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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
SIMONNE LISBOA MARQUES
CIBERCULTURA E EDUCAÇÃO:
NOVOS DESAFIOS
Rio de Janeiro
2007
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SIMONNE LISBOA MARQUES
CIBERCULTURA E EDUCAÇÃO:
NOVOS DESAFIOS
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Estácio de como
requisito parcial para obtenção do título
de MESTRE EM EDUCAÇÃO.
ORIENTADORA: Profª. Drª. Estrella Bohadana
Rio de Janeiro
2007
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Ao meu pai, que juntamente com
minha mãe, não mediu esforços
para que eu pudesse chegar até
aqui. Saudades eternas.
AGRADECIMENTOS
À Profª. Drª. Estrella Bohadana, pela competência, pelo acompanhamento e pelo
compromisso na realização desta investigação.
À Profª. Drª. Alda Judith Alves-Mazzotti, pelas sugestões oferecidas à pesquisa.
Aos professores do Mestrado em Educação, em especial à Profª Drª. Lúcia Regina
Goulart Vilarinho, pelos conhecimentos transmitidos em sala de aula.
Aos funcionários do Mestrado — especialmente à Ana Paula —, que sempre
tiveram tempo e boa vontade para me atender.
Ao Instituto Nacional de Educação de Surdos — INES —, pela concessão de
licença para cursar o Mestrado.
À minha querida irmã e melhor amiga, que me ajuda em tudo que preciso, também,
no Mestrado, muitas vezes, debateu textos comigo e me incentivou na realização da
pesquisa.
À minha amiga Giselle Batalha, por toda amizade e companheirismo dedicados ao
longo do curso.
SUMÁRIO
CAPÍTULO I –
Introdução
1.1 Formulação do problema ............................................................................................
1
1.2 Objetivo ......................................................................................................................
10
1.3 Justificativa .................................................................................................................
10
1.4 Pressupostos Teórico-Metodológicos .........................................................................
12
1.5 Organização do Estudo ...............................................................................................
16
CAPÍTULO II Revisão da Literatura
2.1 Das Mudanças tecnológicas ........................................................................................
18
2.2 Microeletrônica e novos paradigmas ..........................................................................
22
2.3 A revolução da informática e a globalização ..............................................................
25
2.4 Cibercultura e efeitos sobre a cultura .........................................................................
29
2.5 A Educação no âmbito das TIC ..................................................................................
36
CAPÍTULO III – Resultados decorrentes dos Procedimentos Metodológicos
3.1 Pré -Análise ............................................................................................................ 45
3.2 Exploração do Material ............................................................................................
48
3.3 Tratamento dos Dados .............................................................................................
98
CAPÍTULO IV –
Conclusão ................................................................................... 107
REFERÊNCIAS
......................................................................................................
116
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
1.1 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA
Meia-noite do dia 31 de dezembro de 2000. Pessoas das mais variadas culturas
orientais e ocidentais comemoravam a virada do século, independentemente de religião
ou de etnia. Devido ao movimento rotacional da Terra, os festejos se deram em momentos
distintos, mas possíveis de serem vistos por todos no planeta. Fogos iluminavam os céus;
as pessoas — reunidas em casa, na praia, nas avenidas — se abravam, brindavam,
choravam, bebiam; crianças brincavam sem entender o que estava ocorrendo; alguns
rezavam, outros dormiam, considerando o fato como outro qualquer; bebês nasciam outros
se iam para sempre. Telefones não paravam de tocar, celulares estavam ocupados ou fora
da área de cobertura. A rede estava congestionada de mensagens, lembranças, desejos,
frustrações, projetos, sonhos... Nesse momento, provavelmente, uma breve retrospectiva
foi realizada dentro de cada habitante do planeta.
Foi-se o século XX, entrou o século XXI. E, com ele, a pergunta trágica, fáustica:
— O que nos espera?
Dúvidas e incertezas? Hora de repensar? Pois é. O futuro não é o aniquilamento do
passado, mas a sua superação, adverte-nos Gadotti (2000). Para Hobsbawn, uma coisa é
certa: “o futuro não pode ser a continuação do passado(1998, p.562), alguma coisa tem
de ser feita, pois, caso contrário, a Humanidade irá fracassar em seu projeto de dar
continuidade ao próprio existir-no-mundo.
Nem o aniquilamento, nem a continuidade: condições para se (re)pensar o que nos
reserva o futuro. Segundo Jung (1999, p. 1), historicamente, “é sobretudo em épocas
profundamente marcadas por dificuldades físicas, políticas, econômicas e espirituais que o
ser humano volta os seus olhos angustiados para o futuro e se multiplicam, então, as
antecipações, utopias e visões apocalípticas”.
É mister, então, recorrer a pensadores, que, na incansável luta contra o
obscurantismo, se debruçaram sobre os problemas cruciais da Humanidade e, hoje, o
2
feixes de luz a clarear a memória humana com orientações, demarcando e mostrando
possíveis caminhos.
Caminhos que, para Freire (2003, p.38) em conversa com Myles Horman, estão aí.
Para os caminhantes. Caminhantes de uma vida inteira. E esse pensador, magistralmente,
solta no ar, sonoramente, as seguintes palavras: “Acho que, embora seja preciso ter um
esboço, estou certo de que faremos o caminho caminhando”.
Na busca desse esboço citado por esse renomado educador, para delinear
possibilidades de um caminho, recorremo-nos a Hobsbawn (1998, p.11-20), que divide, em
sua obra “O Breve século XX”, a história desse culo em três fases: a era da catástrofe, a
era de ouro e a era do desmoronamento. A era da catástrofe se estendeu do início da
Primeira Guerra Mundial até o término da Segunda, com aproximadamente 40 anos de
autoritarismos, genocídios, enfim, uma verdadeira sucessão de barbáries; a era de ouro
correspondeu às décadas de 60 e 70, quando uma paz “congelada” possibilitou a
estabilização do capitalismo, e importantes transformações econômicas ocorreram no
decorrer desse período; e na era do desmoronamento, que sucedeu a era de ouro, os ideais
socialistas se decompuseram com os destroços do muro de Berlim e puderam ser
presenciadas uma série de crises étnicas, crises éticas e crises ecológicas. Um mal-estar
generalizado instalou-se.
Um mal-estar já anunciado por Freud (1997, p.111):
A questão fatídica para a espécie humana parece-me ser saber se, até que ponto,
seu desenvolvimento cultural conseguirá dominar a perturbação de sua vida
comunal causada pelo instinto humano de agressão e autodestruição. Talvez,
precisamente com relação a isso, a época atual mereça um interesse especial. Os
homens adquiriam sobre as forças da natureza um tal controle, que, com sua
ajuda, não teriam dificuldades em se exterminarem uns aos outros, até o último
homem. Sabem disso, e é daí que provém grande parte de sua atual inquietação,
de sua infelicidade e de sua ansiedade.
As proticas e sábias palavras do Dr. Sigmund Freud encontram eco na atualidade
com as enormes conquistas materiais, apoiadas na ciência e na tecnologia. Assim, houve
enorme expansão do uso de novos medicamentos, com a utilização de aparelhagens ultra-
sofisticadas na Medicina, como tomografia computadorizada e ressonância magnética; a
cura de doenças até então incuráveis; firmaram-se as grandes conquistas da engenharia
getica, que trouxeram consigo o aumento do uso de pesticidas, de tranilizantes, de
3
drogas, como o ecstasys; e, entre esses acontecimentos, estão inclusos os riscos do uso das
armas nucleares.
Segundo Boaventura de Sousa Santos (2005, p. 41), uma espécie de
“desassossego no ar”, uma sensação estranha de estarmos à deriva, na orla do tempo, onde
os “excessos de indeterminações residem na desestabilização das expectativas”.
A princípio, pode-se pensar que tal desassossego é típico da passagem de milênio,
um fenômeno passageiro e superficial. No entanto, esse autor adverte que esse desconforto,
nada tem a ver com as gicas de calendário, mas com uma desorientação por que passam
os “mapas cognitivos”, que deixaram de ser confiáveis, tornando-se de vital importância a
revisão das práticas e teorias que atravessaram os tempos (op. cit., 2005, p. 41).
Como imagens refletidas em espelhos, as sociedades são construídas e reproduzem
as identificações dominantes em um dado momento hisrico. Nesses espelhos,
observamos um conjunto de instituições tais como, a ciência, a educação, a religião, a
informação refletido. Entretanto, a imagem de cada uma dessas instituições, tal qual
realmente cada uma é, não se apresenta clara, não se podendo reconhecer os limites entre
cada uma, haja vista que estão de mãos dadas com o poder. Assim, despontam por entre
essas imagens as grandes discrepâncias entre o potencial técnico atingido por parte das
sociedades, a ausência de uma sociedade mais justa e menos desigual e o desinteresse
político de alterar tal cenário.
Para Laymert dos Santos (2003, p. 254), presencia-se uma proliferação de pós: pós-
moderno, pós-humano, pós-industrial, pós-História. Com tal proliferação, evidencia-se
uma preocupação maior em se pensar no futuro, possivelmente relacionada à era do
(des)conhecimento, quanto ao futuro que estamos a construir agora.
Apresentando um outro olhar em relação às transformações vivenciadas por nós,
humanos, Milton Santos (2003, p.17-19) destaca que o século XX acabou numa desordem
global, “num mundo confuso e confusamente percebido”, numa nova fase da história
humana, denominada de globalização.
A globalização, conforme Ortega e Lopez (1997a, p.172), corresponde a um
processo de reestruturação do sistema de acumulação e reprodução dos principais centros
capitalistas mundiais. Tal reestruturação cobre todas as esferas produtivas e apóia-se,
sobretudo, nas consideráveis inovações da alta tecnologia da comunicação, da informação
e dos transportes. Obviamente, tal processo se relaciona com o discurso político, a fim de
que as populações de todos os lugares, por intermédio de seus grupos dominantes, se
4
convençam de que a globalização é o horizonte natural no futuro do planeta. Em outras
palavras, encobre a possibilidade da existência de uma outra forma de existir-no-mundo.
No que tange à globalização, Dreifuss (2004) destaca que desde a década de 1980, a
economia mundial vem sofrendo significativas mudanças, tanto em sua profundidade
quanto em seu alcance, a partir da introdução de um complexo sistema capacitador. Esse
sistema está amparado por uma série de inovações tecnológicas e de conhecimento
denominadas pelo autor de “tecnobergs”, em analogia aos icebergs. Os “tecnobergs”
apresentam sua maior massa sob a superfície econômica, alimentando-se do embasamento
cultural-civilizatório, provocando importantes rupturas científicas, impactantes alterações
nas pesquisas, na forma de gerenciar, organizar e produzir, conclui o autor (op. cit. 2004).
Em face desse sistema capacitador, nessa nova “era” da história humana, o papel da
informação é crucial: notícias chegam em tempo “real”, pois a aceleração contemporânea
impõe novos ritmos aos deslocamentos dos corpos e idéias, introduzindo uma inusitada
mutação no saber, decorrente de toda uma série de alterações das funções cognitivas
humanas — memória, imaginação e percepção.
O espaço deixou de ser um obstáculo. As fronteiras geográficas parecem ter sido
derrubadas, ou melhor, mudaram de significação. O Estado encontra-se “desmaiado”,
cedendo lugar às determinações das grandes corporações (SANTOS, 2003, p.42).
Enquanto isso, a desigualdade aumenta entre os indivíduos. E, a esse respeito, Canclini
(2007, p. 16) adverte que se trata de uma questão teórica e de um dilema-chave nas
políticas culturais e sociais. E acrescenta que “não é como reconhecer as difereas,
como corrigir as desigualdades e como conectar as maiorias às redes globalizadas. (...) é
necessário pensar os modos pelos quais se complementam e se desencontram”. Para esse
autor, as questões das diferenças, das desigualdades e do fato de o sujeito não estar
conectado às redes, das desconexões, não se apresentam como se mostravam há trinta anos.
Tais questões mudaram desde que a globalização tecnológica passou a interconectar todo o
planeta e a criar novas diferenças e desigualdades (op. cit., p. 16).
As inovações cienficas e tecnológicas são evidentes e tendem a se ampliar. As
novas tecnologias invadem as diferentes culturas, introduzindo uma nova linguagem, uma
nova forma de apreensão do conhecimento e da produção. “Contudo, a globalização
desenvolve-se de forma desigual, ainda que pretenda uniformizar, culturalmente, a
humanidade, longe está de homogeneizar o quadro econômico-social existente” (SANTOS,
1997b, p.56).
5
É dentro desse cenário que podemos justificar a passagem do milênio festejada por
culturas diversas, indicando, talvez, uma ocidentalização do planeta
1
, marcando a
homogeneização das culturas, sustentadas e sustentando as tecnologias de informação e
comunicação, principais responsáveis pelo “livre trânsito” entre civilizações. Pela primeira
vez na história, parece que todos somos habitantes do mesmo planeta. Civilizões inteiras,
culturas das mais variadas, apresentam a possibilidade de se comunicarem e trocarem
informações, através de uma grande rede. Tudo se encontra interligado e se modificando a
cada instante. Um mundo culturalmente convergente e, ao mesmo tempo, resistindo para
manter suas especificidades (DREIFUSS, 2001, p. 144).
Assim, nas últimas décadas, presenciamos as culturas sendo invadidas por
computadores pessoais, objetos digitais, como fax, celular, câmera digital, aparelho de
DVD, cartão magnético, criando uma nova cultura, a qual se superpõe sobre as
existentes. Esse fenômeno, denominado por estudiosos como cibercultura, tem se
constituído num vasto campo de investigação, nas diversas áreas do saber.
Pierre Lévy (1999, p. 87), um dos precursores no estudo, sustenta que a
“cibercultura é um conjunto de técnicas, de maneiras de agir, maneiras de ser, de valores,
de representações, que estão relacionadas com a extensão do ciberespaço. Ainda Lévy
(1999, p.92) “define” ciberespaço como um espaço metarico, espaço de comunicação,
aberto pela interconexão mundial dos computadores”. O binômio cibercultura/ciberespaço,
segundo o autor supracitado (2004, p.152), instaurou um novo espaço antropológico, que
possibilita a efetivação de uma inteligência coletiva, na qual os indivíduos são detentores
de conhecimentos específicos, enriquecedores para o intelectual coletivo. No entanto, é
mister trazer para a discussão o pensar de Canclini (2007, p.17). Esse autor nos observa
que, de um mundo multicultural, passamos a outro, intercultural e globalizado. De acordo
com as concepções multiculturais acrescenta —, a diversidade de culturas é admitida,
demarcando sua diferença e propondo políticas relativistas de respeito, as quais, com
freqüência, reforçam a segregação. Já a interculturalidade —complementa — remete à
confrontação e ao entrelaçamento, remete àquilo que sucede quando os grupos entram em
relações e trocas. E, conclui, ressaltando que “ambos os termos implicam dois modos de
produção do social: multiculturalidade supõe a aceitação do heterogêneo;
1
Embora os judeus tenham seu dia comemorativo de ano novo diferente do calendário dos cristãos, a
maioria deles comemoraram a virada do século.
6
interculturalidade implica que os diferentes são o que são, em relações de negociação,
conflito e empréstimos recíprocos” (CANCLINI, 2007, p.17).
Em meio a definições e a redefinições de termos que se propõem a abarcar um
pensamento que seja condizente com a época, estabelece-se a cibercultura.
A cibercultura, contudo, não deve ser vista como o resultado do advento do
computador e da internet, que é um meio de comunicação de natureza aberta,
descentralizado, que permite e depende da participação de todos os pontos na composição
de uma rede. Ela é muito mais do que isso. É uma cultura em emergência. Nas palavras de
Castells (2003, p. 443), “não é a internet que muda os comportamentos, [...] são os
comportamentos que se apropriam da internet, amplificam-se e potencializam-se, a partir
do que o”. Assim, o ciberespaço, ao se constituir num novo espaço de sociabilidade,
possibilita a produção de novas formas de relações sociais, com códigos e estruturas
próprias.
Ao mesmo tempo, Dupas (2001) lembra que valores, idéias e hábitos são
padronizados como mercadorias a serem consumidas. As tensões estabelecidas com as
mudanças tecnológicas e a globalização neoliberal reconfiguram a cultura contemporânea,
atingindo de forma acentuada o campo da Educão, nos levando a questionamentos, tais
como: até que ponto a Educação, que possui um papel fundamental na formão do
homem, em face da necessidade de novos paradigmas, está ciente de sua importância nesse
momento histórico? Em que medida as Universidades, como instituições formadoras por
excencia e, por vezes, palco das pesquisas, estão preocupadas com o questionamento da
ciência, nas suas mais diversas áreas de expressão?
Pesquisadores têm-se debruçado sobre essas questões e trazido norte para se
repensar essas questões. Questões que, ao serem respondidas, devem levar em conta o
pensar freireano.
Freire (2000b, p. 44) adverte que a tarefa educacional possui duas opções: a de
tornar o homem objeto ou transformar o homem em sujeito, ou seja, para a domesticação e
alienação ou para a liberdade, respectivamente.
Para Adorno (2003, p.143), Educação é o mesmo que emancipação”, o que
significa conscientização em relação a uma realidade, objetivando preparar os homens para
se orientarem no mundo. No entanto, é perceptível o fato de que isso transcende a esfera
das instituições de ensino. A Educação não contempla apenas o desenvolvimento de
habilidades e o domínio de conteúdos. É também o despertar da sensibilidade e da auto-
7
reflexão crítica, na tentativa de superar a barbárie, sendo, portanto, decisiva para a
sobrevivência da humanidade.
Para Zuin (2001), a Educação tem deixado um vazio na questão humanista,
adaptando os indivíduos aos valores empresariais de lucro, competição e de sucesso e que,
quando não estimula a crítica, faz desaparecer sujeitos autônomos, formando grupos bem
adaptados ao sistema, dotados de cegueira social. Tal processo tem sido observado em
todos os segmentos da Educação, em especial, no ensino superior.
Embora as novas tecnologias tragam um grande potencial emancipatório, como a
possibilidade de se criar uma nova conectividade entre os seres humanos, despertam
também um imenso poder de destruição. E isso não em função do uso que se dê a elas,
como também da potencialidade que guardam. Essas novas possibilidades reforçam uma
revisão quanto ao papel e a responsabilidade social do pesquisador e da ciência.
Cabe ressaltar que Bauman (1999, p. 8) afirma que os centros de produção de
significado e valor são hoje extraterritoriais e emancipados de restrições locais o que o
se aplica, porém, à condição humana, à qual esses valores e significados devem dar
sentido”.
Ciência e razão, observa Morin (2005), não m a missão de salvar a humanidade,
uma vez que hoje estamos diante da época da big-science, da tecnociência, em que
conceitos como ciência, indústria, pesquisa, técnica e poder encontram-se atrelados. Esse
descompromisso deve-se, entre outros, ao fato de os cientistas terem perdido os poderes
que outrora possuíam em suas pesquisas nos laboratórios. O fato de as pesquisas e
laboratórios estarem concentrados nas mãos dos dirigentes das empresas e autoridades do
Estado contribuem, sem dúvida, para a perda dessa autonomia (op. cit., p. 126-127).
Atualmente, menos de 1% dos cientistas pode escolher seus temas de pesquisa,
revelando uma perda de autonomia e de responsabilidade sobre o que estão pesquisando
(BASTOS FILHO, 2002, p. 87)
Mesmo compreendendo essa perda de autonomia e o comprometimento dos
cientistas com as decisões das grandes corporações, não devemos esquecer que as
produções cienficas provêm de uma dada construção do pensamento, elaborada por seres
humanos que, mesmo falíveis, devem se manter conscientes da responsabilidade social que
têm. Importante destacar que, dependendo do que produzam, é a Humanidade, na sua
totalidade, que se torna vulnerável.
8
Diante do pensamento de Hans Jonas e de Bartholo Jr. (2002, p. 166-167), a
responsabilidade é uma característica humana que requer sujeitos conscientes. A
responsabilidade é uma exigência ética que repousa sobre “a aptidão ontológica do homem
de escolher entre alternativas de ação com saber e vontade”. Assim, esses autores
defendem a necessidade de haver uma adoção de novos princípios para a ciência, tendo por
propósito uma modernidade amparada na ética e não apenas na técnica.
Na percepção de Morin (2005, p. 60-78), a ciência é uma eterna aventura, que se
constrói e se reconstrói a todo instante, e toda teoria científica é mortal, justamente por ser
cienfica. As mudanças paradigmáticas estariam diretamente relacionadas com as
mudanças tecnológicas, uma vez que as últimas ampliam o campo do observável,
demonstrando a fragilidade do conhecimento, até então dominante. Assim, esse autor
afirma ser de suma importância o questionamento dos problemas éticos que envolvem a
ciência contemporânea, os poderes de manipulação que m sido impostos, o controle
político das novas descobertas científicas, defendendo, nesse sentido, a necessidade
epistemológica de um novo paradigma que centralize as noções de acaso, incerteza,
probabilidade, complexidade, significados estes que emergem de forma contundente nas
mais variadas questões que marcam os tempos atuais (op. cit., p. 60-78).
Boaventura de Sousa Santos (2004a) afirma que o paradigma dominante, pautado
na racionalidade científica, encontra-se em crise profunda e que o acirrado processo de
industrialização da ciência tem se manifestado não nas aplicações, como também na
investigação e na produção científica.
A construção de um novo paradigma, ainda em processo de elaboração, só pode ser
obtido por mera especulação (op. cit., 2004a, p. 59). Para esse autor, inúmeros ensaios
vêm sendo construídos, entre eles, os de Prigogine, alertando para a metamorfose da
ciência; a proposta por Capra, relacionando a nova física ao Taoísmo; a de Daniel Bell, no
que tange à sociedade pós-industrial; e a de Castells, com o paradigma da sociedade
informacional. Ainda para esse pesquisador, o novo paradigma a emergir tem de ser
cienfico, como também social, denominando-o de “conhecimento prudente para uma vida
decente” (op. cit., 2004a, p. 60). Tal paradigma, para englobar uma nova realidade, deverá
conferir às ciências sociais uma nova centralidade: não desprezar os avanços tecnológicos,
mas romper os limites do determinismo, da simplificação e da reificação do homem (op.
cit., 2004a, p. 60).
9
Leher (2004) observa que, desde a década de 1990, vários conceitos, tais como
competência, qualidade, eficiência e eficácia, têm invadido e sido incorporados ao léxico
da educação, confirmando sua inserção no processo de reprodução do capital.
A Universidade, aos poucos, foi incorporando o sentido prático do saber,
estimulando pesquisas economicamente úteis, rentáveis, formando um contingente de
profissionais acríticos, adestrados para atender aos quesitos impostos pelo mundo do
trabalho. Estava e ainda está , em curso, a globalização neoliberal da Universidade e a
conseqüente mercantilização da educação (SANTOS, 2004b, p. 12).
Com o crescente avanço das tecnologias de informação e comunicação, a
Universidade e seus pesquisadores se viram substancialmente favorecidos pela facilidade
de acesso às informações (CARVALHO, 2005), como também pelos intercâmbios
proporcionados com outros pesquisadores, renovando conceitos, práticas e idéias
(CUNHA, 1991). No entanto, a prática da crítica tem ocorrido pelo exercício da rebeldia
intelectual de poucos e não como proposta constituidora da identidade da universidade.
Discursos de que vivemos numa sociedade de informação, cuja mão-de-obra deve
ser a mais qualificada possível, têm direcionado volumosas verbas à educação on-line e à
criação de universidades virtuais, vistas como a solução para países extensos, como é o
nosso caso. Certamente, o ensino e manuseio dos novos instrumentais de comunicação e
informação são fundamentais, mas a utilização das TIC na Educação não deve transformá-
la numa tarefa meramente mecanicista, tampouco deve ser vista como a solução para
antigos problemas refletidos pelos altos índices de analfabetos funcionais.
Além disso, cabe lembrar que, no Brasil, 68% dos brasileiros nunca acessaram a
Internet e que 55% jamais mexeram em um computador
2
. Outras questões também devem
ser levantadas, em função do que se pretende para o planeta e em função de que tipo de
seres humanos a sociedade quer formar.
Pela própria compreensão da importância que a Educão deve ter na formação do
homem, consideramos fundamental verificar se as pesquisas acadêmicas dos Mestrados e
Doutorados em Educação têm revelado preocupação e compromisso ético, adotando uma
abordagem crítica em relação à Educação e às novas tecnologias, capaz de contribuir para
“resgatar a lógica do ser, superando a moldagem da lógica do ter que, ao longo do século
2
Dados divulgados pela Pesquisa do Comitê Gestor de Internet do Brasil- Jornal O Dia -15/11/2005
10
XX, se imprimiu tanto à Educação quanto ao desenvolvimento da pesquisa, da ciência e da
tecnologia” (BARTHOLO JR, 2002, p. 185).
Após a apresentação desse quadro de tranformações, indagamos: como a produção
acadêmica, de Instituições de Ensino do Estado do Rio de Janeiro, que apresentam
programas de Mestrado e/ou Doutorado, devidamente credenciados pelo Ministério de
Educação e Cultura (MEC)/Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), tem tratado a relação entre Cibercultura e Educação nos últimos seis
anos?
1.2 - OBJETIVO E QUESTÕES NORTEADORAS DE ESTUDO
O objetivo deste estudo é o de investigar como a produção acadêmica tem tratado a
relação entre Cibercultura e Educação, ocorrida nos últimos seis anos, nas instituições de
ensino do Estado do Rio de Janeiro que apresentam Programas de Mestrado e/ou
Doutorado em Educação, devidamente credenciados pelo Ministério da Educação e
Cultura (MEC) / Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
As queses que norteiam esta pesquisa são:
a) Em que medida a relação Cibercultura e Educação tem sido tratada nas
dissertações e teses dos respectivos Mestrados e Doutorados?
b) Nas dissertações e teses que tratam da relação Cibercultura e Educação, qual
tem sido a abordagem teórica privilegiada em relação à Educação?
c) Existem questões recorrentes no âmbito dessas dissertações e teses que as tornem
relacionáveis?
d) Que contribuições são oferecidas por essas dissertações e teses em relação a uma
visão crítica da relação Cibercultura e Educação?
e) Nas dissertações e teses consideradas, a dimensão ética tem sido focalizada?
1.3 - JUSTIFICATIVA
Refletir, hoje, sobre a produção acadêmica no âmbito dos Mestrados e Doutorados
em Educação se mostra cada vez mais necessário, principalmente, nesse momento, em que
se constata uma crise generalizada na economia, na sociedade, na universidade, na ética, na
política, nas ciências e também na produção do conhecimento. As incertezas das verdades,
11
anteriormente garantidas, desestabilizam o homem em processo de adaptação aos novos
paradigmas, e a Educação não deve ficar alheia a esses “novos” tempos.
Diante da complexidade que compõe o atual quadro sociocultural, no qual se
constata um aumento considerável das produções acadêmicas no país, nos últimos anos
(CUNHA, 2005), torna-se de fundamental importância inventariar como tem sido abordada
no plano acadêmico, pelos futuros e prováveis pesquisadores, a relação entre Cibercultura
e Educação.
As pesquisas e produções acadêmicas revelam o quanto a Universidade
problematiza o mundo e sua época. Buarque (1985) adverte que em tempos de crise a
universidade deveria assumir o papel da dúvida, mantendo a consciência crítica, não
aceitando qualquer idéia, nova ou velha, como dogma. Cada membro da academia, com
sua própria visão de mundo ou visão teórica, deveria respeitar a visão do outro, tendo o
diálogo — entre os diferentes pontos de vista — como caminho para construção do
conhecimento. Toda problemática que envolve as Universidades traz em seu bojo a
questão de como as mesmas vêem o papel da ciência, muitas vezes, considerado o único
meio e critério de verdade admitida.
Ainda conforme Buarque (1985, p.499), “a ciência tem resolvido problemas postos
pela técnica/tecnologia/desenvolvimento industrial, contudo, não têm tido respostas e
propostas para problemas cruciais, como: miséria, fome, pobreza, excluo e violência”.
Cabe acrescentar que a ciência não se propõe a resolver os problemas do mundo, cabendo à
esfera política realizar tal tarefa; no entanto, a Universidade deve manter a dúvida a todo
instante, independente do momento vivido.
Há certamente todo um discurso tecnoeconômico que tenta se impor à Universidade
(DERRIDA, 1999), fazendo com que a ppria razão de sua existência — o de constituir-se
como consciência crítica de seu tempo seja subtraída e colocada a reboque dos
interesses imediatistas, utilitaristas do capital financeiro transnacional. Sob o risco de
perder sua identidade, a Universidade não deve abandonar seu compromisso com o rigor,
devendo-se manter sintonizada com o mundo a sua volta, engajada com o real e, se
possível, contribuir para sua transformação.
Concomitantemente, o fascínio pelas tecnologias de informação e comunicação
tem gerado uma passividade do usuário frente aos “donos do sistema”, entre outros, pelos
efeitos ideologizantes das mídias na massa. Segundo Bohadana (1999), as novas
tecnologias, por invadirem as diferentes atividades do planeta, atingem o existir do
12
homem, afetando suas ações, tanto no âmbito do trabalho, da moradia, do lazer e da
Educação, quanto do pensamento, delineando um novo “modelo cognitivo. Inaugura-se
uma nova forma de subjetividade e de sensibilidades diante do novo. A rapidez desse novo
e, ao mesmo tempo, assustador momento, exige novos trabalhadores, novas habilidades,
novas leituras de mundo. O que se aprende no início de uma graduação, muitas vezes, já se
encontra defasado em seu término. Exige-se que a Educação, sobretudo dentro das
Universidades, estabeleça um diálogo permanente com os novos saberes (op. cit., 1999).
Esta pesquisa se justifica uma vez que ela oferece subsídios para que possamos
acompanhar as temáticas, o conteúdo e as queses que se apresentam relevantes nesse
diálogo, a fim de que o debate no interior da Educação possa ser ampliado. Cabe lembrar
que o atual cenário exige a adoção de um enfoque humanista dentro das ferramentas
tecnológicas existentes e um (re)pensar da Educação sobre as suas reais finalidades uma
ressignificação da vida, um novo (re)pensar sobre o resgate da ética —, para favorecer o
questionamento e/ou enfrentamento das exigências decorrentes do capitalismo neoliberal,
visando à preservação da dignidade do homem. E, finalmente, acreditamos que os
resultados da pesquisa também poderão ser utilizados como material de reflexão para
problematizar os limites e alcances das TIC no interior da Educação.
1.4 PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
O século XX foi palco de grandes transformações no pensamento científico.
Até meados do século, a pesquisa cienfica era determinada pelo paradigma
positivista em que, o observador se imaginando neutro, se utilizava apenas do método
hipotético-dedutivo. No entanto, na década de 1960, esse modelo foi altamente
questionado por não considerar “aquilo que caracteriza as ações humanas: as intenções, os
significados e finalidades que lhes o inerentes” (ALVES-MAZZOTTI e
GEWANDSZNAJDER, 2001, p. 109). Nesse movimento, diversas correntes, até então
alternativas, ganharam força sob o rótulo do “paradigma qualitativo.
Contudo, na segunda metade da década de 1980, observou-se que no interior
desse paradigma existiam difereas significativas com relação a aspectos fundamentais ao
processo de investigação. Três paradigmas foram, então, apresentados como herdeiros do
positivismo, a saber: O Construtivismo Social, que privilegia “o mundo vivido pelos
13
sujeitos”, o Pós-positivismo, que se propõe à formulação de teorias explicativas de relações
causais, e a Teoria Crítica, que “enfatiza o papel da ciência na transformão da sociedade”
(op. cit., p.132).
Entendemos que, o tratamento da relação cibercultura e educação na produção
acadêmica proposta nos objetivos desta investigação, se alinha ao construtivismo social,
visto que não se pretende realizar intervenção alguma no contexto pesquisado.
Consideramos ainda que, pela própria natureza desta investigação, que privilegiou
os registros de fenômenos (dissertações e teses) e não o fenômeno social propriamente
dito, a abordagem qualitativa foi a que ofereceu maior respaldo metodológico a este
estudo. A pesquisa qualitativa, embora assuma diferentes significados no campo das
ciências sociais busca entender um fenômeno, ou o seu registro, trabalhando com
descrições e interpretações ao invés de regras e estatísticas.
Por sua vez, partindo de questões amplas que o ganhando maior definição
durante o percurso, a pesquisa qualitativa pode ser conduzida por diferentes caminhos,
entre eles: o estudo de caso, a etnografia e a pesquisa documental (GODOY, 1995, p. 21).
Desses caminhos, o que se aplicou a este trabalho foi a pesquisa documental, que o
objeto em estudo não é o fenômeno social, quando e como se produz, mas, como já
assinalamos, os registros desses fenômenos (dissertações e teses) e as idéias elaboradas a
partir deles (RICHARDSON, 1999, p. 228).
Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2001, p.160) advertem que nas pesquisas
qualitativas em que o pesquisador é o principal instrumento de investigação , o
pesquisador deve “fornecer informações sobre suas experiências relacionadas ao tópico, ao
contexto ou aos sujeitos”, por introduzirem novas leituras na interpretação dos fenômenos
observados, tendo como embasamento o pensamento de outros autores. Neste caso
específico, a leitura dos documentos foram marcados pela formação da pesquisadora de
Geógrafa e Advogada, com pós-graduação em Economia Política da Urbanização e
Estudos dos Problemas Brasileiros. É autora do inédito e polêmico trabalho sobre o
“Interrogatório Online”, vem participando ativamente de debates e grupos de estudos sobre
tecnologia e suas repercussões na dinâmica social. É professora 21 anos e 16 anos
leciona no ensino fundamental e médio do INES (Instituto Nacional de Educação de
Surdos), usando as tecnologias de informação e comunicação.
14
Desenvolvimento da pesquisa documental por meio da análise de conteúdo
A pesquisa documental envolve a escolha dos documentos, em fuão do objetivo e
hipótese da pesquisa se houver —, o acesso e a análise desses documentos. Uma vez
selecionados e coletados os documentos, passamos a etapa de codificação e análise dos
dados que, segundo Bardin (1977, p.42), acontece por meio da análise de conteúdo,
definido por essa autora como:
um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens,
indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos
relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas
mensagens.
Por meio da definição apresentada, Bardin (op. cit., 1977) defende o uso da Análise
de Conteúdo tanto nas investigações que exigem o rigor da objetividade, quanto naquelas
que necessitam da fecundidade da subjetividade.
Desde o seu surgimento, no início do culo XX, nos EUA, a Análise de Conteúdo
era vista como uma importante técnica para a descrição quantitativa. Com a influência de
pesquisadores franceses, a abordagem do tipo qualitativo passou a ser utilizada,
evidenciando uma preocupação com as características subjacentes à mensagem. Assim, o
esforço do pesquisador passou a ser duplo: entender o sentido da comunicação como o
receptor normale buscar outras significações, por meio de análises mais profundas. A
análise de conteúdo comou, então, a ser vista não apenas com um alcance descritivo,
mas com objetivo de inferência e de interpretação.
Por outro lado, considerando que a abordagem qualitativa, como exercício de
pesquisa, não se apresenta como uma proposta rigidamente estruturada, na análise de
conteúdo, como salienta Bardin (1977, p. 42), “não existe o pronto-a-vestir, apenas
algumas regras de base. A técnica de análise de conteúdo adequada ao domínio e ao
objetivo pretendidos, tem que ser reinventada a cada momento”, o que exige do
pesquisador conhecimento, rigor e criatividade.
Exatamente por conta da perspectiva qualitativa, a aplicação da análise de conteúdo
passou a ser alvo de críticas que acabou por render bons frutos, entre eles, a criação das
técnicas de análise: análise de avaliação, análise da enunciação, análise da expressão,
15
análise das relações, análise do discurso e análise categorial-temática (BARDIN, 1977, p.
45).
Em função das questões de estudo desta pesquisa, consideramos a análise
categorial-temática como a mais adequada. A análise temática consiste em identificar os
“núcleos de sentidos” que estão insertos em uma comunicação e cuja presença ou
freqüência de aparição é significativa para o objetivo analítico em estudo (BARDIN, 1977,
p. 52). Dessa forma, a análise temática possibilita a comparação entre documentos
trabalhados do mesmo modo.
De acordo com Bardin (1977, p. 96), a análise de conteúdo se organiza em três
etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados.
(A) Pré-análise esta é a fase de escolha dos documentos a serem analisados, de
acordo com os objetivos iniciais da pesquisa, e da formulação de hipóteses e questões
norteadoras. Esta etapa pode ser decomposta nas seguintes atividades:
o Constituição do Corpus - envolve a escolha e organização dos documentos a
serem analisados, de forma a responder aos critérios de exaustividade
(levantamento de todo material, superando-se toda a dificuldade, tanto na
obtenção do material como em sua compreensão), representatividade (uma
amostra deve refletir na íntegra seu conjunto favorecendo as generalizações),
homogeneidade (todo material escolhido deve obedecer aos mesmos critérios
estabelecidos ao serem selecionados) e pertinência (adequação dos documentos
aos objetivos da pesquisa).
o Leitura Flutuante - etapa que visa a um contato inicial com o material
coletado, levando o pesquisador a conhecer as formulações, contextos e teorias
apresentadas pelos autores dos documentos;
o Formulação de hipóteses e revisão dos objetivos - esta etapa é um
importante momento para rever os objetivos, hipóteses e questões de estudo,
tendo em vista a leitura dos documentos, a fim de orientar as próximas etapas.
(B) Exploração do Material nesta etapa, os dados brutos são codificados para se
atingir o núcleo de compreensão do texto. De acordo com Bardin (1977, p. 118), a
codificação compreende a escolha de unidades de registro, a seleção de regras de contagem
e a escolha de categorias.
A unidade de registro é a unidade de significação a codificar: pode ser o tema, a
palavra ou a frase. As regras de contagem não se restringem a um tratamento quantitativo,
16
uma vez que a presença ou ausência de elementos podem ser significativas, especialmente
no que diz respeito à análise temática. A categorização representa a passagem dos dados
brutos aos dados organizados. Na análise de conteúdo, as categorias são classes que
reúnem um grupo de elementos (unidades de registro) a partir de alguns critérios, entre
eles: semântico (tema), léxico (agrupar pelo sentido das palavras, pelo annimo, etc.) e
sintático.
Ainda com relação às categorias, Bardin (1977, p. 118) ressalta que um conjunto de
boas categorias deve possuir as seguintes características: a exclusão mútua (um elemento
não deve existir em mais de uma categoria), a homogeneidade (um único princípio de
classificação deve orientar toda a organização), a pertinência (uma categoria é pertinente
quando está adaptada ao material de análise escolhido e está de acordo com o quadro
teórico definido), a objetividade (as diferentes partes do material devem ser codificadas da
mesma forma) e a produtividade (fornece resultados favoráveis).
No caso da presente pesquisa, a unidade de registro utilizada foi o tema, aqui
analisado de acordo com a presença e interpretação apresentada nos documentos. As
categorias foram estabelecidas a posteriori, uma vez que foram criadas em função dos
temas comuns, identificados nos diferentes documentos.
(C) Tratamento dos resultados obtidos e interpretação nessa etapa, os dados
são submetidos a análises estatísticas e/ou à inferência.
De acordo com a autora supracitada (op. cit., 1977, p. 118), uma das funções
básicas da análise de conteúdo é a inferência, pois, o pesquisador que faz uso dessa cnica
busca o “texto por trás” do texto expresso. Tendo em vista, não apenas uma descrição, mas
uma análise crítica, o pesquisador iarticular o conteúdo expresso e o referencial teórico,
mantendo uma postura questionadora, a fim de dar sentido a sua interpretação.
No intuito de realizar uma leitura, para efetivarmos uma análise crítica, buscamos
não nos deter apenas nas informações aparentes. Assim, procuramos “ler entrelinhas” nos
textos, a fim de buscar compreensão de seu conteúdo latente, tentando reconhecer as
ideologias que permeiam o material e a complexidade que apresenta o tema.
1.5 - ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO
Esta dissertação está organizada em quatro capítulos.
17
No Capítulo I, apresentamos uma introdução, organizada em cinco seções, a saber:
na primeira seção, contextualizamos o atual cenário sociocultural, político e econômico
que nos conduziram à formulação do problema; na segunda seção, elaboramos o objetivo
da pesquisa e as questões norteadoras de estudo; na terceira seção, justificamos a
importância da nossa pesquisa para a educação; na quarta, anunciamos os pressupostos
teórico-metodológicos que nortearam essa investigão; na quinta e última seção, a fim de
apresentarmos uma visão panorâmica da dissertação, descrevemos a organização desse
estudo.
No Capítulo II, apresentamos a revisão da literatura, que deu suporte à análise das
produções acadêmicas, dividido em cinco seções, a saber: na primeira, sob o tulo Das
mudanças tecnológicas, mostramos como o terceiro milênio tem sido caracterizado,
ressaltando a inauguração de uma revolução, configurada por mudanças de base cienfico-
tecnológicas: na segunda, sob o título Microeletrônica e novos paradigmas, mostramos
como as tecnologias de informação e comunicação, doravante denominadas de TIC, estão
relacionadas aos novos paradigmas; na terceira, sob o título A revolução da infortica e a
globalização, traçamos um painel para elucidar a relação entre globalização e informática;
na quarta, intitulada Cibercultura e efeitos sobre a cultura, apresentamos conceitos
teóricos que dão suporte à pesquisa e os efeitos da cibercultura sobre a cultura; finalmente,
na quinta seção, intitulada A educação no âmbito das TIC, apresentamos como se encontra
a educação em face dessas tecnologias.
No Capítulo III, tratamos dos resultados decorrentes dos procedimentos
metodológicos, apresentamos os critérios para a escolha das dissertações e realizamos a
análise desses documentos.
No Capítulo IV, apresentamos nossas conclusões e considerações finais. Para tanto,
foram retomadas as questões de estudo com a intenção de respondê-las.
CAPÍTULO II
Revisão da literatura
2.1 Das mudanças tecnológicas
O terceiro milênio tem sido caracterizado como emblemático, pois inaugura uma
revolução configurada por mudanças de base científico-tecnológica, na qual predomina a
microeletrônica. Tais mudanças podem ser observadas na forma de trabalhar, pensar,
educar e viver, pois se instalaram, em decorrência disso, outros valores e novos sistemas
institucionais, que tem provocado mudanças substanciais no cotidiano e na existência das
pessoas com os novos objetos que foram insertos na sociedade.
Uma das formas de se avaliar a existência de uma determinada sociedade é
observar o conjunto de seus objetos, as pessoas que os compartilham, em mero, bem
como a forma como os utilizam. No transcorrer dos milênios vividos pela Humanidade,
não foram poucas as técnicas
3
e instrumentos desenvolvidos. Braudel (2005, p. 393)
considera a história das técnicas uma das mais fascinantes da hisria humana, mas que
geralmente tem sido estudada como pré-história da Revolução Industrial.
A esse respeito, Kranzberg (1993, p. 39) lamenta o fato de fazer parte da opinião
pública a idéia de que a Revolução Industrial foi o resultado da invenção da quina a
vapor de James Watt, pois um único invento não produz uma Revolução, afirma o autor.
Na visão de Braudel (2002, p. 351), a Revolução Industrial, ocorrida inicialmente
na Inglaterra, entre 1750 ou 1760, se anunciava muito antes do século XVIII. A
introdução das máquinas, muitas já existentes, ocorreu de forma lenta e gradual, gerando
desconfiança em relação à possibilidade de promover o desemprego e de que a habilidade
manual se tornasse supérflua. Um exemplo dessa lentidão é a máquina a vapor que, embora
“lançada” em 1742 por Watt, durante a Revolução, já havia sido inventada desde 1711 por
3
Segundo Ferrater Mora ( p. 2820-21), o vocábulo técnica deriva de techné, que em grego designava um
ofício, que exigia regras próprias, atividade transformadora de uma realidade natural em artificial. Para os
antigos, a técnica estava relacionada à arte, nos remetendo a idéia de poiesis. Seu atual sentido é incorporado
ao saber somente na Idade Moderna.
19
Newcomen. E, mais: apenas uma máquina foi posta em funcionamento na Europa
(BRAUDEL, 2002, p. 305).
Embora a Revolução Industrial tenha sido tratada de diferentes maneiras por
Braudel e Kranzberg, ambos concordam que o fato foi o ápice de um longo processo e
precedida por mudanças técnicas importantes. No entanto, a despeito de receber o nome
revolução, o termo mantém relação direta com as transformações que se sucederam na
sociedade, pois a fábrica se tornou o local de trabalho, a cidade, o local de moradia, além
de todo um relacionamento familiar ter passado por alterações, surgindo novos padrões
culturais no urbano superpovoado
4
.
Nesse sentido, longe de serem um fator externo à sociedade, as técnicas devem ser
analisadas considerando o contexto histórico, social, econômico, político e cultural. Desde
a modelagem de um pequeno pedaço de osso, de rocha, de madeira ou ferro, passando pelo
preparo e conservação de alimentos, de confecção de vestimentas, de construção de
moradias e cura de doenças, até técnicas agrícolas, comerciais, industriais, de
comunicação, de escrita, de guerra cnicas criadas para reduzir o poder inevivel dos
deuses ou aumentar o poder dos próprios homens —, tudo eram e ainda o são técnicas.
Mediadoras entre a sociedade e a natureza, as técnicas surgem do acúmulo de
conhecimentos, do rompimento de idéias consideradas inquestionáveis até um dado
momento, da criatividade ou mesmo do acaso, muitas vezes, resultado de estudos,
aperfeiçoamentos do conhecimento, que são revelados de formas distintas, em sua
materialidade. Mesmo assim, toda técnica requer um tempo, um preparo para ser
incorporada ao dia-a-dia da sociedade.
Instituídas num vasto campo de relações intersubjetivas, as técnicas interferem nas
várias representações que os homens criam do mundo, uma vez que, alterando modos de
pensar, produzem novos sentidos. Assim, a história do homem encontra-se associada à
hisria da técnica, e as várias técnicas, relacionadas com os diferentes grupos humanos.
Ao analisar a história da técnica, Bartholo Jr. (1986) nos lembra que, nos
primórdios da História, existiam tantas técnicas quantos eram os lugares e agrupamentos
humanos. Elas eram, antes de tudo, uma questão de sobrevivência. Vivendo em
4
Em sua primeira fase, com duração de um século, aproximadamente, a Revolução Industrial caracterizou-se
pela presença de pequenas empresas, geralmente insalubres, instaladas em centros urbanos que cresciam de
forma desordenada, cujas tarefas eram desempenhadas por mais de 16horas/dia, utilizando inclusive mão-de-
obra feminina e infantil, o que trouxe alterações nos relacionamentos familiares. Por outro lado, a mão-de-
obra se especializava, exigindo cada vez mais instrução por parte dos trabalhadores (KRANZBERG, 1993, p.
41).
20
comunidades pequenas e coesas, os homens relacionavam-se com a natureza em termos de
relações “orgânicas”, caracterizadas pela interdependência dos fenômenos espirituais e
materiais e pela subordinação das necessidades individuais às do grupo (op. cit., 1986, p.
23).
No entanto, Lévy (1999, p.196), analisando os rios momentos históricos que
marcaram a relação do homem com a técnica, aponta o Neolítico como condutor a uma das
primeiras ”rupturas da aventura humana”. Conhecido como período Neolítico, de 10000
a.C. a 4000 a.C., nesse período, ocorreu a técnica de polimento dos instrumentos em
contraste com as formas lascadas anteriores, em que o homem, caçador do Paleolítico,
utilizava predominantemente o arco, o martelo, o machado, as armas e os utensílios
destinados a auxiliar seus movimentos e esforços musculares. Diferente do Paleolítico,
caracterizado por um homem em movimento, o Neolítico traz um homem sedentarizado,
voltado para o desenvolvimento da domesticação das plantas e animais. É nesse momento,
em que os homens, lentamente, começam a dominar a inconstância da natureza, que as
técnicas passam a se voltar à produção de recipientes capazes de armazenar os excedentes
agrícolas, tais como: vasos e jarras, feitos de pedra ou de cerâmica, destinados ao
transporte desses excedentes (MUMFORD,1965, p. 39).
A sedentarização, ppria do Neolítico, vai se consolidando na mesma proporção
em que o homem galga maior controle sobre a natureza. Na concepção de Elias (1998, p.
42), com a agricultura, a observação do tempo passou a ter uma importância maior. A
luminosidade, a repetição de luas cheias, entre outros, revelando os momentos de plantio
ou semeadura, favoreciam o surgimento de uma ordem disciplinar. A percepção dos
fenômenos da natureza, vital para a produção dos alimentos e das técnicas, cada vez mais
orientava às necessidades do grupo e não a de cada indivíduo.
Quanto às habitações, foi no Neolítico que casas, tais como as conhecemos hoje em
dia, passaram a ser construídas nas aldeias que se formavam, para proteger os habitantes
contra as doenças e oscilações da atmosfera. Pequenos grupos familiares, falando a mesma
língua, “tinham na magia o elemento estabilizador cultural(BARTHOLO JR, 1986, p.
23), pois, eventos como secas e eclipses, eram tidos como sinais cósmicos de maus
presságios. Pela oralidade, os mais velhos, os poucos escolhidos pelas divindades,
transmitiam sabedoria à comunidade, o que lhes davam a garantia de crescimento no
grupo.
21
À medida que os grupos aumentavam e se expandiam, as trocas se tornavam
inevitáveis, acabando por impor a um grupo as técnicas do outro. Obviamente, com o
novo, na aceitação ou na imposição, sempre houve resistência, que poderia e ainda pode
até hoje cair na rejeição. Mas, foi assim que antigos equilíbrios foram rompidos pelo
acréscimo de elementos externos às hisrias, até então, autônomas. Conforme Milton
Santos (2004, p. 190), cada nova técnica não expulsa completamente a precedente,
convivendo juntas por longo tempo segundo uma ordem interna inerente a cada sociedade
e em suas relações com as demais. “Isso quer dizer que o passado não é totalmente
varrido” (op. cit., p. 193). A herança material permanece, em diferentes propoões, em
cada local, época ou civilização.
Nos registros da História, pode-se contatar que as primeiras civilizações surgiram
por volta do IV milênio a.C., em grandes vales do Oriente, como foram, por exemplo, os
Surios, que desenvolveram a aritmética e um sistema de pesos e medidas; os babilônios,
que usaram com maestria a álgebra e a geometria; e os egípcios, criadores de importantes
técnicas de irrigação e de construção. Provavelmente, foi na Mesopotâmia que surgiu o
ábaco
5
. Esses inventos, ainda hoje, estão presentes, coexistindo de forma pacífica em todos
os cantos do mundo e utilizados em diferentes áreas do saber.
Podemos dizer que o mesmo ocorreu com os computadores, base da atual
revolução tecnológica que estamos vivenciando, cuja origem relaciona-se a engenhos
anteriores, como o ábaco; a máquina de calcular de Pascal, idealizada no século XVII; do
trabalho de Charles Babbage, no século XIX; e do cartão de Herman Hollerith, criado para
realizar o censo norte-americano em 1890 (KRANZBERG,1993, p. 40).
Antes disso, na Grécia, berço da Civilização Ocidental, entre os séculos VI a.C. e
IV a.C., surge a polis Cidade-Estado e o cidadão, marcas que ainda hoje
reconhecemos como próprias do Ocidente. Nesse cenário, desponta a escrita, com o
aperfeiçoamento do alfabeto e com a introdução das vogais: criações daquele povo,
presentes ainda hoje (BELINTANE, 2006, p. 91).
Castells (2003, p. 413) ressalta que o “invento do alfabeto propiciou o
preenchimento da lacuna entre o discurso oral e o escrito, com isso, separando o que é
falado de quem fala. Essa transformação qualitativa da comunicação humana [...] embora
permitisse um discurso racional, separava a comunicação escrita do sistema audiovisual de
5
O ábaco, primeiro instrumento manual de cálculo, era a extensão do ato de contar nos dedos, tendo sido
utilizado por gregos e romanos e, depois, aperfeiçoado pelos chineses e japoneses.
22
símbolos e perceões, tão importantes para a expressão plena da mente humana”. A noção
de alfabetização, entretanto, só surgiria tempos depois, com a fabricação do papel e a
difusão da imprensa (op. cit., p. 413).
Século mais tarde, segundo Russell (2002, p. 242-243), dois foram os grandes
acontecimentos que merecem destaque e remontam do século XV. O primeiro foi o avanço
das técnicas de construção naval e na navegação, como o uso da bússola, uso de
armamentos pesados e aumento das embarcações, que possibilitaram o movimento das
Grandes Navegações. O segundo teria sido a invenção das técnicas da imprensa, com o uso
dos tipos móveis, elaborada por Gutenberg, que favoreceu — e de forma ágil — a
possibilidade de divulgação das idéias.
Burke (2003) salienta que, com a divulgação da imprensa e a conseqüente
alfabetização necessária, ampliam-se os locais de encontros intelectuais, não ficando os
mesmos restritos apenas às universidades. As informações passam a ser divulgadas não só
por livros, mas revistas e pequenos jornais passam a ser impressos e comercializados. A
informação torna-se uma mercadoria. Novas profissões surgem como: o livreiro, o
jornaleiro, distribuidores, impressores. A revolução decorrente da imprensa afetou o
mundo da informação, trazendo novos veículos de divulgação e alterando,
significativamente, a formação de profissionais, introduzindo novas áreas de trabalho.
Hoje, vivemos uma nova e intensa revolução no mundo da informação, com
conseqüências presentes em diversos setores, como na pesquisa, em seus mais diversos
campos; no acesso à informação, como nunca visto em tempo algum; nas comunicações e
nos transportes, que cada vez mais se alicerçam na informática para sua segurança,
manutenção e expansão; na descentralização industrial; no desenvolvimento da engenharia
getica; e na robotização de muitas tarefas, trazidas pelo surgimento do computador.
2.2 Microeletrônica e novos paradigmas
No período em que se passou um dos episódios mais vergonhosos da história da
Humanidade, com a funesta, trágica Segunda Guerra Mundial, grandes invenções no ramo
da microeletrônica foram estabelecidas. Durante essa guerra, algumas ferramentas bélicas,
como o Colossus britânico, foram desenvolvidas para decifrar códigos inimigos, bem como
o Z-3 alemão, para auxiliar os cálculos dos aviões. No entanto, o primeiro computador, o
23
ENIAC, criado para uso geral e patrocinado pelo exército dos EUA, surgiria apenas em
1946 (DREIFUSS, 2001).
Inventados em 1948, pelos físicos Bardeen, Brattaine e Shockley (ganhadores do
Prêmio Nobel), da empresa Bell Laboratories, os transistores ou semicondutores
possibilitaram, segundo Castells (2003, p. 76), “o processamento de impulsos elétricos em
velocidade rápida e em modo binário de interrupção e ampliação, permitindo a codificação
da gica e da comunicação com e entre máquinas”. Mas, o passo decisivo da
microeletrônica se daria com a criação do circuito integrado (1957), o que provocou uma
explosão tecnológica facilitada pela queda dos preços dos semicondutores.
A grande difusão da microeletrônica ocorreu em 1971, quando Ted Hoff,
engenheiro da Intel, inventou o microprocessador, com a capacidade de se colocar um
computador em um único chip
6
, possibilitando processar informações em todos os lugares
(op. cit., 2003, p. 76).
Historiadores lembram que os primeiros computadores ocupavam andares inteiros
de prédios, apoiavam-se em tubos de cuo, eram de difícil manuseio e ainda
extremamente caros, o que certamente pouco impacto provocaram na estrutura e no
processo industrial. Contudo, com a invenção do transistor e sua evolução para o que hoje
conhecemos como microchip, ocorreu uma crescente redução de peso, tamanho, preço,
aumento de capacidade de processamento e armazenamento. E, assim, os computadores
se constituíram na base de mudanças de hábitos e rotinas e, conforme Kranzberg, (1993,p.
46) na “pedra basilar da nova revolução tecnológica”, cuja tecnologia vem sendo aplicada
a todas as facetas da vida.
Segundo Kaku (2001), os computadores, a divisão do átomo e a decodificação do
núcleo da célula foram os grandes temas da ciência do século XX, cujo impulso se deve a
maior de todas as revoluções — a Revolução Quântica.
Foi com Einstein que ocorreu a “implosão do edifício teórico newtoniano”
(BARTHOLO JR.,1986, p.78). Observando a relatividade da simultaneidade
7
, o cientista
revolucionou as concepções, até então rígidas, de tempo e de espaço. Foram seus estudos,
suas medições locais e o rigor do conhecimento, baseado em tais medições, que inspirou,
6
Atualmente um Chip, nome genérico de “cérebro eletrônico”, é formado por milhões de transistores que
cabem numa área do tamanho de uma unha.
7
Conforme Boaventura de S. Santos (2005, p. 69), Einstein distingue entre a simultaneidade de
acontecimentos presentes no mesmo lugar daqueles distantes, neste último caso, em especial, os
acontecimentos separados por distâncias astronômicas, os quais não podem ser verificados, tão somente
definidos, rompendo com uma suposta existência de uma simultaneidade universal, um tempo e um espaço
absolutos, tal como pensava Newton.
24
em 1925, um grupo de pesquisadores, entre eles, Max Planck, Niels Bohr, Erwin
Schrodinger, Werner Heisenberg e Paul Dirac a desenvolverem a denominada Teoria
Quântica, provocando radicais mudanças na vio e compreensão do Universo.
A partir de estudos experimentais do átomo, pôde-se perceber que suas partículas
subatômicas apresentavam uma dupla natureza, ora se manifestavam como onda, ora como
partícula, portanto, incompatíveis com a visão clássica da Física. O mesmo ocorria com a
luz, cujas partículas receberam o nome de quanta, dando nome à teoria (op. cit., 1986, p.
78).
Heisenberg, em 1927, também constatou que um elétron, dependendo do
experimento realizado, saltava de uma órbita a outra sem motivo aparente. A questão é que
dependendo do experimento ele pode se manifestar de uma forma ou de outra.
Presenciava-se a substituição da fixidez do mundo mecanizado pela “possibilidade”, base
da formulação do princípio da incerteza (op. cit., 1986, p. 79).
Neils Bohr introduziria a importante noção de complementaridade, pois partículas
ou ondas, todas duas, o parte de uma mesma realidade, não havendo preponderância de
uma em relação à outra (op. cit., 1986, p. 79).
O átomo, segundo Bartholo Jr. (1986, p. 80), passaria a ser descrito por diferentes
quadros conceituais e, ainda, com a pesquisa subatômica foi revelado que os eventos
atômicos não ocorrem de fato, embora apresentem “tendência a ocorrer”.
Conforme Zohar (2006, p.154), na Teoria Quântica, a totalidade transforma-se
num oceano de possibilidades, em que nada deve ser visto em partes separadas. O
observador adquire uma função privilegiada, pois tanto sua presença quanto sua
expectativa alteram o que se vê. “O modo como vemos determina o que vemos”. A
verdade dá lugar a inúmeras verdades e, mesmo assim, todas relativas. Não há causas ou
“porquês”. O “isso” ou “aquilo” foram substituídos pelo “tanto quanto”. No mundo atual,
há potencialidades, propenes amparadas em múltiplas realidades (superposições). Todas
essas descobertas acarretam uma radical mudança filosófica na compreensão do Universo.
Categorias como espaço, tempo, matéria, objeto passam a ser interpretadas, conforme
Bartholo Jr. (1986, p. 77), dentro de uma “abordagem sistêmica, orgânica e holista”, já que
toda uma cultura tende a se transformar, tudo se encontra interconectado. Não haveria,
assim, nada estático na natureza, pois o universo é compreendido como uma vasta rede de
interconexões.
25
Nesse sentido, para Kaku (2001, p. 23), é possível compreender o porquê de a
teoria quântica constituir-se numa verdadeira revolução, que concedeu a possibilidade de
gerar duas revoluções: a revolução biomolecular e a revolução informática. Para esse autor,
uma vez que a teoria quântica “fornece com precisão ângulos e força de ligação entre os
átomos, ela permite determinar a posição de praticamente todas as moléculas individuais
no código genético de um organismo vivo” (op. cit., 2001, p. 23). O digo genético de
vários organismos vivos
8
já se encontra completamente decodificado e, em breve, o
genoma humano abre espaço para clonagens, cura de doenças, medicamentos
personalizados e, provavelmente, para possíveis manipulações, quase divinas, da vida.
Apesar dos diferentes efeitos provocados por essas revoluções, constata-se que os
efeitos das mesmas sobre a vida humana ocorrem de maneiras diversas. No entanto, trata-
se de revoluções que, direta ou indiretamente, afetam a humanidade, deixando-a mais
vulnevel nas mãos do próprio homem.
2.3 A revolução da informática e a globalização
Foi com o desenvolvimento de dispositivos mecânicos quânticos, como o transistor
de silício e o raio laser — esse último, uma década depois do anterior e fundamental para a
existência da Internet e para a expansão dos meios de comunicação —, que ocorreu a
possibilidade de se gerar a revolução na informática, uma das principais responveis pela
criação de uma reconfiguração geopolítica do planeta.
Reconfiguração que ocorre à revelia das diferentes formas de como as várias
culturas e diferentes países m sendo atingidos pela introdução do microcomputador nos
grandes centros urbanos. Em lugar dos mapas elaborados, obedecendo à rigidez de
fronteiras traçadas em função de critérios político-administrativos ou naturais, deparamo-
nos, agora, com mapas que consideram a diluição das fronteiras e atentam para a
mobilidade do capital. Nesse novo desenho, é possível identificar três grandes eixos que
passam a expressar a atual ordem sociocultural política e econômica. Os eixos Norte-
Norte, Norte-Sul e Sul-Sul, onde megaespaços “irradiam sua preponderância civilizatória
[...]. Esses espaços-cidades concentram e agregam funções-financeiras, industriais,
cienficas, tecnológicas, culturais e políticas” (DREIFUSS, 2001, p.153). Nas palavras de
Bohadana (2001):
8
Como é o caso dos vírus, lêvedo e bactérias unicelulares.
26
Ao traçar e conceituar esses “eixos”, Dreifuss define o eixo “Norte - Norte”
como aquele que aglutina países que funcionam como “focos indutores de
ciência e tecnologia”, enquanto o eixo “Norte-Sul”, formado por conexões entre
países do eixo “Norte e do eixo “Sul”, seria de “pólos motores
tecnoprodutivos”. Já o eixo “Sul-Sul”, concentrando países sem densidade
científica ou capacidade tecnológica inovadora, se prestaria a ser um conjunto de
plataformas terceirizantes e quarterizantes de produção e comercialização.
Tais espaços articulam-se em torno das principais megalópoles do eixo Norte-
Norte, os quais, por sua vez, se vinculam, seletivamente, com os centros de poder nas
megalópoles do eixo Sul-Sul. Portanto, longe de representar uma geografia, o eixo “Sul-
Sul”, ao conjugar-se com os eixos “Norte-Norte e “Norte-Sul”, passa a compor um
complexo que revela a concentração e a distribuição da economia, da política e do poder.
Nesse sentido, a mudança de base científico-tecnológico fortalece e é fortalecida
por essa nova geopolítica, verificável no processo de globalização.
Ao discutir o processo de globalização, Milton Santos (2003) constata que podemos
observar a existência de três mundos num só: um mundo onde a globalização se apresenta
como fábula, o mundo como ele é, em que a globalizão se dá de forma perversa, e, ainda,
o mundo como ele poderia ser, com uma outra globalização.
O mundo globalizado visto como fábula convive com rias fantasias, e uma delas
é a existência de uma aldeia global, como se o mundo estivesse ao alcance de todos. Com
os novos meios de comunicação conectando todos os cantos do mundo, há discursos em
relação à formação de um único mundo; no entanto, o que se percebe é o aprofundamento
das difereas locais (op. cit., 2003).
Para a maior parte da humanidade, a globalização é uma “fábrica de perversidades”.
Nunca em tempo algum se conviveu com tantos medos: medo do desemprego, medo da
fome, medo da violência, medo do outro. No entanto, embora vividos como “medo de”,
esses fenômenos têm sido visto como naturais, anunciando o estado de indignação que
deveriam causar. Em face disso, esse autor (op. cit., 2003, p. 60) declara que:
A nosso ver, a causa essencial da perversidade sistêmica é a instituição, por lei
geral da vida social, da competitividade como regra absoluta, uma
competitividade que escorre sobre todo o edifício social. O outro, seja ele
empresa, instituição ou indivíduo, aparece como um obstáculo à realização dos
fins de cada um e deve ser removido, por isso, sendo considerado uma coisa.
Decorre daí a celebração dos egoísmos, o alastramento dos narcisismos, a
banalização da guerra de todos contra todos.
27
Assim, na concepção desse autor, a globalização faz desaparecer o sentido da
solidariedade, uma vez que não é construída a favor dos humanos. Na realidade, as
informações são repassadas por meia dúzia de empresas, provocando intermediações
deformantes. A política é feita pelo mercado, enquanto o Estado se omite em relação aos
interesses da sociedade e se fortifica ao serviço das regras da economia dominante.
Numa perspectiva mais idealista, encontramos, ainda, o que esse autor (op. cit.,
2003, p. 174) chama uma outra visão de globalizão para “mundo que ele poderia ser.
A globalização atual não é irreversível [...]. A mesma materialidade, atualmente
utilizada para construir um mundo confuso e perverso, pode vir a ser uma
condição da construção de um mundo mais humano. Basta que se completem as
duas grandes mutações ora em gestação: a mutação tecnológica e a mutação
filosófica da espécie humana.
Bauman (1999), ao refletir sobre os atuais impasses decorrentes de uma
sociedade globalizada, na qual a crise de valores conduz a um “tudo pode”, revelando
permissividade e ausência de autoridade, alerta para a sensação de abandono que o sujeito
é impelido a viver.
Esse autor (op. cit., 1999) afirma que a falta de questionamento sobre a atual
globalização tem um preço muito alto: o do sofrimento humano.
