
Como toda rádio comunitária
, Caramuru FM é feita pela comunidade que a sedia,
enfocada sobre ela e para ela, e mantém suas portas abertas a todos os integrantes da
nação Pataxó- Hã-hã-hãe, sem exclusão. A rádio, que agora chega a todos os recantos
da aldeia, contribui para fortalecer o sentimento comunitário por meio da promoção de
conteúdos indígenas, ao mesmo tempo em que presta um valiosíssimo serviço social à
aldeia de Caramuru, que possui um único telefone para seus 3.000 habitantes distribuídos
pelos bosques e isolados entre si. Os dias em que era necessário caminhar durante horas
para comunicar-se ficaram para trás. Agora basta sintonizar a rádio para saber quando
será a próxima visita do médico à aldeia, onde se realizarão as reuniões da associação,
ou mandar um recado a um vizinho ou familiar.
Mas é sem dúvida na promoção da cultura de
paz
onde a rádio comunitária está
desenvolvendo seu trabalho mais valioso. A
história dos Pataxó – Hã-hã-hãe
é a história dos
milhares de grupos indígenas
que durante a
colonização tiveram de fugir de suas terras de
origem para evitar a escravidão. Os Pataxó –
Hã-hã-hãe foram os indígenas que receberam e
alojaram
Pedro Álvares Cabral
em 1500, quando
ele aportou nas costas da Bahia a caminho das
Índias, de onde partiria dias mais tarde levando
vários troncos de pau-brasil, árvore que terminaria por dar o nome ao país. Naquela
época viviam na costa, mas o avanço dos colonizadores os obrigou a fugir até as terras
do interior onde hoje habitam. Nos anos 40, começaram a se formar grandes fazendas na
região, fato que resultou na expulsão da comunidade Pataxó – Hã-hã-hãe. A comunidade
viveu desmembrada e longe das suas tradições e cultura por quarenta anos.
A devolução das terras aos indígenas tem
ocorrido nos últimos anos com o respaldo do
governo brasileiro,
uma tarefa que nem sempre
é fácil ou pacífica
. Neste contexto, a rádio
comunitária atende aos 3.000 habitantes
indígenas e mais 20.000 habitantes das
populações vizinhas, e tem levado as palavras
aonde a força e as armas não puderam chegar:
à dissipação da suspeita e do medo de tudo o
que é desconhecido e diferente no ser humano,
por meio da troca cultural e da conscientização
da riqueza que esta troca pode trazer. Desde que a Rádio Caramuru FM está no ar, os
fazendeiros começaram a descobrir a estreita e profunda ligação que os indígenas têm
com a terra, a riqueza de seu
legado cultural e tradições
, a excepcionalidade da sua
filosofia de vida essencialmente pacifista e voltada para o coletivismo. E enquanto o
fazem, inicia-se, sem que eles o saibam, um diálogo intercultural silencioso que permitirá
a abertura de novos caminhos para que os não-indígenas reconheçam em seus vizinhos