Trotsky o mais hábil porta-voz do bolchevismo e que ele deveria ter sido o sucessor de Lénine. Mas
depois de reconhecer que despontava na Rússia um capitalismo de Estado, virámos a nossa atenção
principalmente para a Europa Ocidental do grande capital, onde os trabalhadores terão de transformar este
capitalismo, altamente desenvolvido, num comunismo real (no sentido literal do termo). Trotsky com o
seu fervor revolucionário cativou todos os dissidentes que o estalinismo levara a abandonar o P.C., e ao
inculcar-lhes o vírus bolchevique tornou-os quase incapazes de compreender as novas grandes tarefas da
revolução proletária.
Dado que a revolução russa e as suas ideias têm ainda uma grande influência nos espíritos, é necessário
penetrar mais profundamente no seu carácter fundamental. Trata-se em poucas palavras, da ultima
revolução burguesa mas que foi obra da classe operária. Revolução burguesa(1) significa uma revolução
que destrói o feudalismo e abre a via à industrialização, com todas as consequências que esta implica. A
revolução russa está, portanto, na linha da revolução inglesa de 1647 e da revolução francesa de 1789, e
das que se lhe seguiram em 1830, 1848, 1871. No decorrer de todas estas revoluções os artesãos,
camponeses e operários forneceram o poderio maciço necessário à destruição do antigo regime.
Seguidamente, os comités e os partidos dos políticos representantes das camadas ricas, que constituiriam
a futura classe dominante, vêm a primeiro plano e apoderam-se do poder governamental. Era o desfecho
natural, porque a classe operária não estava ainda preparada para se governar a si própria, e a nova
sociedade de classes onde o trabalhador era explorado. Uma tal classe dominante tem necessidade de um
governo composto por uma minoria de funcionários e políticos. A revolução russa, mais recentemente,
parecia ser uma revolução proletária, sendo os operários os seus autores através de greves e acções de
massas. Seguidamente, no entanto, o partido bolchevique conseguiu, pouco a pouco, apropriar-se do
poder (a classe operária era uma pequena minoria entre a população camponesa). Assim, o carácter
burguês (em sentido lato) da revolução russa torna-se dominante e toma a forma de capitalismo de Estado.
Depois, pela sua influência ideológica e espiritual no mundo, a revolução russa torna-se precisamente o
contrário da revolução proletária que deve libertar os operários, torná-los senhores do aparelho de
produção.
Para nós a tradição gloriosa da revolução russa consiste em que, nas suas primeiras explosões de 1905 e
1917, foi a primeira a desenvolver e a mostrar aos trabalhadores do mundo inteiro a forma organizada da
sua acção revolucionária autónoma, os sovietes. Desta experiência, confirmada mais tarde, em mais
pequena escala, na Alemanha, tirámos as nossas ideias sobre as formas de acção de massas que são
próprias da classe operária e que ela deve usar para a sua libertação.
Exemplos do contrário são as tradições, ideias e métodos saídos da revolução logo que o P.C. tomou o
poder. Estas ideias, que só servem de obstáculo a uma acção proletária correcta, constituíram a essência e
base da propaganda de Trotsky.
A nossa conclusão é que as formas de organização de poder autónomo, expressas pelos termos "sovietes"
ou "Conselhos Operários", devem servir não só para a conquista do poder mas também para a direcção do
trabalho produtivo depois desta conquista. Por um lado, porque o poder dos trabalhadores na sociedade
não pode ser conseguido de outro modo, por exemplo pelo que se denomina partido revolucionário. Em
segundo lugar, porque estes sovietes, que serão mais tarde necessários à produção, não se podem formar
senão pela luta de classes para a conquista do poder.
Parece-me que neste conceito o "nó de contradições" do problema da "direcção revolucionária",
desaparece. Porque a fonte das contradições é a impossibilidade de harmonizar o poder e a liberdade de
uma classe que governa os seus próprios destinos com a exigência de obediência a uma direcção formada
por um pequeno grupo ou partido. Mas poderemos nós manter uma tal exigência? Contradiz
completamente a ideia mais citada de Marx de que A LIBERTAÇÃO DOS TRABALHADORES TERÁ