Seguindo o pensamento desse autor, estamos inertes diante de premissas
supostamente inquestionáveis do nosso modo de vida. Uma verdadeira crise de valores é
acompanhada pela condição de abandono de grande parte da humanidade. A vontade e a
ânsia de liberdade têm acompanhado a velocidade das transformações culturais,
tecnológicas e econômicas, algo diverso da segurança projetada em torno de uma vida
estável ou permeada de ordem. “Viver sob condições de esmagadora e auto-eternizante
incerteza é uma experiência inteiramente distinta da de uma vida subordinada à tarefa de
construir a identidade, e vivida num mundo voltado para a constituição da ordem
(BAUMAN, 1998, p. 37).
No mundo de hoje vive-se sob o império do medo e a constante dúvida. No jogo da
vida as regras são constantemente alteradas no curso da disputa. “O mundo construído de
objetos duráveis foi substituído pelo de produtos disponíveis projetados para imediata
obsolescência. Num mundo como esse, as identidades podem ser adotadas e descartadas
como uma troca de roupa” (BAUMAN,1998, p.112). Com a nova desordem mundial, não
28
há um nculo entre a ordem social e a vida individual como projeto. Certamente não há,
nesse mundo, nada imóvel, os movimentos parecem aleatórios, dispersos e destituídos de
direção (op. cit., 1998, p. 112).
Em uma outra abordagem, ao discutir o fenômeno da globalização, Dreifuss (2001)
apontou três processos diferentes, embora indissociáveis, que se entrecruzam e são
alimentados pelas novas tecnologias, a saber: mundialização, globalização e
planetarização. A mundialização, afirma o autor, lida com estilos de vida, usos e costumes;
enquanto a globalizão refere-se à produção e comercialização da tecnologia; e a
planetarização trata da gestão normativa e regulamentadora.
Apesar de reconhecermos que esses processos sejam indissociáveis, nesta pesquisa,
iremos nos deter no conceito de mundialização.
Dreifuss define mundialização (2001, p. 136) como fenômeno que “lida com
mentalidades, bitos e padrões; com estilos de comportamento, usos e costumes e com
modos de vida, criando denominadores comuns nas preferências de consumo das mais
diversas índoles”. Lidando com mentalidades, estilos de comportamentos, uso e costumes e
com modos de vida, a mundialização é um fenômeno que alcança diretamente o universo
da cultura.
Ainda para o mesmo autor, a mundialização compreende a generalização e
uniformização de produtos, instrumentos, informação e meios à disposição de importantes
parcelas da população mundial (p. 136) Nutridos pelos denominados produtos
inteligentes”, verdadeiros sustentáculos do processo, tais como os instrumentos-sistema
(computadores, Tvs, fax), os instrumentos-conhecimento (programas e “software”) e pelos
serviços-sistema (calcados na indústria da informação), culturas inteiras se vêem invadidas
por uma nova linguagem, ocorrendo uma inigualável homogeneização.
Ao analisar esses “produtos inteligentes”, baluarte das tecnologias de informação e
comunicação, Castells (2003, p. 414) ressalta a importância que esses produtos adquirem
na construção de uma nova linguagem, cuja característica é integrar, em um único sistema,
o digital, as modalidades escrita, oral e audiovisual em uma rede interativa, acarretando
mudanças consideráveis no caráter da comunicação. Comunicação que, decididamente
ressalta o autor, molda a cultura, fornecendo os elementos para a construção da realidade,
uma vez que “nós não vemos [...] a realidade [...] como ‘ela’ é, mas como são nossas
linguagens” (op. cit., p. 414).
29
Postman (APUD CASTELLS, 2003, p. 414) afirma que nossas linguagens são
nossos meios de comunicação. Nossos meios de comunicação são nossas metáforas. E
acrescenta: “nossas metáforas criam o conteúdo de nossa cultura”.
Castells (2003, p. 415) afirma que por meio do novo sistema de comunicação,
mediado por interesses sociais, políticas governamentais e estratégias de negócios, está
surgindo uma “cultura da virtualidade real”. Nessa nova cultura, “todas as expressões
culturais” eclodem “nesse universo digital que liga, em supertexto histórico [...], as
manifestações passadas, presentes e futuras na mente comunicativa. Essas manifestações
temporais são, por sua vez, responsáveis pela construção de um “novo ambiente
simbólico” que, passando a permear a cultura, fazem da “virtualidade nossa realidade”(op.
cit., 2003, p. 458).
Lévy (1999, p. 17) discute a infra-estrutura material da comunicação digital
com seu o universo oceânico de informações e os seres humanos que navegam e alimentam
esse universo —, ressaltando as transformações que esta introduz na cultura e o surgimento
de um novo fenômeno, que denomina “cibercultura”. Para esse autor (op. cit., 1999)
“cibercultura é um neologismo que especifica o conjunto de técnicas (materiais e
intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se
desenvolvem no interior das culturas”.
Nesse sentido, as tecnologias de informação e comunicação, com seus “produtos
inteligentes”, ao invadirem e se superporem às culturas locais, fundam um acontecimento
que, analisado de distintas maneiras, revela a complexidade de um controvertido
fenômeno, ora denominado “mundialização”, ora “cultura da virtualidade real”, ora
“cibercultura”.
2.4 Cibercultura e efeitos sobre a cultura
Estamos vivenciando profundas modificações na cultura, nas relações sociais, na
política, na economia e, principalmente, presenciando o reflexo dessas mudanças, que
atingem a Educação.
A nova rede de comunicação planetária instaura a noção de tempo real,
inaugurando uma outra forma de comunicação. É o que Lévy (1999) denomina de
ciberespaço, também chamado de rede, a interconexão mundial dos computadores,
responsável por um novo espo de comunicação, de sociabilidade, de organização e de
30
transação, mas também um novo mercado de informão e de conhecimento. O
ciberespaço engloba a infra-estrutura material da comunicação digital, as informações
que circulam por ele, os indivíduos que navegam e alimentam esse universo, enfim, é um
espaço de comunicação aberto, no qual ocorre a interconexão mundial das informações,
dos computadores e dos homens. O ciberespaço possibilita que pessoas, nas mais
diferentes latitudes e longitudes, compartilhem informões e discutam idéias em tempo
real (op.cit., 1999).
Espo imaginário, o ciberespaço é o espaço da inteligência coletiva, da
construção do conhecimento em rede, local de informação de todo gênero (op. cit., 1999).
a cibercultura, definida anteriormente, embora guarde certa independência do
fenômeno do ciberespaço , seu crescimento encontra-se hoje intimamente relacionado
com o ciberespo. Mas, decerto ela possui algo especial, que é a capacidade de
armazenamento de informão numa escala inimaginável, passando a gerar uma
inteligência coletiva, uma vez que todos que necessitem ou possuam informações, passem
a contar com esse depósito de dados, para pesquisarem e disponibilizarem seus conteúdos
(op. cit., 1999).
Lévy (1999) ressalta que a “inteligência coletiva” é o novo pharmakon, ou seja,
remédio e veneno para a cibercultura, pois é um veneno para aqueles que dela não
participam, ficando os excluídos cada vez mais para trás, e um remédio para aqueles que
conseguem participar ativamente, sem se perderem na imensidão desse espaço,
considerado por esse autor como socializante, participativo e emancipador.
Responsável pela transformação da noção de cultura, a cibercultura é o lócus das
tecnologias e objetos digitais, expressando a dinâmica das redes interativas, que colocam
os homens diante de um caminho sem volta. Imersos na cibercultura, dependemos de
nossos celulares quase sempre para nos comunicar; profissionais, estudantes,
trabalhadores, idosos utilizam cartões magnéticos para andar nos transportes coletivos, e
muitos desses para fazer transações bancárias e, enquanto isso, o mundo dos negócios
usa o dinheiro digital. Fotografias são hoje tiradas de câmeras digitais, o controle remoto
nos muda de canal quase que instantaneamente. É importante frisar que a cibercultura não
diz respeito apenas aos computadores ou a Internet, mas a todos os equipamentos e
programas que sustentam e são sustentados pela revolução microeletrônica, produtos que
estão presentes no dia-a-dia das pessoas e que interferem nos modos de vida de
diferentes povos (BOHADANA, 1999).
31
Em entrevista concedida à revista Online Archipress
9
(1998), Lévy nos lembra
que a cibercultura “não é a cultura dos internautas, é a transformação profunda da noção
mesma de cultura e como tal reflete a universalidade sem totalidade”. Cultura universal,
porque promove a interconexão generalizada de computadores e sem totalidade, que
cada conexão dessa rede é única, é fonte de heterogeneidade, comportando uma
pluralidade de sentidos que estão constantemente se renovando. Quanto mais universal
(extenso, interconectado, interativo), menos totalizável”, eis o paradoxo central e essência
da cibercultura, segundo esse autor (1999).
Na mesma entrevista, outras afirmativas são feitas por esse autor (1998),
demonstrando otimismo em relação à situação, principalmente, quando assevera que “a
rede é antes de tudo um instrumento de comunicação entre indivíduos, um lugar virtual
no qual as comunidades ajudam seus membros a aprender o que querem saber, e ainda
surpreende o leitor ao responder que a rede apresenta sua própria forma de controle, por
meio da opinião pública e das instituições que dela fazem parte.
Cabe lembrar, todavia, que tais afirmativas não consideram que a maior parte da
população do planeta se encontra excluída dessa rede, haja vista que a Internet é utilizada
apenas por 5% da população mundial, porcentagem que, além de muito baixa, se encontra
concentrada nos países desenvolvidos, o que torna impossível, para a maioria da
população, participar de qualquer forma de controle citado pelo autor. No caso do Brasil,
que não é dos piores, segundo pesquisa de 2005
10
, mais da metade dos brasileiros (55%)
nunca tinham utilizado um computador e 68% deles nunca acessaram a Internet” e [...]
apenas 16,6% dos brasileiros possuem computador em casa”. Como deverá ser a relação
computador/habitante na maior parte dos países africanos? o caberia o controle mais
uma vez às elites capitalistas?
Diferente do que se pensa, a Internet não está fora dos interesses da mídia
mundial, pois cerca de 80% do que é veiculado está hoje concentrado nas mãos de
algumas poucas corporações transnacionais, que, aos poucos, vão limitando os conteúdos
da rede ou simplesmente a transformando num grande supermercado virtual
(BOHADANA e ZORRAQUINO, 2005)
11
.
Não podemos nos esquecer de que um dos fatores responsáveis pelo crescente
aumento da exclusão social, reforçada ainda mais pela exclusão digital, são os agentes da
9
Dispovel em : http://www.archipress.org/Lévy/entretien.htm. Acesso em 25 out 2007.
10
Dispovel em :http://www.cgi.br/infoteca/clipping/2005/mídia 124.htm. Acesso em 23 dez 2005.
11
Neoliberalismo, globalización capitalista y nuevas tecnologias : sus impactos em latinoamericana”
32
globalização, que, em busca de maiores lucros, investem na inovação e na renovação
tecnológica, tornando rapidamente obsoletos os equipamentos e programas de
informática.
Por outro lado, na mesma entrevista, ainda que de forma bem simplista, Lévy
(1998) reconhece a necessidade de “explorar as potencialidades do ciberespaço nos
planos econômico, político, cultural e humano”, afirmando que, mais do que uma
solução, a cibercultura é um problema a resolver”, indicando a necessidade de uma
profunda reflexão crítica em relação às transformações oriundas desse fenômeno.
Segundo esse autor (1999, p. 167), “o ciberespaço tende a tornar-se a principal
infra-estrutura de produção, transação e gerenciamento econômicos” e, em algumas
dezenas de anos, será o principal equipamento coletivo internacional de memória,
pensamento e comunicação, e qualquer política educacional terá que considerar tal fato
como extremamente relevante. No caso brasileiro, muita pesquisa e investimento,
certamente, terão que fazer parte de qualquer projeto que envolva o acesso à linguagem
digital e não apenas à simples instrumentalização tecnológica.
Para esse autor (1999, p. 172), não se trata de impor tecnologia nas escolas a
qualquer preço, mas sim de acompanhar “consciente e deliberadamente uma mudança de
civilização, que questiona profundamente as formas institucionais, as mentalidades e a
cultura dos sistemas educacionais tradicionais, sobretudo, os papéis de professor e de
aluno”.
Formar um indivíduo na sociedade informatizada vai muito além da
instrumentalização das escolas. O ato educativo tem por objetivo não apenas a adaptação
à realidade, como o desenvolvimento cognitivo, mas também uma formação ética, crítica
e humanista. Formação capaz de favorecer o posicionamento dos cidadãos contra as
diferenças socioeconômicas, impostas e acirradas pelo predomínio da regulamentação do
mercado sobre as decisões políticas e culturais da sociedade em sua totalidade.
Conforme Lévy (1999, p. 172):
A grande questão da cibercultura, tanto no plano de redução de custos como no
do acesso de todos à educação, não é tanto a passagem do presencial à
“distância”, nem do escrito e do oral tradicionais à “multimídia”. É a transição de
uma educação e uma formação estritamente institucionalizada (a escola, a
universidade) para uma situação de troca generalizada dos saberes, o ensino da
sociedade por ela mesma, de reconhecimento autogerenciado, móvel e contextual
das competências.
33
E para realizar sua grande utopia, unindo a totalidade dos seres pensantes na
construção de uma memória coletiva comum, o autor (1999, p. 173) acrescenta que o
papel dos poderes públicos deveria ser o de garantir a todos uma formação elementar de
qualidade, autorizar a entrada gratuita a midiatecas, a centros de orientação, a pontos de
entrada no ciberespaço, sem negligenciar a indispensável mediação humana do acesso ao
conhecimento e, ainda, regular uma nova economia do conhecimento, em que cada
sujeito ou cada grupo seria considerado “como recursos de aprendizagem potenciais ao
serviço de percursos de formação contínuos e personalizados”.
Tais pensamentos levam-nos a refletir sobre o papel do docente na sociedade
digital, que segundo esse autor não pode mais ser a de difusão de conhecimentos,
que agora pode ser realizada por outros meios mais eficazes. Sua competência deve
deslocar-se no sentido de incentivar a aprendizagem e o pensamento, sua atividade será
centrada no “acompanhamento e na gestão das aprendizagens: o incitamento à troca dos
saberes, a mediação relacional e simbólica, a pilotagem personalizada dos percursos de
aprendizagem.” (LÉVY, 1999, p. 171).
Os sistemas educativos encontram-se submetidos a novas restrições no que tange
à quantidade, à diversidade e à velocidade de evolução dos saberes. Quantitativamente, a
demanda de formação é maior do que visto na história da Humanidade. Quase metade
da sociedade está ou gostaria de estar na escola, enquanto isso, as universidades
transbordam. Para Lévy (1999) não será possível aumentar o número de professores
proporcionalmente à demanda de formão que se apresenta em todos os países, que é
cada vez maior e mais diversa. A questão do custo é um elemento complicador para os
países subdesenvolvidos. Será necessário, portanto, encontrar soluções que utilizem
técnicas capazes de aumentar o esforço pedagógico dos professores e dos formadores.
Audiovisual, televisão educativa, técnicas clássicas de ensino a distância, ensino assistido
por computador, etc., todas essas técnicas, conforme a situação do “ensinado”, podem ser
pensadas, e todas foram amplamente testadas e experimentadas. Tanto em termos de
infra-estruturas materiais, como no de custos de funcionamento, as escolas e
universidades “virtuais” custam menos do que as escolas e universidades materiais, que
fornecendo um ensino “presencial”.
Mas, a demanda de formação não conhece apenas, segundo o autor supracitado,
apenas um crescimento quantitativo, haja vista que passa, também, por uma profunda
mudança qualitativa no sentido de uma necessidade crescente de diversificação e de
34
personalização. “Os alunos toleram cada vez menos cursos rígidos, que não atendem as
suas reais necessidades e à especificidade de seu trajeto de vida. Uma resposta ao
crescimento da demanda, com uma simples massificação da oferta, seria uma resposta
‘industrialista’ ao modo antigo, inadaptada à flexibilidade e à diversidade necessárias de
agora em diante” (LÉVY, 1999, p.170).
Cada dia que passa, as instituições de ensino estão oferecendo cada vez mais aos
estudantes a possibilidade de navegar no oceano de informação e de conhecimento
disponibilizado pela Internet. Há programas educativos que podem ser seguidos na World
Wide Web à distância. Os suportes hipermídia permitem acesso à grande quantidade de
informações. Simulações podem ser feitas, familiarizando-se à prática de fenômenos
complexos, a baixo custo e sem risco. Afirma Lévy (1999) que a distinção entre o ensino
presencial e o a distância será cada vez menos pertinente, já que o uso dos suportes
multimídia interativos vem sendo integrado às formas mais clássicas de ensino. A direção
mais promissora em relação à mudança qualitativa nos processos de aprendizagem, que
por sinal traduz a perspectiva da inteligência coletiva no campo da educação, é a da
aprendizagem cooperativa. Nesse caso, a competência do professor deve se deslocar para
um animador da inteligência coletiva dos grupos que estão sob sua responsabilidade (op.
cit., 1999, p. 170).
Mas, o futuro da cibercultura é ainda assunto indeterminado, pois enormes
interesses envolvidos e projetos contraditórios defrontando-se.
Sabemos que o ciberespaço é um verdadeiro campo de batalha para os
industriais da comunicação e dos programas. No entanto, a guerra que opõe algumas
grandes forças econômicas não deve mascarar a outra, que coloca em conflito uma visão
puramente consumista do ciberespaço, e uma outra, a do movimento social, que faz a
cibercultura se propagar, com inspiração no desenvolvimento das trocas dos saberes e das
novas formas de cooperação (op. cit., 1999, p. 178).
Para Lévy (1999, p. 200), a melhor utilização que possa ser feita dos
instrumentos de comunicação com suporte digital é a união eficaz das inteligências e das
imaginações humanas.
A inteligência coletiva é uma inteligência variada, distribda por todos os
lugares, constantemente valorizada, colocada em sinergia em tempo real, que
engendra uma mobilização otimizada das competências. Assim como a entendo,
a finalidade da inteligência coletiva é colocar os recursos de grandes
coletividades a serviço das pessoas e dos pequenos grupos e o o contrário.
É, portanto, um projeto fundamentalmente humanístico, que retoma para si, com
os instrumentos atuais, os grandes ideais de emancipação da filosofia das luzes.
35
O devir da cibercultura ainda é uma incógnita porque envolve, na maior parte do
tempo, diversos atores, diversos projetos, diversas interpretações, que, muitas vezes, são
conflitantes.
A aceleração da mudança, a universalização sem totalidade são tendências que
parecem ao autor irreversíveis; no entanto, a maneira como essas tendências o
repercutir na vida econômica, política e social permanece indeterminada.
A luta de forças e dos projetos existentes nos proíbe a ilusão de que temos a
disponibilidade total da técnica. Além das restrições econômicas e materiais que os
limitam, os projetos devem fazer frente a projetos rivais. Mas o próprio fato de existirem
conflitos nos confirma o caráter aberto do devir tecnológico e de repercussões sociais.
De acordo com esse autor (1999, p. 201):
Em uma escola, é possível limitar a rede de comunicação ao estabelecimento e
favorecer prioritariamente o uso de programas de ensino assistido por
computador. É posvel também abrir a rede local para a Internet e encorajar as
compras de equipamentos e programas adequados para sustentar a autonomia e
as capacidades de colaboração dos alunos.
Aqui, projetos pedagógicos contraditórios, possivelmente de grupos rivais dentro
da mesma instituição, poderão traduzir-se por configurações técnicas diferentes.
Ainda seguindo o pensamento do referido autor (1999), não uma abordagem
neutra ou objetiva da cibercultura: o que existe é um grande projeto, o da inteligência
coletiva, que seria a aspiração mais profunda da cibercultura, não se tratando de forma
alguma de uma utopia tecnológica”, mas de um movimento de emancipação e exaltação
do humano, que tem por apoio as novas tecnologias de informação e comunicação.
Qualquer reflexão em relação à cibercultura nos deve remeter,
obrigatoriamente, à existência de um novo espo de comunicão, cujas potencialidades
caberão a nós explorarmos, conjugando imaginação e inteligência, sem negligenciar a
preservação da humanidade.
36
2-5 A Educação no âmbito das TIC
O termo educação é de origem latina. Provém de educere, formado pelo prefixo
ex, que indica movimento para fora e do verbo ducere, que significa conduzir, levar
significando, literalmente, “conduzir para fora”. Entretanto, essa expressão conduzir
para fora pode adquirir dois sentidos: laar o indivíduo para o mundo ou prepará-lo
para a vida. Acreditamos que, nesse movimento, na produção de sentidos para essa
condução, estejam implícitos os valores consagrados do existir do homem, tendo como
base a ética e a estética (BOHADANA; SKLAR, 2007).
Assmann (1999, p. 26) nos afirma que “educar é a mais avançada tarefa social
emanciparia”. Nesse caso, indagamos quais seriam os elementos que poderiam contribuir
para que essa dimensão emancipatória pudesse ocorrer em plena revolução digital. Saber
lidar com as novas tecnologias? Saber manipular as informações para transformá-las,
posteriormente, em conhecimento?
Acreditamos que, nesse momento de profundas transformações, a Educação tende a
repensar seu papel, considerando-se que a reflexão em nada exclui a ação emancipadora e
transformadora e que esta deverá incentivar o pensar e ativar a consciência crítica,
garantindo, assim, não apenas a reprodução e produção do conhecimento, mas reafirmando
valores éticos fundamentais.
Mas, o que é afinal educar? Para que educar? Inúmeras são as respostas,
dependendo da linha de pensamento que segue o pesquisador. Entretanto, passemos a
entender algumas delas.
Adorno, um dos expoentes da construção da Teoria Crítica, revelou constante
preocupação com a influência das técnicas e dos meios de comunicação na formação
cultural dos indivíduos e com os fundamentos da educação. Criou, com Horkheimer, o
conceito de indústria cultural: “A indústria cultural determina toda a estrutura de sentido da
vida cultural pela racionalidade estratégica da produção econômica, que se inocula nos
bens culturais, enquanto se convertem estreitamente em mercadorias” (ADORNO, 2003, p.
21).
Cabe lembrar que a sociedade alemã, por volta da década de 1950, em plena
reconstrução, se via muito apreensiva diante do surgimento da televisão, o mais recente
meio de comunicação de massa da época, e de seus efeitos sobre a formação cultural da
população. Em seu texto Televisão e Formação, Adorno (2003, p. 75-95) esclarece que
37
“[...] é possível referir-se à televisão enquanto ela se coloca a serviço da formação cultural,
ou seja, enquanto por seu intermédio se objetivam fins pedagógicos: na televisão educativa
e em atividades formativas semelhantes [...]”. No entanto, chama a atenção para o fato de
existir “[...] uma espécie de função formativa ou deformativa operada pela televisão como
tal em relação à consciência das pessoas, conforme somos levados a supor, a partir da
enorme quantidade de espectadores e da enorme quantidade de tempo gasto vendo e
ouvindo televisão [...].
Sem hesitar, Adorno (2003, p. 77) afirma:
eu seria a última pessoa a duvidar do enorme potencial da televisão justamente
no referente à educação, no sentido da divulgação de informações de
esclarecimentos [...] o que é moderno na televisão é sua técnica de transmissão,
mas se o conteúdo da transmissão é ou não é moderno, se corresponde ou não a
uma consciência evoluída, esta é a questão que demanda crítica.
Algo similar podemos alertar em relação às outras TIC. Elas tanto podem fortalecer
uma perspectiva tecnicista da tecnologia, quanto podem se prestar a um uso que favoreça,
entre outros, a produção do conhecimento, da ciência, incentive a pesquisa, mesmo que a
problemática referente ao seu uso democrático permaneça como importante questão a ser
enfrentada.
O cuidado em o mitificar qualquer técnica tem se mostrado de fundamental
importância, a fim de não perdermos a visão crítica. No caso específico da televisão, esse
autor (op. cit., 2003, p. 132) observou que o valor que a sociedade dava à técnica era muito
exagerado, algo irracional, até mesmo patológico.
Os homens inclinam-se a considerar a técnica como sendo algo em si mesma, um
fim em si mesmo, uma força própria, esquecendo que ela é a extensão do braço
dos homens. Os meios e a técnica é um conceito de meios dirigidos à
autoconservação da espécie humana são fetichizados, porque os fins uma
vida digna encontram-se encobertos e desconectados da consciência das
pessoas.
Em relação à educação, considerava impraticável que a mesma estivesse voltada a
determinados modelos ideais, não podendo a escola funcionar como uma espécie de linha
de montagem de indivíduos, todos muito bem ajustados e adaptados a um processo maior.
A partir dessa preocupação, problematiza o papel da Educação na formação do homem,
alertando que se por um lado não cabe uma educação que vise à “modelagem de pessoas”,
38
por outro, também não cabe educar tendo como alvo a “mera transmissão de
conhecimentos”.
Para Adorno (2003, p. 142), a Educação deve se voltar para “a produção de uma
consciência verdadeira”. Isso seria, inclusive, da maior importância política [...] Isto é:
“uma democracia com o dever de não apenas funcionar, mas operar conforme seu
conceito, que demanda pessoas emancipadas”.
Emancipação, para esse autor, seria o mesmo que conscientização e racionalidade;
é preparar os homens para se orientarem no mundo, reforçando a idéia de resistência e do
não conformismo diante de uma ordem vigente. O principal objetivo da educação seria a
“desbarbarização” (op. cit., 2003, p. 156).
Entendo por barbárie algo muito simples, ou seja, que estando na civilização do
mais alto desenvolvimento tecnológico, as pessoas se encontram atrasadas de um
modo peculiarmente disforme em relação a sua própria civilização [...] superar a
barbárie é decisiva para a sobrevivência da humanidade.
A presença da barrie ou a possibilidade de seu retorno fez parte do contexto
sociocultural em que viveu Adorno; daí a questão da desbarbarização da educação aparecer
de forma constante em seus escritos e conferências. A barbárie não seria o resultado do
capitalismo selvagem, mas uma característica permanente encontrada no interior da
civilização em todos os tempos.
No que tange a essa temática, Zuin (2001, p. 130) ressalta:
As condições objetivas que produziram a barbárie de Auschwitz, de Hiroshima e
Nagasaki, do genocídio da população do Timor [...] e tantas recaídas nas práticas
desumanas permanecem, sua maldição não foi ainda exorcizada. A procissão das
famintas e violentadas crianças e mulheres africanas, as mutilações e mortes
cotidianas no Rio de Janeiro e o Paulo, vítimas de gangue de drogas e da
violência urbana generalizada mostram a trágica atualidade das análises
adornianas sobre a permanência das condições objetivas que geram a barbárie.
Que Auschwitz não se repita. É uma importante articulação que o autor estabeleceu
entre a educação e a ética. Auschwitz não no sentido de campo de concentração ou de
experimentação, mas simbolizando a formação humana que vem sendo tecida dentro da
lógica capitalista, que deve ser questionada.
Adotando também uma abordagem ctica em relação à Educação, Freire, o
precursor da educação libertadora, observa que o homem é o único animal que estabelece
39
relações e não contatos como os outros animais. Ser inacabado, ele não apenas está no
mundo, mas com o mundo” (2000b, p. 39), ele é o único animal que transcende, resultado
esse não só de sua espiritualidade, como de sua transitividade de consciência, que o liberta.
Por ter a capacidade de discernir, descobre a sua temporalidade, lançando-se na História e
na cultura, domínios seus, que não teriam sentido sem sua existência (op. cit., p. 39).
O homem é também um ser de integração, à medida que apresenta a capacidade de
ajustar-se às situações, ajustar-se à realidade, acrescido do fato de transfor-la, cuja nota
fundamental é a criticidade. O homem integrado é o homem sujeito e, na medida em que o
homem perde sua capacidade de optar e vai sendo submetido a decisões alheias, as
decisões tomadas não são suas o homem se acomoda, se ajusta. É necessário, assim,
uma permanente atitude crítica para realizar a vocação natural do homem de se integrar.
Quando o homem aceita deliberadamente decisões alheias, rebaixa-se a objeto,
adotando um “eu” no qual não lhe pertence. Daí a necessidade de uma atitude crítica
permanente, única maneira pela qual o homem poderá ser ele mesmo, não um simples
expectador de acontecimentos. É a única forma de se integrar à sociedade, superando a
situação de mero ajustamento. “O homem descritizado é o domesticado” (FREIRE, 2000b,
p. 51). O maior compromisso da educação deve ser com a existência do homem, em que
“ser mais” deve ser insistido como vocão ontológica do homem (FREIRE, 2000a, p. 99).
Freire (1975) pensa o ato de educar baseado na relação de dialogicidade entre
educador e educando, na qual ambos aprendem ao mesmo tempo. Afirma o autor,
“ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se
educam em comuno, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 1975, p. 69).
Para Freire, educar é formar (1999, p.110), ou seja, é muito mais do que treinar para
o desempenho de determinada destreza. O ensino de conteúdos não pode se dar de forma
alheia à sua formação moral. Toda educação deve proporcionar aos sujeitos um
posicionamento diante de realidade e uma vigilância as práticas que conduzem à
desumanização.
A proposta freireana de educação está voltada para a prática da liberdade, cujo
objetivo está em transformar o trabalhador em um agente político, que age, pensa, vota,
não é manipulado. Dessa forma, a educação libertadora do homem visa a construir o
diálogo, com o qual a massa de oprimidos possa confrontar os opressores, já que é pela
palavra que o homem pode conquistar sua liberdade. Acreditamos que “somente o diálogo,
40
que implica um pensar crítico, é capaz, também, de gerá-lo. Sem ele, não há comunicação
e, sem esta, não verdadeira educação” (FREIRE, 1975, p. 98).
Para Paulo Freire (APUD BOHADANA; VILARINHO, 2004, p. 110):
[...] ensinar exige compreender que a educação é a forma de intervenção no
mundo [...] não posso ser professor se não percebo cada vez que, por não ser
neutra, minha prática exige de mim uma definição. Uma tomada de posição.
Decisão. Ruptura.
Logo, é de suma importância que o professor tenha consciência de que seu
compromisso, como educador, exige uma reflexão sobre sua prática, tendo como referência
a relação homem-realidade. Assim, educar é muito mais do que ensinar um conteúdo, mas
um ato que pode e deve promover a formação crítica. Sob esse olhar, incorporar a
tecnologia informacional, no processo educacional, exige fornecer ao aluno a percepção de
toda a dinâmica globalizada, que sustenta e é sustentada por essa tecnologia, a fim de que
ele possa refletir criticamente sobre as diversas formas de opressão existentes no mundo,
relacionando essa questão ao contexto da formação profissional, como salienta Freire
(APUD BOHADANA; VILARINHO, 2004, p. 111):
O progresso científico e tecnológico que não responde fundamentalmente aos
interesses humanos, às necessidades de nossa existência, perde a sua significação
[...] A aplicação de avanços tecnológicos, com o sacrifício de milhares de
pessoas, é um exemplo a mais de quanto podemos ser transgressores da ética
universal do ser humano e o que fazemos em favor de uma ética pequena, a do
mercado, a do lucro.
Logo, a problematização da realidade com estragia educacional em
oposição à “educação bancária” denominada por Paulo Freire promove a formação de uma
consciência crítica em relação à tecnologia. O importante é que tal consciência o se
restrinja aos conhecimentos técnicos e suas possibilidades, o que provocaria uma visão
puramente tecnicista.
No atual momento, com o avanço das tecnologias e com a globalização, é
fundamental a construção de uma ética que esteja a serviço do homem, e não do lucro e em
benefício das minorias. “Nunca talvez a frase quase feita exercer o controle sobre a
tecnologia e -la a serviço dos seres humanos teve tanta urgência” (FREIRE, 2000a, p.
41
133), cabendo a nós adotarmos uma vigilância freqüente em relação à tecnologia “nem de
um lado, demonologizá-la, nem, de outro, divinizá-la” (op. cit., p. 133).
A partir de um enfoque diferente, Arendt (2005, p. 223) circunscreve a
responsabilidade que a Educação desempenha na formação do homem. Assevera essa
autora que “a essência da educação é a ppria natalidade, ou seja, o fato de que seres
nascem para o mundo”. A educação, assim, é entendida, na esteira do pensar dessa
estudiosa, como uma das atividades mais necessárias da sociedade humana, que estaria
sempre se renovando com a vinda de novos seres em um estado de vir a ser, em processo
de formação.
No comentário que Canivez (1998) tece sobre a abordagem de Arendt, esse autor
ressalta que a originalidade da pensadora reside no fato de ela atribuir ao nascimento um
lugar decisivo. À diferença do que havia feito o seu mestre Heidegger, que conferiu à
mortalidade esse lugar — complementa.
Em um mundo sempre mais velho, é concebida uma criança, e não feita, começa
algo singular, cuja vida e futuro escapam do controle dos pais. Num mundo com visão de
que tudo pode ser fabricado, o nascimento rompe com a noção de controle (CANIVEZ,
1998). Normalmente, o primeiro contato com o mundo se dá na escola, daí sua
responsabilidade e o compromisso que deve ter com as criaas. “A função da escola é
ensinar como o mundo é, e o instruí-las na arte de viver. Dado que o mundo é velho [...]
a aprendizagem volta-se inevitavelmente para o passado(ARENDT, 2005, p. 240). A
escola não é o mundo, nem deve fingir sê-lo; ela é, em vez disso, a instituição que se
interpõe entre o domínio privado do lar e o mundo, com o objetivo de que seja realizada a
transição da família para o mundo (op. cit., p. 240).
