90
da população negra no espaço urbano, suas análises, pautadas nas impressões dos
vários bairros da cidade, identificam a maior concentração da população negra nos
bairros com menor qualidade de vida e, concomitantemente, a menor concentração
nos bairros com maior qualidade de vida: o autor identifica que “a cor da pele dos
moradores do bairro varia de acordo com o padrão do bairro”
61
.
Apesar da identificação da distância social entre negros e brancos, distância
também representada no espaço urbano, as investigações de Pierson (1951) tiveram
como conclusão a existência de uma segregação por raça integrada á segregação
por classe, para o autor a concentração de negros nos bairros mais pobres era
entendida como um mecanismo de seleção de mercado onde as parcelas
populacionais mais abastadas tinham acesso ao solo urbano mais valorizado. Para o
autor a acumulação da população negra nos bairros mais pobres ocorria devido ao
papel desempenhado por esta população no período escravista, isso tendo em vista
o curto espaço de tempo que separava os negros do seu passado de escravos.
Há de se entender o período em que Pierson desenvolveu sua tese de
doutorado no Brasil: a visão que o estrangeiro tinha da sociedade Brasileira em
muito era influenciada pelas idéias, mundialmente propagadas, de Gilberto Freyre
(Guimarães, 2004)
62
, idéias cuja essência caminhavam para a solidificação do mito
de democracia racial. Embora não tenhamos fontes que nos garantam maior
precisão, Para Pierson o peso destas idéias era sentido de modo mais forte devido
“a) Valendo-se da etnografia e da observação participante, ele fez uma descrição
minuciosa da situação racial, analisou o número proporcional de indivíduos em
contato, graus de prestígio, segregação racial e miscigenação, participação de
grupos sociais, ecologia, economia, política e sociologia das relações entre
grupos, a consciência da raça, status, sentimentos grupais de segregação e
formas culturais.
b) Com a observação participante, as técnicas de pesquisa de seleção de
informantes principais (homens, mulheres, idade, etc.), técnicas de questionários,
árvores genealógicas, entrevistas diretas, ele obteve de primeira mão, dados
importantes. O registro de rituais, casamentos, cerimônias, concertos musicais,
acontecimentos esportivos, solenidades, (...). Além disso, os seus estudos em
arquivos históricos na procura de documentos, mapas da cidade, documentos
pessoais (cartas), autobiografia, censos demográficos (...), permitiram-lhe
reconstruir o passado de Salvador.
61
TELLES, E. E., “Segregação Racial e Crise Urbana.”, pág. 197, em RIBEIRO, L.C.Q & SANTOS
JUNIOR, O.A (org). Globalização, Fragmentação e Reforma Urbana. O Futuro das Cidades
Brasileiras na Crise. 2ª.ed, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.
62
GUIMARÃES, A.S.A, O projeto Unesco na Bahia. Colóquio internacional O Projeto Unesco no
Brasil: uma volta crítica ao campo 50 anos depois. 2004