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Capa: Silhueta de Manoel Itaqui
Feita pelo artista Zampaio quando
Manoel Itaqui mudou-se para o Rio.
Fonte: Família Raupp.
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Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Faculdade de Arquitetura
Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura / PROPAR
A CONTRIBUIÇÃO DE MANOEL ITAQUI
PARA
A ARQUITETURA GAÚCHA
Autor George Augusto Moraes de Moraes
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Faculdade de Arquitetura
Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura / PROPAR
A CONTRIBUIÇÃO DE MANOEL ITAQUI
PARA
A ARQUITETURA GAÚCHA
Autor George Augusto Moraes de Moraes
Dissertação apresentada ao Programa de Pesquisa e Pós-Graduação,
Área de Concentração em Teoria, História e Crítica da Arquitetura
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, PROPAR,
Como requisito para a obtenção do título de Mestre
Orientador: Arq., Dra. Glenda Pereira da Cruz
Porto Alegre
2003
ii
FICHA CATALOGRÁFICA
Moraes, George Augusto Moraes de, 1954 -
“A Contribuição de Manoel Itaqui para a Arquitetura Gaúcha” – Porto Alegre, RS:
PPGARQ/UFRGS, 2003.
142p.: Il. – (Dissertação de Mestrado – Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em
Arquitetura, Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
1. O Início de Tudo 2. Sua Contribuição – Obras na UFRGS 3. Sua Atuação – Na Capital Gaúcha
iii
Autor George Augusto Moraes de Moraes
A CONTRIBUIÇÃO DE MANOEL ITAQUI
PARA
A ARQUITETURA GAÚCHA
Esta dissertação foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Mestre em Teoria,
História e Crítica da Arquitetura do Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em
Arquitetura
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Porto Alegre,
Prof. José Artur D’Aló Frota, PH.D.
Coordenador do Curso
iv
AGRADECIMENTOS
Um agradecimento especial a minha esposa Regina, que me incentivou e sempre me
apoiou na busca de novos caminhos, ao meu filho Cristiano que lhe sirva de impulso para progredir.
As famílias Irace, Itaqui e Raupp, na pessoa do Engenheiro Eduardo L. V. Raupp,
bisneto do Dr. Manoel Itaqui, pelas valiosas informações a respeito da família e de seu bisavô, motivo
principal desta dissertação.
Aos professores, funcionários e colegas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
pelo apoio e amizade dispensados durante a realização do curso.
À minha orientadora Prof. Dra. Glenda Pereira da Cruz que me incentivou a prosseguir
a pesquisa e me orientou com dedicação e competência.
v
“Não há caminho? Fa-lo-emos”
Benjamin Franklin
vi
SUMÁRIO
Introdução..............................................................................................................................................................11
Considerações
Preliminares...............................................................................................................................13
Metodologia........................................................................................................................................................1
7
Capítulo 1 – O Início de Tudo.........................................................................................................................20
1.1. O Sobrenome..........................................................................................................................................20
1.2. O Homem................................................................................................................................................22
1.3. O Aluno, O Professor..............................................................................................................................23
1.4. O Engenheiro-Arquiteto...........................................................................................................................26
Capítulo 2 – Sua Contribuição........................................................................................................................ 28
2.1. O Observatório Astronômico...................................................................................................................28
2.1.1 O Estilo Art Nouveau do Observatório Astronômico.........................................................................32
2.2. O “Chateau” e o Castelinho.....................................................................................................................43
2.3. O Colégio Julio de Castilhos...................................................................................................................52
2.4. O Instituto de Eletro-Técnica...................................................................................................................59
2.5. O Laboratório de Resistência dos Materiais............................................................................................65
2.6. O Instituto de Agronomia e Veterinária...................................................................................................72
2.6.1 Pavimento Térreo............................................................................................................................80
2.6.2 Pavimento Superior..........................................................................................................................85
2.6.3 Subsolo ............................................................................................................................................88
2.7. A Hora Certa............................................................................................................................................94
Capítulo 3 Sua Atuação.................................................................................................................................. 97
3.1. A Confeitaria Rocco.................................................................................................................................97
3.2. O Viaduto Otávio
Rocha..........................................................................................................................104
3.3. Outras Obras, Outras Participações......................................................................................................116
Considerações Finais..........................................................................................................................................127
Anexo A .........................................................................................................................................................130
Anexo B..........................................................................................................................................................130
Anexo C..........................................................................................................................................................131
Anexo D..........................................................................................................................................................132
Apêndice.............................................................................................................................................................. 139
vii
Lista de Figuras
Figura 1- Planta do 1º quarteirão, prédios que o compunham inicialmente.......................................................... 30
Figura 2- Prédio do Instituto Astronômico e Meteorológico................................................................................... 34
Figura 3- Largo Paganini formado entre o Observatório e o Instituto Técnico Profissional - ITP.......................... 35
Figura 4- Desenho esquemático das torres no Observatório................................................................................38
Figura 5- Desenho esquemático da torre Equatorial.............................................................................................39
Figura 6- Planta Baixa Térreo com os Eixos.........................................................................................................40
Figura 7- Esquema das Torres e seu invólucro externo........................................................................................41
Figura 8- Fachada do "Chateau"...........................................................................................................................44
Figura 9- Planta Baixa do prédio do "Chateau"com suas funções iniciais............................................................45
Figura 10– Planta Baixa do Castelinho, também com suas funções iniciais......................................................... 45
Figura 11- Fachada do Castelinho........................................................................................................................ 46
Figura 12- Vista Frontal do Largo Paganini e a perspectiva formada. ..................................................................48
Figura 13- Desenho dos três prédios em forma de Gráfico de Clark e Pause......................................................51
Figura 14- Estudo para as torres do Ginásio Júlio de Castilhos............................................................................52
Figura 15- Fachada do Ginásio Júlio de Castilhos................................................................................................53
Figura 16- Ginásio Júlio de Castilhos ao lado do prédio da Faculdade de Direito................................................ 54
Figura 17- Ginásio Júlio de Castilhos em Construção...........................................................................................55
Figura 18- Esquema da provável planta baixa do térreo do Ginásio Júlio de Castilhos. ......................................56
Figura 19- Esquema gráfico demonstrando a Configuração Linear em planta.....................................................58
Figura 20- Fachada do Instituto de Eletro-Técnica................................................................................................59
Figura 21- Prédio do Instituto José Montaury........................................................................................................ 60
Figura 22- Prédio do Instituto José Montaury ampliado........................................................................................61
Figura 23- Planta Baixa do prédio ampliado..........................................................................................................63
Figura 24- Planta Baixa do LRM publicada na EGATEA - 1914. ..........................................................................66
Figura 25- Fachada do prédio do Laboratório de Resistência dos Materiais, LRM............................................... 67
Figura 26- Prédio do antigo Laboratório de Biologia no Instituto de Agronomia e Veterinária.............................. 68
Figura 27- Prédio do primeiro Hospital Veterinário................................................................................................ 69
Figura 28- Planta Baixa do Térreo. Laboratório de Resistência dos Materiais. ....................................................70
Figura 29- Figura esquemática que demonstra o espaço de entrelaçamento. .....................................................71
Figura 30- Planta de Localização do Instituto de Agronomia e Veterinária........................................................... 74
Figura 31- Isométrica de Manoel Itaqui para o Instituto Agronômico e Veterinário............................................... 75
Figura 32- Esquema da divisão em partes da Planta Baixa do Térreo................................................................. 75
Figura 33- Fachada do Instituto Agronômico e Veterinário...................................................................................76
Figura 34- Usina elétrica provisória montada no Instituto de Agronomia e Veterinária.........................................78
Figura 35- Planta Baixa, Térreo do Instituto de Agronomia e Veterinária.............................................................80
Figura 36- Planta Baixa Primeiro Pavimento......................................................................................................... 85
Figura 37- Vista do Primeiro Dormitório - Curso de Agrônomos...........................................................................87
viii
Figura 38- Planta Baixa do Subsolo......................................................................................................................88
Figura 39- Vista do Anfiteatro................................................................................................................................89
Figura 40- Exemplo de um dos Laboratórios.........................................................................................................91
Figura 41- Esquema gráfico mostrando o formato do projeto e os espaços de ligação........................................ 93
Figura 42- A lanterna da "Hora Certa" da Casa Masson....................................................................................... 96
Figura 43- Foto da fachada da Confeitaria Sul Americana, a 1ª de Nicola Rocco................................................98
Figura 44- Vista do antigo prédio da Confeitaria Rocco........................................................................................99
Figura 45- Porta da Confeitaria Rocco fabricada no ITP..................................................................................... 101
Figura 46- Mapa esquemático localizando a Rua Gal. Paranhos, atual Av. Borges de Medeiros...................... 105
Figura 47- Projeto de Christiano de La Paix Gelbert para o Viaduto...................................................................107
Figura 48- Projeto de Duílio Bernardi para o Viaduto.......................................................................................... 107
Figura 49- Cópia do croqui feito por Manoel Itaqui para o Dr. Otávio Rocha...................................................... 108
Figura 50- Perspectiva do projeto aprovado para o Viaduto da Av. Borges de Medeiros................................... 111
Figura 51- Planta Baixa esquemática do projeto de Manoel Itaqui para o Viaduto............................................. 112
Figura 52- Vista do Viaduto Otávio Rocha. ......................................................................................................... 113
Figura 53- Esquema de disposição das lojas e escadas de acesso no Viaduto Otávio Rocha.......................... 116
Figura 54- Fachada do prédio da garagem do Jornal "Correio do Povo" à rua Sete de Setembro..................... 118
Figura 55- Cópia da Planta Baixa original do prédio da Alfândega.....................................................................119
Figura 56- Cópia da Planta de Situação.............................................................................................................. 121
Figura 57- Esquema da Situação do prédio da Alfândega e demais prédios importantes.................................. 121
Figura 58- Cópia da foto da fachada do prédio da Alfândega antes da alteração. .............................................122
Figura 59- Cópia da foto da fachada do prédio da Alfândega após a alteração. ................................................122
Figura 60- Cópia da foto do Monumento erguido em homenagem ao Barão de Rio Branco.............................. 123
Figura 61- Planta esquemática da área central da Capital Gaúcha....................................................................130
Figura 62- Fachada de um prédio de 1903, na cidade de Riga.......................................................................... 131
Figura 63- Fachada de um prédio de 1904, na cidade de Riga.......................................................................... 132
Figura 64- Detalhes da fachada do Observatório Astronômico...........................................................................133
Figura 65- Vista do prédio após o incêndio.........................................................................................................140
Figura 66- Vista em outro ângulo do prédio sinistrado........................................................................................140
ix
LISTA DE ABREVIATURAS E
SIGLAS
CREA Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia
CIF Departamento Comercial, Industrial e Financeiro da Escola de Engenharia da UFRGS
EGATEA Revista da Escola de Engenharia da UFRGS – ed. 1914 a 1922
EPAHC Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural da Prefeitura Municipal de Porto Alegre
ITP Instituto Técnico Profissional da Escola de Engenharia da UFRGS
LRM Laboratório de Resistência dos Materiais da Escola de Engenharia da UFRGS
SOP Secretaria de Obras Públicas do Governo do Estado do Rio Grande do Sul
x
Resumo
O desconhecimento, por parte da comunidade em geral, Portalegrense e Rio Grandense
sobre quem foi o Engenheiro-Arquiteto Manoel Itaqui e qual foi a sua contribuição para a arquitetura
da Capital Gaúcha, devido à pouca informação existente, é o motivo principal deste trabalho que
procura demonstrar sua trajetória, sem ser uma biografia, tomando como ponto de partida o
surgimento do sobrenome “Itaqui”, passando por sua formação, até a produção de seus projetos e
obras que encontram-se ligados à própria História da Capital e da formação da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul.
A análise de sua arquitetura, feita prédio a prédio, evidencia a sua evolução que inicia, nos
primeiros anos do século XX, com o estilo “Art Nouveau” e vai sendo alterada com o passar do tempo
até culminar com uma obra de engenharia, seu último projeto, pelo qual é mais conhecido, do Viaduto
Otávio Rocha.
Busca-se assim, colocar em evidência o elenco de sua produção intelectual para a Capital,
em sua suposta totalidade, dar-lhe o devido reconhecimento e torná-lo mais conhecido pela
comunidade, não só acadêmica como em geral.
Palavras-chave: Manoel Itaqui, Art Nouveau, Viaduto Otávio Rocha.
INTRODUÇÃO
A História da Arquitetura é rica em dados que, demonstram o conhecimento adquirido
com o passar do tempo e com as experiências realizadas por profissionais das mais diversas áreas,
como engenheiros e arquitetos por exemplo, que, com criatividade, inventividade e saber acumulado
possibilitaram às novas gerações tomar consciência das maneiras de projetar e construir do passado.
Alguns, infelizmente, não tiveram a sorte de tornarem-se conhecidos por seus projetos e obras
executados. É sobre um destes “ilustres desconhecidos”, para a grande maioria, que este trabalho se
desenvolve, fazendo levantamentos, análises e buscando demonstrar a importância de sua obra para
a arquitetura da Capital Gaúcha: Manuel Itaqui.
Mesmo possuindo uma produção com um número elevado de obras em seu acervo,
Manoel Itaqui é pouco conhecido, ou melhor, na minha opinião, o reconhecimento por seu trabalho
não tem recebido a devida valorização.
Com o objetivo de demonstrar, através desta pesquisa, a toda comunidade a relevância
do trabalho realizado por Manoel Itaqui nesta Universidade, desde o tempo em que esta Instituição
era apenas um embrião do que é hoje, procurarei contribuir para a nossa história da arquitetura,
conferindo-lhe o merecido destaque e reconhecimento que merece.
No universo de destacados Engenheiros e Arquitetos que nossa cidade acolheu, entre
as diversas correntes de imigrantes e, também, dos que aqui se formaram e contribuíram com seus
12
conhecimentos e suas obras, pouco ou quase nada é pesquisado, estudado e historiografado sobre
este ilustre representante da Engenharia e da Arquitetura porto-alegrense e rio-grandense.
Alguém com uma produção tão profícua não pode, e nem deve, ser conhecido apenas
por uma determinada obra, quando o conjunto de suas obras é, no meu entender, extremamente
representativo de uma fase da História da cidade e do Estado do Rio Grande do sul. História esta que
se entrelaça com a da própria Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em sua formação, e com a
de Porto Alegre, no período talvez dos mais importantes de seu desenvolvimento como metrópole, e
sua inserção na modernidade do início do século XX.
O acesso ao todo deste conjunto não deve se tornar só um manancial de consulta e
informação, mas sim, subsídio importante para que venha a trazer, ou gerar mais conhecimento,
fazendo com que se procure preservar de maneira mais eficaz o patrimônio edificado e se conheça
mais e melhor a própria História.
Estudar, sugerir hipóteses e buscar novos repertórios através da pesquisa sobre a obra
de pessoas como Manoel Itaqui, são fontes de conhecimento e, por mais “antigos” ou ainda ditos
“ultrapassados” que sejam, com certeza, proporcionarão o enriquecimento de novos paradigmas de
projeto e de novas tecnologias que possam surgir, baseados em antigas formas de conceber e
construir.
Como pouco ou quase nada existe sobre as obras deste arquiteto e sentindo a falta de
uma análise das mesmas, por terem sido executadas há tanto tempo e pelo advento da restauração
dos prédios históricos nesta Universidade, creio ser de grande valia o trabalho a ser desenvolvido
para poder evidenciar qual a contribuição que Manoel Itaqui e sua arquitetura ofereceram na formação
do desenvolvimento da Capital Gaúcha.
13
C
ONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
A economia do Estado do Rio Grande do Sul sempre esteve ligada à pecuária, ao
latifúndio, com os proprietários de grandes extensões de terra e gado formando a elite política, social,
econômica e cultural da região. Os interesses políticos dividiram, desde o início da formação do
estado rio-grandense, a classe dominante dos agropecuaristas em pólos políticos opostos.
O Partido Republicano Rio-grandense, o PRR, exerceu seu domínio político e
econômico com mão de ferro durante o período histórico conhecido como República Velha, ou seja,
de 1870 até o final da década de 20, ficando conhecido como Positivismo Castilhista.
Seu programa de governo previa, desde o início, o progresso do estado através do
estímulo ao desenvolvimento na área dos transportes, com diversificação da economia, porém,
mantendo a pecuária como atividade dominante.
A visão de um estado com vocação predominantemente pastoril era defendida pelos
setores da oposição, ligados à pecuária e que criticavam a política econômica dos republicanos, que
viam o estado como o celeiro do país; a oposição acreditava que a diversificação, na economia,
levaria o estado à crise.
A concentração regional de poderes, imposta pelos republicanos durante o período da
República Velha, também era contestada pelos opositores liberais que eram favoráveis a um projeto
modernizador porém contrários ao centralismo do poder político no estado, defendendo estes, um
sistema político centralizado a nível nacional que favorecesse uma condição importante na defesa de
seus interesses ou no atendimento de suas reivindicações, desde que com voz atuante dentro deste
sistema.