O que vem ocorrendo é uma verdadeira crise dos sistemas educacionais. Arendt
afirma que o que há, é um verdadeiro “simulacro de educação” (op. cit., 2005, p. 225), pois
se ensina sem educar, logo, não há como se renovar o mundo, e ao mesmo tempo manter o
“velhonecessário.
A concepção de educação arendtiana não deve ser entendida como conservadora no
sentido social do termo, mantenedora das elites no poder, mas conservadora no sentido de
que o passado não deve ser esquecido em nome do novo, devendo-se conservar a herança
do saber, das experiências recebidas do passado e transmiti-las às novas gerações. Ocorre
que a pedagogia moderna tem adoração pelo novo, o que essa autora denomina com o
pathos da novidade, e desprezo pelo que é tradicional.
42
Segundo Canivez (1998, p. 144):
A força da análise arendtiana está em mostrar que o culto da novidade, e a perda
de memória que lhe está ligada, condenam o indivíduo à repetição. Não há
criação a não ser sobre o fundo da tradição, aceita ou recusada, celebrada ou
criticada, mas conhecida e assumida. Eis por que os verdadeiros revolucionários,
em matéria de educação são conservadores.
Nesse sentido, é importante ressaltar que a conservão é vista por Arendt como
essência da atividade educacional, necessária à manutenção do Patrimônio histórico
cultural, o que nos lança ao desafio de delimitar os elementos componentes desse
Patrimônio. Além disso, essa pesquisadora alerta para as duas crises que permeiam as
sociedades modernas: a da autoridade e a da tradição.
A crise da autoridade é também uma crise da responsabilidade, pois na “educação a
responsabilidade pelo mundo assume a forma de autoridade” (ARENDT, 2005, p. 239).
Toda e qualquer responsabilidade pelo mundo está sendo rejeitada, seja de dar
ordens ou de obedecer. uma relação entre a perda da autoridade da vida pública e
política e nos âmbitos privados da família e da escola. Quanto mais radical se torna a
desconfiança em relação à autoridade na esfera pública, mais chance há de haver seu
reflexo na esfera privada. A autoridade foi recusada pelos adultos e isso significa que eles
se recusam a assumir a responsabilidade pelo mundo ao qual trouxeram as crianças (op.
cit., p. 239). Ainda segundo essa autora, qualquer pessoa que se recuse a assumir
responsabilidade coletiva pelo mundo não deveria ter crianças, sendo necessário proibi-la
de fazer parte de sua educação (op. cit., p. 239).
No que tange à crise da tradição, ou seja, em nossa atitude diante do passado, é
importante ressaltar que o passado não deve ser esquecido em prol do futuro, pois é nele
que encontramos todas nossas experiências, nossos erros e acertos, toda uma gama de
lições que podem ser aproveitadas por outras gerações.
No mundo contemporâneo o problema que se coloca para o educador é o de que a
educação, por sua natureza complexa, “não pode abrir o nem da autoridade, nem da
tradição, e ser obrigada, apesar disso, a caminhar em um mundo que não é estruturado nem
pela autoridade nem tampouco mantido coeso pela tradição, um mundo onde tradição
significa, para muitos educandos, o anacrônico, o que o encontra espo neste mundo de
altíssima velocidade, neste início de terceiro milênio (ARENDT, 2005, p. 245).
No entanto, Morin, sob um outro olhar, utiliza a expressãoensino educativo” para
designar uma concepção de educação cujo objetivo seja o de transmitir não apenas um
43
saber mas uma cultura que permita compreender nossa condição e nos ajude a viver, e que
favoreça, ao mesmo tempo, um modo de pensar aberto e livre” (APUD BOHADANA,
2001, p. 10).
Os desafios que as TIC criam para a educação estão basicamente circunscritos na
relação entre informação e conhecimento, e o educador deveria ultrapassar esse binômio e
lançar-se no que Morin denomina de “ensinar a viver” (MORIN, 2004, p. 47). Para esse
autor, o objetivo da educação não é transmitir a maior quantidade possível de conteúdos
para o aluno, mas o de nele criar um “estado interior e profundo [...] que o oriente em um
sentido definido, não apenas durante a infância, mas por toda a vida” (op. cit., 2004, p.47).
Para que a educação atinja essa meta, porém, “o ensino deve propiciar a transformação do
conhecimento adquirido em sabedoria e a incorporação dessa sabedoria para toda a vida”
(op. cit., 2004, p.47). Essa desafiante tarefa do educador é resumida na seguinte indagação
de Eliot: “Qual o conhecimento que perdemos na informão, qual o saber que perdemos
no conhecimento?” (APUD MORIN, 2004, p.47).
Ao abordar as questões que perpassam o mundo de hoje, Assmann (1999) ressalta
haver três choques básicos: o da sociedade da informação, o da mundialização e o da
sociedade cnico-científica. “É esse fenômeno complexo a que se referem os diversos
nomes: sociedade da informação, sociedade do conhecimento e sociedade aprendente. Os
diferentes nomes indicam ênfases no enfoque analítico e na proposta sociopedagógica”
(op. cit., 1999, p. 18).
O termo sociedade da informação tem apresentado um certo apego tecnicista aos
bits; a sociedade do conhecimento parece ser a terminologia mais correta, uma vez que o
conhecimento transformou-se no recurso humano, econômico, sociocultural mais
importante da atual fase histórica; a expressão sociedade aprendente tem relação com a
proposta de concentrar tudo entre a relação educação e empregabilidade, supondo, assim,
resolver toda forma de exclusão encontrada. Afirma Assmann (1999, p. 20):
Seria absurdo negar a relevância da educação para conseguir emprego no mundo
de hoje. Não se trata de questionar se a educação é uma condição imprescindível
para a empregabilidade. Portanto, tampouco se trata de questionar a urgência de
novas ambientações e novas formas pedagógicas para fazer emergir experiências
de aprendizagem nas quais estejam integradas as novas tecnologias, não como
meros instrumentos, mas como elementos co-estruturantes [...] A equação
educação / empregabilidade / superação da exclusão, além de simplista, torna-se
claramente ideológica quando não vem acompanhada de políticas públicas para
garantir que a dinâmica do mercado obedeça a prioridades sociais.
44
Sobre a questão levantada, cabe lembrar que sérias políticas públicas devem ser
realizadas para empregar o enorme contingente de pessoas com diplomas, ou mesmo sem,
que se encontram fora do mercado de trabalho, cabendo a educação continuar formando
com qualidade, pois esta é sua tarefa.
Muito se tem debatido a respeito do papel das tecnologias de informação e
comunicação e seu potencial solidário. Esse autor (op. cit., 1999, p.20) destaca que
tecnicamente fundamento, pois se tratam de recursos admiráveis para o relacionamento
humano. No entanto, complementa, a sociedade o tem demonstrado ser o soliria
assim como desejaríamos, tornando-se vital a educação para a solidariedade, com isso
talvez possamos “reencantar a educação.
Segundo Assmann (1999, p. 28), teríamos chegado a uma encruzilhada ético-
política e, ao que tudo indica, não se encontrará saída, caso não se incentivem nossas
frágeis predisposições à solidariedade. Assim, adverte (op. cit., 1999, p. 28-29):
Uma sociedade onde caibam todos será possível num mundo no qual caibam
muitos mundos. A educação se confronta com essa apaixonante tarefa: formar
seres humanos para os quais a criatividade e a ternura sejam necessidades
vivenciais e elementos definidores dos sonhos de felicidade individual e social.
CAPÍTULO III
Resultados decorrentes dos Procedimentos Metodológicos
Configurada como documental, a pesquisa teve como material de estudo
dissertações e teses na área da Educação que versam sobre a relação Cibercultura e
Educação, objetivando investigar o enfoque que tem sido dado à questão na produção
acadêmica de Mestres e Doutores.
Conforme foi apresentado no capítulo anterior, trata-se de uma pesquisa
documental, desenvolvida a partir da análise de conteúdo. Seguindo os procedimentos
indicados por Bardin (1977, p. 96), apresentamos, a seguir: a pré-análise, a exploração do
material e o tratamento dos dados.
(3.1) Pré-análise
Acessando o site da CAPES, inicialmente, foi realizado um levantamento dos
Cursos de Mestrado e Doutorado existentes em todo o território nacional, de 2001 a 2006.
Até março de 2007 a área de Educação somava um total de 119 cursos de Pós-graduação,
com 83 de Mestrado e 36 de Doutorado, que se encontram desigualmente distribuídos
pelas diferentes regiões do país:
-Região Norte 3 cursos de Mestrado e nenhum de Doutorado;
-Região Nordeste → 11 cursos de Mestrado e 5 de Doutorado;
-Região Centro-oeste → 7 cursos de Mestrado e 4 de Doutorado;
-Região Sul 23 cursos de Mestrado e 9 de Doutorado;
-Região sudeste 39 cursos de Mestrado e 18 de Doutorado, sendo que o estado de São
Paulo apresenta 23 cursos de Mestrado e 10 de Doutorado, enquanto o Rio de Janeiro tem
9 cursos de Mestrado (7 + 2 com subárea UFRRJ e UERJ) e 4 de Doutorado .
Identificados os cursos de Pós-Graduão em Educação, passamos ao levantamento
dos documentos.
Ainda por meio do site da CAPES, que só disponibiliza as produções acadêmicas
de 1987 a 2004, foi realizada a primeira a busca, usando o critério “assunto”, “educação e
cibercultura”. Foram encontradas apenas 8 (oito) pesquisas no país. A fim de ampliar a
busca, ainda por meio do critério assunto”, usamos as expressões “ensino e cibercultura”
46
e “aprendizagem e cibercultura”. Observamos que as 8 (oito) pesquisas inicialmente
encontradas se revezavam. Usamos, ainda, a expressão sala de aula e cibercultura”, mas
não houve nenhuma alteração no número de pesquisas encontradas.
Assim, resolvemos fazer outros rastreamentos utilizando de sinonímias. Dessa
forma, conseguiríamos os trabalhos em que a palavra “cibercultura” não estivesse sendo
utilizada diretamente, mas de outras formas correlatas.
Mantendo o critério “assunto”, foram usadas as seguintes expressões:
-“educação, Internet e cultura” 13 trabalhos no país (acesso 16/03/2007);
-“educação, web e cultura” → 3 trabalhos no país (acesso 16/03/2007);
-“educação, novas tecnologias e cultura” → 21 trabalhos no país (acesso em 19/03/2007);
Para a definição do corpus da pesquisa, usamos, conforme apresentamos acima, o
critério “assunto, entretanto, a fim de garantir a adequação dos documentos ao objetivo,
foi feita a leitura dos resumos das pesquisas encontradas.
Selecionados os trabalhos, precisávamos ter acesso aos mesmos. Nesse ponto, as
dificuldades foram grandes, especialmente no que diz respeito às pesquisas de outros
estados. Buscamos ajuda na biblioteca, e a bibliotecária da instituição se prontificou a
promover um intercâmbio com outras bibliotecas. Entretanto, o alto custo e o tempo
necessário, entre outras questões, nos levaram a reavaliar a abrangência da área de estudo.
Ficou resolvido que abrangeríamos os 7 programas de Pós-Graduação, na área de
Educação, do Estado do Rio de Janeiro, a saber:
-Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) — Mestrado e Doutorado;
- Universidade Federal Fluminense (UFF) — Mestrado e Doutorado;
- Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) — Mestrado e Doutorado;
- Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RIO) — Mestrado e Doutorado;
- Universidade Estácio de Sá (UNESA) Mestrado;
- Universidade Católica de Petrópolis (UCP/RJ)Mestrado;
- Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) — Mestrado.
Deve-se esclarecer que foram desconsiderados 2 (dois) programas que possuem
subáreas: um mantido pela UFRRJ em Educação Agrícola , por não apresentar
afinidade com o tema proposto, e outro mantido pela UERJ, na Faculdade de Educação da
Baixada Fluminense (FEBF), em Educação, Cultura e Comunicação nas Periferias
Urbanas, pelo fato de ter sido reconhecido recentemente, em outubro de 2006, e sua
47
primeira turma ter iniciado no primeiro semestre de 2007, conforme informações dadas
pela respectiva coordenação.
O Mestrado em Educação da UNIRIO também não foi considerado, visto ter sido
reconhecido no primeiro semestre de 2004 e iniciado suas atividades no segundo semestre
do mesmo ano. Em abril de 2007, esse curso de Mestrado apresentava 13 (treze)
dissertações defendidas e aprovadas, mas ainda não entregues à biblioteca. A coordenação,
muito gentilmente, disponibilizou-as para a leitura, no local, não sendo encontrada
nenhuma que tratasse da relação Cibercultura e Educação.
A fim de ampliar o número de pesquisas, dada a restrição da área de estudo, tornou-
se necessário ir “in loco, especialmente, para a obtenção das produções dos anos de 2005
e 2006. Nessa visita foi efetuada a leitura dos resumos dos trabalhos encontrados para
completar a pesquisa.
Assim, por instituição, foram selecionados, de 2001 a 2006:
— UERJ: 1dissertação;
— UFF: nenhuma;
— UFRJ: 1dissertação;
— UNIRIO: nenhuma;
— UNESA: 7 dissertações;
— UCP: nenhuma;
— PUC: 2 teses e 2 dissertações.
Totalizando, portanto, 13 produções acadêmicas.
É importante salientar a necessidade de se relativizar os dados encontrados em
virtude do atraso nas entregas oficiais dos trabalhos às respectivas coordenações, como
alegam as secretarias da UFRJ e UERJ.
No dia 17/04/2007, durante visita à UERJ, a biblioteca do Mestrado em Educação
recebeu uma dissertação que tinha sido defendida em 2003. Outro fato que vale ser
mencionado é o de que havia uma dissertação, também da UERJ, identificada por meio de
registro na CAPES logo entregue à coordenação –, e que não constava da relação de
teses defendidas à disposição do público na biblioteca.
Constituído o corpus da pesquisa, foi realizada a “leitura flutuante” dos documentos
selecionados, tal como recomenda Bardin (1977, p. 97). Essa leitura foi muito importante
para ratificação do objetivo e elaboração das questões de estudo, já apresentadas no
primeiro capítulo.
48
(3.2) Exploração do Material
Nesta etapa, segundo Bardin (1977, p. 99), os dados brutos são codificados para se
atingir o núcleo de compreensão do texto. O conteúdo dos diferentes documentos
analisados será apresentado a seguir, organizados por temas.
1) Pesquisa A de Andréa Cecília Ramal sob o título “Educação na Cibercultura:
Hipertexto, Leitura, Escrita e Aprendizagem” – Ano 2001 – Tese de Doutorado.
Resumo:
O hipertexto digital é mais do que uma forma de leitura e escrita não
linear. Mefora das novas relações com o conhecimento, essa tecnologia
intelectual traz questionamentos e provocações aos diversos campos do
saber humano, entre eles, a educação. Neste trabalho, é discutida e
analisada a educação que começa a ser desenvolvida no contexto da
cibercultura, em especial a partir do estudo das novas noções de
subjetividade, dos conceitos de autoria e hiperleitura e da relativizão de
categorias próprias das sociedades da oralidade e da escrita. Com base no
pensamento de Mikhail Bakhtin e Pierre Lévy, propõe-se uma
compreensão do hipertexto como nova versão da polifonia bakhtiniana,
imagem inspiradora para a concepção de um currículo escolar em rede e
para a configuração do perfil de professor como arquiteto cognitivo e
dinamizador da inteligência coletiva.
Temas tratados:
Cibercultura
Com relação ao conceito de cibercultura, a pesquisadora adota a definição de Pierre
Lévy (1999, p.17). Entretanto, cabe aqui observar, que a autora não tece nenhuma crítica
ou comentário em relação a essa definição, o mesmo acontecendo com relação ao conceito
de ciberespaço, embora, a autora use tanto a definição de Lévy (1999, p.17) quanto a de
Trivinhos (1999, p.180).
Globalização
Na pesquisa A, a globalização foi abordada como um conjunto de transformações
de ordem política e econômica, que vem acontecendo nas últimas décadas, que tem sido
49
acompanhado de uma intensa revolução nas tecnologias de informação e comunicação,
provocando uma certa homogeneização cultural” (p. 65). A nosso ver, a globalização foi
tratada de forma genérica, muito tímida, não tendo sido enfatizadas as transformações
sociais dela decorrentes e suas repercussões. Ademais, a autora indica uma visita ao site
Globalização e Mercosul para se obter informações que possibilitem análises mais
profundas.
Cabe ressaltar que, embora tenha escrito sua tese na forma de hipertexto, a autora
não coloca o endero do site Globalização e MERCOSUL junto ao texto, tal como outras
indicações semelhantes apresentadas no corpo da pesquisa, mas somente nas referências
bibliográficas. Acreditamos que, dessa forma, a autora demonstrouo dar a devida
importância à globalização e sua articulação com o tema Educação e Cibercultura.
Mercado de trabalho
A atual sociedade da informação vive um intenso paradoxo no campo empresarial,
afirma a pesquisadora: se por um lado, com a globalização, as empresas se defrontam com
a possibilidade de alcançar novos mercados por outros, os mercados tradicionais
encontram-se em constante transformação e, muitas vezes, em busca de maiores lucros, as
empresas têm recorrido à automão, acarretando demissões em massa. Segundo a
pesquisadora, esse é um discurso típico da política neoliberal, que oculta o fato de o
próprio mercado determinar quem serão os excldos. Consideramos que a afirmação
referente às demissões em massa merece mais atenção e cuidado, pois segundo Castells
(2003) alguns empregos estão sendo extintos, mas outros estão surgindo em seu lugar, e a
relação quantitativa entre as perdas e os ganhos varia muito de país para país, conforme o
tipo de empresa, as políticas adotadas, e o momento econômico enfrentado.
Segundo a autora, os teóricos da administração tratam da importância de formar um
novo profissional, o que ela afirma concordar em parte, uma vez que a velocidade com
que a produção da informação cresce, novas competências precisam ser acrescidas à
formação inicial”. A pesquisadora exemplifica, tal importância com a profissão do
telegrafista, que não mais existe, e a do professor, que deverá se “reinventar para não ser
substituído (p. 66). De acordo com a autora, hoje em dia, “trabalhar é estudar, aprender,
gerar inovação e fazer melhorias, numa economia baseada em conhecimento” (p. 66).
50
Exclusão digital e educacional
Outro tema trabalhado pela autora é a exclusão digital, que pode representar um
aumento ainda maior das desigualdades existentes, e “caso não seja acompanhado de uma
política democratizadora do acesso às ferramentas tecnológicas, podem ser mantidas ou
intensificadas as situações de exclusão e dominação que vivemos hoje” (p. 65).
Ainda, segundo a autora, no Brasil a exclusão digital e a educacional estão
diretamente vinculadas à discriminação social (racial, sexual, e regional) e, portanto, esse
deve ser o ponto de partida de qualquer análise sobre a inclusão digital. Com a
incorporação da tecnologia, a autora observa que se deve pôr em questão que tipo de
sociedade desejamos construir, que, por seu turno, está diretamente relacionada ao novo
ser humano que está se configurando.
Autoria
Penetrando no campo da sociolingüística, a autora resgata Bakhtin e o concilia com
o pensamento de Pierre Lévy. Esses dois autores são seus principais referenciais teóricos.
No que se refere à Bakhtin, usa importantes conceitos, como o de monologismo e
o de polifonia, por meio dos quais o pensador expressa que, “em vez de considerar a língua
uma estrutura fixa e rígida à qual precisamos nos adequar, ele propõe, libertar a palavra de
um sentido único, libertar os falantes do monologismo, liberar a leitura da interpretação
hegemônica” (p.138), provocando um novo tratamento à palavra alheia e à palavra cultural
e politicamente desvalorizada.
Ainda referindo-se à Bakhtin, a autora ressalta que, embora o houvesse em seu
tempo Internet, o mesmo anunciava a necessidade de se rever o conceito de autoria,
mantendo coerência com seu conceito de polifonia. Para a autora, o pensamento de
Bakhtin se aproxima do contexto da cibercultura, que num hipertexto são vários atores
em cena e a leitura efetuada é única para cada navegante, podendo-se seguir diferentes
caminhos, bem como criticar, dar opiniões. Assim, ele seria, segundo a pesquisadora, uma
espécie de “subversão das relações entre autor e leitor”, rompendo com a antiga concepção
de autoria.
51
Hipertexto
Utilizando-se do percurso traçado por Lévy, em sua obra “As Tecnologias da
Intelincia”, a pesquisadora nos convida a entrar em contato com a nova forma de escrita
e de comunicação da sociedade informático-mediática, o hipertexto, considerada não
apenas metáfora comunicacional, mas também social. Como o próprio nome indica, e
orientando-se segundo as reflexões sugeridas por Lévy, a autora salienta que o hipertexto é
um ir além do texto. Esse novo espaço de leitura e escrita, onde a reunião de diferentes
vozes e olhares, é uma espécie de convite ao diálogo, a construção de uma cultura
polifônica.
Conforme a autora, novos suportes digitais, como o hipertexto e a hipermídia (onde
se acrescenta som e imagem), tornar-se-ão “as novas tecnologias da inteligência, das quais
a humanidade passará a se valer para aprender, gerar informação, ler e interpretar a
realidade, além de transformá-la” (p. 3).
A autora observa que o hipertexto parece funcionar como nossos esquemas mentais,
por associações, favorecendo a imaginação e a criatividade. O hipertexto é o resultado do
sujeito coletivo, não apenas aos relacionados ao conteúdo, mas também aos projetistas
gráficos, designers, de vários sujeitos que estabelecem conexões o só com o mundo
externo, mas com seu próprio universo interior, onde se redefinem os papéis de autor e
leitor.
Subjetividade
Outro tema tratado na pesquisa é a noção de sujeito, apresentada tal como é
entendida por Bakhtin e por Lévy. O sujeito bakhtiniano surge da interação entre o homem
e seu meio sociocultural, sendo a palavra o signo mediador de toda atividade humana. “O
ser humano é concebido como alguém que se transforma e é transformado nas relações
produzidas na cultura, numa relação dialética com o contexto em que atua” (p.105).
Segundo a pesquisadora, o sujeito coletivo de Lévy apresenta grande afinidade com o que
Bakhtin denominou de “nós”, pois o eu só se realiza em um discurso mediante a existência
de um “nós”.
52
Relação com o conhecimento
Uma vez que estudar a forma como estamos nos relacionando com o conhecimento
é um dos objetivos apresentados pela autora, essa relação constituiu-se um tema
importante.
De acordo com a autora da pesquisa A, é inegável que um novo estilo de sociedade
está se configurando. Salienta que, com o crescente uso dos novos dispositivos
tecnológicos, muitos conceitos, como tempo, espaço e conhecimentos, estão sendo
reformulados, exigindo visões mais complexas. A inteligência passa a ser compreendida
como resultado de agenciamentos coletivos que envolvem as pessoas e as novas
tecnologias. Uma vez alteradas as formas de pensar, a pesquisadora entende que
modificação também nas formas de como o conhecimento é construído.
Educação
Ao tratar da educação, a autora o apresenta nenhuma definição sobre o que é
educar segundo algum teórico da Educação. No entanto, faz referência ao pensamento de
Paulo Freire, de John Dewey, de Vygotsky e de Piaget. E destaca que, com as atuais
mudanças, muitos autores, como “o próprio Piaget” e Vygotsky, deverão ser revistos. Sua
visão de educação vai sendo tecida ao longo do texto, enfatizando a imporncia do diálogo
para sua realização, tendo na linguagem seu ponto de ancoragem. Para sua argumentação, a
autora resgata o pensamento de Bakhtin e busca conciliá-lo com o de Pierre Lévy.
Em contrapartida à perspectiva dialógica, a autora indica que a “educação
tradicional” tornou-se incompatível com as recentes transformações, mostrando-se
obsoleta, geradora de frustrações, excludente e ineficiente. Entretanto, curiosamente, o
apresenta nenhuma definição,o situa a “educação tradicional” em um momento histórico
determinado, faz somente indicações, por uma série de adjetivações, que podem ser
identificadas nas posturas adotadas pelos docentes e nos projetos pedagógicos das
instituões de ensino.
Segundo a autora, a “educação tradicional” está voltada para uma visão de ensino
conteudista, que se desenvolve a partir de uma prática que não estimula o aluno a descobrir
as coisas por si só e a desempenhar um papel de protagonista na construção do
conhecimento. Os alunos são premiados com boas notas caso armazenem boa quantidade
de informações. Além disso, na “educação tradicional”, o saber esorganizado de forma
53
disciplinar, ou seja, em grades curriculares que pouco propiciam as trocas entre os saberes
— complementa.
De acordo com a autora, uma vez que o saber não é mais estático, e a rede não
comporta paralisias, o hipertexto apresenta as possibilidades e a necessidade de abolir as
tradicionais grades curriculares e dar lugar a um currículo em rede com características
análogas as do texto digital. Nesse currículo, não há centro, podendo se transformar a todo
instante, conforme as necessidades e interesses dos alunos, bem como dos objetivos dos
educadores. “Aprender se aproxima de pesquisar, [...] se parece com navegar, [...] é
construir hiperlinks, é dialogar” (p. 202-204).
Destaca que, na perspectiva tradicional, os alunos se encontram nivelados por idade
e tudo deve ser retido da mesma forma e no mesmo ritmo por todos, que são estimuladas
memorizações de datas e acontecimentos, com pouca ou nenhuma significação para os
alunos, além de cópias imensas e de leituras restritas. Enfim, ressalta que sem a busca de
diálogo entre autor e leitor, não se busca a pluralidade dos sentidos, provocando
desinteresse, repetência e indisciplina. Uma produção em série de homens passivos” é
marca dessa educação, que está voltada para a reprodução social, sem qualquer
comprometimento com possíveis transformações da sociedade.
No que diz respeito ao professor tradicional, a pesquisadora escreve que ele
representa a autoridade sobre o que é lido, aprendido e entendido, um transmissor de
conteúdo e das normas cultas, prevalecendo, com isso, o mencionado monologismo.
“Pergunto-me se a sala de aula tradicional muitas vezes não foi um espaço de educação
mais à distância do que os de hoje, nos cursos virtuais” (p.154).
Inspirada na abordagem de Schwartz, a autora identifica três possíveis cenários para
a educação em tempos de cibercultura.
O primeiro é denominado de tecnocracia domesticadora. Nele os humanos vivem
conectados, tendo contato com informações fragmentadas e superficiais, com “zero bites
de conteúdo e sem capacidade crítica”. Muitas escolas somem do mapa e são substituídas
por outras formas de instrução, mesmo porque os professores são trocados por tutores”
responsáveis pela gerência dos cursos oferecidos pela rede e pelos meios de comunicação.
“Vive-se uma espécie de humanização despersonalizadora na educação, isto é, um ensino
centrado no indivíduo no seu ritmo, seus gostos e interesses —, mas não na relação
interpessoal” (p. 274). A tecnologia é alienadora nesse caso.
54
O segundo cenário é denominado de pay-per-learn. A educação é colocada à
disposição de todos através da rede, mas os alunos com melhores condições econômicas
também freqüentam escolas que comportam as principais novidades tecnológicas. “A
preocupação educativa é instruir e capacitar usuários [...]. Professores são contratados em
função de suas destrezas técnicas, em vez de por sua capacidade de crítica sobre o uso ou a
produção de tecnologias da comunicação e da informação” (p. 275). A grande massa é
educada para consumir e trabalhar, repleta de anúncios publicitários que investem na
formação desejada. Apenas poucos, aqueles que podem pagar, têm acesso à educação sem
publicidade. A tecnologia, nesse caso, é de exclusão.
O terceiro cenário é o da cibereducação integradora. Nela o real e o virtual se
misturam, e o humano e o tecnológico se integram. “Por poder ser um leitor-autor dos
textos lidos e recriados, o aluno se forma para agir como autor da própria vida” (p. 275). A
escola se torna o local onde ecoam todas as vozes e falas, onde se tem contato e o diálogo
com diferentes culturas e classes sociais. O saber passa a ser uma construção coletiva, e o
professor dinamiza todo esse processo, estimulando e participando de novas pesquisas. “A
polifonia se faz presente. O homem não é esmagado por seu meio nem tenta adaptar-se a
ele; ao contrário, ele se educa criticando e transformando o meio em função de critérios
que promovem e dignificam sua humanidade” (p. 276) . A tecnologia é de liberdade.
A autora reconhece que os três cenários são possíveis, esperando que o terceiro
prevaleça. Entretanto, trata-se de um cenário ainda muito distante da realidade brasileira e
mesmo mundial, sendo, pelo menos, por enquanto, um privilégio de poucos,
assemelhando-se a fábula da “aldeia global”, comentada por Milton Santos, já discutida
nesta dissertação.
Escola
Segundo a autora, apesar das discussões que vêm ocorrendo nas últimas décadas, a
escola ainda não se apresenta como um espaço libertador na formação de leitores e autores,
pois vem perdendo sua prerrogativa na formação”, sendo suplantada por novas formas de
educação, mais sedutoras. A Internet e a hipertextualidade (materialização da grande rede)
estão lançando novos desafios à escola. Com relação aos computadores, certa
resistência no seu uso que está vinculada aos docentes, conforme verificado na pesquisa
realizada. Segundo a autora, certamente os computadores não resolverão tudo, exigindo
55
uma séria política educacional para a geração de uma nova perspectiva para que a escola
possa acompanhar esse novo momento e redescobrir seu valor.
Para a realização dessa proposta, a autora afirma a importância de se rever as séries
escolares, não as limitando ao peodo de um ano, e estimular a criação de ciclos de
aprendizagem, estruturado em torno de competências. Da mesma forma, considera viável a
proposta de Dewey do ensino por projetos.
Papel docente
A autora destaca a importância da figura do professor tradicional ser modificada,
indicando que, caso isso não aconteça, ele pode ser substituído por softwares interativos,
atraentes, repletos de imagens e de músicas.
A transmissão de dados, de acordo com a pesquisadora, não mais acontecerá via
professor, mas por meio das tecnologias de informação e comunicação, como o
computador. O papel do novo professor é o de atuar como arquiteto cognitivo e, ao mesmo
tempo, como dinamizador da inteligência tudo isso com o objetivo maior de formar
sujeitos conscientes, críticos e capazes de gerenciar e questionar as informações.
“O arquiteto se refere à rede do hipertexto mental que procura ser potencializada
em cada estudante” (p. 207). Utilizando-se de Dunley Jr., a autora compara o novo
professor a um “Sócrates cibernético, que faria parir novas idéias (p. 211).
“O dinamizador da inteligência coletiva pode ajudar a responder ao desafio das
redes a serem criadas entre os estudantes, entre grupos, escolas e sistemas educacionais”
(p. 207).
Embora a questão do professor envolva outros aspectos importantes, como sua
desvalorização na sociedade, o seu baixo salário, a sobrecarga de trabalho, a autora deixa
claro que sua preocupação está em contextualizá-lo nos desafios impostos pela sociedade
atual e não tratar desses aspectos. Por meio de várias entrevistas realizadas, pôde constatar
que o professor se encontra perdido, sem saber o que fazer diante das transformações que
vêm ocorrendo.
Reconhece, também, que o profissional deve ter noção de que nenhuma prática
educativa é neutra e que ele deve orientar a formação dos alunos numa linha humanista,
entendida por ela como algo inautomatizável, que é o estreitamento dos laços sociais. Na
cibercultura “o professor se delineia como alguém que procura problematizar as relações
56
éticas e humanas que atravessam as formas de conhecimento a partir das tecnologias
digitais”.
2) Pesquisa B de Roberto Meireles Pinheiro sob o título Percepção de Qualidade em
Educação a Distância pela Internet: Um Estudo de Caso” - Ano 2002 - Dissertação de
Mestrado.
Resumo:
A presente pesquisa teve por objetivo discutir como um dado sistema de
gerenciamento de EaD, baseada na Internet, pode revelar aplicabilidade
pedagógica a um determinado conteúdo trabalhado a distância.
Discutimos, tamm, de que forma este tipo de sistema pode contribuir
para uma mediação pedagógica adequada dos conteúdos por ele
veiculados, bem como jogar algumas luzes sobre as facilidades e
dificuldades vivenciadas pelos seus usuários. Finalmente, tivemos por
objetivo discutir a exteno e a direção do hiato de qualidade entre a
proposta dos autores e patrocinadores de uma iniciativa específica de
EaD, baseada na Internet, e a qualidade percebida pelos seus usuários.
Logo após a Introdução, esta pesquisa apresenta uma discussão sobre a
Cibercultura e seus reflexos sobre a Educação a Distância, confrontando
diferentes pontos de vista sobre o assunto. Prosseguimos com uma análise
da EaD baseada na Internet no Brasil e com uma apresentação dos
principais gerenciadores de EaD, baseada na Internet. Por fim,
descrevemos brevemente o Curso s-Médio em Informática da
Fundação Bradesco, realizado em convênio com a Cisco Systems do
Brasil, sobre o qual aplicou-se um modelo empírico de avaliação de
percepção de qualidade, a saber, o modelo ServQual, proposto em 1985
por Parasuraman et al. Finalizamos com algumas conclues decorrentes
do confronto de visões dos diversos atores do processo, sugerindo
direções para pesquisa futura.
