes a continuidade de
sua formação à distância. Por tais carac-
terísticas e linhas de trabalho, a marca re-
gistrada do projeto acreano, envolvendo
pesquisa e criação pedagógica, tem sido
o conceito de "autoria".
Durante todos os cursos de formação
oferecidos pela CPI-AC, os professores in-
dígenas desenham e escrevem, em suas
diversas línguas, recentemente grafadas e
em português, livros nas diversas áreas de
estudo de seu currículo (matemática, lín-
guas, geografia, história, ciências) queo
imediatamente editados pela entidade
para serem utilizados ao longo do ano le-
tivo em suas respectivas escolas, até se-
rem renovados por novos materiais nos
próximos anos. Desta forma, o projeto
conta com um extenso acervo de materi-
ais didáticos e de literatura de autoria indí-
gena, quem sendo referência importan-
te para os novos programas de educação
escolar no Brasil.
Estes livros, escritos desde a década
de 80, em português e nas diversas línguas
envolvidas no programa, referem-se a te-
mas como suas "Histórias de Hoje e de An-
tigamente" (1984); suas "Escolas da Flores-
ta" (1984); sua cultura material, "Fábrica do
índio" (1985); suas músicas, "Nuku Mimawa"
(1994); suas diversas abordagens da geo-
grafia, "Geografia Jaminawa", "Geografia
Manchineri", "Geografia Yawanawá", "Ge-
ografia Kaxinawá" (1995); sua relação com
outras literaturas indígenas e não-indígenas,
"Antologia da Floresta" (1996); suas mitolo-
gias pesquisadas entre os velhos e reunidas
em livros como "Shenipabu Miyui" (1996) e
"Noke Shoviti" (1998); totalizando hoje 57
publicações de uma nova literatura indí-
gena em sua fase atual de aquisição e uso
da escrita com a concomitante valoriza-
ção dos mecanismos tradicionais de
oralidade.
Por este elenco de realizações, o Pro-
jeto de Autoria tem sido reconhecido como
um dos principais modelos pedagógicos
possíveis para a Educação Escolaro só
no Brasil como em outros países da Améri-
ca Latina, promovendo importante papel
na discussão das políticas públicas a serem
traçadas para as populações indígenas.
Como resultado de sua trajetória histórica,
a CPI/AC conquistou a aprovação e regu-
lamentação dos currículos das escolas e
dos cursos de magistério pelo Conselho
Estadual de Educação do Acre em 1993 e
1997 respectivamente, tendo promovido,
desde seus primórdios, importantes e pio-
neiras parcerias entre órgãos federais e es-
taduais como a Funai, Ministério da Educa-
ção e do Desporto, Secretaria de Educa-
ção, algumas universidades brasileiras e or-
ganizações-não governamentais de cará-
ter civil.
Hoje existem no Acre mais de 110 es-
colas indígenas regularizadas, a maioria
delas desenvolvendo seus currículos dife-
renciados sob a responsabilidade dos pro-
fessores índios em processo de formação
no magistério, lecionando para cerca de
2.500 alunos. Apoia-se, assim, a permanên-
cia das populações indígenas em suas ter-
ras e sua preparação para o uso e a con-
servação destes territórios, em ações inte-
gradas de educação escolar, meio ambi-
ente e saúde.
Os autores e usuários do livro - Foi na
década de 70, que os índios do Acre e Su-
doeste do Amazonas passaram a ser re-
conhecidos como grupos étnicos diferen-
ciados, com o apoio de ações de indi-
genistas de entidades civis e religiosas e
com a instalação da Funai no Estado. Até
então, o governo e vários segmentos da
sociedade, desconheciam a existência
de índios naquela região, sendo estes
identificados como caboclos e integrados
em sua maioria comoo de obra nas
frentes extrativistas (borracha e castanha)
que chegaram à região nos finais do sécu-
lo passado.