14
A pecuária gaúcha beneficiou-se, e muito, com a ampliação da demanda para atender o
mercado internacional durante a Primeira Grande Guerra. Os pecuaristas, graças às facilidades de
crédito e visando um lucro maior, endividaram-se modernizando e melhorando suas criações. O
problema dos transportes para escoarem sua produção fez-se sentir mais forte.
Com o PRR no poder, guiando-se pela orientação positivista, com o ideal de “ordem e
progresso” e tendo como palavra de ordem “conservar melhorando”, os republicanos buscaram o
desenvolvimento sem intervir na economia, encampando as obras do porto de Rio Grande e a Viação
Férrea na intenção de solucionar o problema dos transportes. Porém, com a retração dos mercados,
após a guerra a crise internacional tornou-se inevitável e os estancieiros não conseguiram saldar suas
dívidas. A crise na pecuária acaba por gerar a crise financeira e os estancieiros aguardavam uma
solução política por parte do governo.
De acordo com os princípios da filosofia positivista, que orientavam esta administração
do PRR, caberia a iniciativa privada cuidar da produção, ao Estado, atender somente os serviços
públicos de interesses de toda a comunidade, como os transportes.
Com seus interesses contrariados e bastante afetados pela crise da pecuária, uma
parcela da classe dominante que não se achava mais representada pelo PRR uniu-se a oposição.
Oposição que se achava fora do poder desde quando Júlio de Castilhos consolidara a ordem
republicana e devido a fatores favoráveis, externos e internos, permitiram ao PRR manter-se por tanto
tempo sem contestações.
A doutrina positivista sofreu uma releitura das classes dominantes, tanto que na Europa
ela tinha conotações reacionárias, no Rio Grande do Sul passa a assumir uma feição conservadora
progressista.
A parcela descontente, e agora dissidente, da classe pecuarista que havia detido o
poder durante o período imperial agora expressavam-se através do Partido Federalista, da Aliança
Libertadora e do Partido Libertador, unindo-se aos opositores de Borges de Medeiros lançando
campanha contra sua quarta reeleição.
15
Problemas como o custo de vida elevado, a redução do poder aquisitivo do povo, o
longo período da ditadura pessoal de Borges de Medeiros são fatores que somados aos já existentes,
contribuíram para que a oposição tivesse boa recepção na ânsia por mudanças.
Concluídas as eleições de 1922, Borges de Medeiros sagra-se novamente reeleito para
presidência do Estado, entre tanto, diferente das eleições anteriores a oposição quase conseguiu
evitá-la devido a grande quantidade de votos obtidos e pede que seja verificada a lisura do pleito por
um Tribunal de Honra.
Acende-se o estopim da Revolução de 1923; Borges de Medeiros impõe a condição do
Presidente Artur Bernardes atuar como árbitro, este porém não aceita e a oposição, após esgotar as
possibilidades institucionais, deflagra a Revolução através da tática de guerrilha e pregando a
desobediência ao governo de Borges de Medeiros. Seu governo passa por séria crise. Com a
proximidade das eleições federais para câmara e senado somada a grave crise interna instaurada, o
PRR, através de suas lideranças decidem fazer concessões e realizar mudanças para manter-se no
poder. Borges de Medeiros concorda em não mais concorrer, a indicar um sucessor neutro, adiando
as eleições federais no Estado e revisar a Constituição Estadual de 1891, de cunho positivista. Assim,
Assis Brasil, representando a oposição, o PRR e o presidente Artur Bernardes celebram o acordo de
Pedras Altas, em 14 de dezembro de 1924.
Para manter-se no poder o PRR apoia mudanças no Estado, buscando o reerguimento
da pecuária e conseqüente saneamento econômico com investimentos em ferrovias, portos, infra-
estrutura urbana e o controle da força de trabalho através da incorporação do proletariado à
sociedade moderna.
No início da década de 20, apesar da crise política e da pecuária nem tudo ia mal, a
indústria rio-grandense era superada apenas por São Paulo e a do Distrito Federal. O Rio Grande do
Sul tinha o mais elevado número de empresas individuais do país e o Estado ocupava o terceiro lugar
na produção agrícola; o valor de suas propriedades agropecuárias ficavam atrás apenas de São Paulo
e era o estado com mais cabeças de gado. O arroz, a carne e seus subprodutos tornaram-se os itens
16
mais importantes da balança comercial de exportações. Em 1929, o governo federal estava
arrecadando mais impostos no Rio Grande do Sul do que em Minas Gerais.
A política de imigração havia colaborado muito para que o Rio Grande do Sul chegasse
a esta situação. O índice educacional colocava o Estado a frente de São Paulo. Dos migrantes aqui
chegados, os alemães obtém maior destaque na agricultura, no comércio e na indústria, áreas não
relacionados às empresas pastoris, compondo um novo grupo social e econômico. Salientam-se na
indústria metalúrgica, na da cerveja e no curtimento de couros. Em 1926, fundaram a Viação Aérea
Rio-Grandense que se tornaria internacionalmente conhecida como VARIG, a primeira empresa aérea
brasileira.
Porto Alegre assume a liderança industrial da província, nesta mesma década,
empregando grande número de operários na produção fabril; anteriormente, ou seja, durante o
período da República Velha, seu desenvolvimento estava relacionado diretamente ao porto e por
conseqüência ao guaiba.
As transformações ocorridas no contexto político, econômico e social, exigiam
mudanças na forma de pensar e planejar o espaço urbano. Na década de 20, o Brasil, o Rio Grande
do Sul e Porto Alegre sentiram estas transformações político-sociais e buscaram um meio de alcançar
a modernidade. Modernidade que passa pela atualização do Estado na busca por um
desenvolvimento econômico e social almejado pelas elites dirigentes ligadas ao PRR, as mesmas
elites, que tinham um projeto social e com ele pretendiam criar as condições para o desenvolvimento
econômico.
Este projeto social de modernidade adquire corpo e começa a materializar-se na
administração municipal de Otávio Rocha, através de uma política de abertura e modernização; a
Capital Gaúcha começa a passar por grandes reformas urbanas que reorganizam seu espaço devido
a inserção do Rio Grande do Sul na economia nacional, ao desenvolvimento industrial e o surgimento
de novos grupos sociais que com o aumento da população operária impunham a necessidade destas
reformas.
17
M
ETODOLOGIA
A tomada de decisão pela abordagem qualitativa, na forma de um estudo de caso, se
deve ao fato de poder demonstrar a obra de Manoel Itaqui em sua quase totalidade, ou melhor, no
universo de Porto Alegre, já que o número de obras suas nesta Capital é quase a totalidade de seu
acervo, e este, bem expressivo.
Devido à importância do tema e na intenção de poder reunir em um só local, como fonte
de pesquisa para futuras dissertações e teses, o que é encontrado de forma esparsa através de
relatórios e fotos, acredito poder contribuir não só com a história deixada por Manoel Itaqui, como
também para auxiliar com material teórico e gráfico para futuras restaurações do legado da arquitetura
deixada.
Desta forma, a concretização desse trabalho foi possível através do levantamento de
dados encontrados nos relatórios e documentos da Escola de Engenharia e em outras instituições,
fazendo o registro, a organização e seleção para que estes dados sirvam de análise, junto com o
material gráfico levantado e produzido como plantas, cortes, elevações, e outros para interpretação e
as conclusões finais da pesquisa.
De acordo com o tipo de abordagem adotado o método de Levantamento de Dados
realizado compreendeu o seguinte: Pesquisa Documental, Pesquisa Bibliográfica e Pesquisa de
18
Campo, incluindo entrevistas telefônicas e por correspondência com descendentes do Dr. Manoel
Itaqui, residentes na cidade do Rio de Janeiro, mais precisamente na pessoa do Engenheiro Eduardo
Luiz Vianna Raupp, bisneto do Dr. Itaqui; a Sra. Lirys Itaquy Vianna, neta do Dr. Itaqui e mãe do Dr.
Eduardo e a Sra. Thyrsá Muller, residente em Nova Friburgo no Estado do Rio de Janeiro, prima do
Dr. Eduardo e que chegou a conviver, quando menina, com o tio “Lamão”, apelido do Dr. Itaqui;
infelizmente não existem descendentes diretos vivos em Porto Alegre.
Em Porto Alegre foi entrevistado em 2002 o Sr. Miguel Irace, sobrinho neto de Nicolau
Rocco, sobre a construção do prédio da Confeitaria Rocco.
Todos os entrevistados forneceram material de grande importância para a pesquisa,
também foram examinados relatórios, notícias em jornais da época, assim como publicações relativas
a Porto Alegre que por ventura possuíssem elementos relevantes à pesquisa.
Como previsto, para várias das construções produzidas por Manoel Itaqui sendo muito
antigas, portanto não existindo mais projetos originais de arquitetura nem na UFRGS e nem a
Prefeitura Municipal, tornou-se necessário o levantamento planialtimétrico em campo para a produção
considerada essencial para o desenvolvimento desse estudo.
Todo o material coletado, após ser registrado, organizado, e selecionado foi analisado e
interpretado, para que, ao ser traçado o paralelo sócio econômico e a situação político cultural da
época, se chegasse à verdadeira compreensão destes dados em relação ao que estava ocorrendo.
Para a interpretação foi utilizado o processo de inserir os dados obtidos em uma
estrutura global, na qual, os dados constituem apenas elementos parciais, embora significativos, como
por exemplo: se a utilização da “treliça Polonceau” nos prédios projetados por Manoel Itaqui em Porto
Alegre era uma constante em suas obras, como se fosse sua assinatura, ou se outros profissionais
como ele também a utilizavam. Tomando como ponto de partida, para fazer a análise dos projetos
apresentados neste trabalho, o dado colhido durante a pesquisa de que em 1910, o Dr. Manoel Itaqui
lecionou, no curso de Arquitetura, no 3º ano do Instituto de Engenharia “História da Arquitetura e
princípios de composição”, informação que consta do Relatório da Escola de Engenharia de 1909,
19
optei por fazer este tipo de análise utilizando as definições e os gráficos de três fontes como base,
que são os livros: “A Dinâmica da Forma Arquitetônica” de Rudolf Arnheim, “Arquitectura: Temas de
Composicion” de Roger H. Clark e Michael Pause, e “Arquitectura: Forma. Espacio y Ordem de
Francis D. K. Ching.
Desta forma, busca-se construir uma visão global e coerente, da produção da
arquitetura desenvolvida pelo Dr. Manoel Itaqui em Porto Alegre.
Com a intenção de tornar conhecido também o autor e não somente a obra, o primeiro
capítulo visa apresentar o Dr. Manoel Itaqui como pessoa: a origem de seu sobrenome, sua
descendência, ele como aluno, sua profissionalização como professor e seu reconhecimento como
Engenheiro-Arquiteto. A partir de sua apresentação pessoal, sua produção profissional adquire sua
autonomia como obra de Arquitetura e passa a ser apresentada.
Neste sentido o segundo capítulo procura tornar conhecidas suas obras e seus projetos
dentro dos Campi da Universidade que foram ampliados junto com a história desta e da própria
Capital Gaúcha. Assim como o desenvolvimento e o progresso tomam conta da Porto Alegre no
governo positivista, novas obras e melhorias surgem em vários pontos da cidade. Já o terceiro
capítulo procura demonstrar sua atuação na Capital, em obras públicas e privadas, de sua autoria e
em obras onde exerceu somente a função de Engenheiro fiscal.
A importância que seus projetos e obras adquiriram, tornando-se de grande valor, não
só fazendo parte da história da cidade como também do seu patrimônio edificado, podendo ser
analisado e interpretado como um todo, encaminhando-se então, a conclusão final deste trabalho.
20
Capítulo 1 O INÍCIO DE TUDO
1.1. O SOBRENOME
Segundo o Dr. Eduardo Luiz Vianna Raupp
1
, bisneto do Dr. Manoel Itaqui, o
sobrenome “Itaqui” vem da própria cidade de Itaqui, ou melhor, foi adotado como sobrenome pelo pai
de Manoel Itaqui, o Dr. Egydio Carlos Barbosa de Oliveira. Nascido em Cachoeira do Sul em 10 de
setembro de 1835, em 1855, após uma estada no Rio de Janeiro, transfere-se para São Paulo, onde
estuda Direito, formando-se em advocacia pela Faculdade de São Paulo; diplomado em 1863, retorna
ao Sul, chegando em Itaqui em 23 de junho do mesmo ano, onde estabelece domicílio e abre
escritório.
Candidata-se e é eleito Deputado Provincial e, mais tarde, assume a Presidência da
Câmara de Itaqui. O governo das cidades e vilas, na época do Império, era exercido pelo Presidente
da Câmara, conforme preceituava o artigo 168 da Carta Constitucional do Império do Brasil, aclamada
e jurada em 25 de março de 1824.
1
Conforme seu depoimento em uma das entrevistas realizadas em 2001.
21
Não se pode precisar, exatamente, a partir de quando ele começa a assinar “Itaquy
2
como sobrenome; consta que assumiu este sobrenome por ter ficado conhecido pelo nome de sua
cidade natal, por ser o único aluno da cidade gaúcha de Itaqui. Consta que o então aluno de Direito
sempre perguntava se havia chegado correspondência de Itaqui. Isto serviu para que os colegas o
apelidassem de “Itaquy” na Escola de Direito. Ao se formar teria adotado o apelido como sobrenome,
pelo qual já era amplamente conhecido. Certo porém é que este fato foi anterior a 2 de setembro de
1865 quando, já na condição de Presidente da Câmara, se apresenta ao Barão de Porto Alegre e
assina dessa forma a ordem do dia subseqüente.
Quando da invasão da cidade de Itaqui pelo Paraguai, para evitar uma possível chacina
dos moradores pelos Paraguaios, o “Dr. Egydio Barbosa Itaquy”, como Presidente da Câmara, retira a
população da cidade, ficando ali somente os imigrantes que acreditavam poder sair incólumes, como
em São Borja; infelizmente foram dizimados e toda a documentação da Câmara e da Intendência
Municipal foi queimada e as casas pilhadas e incendiadas.
Em 21 de maio de 1869, ainda como Presidente da Câmara, Egydio Barbosa Itaquy,
lavrou alvará concedendo 146 palmos de frente ao Norte e 277 palmos de fundo ao Sul, de um
terreno devoluto na antiga rua “Ypiranga”, atual “Euclides Aranha”, para construir a primeira Igreja
Matriz da cidade de Itaqui, mais tarde demolida para dar lugar ao atual Templo de São Patrício,
padroeiro da cidade. A construção da velha igreja começou em 1869 e terminou em 1878.
O Dr. Egydio Barbosa Itaquy faleceu em 28 de dezembro de 1919, na cidade que
adotou como sobrenome.
2
Maneira como era grafado o nome da cidade naquela época, com “y”.
3
Residência provavelmente demolida na construção da Av. Perimetral.
22
1.2. O HOMEM
Quanto ao cidadão Manoel Barbosa de Assumpção Itaqui, filho do Dr. Egydio Carlos
Barbosa de Oliveira Itaquy e da Sra. Ubaldina Assumpção Itaquy , nascido na Cidade de Itaqui em 17
de agosto de 1876, pouco ou quase nada se conseguiu através da pesquisa, não se conseguiu
apurar, por exemplo, em que data ele se transferiu para a Capital.
Sobre várias personalidades marcantes como Theodor A. Josef Wiederspahn, Rodolfo
N. Ahrons, Fernando Corona, já estudadas, conseguiu-se muito neste ponto, mesmo tendo já
passado tanto tempo de seu surgimento. No caso de Manoel Itaqui é como se apagassem seus
passos sobre a areia do cotidiano, impedindo assim que se possa trilhar o mesmo caminho
recolhendo os dados, como quem recolhe peças de um quebra-cabeças para montá-lo depois.
Em sua ficha no CREA/RS, por exemplo, dois dados merecem destaque :
1. No item “residência”, consta o endereço à rua José do Patrocínio, n.º 117 – Porto
Alegre
3
.
2. No item “data em que se diplomou”, consta a data de 6 de agosto de 1934
4
.
Entretanto consta em seu Diploma que concluiu o curso de Engenharia Civil, na Escola
de Engenharia em Porto Alegre, no ano de 1901 e este está com a data de 6 de agosto de 1934.
O Engenheiro Manoel Itaqui solicitou ao CREA/RS, através de requerimento redigido de
próprio punho, sua Carteira Profissional na mesma data, o que leva a suposição de que ele não
tivesse de posse de seu diploma até aquela data.
Ele formou-se portanto, aos 25 anos e só foi receber sua Carteira Profissional como
Engenheiro Civil aos 58 anos, isto porque o órgão regulador e fiscalizador da categoria só seria criado
muitos anos depois de sua diplomação, porém sua produção e seu profissionalismo foram bastante
proficientes, como se pretende demonstrar.
4
O CREA foi criado em 1933 pelo Decreto Federal 23.569, pelo Presidente Getúlio Vargas, motivo pelo qual a data de 1934
aparece na Diplomação e sua Carteira Profissional foi expedida em 1935.
