
N E A D E S P E C I A L
Cheuei a ouvir que alumas parteiras já “perderam a mão,” não realizam mais
partos caseiros. Um dos motivos apontados pelos moradores é que “agora, há
os postos de saúde; há os hospitais.” As muheres grávidas vão aos médicos, não
precisam das parteiras. Os comentários reticentes indicam uma velada con-
corência que ainda persiste entre o saber médico e o saber das parteiras (as que
eão ativas), como neas palavras: “(…)Quando eu cheuei lá, fui chegando e o
menino nasceu. Eu cuidei, quando o médico chegou, o menino já eava enrolado,
a mãe já tava lá agasahadinha, já ajeitadinha. Agora foi assim, ele falou assim:
“Epa, tomou minha prossão!” Eu falei assim: “Tomei não, eu já cedi pro senhor.
ue ela já foi cedida, porque eu não eou aüentando mais. Minha coluna já não
eá aüentando mais, agora eu já cedi pro senhor” (…) Antes dele chegar eu já
eava aqui, eu já mexia” [ anos, parteira, moradora em um distrito de Rosário
das Almas, veio de uma comunidade rural e mantém sua roça].
Contudo, a convivência com eas pessoas, direta ou indiretamente, imprime
na vida dos jovens conteúdos de afetividade e práticas que os orientam ou os
confortam nas queões que eão ligadas ao corpo, ao sexo, às paixões ou mes-
mo ao mundo dos espíritos; mas, também, podem repor ou aumentar dramas
ou conitos sociais e, portanto, levá-los a outras experiências com a sexualidade,
com a intimidade posto que também eão convivendo com as transformações
da sociedade tida como moderna, traduzidas para os jovens em maior liberdade
nas experiências sexuais antes do casamento ou mesmo, no caso dos casais, pelas
aventuras extraconjugais, seuindo em oposição aos valores sexuais subjacentes.
Seundo Gidens, “para as pessoas que vivem nees contextos, sobretudo para
as muheres, as transformações que eão atualmente ocorendo são dramáticas
e perturbadoras” (, p.). Não obstante, símbolos do passado que dão sentido
à construção das masculinidades e feminilidades, no presente, em Rosário das
Almas, acabam por dicultar a legitimação dos novos modelos, bem como a con-
No documento organizado pela Secretaria Municipal de Saúde, ao analisar os números de
crianças nascidas através do acompanhamento do Programa de Saúde Familiar, pode-se perce-
ber que há um número expressivo de partos feitos em casa. Do total de crianças nascidas
em , setenta crianças nasceram em casa, algumas com o auxílio de parteiras.
Em Rosário das Almas houve a retomada da importância dos serviços destas parteiras à
comunidade. Talvez esteja condicionado ao fato do município não possuir infra-estrutura
médico-hospitalar para atender as muitas comunidades rurais. Mas, em outras circunstâncias
perguntar sobre as parteiras era um exercício quase de garimpo para trazer à tona informa-
ções, ou mesmo quando falava com aquelas que já tinham feito ou ajudado em algum parto,
dizer-se parteira ou ajudante eram falas que vinham reticentes, pois me diziam: “ah, isso foi
antigamente, hoje, já não usa mais disso, não.”
A parteira, no município, uma vez feito o parto e cortado o cordão umbilical da criança passa a
ser reconhecida como “avó” e no caso da parteira estar amamentando e passar a amamentar
a criança de outra mãe, é reconhecida como “mãe-de-leite.”