Temas tratados:
Cibercultura e Ciberespaço
A definição de ciberespo, nessa pesquisa, é orientada por Lévy (2000, p.17). No
que se refere à cibercultura, o termo não foi definido, mas todo o desenvolvimento se deu
em torno da obra Cibercultura, do próprio Pierre Lévy (Op. Cit., p.17).
Assim, segundo o autor, o ciberespo acaba desenvolvendo “uma nova arena de
comunicação, de convio social, de organização e, conseqüentemente, um novo mercado
de informação e aprendizado” (p. 14). Por meio de correios eletrônicos, conferências
online e ferramentas de colaboração, como grupos de discussão, os indivíduos encontram-
57
se cada vez mais conectados e interagindo independente de sua posição geográfica. Dessa
forma, o ciberespaço tende a se tornar o principal instrumento coletivo da memória,
pensamento e comunicação. Opondo-se a essa visão, o pesquisador destaca o pensamento
de Virilio, que afirma que o ciberespaço não passa de um imenso mercado planetário de
bens e serviços.
Cabe ressaltar que, embora o pesquisador assuma uma postura, diante da
cibercultura, semelhante a de Lévy, no decorrer do trabalho ele resgata o pensamento de
Paul Virilio como contrapartida, o que engrandece o estudo.
Referindo-se à Virilio, o autor observa que todo progresso tem fatores positivos e
negativos e que o ciberespaço pode criar uma expectativa de homogeneização da
humanidade, pois os grupos sociais tendem a ser tratados como uma massa pasteurizada,
desconsiderando-se diferenças importantes. Entretanto, mesmo levando-se em conta o
processo de globalizão, as particularidades e a diversidades continuam a existir, devendo
ser ressaltadas” (p. 24).
Orientando-se por Lévy, o autor indica que o ciberespaço oferece condições para
comunicação interativa e coletiva, abrindo caminho, para a integração das comunidades do
planeta.
EAD
No contexto apresentado na pesquisa, as fronteiras do conhecimento têm sido
expandidas, novos paradigmas e uma inteligência coletiva têm sido criados. A
obsolescência o tecnológica, mas também do conhecimento, conduzem à atualização
e ao autodesenvolvimento permanentes.
Segundo o autor, essas mudanças que vêm acontecendo, em ritmo acelerado em
nossa sociedade, colocam a educão aberta e a distância como uma modalidade de
educação cada vez mais adequada e desejável. “Adequada no sentido de atender às
modificações não só do ponto de vista econômico, mas social, político, demográfico,
cultural, e até mesmo natural” (p. 6).
Segundo o autor, a EaD o pode mais ser vista como um meio de superar
problemas emergenciais ou para consertar alguns fracassos do sistema educacional. A
tendência, conforme o pesquisador, é que ela ganhe credibilidade, sobretudo nos níveis de
s-graduação, onde a demanda nunca foi tão intensa, e nos cursos de capacitação das
grandes empresas, por apresentar inúmeras vantagens como: flexibilidade de horário,
58
incentivo à reciprocidade, interatividade, custo reduzido, facilidade de acesso, respeito aos
ritmos individuais, inovatividade pedagógica, entre outras.
Educação e TIC
No contexto da pesquisa, o tema educação está voltado para o aperfeiçoamento e
aquisição de novas competências em relação ao mundo do trabalho. O autor destaca o fato
de que “qualquer reflexão que seja feita em relação à educação e a formação, deve
considerar a análise das mudanças relacionadas ao saber, pois o que se aprende durante
uma carreira profissional torna-se rapidamente obsoleto, o que faz com que as pessoas
estejam sempre em busca de novos conhecimentos. A noção de trabalho mudou e quer
dizer aprender, transmitir saberes e produzir conhecimentos” (p. 16).
O pesquisador o apresenta nenhuma definição ou vinculação entre educação e
ética. Os principais teóricos utilizados para fundamentar a perspectiva de educação foram
Belloni, Lucena, Prieto, e Gutiérrez.
Papel docente
Um novo estilo de pedagogia parece surgir com a cibercultura, afirma o
pesquisador, uma pedagogia em que o favorecidas as aprendizagens personalizadas e
coletivas, em que o professor deve se tornar o “animador da inteligência” de seus grupos,
em detrimento de ser um fornecedor direto do saber. O autor relaciona esse pensamento ao
de Paulo Freire, afirmando que, décadas, Freire já mencionava esse fato, quando
discutia a educação bancária e os seus inconvenientes. Os novos professores” da
cibercultura, afirma o autor, como é o caso dos tutores, parecem incentivar a aprendizagem
e o pensamento, conduzindo o estudante a aprender a aprender, acompanhando, assim, a
gestão da aprendizagem.
3) Pesquisa C de Marta Cardoso de Lima da Costa sob o título “Tutoria em processos
sócio- interacionistas de Educação a Distância: caminho para uma prática alegórica”-
Ano 2003 – Dissertação de Mestrado.
Resumo:
O presente estudo, realizado no âmbito do grupo de pesquisa Leitura e
Tecnologia do Programa de Pós-Graduão em Educação da
59
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, investigou o processo de
formação e atuação de tutores de um curso de formação continuada de
professores, a distância, via rede. A proposta de curso analisada apresenta
como elemento diferencial uma matriz epistemogica fundamentada na
concepção sociointeracionista de educação. A investigação caracteriza-se
como um estudo de caso. O suporte teórico estrutura-se sobre as bases do
sociointeracionismo de Vygotsky; nas idéias de Benjamin, acerca da
reprodutividade técnica, como possibilidade de democratização do acesso
à produção cultural; nas proposições de Freire, Nóvoa, Lévy e Morin,
para a formação docente, frente aos desafios em tempos de cibercultura.
Como resultado, obtivemos indicadores de que a formação do tutor para
processos sociointeracionistas de educação a distância, com o uso da
informática, possui elementos diferenciados das iniciativas
fundamentadas nos moldes tradicionais de educação, em função das
especificidades do modelo proposto.
Temas tratados:
Nova relação com o saber
O texto dessa dissertação é tecido em torno do fio condutor: “as novas relações com
o saber”. Conforme a pesquisadora, estamos diante de mudanças na forma de pensar, agir,
trabalhar, aprender, de nos relacionar; um processo de mudança de paradigma. Deixamos
de ser uma sociedade moderna para passarmos a uma sociedade de informação, onde quem
tem poder é aquele que tem nas mãos o acesso à informação e é capaz de transformá-la em
conhecimento. Tal fato tem provocado, segundo essa autora, uma relação completamente
nova com o saber.
Cibercultura e ciberespaço
Segundo a autora, os conceitos de cibercultura e ciberespaço de Pierre vy
contribuem para a reflexão sobre as novas relações com o saber, entretanto, apenas
apresenta as definições sem fazer nenhuma crítica ou qualquer vinculação.
Globalização
Nessa pesquisa, o processo de globalizão é citado como um fenômeno de alto
custo social, que sustenta e é sustentado pelas tecnologias de informação e comunicação e
que usufrui das novas possibilidades oferecidas por elas, em função da ressignificação do
espaço e do tempo. Curiosamente, apesar dessas afirmações, pouco sobre a referida
afirmação é comentado ou articulado.
60
Outra questão levantada na pesquisa em relação à globalização foi a que se refere à
discussão do acesso à rede no Brasil. A autora ressalta que mesmo tendo sido verificado o
alargamento do acesso nos últimos anos, grandes parcelas da população, como os mais
pobres, mais velhos, e aqueles que habitam os locais mais distantes dos grandes centros,
ainda se encontram excluídos. Essa autora acredita que, com a educação a distância e com
o aumento do acesso à grande rede, essas pessoas poderão participar do acesso à
informação e da construção do conhecimento.
Educação e TIC
O suporte teórico para tratar da educação estruturou-se sobre as bases do
sociointeracionismo de Vygotsky e nas idéias de Walter Benjamin sobre a
reprodutibilidade técnica, como possibilidade de democratização do acesso à produção
cultural. Além desses autores, Freire, Nóvoa, Lévy e Morin foram utilizados para tratar da
formação docente, frente “aos desafios em tempos de cibercultura” (p.12).
Segundo a pesquisadora, a educação tradicional funciona como uma forma de
regulação, produzindo sujeitos alienados, conformados com o sistema, comportando-se de
forma passiva diante da realidade. Concebida no culo XIX, a escola tradicional, hoje,
não dá conta da tarefa de educar, tendo em vista as demandas do mundo globalizado,
requerendo reformas de estrutura que dizem respeito ao posicionamento crítico diante do
recebimento das informações. Segundo a autora, a aprendizagem deve ser individual, mas
também coletiva, e essa abordagem, que privilegia a interação, precisa ser paradigma da
educação, seja no modelo presencial ou à distância. Cabe destacar que a interação aqui
tratada pela autora é entendida como afetação mútua, ou seja, como “dinâmica onde a ação
ou o discurso do outro causam modificações na forma de pensar e agir, interferindo no
modo como a elaboração e a apropriação de conhecimento se consolidarão” (p. 54).
Papel docente
De acordo com a pesquisadora, com a revolução tecnológica, temos acesso ao saber
por diferentes meios, o que implica a necessidade de se rever a prática docente. No entanto,
no que tange à revolução tecnológica, nenhum comentário é tecido.
O professor, afirma a pesquisadora, como produtor cultural, implementa,
cotidianamente, um ato político que apresenta repercussão na sociedade, uma vez que sua
61
prática o é neutra, como afirmava Freire. A autora destaca que a prática docente
emanciparia é a opção politicamente correta.
Ser professor na cibercultura é educar para a apropriação das novas tecnologias de
informação e comunicação, afirma a autora, sinalizando que, para enfrentar a rede, as
informações e a complexidade do pensamento, é preciso formação pedagógica. Segundo a
mesma, o professor deve saber possibilitar, aos seus alunos, uma relação fluente e crítica
com a tecnologia. Por meio da rede, é possível ampliar o universo cultural do aluno,
colocando-o em contato com outras culturas, outros modos de pensar, outros
conhecimentos, democratizando-os” (p. 51).
EAD
No pensar da pesquisadora, a educação à distância, com uso da informática, tem por
objetivo a educação e o apenas o ensino, e o tutor, com seu papel de produtor cultural,
está em evidência nessa nova época. Ele, que tem um papel fundamental na permanência
do aluno até o final do curso, acrescenta a pesquisadora, é um co-discente, pois na
virtualidade sempre algo novo para se aprender. E acrescenta, ainda, que o tutor é o
responsável pela mediação pedagógica e necessariamente deve ser um docente dotado de
responsabilidade e consciência crítica.
4) Pesquisa D de Maria das Graças Lino Labrunie sob o título Máquinas
Didatizadas: Uma análise dos Usos das Tecnologias de Comunicação e Informação na
Escola” – Ano 2004 - Dissertação de Mestrado.
Resumo:
A instituição escolar se defronta com o grande desafio de se transformar,
pressionada pelas novas configurações sociais que surgiram nos últimos
tempos. Dentre estas, está a convivência das novas gerações com as
tecnologias, principalmente a TV e o computador. Este estudo procura
entender esse processo e faz uma análise das atividades em que a TV e o
computador são usados nas aulas para compreender de que forma a escola
poderá contribuir para que os alunos se tornem usuários criativos e
críticos destas novas ferramentas e não meros consumidores de
representações novas de velhos clichês. A partir de uma reflexão crítica
sobre a cultura audiovisual e seu confronto com a cultura escolar, foram
realizadas observações de aulas em que são utilizadas as tecnologias, bem
62
como apreciações do discurso pedagógico de alguns professores de
ensino fundamental (2° segmento) de uma escola pública do Rio de
Janeiro. O resultado sugere que as atividades que são feitas com a
utilização das tecnologias possibilitam enriquecer o discurso oral e
impresso picos da escola, já que introduzem imagem, movimento e
interação comunicativa intra/inter escolar aos conteúdos tradicionais, e
que o computador tem, especificamente, o potencial de promover uma
mudança de paradigma, na medida em que pressupõe diferentes modos de
aprender e ensinar. Verificou-se também que, para a maioria dos docentes
entrevistados, as tecnologias de comunicação e informação não m
caráter transformador e são usadas, principalmente, como um
complemento às aulas. Apesar de reconhecerem que mudanças precisam
ser realizadas, os docentes o parecem crer que elas virão através das
tecnologias. Eles acreditam que as máquinas, ao entrarem na escola,
devem ser didatizadas para se adequarem à cultura escolar.
Temas tratados:
Sociedade em mudaa
Neste começo de século, segundo a autora, estamos vivendo numa sociedade em
mudança. Mudanças que podem ser verificadas nas formas de organizar, trabalhar,
comerciar, ensinar e aprender. Há exigências acrescenta em relação a um novo tipo
de indivíduo, que deve ser dotado de competências ltiplas, habilidades para trabalhar
em equipe, capacidade de aprender e adaptar-se ao novo.
Afirma essa autora que, da mesma forma que a televisão, o computador (mais
precisamente a Internet mídia mais complexa), por concentrar todas as técnicas de
comunicação num único suporte, trouxe possibilidades muito tempo impenveis na
sociedade atual. As transformações sociais impostas pela Internet alcaam, segundo essa
pesquisadora, quatro cotidianidades: o lazer, o trabalho, a cidadania e a mundialidade.
O lazer, salienta essa autora, pode ser percebido pela quantidade de jogos, e-mail,
sites utilizados pelos jovens. O trabalho pode ser complementado ou realizado em casa. A
cidadania diz respeito a maior controle que as pessoas podem exercer diante dos atos e
contas dos governos, de grandes empresas, e ,ao mesmo tempo, essa autora lembra que o
mundo é desigual, e a Internet não envolve todos. Já a mundialidade, acrescenta, está
relacionada à interdependência dos países e aos reflexos instantâneos dos acontecimentos.
“Esta interligação do planeta pode fazer aflorar, de forma mais acentuada, as diversidades
culturais, econômicas, sociais e políticas locais” (p. 30). Todos esses aspectos, alerta a
63
pesquisadora, têm alterado a face da cultura ocidental, das relações sociais, da forma como
construímos a nossa subjetividade.
Cibercultura
A cibercultura é tratada na pesquisa como uma nova cultura viabilizada pelos novos
meios de tecnologia de informão e comunicação “os quais permitem aos grupos
humanos pôr em comum seu saber e seu imaginário, compondo uma inteligência coletiva”
(p. 31). Denominado na pesquisa como espaço cibernético, o ciberespo é considerado
como “o novo espaço de interação humana que tem importância no plano econômico e
cienfico” (p. 30). O principal autor utilizado foi Lévy.
Educação e TIC
Com relação ao tema educação, os principais teóricos utilizados pela autora foram:
Forquim, Freitag, Belloni, Pérez Gómez.
Em relação ao uso das novas tecnologias de informação e da comunicação, essa
pesquisadora salienta que as TIC podem ser grandes aliadas educativas se forem bem
utilizadas. Elas trazem o mundo externo para dentro da escola. Magistralmente, afirma,
ainda, que aquelas não podem ser avaliadas por seu poder de sedução, pois sozinhas são
insuficientes para desencadear um processo real de interesse por parte dos alunos; elas
precisam ser usadas com objetivos claros e definidos, bem como em atividades que
permitam a construção do conhecimento, caso contrário, perdem o valor.
De acordo com essa pesquisadora, a educação, atualmente, recebe grande pressão
para implementar mudanças. “O ambiente cultural se tornou muito diferente do ambiente
escolar, e os estudantes se desmotivaram e aprendem pouco(p.12). Para essa autora, a
educação tem por função a transmissão da cultura; entretanto, na escola, a cultura de
referência é a cultura escolar somente.
Cabe ressaltar que, o termo cultura, compreendido pela autora, segue a definição de
Geertz e Bruner, um conjunto de significados, expectativas e comportamentos
compartilhados por um [...] grupo social, o que facilita e ordena, limita e potencializa os
intercâmbios sociais, as produções simbólicas e materiais e as realizações individuais e
coletivas” (p.13).
64
No que tange à questão política e ideológica, essa pesquisadora sustenta que o uso
das novas tecnologias, em especial, a Internet, não é em si um fator de equalização social
nem uma condição suficiente ou mesmo necessária para a formação crítica ou criativa do
aluno, uma vez que ela esrelacionada à denominada sociedade de conhecimento, que
não se pauta por valores de justiça e inclusão social, democratização dos bens materiais e
simbólicos construídos no espaço coletivo (p. 53). A redução dos preços e a oferta dos
recursos tecnológicos na educação estariam, segundo essa autora, muito mais relacionados
à função de consumo do que a construção de cidadania e respeito aos direitos do homem. É
dentro da lógica de representações da realidade, tecida e imposta pelo mercado, que se
deve reconhecer a “potencialidade instrutiva e formadora que a revolução eletrônica
oferece”, (p. 54) e uma delas é a de ampliar os horizontes dos indivíduos, por meio da
comunicação intercultural permitida.
Papel docente
De acordo com a pesquisadora, a maior parte dos professores ainda considera os
produtos tecnológicos apenas como recursos didáticos, temem quebrar as máquinas, sabem
muito menos que os alunos e estão preocupados apenas em cumprir o programa.
No atual contexto sociocultural, afirma essa autora, cabe aos docentes o domínio de
diferentes linguagens e, especialmente, a manutenção do interesse, mesmo diante das
limitações em abrir os horizontes dos educandos, construindo novas saídas para a tarefa de
educar.
5) Pesquisa E de Ana Regina Borges Vilares sob o títuloInteratividade como
perspectiva comunicacional no laboratório de informática: um desafio ao professor”
– Ano 2004 - Dissertação de Mestrado.
A interatividade, entendida como perspectiva comunicacional que ganha
centralidade no ambiente sociotécnico da sociedade da informação, da era
digital, da cibercultura, exige que o professor reveja sua prática
pedagógica em sintonia com a dinâmica informacional das tecnologias
digitais e com o perfil comunicacional dos alunos. O novo cenário
comunicacional coloca em questão a gica da transmissão de conteúdos
e a recepção passiva, ppria da dia de massa e do sistema de ensino.
As tecnologias digitais rompem com a mensagem fechada, fortalecendo a
cultura da participação, em que o receptor é convidado à livre criação
compartilhada diante da mensagem, que ganha sentido sob sua
intervenção. Este estudo surge da necessidade de repensar a atitude
65
comunicacional do professor, que lida diretamente com as tecnologias
digitais. De natureza qualitativa, a pesquisa foi desenvolvida num curso
de Pedagogia durante um semestre letivo. Partiu-se de uma questão
básica: quais são as estratégias usadas pela professora no laboratório de
informática, com a disciplina Informática Aplicada à Educação, para
engendrar um ambiente de aprendizagem, tendo como perspectiva
comunicacional a interatividade, definida como co-crião dos
participantes. Como quadro teórico da pesquisa, foram trabalhados os
conceitos de autonomia (Freire), cooperação (Papert), cooperação
(Piaget) e criação colaborativa (Vygotsky), confluindo no conceito de
interatividade sob a perspectiva de co-criação (Silva). O tratamento da
questão foi realizado por meio de observação participante, de entrevistas
livres e da análise coletiva de indicadores de interatividade”, adotada
para mapear a recorrência de procedimentos utilizados pela professora
para promover a aprendizagem. Foi constatado que, embora o ambiente
comunicacional arquitetado pela professora tenha contemplado aspectos
das categorias enfocadas no quadro teórico, a perspectiva da
interatividade o se manifestou em sua plenitude, pois não foi
proporcionado aos alunos a possibilidade de interferir efetivamente no
processo de construção da aprendizagem.
Temas tratados:
Interatividade
No atual momento, estamos vivenciando, segundo essa autora, uma modificação na
esfera da comunicação, pois “a transição da modalidade de comunicação de massa, que se
contenta em fixar, reproduzir e transportar uma mensagem para a modalidade interativa,
além de autorizar a fabricação de mensagens, permite sua modificação” (p.12). A
interatividade, conforme essa pesquisadora, se constitui no princípio básico da era digital,
pois vai muito além da troca e é a possibilidade de mais comunicação, haja vista que
necessita haver interferência no conteúdo da mensagem transmitida.
Cibercultura e Ciberespaço
Nesse documento, a cibercultura e o ciberespaço também são percebidos segundo a
definição de Lévy. Cabe observar que essa autora estabelece importantes distinções entre
informação e conhecimento, articulando esses conceitos à noção de aprendizagem,
evidenciando o processo de aprender e construir conhecimento, como requisitos essenciais,
para o novo cidadão da cibercultura.
Papel docente
66
Cada dia que passa, afirma essa autora, o número de usuários da Internet aumenta
consideravelmente, o que acarreta um acúmulo da capacidade educativa e cultural da rede.
”Toda essa mudança deverá ser sentida na escola, exigindo o repensar da prática
pedagógica” (p.13). Ressalta, ainda, caber aos educadores “orientar seus alunos em relação
à criticidade necessária ao que é informado pela rede, além de despertar o potencial
existente de criatividade e de produção de conhecimento”(p.13).
Para essa pesquisadora, o professor não pode ser apenas o facilitador, porém, uma
espécie de arquiteto de situações-problema que conduzam os alunos a construírem o seu
próprio conhecimento, “num ambiente de participação, cooperação e criação colaborativa,
favorecendo a aprendizagem e criando condições para que a co-criação se manifeste, por
meio do desenvolvimento do senso crítico e da autonomia” (p. 29). Segundo essa autora,
“com a cibercultura, o papel de docente é ampliado, passando por novas qualificações e
novas oportunidades de ensino(p. 54).
Educação e TIC
Observa a pesquisadora que as novas tecnologias trouxeram novas maneiras de ver
o mundo, de ensinar, de aprender, e o papel da educação deve ser o de “desenvolver
processos abrangentes, segundos critérios como consistência, motivação, envolvimento,
capacidade de articular informações, de comunicar-se e estabelecer relações” (p. 14), pois
isso ajudará a preparar o cidadão da era da cibercultura.
Conforme essa autora, estamos diante de uma nova geração digital, e a escola tem
que estar ciente desse fato. Apresentando uma nova maneira de ver, pensar e aprender,
pois fazem parte de uma nova cultura” (p. 16), essa autora acredita que essa geração não
parece encontrar interesse no ditar-falar tradicional do professor, não se contentando em
ser repetidora de conteúdos prontos, uma vez que lida diariamente com a interferência e
com hipertextos, que de acordo com essa pesquisadora —, subverteram a linearidade
por meio da linguagem digital.
No quadro teórico, foram trabalhados os conceitos de: cooperação (segundo
Piaget), participação (Papert), criação colaborativa (Vygotsky), interatividade (Silva) e
autonomia (Freire).
67
A autora destaca que a cooperação, conforme Piaget, constitui-se no “meio mais
apto a favorecer a troca real de pensamento e a discussão, ou seja, todas as condutas
suscetíveis de educar o espírito crítico, a objetividade e a reflexão discursiva” (p. 32).
Em relação à participação de Papert, a autora exemplifica como sendo uma espécie
de colocar a mão na massa , quando o educando se envolve com o assunto .
em Vygotsky, entende a pesquisadora que o sujeito o é só ativo, mas também
colaborador, porque constrói conhecimentos a partir das relações interpessoais.
Com relação à autonomia, essa autora afirma que o aprendiz, ao se tornar mais
curioso, vai se tornando “um criador” (p. 57), e é esse ponto que a autora evidencia para
construção de conhecimento, concomitantemente, ao uso das tecnologias digitais.
Exclusão social
Importante afirmação é feita quando a autora reflete sobre as contradições
existentes em nosso quadro social, principalmente, em relação à apropriação tecnológica,
indicando que soluções sejam buscadas por parte das organizações sociais e por meio de
políticas blicas que busquem garantir a todos o acesso, impedindo que a excluo social
se amplie. No entanto, nenhuma vinculação é feita com a cibercultura com a excludente
globalização e, mesmo quando comentário sobre o tema, refere-se, unicamente, às
mudanças do mercado de trabalho.
6) Pesquisa F de Carlos Alberto Sobrinho sob o título “Formação Docente em
Tecnologias: Saberes e Práticas de um cleo de Tecnologia Educacional do Rio de
Janeiro” Ano 2004- Tese de Doutorado.
A pedagogia convive com uma profunda mutação tecnológica dos meios
de comunicação. A comunicação e a tecnologia estão modificando a
nossa relação com o tempo e o espaço, provocando um ritmo acelerado
de mudanças no mundo a ser conhecido e nos modos de conhecê-lo. Com
a expano dos recursos de software e da Internet, as tecnologias da
informação e das comunicações (TIC) abriram caminho para uma relação
renovada com o saber, a ser explorado no ensino e na formação do
magistério. Ao mesmo tempo, nesse quadro de transformações que
afetam a cultura e a profissão docente, apresenta-se aos professores a
tarefa de ir construindo, com base na reflexão sobre a experiência
pedagógica concreta, um saber que integre as contribuições tecnológicas
e cienficas ao seu ofício. Este trabalho discute a formação docente em
tecnologias da informação e das comunicações na rede pública, a partir
de uma reflexão sobre: os desafios que essas tecnologias apresentam à
mediação pedagógica; as análises de alguns educadores sobre o panorama
68
da informática na formação de professores; e a interlocução com
formadores de professores de um Núcleo de Tecnologia Educacional do
Rio de Janeiro (NTE).
Temas tratados:
Educação e TIC
De acordo com o pesquisador, o homem nunca teve tanta disponibilidade de
informações. Um verdadeiro fluxo caótico de saberes sem fronteiras se desloca pela rede e
modifica o cenário educacional. “Estamos passando por uma crise na educação. Em
função disso, ressalta esse autor, qualquer reflexão, em relação aos sistemas educacionais e
à formação, deve considerar as mudanças que se verificam nos saberes, na noção de
trabalho e no uso das novas tecnologias.
Esse pesquisador defende a idéia de que a presença da tecnologia no ensino médio e
fundamental constitui uma oportunidade para ampliar a formão intelectual, tornando-se
compatível com as novas formas culturais instituídas com a digitalização do conhecimento.
“O uso de tecnologias no ambiente escolar corresponde a um imperativo de igualdade de
tratamento a ser pretendido por todo cidadão de um país democtico” (p. 223).
Outro aspecto ressaltado na pesquisa está relacionado ao fato de o autor acreditar
que no futuro, a educação passará a ser híbrida” (p. 234), pois as modalidades, presencial
e a distância, irão coexistir.
Trabalho
Desde a década de 1950, observa esse autor, passamos a conviver com outras
linguagens comunicacionais, como a TV e o computador. Hoje, as tecnologias de
informação estão difundidas em todos os setores sociais, fazendo parte de uma parcela
importante da vida comum, nas práticas de indivíduos e grupos sociais. No âmbito do
trabalho, o uso do computador e da Internet tornou-se parte do saber mínimo exigido pelas
diferentes organizações, enfim, uma condição para obtenção de emprego. Além disso, a
noção de “trabalho” mudou de sentido e encontra-se atrelada à questão de produção de
saberes e de conhecimento.
Somado a isso, salienta esse autor, as novas tecnologias passam oa incorporar
novos hábitos, intermediar transações comerciais e sociais, como também agenciar as
69
potencialidades de grande número de pessoas em prol de uma inteligência coletiva,
conduzindo a um processo de aprendizagem cooperativo e contínuo.
Cibercultura e Ciberespaço
Nessa pesquisa, a cibercultura é apenas citada, sendo sua definição orientada pelo
pensamento de Lévy. A definição não foi comentada nem criticada. Por outro lado, a
definição de ciberespaço, também orientada de acordo com o pensamento de Lévy,
mereceu maior atenção por parte desse autor, que enfatizou sua importância em relativizar
a comunicação (Todos-Todos), possibilitando que outras formas de interação sejam
incrementadas.
Ademais, o autor destaca que, com o novo espaço de comunicação e
agenciamentos inaugurados pela cibercultura, está sendo estimulada, ou melhor, exigida
uma reestruturação de políticas públicas para a solução dos novos problemas e para busca
pela nova riqueza, que é o conhecimento.
Papel docente
Segundo esse pesquisador, as novas tecnologias evoluíram com muita intensidade,
modificando setores diversos, como o da economia, o do trabalho e o da educação em
ritmos diferentes. Na qualidade de agentes sociais, os professores também estão sendo
atingidos e, diante da nova realidade, eles devem ser “produtores, operadores e críticos das
novas tecnologias e não consumidores passivos” (p. 47). Tal afirmação permeia o estudo,
num crescendo, trazendo valor ao tema estudado.
Os professores estão sendo chamados a refletir sobre o redimensionamento das
práticas pedagógicas, diante da cibercultura, e a liderar o processo de formação das novas
gerações, com os mais recentes dispositivos técnicos que vêm sendo incorporados à esfera
educacional, afirma o autor. Lidar com as novas tecnologias é uma tarefa árdua, e o
professor atual, com sua formação ainda tradicional, trabalhando em escolas com
estruturas didático-administrativas também tradicionais, m que formar uma geração high-
tech. Para isso, ele precisa conciliar a tradição com a inovação. Nesse entrelaçamento, essa
pesquisa ganha consistência.
Aliar às competências clássicas à competência cnica, que lhe permita a efetiva
adoção de tecnologia no âmbito escolar é um desafio para o professor, alerta esse autor.
70
Numa sala de aula provida de tecnologia, a ação formadora pertinente é aquela que procura
evitar as atividades individuais e estimula as mais cooperativas — acrescenta.
Ainda que se saiba das ineficiências dos sistemas de ensino, esse pesquisador
afirma que tal fato não desqualifica as práticas pedagógicas vigentes até o momento,
entretanto, reconhece que a Internet constitui uma valiosa alternativa para o ensino,
especialmente em termos de aulas mais dinâmicas e na “construção da autonomia social na
relação e na luta por uma maior democratização do conhecimento socialmente construído e
acumulado (p. 222). Com esse pensar, como dito anteriormente, o autor desse estudo
transita magistralmente entre o tradicional e o “novo”, acrescentando ao estudo a idéia de
uma visão mediadora.
Formação docente
De acordo com esse autor, preparar um professor para trabalhar com as novas
tecnologias torna-se tarefa importante. O autor deixa claro que não se trata de colocá-lo em
contato com manuais para o perfeito uso de sistemas eletrônicos. O ofício pedagógico,
devido ao seu compromisso ético e político, é um ofício que vai além do exercício de
habilidades de ensino, alerta o pesquisador, pois se trata de um compromisso com o
desenvolvimento humano. Projetos internacionais e nacionais, salienta, têm demonstrado
que associar uma sólida formação do professor com a tecnologia tem se constituído na
melhor forma de alcançar resultados pedagógicos favoráveis. Assim, surge a possibilidade
de se conciliar instrução com formação.
Certamente, destaca, vários problemas a serem enfrentados pelos professores,
como é o caso da carga horária de trabalho, porque os novos ambientes de aprendizagem
exigem maior disponibilidade de tempo para a realização de trabalhos interativos.
Entretanto, a qualificação inicial ou continuada é uma exigência da realidade. “Um tema
não pode desqualificar o outro” (p. 66).
Exclusão digital
Ao tratar do tema exclusão digital, esse pesquisador observa que, seja qual for a
razão, pedagógica, ideológica ou política, a não-incorporação das novas tecnologias no
processo de ensino implica contribuição para ampliação da desigualdade social. “Com a
ausência do computador e da Internet na escola, corre-se o risco de subtrair de toda uma
71
parcela da população, sobretudo a menos favorecida, a oportunidade de participar do
mundo tecnológico que a envolve” (p. 225).
7) Pesquisa G de Graciosa Rainha Moreira sob o título “A Equipe de Educação a
Distância na Cibercultura: um Estudo de Casos Múltiplos” Ano 2005 - Dissertação
de Mestrado.
Resumo:
A Educação a Distância no contexto da cibercultura vem ganhando
terreno com a flexibilidade e interatividade da internet e se firma como
uma sigla de educação permanente e continuada, constituindo-se em pólo
de atração e investimento para as instituições de ensino superior. No
Estado do Rio de Janeiro, das 126 instituições de ensino superior, apenas
9% estão credenciadas pelo MEC para oferecer EAD. Pode-se apontar,
como um dos fatores para o baixo percentual de IES credenciadas para
EAD, a dificuldade de formação da equipe interdisciplinar para o
desenvolvimento e implementação dos cursos à distância. Assim, o
objetivo do presente estudo é o de analisar a constituição das equipes que
desenvolvem e implementam cursos à distância nas Instituições de
Ensino Superior do Estado do Rio de Janeiro, bem como sua forma de
trabalho sobre os prismas da interatividade, da interdisciplinaridade e das
competências requeridas aos membros de tais equipes. A metodologia
adotada baseia-se na abordagem qualitativa (Lüdke; André), tendo como
procedimento o estudo de casos múltiplos (Yin). Constituem campo da
pesquisa três IES do Estado do Rio de Janeiro credenciadas pelo MEC
para oferecer EAD, a saber: a FGV Online, a ENSP e o CEDERJ Pólo
UERJ. Como quadro teórico da pesquisa, foram trabalhados os conceitos
de interatividade (Silva), interdisciplinaridade (Fazenda e Japiassú) e
competências (Perrenoud e Le Boterf), bem como a legislação em vigor.