23
Manoel Itaqui casa-se em 6 de dezembro de 1902 com Judith Antunes Maciel de
Assumpção, sua prima-irmã, motivo pelo qual é citada a “consangüinidade no segundo grau colateral
igual”, sua esposa é natural da cidade de Pelotas no Rio Grande do Sul e contraíram núpcias
portanto, um ano após sua formatura. O registro de seu casamento está assento na Cúria
Metropolitana de Porto Alegre.
Estes dados aparentemente não trariam grande relevância ao tema em estudo porém,
se levantada a hipótese que a família da noiva influenciou de alguma forma, direta ou indiretamente
em sua decisão, poderia se chegar à conclusão de como e porque Manoel Itaqui acabou executando
o projeto e a obra da reforma do Mercado Público de Pelotas, obra que está relacionada à sua
produção de projetos de arquitetura, e é reconhecido como um dos prédios significativos do
patrimônio de Pelotas.
1.3. O ALUNO, O PROFESSOR
O jovem Manoel Itaqui ingressa na Faculdade de Engenharia prestando exames de
Admissão em Francês, Aritmética, Geografia, História e Desenho, com 1º lugar em quase todas as
matérias, com exceção da Aritmética, na qual fica em 11ª colocação
5
, seu desempenho é excelente
durante todo o curso, inclusive nos cursos práticos.
Conforme os Extratos dos Estatutos reformados pelo Conselho Escolar, em sessão de
23 de março de 1900, dava-se conta de que cinco cursos independentes faziam parte do ensino na
Escola de Engenharia e, segundo o Art. 2º, dos referidos estatutos, eram os seguintes :
5
Dados das Atas de Exames da Escola de Engenharia de Porto Alegre, 23 de fevereiro de 1897.
24
a) Curso de Agrimensura
b) Curso de Estradas
c) Curso de Hidráulica
d) Curso de Arquitetura
e) Curso de Agronomia
O ensino nos referidos cursos eram sempre realizados com aulas teóricas e práticas,
conforme estes mesmos estatutos:
“Art. 5º - O ensino constará de duas partes, uma dada em desenho, outra adquerida no
campo, officina etc.
Art. 6º - O ensino theórico será limitado ao estudo de cada sciência que fôr
estrictamente indispensável à prática do curso considerado, devendo esse curso ser essencialmente
experimental”.
Manoel Itaqui formou-se na primeira turma em 1901, sendo seus estudos regidos por
estes mesmos estatutos e cumprindo com grande dedicação e interesse estes mesmos cursos, pelo
que se pode inferir de seu histórico de estudante.
O Professor Manoel Itaqui inicia sua carreira de docente em 1906, na Escola de
Engenharia, mais precisamente a 27 de abril
6
como professor interino, designado para a regência da
2ª aula, Construção, e da aula de Aprendizagem do 3º ano do curso de Arquitetura.
Pelo art. 1º das Ordens de 5 de maio, foi nomeado para, durante o impedimento do
respectivo professor, reger a aula de Aprendizagem Prática do 3º ano do curso de Estradas.
De acordo com a pesquisa realizada até agora, Manoel Itaqui seguiu lecionando até
1928, quando foi considerado impedido para tal por achar-se incurso nos artigos 88, do regimento do
6
Conforme apontamentos no livro de ordens n.º 436 da Escola de Engenharia.
25
Instituto de Engenharia, e art. 109, dos Estatutos da Escola de Engenharia
7
, mesmo sendo Membro
do Conselho Universitário pela seção de Engenharia, eleito em 10 de março de 1922.
Com relação a este particular incidente é de se supor que o seu afastamento ocorreu
por divergências internas, uma vez que tais artigos não significam falta grave; assim estão escritos
seus textos:
Art. 88 – O professor que faltar 4 aulas consecutivas é considerado impedido e o
Director proporá a sua substituição para a cadeira em que as faltas se derem”, esta é sua redação e
está grafada no “Acto n.º 133 de 23 de abril de 1923”, assinado pelo “Dr. Manoel Theóphilo Barreto
Vianna” e pelo “Dr. Egydio Hervê”, ao que se sabe, dois grandes amigos de Manoel Itaqui. O art. 109
dos Estatutos da Escola de Engenharia, também de 1923, na Quarta secção” referente aos
Professores, Téchnicos, Mestres e Instructores” está redigido praticamente da mesma maneira: “ Art.
109 – O professor de um Instituto que faltar a 4 licções consecutivas, será considerado impedido,
sendo-lhe designado, durante o impedimento, um substituto”.
Colegas seus, como por exemplo Rodolfo Ahrons que tinha escritório particular e
consequentemente faltava seguidas vezes devido ao acúmulo de serviços, nunca foram enquadrados
em tais artigos.
Apesar deste fato, ele não se abaterá e continuará produzindo fora dos limites da
Escola de Engenharia como veremos adiante.
Manoel Itaqui foi um aluno esforçado e dedicado desde o seu ingresso na Escola de
Engenharia em fevereiro de 1898, chegando a destacar-se com distinção, ao prestar os exames finais
daquele ano como chegou a constar nas atas de exames da Escola; com o decorrer do tempo
manteve-se acima da média e em 1901 concluiu seu curso com grau 8 como maioria nas suas notas.
Em 1906 retorna à Escola de Engenharia, agora como professor, e segundo relatos dos
seus familiares era uma professor querido e respeitado por todos. A título de curiosidade é
7
Conforme anotações no livro dos Assentamentos, p. 41 da Escola de Engenharia.
26
interessante destacar que Adolpho Alfred Stern foi aluno do professor Manoel Itaqui no curso de
arquitetura do 3º ano da Escola de Engenharia no ano de 1909. Manoel Itaqui foi um homem
inteligente, criativo e apaixonado; suas paixões eram a Família, Lecionar, a Engenharia e a
Arquitetura.
1.4. O ENGENHEIRO-ARQUITETO
O grau alcançado por Manoel Itaqui foi o de Engenheiro Civil, porém, nas circunstâncias
da época deve-se considerar também o grau de Arquiteto, ou melhor, de Engenheiro-Arquiteto, se
levado em consideração o referido Estatuto da Escola que diz:
“Art. 9º - Ao alumno approvado em qualquer um dos cursos de que trata o Art. 2º a Escola
conferirá o respectivo diploma.
Art. 10º - Ao alumno approvado nos cursos de Estradas, Hydráulica e Architectura a
Escola conferirá o diploma de engenheiro civil”.
Assim sendo, é de se supor que por haver concluído todos os cursos, com exceção do
curso de Agronomia, que não cursou, e pelo seu desempenho em seus projetos e obras, cabe-lhe
este título de Engenheiro-Arquiteto.
Tal suposição adquire base segura quando o diretor da Escola de Engenharia, através
do relatório de 1909, refere-se à necessidade da construção do prédio para o Instituto, que viria
chamar-se Júlio de Castilhos, escrevendo :
27
O bello projecto do illustre engenheiro e provecto arquitecto Dr. Manoel Itaqui
começa agora a revelar-se, dando uma nítida idéia do bonito edifício que vae possuir a Escola
8
.
(grifo nosso)
Fernando Corona, em ensaio constante da Enciclopédia Rio Grandense
9
que o havia
conhecido pessoalmente, referindo-se ao Dr. Manoel Itaqui, mais precisamente sobre sua formação
diz que “mesmo sendo engenheiro civil, foi uma exceção, ele era arquiteto”.
Günter Weimer, em Estudos Tecnológicos
10
aparentemente concorda com tal
afirmação, destacando inclusive Manoel Itaqui como o arquiteto mais conhecido da turma de
formatura do “Curso de Arquitetura” da Escola de Engenharia.
Como Engenheiro, o Dr. Manoel Itaqui, participou de algumas concorrências públicas
importantes, por exemplo a concorrência para ampliação da Biblioteca Pública. Construção executada
no terreno da rua General Câmara, anexo ao prédio já existente, e do Colégio Elementar Fernando
Gomes, projeto de Afonso Hebert na praça General Osório
11
.
Independente do nome profissional dado, o fato é que o Dr. Manoel Itaqui foi, além de
Engenheiro, Arquiteto; não só pelo relevante fato de haver cursado arquitetura e ainda tê-la lecionado
na Escola de Engenharia mas principalmente por haver demonstrado, através de seu trabalho, seu
inegável conhecimento. Suas obras são o testemunho material deste conhecimento.
8
João José Pereira Parobé, Diretor da Escola de Engenharia, no relatório da Escola de 1909, p.11.
9
Enciclopédia Rio Grandense, 2º vol. p. 149.
10
WEIMER, Günter “Estudos Tecnológicos” – Arquitetura 16 e 17 UNISINOS vol. XIII, 1990 p. 20.
11
Relatório da Secretaria de Obras de 1919.
28
Capítulo 2 SUA CONTRIBUIÇÃO
OBRAS NA UFRGS
Foram levantados sete prédios projetados e construídos pelo Dr. Manoel Itaqui, que
fazem parte hoje do acervo do Patrimônio Histórico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
que serão apresentados e analisados a seguir.
2.1. O OBSERVATÓRIO ASTRONÔMICO
O primeiro prédio projetado por Manoel Itaqui, abrigou o primeiro grande instituto de
pesquisas da universidade, identificado na planta com a letra “D” (fig. 1), foi um dos primeiros
29
observatórios astronômicos construído no país e um dos poucos exemplos do “Art Nouveau” em
nossa capital, estilo surgido na Europa, onde segundo a historiografia atual, destacou-se na
Alemanha, França, Áustria, Bélgica e na Grã-Bretanha, com as formas e linhas onduladas de
elementos orgânicos constituindo uma rica decoração. Este estilo encontrou na Espanha, em Gaudi,
um de seus mais significativos executores.
Entre 1906 e 1909, o Dr. Manoel Itaqui foi encarregado de projetar os três prédios que
se constituiriam na primeira ampliação da Escola de Engenharia. A partir da construção deste
conjunto de prédios, Observatório Astronômico e os outros dois, pertencentes ao Instituto Técnico
Profissional, iniciou-se um grande desenvolvimento do ensino no Estado através da Escola de
Engenharia que, atuando com o apoio do governo de inspiração Positivista, incentivador da criação de
instituições voltadas ao conhecimento e à prática, acabaria por auxiliar no crescimento e
desenvolvimento não só de Porto Alegre, frente às demais cidades do Estado, mas colocando,
também, o Rio Grande do Sul em lugar de grande destaque ao lado de São Paulo ou da Capital
Federal, Rio de Janeiro.
30
Figura 1- Planta do 1º quarteirão, prédios que o compunham inicialmente
Fonte: Desenho do Autor
Nesse período o principal meio de transporte urbano, em Porto Alegre, era feito por
bondes puxados por tração animal e as comunicações eram feitas por navegação a vapor ou pela
rede ferroviária que começava a ser implementada, a luz elétrica substituía aos poucos a pálida luz
dos candeeiros, o progresso se manifestava na capital e no interior.
O Relatório da Escola de Engenharia de 1909 indica :
“É engenheiro chefe deste instituto o illustre professor da Escola Dr. Manoel Itaqui
que, a grande preparo scientífico reúne qualidades que o tornam talhado para essa
funcção de diffícil desempenho”.
31
Assim, ao reconhecimento de seu potencial e grande conhecimento, demonstrado ao
executar este projeto, e por ser o engenheiro chefe do Observatório Astronômico
12
, o Dr. Manoel
Itaqui é enviado à República Argentina a fim de estudar a organização dos serviços meteorológicos e
os trabalhos dos observatórios astronômicos daquela República.
De regresso, organizou o plano do serviço meteorológico a ser instalado e composto
por 34 estações e 1 observatório regional ou estação de 1ª classe, sendo daquelas, 26
meteorológicas e 8 pluviométricas; o plano deveria ser executado tão breve quanto possível
13
.A
estação de 1ª classe deveria começar a funcionar em primeiro lugar e as outras seriam instaladas
assim que chegasse o material que seria encomendado. Graças a seu plano e em virtude de
autorização da Lei de Orçamento da União para o então exercício corrente, foi incumbido a este
Instituto o serviço meteorológico, constituindo assim a rede meteorológica do Estado. Para a
regularização desse serviço tornava-se indispensável a ligação telegráfica entre o Observatório e a
estação central de telegrafia de Porto Alegre, para isso solicitou-se permissão ao Exmo. Sr. Ministro
da Viação e Obras Públicas, a qual foi concedida.
O Dr. Manoel Itaqui continua lecionando, projetando e no cargo de Diretor do
Observatório Astronômico e Meteorológico até o ano de 1910, conforme consta do Relatório da
Escola de Engenharia deste ano onde é salientado o seguinte: “É Engenheiro-Chefe deste instituto o
ilustre Dr. Manoel Itaqui, professor da Escola, que bastante se esforça pelo bom desempenho do seu
cargo”. O Dr. Manoel Itaqui deixará o cargo de Engenheiro Chefe do Observatório, assumindo em seu
lugar o Dr. Adolpho Alfredo Stern.
O Dr. Parobé, Diretor da Escola de Engenharia, na ordem 1.ª do dia 30 de novembro de 1910,
demonstra-se surpreso por haver o Dr. Manoel Itaqui solicitado sua exoneração e afastamento do
cargo de Engenheiro Chefe escrevendo: “. . . Lamento a retirada do Ilustre professor da Escola, da
12
Conforme o Relatório da Escola de Engenharia de 1909, o Dr. Manoel Itaqui foi nomeado em 2 de janeiro de 1908.
13
Conforme Relatório da Escola de Engenharia de 1908.
32
direção daquele Instituto, cabe-me agradecer-lhe a dedicação com que sempre desempenhou tal
cargo”.
2.1.1 O Estilo Art Nouveau do Observatório Astronômico
O “Art Nouveau”, ou Arte Nova, adquiriu características próprias bem distintas nos
países e escolas onde se desenvolveu, mas de maneira geral e segundo KOCH (1982, p.124) este
estilo possuía “linhas e formas onduladas e fluídas, conforme o modelo das plantas orgânicas ou dos
animais e, desta forma, se desenvolviam elementos volumétricos nas fachadas, interiores e também
nos móveis”.
No Observatório Astronômico, não só na fachada principal, mas fundamentalmente
nela, destacam-se peças ornamentais de acordo com o estilo “Art Nouveau”: um elemento adquire um
destaque especial, localizando-se na parte mais elevada da fachada, uma figura feminina, em
tamanho natural e colocada em um nicho centrado no frontão que marca o eixo de simetria, a Musa
Urânia, considerada na mitologia grega como “a celeste”, representando a Astronomia e as ciências
exatas em geral. O prédio tinha como finalidade principal abrigar em seu interior o Instituto
Astronômico e Meteorológico da Escola de Engenharia e como função específica, propiciar o estudo
do céu e servir de instrumento para as aulas de astronomia de campo. Criado também para prestar
serviços, por exemplo, fornecer a hora certa, o levantamento da climatologia, englobando a previsão
do tempo, da meteorologia agrícola e de higrometria, tornou-se um marco histórico na pesquisa e
desenvolvimento científico na Capital, para o Estado e também para o país. É um prédio que, pela
complexidade das funções desenvolvidas e dos equipamentos muito sensíveis, ali instalados, foi
concebido de maneira análoga, ou seja, muito simples com as funções ocorrendo praticamente por
andar. Em seu interior, no térreo, após o ingresso no hall, encontra-se a parede da torre da meridiana
33
que obstrui o caminho possibilitando apenas dois trajetos, à esquerda, por uma escada que leva ao
primeiro andar ou à direita que conduz a uma grande sala onde eram feitas as manutenções dos
equipamentos e onde está a base da torre equatorial, ao fundo.
Subindo pela escada que leva ao primeiro pavimento, um amplo ambiente se destinava
à secretaria, localizada entre os dois volumes internos formados pelas duas torres que trespassam os
pavimentos. O acesso ao pavimento seguinte é feito através de uma escada de madeira, toda
trabalhada, que contorna a torre meridiana localizada na parte fronteira interna e leva a sala da
meridiana e às sotéias; neste andar, uma pintura mural aplicada sobre a parede da torre dos fundos,
ou seja, na parede da torre equatorial adquire o seu destaque. Nesta torre, uma escada helicoidal em
madeira, com balaustradas ricamente torneadas que contorna-a parcialmente leva ao ponto mais alto
do Observatório.
O Arquiteto Fernando A. Carvalho Leite, contratado pela UFRGS para apresentar um
projeto de restauro para o Observatório Astronômico em agosto de 1986, define o estilo “Art Nouveau”
como sendo a síntese entre a “Arte e a Indústria” no sentido estético funcional onde :
“a arte é a ação eternamente espontânea e livre do homem, em seu próprio
ambiente, transformando-se e adaptando-se conforme uma nova idéia. A arte torna-se
abrangente, invadindo e dominando todas as atividades humanas, através de múltiplas
criações, formas inéditas, emprego de novos materiais, procura de novas técnicas e a
criação do desenho industrial”.
