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Newcomen. E, mais: apenas uma máquina foi posta em funcionamento na Europa
(BRAUDEL, 2002, p. 305).
Embora a Revolução Industrial tenha sido tratada de diferentes maneiras por
Braudel e Kranzberg, ambos concordam que o fato foi o ápice de um longo processo e
precedida por mudanças técnicas importantes. No entanto, a despeito de receber o nome
revolução, o termo mantém relação direta com as transformações que se sucederam na
sociedade, pois a fábrica se tornou o local de trabalho, a cidade, o local de moradia, além
de todo um relacionamento familiar ter passado por alterações, surgindo novos padrões
culturais no urbano superpovoado
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.
Nesse sentido, longe de serem um fator externo à sociedade, as técnicas devem ser
analisadas considerando o contexto histórico, social, econômico, político e cultural. Desde
a modelagem de um pequeno pedaço de osso, de rocha, de madeira ou ferro, passando pelo
preparo e conservação de alimentos, de confecção de vestimentas, de construção de
moradias e cura de doenças, até técnicas agrícolas, comerciais, industriais, de
comunicação, de escrita, de guerra — técnicas criadas para reduzir o poder inevitável dos
deuses ou aumentar o poder dos próprios homens —, tudo eram e ainda o são técnicas.
Mediadoras entre a sociedade e a natureza, as técnicas surgem do acúmulo de
conhecimentos, do rompimento de idéias consideradas inquestionáveis até um dado
momento, da criatividade ou mesmo do acaso, muitas vezes, resultado de estudos,
aperfeiçoamentos do conhecimento, que são revelados de formas distintas, em sua
materialidade. Mesmo assim, toda técnica requer um tempo, um preparo para ser
incorporada ao dia-a-dia da sociedade.
Instituídas num vasto campo de relações intersubjetivas, as técnicas interferem nas
várias representações que os homens criam do mundo, uma vez que, alterando modos de
pensar, produzem novos sentidos. Assim, a história do homem encontra-se associada à
história da técnica, e as várias técnicas, relacionadas com os diferentes grupos humanos.
Ao analisar a história da técnica, Bartholo Jr. (1986) nos lembra que, nos
primórdios da História, existiam tantas técnicas quantos eram os lugares e agrupamentos
humanos. Elas eram, antes de tudo, uma questão de sobrevivência. Vivendo em
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Em sua primeira fase, com duração de um século, aproximadamente, a Revolução Industrial caracterizou-se
pela presença de pequenas empresas, geralmente insalubres, instaladas em centros urbanos que cresciam de
forma desordenada, cujas tarefas eram desempenhadas por mais de 16horas/dia, utilizando inclusive mão-de-
obra feminina e infantil, o que trouxe alterações nos relacionamentos familiares. Por outro lado, a mão-de-
obra se especializava, exigindo cada vez mais instrução por parte dos trabalhadores (KRANZBERG, 1993, p.
41).