A análise dos dados levantados, em observações in loco e entrevistas
realizadas nas IES, foi baseada em comparações, por categoria de
investigação e instituição. Foi constatado que as equipes são formadas
por profissionais das mais diferentes áreas do saber, com bom nível de
qualificação acadêmica, porém, com pouca experiência em EAD. A
formação está se realizando no decorrer do desenvolvimento e
implementação dos cursos, num processo quase experimental. Ao tutor
são exigidas novas competências, como habilidades comunicacionais e
informacionais que possibilitam a interatividade tutor-aluno. Destacam-se
novas profissões como o web-roteirista, o web-designer e o designer
instrucional, com as funções ainda pouco delimitadas. Observou-se que a
falta de interação entre alguns atores das equipes representa um dos
fatores limitadores para o desenvolvimento da interdisciplinaridade e das
novas compencias.
72
Temas tratados:
Ciberespaço
No atual momento, conforme essa pesquisadora, nos defrontamos com um mundo
virtual, desterritorializado, espaço universal, onde todos são co-responsáveis pela sua
manutenção. Espaço que possibilita conexões generalizadas tanto no âmbito acadêmico,
quanto econômico, social e cultural. Novas noções de tempo, espaço, comunicação e
transmissão de informações passam a ser verificadas. Com o advento do ciberespo,
ressalta a pesquisadora, pôde-se criar um ambiente democrático onde se verifica a
intervenção colaborativa de receptor e emissor, não cabendo mais o antigo modelo de
comunicação baseado na emissão ativa e recepção passiva.
Para fundamentar sua compreensão do ciberespo de forma contextualizada,
apresenta o a definição de Lévy (2003, p.12), como também a de Lemos (2002,
p.145).
Cibercultura
Essa autora entende que do ciberespaço emerge o fenômeno da cibercultura e
utiliza o pensamento devy (2003, p.12) e de Lemos (2002, p.145) para defini-lo.
Conforme a autora, a cibercultura é uma “marca da contemporaneidade” o
correspondendo apenas à existência de computadores, mas visível no dia-a-dia das pessoas
quando usam cartões, celulares, entre outros produtos surgidos com a cibercultura. Na
elaboração dessas definições, apresenta exemplos, fornece contexto a esses exemplos e
discute com maestria esses conceitos.
Exclusão digital
Importante vinculação é tecida quando a autora expõe o fato de que ao mesmo
tempo em que um maior número de pessoas passa a depender dos suportes dessa era
digital, grande parcela se excluída desse momento: “cabendo a sociedade prover infra-
estrutura e capacitação com vista a diminuir o impacto da exclusão digital” (p.13).
Nesse ponto, o estudo ganha uma outra dimensão, o que valoriza o trabalho.
73
Competência
A autora observa que a noção de qualificação profissional tem sido substituída pela
noção de competência profissional, fazendo crescer a demanda pela formação continuada e
a necessária obtenção das novas competências. Em relação à competência, a autora utiliza
os conceitos de Perrenoud e Le Boterf e expressa que a mesma “não se limita ao
conhecimento, envolve a ação do sujeito incorporado de seus saberes e recursos, onde não
basta saber-fazer, mas por que fazer de uma forma e o de outra” (p. 60). Mais uma vez,
apoiada nos conceituados estudos de Perrenoud e Le Boterf, essa autora traz à luz
inferências e importantes discussões sobre a temática.
EAD
Segundo essa autora, a educação a distância, no contexto da cibercultura, vem
ganhando força como forma de educação permanente e continuada, uma vez que os
sistemas educacionais tradicionais não estão atendendo adequadamente às demandas de
formação profissional competência –, em função da rigidez de horário, da grade
curricular, dos prazos de concluo e da obrigatoriedade da presença. Tais fatos, alega,
fazem crescer a importância e a solicitação por cursos a distância, que em outros tempos
era sinônimo de educação inferior, já que toda a referência da educação estava relacionada
à escola e à educação presencial.
Essa pesquisadora salienta que a educação a distância apresenta, a longo prazo, um
custo menor que o da presencial e deixa evidente a preocupação de que um curso a
distância online não deve ter um modelo, nem ser “uma mera transposição de aulas
presenciais”, deve atuar como veículo de “cursos de qualidade”, entendida como um
conjunto de fatores, tais como: conteúdo, ambiente de aprendizagem e interação tutor-
aluno (motivação, orientação e acompanhamento do ensino).
Atualmente, não têm sido poucas as empresas que vêm buscado a educação a
distância para capacitar seus funcionários, afirma a pesquisadora. Em relação às
Universidades, observa que, desde 2004, encontram-se autorizadas pelo Ministério da
Educação a oferecer 20% (vinte por cento) de cada disciplina de seu currículo sob a
modalidade semipresencial. Contudo, até o momento, poucas foram credenciadas para tal,
e, assim, “as universidades parecem estar iniciando um movimento conscientizador, junto
ao corpo docente em relação à” cultura do virtual “.
74
Educação e TIC
Para essa autora, os computadores estão deixando de ser um instrumento de
transmissão, passando a ser percebidos e utilizados como instrumentos de interação. O
ciberespaço tem-se constituído num importante ambiente para a realização da
aprendizagem cooperativa. Com isso, afirma, na cibercultura, a universidade e a escola
“perdem o controle da aprendizagem que pode ser construída a partir de qualquer
computador conectado, portanto, de casa ou qualquer instituição (p. 15).
Nessa pesquisa, a ética não é vinculada à educação, e a formação aparece voltada
para o novo cenário profissional exigido pela cibercultura, na forma de desenvolvimento
das novas competências.
Papel docente
Na pesquisa, foi destacado o fato de que, na cibercultura, a visão de professor
“dono do conhecimento” é substituída pela de “animador da inteligência coletiva”,
conduzindo o a aprendizagem individual como a coletiva, em rede, devendo o mesmo
prestar atenção em não reproduzir métodos antigos com o uso das novas tecnologias e se
concentrar na aquisição de novas competências, como a habilidade necessária para lidar
com as novas tecnologias e estimular o trabalho em equipe, respeitando e trocando idéias
sobre o processo de ensino-aprendizagem com cada membro constituinte do grupo.
Aspecto relevante quanto à posição do professor, na cibercultura, foi levantado pela
autora, “com a educação a distância foi identificado o surgimento de novas profissões
atreladas à nova concepção de professor, uma vez que ela requer a construção de uma
equipe multidisciplinar, inclusive sua existência é um dos pré-requisitos para o
credenciamento no MEC. Essa equipe será responsável em selecionar e preparar todo o
conteúdo curricular articulado à procedimentos e atividades pedagógicas, dentre tantas
outras atividades” (p.111).
De acordo com essa autora, compondo a equipe, surgem novos profissionais, como
o tutor, o web-roteirista, o web-designer, o designer instrucional. Esses membros deverão
estar conscientes das concepções de interatividade e interdisciplinaridade, desde a
elaboração do projeto pedagógico, o planejamento do processo ensino-aprendizagem e, de
forma mais ampla, na filosofia do projeto.
Foi destacado na pesquisa que a maior parte das IES não apresenta infra-estrutura
75
mínima para prover cursos de qualidade e que os profissionais de bom nível acadêmico
envolvidos não apresentam experiência no assunto, estão aprendendo no decorrer dos
cursos que estão se formando”.
Interatividade
No quadro teórico da pesquisa, o conceito de interatividade foi trabalhado de
acordo com a concepção de Silva. Para essa autora, a interatividade deve ser entendida
como uma forma “singular” de interação, não sendo apenas a comunicação mediada por
computadores, mas sim em qualquer forma em que haja a intervenção do receptor,
construção de ambos os pólos da comunicão e ainda onde oferta de múltiplas
possibilidades de aprendizagens.
Interdisciplinaridade
O conceito de interdisciplinaridade é orientado pelas concepções de Fazenda e
Japiassú. A pesquisadora entende que não se trata de uma simples reunião de especialistas
de áreas diferentes, é necessário que ocorra um intercâmbio e enriquecimento para todos os
envolvidos. No entanto, ressalta a autora, tal conceito tem sido mais um discurso do que
uma prática, tendo sido verificada pouca interação entre os membros das equipes.
8) Pesquisa H de Susan Kratochwill sob o título Avaliação da Aprendizagem em
Educação on-line: o fórum de discussão como interface dialógica” - Ano 2006 -
Dissertação de Mestrado.
Resumo:
A popularização das tecnologias digitais da informação e da
comunicação, especialmente da internet, vem propiciando o
desenvolvimento de ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) nos
quais se dá a educação na modalidade on-line. O objetivo deste estudo foi
analisar as possibilidades de implementação de uma avaliação dialógica,
dirigida especialmente às atividades da interface Fórum do AVA em uma
disciplina pedagógica de licenciatura do Consórcio CEDERJ/UERJ.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa de cunho sócio-histórico que
considera a relação entre os sujeitos pesquisados e o pesquisador como
uma dinâmica dialógica. Tomou-se por base a teoria enunciativa de
Bakhtin e a perspectiva do desenvolvimento de Vygotsky e, para
compreender os processos de interação e de interatividade inerentes ao
desenvolvimento da dialógica no contexto das tecnologias digitais on-
line, foram adotados os fundamentos da interatividade, segundo Silva.
76
Para compor um quadro teórico capaz de abarcar as possibilidades de
uma avaliação dialógica, recorreu-se a Luckesi e Hoffmann como
refencias da educação presencial, porém transpostos para a educação
on-line. Concluiu-se, inicialmente, que houve subutilização do fórum
quanto à sua potencialidade dialógica/interativa e avaliativa, com base
nos indicadores de qualidade em avaliação da aprendizagem on-line,
construídos em acordo com o quadro teórico da pesquisa. Todavia,
experimentaram-se modificações no sentido de potencializar sua
utilização a partir da intervenção dialógica do pesquisador através de
questionamentos e sugestões que propiciaram momentos de reflexão e
reformulão da prática interativa no rum, novas posturas docentes
foram construídas e, conseqüentemente, alteraram as posturas discentes
na referida interface. Ademais, verificou-se que o fórum de discussão,
além de melhorar o desempenho do aprendiz na pesquisa, na leitura e na
escrita, estrutura-se como um arquivo de participações individuais e
coletivas, aproximando os sujeitos e ampliando a colaboração.
Caracteriza-se como um valioso recurso dialógico-avaliativo em
educação on-line, aprofundando a interação e a interatividade entre os
sujeitos, entre estes e a interface rum e entre os sujeitos, a interface e o
conteúdo.
Temas tratados:
Educação e TIC
Para fundamentar e apresentar sua percepção da educação na cibercultura, essa
autora fez uso da teoria enunciativa de Bakhtin e da perspectiva de desenvolvimento de
Vygotsky. Cabe ressaltar que, em ambas, a linguagem assume papel preponderante como
mediadora do processo social e da aprendizagem. De Freire, essa pesquisadora resgatou a
noção de prática pedagógica baseada no diálogo, além dos conceitos de autonomia, autoria
e transformação. Para compreender a relação entre interação e interatividade e a
perspectiva de interatividade baseada na colaboração, bidirecionariedade e dialogidade, no
contexto das tecnologias digitais, considerou o relevante pensamento de Silva. Para
avaliação como forma de mediar a construção do conhecimento, recorreu a Luckesi e
Hoffmann.
Segundo essa autora, a atual sociedade da informação demanda uma educação, seja
ela presencial ou à distância e/ou on-line, voltada para a formação do “novo cidadão”.
“Entendendo-se que a integração da educação com as tecnologias digitais não é para
atender as urgências do mercado, mas para atender as mudanças que se apresentam ao
homem” (p.12).
Nessa pesquisa, a educação é considerada como um processo coletivo que concebe
o processo ensino-aprendizagem a partir da perspectiva dialógica de construção do
77
conhecimento, entendendo-o como um processo sempre inacabado. A avaliação, segundo a
autora,o é uma simples medição da aprendizagem, mas norteadora desse processo
construtivo. Tal pensar permeia todo o estudo, engrandencendo-o.
EAD
Conforme essa pesquisadora, encontra-se em gestação uma nova humanidade, que
se comunica de forma diferente e que apresenta novas necessidades, e a educão on-line
está ocupando cada vez mais espaço e representa um fenômeno da cibercultura. Para a
autora, a interação, propiciada pela Internet e todo o ambiente digital, “pressupõe que o
ensino e a aprendizagem no ambiente on-line incorporem uma perspectiva interacionista e
dialogal, que apóie a humanidade na construção consciente deste novo cenário, evitando a
reprodução dos modelos e a padronização” (p.17). Cabe ressaltar que essa postura adotada
pela pesquisadora torna essa investigação importante no contexto do Mestrado em
Educação.
Mesmo tendo sido considerada, por longo tempo, uma modalidade de ensino
“inferior”, afirma essa autora que a EAD muito já contribuiu para a formação e inclusão de
profissionais de diversas áreas no mercado de trabalho. Hoje, acrescenta, com o AVA,
torna-se cada vez mais possível uma educação não presencial de qualidade.
No contexto da pesquisa, na modalidade de ensino que depende da rede
internacional de computadores, não cabe mais ao novo sujeito ao novo aprendiz a
reprodução passiva de conhecimentos ou autoritarismos direcionados, mas a busca
crescente do diálogo, da construção/produção do conhecimento. Essa autora exemplifica
que, atualmente, por meio do hipertexto, o aluno pode construir seu próprio caminho,
estando assim, de acordo com a visão Freireana de educação. Afirma ainda que, o
ambiente de aprendizagem online apresenta enormes possibilidades de fazer declinar a
educação bancária. Mais uma vez, nesse trabalho, com relação a esse tema, essa autora
argumenta com brilhantismo ao reunir, com outros pensares, o pensar freireano de
educação.
Cibercultura e Ciberespaço
A autora considera que conceituar ou definir cibercultura tem sido o objetivo de
vários teóricos da Filosofia, da Sociologia, da Antropologia e de outras áreas; entretanto
78
considera cada vez mais difícil essa tarefa, uma vez que “os conceitos se caracterizam
estáticos diante de um fenômeno altamente plástico, em mutação e em constante
adaptação (p.13). Percebe-se, ao longo da dissertação, esse pensar, o que traz consistência
à investigação. Além disso, essa pesquisadora entende que, para compreender a
cibercultura, é necessário compreender o ciberespaço, “posto que se considera cibercultura
um fenômeno que se baseia no efeito do ciberespaço no mundo da cultura” (p. 13). A
autora salienta que o ciberespaço o se restringe às conexões entre os objetos digitais,
pois vai além disso, influenciando a economia, a política e o modo de vida de diferentes
nações e culturas. A definição de ciberespaço adotada também é orientada por Pierre Lévy.
Papel docente
Para essa autora, a principal função do professor em momentos de cibercultura o
pode mais ser a difusão de conhecimentos, pois, agora existem outros meios mais eficazes
para desenvolver essa tarefa, devendo o professor ser o incentivador da aprendizagem e do
pensamento.
Fórum de discussão
O rum de discussão, para a pesquisadora, “é uma interface que permite o
encontro e possibilita a interatividade. É um recurso didático que propicia os debates,
trocas, as interferências, a resolução de problemas e, porque o dizer, oportunidade de se
construir novos conhecimentos, novos significados” (p. 21).
A pesquisa observou que o fórum em AVA tem sido uma prática docente cada vez
mais constante e que tem provocado maior interatividade.
9) Pesquisa I de Luís di Marcello Senra Santiago sob o título” Cibercultura e
educação : uma reflexão sobre os cursos de pedagogia” Ano 2006 - Dissertação de
Mestrado.
O objetivo deste estudo foi o de investigar o conhecimento sobre
cibercultura e o uso de seus produtos por um grupo de 23 professores de
um curso de Pedagogia em uma IPES do estado do Rio de Janeiro. Para
atingir este objetivo, orientamo-nos pelas seguintes questões: a) Qual o
conhecimento sobre cibercultura e seus produtos os professores dos
cursos de Pedagogia possuem e como utilizam esses produtos dentro e
fora de sala de aula? b) Qual a importância de tais conhecimentos na
79
preparação dos alunos para a realidade de ensino e que benefícios podem
trazer para o processo de ensino e aprendizagem? c) O que os professores
julgam necessário para que os alunos (futuros professores) estejam
preparados para enfrentar as gerações futuras? Trata-se de uma
investigação predominantemente qualitativa, ancorada no paradigma do
Construtivismo Social, mas que também utilizou dados quantitativos.
Para coleta de dados optamos pelos instrumentos questionário, com
perguntas fechadas e abertas, entrevista semidirigida e diário de campo.
Os dados foram analisados de acordo com as reflexões teóricas de Pierre
Lévy, Philippe Quéau, Arturo Escobar, René Dreifuss, Edgard Morin,
Theodor Adorno, Paulo Freire, entre outros. Os resultados indicaram que
a maioria dos professores valoriza os produtos da cibercultura como
recursos didáticos, mas não problematiza as questões socioculturais dela
resultantes. Concluímos que o conhecimento dos recursos informacionais
(tecnologização) e a problematização das questões do universo
cibercultural (ciberculturalização), desencadeadas a partir da utilização
desses recursos, o elementos importantes na formação de professores
críticos e atualizados, capazes de lidar com as gerações futuras de alunos.
Por outro lado, não trabalhar com os problemas advindos da cibercultura
significa não trabalhar com a questão da cidadania, tão relevante em
tempos de mundialização.
Temas tratados:
Cibercultura e Ciberespaço
Os referenciais teóricos utilizados para tratar da cibercultura foram: Pierre Lévy,
Philippe Quéau, Edgar Morin, Dreifuss, Paul Virilio, Denis de Moraes, Arturo Escobar,
Patrícia Bernal, Figueroa Sarrieri, Lamikiz, André Lemos e Adelina Silva. A apresentação
de um estudo sobre diferentes definições de cibercultura, que nos outros documentos se
manteve restrita à idéia de Lévy, tal como foi realizado, indica uma visão crítica em
relação ao tema e favorece a produção de conhecimento a respeito desse complexo assunto,
que pode apresentar diferentes abordagens e interpretações.
A partir do questionamento e análise das várias definições de cibercultura, o autor
identificou um aspecto comum a elas, “todas admitem haver uma relação entre a
cibercultura e fenômeno social” (p.17). Com relação a esse fato, afirma que “É impossível
tratar de um assunto tão complexo sem considerar e procurar entender o contexto
socioeconômico que envolve a temática.[...], desconsiderá-lo é manter-se alheio ao
significado da extensão e da complexidade das tecnologias de comunicação e informação
(p. 17.)
Além disso, também apresenta outra visão do conceito de cibercultura, apoiado no
pensar de Bohadana (2001): “é um conceito que tem sido utilizado para se referir a uma
80
outra cultura, gerada pelas tecnologias de base eletroeletrônica, que funda uma sociedade
baseada em chips. Sociedade excludente em que as TIC são alicerçadas pelo capitalismo
neoliberal [...] vive mutações que ultrapassam as dimensões cio-político-econômicas,
criando diversas tenes, que criam e são criadas com as noções de espo e tempo (p.
29).
Globalização e Mundialização
Com relação à definição de Philippe Quéau, destaca que o pensador expande suas
reflexões sobre cibercultura, explorando a globalização, os impactos sobre a cultura local e
seus efeitos sobre a sociedade, evidenciando que considera o processo de mundialização
um dos maiores aliados para o entendimento dos desafios a respeito da cibercultura.
Entretanto, afirma que, para Quéau, a mundialização tem permanecido essencialmente
econômica e tecnológica, enquanto a mundialização dos espíritos (cultural, social, e
política) tem andado a passos lentos, se comparada à velocidade dos mercados ou das redes
de comunicação.
Dando continuidade ao estudo dos temas globalização e mundialização,
confrontando com a percepção de Quéau, apresenta a relevante e pioneira visão de
Dreifuss.
Pseudoneutralidade da técnica
Confrontando o pensamento de Lévy com o de Virílio, esse pesquisador evidencia a
questão sobre a pseudoneutralidade da técnica, tão trabalhada pelos adeptos da Escola de
Frankfurt, como Adorno. Acrescenta, ainda, que as novas formas de interão podem
causar a pulverização de algumas culturas, obrigando inúmeros povos a adotar posturas
que não lhe são próprios.
Tempo
Para esse autor, o tempo digital passa o coexistir com o tempo real, inaugurando um
novo ritmo e uma outra concepção do tempo local, que parece se tornar menos
significativo, economicamente e politicamente, do que o tempo digital.
81
Educação e TIC
No contexto emaranhado de paradoxos apresentados, a educação é evidenciada
como necessidade e há a afirmação de que ela precisa ser revisitada.
Resgatando o pensamento de Paulo Freire, entende a educação como um longo
processo de preparão de cidadãos para a vida, “quando Freire aborda a formação, deixa
claro que a compreende como um ato constante, no intuito de que o educador tenha uma
necessária e indispensável qualificação técnica e científica, isto é, que tenha competência e
compromisso” (p. 54).
Orientando-se, também, pelo pensamento de Adorno, entende que a função da
educação é a de emancipar e conscientizar os sujeitos, que ocorre paralela à sua
comprovação da realidade, o que envolve continuamente um processo de adaptação e
resistência, nunca de conformismo” (p. 37).
“Formar um cidadão na sociedade informatizada, como se propõe insistentemente
na política educacional do governo, vai além da instrumentalização das escolas. O ato
educativo visa não só ‘ao desenvolvimento cognitivo’, como também à adaptação do
sujeito à realidade, com uma formação humana, crítica e ética (p. 37).
Sem dúvida, é louvável o posicionamento assumido nessa investigação, pois, à
Educação cabe a formação de cidadãos capazes de se posicionar diante das marcantes
diferenças sociais, impostas por um pequeno grupo de corporões que, atualmente,
decidem os rumos de várias nações, deliberando sobre suas decisões políticas e culturais,
padronizando os excluídos”. Ao mesmo tempo, cabe a mesma dotar o indivíduo de um
mínimo de instrumentalização tecnológica.
Papel docente
Segundo esse autor, a tarefa de modernizar o ensino parece recair, como sempre, na
modernização do educador, “é preciso formar um profissional capaz de tornar a educação
um ato mais dinâmico, incitando a troca de saberes, rompendo com regras aentão tidas
como certas” (p. 99). Modernização, afirma, não é a instrumentalização tecnológica,
pois o uso dos recursos tecnológicos numa conjuntura tradicional de escola seria apenas
uma simples troca de suporte. “É preciso mudar a mentalidade dos docentes, discentes e de
todos que compõem o Sistema Educacional” (p. 102).
82
Nessa investigação, esse autor sustenta que os profissionais da educação necessitam
estar não atualizados em suas disciplinas, como também tecnologizados e
“ciberculturalizados”. Esse pesquisador entende a tecnologização como o reconhecimento
dos avanços tecnológicos e a desenvoltura na utilizão dos produtos da cibercultura e a
ciberculturalização (p.110), neologismo criado por ele, como o compromisso daqueles
usuários em problematizar e promover a reflexão das questões relativas ao uso desses
produtos com as novas gerações que estão se formando.
Para esse pesquisador, o professor, diante da cibercultura, deve promover um
dinamismo do ensino, se transformar no “dinamizador da inteligência coletiva”, usando a
expressão de Lévy, não sendo mais o fornecedor direto de conhecimentos, e ser também,
um “criador de pontes num mundo que produz exclusões” (p. 53), entre aqueles que têm
acesso aos mais avaados equipamentos e os que têm a escola para se conectar com
novas visões de mundo.
Inclusão digital
O autor problematiza o acesso à linguagem digital, questionando o contato da
população, especialmente a menos favorecida ou aquela que tem menos condição de
discernimento e crítica, com informações de conteúdo ideológico, haja vista que o discurso
não é neutro. Entretanto, cabe ressaltar que se trata de uma problematização. De acordo
com esse pesquisador, a questão é “como fazer para viabilizar projetos governamentais que
carregam o lema da inclusão digital, se a população brasileira ainda convive com carências
profundas em relação à educação de base e ainda se encontra excluída socialmente? Como
conciliar essas duas questões?” (p. 38).
Com relação à inclusão digital, vale destacar a afirmação de Lévy (1998): a
“tecnodemocracia em que haverá a possibilidade para que todos possam se ajudar e
aprender” (p.48). O pesquisador salienta que, como é não é possível fazer uma análise da
cibercultura dissociada do contexto da globalização, ainda é considerada uma grande
utopia por muitas pessoas.
83
10) Pesquisa J de Sandra Catarina Nogueira Campos sob o título” O Projeto
pedagógico nos Programas a Distância Apoiados pela Internet: um Estudo de Caso”–
Ano 2006 - Dissertação de Mestrado.
Resumo:
A globalização e as novas tecnologias m suscitado relevantes
transformações no mercado de trabalho e no comportamento dos
trabalhadores, que estão constantemente buscando atualizar seus
conhecimentos por meio da formação continuada. Na Educação, surge o
Ensino a Distância apoiado pela internet como uma possibilidade de
contribuir nesse sentido. Esta dissertação se deteve a pesquisar a
elaboração dos programas de EAD da instituição SENAC (Serviço
nacional de aprendizagem comercial) na unidade CTE (Centro de
tecnologia e gestão educacional), situada na cidade do Rio de Janeiro,
com foco nas estragias de ensino utilizadas, frente a uma nova proposta
educacional com utilização intensiva de recursos tecnológicos para
capacitação de adultos. Visando compor a pesquisa de campo, foram
realizadas observações, entrevistas com a equipe e análise documental. O
estudo teórico compreende alguns temas fundamentais na EAD via
internet: Ciberespaço, Cibercultura, interatividade, recursos multimídia, e
o processo de elaboração do Projeto Pedagógico dos programas. Foi
constatado, a partir das teorias estudadas, que os planejamentos de EAD
necessitam de uma metodologia pedagógica específica, focada na
aprendizagem de adultos que buscam aprimorar e ampliar seus
conhecimentos de forma qualitativa. O CTE/SENAC foi escolhido como
campo de estudo por ser uma instituição que desenvolve projetos de
educação com soluções tecnológicas inovadoras, direcionados para
capacitação profissional. Concluiu-se que os projetos do CTE o
baseados numa estrutura educacional construtivista e interacionista, com
a utilização de mídias integradas que estimulam o desenvolvimento do
respeito, da colaboração, da ética e da cidadania no aluno.
Temas tratados:
Projeto Pedagógico
Nessa pesquisa, Projeto Pedagógico é “uma didática de ensino, um planejamento
com etapas e finalidades estabelecidas” (p.12). Além disso, “deve apresentar um ideal
metodológico que faça aflorar a criatividade, onde teorias se fundem, estratégias são
criadas, hipóteses são analisadas e questionadas e ainda toda uma prática é revista” (p.12).
Atualmente, afirma a pesquisadora, as instituições estão recorrendo a estratégia do
Projeto Pedagógico para elaboração de programas direcionados à atualização de
profissionais. Segundo essa autora, “é necessário que o Projeto Pedagógico vincule suas
estratégias educacionais ao contexto atual das sociedades, atentando para as
84
transformações econômicas, sociais e políticas, assim como para os dilemas presentes no
mercado de trabalho” (p. 12). Em relação a essa afirmação, cabe observar que a autora
limitou-se a expor a existência de mudanças; no entanto, não houve longos comentários
sobre as referidas mudanças.
Globalização
O fenômeno da globalização é tratado nessa pesquisa apenas em relação às
mudanças que vem promovendo no “mundodo trabalho. Nenhum comentário é feito em
relação às questões sociais, políticas ou econômicas decorrentes do fenômeno. Entretanto,
vale ressaltar que, no decorrer da investigação, citações isoladas sobre as questões
sociais, econômicas e políticas.
Mercado de trabalho
Segundo essa autora, com a globalização e as novas tecnologias, transformações
relevantes têm sido verificadas no mercado de trabalho, na própria concepção de trabalho e
nas exigências de formação dos profissionais. Com processos de seleção cada vez mais
criteriosos, as instituições não avaliam apenas a competência técnica dos profissionais, mas
também o seu perfil profissional, exigindo criatividade, capacidade para o trabalho em
equipes interfuncionais, entre outros atributos. Por isso, os profissionais estão sendo
levados a renovar seus saberes, buscando seu aperfeiçoamento, muitas vezes, com a
formação continuada em cursos técnicos e Pós-Graduões, afirma. “Em função disso, as
universidades encontram-se excessivamente cheias, e as vagas nas Pós-Graduações e
Graduações estão reduzidas e restritas” (p. 22).
EAD via Internet
No contexto da pesquisa, diante da existência da grande rede, a educação a
distância ressurge, possibilitando uma aprendizagem totalmente virtual ou semipresencial,
realizada por meio de recursos de comunicação, como e-mails, fórum, chats
12
e lista de
discussões,
com uso de materiais diversificados, recursos de escrita, som e imagem,
permitindo maior rapidez nas informações, flexibilidade e interação entre as pessoas. No
12
Os fóruns são espaços de debates que possibilitam o debate plural de idéias, promovem uma formação
eticamente direcionada em que se aprende e ensina o respeito à diversidade, à alteridade, e a busca solidária
de soluções, o diferencial nos chats é que os participantes do curso podem conversar em tempo real.
85
que diz respeito ao material didático, a autora evidenciou sua preocupação, salientando que
é preciso ter cuidado em relação ao material disponibilizado pelos cursos, pois nem sempre
são confiáveis, devendo as pessoas desenvolverem uma visão crítica e questionadora para
que não seja uma forma de “cultura passiva” (p.11).
Em qualquer curso via Internet, é mister, segundo essa pesquisadora, o
conhecimento da clientela que se busca formar, bem como a perspectiva de Educação que
se pretende desenvolver. Além disso, afirma, a equipe responvel deve estar atenta à
produção de materiais didáticos de qualidade, objetivando a democratização dos
conhecimentos.
Conforme essa autora, na proposta de ensino virtual, deve-se considerar vários
aspectos: pedagógicos (metodologia que evite a sensão de isolamento e sobrecarga de
informações), tecnológicos (considerar a evolução dos computadores, largura de banda,
redução de custos), organizacionais (tempo de elaboração de um programa) e institucionais
(dedicação necessária do corpo docente para sua preparação). Outro aspecto importante
indicado na pesquisa é de que, na elaboração de um curso a distância, o foco deve ser o
oferecimento de qualidade que fundamente em sua estrutura a noção de uma educação
democratizante. Não uma simples transferência de programas clássicos (conteúdos de
livros inteiros colocados na tela do computador) para um novo formato, como a hipermídia
e o formato interativo, mas deve instaurar novos paradigmas de aquisição de
conhecimento, permitindo um aprendizado cooperativo. “Novas tecnologias e velhos
hábitos não se combinam” (p. 82).
A pesquisadora entende que a educação a distância, via Internet, é um excelente
meio de capacitação profissional, pois a aprendizagem pode ser feita sem deslocamento
físico, nos momentos livres do profissional, não precisando que ele interrompa suas
atividades habituais, “atendendo a necessidade dos indivíduos de evoluírem culturalmente”
(p. 91). Assim, a EaD, via Internet, está sendo uma alternativa para as instituições
promoverem a formação continuada de seus profissionais ou para estes, pessoalmente,
promoverem sua atualização, indica.
Essa autora alerta que “a educação a distância nas instituições não é uma
modalidade de educação que deve ser considerada como recurso indicado para solucionar
problemas organizacionais ou financeiros das instituições (baixo retorno financeiro nos
investimentos, redução de custos, estratégias educacionais fracassadas), sua proposta é
disponibilizar programas direcionados para capacitação profissional. Com a Ead, o
86
profissional participa de um processo de aprendizagem que possibilita flexibilidade de
tempo e espaço e um estudo com maior liberdade” (p.10).
Segundo essa autora, programas de ensino a distância, via Internet, têm tornado
viável a criação de comunidades que estimulam seus participantes a refletirem sobre seus
conceitos, seus valores, tornando-os mais conscientes de seus direitos e deveres perante a
sociedade”.
Tecnologia
A tecnologia, complemento das nossas vidas, não é vista, na pesquisa, como
instrumento de substituição do trabalho humano, mas como um aparato que auxilia os
homens no desenvolvimento de tarefas. Reportando-se a Lévy, as tecnologia de
informação e comunicação, fruto de uma cultura, vem permitindo aos profissionais
aprimorarem seus conhecimentos por meio da troca de informações e experiências com
outros profissionais, contribuindo para o aumento e refinamento do conhecimento coletivo.
Ciberespaço e Cibercultura
Nesse documento fica evidente que a definição de ciberespaço ganha relevo em
relação à de cibercultura, provavelmente porque a pesquisa tem como tema principal a
utilização da Internet. Cabe ressaltar que as definições utilizadas para os dois termos foram
as de Lévy. Não são estabelecidas quaisquer vinculações com a globalização, com a
economia, com o social, sobretudo em relação à excluo social, em que poucos têm
possibilidade de acessar a Internet.