34
Desta forma LEITE
14
(1986) ao analisar o prédio do Observatório Astronômico,
antigamente denominado de Instituto Astronômico e Meteorológico (fig. 2), refere-se ao Dr. Manoel
Itaqui como “destacado engenheiro e detentor de grande cultura” que ao elaborar o projeto deste
prédio, obteve uma composição harmoniosa, “resultado de uma mescla de influências” do “Art
Nouveau”.
Figura 2- Prédio do Instituto Astronômico e Meteorológico
Fonte: UFRGS
14
Projeto de Restauração para os prédios do Observatório e Castelinho, 1986.
35
Concorda em parte com essa afirmação DOBERSTEIN (1999, p.41) que, ao se referir
ao mesmo projeto diz, referindo-se ao local onde se encontra a figura feminina que, segundo ele,
representa a musa Urânia :
“. . . assim como os arabescos de florais entrelaçados que circundam o nicho da
parte superior ( . . . ) A mesma fantasia ornamental também está presente nas fachadas
laterais. No coroamento das janelas aparecem pelicanos e máscaras, os quais não tem a
ver com astronomia e muito menos com meteorologia. No arremate das pilastras foram
fixadas carrancas e gárgulas e nos consoles das platibandas motivos florais que também
não guardam conexão com as atividades desenvolvidas no prédio”.
A descrição não deixa dúvidas quanto a este exemplar ser projetado e construído no
estilo “Art Nouveau” porém, a ornamentação, de acordo com os parâmetros da época, não tem que
representar a função a que se destina o prédio, o mesmo acontecendo com os dois outros exemplares
que, junto com o Observatório, formam o conjunto do largo Paganini (fig. 3) e que possuem funções
distintas entre si e em relação ao primeiro.
Figura 3- Largo Paganini formado entre o Observatório e o Instituto Técnico Profissional - ITP.
Fonte: Desenho do Autor
O nome dado à este largo foi, provavelmente, em homenagem ao Sr. Pio Paganini, um
dos precursores da Topografia Científica, criador do levantamento fotogramétrico, na Itália, através do
equipamento desenvolvido por ele, denominado de fototeodolito; neste caso, é necessário evitar-se
36
confusão com Paolo Paganini
15
que também mereceria tal honra porém, a homenagem foi dada ao
primeiro; não foi possível determinar se existia algum grau de parentesco entre ambos.
Ao contrário dos estilos clássicos, o “Art Nouveau” adquiriu características distintas
conforme os países e escolas onde foi desenvolvido (Ver anexo A). Foi sob a influência destes fatores
culturais que o Engenheiro-Arquiteto Manoel Itaqui elaborou o projeto do Observatório para o Instituto
Astronômico e Meteorológico da Escola de Engenharia.
Suas linhas decorativas onduladas e assimétricas, ora graciosas, ora dinâmicas,
submetem o conjunto a um ritmo linear; sua ornamentação, vigorosa é bem distribuída, obtendo como
resultado uma notável compensação entre o movimento e a harmonia de equilíbrio; seus adornos
retratando a natureza através de motivos florais e troncos de árvores, estes apostos nos umbrais da
porta principal, dão-nos, inquestionavelmente, a certeza de estarmos diante de um exemplar “Art
Nouveau”. Segundo LEITE (1986 p.16), no caso do Observatório, sua composição resulta de uma
mescla de influências, revelando contribuições belgas através da plástica dinâmica das balaustradas
que dão fechamento às sotéias, havendo uma rica simbologia em torno da torre da Equatorial, onde
estão retratados os signos do zodíaco. No interior do prédio o arranjo espacial livremente proposto,
sem divisões e tendo por objeto unicamente o fim a que se destina, espelha uma vez mais a influência
belga. Soma-se também à francesa, através de um estilo abstrato, assimétrico e dinâmico; frontão
arredondado; umbrais da porta principal lembrando troncos e da decoração floral. Por fim, à inglesa
através de diversos cantos e arestas arredondadas, dando um efeito Neo Barroco. Cabe frisar que
estas “influências” não estavam afetas somente a determinadas escolas ou aos países citados, não
existindo uma norma, o gosto do arquiteto por determinados elementos favorecia uma composição
harmônica na fachada e procurava destacar fundamentalmente o estilo “Art Nouveau”.
15
Cabe salientar que o Sr. Paolo Paganini nasceu em Ansiago, Itália no ano de 1870 e, ainda moço, veio para Porto Alegre
onde dedicou-se à construção. Em 1902, o Sr. Francesco Andrighetto, construtor da Escola de Engenharia, desde sua
fundação, convidou-o como sócio para organizara firma Andrighetto & Paganini que continuou a trabalhar nas construções
da Escola, além de haver executado outras obras. Paganini faleceu em Roma, no dia 20 de outubro de 1921, vítima de
doença incurável, Revista EGATEA de 1922, p.64.
37
A implantação do Observatório Astronômico está rigorosamente de acordo com os
pontos cardeais a fim de atender à necessidade de uma instalação perfeita dos equipamentos,
principalmente na sala do círculo meridiano, assim sendo, sua fachada principal está voltada para o
Leste.
O prédio está assente sobre sapatas corridas constituídas de alvenaria de granito que
constituem então fundações diretas. Quanto às torres da Meridiana e da Equatorial, estas estão
sustentadas por bases de concreto. As paredes, maciças e espessas, possuem funções estruturais,
sendo constituídas de alvenaria de tijolos rejuntados com argamassa de cal, cimento e areia. Todos
os pavimentos foram executados com forros e piso em madeira fixados nos barrotes destinados a
esta finalidade com exceção do segundo andar, onde o forro é de estuque moldurado, no hall de
entrada o piso é constituído de mosaico de fabricação nacional, assente sobre uma camada de lajes
de grés que compõe uma espessura de 15 cm e nas Sotéias, construídas com lajes de grés apoiadas
sobre trilhos de ferro, respaldadas com argamassa de cimento e duas camadas de tijoleiras,
internamente, encontramos escadarias helicoidais com balaustrada ricamente torneada, além de uma
pintura mural, localizada no 3º pavimento, resquício da intensa decoração pictórica outrora existente.
As esquadrias e a caixilharia são em madeira e a cobertura é composta por sotéias
possuindo piso em tijoleira de barro. É sentida a carência de material gráfico, que poderiam ilustrar
melhor as descrições aqui feitas, por não existem mais os desenhos originais. Isto faz com que a
tentativa de realizar qualquer desenho que tomasse por base a descrição se tornasse mera
especulação.
De maneira sucinta, pode-se dizer que o prédio é composto de duas torres internas,
dentro do mesmo corpo edificado entrecortado por três pisos (fig. 4).
38
Figura 4- Desenho esquemático das torres no Observatório.
Fonte: Desenho do Autor.
No ponto mais elevado do prédio, mais precisamente sobre a torre Equatorial, encontra-
se uma cúpula de ferro giratória que também foi projetada por Manoel Itaqui, o que vem demonstrar
seu conhecimento e grande habilidade como engenheiro mecânico; encontra-se descrito no Relatório
da Escola de Engenharia de 1909, que ele havia projetado para a outra torre, a da meridiana, um
processo semelhante onde o sistema de funcionamento está descrito da seguinte forma:
“A sala da meridiana é servida de uma trapeira ideada pelo provecto engenheiro
chefe e cuja construcção feita no Instituto Technico Profissional foi dirigida pelo notavel e
modesto engenheiro
Compõe-se ella de uma coberta de duas abas, sobre armação leve de ferro e
forrada de madeira, cuja comieira, servindo de batente, occupa posição media
longitudinalmente á fenda, que tem a largura de um metro e vinte centimetros.
Estas duas abas rodam sobre dous pares de trilhos transversaes á abertura e
que se prolongam nesta sobre quatro consolos articulados de movimento automatico.
O movimento geral de abertura é feito por meio de quatro parafusos sem fim,
convenientemente conjugados, com engrenagens e corrente silenciosa, a uma manivella;
esta acciona o conjuncto, produzindo o deslocamento symetrico das duas abas e
regulando a abertura á vontade do observador.”
39
Infelizmente, a cobertura original da sala da meridiana foi substituída por um telhado
fixo de zinco após uma reforma recente no prédio, perdendo-se assim este elemento, acima descrito,
sem similar em nenhum outro prédio. Já com relação à sala equatorial, ou seja, o local onde a luneta
principal do Observatório encontra-se instalada, a mesma é descrita da seguinte maneira:
“. . . é servida de uma cupola de 5 metros de diametro exterior, composta de uma
armadura mettalica formada de vigamentos de trapeira; a cobertura exterior é de folha de
ferro e o interior guarnecido de um revestimento de madeira, deixando 4,50 metros de
diametro interior; a zona de observação de 80 centimetros de abertura é fechada por uma
trapeira em duas partes accionadas por parafuso e transmissão.
A cupola repousa sobre um systema de rodas independentes, que rolam sobre
um caminho de ferro fixo à base da cupola e um caminho de ferro fixo à corôa de
alvenaria. O arrastamento é obtido por um pinhão que engrena n’uma cremalheira fixa á
cupola”.
Figura 5- Desenho esquemático da torre Equatorial.
Fonte: Desenho do Autor.
40
Com referência à torre da equatorial pode se dizer que, na verdade, é composta de
duas torres uma dentro da outra, sendo a interna em forma de tronco de cone e a externa, em forma
de cilindro (fig. 5).
É importante salientar que todas as peças que foram utilizadas na confecção da cúpula
da Equatorial, assim como as que possibilitavam o dispositivo para a abertura do teto da torre
Meridiana foram fabricadas no Instituto Técnico Profissional seguindo o projeto e as orientações do
Dr. Manoel Itaqui.
O centro da base, tanto do cilindro como do tronco de cone é o mesmo, porém este está
deslocado em relação ao eixo de simetria da fachada principal em 45 cm, e em mais 45 cm do centro
de outro tronco de cone que forma a parede dos fundos do prédio fazendo seu fechamento (fig. 6).
Figura 6- Planta Baixa Térreo com os Eixos.
Fonte: Desenho do Autor.
A construção concêntrica é para evitar a trepidação do equipamento instalado no alto
dessa torre, sob a calota metálica. Apesar de haver sido construído em data bem anterior a esse, o
Observatório de La Plata, na Argentina, visitado pelo Dr. Manoel Itaqui, apresentava justamente este
defeito, o efeito da trepidação na sala , já que próximo a ele foi construída uma linha férrea.
No caso do Observatório Astronômico de Porto Alegre este problema aparentemente
não ocorreria, porém, não se pode esquecer que a Companhia Carris Urbanos mantinha a linha de
41
bondes próxima à implantação deste prédio, o que justifica a precaução adotada pelo Dr. Manoel
Itaqui em utilizar-se de semelhante sistema.
Na torre da meridiana também foi aplicado o mesmo princípio, porém, trata-se de um
tronco de pirâmide colocado internamente a uma caixa de alvenaria (fig. 5), com fundações
independentes para evitar o mesmo efeito indesejado da trepidação, uma vez que no seu ponto mais
alto também estava colocado equipamento de alta sensibilidade, como o círculo meridiano.
A colocação de ambas as torres compartilhando os mesmos ambientes sem
compartimentações faz com que a sensação de amplidão dos espaços se acentue (fig. 7).
Figura 7- Esquema das Torres e seu invólucro externo.
Fonte: Desenho do Autor.
Analisando o prédio segundo as idéias de Rudolf Arnheim mais precisamente quanto à
verticalidade do Observatório Astronômico projetado por Manoel Itaqui, este prédio não apresenta a
42
sensação de estar enterrado no solo como o Batistério de Pizza. Quanto a esse efeito visual,
ARNHEIM (1988, p.40-44) expressa-se assim :
“O eixo dominante de um edifício predominantemente vertical encontra o chão em
ângulo reto, e como as formas lineares possuem a propriedade dinâmica de continuar
visualmente, a menos que sejam interrompidas, há tendência nesse edifício para parecer
que continua para dentro do chão.”
Manoel Itaqui conseguiu desmaterializar esta sensação através de uma base rusticada,
no térreo, com paredes mais espessas na parte inferior do que na superior.
Em seu capítulo os símbolos através da dinâmica”, ARNHEIM (1988, p.169), chama a
atenção sobre as aberturas, sejam elas janela ou porta que interrompa a superfície sólida de uma
parede de alvenaria tradicional, acabam por manifestar uma configuração positiva própria. Possuindo
a parede como pano de fundo, a abertura se destaca como forma, ainda que fisicamente represente
exatamente a falta, ou seja, é um buraco. Este destaque é ressaltado quando à janela ou à porta é
atribuída uma moldura própria, por meio de ombreiras, colunas laterais ou pilastras, cornijas, frontões
ou outro tipo de adorno. No caso específico do Observatório, Manoel Itaqui destacou as aberturas
com elementos característicos do “Art Nouveau”, como molduras nas janelas e um destaque especial
à porta principal adornando-a com elementos imitando troncos e motivos vegetais coroados por
elementos florais em sua parte mais alta. Assim como ARNHEIM (1988, p.197), destaca que a
entrada da catedral românica de Cefalú indica que a sua função principal é desempenhada no interior
do prédio, Manoel Itaqui aplica, guardadas as devidas proporções, indicação semelhante não só no
destaque da porta de acesso mas principalmente nos adornos zodiacais colocados na parte superior
do prédio.
Ao analisar a forma externa da “Torre Equatorial” pode-se dizer que ela possui uma
forma platônica segundo conceitos de Francis D. K. Ching ou seja, a forma de um cilindro.
Para CHING (1995, p.58), a figura dos sólidos de revolução é formada através dos
contornos primários que podem dilatar-se ou girar criando formas distintas, regulares e facilmente
reconhecíveis. A estas formas conhece-se como sólidos platônicos. As circunferências criam esferas
e cilindros, os triângulos cones e pirâmides e os quadrados cubos.
43
Segundo esta definição, o Dr. Manoel Itaqui adotou duas formas platônicas para a torre
Equatorial, a de um cilindro para a parte externa e a de um tronco de cone para a interna.
A análise do espaço interno, no prédio do Observatório, faz com que se perceba a
relação espacial existente, onde um espaço está totalmente contido em outro, independente do nível
do pavimento. O volume de cada torre é o espaço contido no invólucro constituído pelas paredes
externas. O espaço contido, depende do ambiente maior que o contém, em virtude das relações
diretas que este possui com o exterior.
Segundo CHING (1995, p.196), nesta classe de relação espacial o espaço maior atua como campo
tridimensional para o volume que está contido em seu interior tornando necessário que exista uma
clara diferenciação dimensional entre ambos os espaços.
2.2. O “CHATEAU” E O CASTELINHO
Para a instalação do Instituto Técnico Profissional, cuja função principal era a de “dar
educação profissional gratuita aos filhos de operários e meninos pobres”, em um local adequado, já
que o mesmo iniciara sua atividade utilizando algumas salas no porão da Escola de Engenharia, o Dr.
Manoel Itaqui projetou dois prédios, construídos e inaugurados em 24 de janeiro de 1908, quase ao
mesmo tempo com Observatório Astronômico, o primeiro deles conhecido como “Chateau” foi
idealizado para abrigar inicialmente o ensino de trabalho com madeira e metal, mais tarde abrigou o
Departamento Comercial e Industrial da Universidade Técnica. Neste prédio, funcionou por muito
tempo o Gabinete de Topografia do Instituto de Engenharia; de 1951 a 1957 foi ocupado por salas de
aulas do Curso de Arquitetura, sendo depois sede do Curso de Geologia (Ver fig.3). O Instituto
Técnico Profissional, ou ITP como era conhecido, possuía além destes prédios, outros que serviam à
parte prática, porém todos construídos em madeira à exceção da portaria do ITP que era também em
alvenaria.
A decoração externa de ambos os prédios é nitidamente “Art Nouveau”, rica em
detalhes construtivos que lembram a flora , não só nos detalhes de fachada como também nos
44
balcões das sacadas e até mesmo a fauna com a inserção de uma ave encimando o lanternim de
cada torre em destaque, em cada um dos prédios.
Ressalta-se, neste prédio, o torreão em dois pavimentos, com formato hexagonal
articulado a duas alas de um só pavimento, com pé-direito alto e embasamento rusticado, em
proporções similares ao prédio do Castelinho; de início sua ala direita serviu para Oficina de
Serralheria, sua ala esquerda para Sala de Máquinas e de Madeiras e na parte central Almoxarifado,
no térreo, e Ambulância na parte superior do Torreão. Ambulância era o termo empregado para
designar “ambulatório” (fig. 8 e 9).
Figura 8- Fachada do "Chateau".
Fonte: Desenho do Autor.
O “Chateau”, projetado e construído inicialmente com um pavimento, só muito mais
tarde teve aproveitados os 5,35 m, do alto pé direito de suas alas, com a utilização do espaço sob
telhado transformado em mansarda quando acabou ficando com dois pavimentos e com a área útil
praticamente com o dobro da original, porém, no levantamento predial realizado pelo Sr. Andrighetto
nos anos de 1927 e 1928, para a Escola de Engenharia, consta uma galeria executada em madeira,
segura nas tesouras através de tirantes de ferro o que demonstra que se procurava tirar partido, já
naquela época, do pé direito avantajado.