Hoje, existem 27 terras indígenas, com
diferentes situações de regularização
fundiária, totalizando cerca de 13% da ex-
tensão total do estado. Nelas vivem apro-
ximadamente 10 mil índios das etnias Apu-
rinã, Ashaninka, Jaminawa, Kaxinawa,
Katukina, Manchineri, Yawanawa, Kulina,
Shawanawa, Shanenawa, Poyanawa,
Jamamadi, Nukini, Kaxarari, além de vári-
os outros grupos ainda isolados. Esses gru-
pos falam línguas pertencentes a três fa-
mílias lingüísticas: Aruak, Pano e Arawá.
A exploração e a ocupação, por bra-
sileiros e por peruanos, das extensas áreas
de florestas banhadas pelas bacias forma-
doras dos altos rios Purús e Juruá no Acre,
desenrolou-se a partir das duas últimas
décadas do século XIX. A partir deste perí-
odo, ocorreu a penetração de duas fren-
tes de expansão extrativistas: uma, itineran-
te e de curta duração, ganhou forma atra-
s das atividades dos caucheiros perua-
nos, que visavam a exploração do caucho
e de outros produtos florestais (peles de
animais e madeira-de-lei); outra, maciça
e duradoura, constituída por brasileiros que
passaram a trabalhar nos seringais abertos
nos altos rios incidentes, na faixa territorial
que viria a constituir posteriormente o Terri-
tório Federal do Acre.
Os integrantes dessas duas frentes ex-
trativistas praticamente cercaram as popu-
entes dos altos rios. Este período inicial de
conquista dos seringais foi marcado por
sangrentos enfrentamentos entre os mem-
bros dessas populações nativas tanto com
os nordestinos quanto com os caucheiros
peruanos. A estes enfrentamentos e suas
trágicas conseqüências deu-se o nome de
correrias. Os caucheiros freqüentemente se
aproveitaram de tradicionais conflitos inter-
tribais, aliando-se a uma das partes, forne-
cendo armamento, munição e outros pro-
dutos industrializados para que se realizas-
sem as correrias e fossem escravizados os
membros das populações derrotadas.
A inserção das populações indígenas
nos seringais administrados por patrões se-
ringalistas regionais se estende até meados
da década de 70 e é vista por seus mem-
bros como o tempo do cativeiro. Os inte-
grantes dessas populações passaram a ser
indistintamente denominados de caboclos
e a sofrer forte discriminação no interior dos
seringais. Os seringueiros cariús se viram
lações nativas,
pertencentes
aos troncos
lingüísticos
Pano e Aruak,
que tradicio-
nalmente ha-
bitavam as ter-
ras firmes e as
margens dos
igarapés, aflu-
atrelados aos barracões dos patrões, sen-
do obrigados a pagar renda pela utiliza-
ção das estradas de seringa, e roubados
nos preços da borracha e das demais mer-
cadorias. Eram proibidos de praticar festas
e rituais de suas tradições culturais, assim
como de atualizar importantes aspectos de
suas formas próprias de organização soci-
al e política.
Em 1975, a Divisão de Estudos e Pes-
quisas da Funai realizou os primeiros levan-
tamentos fundiários, demográficos, sócio-
econômicos e culturais das populações in-
dígenas que habitavam os rios Envira, Murú,
Humaitá, Tarauacá e Jordão. Como des-
dobramento desse levantamento e, prin-
cipalmente, do acirramento dos conflitos
pela posse da terra no Acre, a Funai cons-
tituiu equipes de trabalho para realizar, no
ano de 1977, as primeiras identificações de
terras indígenas em diferentes rios e micro-
regiões do Estado. Até às demarcações-
sicas das áreas indígenas do Acre, os di-
versos grupos étnicos locais receberam
pequenos montantes de recursos para o
financiamento das safras extratívista e agrí-
cola, através de distintos projetos de orga-
nização de cooperativas, intermediados
pela CPI-AC junto a entidades governa-
mentais e agências humanitárias estrangei-
ras.