Para essa pesquisadora, é possível que no ciberespaço os indivíduos se sintam mais
motivados para acompanhar cursos longos e rígidos, muitas vezes com custo reduzido, e
que embora haja o obstáculo da distância física, a virtualidade estimula a imaginação, a
percepção, a troca de idéias, a realização de conferências eletrônicas, os grupos de
discussão, resgatando o sentido de coletividade, fundamental no processo educativo.
Cabe ressaltar que, apesar de usar o conceito de ciberespaço, essa autora, no
percurso do texto, fez grande uso do termo Internet para se referir ao ambiente virtual.
A Internet tem determinado, conforme essa pesquisadora, uma maior aproximação
entre as pessoas, possibilitando a formação de comunidades virtuais entendidas como local
virtual, onde se encontram pessoas, mesmo distantes geograficamente, que apresentam
87
interesses em comum, mesmo que o interesse seja apenas o de encontrar outras pessoas
para se comunicar.
Além disso, afirma a autora, a Internet dispõe de uma enorme gama de recursos
que podem auxiliar o ensino interativo, valorizando o convívio social” (p. 19).
A interação, mesmo ocorrendo de forma indireta, pois tem de ser mediatizada pelos
novos suportes técnicos, possibilita, segundo essa pesquisadora, a socialização dos
conhecimentos e das habilidades humanas.
Educação e TIC
A concepção de educação adotada pela pesquisadora foi a de formação integral do
indivíduo. Ela se remeteu à perspectiva freireana de ser inacabado, sujeito de sua própria
educação, que deve responder com eficácia aos novos desafios da sociedade, que não deve
se restringir a acompanhar as mudanças científicas e tecnológicas, e que deve possuir uma
“base sólida, fundamentada no humanismo” (p. 12).
“No ciberespaço é possível contrapor a educação bancária, descrita por Freire, em
que o professor transmite conhecimento e o aluno o recebe passivamente, depositando em
sua mente, sem haver uma construção conjunta” (p. 13).
Com a Internet, essa autora ressalta haver no meio educacional um universo de
possibilidades totalmente novo, novas formas de leitura e escrita, como o hipertexto, mais
objetivo e menos formal, integrando o educador, o educando e a tecnologia, levando-nos a
repensar os antigos processos educacionais e os paradigmas tradicionais da educação e a
refletir sobre as adaptações necessárias aos novos recursos.
A educação na cibercultura, para essa autora, está baseada em peculiaridades que
dizem respeito às mudanças na relação com o saber. A maior parte do que se aprende no
início de uma carreira se torna obsoleto em um curto espaço de tempo. Por conta disso, a
própria noção de trabalho está se transformando; trabalhar não é fazer alguma coisa que
se sabe, mas aprender a aprender, transmitir saberes e produzir conhecimento.
Apesar de valorizar a educação integral, essa autora, nesse trabalho, fortalece a
percepção que vincula a educação ao mundo do trabalho.
Papel docente
88
O professor é incentivado a se transformar no “animador coletivoe o mais no
“fornecedor direto de conhecimento”, promovendo a criticidade e não a passividade.
Construção do conhecimento
Essa autora recorre a Vygotsky e a sua Teoria Sociointeracionista para fundamentar
suas perspectiva de construção do conhecimento via Internet. Para tanto, apropria-se dos
conceitos de mediação pedagógica e Zona de Desenvolvimento Proximal.
De acordo com a teoria citada, afirma, o conhecimento tem origem nas relações
sociais, sendo produzido na intersubjetividade e marcado por condições culturais, sociais, e
hisricas. A construção do conhecimento ocorre na mediação feita por outros sujeitos.
Esse “outro social” (p. 39), segundo essa pesquisadora, pode se apresentar na forma de
objetos, do ambiente ou do mundo cultural que rodeia o sujeito.
Orientando-se por Vygotsky, destaca que o indivíduo, por meio da interação, torna-
se construtor de seu próprio conhecimento. A interação estabelecida com outros indivíduos
com a linguagem, cria formas de pensar e de se apropriar do saber produzido na e pela
comunidade. A socialização dos conhecimentos adquiridos pode propiciar novas
aprendizagens, o estabelecimento de importantes correlações entre idéias, apurar o senso
crítico, equilibrar as emoções e desenvolver o respeito pelo outro.
De acordo com essa autora, para Vygotsky, a afetividade também é um fator
relevante para o processo de construção de conhecimento, uma vez que esse processo
demanda um sentimento de confiança e de afinidade com os outros.
11) Pesquisa L de Fernanda Nunes Lopes de Souza sob o título Educão e
Cibercultura: novos tempos, novos espaços, novos saberes” - Ano 2006 - Dissertação
de Mestrado.
Resumo:
A inserção das Tecnologias de Informação e Comunicação na vida
acadêmica vem gerando significativos desafios para o docente de
Informática, cuja atualização depende das inovações técnicas inseridas na
estrutura acadêmica. Entre esses desafios, destaca-se o confronto de
conhecimentos que se estabelece na relação com o aluno inserido no
mercado de trabalho, forçado a acompanhar a velocidade das mudanças.
Em face dessa problemática, julgou-se pertinente investigar: (a)que
expectativas os alunos de cursos de Graduação Tecnológica em
Informática apresentam sobre as competências necessárias ao mercado de
89
trabalho; (b) que competências os docentes julgam necessárias serem
construídas pelos discentes; e (c) o que esses professores oferecem para
desenvolver tais competências. O estudo segue uma orientação
qualitativa, ainda que utilize procedimentos de quantificação. Os dados
foram analisados à luz dos conceitos de globalização, cibercultura,
competência e educação, os quais foram focalizados considerando
especificamente a relação professor-aluno. Tais conceitos, integrados ao
referencial teórico da pesquisa, foram retirados de autores como Denis
Moraes, Manuel Castells, Pierre Lévy, Hannah Arendt, Theodor Adorno,
Philipe Perrenoud e René Dreifuss. A pesquisa ocorreu em duas IES,
localizadas na cidade do Rio de Janeiro, tendo como sujeitos alunos que
cursavam os últimos períodos de seus cursos de Graduação Tecnológica
na área de Informática e docentes que ministram aulas para esses alunos.
Os resultados da pesquisa apontam que a expectativa dos alunos é
adquirir conhecimentos que lhes permitam entrar no mercado de trabalho;
a dos docentes é de que os alunos construam, além das competências
técnicas, as comunicativas e comportamentais. Os resultados revelam
também que os docentes utilizam estratégias englobando fenômenos do
cotidiano e exercícios com as ferramentas específicas, além de trabalhos
em grupo.
Temas tratados:
Educação e TIC
Conforme a autora, o terceiro milênio tem a marca de ser uma época de
questionamento diante das profundas mutações que vêm ocorrendo no mundo. Diante do
surgimento das novas tecnologias, afirma a pesquisadora, é tempo de rever o significado de
educar, a função da escola, o papel do professor e do aluno.
Globalização
De acordo com a autora, grande parte das mudanças radicais que se verificam no
mundo é proveniente do processo de globalização, que mesmo afetando de forma desigual
as diferentes sociedades, atinge todas as dimensões da vida humana.
A globalização foi abordada na pesquisa com ênfase na nova geopolítica e na nova
organização empresarial, baseada no modelo de produção flexível que vem se
configurando desde a década de 1980. A informação, conforme a autora, passa a ser a
engrenagem que move o mundo, e as novas tecnologias de informação e comunicação são
os instrumentos usados para aumentar a lucratividade das empresas. Investimentos maciços
têm sido feitos pelas grandes corporações que, ao mesmo tempo em que criam e recriam o
90
conhecimento, ditam os padrões culturais, profissionais, educacionais e intelectuais a
serem seguidos.
Apresentando certas especificidades, acrescenta a pesquisadora, a informação
comporta uma série de formatos, seja de texto, de som, seja de imagem. “Essa inovadora
modalidade de comunicação encontra seu suporte no ciberespo” (p.18).
Ciberespaço
O ciberespaço, na pesquisa, é definido segundo Lévy, Gralla e Peraya, merecendo
comentários e críticas por parte da autora.
Apresentado como um local virtual, onde as pessoas interagem entre si, o
ciberespaço é compreendido pela pesquisadora como o resultado da conexão de um
microcomputador, de um modem e de uma linha telefônica. Para seus usuários, no entanto,
afirma a autora, o ciberespaço não passa de uma abstração, um espo imaginário, local da
inteligência coletiva, da construção do conhecimento em rede, mesmo que para os técnicos
ele seja uma rede sem controle, sem gerenciamento.
Cibercultura
A cibercultura é definida segundo Lévy e também foi alvo de comentários e
críticas. Considerada como efeito do ciberespaço, para a pesquisadora, a cibercultura vem
“incidindo de forma variada e distinta no cerne de cada cultura local. Transcendendo o
microcomputador,[...] engloba os variados tipos de objetos e suporte digitais, cuja
existência deve-se ao microprocessador (p. 19).
Segundo a autora, a cibercultura possui algo único e especial, que diz respeito a sua
capacidade de armazenamento de informação em escala inimaginável, passando a gerar a
inteligência coletiva.
Exclusão digital
A autora enfatiza que embora o número absoluto de pessoas que participam da
cibercultura esteja aumentando exponencialmente, a exclusão transcende as questões
sociopolítico-econômicas. O sentimento de inferioridade, reforça a autora, geralmente
imputado ao desconhecimento tecnológico ou à impossibilidade econômica, enraíza-se
91
de forma mais complexa na falta de condições de participar da inteligência coletiva,
conduzindo a diferenças ainda maiores entre as classes sociais.
Competência
Na pesquisa, o conceito de competência foi trabalhado segundo: Hirata, Deluiz,
Moraes e Perrenoud, tanto para se discutir os saberes e conhecimentos no âmbito da
educação quanto para a qualificão no âmbito do trabalho. Maior destaque foi dado ao
pensar de Perrenoud, principalmente, em relação ao ofício de professor.
Segundo essa autora, parece haver um retorno às concepções tecnicistas da década
de 1970, deslocando-se o referencial da qualificação profissional para a individual. Por
outro lado, as TIC exigem uma concepção de competência que vai além da formação
puramente técnica, pois a competência que o mundo atual demanda de cada indivíduo
engloba a reflexão, a criticidade, a solidariedade (troca de conhecimentos). “Ter
competência é, nesses novos tempos, saber o que fazer com o que se sabe. Portanto, ter
uma atitude que necessita de pensamento crítico” (p. 44).
Educação
Com relação ao tema Educação, foram usados os conceitos de Adorno e Hannah
Arendt. O primeiro abordando a questão da educação para a emancipação e
conscientização, que ocorre de forma paralela à sua comprovação da realidade, o que
requer um processo contínuo de adaptação e resistência, não de conformismo. A segunda,
no que tange à existência de um passado a ser respeitado com suas tradições e um novo
que deve ser também respeitado a cada nova geração. “A busca do difícil equilíbrio(p.
39).
Papel docente
Conforme a pesquisadora, as novas tecnologias mudam a visão de educação e
formação, atingem o corpo docente e introduzem o modelo educacional de aprendizagem
por competência. Citando Perrenoud, a autora sustenta o fato de que nenhum docente pode
estar indiferente a essas tecnologias, já que as mesmas modificaram os modos de viver, de
divertir, de se informar, de trabalhar e de pensar. Contexto que desafia o papel docente
92
como “mediador entre o respeito ao passado e a construção de um novo paradigma
cognitivo, exigido pela realidade do presente” (p. 113).
O acesso à linguagem digital amplia numerosas funções cognitivas, tais como a
memória, a percepção, a imaginação e o raciocínio, afirma a autora. “Nesse sentido, não há
como manter um ensino baseado na memorização de fatos, listas, tabelas ou
conhecimentos rapidamente acessados pelo computador; por outro lado, não há como
subestimar um ensino voltado para a cidadania e para a liberdade, inserido neste novo
contexto cognitivo” (p. 43).
12) Pesquisa M de Alessandra Senra Santiago sob o título” Educação, cibercultura e
aprendizagem do inglês técnico” -Ano 2006– Dissertação de Mestrado.
Resumo:
Na tentativa de adequar a Educação às exigências introduzidas pelas
tecnologias de informação e comunicação (TIC) e as novas demandas do
mercado de trabalho, o MEC, por meio da portaria 2253, de 18/10/2001,
passou a permitir os cursos superiores semipresenciais, que ofereçam
atividades online, desde que estas não excedam 20% do tempo previsto
para integralização do respectivo currículo. O objetivo deste estudo foi o
de avaliar possibilidades e limitações da disciplina de Inglês Técnico,
oferecido por um curso de graduação tecnológica de uma IPES do Rio de
Janeiro, na modalidade semipresencial. Trata-se de uma pesquisa de
natureza predominantemente qualitativa, mas que se valeu de métodos e
técnicas quantitativas. Para a coleta de dados, foram utilizados os
seguintes instrumentos: um questionário aberto e um questionário
fechado para os alunos e um diário de campo para registrar os diferentes
comportamentos e desempenhos dos alunos nas aulas presenciais e
online. A análise dos dados foi realizada à luz de abordagens teóricas,
como as de David Crystal, Denis de Moraes, Paulo Freire, Pierre Lévy,
ReDreifuss, Peter Strevens, entre outros. Conclui-se que, neste grupo,
as limitações foram maiores do que as possibilidades oferecidas pelos
20% de atividades online no processo ensino-aprendizagem. O resultado
se deveu, principalmente, à baixa participação da maioria dos alunos, que
não demonstraram interesse em acessar o site para realizar as tarefas.
Verificou-se que faltam ao aluno autonomia, disciplina, responsabilidade,
concentração e criticidade na execução das tarefas que o pré-requisitos
para o uso da mídia. Observou-se ainda que, se por um lado houve
contato face a face semanal entre alunos e o professor e domínio do uso
do computador por parte dos alunos, por outro, estes apresentaram
dificuldade de expressão escrita, tanto em inglês quanto em português.
Além disso, muitos alunos alegaram falta de tempo para a realização das
tarefas, contrariando a idéia de que com a flexibilização os estudantes
teriam mais tempo para executar as atividades.
93
Temas tratados:
Globalização
A autora destaca o processo de globalização, mais especificamente, a perspectiva
da mundialização, tal como é percebida por Dreifuss, “fenômeno que atravessa as
diferentes culturas num duplo sentido de homogeneização e heterogeneização, afetando
diretamente o dia-a-dia das pessoas.
Cibercultura e Ciberespaço
Com a revolução microeletrônica e o surgimento da Internet, afirma a autora, têm
início dois fenômenos: o ciberespaço e a cibercultura.
O ciberespaço e a cibercultura são apresentados na pesquisa por meio dos conceitos
elaborados por Lévy. Cabe ressaltar que foram devidamente comentados e criticados.
Conforme a autora, o ciberespaço, também chamado de rede, é um novo espaço de
comunicação, de sociabilidade, de organização e de transação, mas também um novo
mercado de informação e de conhecimento, enfim, é “o espaço de comunicação aberto no
qual há a interconexão mundial dos computadores, das informações e dos homens” (p. 34).
Na pesquisa, a cibercultura é percebida como o locus das tecnologias e objetos
digitais, expressando a dinâmica das redes interativas. Imersos na cibercultura,
profissionais, estudantes, e idosos transitam, diariamente, com seus cartões magnéticos
para executar transações bancárias, utilizar os transportes públicos, enquanto o mundo dos
negócios se engendra e borbulha em tempo digital” (p. 35).
Para a pesquisadora a expansão do ciberespo e da cibercultura têm exigido que
seus usuários (acadêmico e/ou profissional) tenham um razoável domínio da língua
inglesa, que a maior parte dos sites estão disponibilizados, especialmente, nesse idioma.
“O predomínio da língua inglesa nos âmbitos da política, economia, comunicações não é
um fato novo. Nova é a mudança de centro de gravidade da língua, ou seja, prossegue a
autora, o inglês deixou de pertencer, exclusivamente, as suas comunidades constituintes
americanos e britânicos” (p. 36).
Assim, não apenas pelas exigências técnicas da Internet, mas por toda a política
neoliberal que sustenta a globalização capitalista, o inglês técnico é uma exigência na
formação acadêmica dos estudantes brasileiros.
94
Educação
Para tratar desse tema, o principal teórico trabalhado foi Paulo Freire.
Segundo a pesquisadora, a sociedade globalizada, sustentada pelas tecnologias de
informação e comunicão, afeta profundamente o ato de educar e o processo de ensino-
aprendizagem.
No contexto da pesquisa, a autora destaca que, ainda que o Inglês técnico seja uma
exigência fundamentada nas políticas neoliberais, é importante que o ensino da língua não
esteja desvinculado do ato de educar, não basta apenas ensinar o aluno a se comunicar ou
a ler em outro idioma, mas educá-lo a fim de que forme consciência crítica em relação ao
que lhe está sendo ensinado” (p. 38). Observou-se, ainda, que os alunos, apesar de
apresentarem domínio no uso do computador, a tecnologia ainda continuava sendo um
instrumento de lazer e contato e não para aplicação para a aquisição do conhecimento
formal.
Papel docente
A autora entende que o papel do docente na educação a distância têm sido um dos
assuntos mais polêmicos, visto que a utilização de ambientes virtuais tem exigido novos
papéis e funções, o que demanda não a atualização dos profissionais, mas também
mudanças significativas na organização do ambiente de trabalho e na relação profissional
entre a instituição e o funcionário-professor.
EAD
Orientando-se pelo pensamento de Belloni, a pesquisadora salienta que a principal
característica do ensino a distância é a segmentação do ato de ensinar, exigindo que o
docente saia de seu isolamento disciplinar e passe a trabalhar em equipes de outras áreas
acadêmicas. Tal situação, no entanto, segundo a autora, encontra-se em todo o ambiente
educacional, ou seja, no ensino presencial também, e exige que os professores tenham
condições de se atualizar. Para tanto, afirma a autora, eles precisam de tempo para realizar
sua formação continuada; contudo, trabalhando a partir de matrizes curriculares
tradicionais, os profissionais têm se defrontado com um aumento de trabalho e maiores
dificuldades na execução dos serviços.
95
13) Pesquisa N de Lana Barbosa Silva sob o título” A prática avaliativa na educação
online: as estragias e as interfaces num ambiente virtual de aprendizagem - Ano
2006 - Dissertação de Mestrado.
Resumo:
Esta pesquisa tem como objeto de estudo as estratégias de avaliação da
aprendizagem online adotadas por uma Instituição de Ensino Superior,
em que disciplinas dos cursos de graduação são oferecidas dentro do
contexto de flexibilização de 20% da carga horária em seu ambiente
virtual. Foram investigadas as dificuldades vivenciadas e as soluções
adotadas por docentes e discentes. Metodologicamente, utilizou-se o
estudo de caso e a observação participante. Foram priorizadas três fontes
para a obtenção de dados: questionários enviados aos docentes e alunos, o
registro do processo de avaliação da aprendizagem e a observação de
campo no ambiente virtual de aprendizagem através das performances
das interfaces e das estragias de avaliação. O quadro teórico de base
parte da vertente sociointeracionista fundamentada em Vygotsky. Toma
as interfaces e suas características a partir dos pressupostos da
interatividade apoiados em Silva. E aborda a avaliação da aprendizagem
na perspectiva de Hoffman, Luckesi e Romão. Os resultados desta
pesquisa revelam que o desenvolvimento da interatividade entendida
como colaboração, autonomia e dialógica no uso das interfaces
potencializa as estratégias de avaliação da aprendizagem no ambiente
online. As interfaces fórum, chat, correio eletrônico e portfolio revelaram
possibilidades efetivas para criação de estratégias de avaliação da
aprendizagem. Ademais, a pesquisa revelou que a resistência docente ao
uso das interfaces como potencializadoras de processos de avaliação
diagnóstica e formativa no ambiente virtual origina-se da excluo digital
dos docentes e do desconhecimento das suas funcionalidades
pedagógicas. Tudo isto aparece aliado à identificação da avaliação como
forma de registrar, medir, verificar para aprovar, evidenciando a
necessidade da formação continuada do docente para as potencialidades
das tecnologias digitais online, capazes de superar a transposição de
mecanismos tradicionalmente adotados na sala de aula presencial.
Temas tratados:
Ciberespaço e Cibercultura
Com relação ao ciberespaço, a autora usa a definição de Lévy. Já em relação à
cibercultura, ela não apresenta definição de um autor específico, optando por apresentar
uma perspectiva centrada em autores como Silva, Moraes e Lévy.
Segundo a autora, a “cibercultura é um fenômeno sócio/técnico/cultural que teve
início na passagem do século XX para o XXI, marcado pelo desenvolvimento das
tecnologias digitais, que se configuram como responsáveis pela introdução de uma nova
época, caracterizada não apenas pela supremacia da tecnologia, mas pelo seu potencial de
96
alterar de modo radical os universos da política, da economia, e da cultura,
redimensionando, por um lado, as estratégias de decisão e de constituição do poder,
introduzindo outra noção de cidadania e, por outro, as instituições responsáveis pela
formação do sujeito, como a educação, a religião e a família” (p. 13).
Ressalta, ainda, que as novas tecnologias criam possibilidades de conectar a
humanidade inteira, revolucionando todo o ambiente comunicacional e o padrão da
circulação das informações através do ciberespo, onde novas relações com o saber o
estabelecidas. “A cultura até então territorializada ganha no contexto informacional uma
dimeno made, exigindo que as questões concernentes à humanidade mantenham-se
presentes” (p. 36).
Para essa pesquisadora, a compreensão dos desafios da cibercultura exige,
inicialmente, observar as mudanças ocorridas no ambiente comunicacional, em que antigos
padrões comunicacionais foram revolucionados através dos novos suportes hipertextuais,
interconectados e interativos
Cabe ressaltar que essa autora apresenta afirmações importantes sobre os problemas
que estão surgindo com a cibercultura, “alguns asem perspectivas de solução, como as
desigualdades, as negociações entre os poderes, as relações com o conhecimento, com o
trabalho, as forças políticas e econômicas” (p. 31), entre outros.
Educação
As mudanças verificadas na cultura atingem certamente a educação, afirma essa
autora, e provocam mudanças nas formas de construção do conhecimento e nos processos
de ensino e de aprendizagem, mudanças essas que estão relacionadas à velocidade com a
qual são produzidas e circulam as informações, a forma não-linear de apresentação e
consulta dessas informações o hipertexto e a mudança do esquema clássico de
comunicação, com a liberação do pólo de emissão, dando espaço à interatividade.
Para essa pesquisadora, um dos fins da cibercultura é a Educão online que,
segundo ela, não é apenas uma evolução da Educação à distância; a educação online é um
espaço educacional da cibercultura, possibilitado pelo ambiente interativo disponibilizado
pela Internet, cuja comunicação pode se dar de forma síncrona (tempo real) ou assíncrona
(a qualquer tempo).
97
Diante do mundo virtual, a escola se depara com inúmeras possibilidades, sustenta
essa autora, tais como: a interatividade pelo uso de interfaces, atendimento personalizado,
acesso a midiatecas e conteúdos em diferentes formatos.
Com o atual mundo globalizado, afirma, a exigência em relação à formação dos
sujeitos está aumentando consideravelmente, não só em relação à capacidade técnica,
como também em relação à criatividade, à liderança, à comunicação e à inovação,
“atributos que não são conseguidos por simples percepção passiva e massificada de
informação (p. 29).
O principal teórico utilizado pela autora para fundamentar sua perspectiva de
Educação é Vygotsky.
Remetendo-se a Teoria de Vygotsky, detém-se em dois conceitos: a internalização e
Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). A internalização é compreendida como a
forma de como os indivíduos internalizam as relações sociais e significações externas,
principalmente, por meio da linguagem. A ZDP é limite de extensão do potencial de
desenvolvimento cognitivo. Segundo essa pesquisadora, a teoria pode ser muito bem
aplicada nos dias atuais, em relação à interação que se verifica nos ambientes virtuais de
aprendizagem (AVA), na medida em que os docentes deixam de ser os transmissores de
informações para se tornarem mediadores que favorecem a “comunicação entre indivíduos
com diferentes níveis cognitivos, potencializada pelo uso de uma interface (p. 17).
Na pesquisa, interface é entendida como “canal de comunicação que permite
estabelecer relações entre sujeitos participantes e conteúdos. As interfaces mais usuais são:
chats, fóruns, portfólios e correio eletrônico” (p. 17), permitindo, assim, a produção de
conteúdos e canais de comunicação dos mais variados, que permitem acesso e troca de
todo tipo de material, promovendo a interatividade.
Interatividade
No âmbito dessa pesquisa o tema interatividade é compreendido tal como é
apresentado por Silva, “participação colaborativa, bidirecionalidade e dialógica” (p. 30).
Papel docente
Na cibercultura, afirma, cabe aos docentes, disponibilizar e ensinar a usar os
recursos, apresentar possibilidades e caminhos abertos e não rotas, redimensionando o
sentido de autoria.
98
Exclusão digital e social
No contexto da pesquisa, trata de forma articulada a exclusão digital e a exclusão
social, ressaltando que o custo para estar conectado na sociedade da informação é alto, no
mínimo, é preciso ser alfabetizado, ter um computador conectado e saber usá-lo.
No que diz respeito à incluo digital, afirma que, embora o Brasil esteja bem
posicionado mundialmente, ainda apresenta mais da metade da população sem nunca ter
acessado a Internet. Segundo essa pesquisadora, o objetivo maior da inclusão digital deve
ser a inclusão social e o acesso à educação. Além disso, reforça, o fato de grande parte do
conteúdo da rede estar em inglês dificulta o acesso.
Nessa pesquisa, pode-se verificar que o desenvolvimento dos novos ambientes
virtuais de ensino deve ser acompanhado da devida formação docente. O foco dos AVA
concentrou-se muito mais “na tecnologia do que no elemento humano” (p. 115). Outro
aspecto importante verificado é tangente à remuneração dos professores que, diante das
novas interfaces, seu trabalho aumentado, mas seu salário não tem tido o
correspondente acréscimo. A avaliação ainda é vista como etapa final do processo
educativo, mais pautada no quantitativo do que no qualitativo, demonstrando, segundo essa
autora, a presença de pades tradicionais de notas, numa cultura baseada na autoridade
do docente” (p. 115).
3.3) Tratamento dos dados
Após a codificação de cada um dos documentos em unidades temáticas, como foi
apresentado acima, criamos as categorias, tendo como critérios: a presença do mesmo tema
nos diferentes documentos e a pertinência em relação ao objetivo da presente dissertação.
Foram criadas as seguintes categorias: doncia, educação e tecnologias de informação e
comunicação e cibercultura e contextocio-político-econômico. A seguir apresentaremos
a interpretação realizada, tendo em vista cada uma das categorias.
Docência
Podemos observar que a totalidade das produções acadêmicas enfatiza o fato de
estarmos vivendo sob os efeitos das novidades trazidas pelas tecnologias digitais, inseridas
também no âmbito da Educação. Verificamos, também, que uma espécie de
99
unanimidade quanto à necessidade de mudar o papel do docente, no intuito de adequar esse
profissional a uma sociedade em constante transformação. Assim, ao longo das várias
produções, o termo docente ou professor associa-se a um conjunto de novas expressões
(“dinamizador”, “animador”, “operador”, “mediador, “arquiteto”), que, ao confrontarem
esse profissional com questões de procedimentos ou de finalidades, indicam haver pouca
problematização quanto à função de educador, que deveria estar embutida no papel
docente.
Nesse sentido, poucos o os argumentos que vinculam a atividade docente com a
de educador. No entanto, paradoxalmente, em todas as produções acadêmicas, como
pudemos observar, a afirmação de que existe a necessidade de preparar indivíduos para
lidar com as novas tecnologias, mantendo uma atitude ctica em relação às mesmas. Nesse
caso, cabe indagar de que maneira um professor poderia formar alguém para ter uma visão
crítica quando ele mesmo ainda não parece ter se interrogado sobre queses que remetam
sobre as finalidades da educação. Deparamo-nos, assim, com duas questões que merecem
ser esclarecidas. A primeira refere-se à ausência de distinção entre professor e educador. A
segunda volta-se para a falta de diferenciação entre as questões de procedimentos e as de
finalidades da Educação.
A discriminação entre professor e educador pode ser vivificada a partir da reflexão
apresentada por Hannah Arendt (2005, p. 247), quando nos afirma que
não se pode educar sem ao mesmo tempo ensinar; uma educação sem
aprendizagem é vazia e, portanto, degenera, com muita facilidade, em retórica
moral e emocional. É muito fácil, porém, ensinar sem educar, e pode-se aprender
durante o dia todo sem por isso ser educado.
Educar e ensinar são coisas distintas, mas complementares, pois uma necessita da
outra para se chegar a uma situação de equilíbrio. De que vale o professor ensinar todos os
dias sem passar valores importantes para a vida dos alunos? Da mesma forma, de que vale
o educador passar só valores, apresentar o mundo para os alunos e não ensinar nada?
A função do educador, para a autora, seria a de apresentar o mundo, o mundo real,
sem fantasias, resgatando o passado e preparando os sujeitos para o futuro. O educador
seria uma espécie de mediador entre o novo e o velho, “de tal modo que sua própria
profissão exige um respeito extraordinário pelo passado(op. cit., 2005, p. 244). O que
ocorre é que o passado não deve ser esquecido em prol do novo, e hoje há uma verdadeira
adoração em relação às novidades. É no passado que encontramos as experiências
100
recebidas, é nele que encontramos o patrinio cultural, a hisria do homem, seus erros e
acertos. Essa consciência do passado pode tornar viável um olhar para o futuro mais
crítico, cabendo, assim, transmiti-lo para as novas gerações. Educar exclusivamente para o
futuro é correr o risco de a Educação ficar fixada nas demandas de uma época específica,
em jogos de interesses políticos e ideológicos.
Baseados na observação arendtiana, verificamos que a totalidade das pesquisas
analisadas ressaltam fundamentalmente um ensino voltado para os “novos tempos”. Além
disso, não encontramos nas várias produções qualquer menção sobre a necessidade de
fornecer para o aluno situações que pudessem levá-los a questionar a realidade.
Nesse sentido, entendemos que, embora esses novos tempos tragam questões que
mereçam atenção quanto ao papel do docente, essa reflexão não deve se voltar
exclusivamente para questões de método ou de procedimento. Reduzir o papel do docente
à dimensão que privilegia a ação técnica, contrapõe-se a perspectiva de uma educação que
prepare o sujeito para exercer o olhar crítico sobre os fenômenos sociais.
No que se refere à diferença entre uma educação voltada para procedimentos de
outra voltada para finalidades, cabe observar que a primeira está preocupada em “como se
educa”. Nessa perspectiva, estão sendo privilegiadas questões de caráter técnico ou de
método, retirando da Educação o papel que a ela sempre coube: o de manter-se
comprometida com a dimensão ética. No que concerne a uma educação voltada para
indagar sobre suas finalidades, a preocupação encontra-se no que é educar, para que e para
quem se dirige o processo de educação.
Numa educação voltada para finalidades ou sentidos, o enfoque está pautado no
existir do homem, no sentido ético da existência. O “processo educativo pressupõe o
estabelecimento de uma relação, cujo compromisso é o de favorecer a existência”
(BOHADANA; SKLAR, 2007, p. 19-20). Todo ser humano necessita de outro semelhante,
devidamente reconhecido por um grupo, para ser reconhecido. E é nesse ponto que não
podemos separar a educação da ética. Ética no sentido de pertencimento, já que todo
humano depende de outro para se tornar humano, necessitando pertencer a um grupo, a fim
de ingressar no mundo da linguagem. Nesse sentido, uma educação que visa “formar” para
autonomia deveria ser sustentada por uma relação dialógica, definida por Martin Buber
como a intenção de voltar-se para o outro”, assim, “O EU se realiza na relão com o TU;
é tornando EU que digo TU. Toda vida atual é encontro(...) "O TU encontra-se comigo.
101
Mas sou eu quem entra em relação imediata com ele. Tal é a relação, o ser escolhido e o
escolher”(APUD BOHADANA e SKLAR, 2007, p. 24).
Nessa mesma perspectiva, Adorno (2003) nos mostra a importância de se indagar
sobre quais as finalidades da educação, para quê educar, para onde a educação deve
conduzir o sujeito. Na concepção desse autor, educação é a busca de uma consciência
verdadeira, não a mera modelagem de pessoas. Educação, para Adorno, é o mesmo que
emancipação, conscientização ou racionalidade, pois uma democracia pode ser pensada
por pessoas emancipadas e bem preparadas para se orientarem nesse mundo.
A partir de uma outra ótica teórica, Morin (2004, p. 24) nos alerta que criar um ser
crítico é ensinar a dar contexto aos vários fenômenos. Segundo esse autor (op. cit., 2004, p.
24) “nosso ensino privilegiou a separação em detrimento da ligação, e a análise, em
detrimento da síntese”, tornando-se um imperativo da educação o desenvolvimento da
aptidão para fornecer contexto, pois só assim a formação de um pensamento
“ecologizante”, no sentido de situar todo fenômeno, acontecimento, informação ou
conhecimento em uma relação de inseparabilidade com seu meio ambiente cultural, social,
econômico, político ou natural. Tal fato não situa um fenômeno em seu contexto como
também pode levar a perceber como este o modifica ou mesmo o explica de outra forma.