45
É um prédio construído em alvenaria, composta de grossas paredes autoportantes, com
fachadas muito trabalhadas e cobertura em telhas francesas sustentadas pela estrutura de madeira,
ou engradamento, apoiados sobre tesouras, estas engastadas nas paredes sobre as mísulas que
serviam para sua maior sustentação e dos equipamentos ali instalados.
Figura 9- Planta Baixa do prédio do "Chateau"com suas funções iniciais.
Fonte: Desenho do Autor.
Já o segundo prédio, sendo o menor do ITP, construído em alvenaria, foi denominado
de “Castelinho” (fig. 10), também localizado no princípio da Avenida Osvaldo Aranha esquina com a
praça Argentina, teve o início de sua construção em 1907, junto com a do “Chateau”.
Figura 10– Planta Baixa do Castelinho, também com suas funções iniciais.
Fonte: Desenho do Autor.
46
Destinou-se, inicialmente, à seção de Mecânica e o Gabinete do Engenheiro Chefe do
ITP, versão nacional das Escolas de Artes e Ofícios européias, começou a ser utilizado para estas
funções em 1908, depois passou a servir ao Departamento Comercial, Industrial e Financeiro, CIF, da
Escola, mais tarde de Biblioteca e de Gráfica da Universidade.
De concepção semelhante ao Chateau, apresenta uma só ala. O volume da edificação
é definido por um prisma com formato também hexagonal formando a torre, elemento principal na
hierarquia formal, associado a um corpo de base retangular longitudinal, mais baixo e secundário na
composição. A implantação destes dois volumes, objetos de destaque formal e também decorativo,
obedece ao princípio da linearidade em uma associação compacta.
Os planos das fachadas apresentam variada ornamentação, com predominância de
detalhes em formatos de plantas e animais, elementos decorativos, inspirados no estilo “Art Nouveau”.
O elemento de destaque na composição que, pela concepção original do prédio forma a
torre, também possui a escultura de uma águia ou condor na ponta do lanternim do telhado, além de
abrigar a entrada principal, voltada para o interior do quarteirão, em direção ao prédio da Escola de
Engenharia. Atualmente este acesso foi relegado a segundo plano e utiliza-se o acesso secundário,
voltado para a fachada do prédio do Chateau (fig. 11).
Figura 11- Fachada do Castelinho.
Fonte: Desenho do Autor.
47
No torreão, o hall de entrada, formalmente definido como hexagonal, tanto conduzia os
usuários ao corpo longitudinal no térreo, inicialmente sem divisórias e com um acesso secundário,
quanto ao piso superior através de uma escada trabalhada em madeira, único acesso vertical do
edifício.
Foi objeto de vários projetos de ampliação nenhum dos quais, felizmente , chegou a ser
executado; é dito felizmente porque ao se deixar de executá-los não foram feitas alterações
relevantes que comprometessem a arquitetura original, principalmente sua aparência externa. O
projeto de reciclagem, iniciado em 1993, gerou muitas discussões para definir os parâmetros de
intervenção. Em razão deste fato as obras de reforma somente começaram em 1996 com a
subdivisão do avantajado pé-direito em dois pavimentos. A inserção de uma laje de concreto,
engastada na alvenaria original, alterou as relações internas formais, funcionais e de proporção dos
ambientes.
Os espaços internos do pavilhão foram divididos em torno de um corredor central, com
os ambientes voltados para o exterior, onde recebiam iluminação filtrada pelos tijolos de vidro
coloridos, importados da França chamados de “pavês”. As esquadrias de madeira e ferro das portas,
associam-se aos tijolos “pavê” franceses, predominantes no preenchimento dos vãos das janelas, e
aos detalhes das fachadas.
As fundações do prédio, tipo sapatas contínuas são diretas e executadas com pedras
de granito. A alvenaria, com função estrutural, é constituída de tijolos maciços, rejuntados com
argamassa.
A cobertura, ainda original, recebeu telhas tipo francesa, em estrutura de madeira, tanto
no torreão quanto nas duas águas do corpo horizontal onde são sustentadas, como no prédio do
“Chateau”, por tesouras do mesmo tipo.
Na seção de mecânica os alunos tinham aulas práticas em ambiente espaçoso com
ferramentas, máquinas e equipamentos diversos. Além da prática de ensino eram feitos serviços para
os outros Institutos da Escola.
48
Como as demais seções do Instituto Técnico Profissional e do Instituto Parobé, também
realizava trabalhos contratados por particulares, o que era uma forma de obter recursos para a sua
manutenção e também para a Caixa de Economia dos Aprendizes. Criada em 1909, a caixa era uma
poupança proveniente das gratificações devidas aos alunos dos cursos profissionalizantes. Estas
quantias rendiam juros anuais de 5% e revertiam para os alunos, sendo possível sua retirada somente
quando os mesmos concluíssem os cursos.
Mais tarde, a edificação foi ocupada pela Biblioteca Central da Universidade Técnica e,
mais recentemente, pelo Departamento de Engenharia Nuclear da Escola de Engenharia. Atualmente
é sede do Núcleo Orientado para Inovação das Edificações, NORIE, ligado ao curso de pós-
graduação na área de Engenharia Civil. Com todas essas alterações é compreensível que tenha
sofrido muitas reformas, as quais, em sua maioria, foram internas. Externamente o prédio continua
quase como foi feito, com exceção das aberturas. Originalmente todas as janelas eram vedadas com
blocos de vidro, coloridos, vindos da França, como anteriormente citado, hoje infelizmente, apenas
poucas ainda continuam assim, foram substituídas por janelas de madeira ou de ferro.
Figura 12- Vista Frontal do Largo Paganini e a perspectiva formada.
Fonte: Foto de um dos Relatórios da Escola de Engenharia (1909), UFRGS.
49
Observando-se os três prédios do Largo Paganini a composição destes fica sendo a de
“uma perspectiva urbana” (fig. 12), tendo o Observatório Astronômico ao centro, o Chateau à direita e
o Castelinho à esquerda, com esse recurso o Dr. Manoel Itaqui procurou enfatizar o prédio com mais
detalhes, ou seja, o Observatório como ponto focal e buscou através do prédio mais próximo da
Escola de Engenharia fazer a ligação entre o conjunto e a mesma, ficando com o prédio menor a
indicação de continuidade ou de encaminhamento para o lado da Av. Osvaldo Aranha. Utilizando-se
deste recurso o Dr. Manoel Itaqui demonstra a sua criatividade como Arquiteto e sua preocupação
com a inserção urbana, fazendo com que uma face da área esteja voltada para a Praça Argentina.
Na análise dos dois prédios, “Chateau e Castelinho”, inicialmente o que chama a
atenção é exatamente a sensação oposta que domina a figura do Observatório, ou seja, destaca-se a
horizontalidade. Para ARNHEIM (1988, p.44) “pertencer ao chão ocorre não pela penetração em
ângulo reto, mas pelo paralelismo, que cria uma harmonia fácil”. Apesar de ambos os prédios
possuírem uma horizontalidade dominante, Manoel Itaqui buscou ressaltar o acesso principal destes,
através de um elemento marcantemente vertical, com uma forma totalmente diversa da utilizada na
parte horizontal. Com relação a utilização de formas regulares ou irregulares CHING (1995) diz que
através das formas aditivas ou subtrativas pode-se criar uma tensão espacial cuja classe de relação
exige que ambas as formas estejam próximas uma da outra ou que compartilhem características
visuais comuns, seja no material, no contorno ou na cor. Os exemplos básicos das formas regulares
são os sólidos platônicos.
O Engenheiro-Arquiteto Manoel Itaqui marca esta verticalidade pela utilização de um
sólido platônico, na forma de um prisma hexagonal, que serve de torre com a função principal de
salientar o acesso e servir como elemento articulador entre as duas alas, no caso do “Chateau”.
A determinação da forma construída, segundo Roger H. Clarck e Michael Pause, é feita
através da utilização da geometria do plano ou do sólido; para eles a “utilização da idéia geradora é
fundamental para orientar a incorporação das figuras básicas da geometria à forma ou ao espaço
visando definir a configuração total do prédio”. Neste caso, é possível dizer que o Dr. Manoel Itaqui
50
determinou a forma de ambos os prédios através da utilização de figuras geométricas como
retângulos e hexágonos, vistos como figuras planas na formação das plantas, ou como sólidos,
percebidos em uma vista axonométrica. Além do mais, para ARNHEIM (1988, p.114), existem
maneiras pelas quais um arquiteto mostra a tridimensionalidade de uma forma ao mesmo tempo que
preserva a frontalidade e exemplifica dizendo:
“Os edifícios hexagonais ou octogonais revelam ao observador o seu volume . . . os
artistas tiram proveito deste artifício, quando não estão vinculados às regras da
perspectiva central.”
Os três prédios juntos, o Observatório Astronômico, o “Chateau” e o Castelinho, formam
de fato um conjunto, não só por ostentar em suas fachadas o estilo “Art Nouveau” mas, também,
porque existe uma densidade no intervalo existente entre eles que cria uma relação. Com o aumento
da distância entre os prédios a densidade diminuiria e acabaria por desaparecer, com relação a este
particular, poderíamos dizer que o espaço entre eles está vazio e destruiria completamente a
perspectiva criada por Manoel Itaqui.
Referindo-se ao tipo de fachada, quanto a sua singeleza ou complexidade, ARNHEIM
(1988, p.30) diz :
“uma fachada muito simples e óbvia pode ser vista de perto sem ofender, ao passo
que uma outra rica em volumes e articulação tem uma capacidade de expansão superior
e requer, por isso, que o espectador recue de modo a assumir a posição adequada
prescrita pelo alcance da dinâmica visual do edifício”.
Isto reforça a idéia do Dr. Manoel Itaqui haver projetado os três prédios como um
conjunto, uma vez que, para serem apreciados em sua totalidade é necessário que o observador
esteja afastado, ou seja, coloque-se ao alcance da dinâmica visual o que favoreceu sobremaneira o
surgimento do largo existente. A riqueza de detalhes também determina o campo de visão.
A utilização de gráficos semelhantes aos de Roger H. Clark e Michael Pause ajudam a
identificar possíveis idéias geradoras, como nos projetos do Dr. Manoel Itaqui para os prédios do
Observatório Astronômico, Chateau e Castelinho (fig. 13).
51
Figura 13- Desenho dos três prédios em forma de Gráfico de Clark e Pause.
Fonte: Desenhos do Autor.
É possível notar-se claramente as figuras geométricas dando forma ao espaço, em
planta baixa, e definindo a configuração dos prédios. No Castelinho, primeira figura da esquerda, o
hexágono que forma a torre está bem evidente e sua ligação ao corpo do prédio é feita em dois
vértices opostos tendo como ligação uma linha de simetria implícita, mas não aparente.
Já no Observatório Astronômico, figura central, um retângulo formado pela união de
dois quadrados idênticos, na proporção de 2:1 configura a base e, a figura geométrica do círculo está
visível na planta conformando a base da torre equatorial, na fachada apresenta-se na janela da
esquerda, na porta lateral e na conformação da calota metálica no alto da torre equatorial.
No Chateau, figura da direita, o hexágono que forma a torre serve de ligação para as
duas alas e marca a entrada principal conformando três unidades contidas em um conjunto, ou seja,
dois retângulos semelhantes anexados a um elemento de conformação diferente, formando um
conjunto de espaços distintos.
52
2.3. O COLÉGIO JULIO DE CASTILHOS
Com o objetivo de formar candidatos a seus diversos cursos e os orientar
especificamente para a preparação aos Cursos Superiores, a Escola de Engenharia criou, em 1900, o
“Curso Ginasial”. Este curso iniciou suas atividades no porão da própria Escola com o nome de
“Escola Benjamim Constant”, logo em seguida, mais precisamente em 23 de março, passou a
denominar-se “Ginásio do Rio Grande do Sul”, sendo reconhecido pelo Governo Federal através do
decreto n.º 3.688 de 23 de julho do mesmo ano, e em 1905, o ginásio teve sua denominação mudada
para Instituto Ginasial do Rio Grande do Sul. Em 7 de março de 1908, passou a chamar-se “Instituto
Gymnasial Júlio de Castilhos”, homenagem feita pela Escola de Engenharia ao Dr. Júlio Prates de
Castilhos, presidente do Estado falecido em 1903.
Com o aumento do número de alunos da Escola e do “Instituto Gymnasial”, somado ao
desenvolvimento dos gabinetes e laboratórios, a necessidade da construção de um edifício
especialmente para servir a este último se fazia sentir. Foi incumbido do respectivo projeto o professor
Dr. Manoel Itaqui (fig. 14 e 15). Mais uma vez seu trabalho e criatividade são reconhecidos quando,
no Relatório da Escola de Engenharia de 1908, o secretário salienta que “. . . o Dr. Itaqui, como
sempre, deu brilhante desempenho à incumbência”.
Figura 14- Estudo para as torres do Ginásio Júlio de Castilhos.
Fonte: Foto de um dos Relatórios da Escola de Engenharia (1909), UFRGS.
53
Figura 15- Fachada do Ginásio Júlio de Castilhos.
Fonte: Foto de um dos Relatórios da Escola de Engenharia (1909), UFRGS.
O projeto previa a construção de um prédio adequado à função educacional, situado à
Av. João Pessoa e junto a Escola de Engenharia, entre esta e o Palácio da Faculdade de Direito,
fazendo dueto com o mesmo (fig. 16).
54
Figura 16- Ginásio Júlio de Castilhos ao lado do prédio da Faculdade de Direito.
Fonte: Foto de um dos Relatórios da Escola de Engenharia (1911), UFRGS.
Ao iniciar a construção em janeiro de 1908, a falta de recursos quase forçou a sua
paralisação porém, através de uma solicitação da Escola de Engenharia para a obtenção de isenção
de direitos do material a importar para esta construção, dirigida ao senador Pinheiro Machado, viu-se
atendida a mesma que foi consignada na Lei n.º 2035 de 29 de dezembro de 1908. Conseguido isso,
foi resolvido reiniciar a construção, sendo a mesma contratada com os Srs. Andrighetto e Paganini
(fig. 17 e 18).
55
Figura 17- Ginásio Júlio de Castilhos em Construção.
Fonte: Foto de um dos Relatórios da Escola de Engenharia (1909), UFRGS.
O Dr. Manoel Itaqui projetou um prédio Majestoso, com dois andares, com fachada
ricamente trabalhada e telhado característico, tendo em suas torres laterais o formato de tronco de
pirâmide cobertas com telhas de ardósia e mansarda nos corpos intermediários que faziam a ligação
com a torre central. Seu projeto possui detalhes, não só na fachada como também em planta, que
lembram um dos projetos do arquiteto François Mansart, o “chateau de Maisons ou Maisons Laffitte”,
1641/1650. Alias, a composição volumétrica tanto do prédio do Ginásio Julio de Castilhos como o da
Faculdade de Direito remete aos tradicionais “chateux” ou “hôtels” franceses, característicos do
classicismo francês dos séculos XVII e XVIII, os quais foram retomados na corrente historicista do
Academismo de finais do século XIX e início do XX.
56
Figura 18- Esquema da provável planta baixa do térreo do Ginásio Júlio de Castilhos.
Fonte: Desenho do Autor.
No começo de 1909 o edifício do “Instituto Gymnasial Júlio de Castilhos”, achava-se
quase concluído, faltando apenas, interiormente, alguns pequenos detalhes. A distribuição interna,
baseada nos princípios de higiene e conforto, a fachada de um primoroso gosto arquitetônico para os
padrões da época atestam em alto grau o gênio criador de seu idealizador, a construção foi concluída
em 1911. Serviu para “Instituto Gymnasial Júlio de Castilhos” até 1951 quando incendiou, só sobrando
as paredes mais espessas, que foram aproveitadas para a construção do prédio da atual Faculdade
de Ciências Econômicas. Infelizmente o incêndio destruiu aquela obra prima da arquitetura.
Analisando o prédio do antigo ginásio Júlio de Castilhos nota-se que sua planta é linear
e com uma simetria marcante. Em relação as organizações lineares em planta CHING (1995, p.76),
comenta que este tipo de organização é composto por uma série de espaços e estes
interrelacionados diretamente ou interligados por outro espaço também linear e independente. Esta
organização poderá ser composta por espaços repetidos, similares em tamanho, forma e função ou se
constituir de um espaço linear que distribui em seu comprimento um conjunto de espaços diferentes
porém, em ambos os casos, cada um dos espaços possui uma exposição ao exterior. A planta do
ginásio Júlio de Castilhos, projetada pelo Engenheiro-Arquiteto Manoel Itaqui, possui sua
conformação exatamente como está descrita na primeira organização, sendo que o elemento que faz
57
a interligação dos espaços é o grande corredor, também linear. A similaridade dos espaços é
conseguida através da perfeita simetria.