Nesses primeiros anos, a estruturação
das cooperativas serviu de base para a
conquista e a ocupação produtiva dos se-
ringais incidentes nas áreas indígenas, as-
sim como para a reorganização política,
econômica e social dos grupos familiares
extensos que integravam as populações
indígenas. A partir de 1982-83, as lideran-
ças começaram a participar das assem-
bléias indígenas e começaram a exigir a
agilização da demarcação de suas terras,
o financiamento de suas safras extrativistas
e agrícolas e a capacitação de membros
dos próprios grupos para a execução de
programas educacionais e sanitários a se-
rem desenvolvidos em suas áreas.
Nasce assim o Projeto "Uma Experiên-
cia de Autoria", como forma de atender a
solicitação das lideranças indígenas na sua
luta pela libertação dos patrões e de ou-
tros agentes formais do violento contato
até então promovido nesta região. É o iní-
cio dos novos Tempos dos Direitos, onde a
escola passa a ocupar um lugar estratégi-
co fundamental.
Txopai e Itôhã
Kanátyo Pataxó
Programa de Implantação das Escolas
Indígenas de Minas Gerais
MEC/UNESCO/SEE-MG
Belo Horizonte, 1997, 24 págs.
O livro - O livro "Txopai e Itôhã" reúne uma
história contada por Apinhaera Pataxó e es-
crita e desenhada por Kanátyo Pataxó. É a
história do começo dos tempos, do primei-
ro índio que surgiu na terra, Txopai, e do
surgimento da nação Pataxó. O livro foi
editado pelo Programa de Implantação
das Escolas Indígenas de Minas Gerais e pu-
blicado pelo Ministério da Educação e do
Desporto em 1997. Destina-se a um públi-
co infantil, Pataxó ou não.
Os autores e usuários do livro - Os Pata-
xóm uma longa história de contato com
diferentes segmentos da sociedade brasi-
leira. Por força do contato abandonaram
sua língua original, da qual conservam al-
gumas palavras, e expressam-se apenas
em português. Pertencem a família lingüís-
tica Maxakali, tronco Macro-Jê.
o originários do sul da Bahia, onde
atualmente estão nove dentre os dez terri-
tórios Pataxó. Expulsos de sua aldeia origi-
nal, Barra Velha, por causa da criação do
Parque Florestal do Monte Pascoal pelo
IBDF, alguns Pataxó vieram para Minas Ge-
rais na década de 80. Residem atualmen-
te, junto a alguns Pankararu e Krenak, no
Posto Indígena Guarani, no município de
Carmésia.
O artesanato é a principal atividade
dos Pataxó. Vivem também da agricultura
de subsistên-
cia e da cria-
ção de ani-
mais. Os Pata-
xó estão vi-
vendo um in-
teressante e
vigoroso pro-
cesso de re-
construção
de sua identi-
dade étnica. Como parte deste processo
deve ser entendido o uso de seus nomes
indígenas, a realização do ritual do Auê, a
criação de cantos rituais na língua Pataxó
e a reconstrução de seu acervo mitológi-
co.
Participam, juntamente com outros
povos indígenas localizados no Estado de
Minas Gerais, do Programa de Implanta-
ção das Escolas Indígenas de Minas Ge-
rais, descrito a partir da página 38.
O tempo passa
e a história fica
índios Xacriabá
Programa de Implantação das Escolas
Indígenas de Minas Gerais
MEC/UNESCO/SEE-MG
Belo Horizonte, 1997, 95 págs.
O livro - O livro "O tempo passa e a histó-
ria fica" reúne textos e ilustrações realiza-
das pelos professores Xacriabá que parti-
cipam do Curso de Formação do Progra-
ma de Implantação das Escolas Indígenas
de Minas Gerais. Durante dois anos, os pro-
fessores realizaram pesquisas sobre as tra-
dições do povo Xacriabá em suas aldeias.
Histórias e casos de seus pais, avós e tios
foram ouvidos, gravados e transcritos. Este
trabalho resultou em tipos diferentes de tex-
tos: narrativas em versos e em prosa de fa-
tos importantes na vida da comunidade,
e coletâneas de contos tradicionais, que
pertencem ao universo ficcional do sertão
mineiro.