É importante lembrar que se torna extremamente difícil educar sem discutir, sem
problematizar os diferentes contextos sociopolítico e cultural, nos quais a educação se
encontra inserida.
É necessário que o professor seja também um educador, principalmente por
vivermos uma época em que a crescente sofisticão das tecnologias de comunicação vem
potencializando e implementando outras “maneiras de gerar vida, que, por meio da
biotecnologia, cada dia chega mais perto da realização do projeto da clonagem humana
que, dependendo de como for utilizado, aumenta ainda mais o poder de destruição do
próprio homem. Poder que pode ser comprovado pelos acontecimentos que perpassaram o
século XX: armas nucleares, gases tóxicos, bombas sofisticadas, entre outros.
Educação e TIC
Na maioria das produções acadêmicas foi considerado o fato de que, com a gama
de informações e com as facilidades oriundas da Internet, a educação deve ser revista.
Deve-se, contudo, ter uma visão crítica a respeito sobre o que se veicula, que tipo de
102
informação os alunos estão tendo acesso, já que grande parte dos conteúdos via Internet
não passa de propagandas e ainda 80% do que é veiculado são controlados pelas
grandes corporações. O aluno precisa saber procurar e discernir o que é adequado ou não
na rede. Para isso, ele precisa ter uma educação que focalize a crítica como elemento de
sua formação. Freire já alertava sobre a necessidade de se desenvolver a criticidade em
relação aos fatos, pois “o homem descriticizado é o homem domesticado” (FREIRE,
2000b, p. 51) e manter uma atitude crítica deve ser tarefa permanente, pois, caso contrário,
corre-se o risco de ser um simples expectador de acontecimentos.
A quase totalidade das produções acadêmicas analisadas critica a educação
tradicional e vêem novos horizontes para a educação com a Internet. Importante ressaltar
que a maioria se utiliza de conceitos de autores consagrados e de visibilidade; autores com
o pensar centrado na crítica e do século anterior, cujos escritos são bem antigos. No
entanto, nessas produções, não definem o que é o novo e o que é o tradicional. Conceitos
como o de interação era tratado por Vygotsky, o diálogo era assunto de Bakhtin e
Freire. A famosa concepção “bancária” de educação de Paulo Freire, por exemplo, é
tratada em seu livro Pedagogia do oprimido, lançado em 1970. a Teoria
sociointeracionista de Vygotsky, citada em muitas produções acadêmicas, data do início do
século XX.
Tradicional é o antigo, está no tempo passado? Se estiver no passado, deve,
segundo Hannah Arendt (2005), fazer parte do patrimônio cultural e não deve, por isso, ser
esquecido em relação ao novo, deve servir de base para a construção do presente. Como
dito anteriormente, Gadotti (2000) nos adverte que o futuro não é o aniquilamento do
passado, mas a sua superação. E seguindo o pensar freireano, temos de acordar que o
futuro é possibilidade e, por isso, pode ser inventado (FREIRE, 2000).
Em relação às novas tecnologias, em especial a Internet, não vida de sua
importância para a educação, pois o crescente contato com os novos saberes, o
reconhecimento dos saberes não acadêmicos e, de certa forma, sua contribuição para o
acompanhamento das mudanças, que se sucedem no mundo, a tornam mais um suporte a
ser utilizado pelos professores para enriquecer suas aulas, para se atualizarem, e para que
os alunos iniciem uma prática de pesquisa.
Outro importante aspecto a ser evidenciado em relação às tecnologias de
informação e comunicação é a ampliação de numerosas funções cognitivas humanas como
memória, imaginação, percepção e raciocínio, que fazem com que os professores sejam
103
muito mais exigidos, pois essa nova mídia agora comporta som, imagem, escrita e leitura.
Assim, esses professores devem orientar seus alunos e, de preferência, fornecer contexto
aos fatos, para que os mesmos possam ter uma visão crítica das diferentes situações
abordadas (MORIN,2004).
Quanto à educação a distância via rede, cabe observar que seus cursos podem ser
uma forma de renovação do processo ensino-aprendizagem importante e eficaz, desde que
estejam fundamentados em um sério projeto educacional. Destacamos que essa modalidade
de educação deve, preferencialmente, atender às demandas dos cursos de capacitação em
empresas e em nível de Pós-Graduão, como ocorre em alguns países da Europa.
Acreditamos que qualquer curso online será muito bem aceito se não romper os
princípios básicos da educação, ou seja, que tenha uma perspectiva ética, e que traga em
seu bojo a relação dialógica, inerente a qualquer ato educativo. Em outras palavras, a
questão se remete em torno do que é educar, para que e para quem se dirige o processo
educativo, que deverão estar especificados no projeto pedagógico.
Adorno (2003) alertava que não cabe à educação funcionar como uma espécie de
linha de montagem, não cabendo a modelagem de pessoas nem a mera transmissão de
conhecimentos; a Educação deve se voltar para a formação dos indivíduos, ou seja, sua
conscientização.
Cibercultura e contexto sociopolítico econômico
Na quase totalidade das produções acadêmicas, encontramos a preocupação com o
fornecimento de contexto aos fatos. Cada autor forneceu contexto ao seu trabalho,
considerando os aspectos relevantes para o desenvolvimento e entendimento de seu
respectivo tema.
Para Morin (2004, p.25), contextualizar é ir em busca de um pensamento
ecologizante, no sentido de situar todo acontecimento, informação ou conhecimento em
relação de inseparabilidade com seu meio cultural, social, econômico, político e, é claro,
natural. “Trata-se de procurar sempre as relações e inter-retro-ações entre cada fenômeno e
seu contexto, as relações de reciprocidade todo/partes: como uma modificação local
repercute sobre o todo e como uma modificação do todo repercute sobre as partes”.
Na maioria das produções, o processo de globalização foi o contexto mais
encontrado. Os autores destacaram as desigualdades do sistema, a exclusão social e digital
104
e, especialmente, as alterações no mercado de trabalho dela decorrentes.
Entretanto, no que diz respeito as inter-retro-ações ou as articulações do fenômeno
da globalização e suas repercussões, com o tema trabalhado, os comentários, em quase
todas, não foram devidamente aprofundados. A perspectiva de alguns autores foi a de que
“em função das mudanças do mundo globalizado, a EaD online é o modelo de educação
mais adequado do ponto de vista social, econômico, político e até natural” (pesquisa B).
Embora, um dos autores tenha relacionado a EaD à s-Graduação e à formação
continuada em empresas, a nosso ver, essa reflexão, em um país como o nosso, exige levar
em conta as demandas da EaD online, tais como: custo da tecnologia necessária,
familiarização com essa tecnologia, perfil de aluno necesrio, entre outras. Especialmente
se, considerando o contexto desses documentos, tratarmos da formação continuada de
professores do ensino fundamental, por exemplo. É de conhecimento público o nível
econômico e o índice de exclusão digital nesse grupo.
Por outro lado, ainda em relação as referidas citações – pesquisas B e H –, é
possível perceber um tom de conformidade em relação ao mundo globalizado, talvez em
função do não-aprofundamento na temática. De qualquer forma, tal perspectiva nos leva a
refletir sobre dois aspectos que consideramos de grande relevância: o papel do pesquisador
e a adaptação em relação ao contexto.
Com relação ao primeiro aspecto, nos pareceu que o trabalho dos pesquisadores foi
o de identificar ou construir saídas para educação “adequadas” ao atual “contexto”. Se por
um lado também consideramos a EaD um caminho possível, também consideramos
fundamental indicar “para quê?e “para quem?”, visto que, como nos lembra Bauman
(1999, p.8), se os centros de produção de significado são, hoje, extraterritoriais, a condição
humana, à qual esses valores e significados devem dar sentido, não é.
Com relação ao segundo aspecto, nos parece que a intenção dos pesquisadores foi a
de apresentar uma visão otimista em relação ao mundo globalizado, haja vista os seus
objetivos. Entretanto, mesmo com essa visão otimista, alguns não deixaram de sinalizar as
desigualdades sociais como empecilho, o que acreditamos dar credibilidade e
engrandecimento aos trabalhos analisados. No entanto, vale lembrar que uma visão
otimista pode ser relacionada à percepção da globalização como fábula (SANTOS, 2003,
p. 172), que convive com a idéia de “aldeia global como identificada por alguns ,
como se o mundo estivesse ao alcance de todos, quando o que se percebe com grande
evidência, pela maioria dos autores das pesquisas, é o aumento exponencial das
105
desigualdades locais.
Nesse ponto, cabe esclarecer que nossa percepção da globalização não é derrotista,
muito ao contrário. Nossa intenção é a de chamar atenção para o cuidado com uma
possível conformidade, em função da magnitude do “contexto”, e evidenciar a importância
da resistência. Resistência que o pode se pautar em uma visão fabulosa”. Resistência
que deve se sustentar em uma visão crítica que, embora identifique as mazelas e
crueldades, mantém, eticamente, a fé no humano.
A globalização atual não é irreversível [...]. A mesma materialidade, atualmente
utilizada para construir um mundo confuso e perverso, pode vir a ser uma
condição da construção de um mundo mais humano. Basta que se completem as
duas grandes mutações ora em gestação: a mutação tecnológica e a mutação
filosófica da espécie humana (SANTOS, 2003, p. 174).
De base microeletrônica, a mutação tecnológica em curso, por meio de diferentes
objetos digitais, está introduzindo transformações significativas na cultura, fazendo
emergir um novo fenômeno, a cibercultura.
Fenômeno que foi considerado em todos os documentos estudados, predominando a
visão de Pierre Lévy. Na maioria dos trabalhos, os autores se detiveram no pensar desse
autor, entretanto, cabe destacar duas pesquisas (pesquisa I e N), nas quais o conceito de
cibercultura recebeu um tratamento diferenciado.
Na pesquisa I, o autor apresentou as definições de cibercultura de diferentes
pensadores, tecendo comentários e críticas sobre elas. Comparando-as, identificou um
aspecto comum, “todas admitem haver uma relação entre cibercultura e fenômeno social”
(p. 17). Tal evidência levou esse pesquisador a refletir que não é possível tratar de
cibercultura sem articulá-la ao contexto sócio-político-econômico, afirmando que
“desconsiderá-lo seria manter-se alheio ao significado da extensão e da complexidade
introduzidas pelas tecnologias de comunicação e informação” (p. 17).
a autora da pesquisa N, construiu também um conceito de cibercultura centrado
em vários pensares e acrescentando infencias. Fato que aplaudimos não só pelo conceito,
mas também pela ousadia e iniciativa. A partir da definição elaborada, que evidencia as
tecnologias digitais como responsáveis pela introdução de uma nova época, além do
redimensionamento das relações de poder e das instituições responsáveis pela formação
do sujeito, como a educação, a religião e a família”, a autora ressalta as transformações no
universo da cultura, afirmando que “a cultura, até então territorializada, ganha no contexto
106
informacional uma dimensão nômade, exigindo que as questões concernentes à
humanidade mantenham-se presentes” (p. 36).
Ainda que tenhamos destacado esses trabalhos pela criticidade dos autores, em
relação ao tema da cibercultura, identificamos um ponto fundamental de discordância.
Tanto esses pesquisadores (pesquisas I e N), quanto outros autores de documentos aqui
analisados, deixaram transparecer, por meio de seus trabalhos, que consideram a
cibercultura como resultante do advento das tecnologias digitais computador,
ciberespaço, entre outros. No nosso entendimento, acrescentamos que se trata de um
fenômeno que resulta da forma como as tecnologias estão sendo apropriadas pela
humanidade, ou melhor, pelas classes dominantes da sociedade humana.
A tecnologia é o meio. Controlada por “elites orgânicas de atuação transnacional e
transestatal (DREIFUSS, 2001, p. 173), as tecnologias de informação e comunicação
explodem os “filtros civilizarios” (op. cit., 2004, p.136), promovendo processos de
homogeneização cultural, impondo novos padrões existenciais e questionando valores
éticos que, aentão, preservaram a humanidade do homem e sustentaram a formação do
sujeito.
Em face das tensões provocadas pelas transformações impostas à cultura, a
Educação é atingida de forma acentuada e solicitada a reconhecer sua importância na
formação do homem. De acordo com Freire, a educação pode promover a reificação ou
transformar o homem em sujeito. Cabe àqueles que se propõem a refletir sobre a Educação
e a Educar ativar a consciência crítica e imprimir uma ação transformadora, a fim de
colaborar não só para reprodução e produção de conhecimento, como também para o
resgate dos valores éticos fundamentais, uma vez que está no seio do próprio ser do
homem o poder de sempre recomeçar” (BUBER, 2003, p. LXVII).
CAPÍTULO IV
CONCLUSÃO
O objetivo deste estudo foi o de investigar como a produção acadêmica tem tratado
a relação entre Cibercultura e Educação, ocorrida nos últimos seis anos, nas instituições de
ensino do Estado do Rio de Janeiro que apresentam Programas de Mestrado e/ou
Doutorado em Educação, devidamente credenciados pelo Ministério da Educação e
Cultura (MEC) / Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Como informamos anteriormente, esta investigação se configura como uma
pesquisa documental, envolvendo a abordagem qualitativa na medida em que se utilizou do
levantamento de documentos (dissertações e teses) e respectiva análise de seus conteúdos.
Reiteramos que o levantamento se deteve nas teses e dissertações em Educação que tratam
da relação Cibercultura e Educação, aprovadas nos últimos seis anos, objetivando verificar
e analisar o enfoque que tem sido dada à questão no meio acadêmico. Esse levantamento
exigiu o mapeamento de toda produção acadêmica dos Mestrados e Doutorados do
território nacional, entretanto, posteriormente, optamos por restringi-lo ao Estado do Rio
de Janeiro, e a verificação de seu quantitativo e suas respectivas linhas de pesquisa.
Analisamos o corpus desses estudos com base na técnica de Análise de
Conteúdo, seguindo o pensamento de Bardin (1977, p. 12). E, em função das questões de
estudo desta pesquisa, foi utilizada a análise temática, a mais adequada à investigação
desejada. Destacamos, ainda, que uma das funções básicas da Análise de Conteúdo é a
inferência, o que exige a compreensão do discurso verificado na produção acadêmica,
identificando-se os temas propostos, os valores, as posições, de forma que o resultado
possa ser organizado em categorias, as quais organizamos a posteriori”, uma vez que
dependeram da leitura detalhada do material selecionado.
Buscamos ler entrelinhasnos textos, a fim de alcançar a compreensão de seu
conteúdo latente, tentando reconhecer as ideologias que permeiam o material e a
complexidade que apresenta o tema.
Após essa explanação, recorremo-nos a um mito, que acreditamos ter afinidade
com o propósito de nosso trabalho para, depois, retomarmos o fio condutor de nossa
investigação e apresentarmos as nossas conclusões e possíveis recomendações. Trata-se do
108
mito de Er, o armênio, narrado por Plao, em A República 615a-621-ad (2005, p.
313-319).
Er, o armênio, um bravo guerreiro, tombou numa batalha e foi dado como morto.
Colocado deitado sobre uma pira nebre, seu corpo ali ficou por doze dias,
misteriosamente intacto. No entanto, no décimo segundo dia, para surpresa de seus amigos,
Er acordou e lhes contou a sua viagem ao mundo das sombras. Disse aos presentes, na
ocasião, que sua alma deixou o seu corpo e se juntou a uma multidão de almas, num
cenário que descreveu como estranho, porém, maravilhoso. Envolto nessa atmosfera,
informou aos presentes que, numa das passagens que se dirigia ao alto, havia juízes que
decidiam a sentença a ser recebida pela pessoa. As almas dos justos eram instruídas pelos
juízes a tomar um caminho ascendente; as outras, por terem realizado más ações na
Terra, eram instruídas a descer rumo aos subterrâneos. Quando chegou a vez de Er, os
juízes decidiram que ele deveria voltar e comunicar aos homens, no mundo dos vivos, o
que viu e ouviu entre os mortos.
Em outra passagem, viu algumas almas subirem das profundezas sombras
cobertas de e de sujeira —, após terem cumprido a punição determinada, e iam se unir
às outras, repletas de alegria, que, de cima, faziam o caminho descendente, para se
encontrarem em uma planície e se misturarem às outras almas. Após o encontro dessas
almas, que haviam cumprido o tempo determinado no mundo das sombras, ocorria o
retorno, a reencarnação. Assim, dirigiam-se a um feixe de luz, em cujo meio está o fuso
diamantino da Necessidade. Esse feixe de luz reluzia como um arco-iris, no entanto, mais
brilhante. Era o eixo entre o Céu e a Terra e, nesse eixo, está o trono da Necessidade. Ao
redor do trono, encontram-se as três filhas da Necessidade, também conhecidas como
Moiras: quesis que canta o passado; Clotó o presente; e Átropos o futuro. De
tempos em tempos, as Moiras tocavam no fuso para mantê-lo a girar, observava Er.
E enquanto observava, as almas se dirigiam a Láquesis, e um arauto anunciou a
cada alma que elas estavam prestes a ter um novo corpo mortal e que elas deveriam
escolher o seu destino. No entanto, advertia que a escolha era irreversível. Er ficou apenas
como observador, pois não fora convidado para fazer tal escolha, visto que o seu destino
estava traçado: deveria voltar e anunciar o que viu.
Assim, a personagem central da narrativa viu as almas, acampadas na planície,
escolherem a pxima vida a ser vivida na Terra. Cabe lembrar que essa escolha era feita
pela lembrança de uma vida anterior. As almas faziam as suas escolhas guiadas por esse
109
motivo. Assim, a escolha era sempre o oposto do que a alma vivera anteriormente, no
intuito de não passar novamente por problemas já experimentados.
Nessa travessia, Er, o armênio, percebeu que as almas acamparam perto do Rio
Ameles, cuja água nenhum vaso podia conservar. Era o “rio do esquecimento”. As almas
eram forçadas a beber uma certa quantidade daquela água; no entanto, “aquelas a quem a
reflexão não salvaguarda bebem mais do que a medida” (op. cit., p. 319). E, enquanto
bebiam, esqueciam-se de tudo. Após um trovão e algo como um tremor de terra, as almas
se espalharam e partiram, cada uma para um lado, a fim de “nascerem cintilando como
estrelas” (op. cit., p. 319).
No entanto, Er foi impedido de beber dessa água. Por isso, trouxe do além essa
interessante narrativa.
Tal como Er, o armênio, voltamos sem beber das águas do Rio Ameles —, após
a investigão, para despertar os signos que lemos, dando-lhes um sopro eólico e trazendo-
os novamente à vida. Trata-se de trabalhos aprovados por seletas bancas em diferentes
espaço e tempo. Esses fatores, tempo e espaço, permitiram-nos debruçar sobre esses signos
e analisá-los segundo categorias selecionadas. Entretanto, nessa análise, não nos
descuidamos da importância do tempo e do espaço em que foram produzidos esses
trabalhos. Desper-los como quem acorda uma criança, lentamente, para trazê-los
novamente à realidade, em um outro espaço e em um outro tempo considerando a
velocidade em que as transformações ocorrem foi uma tarefa que precisou ser feita
acuradamente.
Acreditamos que, na pesquisa documental, o pesquisador deve, assim como Er, o
armênio, retornar e reconhecer que os trabalhos analisados já passaram pelas tramas
irreversíveis de Átropos. que observar e, possivelmente, elaborar críticas; no entanto
deve, nesse trajeto, além de apontar caminhos, reconhecer que as investigações estão
situadas em determinado espaço e tempo.
Como informamos anteriormente, após a exposição da narrativa e da relação que
acreditamos existir com os meios utilizados para a execução desta investigação,
apresentamos, a seguir, as nossas conclusões respostas às questões que nortearam a
nossa pesquisa.
No intuito de clarificar os nossos propósitos, retomamo-las e transcrevemo-las,
para, então, respondê-las. São elas: a) Como tem sido tratada a relação Cibercultura e
Educação, nas dissertações e teses de Mestrados e Doutorados, respectivamente?; b) Nas
110
dissertações e teses que tratam da relação Cibercultura e Educação, qual tem sido a
abordagem teórica privilegiada em relação à Educação?; c) Existem questões recorrentes
no âmbito dessas dissertações e teses que as tornem relacionáveis?; d) Que contribuições
são oferecidas por essas dissertações e teses em relação a uma visão crítica da relação
Cibercultura e Educação? e) Nas dissertações e teses consideradas, a dimensão ética tem
sido focalizada?
No que diz respeito à relação Cibercultura e Educação, como pudemos verificar, a
maioria dos pesquisadores ancoraram o pensamento nas definições de ciberespaço e
cibercultura de Lévy, que , em sua obra, fornece bases para possíveis discussões em torno
dos fenômenos. No entanto, vale destacar que, nessas pesquisas, alguns autores se
utilizaram de outros teóricos, ora em contraposição, como é o caso da pesquisa B, em que
o pensamento de Virilio é resgatado, ora em adição e contraposição, no caso das pesquisas
I, L, M e N, em que vários autores estão presentes, como Adelina Silva, René Dreifuss,
Paul Virilio, Figueiroa Sarrieri, AndLemos, entre outros, no intuito de apresentar o fato
de que tais temáticas são complexas e podem apresentar diferentes abordagens e
interpretações.
Nas dissertações e teses que trataram da relação Cibercultura e Educação, no que
tange à abordagem teórica privilegiada em relação à Educação, constatamos que a maioria
dos pesquisadores estão recorrendo a autores que possibilitam a percepção e reflexão
crítica a respeito da “realidade” atual e da “realidade” a ser construída. Na quase totalidade
das pesquisas, encontramos os pensares de Paulo Freire, Pierre Lévy, Vygotsky, Piaget,
Edgar Morin e Manuel Castells. Importante destacar que o pensamento freireano está
presente na maioria das investigações. Embora Vygostky esteja presente na maioria das
pesquisas, na pesquisa A, em que se utiliza de conceitos bakthnianos, existe a iia de que
Piaget e Vygosky devem ser revisitados e revistos.
Pudemos verificar, no que se refere às questões recorrentes no âmbito dessas
dissertações e teses, tornando-as relacionáveis, além dos temas cibercultura e educação
quatro eixos, a saber: a globalização, a exclusão social e as desigualdades, a EAD e o papel
docente e a esperança.
No que concerne à globalização, constatamos que, na maioria das produções, o
processo de globalização foi o contexto mais encontrado. Os autores destacaram,
especialmente, as alterações no mercado de trabalho dela decorrentes. Entretanto, no que
se refere às inter-retro-ações ou às articulações do fenômeno da globalização e suas
111
repercussões com o tema trabalhado, os comentários, em quase todas, não foram
devidamente aprofundados. Vale lembrar que, na pesquisa A, com foco centrado no
dialogismo, o fenômeno foi abordado de maneira genérica; no entanto, o tema ‘mercado de
trabalho’ foi abordado e foi citado o discurso típico da política neoliberal, que oculta o fato
de o próprio mercado determinar quem serão os excluídos. Porém, Castells (2003) adverte
que alguns empregos estão sendo extintos e outros surgindo em seu lugar. Como dito
anteriormente, percebemos que é importante trazer outra vez à tona a percepção da
globalizão como fábula (SANTOS, 2003, p. 172), que convive com a idéia de “aldeia
global” como identificada por alguns –, como se o mundo estivesse ao alcance de todos.
No entanto, é visível o crescimento da desigualdade e da exclusão digital, como relatado na
maioria das pesquisas.
No que se refere à exclusão digital e às desigualdades sociais, devido a não-
neutralidade de todos os estudos realizados, percebemos que mais da metade dos trabalhos
analisados dedicou atenção a esses problemas. Na pesquisa A, a autora advertiu para o fato
de que para se elaborar uma análise sobre inclusão, o investigador deve, primeiramente, ter
como ponto de partida a verificação de que a exclusão digital e educacional estão
vinculadas à discriminação social (racial, sexual, e regional). Tal pensamento, diluído nos
outros trabalhos analisados, foi manifestado de forma afirmativa, não dando margem a
outras interpretações. Ainda no que concerne a esses fenômenos, nas pesquisas E, F, G, I e
N, questionamentos sobre o modo de apropriação dessas tecnologias, apontando que
soluções devem ser buscadas, por parte de organizações sociais e por meio de políticas
públicas, para tornar viável o acesso às TIC, no intuito de que tal exclusão não se amplie.
Nesses estudos, há uma advertência: a não-incorporação das TIC na Educação implica
contribuição para o aumento das desigualdades, pois, ao mesmo tempo em que as pessoas
passam a depender dessa tecnologia da era digital, grande parcela se encontra fora desse
contexto. Importante destacar que, na pesquisa I, o autor questiona o fato de conciliar duas
questões cruciais para a elaboração de projetos de inclusão digital: o fato de a população
brasileira ainda conviver com carências profundas de educação de base e o fato de estar
excluída socialmente. Tal pensar vem fortalecido pela autora da pesquisa L, que afirma que
a exclusão transcende as questões sociopolítico-econômicas, pois o sentimento de
inferioridade, devido a não-participação, ao desconhecimento das tecnologias digitais e à
impossibilidade econômica, enraíza-se na falta de condições de participar da inteligência
coletiva de forma mais complexa, provocando um abismo ainda maior nas diferenças entre
112
as classes sociais. Já na pesquisa N, a autora trata de forma articulada a exclusão digital e a
exclusão social, salientando que é alto o custo para estar ligado à rede, além de o sujeito ter
de ser devidamente alfabetizado.
Pudemos verificar também que, nessas pesquisas, os investigadores vêm tendo a
sua atenção despertada para as questões referentes à EAD; aliás, um dos autores destaca “a
EAD online como um fenômeno da cibercultura” (pesquisa H), como um modelo de
educação que atende à demanda do mundo globalizado, pois exige pessoas educadas, ou
melhor, como o computador demanda a linguagem escrita, é mister que o sujeito domine a
lectoescrita para dele se utilizar com proveito. Fato que percebemos na pesquisa A, na
pesquisa H e na pesquisa N, em que o papel da linguagem também é evidenciado, haja
vista que as TIC demandam a lectoescrita.
Ademais, na pesquisa H, há um enfoque especial dado ao papel da linguagem como
mediadora desse processo. No que tange ao papel do professor/tutor na EAD, constatamos
a preocupação com as questões de procedimento; no entanto, a maioria não evidencia,
nessa relão, a formação humana. Dito em outras palavras, não é evidenciada claramente
a questão das finalidades da educação, salvo na pesquisa A, em que a autora reconhece que
nenhuma prática é neutra e que cabe ao professor orientar a formação dos alunos numa
linha humanista, entendida por essa pesquisadora como inautomatizável, que é o
estreitamento dos laços sociais, complementa. No entanto, não se aprofunda na questão das
finalidades da Educação.
Com relação ao papel do docente, na quase totalidade dos trabalhos analisados, há
uma espécie de unanimidade quanto à necessidade de se mudar o papel do docente, no
intuito de adequar esse profissional a uma sociedade em constante transformação. Assim,
ao longo das várias produções, o termo docente ou professor associou-se a um conjunto de
novas expressões, tais como “dinamizador”, animador”, operador, mediador”,
“arquiteto, entre outras. Vale destacar que, na pesquisa A, foi utilizada a expressão
“Sócrates cibernético”, de Dunley Jr., para caracterizar esse novo professor. Relevante
postura, encontrada na pesquisa C, é a de que a prática docente emancipatória é a opção
politicamente correta, enfatizando o ato de se educar para a apropriação das TIC e
sinalizando que, para enfrentar a rede, as informões e a complexidade do pensamento, é
preciso formação pedagógica. Na pesquisa F, um comentário em que é ressaltado o fato
de que é preciso conciliar, para se formar uma geração high-tech, a tradição com a
113
inovação. Nesse entrelaçamento, na esteira do pensar arendtiano, surge a possibilidade de
integração entre procedimentos e finalidades.
Em outras palavras, verificamos que a totalidade das pesquisas analisadas ressaltam
fundamentalmente um ensino voltado para os “novos tempos”. Nesse sentido, entendemos
que, embora esses novos tempos tragam questões que mereçam atenção quanto ao papel do
docente, essa reflexão não deve se voltar exclusivamente para questões de método ou de
procedimento, mas de finalidade, a fim de que o discente possa exercer um olhar crítico
sobre os fenômenos sociais.
Como dito anteriormente, educar exclusivamente para o futuro é correr o risco de a
Educação ficar fixada nas demandas de uma época específica, em jogos de interesses
políticos e ideológicos.
É mister lembrar que as pesquisas sobre a utilização das TIC na Educação e sobre a
função do docente, em face dessas tecnologias, ainda são incipientes.
Importante alerta está contido na pesquisa I, em que o pesquisador afirma que o
docente deve estar o somente atualizado, como também tecnologizado e
“ciberculturalizado neologismo por ele criado.
Finalmente, um eixo presente em todas as produções acadêmicas, como o que
sustenta o trono da Necessidade, é o da esperança. Pudemos verificar que, em cada
trabalho, a presença constante da esperança ali estava, não somente como possibilidade
como também esperança pela esperança. Prova desse fato se encontra na pesquisa A, em
que a autora apresenta três possíveis cenários para o futuro da relação TIC e Educação: no
primeiro, o de alienão; no segundo, o de exclusão; no terceiro, o de liberdade. E é nesse
que reside a esperança: a tecnologia é de liberdade.
No que tange às contribuições oferecidas por essas dissertações e teses, acreditamos
que essas produções — ao adotarem como suporte teórico, para o desenvolvimento de suas
pesquisas, autores de visibilidade e de relevância no mundo da Educação e por esses
trabalhos terem sido analisados por seletas bancas — contribuíram para o desenvolvimento
de uma visão crítica da realidade, principalmente, por dois motivos:
Ficou evidenciado, quando analisamos o papel do docente, que alguns
professores se encontram na condição de marginalizados, pois, de acordo
com parte das pesquisas, se sentem inferiorizados por não estarem
“ciberculturalizados” e tecnologizados. No entanto, esses mesmos
114
professores têm a função de educar pessoas, num mundo que se abre para o
novo.
Também ficou evidenciada a falta de educação de base. É mister
compreender que as TIC demandam a lectoescrita. A exclusão digital, de
acordo com a maioria dos estudos, está ligada à exclusão social. Tal
exclusão gera um sentimento de não pertencimento por grande parcela da
população. Criamos um novo ambiente de relações humanas em que a
maior parte da população humana ainda está excluída. Indagamos: será que
a diferença entre classes sociais não i se tornar diferença entre classes
humanas?
No que concerne à Ética, constatamos a presença dessa temática na quase totalidade
dos trabalhos analisados. No entanto, curiosamente, apesar de as dissertações e teses terem
sido construídas a partir do embasamento teórico de autores críticos, não foi dado destaque
à questão da ética na relação cibercultura e Educação. Embora, em algumas dissertações
tenha sido indicada a fragilidade em relação aos valores que estruturam a vida social.
Conforme dito anteriormente, acreditamos que, numa educação voltada para
finalidades ou sentidos, o enfoque está pautado no existir do homem, no sentido ético da
existência, pois o “processo educativo pressupõe o estabelecimento de uma relação, cujo
compromisso é o de favorecer a existência” (BOHADANA; SKLAR, 2007, p. 19-20).
Concluímos que a quase totalidade das pesquisas enfatizou o fato de estarmos
vivendo sob os efeitos trazidos pelas novas tecnologias digitais, já insertas no âmbito da
Educação. Entretanto, à dimensão que sustenta a civilização, a ética, houve somente uma
visita. Visita que se encontra diluída por e entre’ as palavras dos renomados autores
consultados.
Ressaltamos que estamos conscientes de que tais trabalhos se encontram num
recorte de tempo e espaço. Em momento algum frisamos tivemos a intenção de
realizar um julgamento de valor. Reconhecemos o valor de cada trabalho analisado e
destacamos que, com essas leituras, muito crescemos em termos de conhecimento.
Assim, como Er, o armênio, que tudo viu e voltou, saímos de um mundo do já-feito,
já-sentido por e ‘entre’ documentos e adentramos num novo mundo, mais
conscientes, pois essas prazerosas leituras contribuíram para o nosso engrandecimento.
Para finalizar e apresentar o nosso pensar, recorremo-nos a Saramago (1998), em
sua obraTodos os nomes”, transcrito a seguir:
115
(...) sentido e significado nunca foram a mesma coisa, o significado fica-se logo
por aí, é directo, literal, explícito, fechado em si mesmo, unívoco, por assim
dizer, ao passo que o sentido não é capaz de permanecer quieto, fervilha de
sentidos segundos, terceiros e quartos de direções irradiantes que vão se
dividindo e subdividindo em ramos e ramilhos, até se perderem de vista, o
sentido de cada palavra parece-se com uma estrela quando se põe a projectar
marés vivas pelo espaço fora, ventos cósmicos, perturbações magnéticas,
aflições.
Após a leitura dessas produções acadêmicas, lidas e analisadas, sem beber das
águas do rio do esquecimento, encontramos sentido e significado para que, em nosso
caminho, esteja presente o pensar freireano, a nos advertir que o futuro é uma
possibilidade.
116
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ZOHAR, Danah. Sociedade quântica : A promessa revolucionária de uma liberdade
verdadeira. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora BestSeller, 2006.
ZUIN, Antônio Álvaro Soares. ADORNO: O Poder Educativo do pensamento crítico. 3.
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