Segundo CHING (1995, p.76), “em razão de seu comprimento, as organizações lineares
marcam uma direção e produzem a sensação de movimento, de extensão e de crescimento”. Para
frear esta sensação de crescimento o Dr. Manoel Itaqui finalizou esta organização linear com um
espaço de forma dominante nas duas extremidades do prédio e uma mais diferenciada, contendo a
circulação vertical localizada no centro, marcando o eixo de simetria inclusive externamente com
grossos pilares no acesso principal. Com relação ao volume destes espaços diferenciados utilizou
torres nas extremidades coroadas por troncos de pirâmide e uma alta cúpula na torre central.
Para Clark & Pause o espaço também linear que faz a interligação dos demais espaços
em uma configuração deste mesmo tipo é chamada de espinha. É normalmente um espaço de
serviço que dá acesso aos outros espaços independentes e permite que se agrupem até partes sem
vinculação direta. Na maioria das vezes a espinha estará oculta no prédio, ou melhor, será interna e
assim passa a ser um corredor com acesso lateral duplo ou simples; possibilita disposições simétricas
ou assimétricas em toda a sua extensão, não é hierárquica, não tem um comprimento fixo, seus
limites são definidos em função daqueles espaços a quem serve.
Através do gráfico (fig. 19) é possível reconhecer, em planta, os espaços contíguos,
interligados por um espaço maior e estreito, a espinha ou corredor, que os une mesmo que estes
possuam funções diferenciadas. Suas formas geométricas agregadas determinam um gênero de
relação onde o conjunto é maior que a soma destas unidades e a simetria tem papel fundamental.
As figuras geométricas das pontas, nesta configuração linear, são as torres laterais que
fazem um acabamento, impedindo a continuidade da espinha ou corredor, fazendo com que o mesmo
termine em um elemento com certa importância no conjunto determinando assim uma hierarquia.
Cabe, neste caso, ao volume central que marca o eixo de simetria o mais alto grau
nesta hierarquia, bem como aportar a circulação vertical em seu interior e fazer a distribuição do fluxo
da circulação no sentido das torres laterais.
58
Figura 19- Esquema gráfico demonstrando a Configuração Linear em planta.
Fonte: Desenho do Autor.
16
Relatório da Escola de Engenharia referente ao ano de 1909, apresentado ao Conselho Escolar em 31 de janeiro de 1910,
p.31 – seção referente à Escola de Engenharia.
59
2.4. O INSTITUTO DE ELETRO-TÉCNICA
O prédio do Instituto de Eletro-técnica foi construído de 1908 a 1910 e está situado à
Rua Sarmento Leite esquina com Osvaldo Aranha. Destinava-se a abrigar os laboratórios e os
equipamentos do Curso de Engenheiros Mecânicos e Eletricistas, criado pela reforma dos Estatutos
em 7 de março de 1908 e funcionou no primeiro ano no edifício central da Escola de Engenharia.
Pela necessidade de atender às características especiais que este curso apresenta e
para dar melhores condições de acomodação, decidiu-se então construir um prédio especial onde
fosse instalada uma usina elétrica e montados os principais tipos de motores conhecidos bem como
uma coleção dos aparelhos elétricos necessários ao estudo (fig. 20). Esta construção, cujo projeto
coube ao ex-aluno e professor da Escola o Engenheiro-Arquiteto Manoel Itaqui, teve seu início em
janeiro de 1908, sendo previsto, no projeto original, um prédio com dois pavimentos.
Figura 20- Fachada do Instituto de Eletro-Técnica.
Fonte: Foto de um dos Relatórios da Escola de Engenharia (1909), UFRGS.
Sua construção foi concluída em 1910, havendo sido contratada para sua construção os
Srs. Andrighetto e Paganini; ao Dr. Manoel Itaqui coube, além do projeto, a direção e fiscalização da
60
obra. Este prédio conhecido como Instituto de Eletro-Técnica recebeu mais tarde, em 1922, a
denominação de Instituto José Montaury (fig. 21), homenagem feita pela Escola de Engenharia ao Dr.
José Montaury de Aguiar Leitão, Intendente Municipal de Porto Alegre. O equipamento inicial, ali
instalado, era o mais avançado da época, já possuía, por exemplo, instalada uma Central
Termoeléctrica completa, com uma enorme chaminé, infelizmente demolida nos anos 70.
Figura 21- Prédio do Instituto José Montaury.
Fonte: Foto de um dos Relatórios da Escola de Engenharia (1910), UFRGS.
Sofreu sua primeira ampliação em setembro de 1912, dois anos após sua inauguração,
realizada pelo próprio Dr. Manoel Itaqui, aumentando em 2/3 (dois terços) sua capacidade. A respeito
desta ampliação, o engenheiro chefe deste Instituto em seu relatório anual escreve:
“. . . Esta nova construcção, como a anterior, foi confiada ao Dr. Itaqui, conservando
o mesmo estylo da anterior sem haver solução de continuidade nas fachadas laterais”.
61
Em 1951 foi-lhe acrescentado, a exemplo do que ocorre com o prédio da Engenharia
mais 1 pavimento, que não estava previsto nem no projeto original e nem na ampliação realizada pelo
Dr. Manoel Itaqui (fig. 22).
Figura 22- Prédio do Instituto José Montaury ampliado.
Fonte: Foto de um dos Relatórios da Escola de Engenharia (1911), UFRGS.
Foi um dos primeiros cursos de Eletro-Técnica no Estado e a Escola de Engenharia
tinha a convicção de ser este o caminho para o desenvolvimento, da mesma forma o curso de
Mecânica traria benefícios à população de uma forma imediata, já que o automóvel começava a
circular pela Capital que se modernizava dia a dia e o curso teria condições de formar e colocar no
mercado de trabalho desde o chamado “chauffeur”, ou seja, motorista até o Engenheiro Mecânico.
Ainda em fase final de construção, o prédio onde o Instituto José Montaury seria
instalado, achava-se já em montagem no pavimento inferior, a caldeira, o motor e o dínamo que
constituiriam a usina elétrica da Escola, para o suprimento de energia às oficinas e gabinetes, usina
62
esta que contaria com a força de 60 cavalos, estando já encomendados outra caldeira, motor e
dínamo da mesma força para servirem de reserva.
Durante o ano de 1908 e princípios de 1909 a energia para os motores elétricos das
oficinas do Instituto Técnico Profissional, bem como a luz, era fornecida pela Companhia Fiat Lux.
A construção de um prédio especial para o Curso de Eletro-Técnica (fig. 23) era
motivada também pela intenção de reduzir custos com as elevadas despesas mensais e enfrentar a
diferença entre a voltagem das linhas da Companhia, 220 volts, e a voltagem dos motores das
oficinas, 110 volts, assim, em março de 1909, decidiu a Escola de Engenharia instalar uma pequena
usina elétrica própria, mas de caráter provisório, pois estava encomendado na Europa o material
necessário para a instalação de uma usina definitiva no Instituto.
63
Figura 23- Planta Baixa do prédio ampliado.
Fonte: Desenho do Autor.
Foi adquirida uma locomóvel, equivalente hoje a um grupo gerador, da marca Lanz,
com força de 9 cavalos e um dínamo timbrado com 130 volts, e 6,4 KW. Este grupo permitiu uma
instalação econômica, porque o combustível consumido era na sua quase totalidade constituído pelos
restos de madeira e aparas das oficinas de carpintaria e marcenaria, oferecendo facilidade para dar
aos alunos do Instituto a prática do modo de conduzir as máquinas a vapor, reduzindo a despesa a
1/3 (um terço) aproximadamente da que até então se fazia. Para a acomodação da locomóvel e
dínamo foi construído um telheiro em um ponto afastado do prédio de alvenaria.
64
O Instituto José Montaury é instalado no prédio de alvenaria que originalmente tinha
cobertura de telhas francesas, e no pavimento superior fora instalada a seção de Artes Gráficas, mas
em 1951 foi construído mais um pavimento e a cobertura foi substituída por um terraço, para
aproveitamento do Curso de Eletrônica.
A análise da planta do prédio da Engenharia Elétrica destaca uma organização de
espaços contíguos. A sua localização em uma esquina e com um ângulo inferior a 90º entre uma ala e
outra provocou uma conformação singular. O acesso principal bem marcado na esquina, provocando
um chanfro acaba por tornar sua planta mais particular.
Para CHING (1995, p.200), “o modelo de relação espacial mais freqüente é a
continuidade; esta permite uma clara identificação dos espaços e estes respondam, de maneira
idônea a suas exigências funcionais e simbólicas”.
Esta foi a opção adotada pelo Dr. Manoel Itaqui para o projeto do prédio da Engenharia
Elétrica que poderá, a princípio, passar a impressão de linearidade dividida por cada ala porém,
existem acessos que só são possíveis de um espaço ao outro de forma direta, ou seja, sem a
utilização do corredor ou espinha como chamam CLARCK & PAUSE.
Ainda segundo CHING (1995, p.200), “o grau de continuidade espacial e visual entre
dois espaços contíguos se submeterá às características do plano que os une e/ou os separa” e este
plano divisor pode limitar tanto o acesso físico como o visual, ou os dois ao mesmo tempo, reforçando
sua respectiva identidade e fixando suas diferenças.
65
2.5. O LABORATÓRIO DE RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS
Em 1910 foi construído um prédio situado à Av. Osvaldo Aranha, 277 quase na esquina
da Av. Paulo Gama para ensaios tecnológicos da Escola de Engenharia conhecido como gabinete ou
Laboratório de Resistência dos Materiais.
No período compreendido entre o final do século XIX e a primeira década do século XX
as Escolas de Engenharia de maior destaque eram as da Capital Federal, Rio de Janeiro, as de São
Paulo, ou seja, as Escolas Politécnicas e a de Porto Alegre, todas procuravam atualizar seus
laboratórios com o que havia de mais moderno em termos de equipamento.
Demonstrando sua preocupação sobre este fato o Diretor da Escola de Engenharia
manifesta-se da seguinte forma em seu relatório anual de 1909
16
:
“Uma das secções que por emquanto existe com proporções muito
modestas e que é necessário desenvolver de modo a poder prestar serviços, não só ao
ensino da Escola mas também ao Estado, é o Gabinete de Resistência dos Materiais. A
agora podemos dizer que aqui nada há feito sobre este assumpto, sendo de lamentar
que, tão rico em materiais de construcção, quer naturaes quer artificiaes, ainda não tenha
o Rio Grande do Sul um gabinete para a determinação das necessarias constantes
especificas de modo a poder-se projectar com segurança e economia qualquer
construcção”.
Da mesma forma, manifestando também sua preocupação com a economia e o
possível desperdício e material e traçando um paralelo com o que havia visto sobre o assunto no
exterior o Dr. João Ferlini
17
escreve na “EGATEA”, em 1914 :
“Para o Rio Grande do Sul, a criação deste laboratório vem preencher
uma lacuna que desde muito se fazia sentir . . .Pode-se aquilatar da importância de um
Laboratório de Resistência dos Materiais quando se pensa que no estrangeiro as
Administrações dos Trabalhos Públicos, do Exército, da Armada, das estradas de ferro,
as grandes fábricas, etc., ou mantém laboratórios próprios para exames de todo o
material recebido ou produzido, ou então fazem acompanhar por pessoal seu o fabrico do
material encomendado e bem assim as provas de resistência a que é submetido depois
do que somente, verificado que satisfaz as condições estabelecidas em contrato, é
aceito”.
17
Revista EGATEA julho-agosto de 1914 vol. I n.º 1 p.11-15, texto assinado pelo Dr. João Ferlini.
66
O Laboratório de Resistência dos Materiais (fig. 24) que a Escola de Engenharia monta
neste novo prédio, ocupa um salão de 10 m X 20 m, tendo outras dependências anexas. As Máquinas
destinadas ao laboratório foram recebidas e permitiram a execução de qualquer experiência referente
ao assunto. Foram fornecidas por uma das melhores casas alemãs, especialista no fabrico deste
material. Dessas fábricas podemos destacar como mais conhecidas, naquela época, as de Amsler e
Zaffm, da Suiça, e Mohr & Tederhaff, da Alemanha. A primeira foi fornecedora do Laboratório de
Resistência da Escola Politécnica de São Paulo, a segunda organizou e forneceu o da Escola de
Engenharia de Porto Alegre
18
. Em seu editorial a revista EGATEA
19
informa que será dado o nome
de “Pavilhão Parobé” ao prédio do Laboratório de Resistência dos Materiais em homenagem ao
Engenheiro Dr. João José Pereira Parobé, falecido às 18:00 horas do dia 9 de dezembro do mesmo
ano.
Figura 24- Planta Baixa do LRM publicada na EGATEA - 1914.
Fonte: Desenho do Autor.
18
Revista EGATEA julho-agosto de 1915 vol. II n.º 1 p.37-41, texto assinado pelo Dr. Hans Emílio Goetze.
19
Revista EGATEA novembro-dezembro de 1915 vol. II n.º 3.
67
O Laboratório de Resistência dos Materiais entra em funcionamento, precariamente, no
ano de 1913. Foi nomeado para chefe do mesmo o Dr. Hans Emílio Goetze que, em junho de 1915,
vai a São Paulo conhecer o laboratório da Escola Politécnica. Em 1918 o Dr. Duilio Bernardi assume
como responsável. Somente após a 1ª Grande Guerra consegue, o laboratório, entrar em pleno
funcionamento e em estreito contato com o da Escola Politécnica de São Paulo.
Em 1935, quando da criação da Universidade, ele se torna independente e reconhecido
como Instituto Tecnológico do Estado do Rio Grande do Sul ou corriqueiramente chamado de
ITERGS. Em 1942 torna-se um laboratório para a Indústria e Comércio, quando efetua o controle
sistematizado do uso do concreto e da produção de aço para a construção civil no Estado.
Com a mudança do ITERGS, para um complexo próprio e passando a denominar-se
CIENTEC, o prédio passa a sediar o Curso de Curtumes e Tanantes com a instalação, no seu interior,
do Laboratório Experimental de Curtumes ligado ao Curso Superior de Tecnólogos que faz parte da
disciplina de Tecnologia Orgânica, de grande importância para a produção de couros no Estado. Em
1994 é interditado por falta de condições de segurança. Hoje, após sua restauração, foi reciclado para
o Museu da Universidade (fig. 25).
Figura 25- Fachada do prédio do Laboratório de Resistência dos Materiais, LRM.
Fonte: Foto de um dos Relatórios da Escola de Engenharia (1911), UFRGS.
68
O projeto deste prédio é creditado ao Engenheiro-Arquiteto Manoel Itaqui e cabe aqui
salientar o que escreveu a Arquiteta Débora Magalhães, que foi Diretora do Instituto do Patrimônio
Histórico do Estado, IPHAE, ao realizar o levantamento cadastral deste prédio entre os meses de
outubro e novembro de 1999 quando ministrava o Curso de Auxiliar Técnico em Restauração de Bens
Culturais – SENAC/RS, assim ela registra em seu trabalho: “não há, em qualquer órgão público da
cidade de Porto Alegre, documentação específica referente ao imóvel . . . a própria Universidade. . .,
entende como perdido todo e qualquer registro sobre esta edificação”.
Infelizmente, mais uma vez, a documentação original, como plantas, cortes e elevações,
está irremediavelmente perdida porém, as descrições feitas nos relatórios da Escola de Engenharia
auxiliam para que se tenha uma noção de seu projeto; cabe salientar que no Relatório de 1912, na
seção relativa a Escola, no tópico referente aos Gabinetes, Laboratórios e Oficinas do Instituto de
Engenharia, havia previsão para construção de um prédio destinado ao Laboratório de Resistência
dos Materiais porém, com dimensões de 12,00mX22,00m, um pouco maior do que foi construído.
Figura 26- Prédio do antigo Laboratório de Biologia no Instituto de Agronomia e Veterinária.
Fonte: Foto do Levantamento Predial da Escola de Engenharia (1927/28), UFRGS.
A bibliografia existente e pesquisada, tanto pela Arquiteta Débora quanto para este
trabalho, acabou resumindo-se ao que foi publicado pela Escola de Engenharia. Conhecido o número
69
total de projetos e obras executadas pelo Dr. Manoel Itaqui e com a análise feita dos prédios, já que
estando todos eles ainda em utilização, sem que se tenha perdido nenhum dos exemplares e, apesar
dos mesmos estarem em diferentes estágios de degradação, o exercício da comparação permite
definir que existe uma semelhança muito grande entre a fachada do Laboratório de Resistência dos
Materiais e outros prédios, também projetados pelo Dr. Manoel Itaqui. Entretanto, construídos por um
colega seu, o Dr. Silvio Barbedo, que são: o Laboratório de Biologia; este prédio teve sua função
alterada, alguns anos depois, para cavalariça, situado no complexo da Agronomia e Veterinária (fig.
26) é um prédio muito semelhante ao do primeiro Hospital Veterinário, projetado pelo mesmo
Engenheiro-Arquiteto (fig. 27).
Figura 27- Prédio do primeiro Hospital Veterinário.
Fonte: Foto do Levantamento Predial da Escola de Engenharia (1927/28), UFRGS.