O livro foi editado pelo Programa de
Implantação das Escolas Indígenas de Mi-
nas Gerais e publicado pelo Ministério da
Educação e do Desporto em 1997.
Os autores e usuários do livro - Os Xa-
criabá contam hoje com uma população
de 6.000 pessoas. Pertencem ao tronco
Macro-Jê, família Akwén, embora hoje fa-
lem apenas o português. Tinham como ter-
ritório tradicional uma grande extensão de
terras nos estados de Minas Gerais, Bahia e
Goiás. Foram aldeados na Missão de
Monsenhoro João no início do século
XVIII juntamente com diversos outros gru-
pos, prevalecendo a identidade Xacriabá.
drado como tentativa de genocídio.
Apenas após estes assassinatos a área foi
homologada e os invasores retirados.
Hoje vivem na Terra Indígena Xacria-
, demarcada em 1979 e homologada
em 1 987, com 46.415 ha, nos municípios de
Itacarambi e deo João das Missões, ao
norte de Minas Gerais, a 800 km de Belo
Horizonte. Distribuem-se em cerca de 30
aldeias, afastadas entre si e dirigidas por
um cacique geral. Cada aldeia tem seu
representante, eleito pela comunidade
e indicado pelo cacique geral. As mu-
lheres cuidam dos trabalhos domésticos
e ajudam os homens a trabalharem na
terra e a cuidarem dos animais. Aos ho-
mens cabe, além dos trabalhos de sub-
sistência, a condução da vida política do
grupo. Realizam tradicionalmente o Toré
e o consumo de uma bebida preparada
com a casca da raiz de uma árvore co-
nhecida como Jurema.
Vivem da agricultura de subsistência
e da criação de gado. Castigados pelas
inconstâncias do clima, os Xacriabá, como
todos os habitantes da região, índios ou
não, sofrem as conseqüências da seca
constante.
O projeto - O Programa de Implantação
das Escolas Indígenas de Minas Gerais teve
início em 1993, com a realização de dois
encontros de educação indígena. Seu ob-
jetivo é a criação de escolas indígenas no
Estado de Minas Gerais e a formação de
66 professores indígenas para atuar nas es-
colas Krenak, Pataxó, Xacriabá e Maxaka-
li. Esses professores atendem hoje 1364 cri-
anças Xacriabá, 321 Maxakali, 61 Pataxó e
35 Krenak em 11 escolas indígenas nucle-
adas. Participam do programa, além da
Secretaria de Educação de Minas Gerais,
a Universidade Federal de Minas Gerais, A
FUNAI e o Instituto Estadual de Florestas (IEF).
A coordenação do programa é com-
posta por um Conselho de Representantes
formado por dois membros de cada uma
das quatro etnias, três representantes da
Secretaria de Educação e de um repre-
sentante da FUNAI, IEF e UFMG. Além de
visar a construção de uma proposta de
educação escolar indígena específica e
diferenciada para cada um dos quatro
grupos envolvidos, o programa tem
Em 1728, receberam do governo uma do-
ação de terra, da qual atualmente resta
apenas um terço e pela qual tiveram que
lutar muito para conservar a sua posse.
Em 1987,
na aldeia Sa-
, foram mor-
tos três Xacria-
, entre eles
olíder Rosalino
Gomes de Oli-
veira. O mas-
sacre, cometi-
do por grilei-
ros, foi enqua-
como objetivo habilitar os professores in-
dígenas, através de um curso de magis-
tério, viabilizar o ingresso dos professores
indígenas no quadro de professores do Es-
tado de Minas Gerais e publicar material
didático-pedagógico para uso nas esco-
las indígenas.
O Curso de Formação é realizado no
Parque Estadual do Rio Doce e nas própri-
as áreas indígenas. Os módulos desenvol-
vidos no Parqueo semestrais, com 192
horas-aula cada e abrangem áreas de sa-
ber relacionadas ao português, matemáti-
ca, ciências naturais, geografia, história,
educação física e educação artística. Os
módulos desenvolvidos nas áreas indíge-
nas tratam de cultura, língua e uso do terri-
tório indígena, específicos para cada povo.