O laboratório de Resistência dos Materiais se desenvolveu inicialmente só com um
pavimento com cobertura em telhas do tipo francesa, em duas águas, sustentadas por tesouras
denominadas por treliças “Polonceau”, havendo a colocação de forro em madeira para diminuir o frio
no ambiente no período de inverno. Hoje o entrepiso, que outrora formava um mezanino de madeira,
colocado provavelmente quando o prédio sediava o Curtumes e Tanantes e estava, ocupando
70
parcialmente a área coberta, foi substituído por uma estrutura metálica para melhor adequar o prédio
a sua nova função que é a de museu (fig. 28).
Figura 28- Planta Baixa do Térreo. Laboratório de Resistência dos Materiais.
Fonte: Desenho do Autor.
A análise do projeto deste prédio deve passar obrigatoriamente por dois momentos
distintos sendo, primeiro a criação de um espaço único, como um grande retângulo, que serviu para
abrigar as máquinas e o Laboratório de Resistência dos Materiais da Escola de Engenharia, o
segundo foi a sua ampliação com a adição de novos espaços para abrigar a oficina mecânica, salas
de aula e seções de ensaios físicos e área administrativa.
71
Inicialmente o prédio teve um único grande espaço de 10,00mX20,00m, provavelmente
idealizado conforme a adição de dois quadrados, combinados na proporção de 2:1 conformando
assim um retângulo, ou como diriam CLARCK & PAUSE (1987) através da “união de geometrias
distintas”.
Criado o espaço com a função específica de ser um laboratório surgiu a necessidade da
criação de novos espaços para atender a parte administrativa, devido ao aumento das análises
realizadas neste local destinado só aos experimentos, assim a adição de novos espaços foi a solução.
O resultado final gerou uma relação que vincula espaços conexos que segundo CHING
(1995, p.198) “consiste em que seus campos correspondentes se interpenetrem gerando uma zona
espacial compartilhada”. O que faz com que os volumes entrelaçados, segundo este modelo,
conservem cada um deles sua identidade e definição espacial, se bem que a organização volumétrica
resultante será objeto de várias interpretações. O espaço de entrelaçamento acaba por desenvolver
sua própria individualidade e ser um volume que une os demais espaços iniciais (fig. 29).
Figura 29- Figura esquemática que demonstra o espaço de entrelaçamento.
72
Fonte: Desenho do Autor.
2.6. O INSTITUTO DE AGRONOMIA E VETERINÁRIA
Sendo o Rio Grande do Sul, ao final do século XIX e início do XX, um Estado
eminentemente agropastoril, necessitava avançar tecnologicamente nesta área incentivando a
agricultura e a pecuária. É dentro desta perspectiva que é criado o primeiro Curso de Agronomia.
Em 1898 quando da criação, pela Escola de Engenharia, do Curso Superior de
Agrimensura, já se encontrava latente o desejo de criar um curso voltado à agricultura e pecuária
visando o desenvolvimento do Estado. Este curso, passados alguns anos, foi em seguida
transformado em Curso Superior de Agronomia e Veterinária. As suas aulas teóricas eram ministradas
no prédio sede da própria Escola e as aulas práticas dadas na Estação Experimental que se
localizava na Chácara das Bananeiras, no bairro Partenon, onde hoje está o Presídio Central e os
prédios da Brigada Militar de Porto Alegre; a distância entre esses estabelecimentos de ensino
dificultava o aprendizado devido ao necessário deslocamento de seus alunos.
A partir de 1906, segundo relatório da Escola de Engenharia, aumentava o interesse e a
intenção de aglutinar em um só local o ensinamento teórico e prático, criando-se assim um Instituto de
73
Agronomia e Veterinária, que receberia em 1918 o nome de Instituto Borges de Medeiros em
homenagem ao Dr. Antonio Augusto Borges de Medeiros instituição destinada ao ensino e à
modernização da agricultura e pecuária no Estado. Isto se concretizaria graças ao esforço da
comunidade, do Governo do Estado e da União.
É possível caracterizar com clareza esta preocupação quando, em 1911, o secretário
deste Instituto escreve em seu relatório anual, dirigido ao Diretor da Escola de Engenharia, o Dr. João
José Pereira Parobé, que por diversas vezes em anos anteriores, havia salientado esta necessidade:
O Curso de Agronomia e Veterinária, comprehendido no Instituto de Engenharia, logo
que seja possível, constituirá o Instituto de Agronomia e Veterinária”, e salienta ainda que o Dr.
Parobé já havia manifestado a mesma intenção, por escrito, nos relatórios de 1908 e 1909, até que
em 1910, graças ao apoio do governo do Estado foi permitido declarar definitivamente estabelecido
este Instituto. Houve, também no mesmo ano, o reconhecimento do referido Instituto, por parte do
Governo Federal, através do decreto n.º 8516. Este pequeno trecho evidencia mais uma vez a
importância dada e a necessidade da implantação de um Curso Superior de Agronomia e Veterinária
pela Escola e que este curso necessita de um local próprio para sua instalação.
74
Figura 30- Planta de Localização do Instituto de Agronomia e Veterinária.
Fonte: Desenho do Autor.
Em 8 de fevereiro de 1910 criou-se o Instituto de Agronomia e Veterinária, deu-se então
início à construção do prédio sede deste Instituto, unidade principal do complexo (fig. 30) projetado
pelo Engenheiro-Arquiteto Manoel Itaqui, localizado no Km 9 da estrada do Mato Grosso, hoje Av.
Bento Gonçalves. Suas aulas iniciaram no mesmo ano já em prédio próprio, porém, provisoriamente,
recebendo como seus primeiros alunos os integrantes dos cursos de Capatazes Rurais e de
Agrônomos, correspondentes, à época, às escolas médias ou técnicas.
A construção do prédio durou até o final de 1911 e a mudança definitiva dos Cursos
Superiores, ou seja, Curso de Engenheiros Agrônomos e de Medicina Veterinária, ocorreu em 24 de
março de 1912, na época o complexo foi denominado de Instituto Borges de Medeiros.
A distância do centro da Capital seria compensada não só pela beleza do local, mas
também pela possibilidade de, em um só lugar, reunir e expandir suas atividades. Materiais e
equipamentos são adquiridos no exterior, técnicos estrangeiros são contratados para ministrar aulas
teóricas e práticas nos moldes das escolas americanas e européias.
O prédio projetado e construído para o Instituto de Agronomia e Veterinária é um prédio
de concepção interessante, com as alas formando um desenho semelhante ao formato da letra “E”,
mas os espaços intermediários eram cobertos, criando enormes áreas livres para a circulação, com
grandes arcos na fachada frontal e enormes aberturas na fachada posterior. Além da beleza que
possuía, internamente, destaca sua suntuosidade até pelo local onde está implantado. Por não ter ao
seu redor nenhum outro prédio que lhe faça sombra, pois os poucos ali existentes são de altura
inferior à sua, credita ao mesmo características de monumento (Fig. 31).
Toda a sua cobertura é feita em telhas de barro do tipo francesas. Inicialmente o porão
era quase um labirinto cheio de pequenas peças e corredores.
Desde sua construção o prédio sofreu muitas e importantes reformas internas, externamente pouco
mudou. É um prédio de grandes proporções que conta atualmente com uma área total aproximada de
4.000 m
2
e localiza-se na Av. Bento Gonçalves n.º 7712, antiga Estrada do Mato Grosso.
75
Figura 31- Isométrica de Manoel Itaqui para o Instituto Agronômico e Veterinário.
Fonte: Foto de um dos Relatórios da Escola de Engenharia (1909), UFRGS.
É possível identificar em planta a divisão em cinco partes, que se identificam claramente
na fachada principal; uma parte central, duas intermediárias e duas laterais (Fig. 32).
Figura 32- Esquema da divisão em partes da Planta Baixa do Térreo.
Fonte: Desenho do Autor.
76
Pode-se notar também a preocupação em dar ritmo às fachadas através das aberturas
e das marcações das pilastras. Tudo isso mantém um visual harmonioso em todas as fachadas e
procura dar movimento e leveza na fachada principal, na qual, destacam-se dois grandes arcos
abatidos que indicam a localização exata dos grandes terraços que compõe os corpos intermediários
e que possibilitam iluminação natural e ventilação cruzada a todo o prédio fazendo par com as
grandes aberturas na fachada dos fundos. Platibandas, Frontões e ornamentações simples, sem
exageros, como frisos, compõe a bela fachada. Apesar da massa construída, seus frisos e a grande
quantidade de janelas transmitem leveza nas fachadas, tanto na frontal, quanto nas laterais (fig. 33).
Figura 33- Fachada do Instituto Agronômico e Veterinário.
Fonte: Foto de um dos Relatórios da Escola de Engenharia (1913), UFRGS.
Acha-se, esse prédio, isolado no local onde se assenta, permitindo assim receber
iluminação e ventilação adequadas às suas necessidades. As aberturas nas fachadas laterais são
retangulares, com altura alongada em relação a largura; elementos cerâmicos, como pingadeiras,
fazem seu acabamento no parapeito. Sua localização, seguindo orientação leste oeste, faz com que
77
se obtenha a melhor iluminação e aeração possível durante todo o período diurno às salas e
laboratórios nelas dispostos.
A simetria, do prédio, era perfeita porém com o passar dos anos, mudanças ocorreram,
funções foram transferidas de local e não mais se restabeleceu a igualdade e proporções em suas
laterais. Por sorte, muito do que havia na composição planimétrica ainda permanece com
características quase originais.
Em seu conceito sobre beleza arquitetônica Alberti diz: “Beleza é a harmonia de todas
as partes dentre um corpo, de forma que nada possa ser adicionado, removido ou modificado, senão
para piorar “
20
.
Mais uma vez, a produção do Engenheiro-Arquiteto Manoel Itaqui apresenta as
qualidades indicadas por Alberti, pois suas obras praticamente não receberam modificações e quando
isso ocorreu, como no caso do Instituto de Agronomia e Veterinária que recebeu um acréscimo lateral,
anos mais tarde, o resultado foi desastroso, acabando com o perfeito equilíbrio que o prédio possuía.
A existência de um eixo marcando a entrada principal, os volumes intermediários com a
distribuição da circulação, estes com pés direito duplos deixando à mostra o belo madeiramento da
cobertura com sua treliças “Polonceau”, as salas de aula e gabinetes marcam uma clara setorização
nos volumes laterais contribuindo para este equilíbrio.
Infelizmente, com a retirada das clara bóias, ou seja, da iluminação zenital no telhado
dos corpos intermediários, os ambientes orientados nos sentidos norte sul sofreram com a falta de
iluminação adequada, exigindo assim um maior consumo de energia atualmente, já que a iluminação
artificial se mantém acesa por longos períodos.
Ao olhar-se para as plantas do Instituto de Agronomia e Veterinária, projetadas por
Manoel Itaqui, percebe-se com clareza que o mesmo buscou, além da óbvia simetria, a
proporcionalidade dos espaços e sua perfeita integração, tendo o cuidado de dividir o prédio em
20
Alberti, livro 6, cap.2
78
tantas partes quantas necessário fosse para atender ao programa de necessidades, porém, sem
perder a unidade mesmo deixando grandes espaços com pé direito duplo, espaços que serviam para
exposições e para festejos, os quais ele denominou como sendo Varandas.
Seu projeto e sua construção trouxeram inovações significativas na época: a água de
boa qualidade era captada a 40 metros de altura, em um morro próximo, transportada por condutos
forçados e distribuída, não só ao prédio sede, mas a todos que formavam o complexo. Algo
semelhante acontecia com relação ao gás, que também era canalizado, vindo este do gasômetro
instalado próximo ao prédio central e distribuído a todos os laboratórios.
Uma bem montada usina elétrica, com gerador próprio, fornecia luz e energia elétrica
para o prédio principal e outras dependências, usina esta, localizada fora do corpo do edifício
principal, no porão alto de uma das residências para professores vindos de fora (Fig. 34).
Figura 34- Usina elétrica provisória montada no Instituto de Agronomia e Veterinária.
Fonte: Foto de um dos Relatórios da Escola de Engenharia (1913), UFRGS.
Melhor comprovação desta afirmativa se encontra no Relatório da Escola de
Engenharia de 1913, no capítulo destinado ao Instituto de Agronomia e Veterinária, onde consta:
79
A iluminação é distribuída por 134 lâmpadas, em 47 compartimentos, com um total de
5570 velas (ou seja, mais 1474 que a iluminação pública de Caxias)”. Esta observação se refere, é
claro, à cidade de Caxias do Sul no ano do referido relatório.
Estas instalações eram todas elegantes e racionalmente executadas; levando-se em
conta que a regulamentação para a utilização da energia elétrica só viria a se efetivar anos mais
tarde, com o que foi pesquisado, pode-se dizer que a qualidade no serviço e o avanço tecnológico
conseguidos foram muito expressivos para uma época em que ainda se utilizava o querosene na
iluminação pública.
Conhecer o interior deste prédio, como era antigamente, é como uma aventura no túnel
do tempo. Devido à grande competência do Secretário da Escola de Engenharia que procurou fazer
uma descrição a mais detalhada possível após sua inauguração e dissecou-o como se estivesse
fazendo o percurso por todo prédio
21
. Pode-se dizer que a descrição feita, neste trabalho, enfatiza os
elementos arquitetônicos de maior relevância do projeto deixando de lado detalhes que seriam
desnecessários no momento, descrevendo o prédio como fora concebido através de suas plantas
baixas (fig. 35, 36 e 38).
21
Relatório da Escola de Engenharia referente ao ano de 1913, apresentado ao Conselho Escolar em 31 de janeiro de 1914,
p.9-27, seção referente ao Instituto de Agronomia e Veterinária.
80
Figura 35- Planta Baixa, Térreo do Instituto de Agronomia e Veterinária.
Fonte: Desenho do Autor.
2.6.1 Pavimento Térreo
Era composto por 1 Hall de entrada ou vestíbulo e 1 sala de espera; 4 salas destinadas
à administração, sendo uma a portaria a outra o Gabinete de Topografia e 2 administrativas; 2
gabinetes ligados a área de Biologia animal e 7 laboratórios muito bem iluminados naturalmente
através das aberturas; 1 Museu depósito onde era guardado o maquinário agrícola e 1 sala de aula
especial para estudo e experimentos de química, perfazendo um total de 17 salas neste pavimento; 2
grandes áreas com pé direito elevado chamadas de Varandas. É importante salientar que, nesse
último ponto, observa-se que o prédio possui uma fachada interna voltada para as Varandas que são
iluminadas, não só pelos grandes vãos dos arcos abatidos mas também pelas clarabóias colocadas
81
no telhado, fazendo com que a iluminação zenital e o alto pé direito produzam a sensação de se estar
entrando em uma catedral, onde essa luz difusa acentua as formas.
No piso de uma destas varandas, a laje possuía uma grande abertura, com guarda-
corpo ao seu redor, sendo a mesma utilizada para os alunos assistirem as aulas práticas que eram
ministradas no andar inferior. A disposição periférica das salas e a forma obtida neste projeto como se
formasse a letra “E”, propiciou a criação de uma fachada interna e duas passarelas que possibilitam o
acesso às salas localizadas em frente às duas varandas.
A circulação vertical é feita em três pontos no prédio, do subsolo ao pavimento térreo,
pelas laterais do Museu depósito e do pavimento térreo para os andares superiores, internamente
junto às fachadas principal e posterior.
Possuem excelente iluminação natural o “Gabinete de Administração” e a “Sub-
secretaria”, que são contíguos ao “Gabinete de Topografia” e a “Portaria”, recebendo iluminação
natural tanto pelas janelas externas, direto do exterior do prédio, como pelas janelas internas.
A grande quantidade de aberturas, nas laterais, revela que 25% da massa construída
em cada lateral é composta por vazios, ou seja, são grandes janelas. Esse fato ocorre em ambas as
laterais. Na fachada principal, apesar do prédio ser do começo do século XX, o que deveria
caracterizar uma construção de grande massa construída e poucas aberturas também o percentual é
elevado. A relação entre cheios e vazios, “neste caso”, demonstra o cuidado especial do projetista
com o conforto térmico, uma vez que havia a permanência de um grande número de pessoas no
interior do prédio por longos períodos do dia.
Nas laterais existem 44 janelas, 22 em cada, distribuídas em dois pavimentos e meio, já
que o subsolo, como é considerado o pavimento inferior, encontram-se em menor número, em função
do terreno ter um forte declive e parte desse pavimento ser o alicerce do pavimento térreo. Essas
janelas são bem proporcionadas com um vão de 1,20m x 2,40m formando um retângulo, composto
por dois quadrados, nas proporções de 2:1. Na fachada principal dois grandes arcos abatidos indicam
os locais onde a ventilação principal de todo o prédio produz mais efeito. A fachada principal, que está
82
voltada para a Estrada do Mato Grosso, hoje Av. Bento Gonçalves, onde se situa o acesso à Direção,
administração etc, tem como orientação o Sul, enquanto que a fachada posterior é voltada para o
Norte, sendo que é no sentido deste eixo Norte/Sul que se abrem os dois grandes vãos nos espaços
intermediários, permitindo ótimas condições de aeração.