Orientados por assessores, os professores
desenvolvem atividades de pesquisa, lei-
tura e escrita nas aldeias eo acompa-
nhados por supervisores.
O Programa de Implantação das Es-
colas Indígenas de Minas Gerais tem tam-
m como meta incentivar e propiciar a
produção escrita dos índios para uso nas
escolas indígenas. Até este momento fo-
ram editados, em parceria com o Ministé-
rio da Educação e do Desporto, "O povo
Pataxó e sua história" (1997), "Coisa tudo
na língua Krenak" (1997), "Plantas Medici-
nais: fonte de esperança e mais saúde"
(1997) e "O livro que conta histórias de an-
tigamente" (1998). Além dos livros, quatro
vídeos-documentários estão sendo elabo-
rados sobre os grupos indígenas de Minas
Gerais para subsidiar o ensino de primeiro
e segundo graus desenvolvidos nas esco-
las mineiras.
Madikauku - os dez
dedos das mãos:
Matemática e Povos
Indígenas no Brasil
Manana Kawall Leal Ferreira
MEC/SEF
Brasília, 1998, 177págs.
O livro - O livro "Madikauku - os dez dedos
das mãos: matemática e povos indígenas
no Brasil" é uma publicação do Ministério
da Educação e do Desporto, concebida
especialmente para acompanhar a cole-
ção de livros didáticos do Referêncial Na-
cional Curricular para as Escolas Indígenas.
De autoria de Mariana Kawall Leal Ferreira,
do Mari-USP, o livro conta com introdução
de Ubiratan D'Ambrósio.
O livro procura contribuir para o estu-
do da matemática nas escolas indígenas
do país. O estudo da matemática, por par-
te dos povos indígenas, é visto como algo
imprescindível nos dias de hoje, quando o
contato intercultural entre os diferentes po-
vos, e entre estes povos e a sociedade
envolvente, tornou-se inevitável. Trata-se de
uma proposta pedagógica, cuja finalida-
de é levar para a sala de aula a pluralida-
de de idéias matemáticas, expressas em
atividades do cotidiano. O livro traz suges-
tões didáticas para os professores desen-
volverem trabalhos de pesquisa e exercí-
cios em educação matemática, mostran-
do como transformar resultados matemá-
ticos em conteúdos e material de ensino.
O livro, fartamente ilustrado, está divi-
dido em duas partes. A primeira parte, "A
matemática é uma criação humana",
aborda diferentes invenções que, ao lon-
go da história, as sociedades lançaram
o para classificar e ordenar o mundo,
dando-lhe sentido. Os povos desenvolve-
ram modos próprios para se orientar no
espaço, contar, calcular, reconhecer e
medir as formas do universo. Disto resul-
taram formas culturalmente distintas de
manejar quantidades, números, medidas,
formas e relações geométricas. Compos-
ta por quatro capítulos, esta parte enfoca
concepções matemáticas de quatro po-
vos indígenas: Juruna, Palikur, Xavante e
Kayabi.
Na segunda parte, "Números, contas
e mapas", trabalha-se com idéias matemá-
ticas do sistema numérico decimal, das
quatro operações fundamentais e das idéi-
as de legenda, escala, perímetro e área.
Traz informações sobre os algarismos indo-
arábicos, a escrita e o valor posicionai dos
números. Oferece sugestões para lidar com
estas idéias matemáticas, a partir de situa-
ções do dia-a-dia, como o cotidiano na far-
mácia e a necessidade de se entender o
traçado dos mapas.
Assim estruturado, o livro mostra que
existem muitas matemáticas, isto é, que
cada sociedade tem uma maneira espe-
cífica e própria de entender o mundo que
a cerca, articulando formas também es-
pecíficas e próprias de contar e manejar
quantidades. Pretende-se que o livro, cuja
elaboração foi encomenda pelo Ministé-
rio da Educação e do Desporto, seja um
subsídio para que professores indígenas de
várias regiões do país possam discutir a im-
portância do estudo da matemática e de
sua relação com outras áreas do currículo
escolar.
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