O “Laboratório de Bacteriologia” possuía uma instalação servida com água e gás
canalizados das respectivas instalações gerais; um grande termostato ocupava uma das faces da
sala, sendo que nas paredes restantes está encostada uma série de mesas, também servidas por gás
e água, destinadas ao trabalho de microscopia. O cuidado para com aparelhos, instrumentos e
utensílios era grande naquela época, pois eram acondicionados em um armário grande, envidraçado,
ficando assim preservados do pó e do ar.
Neste laboratório executaram-se vários trabalhos e diversas pesquisas sobre doenças
de animais para verificar e confirmar o diagnóstico de várias enfermidades, como por exemplo a
piroplasmose ou tristeza bovina, detectada através de exame de sangue do gado infectado. Este
laboratório estava montado com aparelhos aptos para o trabalho de anatomia microscópica.
O “Laboratório de Química Agrícola e Bromatologia” era amplamente iluminado natural
e artificialmente e fartamente arejado: a temperatura interna da sala era facilmente regulada através
da abertura ou fechamento das bandeiras das portas que, aproveitando a circulação de ar da varanda
a que tinha acesso, fazia com que esta se alterasse. Ocupava uma área de 68,80 m² utilizada com
mesas modernas, abastecidas de água e gás, servidas por grandes pias e esgotos; pequenas mesas
de cimento armado revestidas de mosaicos esmaltados ou azulejos engastados nas paredes.
Havia em seu interior câmaras espaçosas munidas de chaminés, hoje conhecidas como
“capelas”, para se trabalhar com gases nocivos em seu interior. Possuía ainda várias tomadas de
corrente elétrica para acionar diversos equipamentos, colocadas em diferentes pontos da sala e,
anexa a ela, estava a seção de Balanças. Saindo-se deste laboratório, voltamos novamente à grande
varanda já mencionada, em cujos fundos há um gradil para resguardar as instalações de um
83
destilador grande para água, uma turbina hidráulica acionada pela água da rede domiciliar e de um
gasômetro para a alimentação das chamas de uso em todos os laboratórios.
Uma sala espaçosa era utilizada para aulas de química, montada convenientemente
com uma mesa de tipo especial, dotada do necessário para as preparações demonstrativas: água,
gás, energia elétrica, etc. Um armário envidraçado continha aparelhos e drogas, ao lado de uma
estufa, com “capela”; para as aulas teóricas trinta cadeiras com braço para escrita disponibilizavam
um bom espaço aos alunos.
O “Laboratório de Química Geral” era como todos os outros, amplo e bem iluminado
ocupando duas salas, uma das quais, a que comunica com a varanda, destina-se à parte quantitativa,
ou seja, área do laboratório destinada a medir as quantidades exatas dos elementos químicos e a
outra à qualitativa, reservada a análises das qualidades do sangue e derivados no caso da veterinária
e dos grãos e vegetais para a agronomia. Cada uma destas salas dispunha de quatro grandes mesas,
todas servidas amplamente por água e gás. Em cada uma dessas salas havia uma estufa com
“capela”. Diversos aparelhos para preparações sobre mesas de cimento armado revestidas de
azulejos brancos completam sua instalação. Para com o “Laboratório de Química Orgânica”, que
ocupa duas salas, o cuidado era o mesmo, a primeira sala estava montada com mesas apropriadas e
convenientemente abastecidas por água e gás; uma nova “capela”, armários e mesas de cimento
armado revestidas de tijoleiras alouçadas completavam a instalação; a outra sala era servida de
mesas baixas equipadas com balanças sendo sua função destinada exclusivamente aos trabalhos de
pesagem.
Duas salas simétricas às do gabinete da administração e da sub-secretaria, localizadas
à direita de quem ingressa no prédio e após o vestíbulo, mais precisamente sob o avarandado do lado
leste, eram ocupadas pela “Bateria Cirúrgica, Farmácia Veterinária e Gabinete de Zootecnia”.
Os instrumentos e material cirúrgico que ocupavam a sala de Bateria Cirúrgica foram
muito mais tarde transferidos para a Sala de Cirurgia do Hospital Veterinário que, já se achava
projetado à época e seria construído em um local próximo, estando portanto, provisoriamente neste
84
gabinete. Por esta razão, o aparelho de báscula, apropriado para suster um animal grande em
qualquer posição, para ser operado, ainda não havia sido instalado. Em um armário envidraçado
estavam arrumadas as drogas necessárias à Farmácia Veterinária que também teria uma sala própria
no futuro hospital.
O Gabinete de Zootecnia possuía para demonstrações e ensino prático vários animais
conservados em vidros com álcool, modelos em papelão e miniaturas de diversas raças. Um grande
aparelho para exercício de obstetrícia, 15 mapas e quadros murais que completavam o equipamento
necessário às aulas.
No “Museu depósito” estava arrumado todo o material destinado aos futuros prédios da
Cantina e da Leitaria, bem como todas as máquinas e aparelhos destinados a ocupar seu lugar em
prédios próprios, que seriam construídos na encosta do Morro Santana, à margem do arroio, hoje
conhecido como “Arroio Dilúvio”. Além desse material no local havia um mostruário completo de
ferramentaria leve e pesada, de toda a espécie. Uma coleção de pequenos motores a explosão para
diferentes utilidades, uma turbina hidráulica, diversas balanças grandes, uma máquina para fabricar
tubos de cimento para drenagem e outros utensílios agrícolas ocupavam o resto desta espaçosa
dependência.
Em frente à escada que leva ao pavimento superior, um grande quadro-negro era
destinado ao registro denominado “boletim diário” das observações meteorológicas diariamente feitas
no mesmo horário adotado pelo serviço meteorológico do Instituto Astronômico e Meteorológico. Já
que se achava instalada junto ao prédio uma estação pertencente a rede criada pelo Dr. Manoel
Itaqui, quando Diretor daquele Instituto.
A posição deste quadro havia sido escolhida para que ele fosse a primeira coisa
visualizada pelos alunos ao descerem do dormitório, desde o topo da escada, pois, enquanto se
dirigissem ao pavimento térreo tomariam amplo conhecimento das condições do tempo, ou seja, do
estado atmosférico.
85
Figura 36- Planta Baixa Primeiro Pavimento.
Fonte: Desenho do Autor.
2.6.2 Pavimento Superior
Nele estão instalados os dois terraços que ficam, respectivamente, sobre o Gabinete da
Administração e da Sub-secretaria de um lado e sobre o Gabinete de Zootecnia e da Bateria Cirúrgica
do outro. Encontram-se também, neste pavimento, as salas de aulas e estudo, onde o mobiliário,
como em todas as outras salas com mesmas finalidades, é constituído por uma espaçosa mesa sobre
um estrado que recebe ainda uma cadeira de molas para uso dos professores; cadeiras com braço
86
para a escrita em número suficiente para os alunos; mesas de desenho e extensos quadros negros ao
longo das paredes; cortinas nas janelas e acessórios para o funcionamento das aula.
A última sala desta ala servia de “Enfermaria Provisória”; era a melhor para este fim
pela sua posição, bastante arejada e, com a orientação Norte, o sol penetrava fartamente. Conforme
fazia parte do “Plano Geral de Construções”, a enfermaria viria a ocupar um edifício especial, isolado,
cujo projeto já se achava pronto, aguardando a sua construção e os recursos necessários. Do local
escolhido para a enfermaria se descortina a parte alta do morro que se localiza junto ao edifício
principal do complexo.
A “Biblioteca” era composta por duas salas, a da frente destinava-se a consultas e à
leitura, a seguinte para o bibliotecário. Ambas estavam aparelhadas de grandes armários de madeira
fina esculturada e cuja confecção fora feita nas oficinas do ITP.
Ao iniciar esta biblioteca já possuía, devidamente catalogados, 1032 volumes de boas
obras, dos quais estavam encadernados 896 e, em brochuras, 136; entre essas obras destacavam-se
a monumental “Flora Brasiliensis” de Martius. Em estantes muito cômodas para leitura, estavam
sempre expostos os últimos fascículos das revistas assinadas pelo Instituto em número de 125, das
quais 54 eram americanas; 22 alemãs; 20 italianas; 15 francesas; 1 uruguaia; 1 argentina e 12
brasileiras. O “Laboratório de Agronomia“ ficava em perfeita simetria com a sala da Enfermaria
Provisória, se consideramos como eixo de simetria a linha teórica que divide ao meio a ala central.
Este laboratório está montado, em seus detalhes gerais, inteiramente igual aos demais
A “Rouparia”, amplamente arejada e com boa insolação, estava servida por cinco
grandes armários, cada um com 24 divisões. Um armário menor e oito roupeiros de vime
completavam a instalação desta sala.
No “Primeiro Dormitório”, 46 camas metálicas distribuídas em 4 filas, servem de leito
para abrigar os alunos do Curso de Agrônomos. Este salão ocupava uma área de 187,2 m² e
capacidade para 805 metros cúbicos de ar o que dava para cada pessoa a ótima porção de 17,5 m,
87
além disso, oito janelas em cada lado do salão (fig. 37) arejavam fartamente esse ambiente onde
algum sol também penetrava através das clara bóias das varandas laterais.
Figura 37- Vista do Primeiro Dormitório - Curso de Agrônomos.
Fonte: Foto de um dos Relatórios da Escola de Engenharia (1913), UFRGS.
O “Lavatório Geral” possuía, no centro da sala, erguidas do chão 0,75 m e assentes
sobre pés de ferro, uma série de 16 pias conjugadas entre si que eram servidas por torneiras
automáticas, destinadas ao uso dos alunos. Toda a sala era ladeada pelos guarda-roupas
devidamente numerados, pertencente cada um, ao respectivo aluno.
O “Segundo Dormitório” era composto de 3 filas de 10 camas cada uma, 30 camas
metálicas, iguais às do outro dormitório, e como estas numeradas, serviam de leito aos alunos do
“Curso de Capatazes Rurais”. Este dormitório ocupava um amplo salão que é a dependência mais alta
sobre a ala central e sobre o Primeiro Dormitório; cada pessoa dispunha, neste dormitório de quase
30 m de ar. O telhado desse local é em forma de lanternim com um comprimento de 30 m e a
largura dos panos inclinados é de 1,30 m.
88
Figura 38- Planta Baixa do Subsolo.
Fonte: Desenho do Autor.
2.6.3 Subsolo
Subsolo ou meio subsolo, porque sendo o terreno inclinado fortemente do sentido da
rua para o interior do mesmo, aterrou-se uma parte contada da frente até a metade da distância ao
fundo.
A circulação vertical é formada por duas escadas que começam em um largo corredor
cujo comprimento é toda a largura do edifício, isto é, 45 metros, com 3,94 m de altura. Neste corredor
estavam alinhados, na face oposta à que iniciam as escadas, três séries de grandes armários que
constituíam o principal depósito do almoxarifado. As escadas são simétricas servindo cada uma a
uma das varandas.
O “Laboratório e Museu Zoológico” ocupam duas salas deste pavimento, o laboratório
em tudo idêntico aos demais, está instalado na menor, consequentemente em menor escala; a outra
constituiu um museu onde já se observavam diferentes exemplares de nossa fauna
O entrepiso entre o subsolo e o pavimento térreo é de concreto armado. O “Anfiteatro”
(fig. 39) possuía o piso em concreto, como de todo esse pavimento; não tem teto, terminando numa
89
abertura circundada por gradil de ferro. Sua lotação é de 40 alunos e era utilizado para autópsias,
demonstrações, montagens e desmontagens de grandes máquinas agrícolas, etc.
Figura 39- Vista do Anfiteatro.
Fonte: Foto de um dos Relatórios da Escola de Engenharia (1913), UFRGS.
O espaço era amplo, a iluminação farta, servida através das clarabóias colocadas na
cobertura e pelas grandes aberturas localizadas na fachada principal, favorecida pelo grande arco
abatido, e na fachada posterior através de um grande vão, possuía ventilação cruzada efetuada por
estas mesmas aberturas. A visão deste espaço era bem abrangente, de quase todos os pontos desta
ala do prédio inclusive dos níveis mais elevados, como as janelas do dormitório localizado no primeiro
pavimento. O acesso era fácil pelo subsolo e pela escada que levava ao térreo.
Comunica-se, por uma das escadas no corredor com uma das varandas e por uma
porta inferior com as Instalações Sanitárias. As “Instalações Sanitárias” eram dotadas de seis bacias
sanitárias das quais, três eram destinadas aos alunos, uma para a Administração, uma para os
professores e a 6ª para o pessoal interno, os funcionários; já possuíam descargas automáticas e
90
regulares; uma série de mictórios de descarga intermitente e mais adiante os banheiros dotados de
chuveiros e banheiras.
As demais compartimentações são destinadas à “Copa, Cozinha, Despensa e
Refeitórios”.
Quanto à sua “Implantação”, pode-se dizer que o antigo prédio da Faculdade de
Agronomia e Veterinária foi projetado para o clima e local onde foi inserido. Esta afirmativa baseia-se
no profundo conhecimento que o Engenheiro-Arquiteto Manoel Itaqui possuía a respeito do clima da
Região Sul, já que ele, além de ser um estudioso do assunto, foi diretor do Instituto Astronômico e
Meteorológico, que projetou, construiu, dando início aos estudos sobre clima no Rio Grande do Sul.
Com conhecimento, Itaqui soube tirar vantagens da situação local e da implantação do
prédio, fazendo com que a topografia acidentada e o corredor de vento, criado pelo vale entre os dois
morros, o morro “Pelado” e o morro “Santana”, servissem como aliados ao conforto em seu projeto.
Da mesma forma, valeu-se da vegetação existente e da que seria implantada no projeto paisagístico,
para que esta também participasse, de forma atuante, no conforto térmico do prédio principal e dos
demais. Por possuírem o pé-direito em torno de 4,50 m, o calor desprendido dos corpos dos
ocupantes nas salas, no inverno, não chega a formar condensação já que as mesmas são muito bem
ventiladas conseguindo porém manter uma temperatura agradável, mesmo na época mais fria do ano.
A ventilação em todas as salas, além da grande quantidade de janelas e de estas terem
dimensões generosas, maiores que o normal, é feita também pelas bandeiras sobre as portas, muito
usadas no Século XIX e começo do Século XX, favorecendo a ventilação cruzada (fig. 40).
91
Figura 40- Exemplo de um dos Laboratórios.
Fonte: Foto de um dos Relatórios da Escola de Engenharia (1913), UFRGS.
A análise da planta do projeto da Faculdade de Agronomia e Veterinária, último projeto
realizado pelo Engenheiro-Arquiteto Manoel Itaqui para a Escola de Engenharia, mostra que existe
um inter-relacionamento entre os espaços de vários tipos divididos por pavimento. No subsolo, por
exemplo, a primeira vista pode parecer que existe uma desorganização porém, uma análise mais
criteriosa mostra que, a espinha ou grande corredor termo utilizado por CLARCK & PAUSE, estende-
se de uma lateral do prédio a outra e possibilita uma distribuição assimétrica dos espaços, ou seja, só
permite o acesso para um de seus lados já que no outro existe apenas o terreno e as fundações. É
possível notar-se a simetria existente entre os espaços de um lado do prédio em relação ao lado
oposto devido a similaridade entre forma e tamanho dos espaços de um lado e de outro, apesar de
apresentarem funções distintas.
No térreo, as duas grandes varandas fazem a interligação da maioria dos espaços
tornando-as espaços vinculados, estes espaços são definidos por CHING (1995, p.202) da seguinte
forma:
92
“Dois espaços separados a uma certa distância podem relacionar-se entre si com o
concurso de um terceiro espaço que atua de intermediário entre estes. A relação que une
aos dois primeiros deriva das características do terceiro ao qual estão ligados por um
nexo comum.
O espaço intermediário pode ser diferente dos restantes em forma e orientação
para assim manifestar sua função de enlace”.
Todos eles, inclusive o espaço intermediário, também podem ser idênticos em
forma e tamanho, produzindo assim uma seqüência de espaços”.
Desta forma o espaço intermediário pode dominar a relação e passa a organizar um
determinado número de espaços ao seu redor inclusive estabelecendo algumas ligações diretas.
No primeiro pavimento os espaços intermediários se apresentam de maneira simétrica,
ou seja, são formados pelos dois grandes terraços que interligam as alas extremas com a central. Já
no sentido longitudinal do prédio quem faz a interligação dos espaços são as duas galerias que atuam
como espinhas.
Após esta pequena análise é de se supor que a opção do Dr. Manoel Itaqui pelas
diversas configurações espaciais, em um mesmo prédio, não se restringem aos condicionantes do
projeto mas, visava também, favorecer uma melhor compreensão do projeto como um todo.
Para ARNHEIM (1988), depende das configurações usadas pelo arquiteto a
compreensão da imagem que ele criou para o projeto, uma vez que um objeto arquitetônico jamais
poderá ser visto em sua totalidade.
O esquema gráfico (fig. 41) demonstra com clareza a forma da letra “E” adotada na
conformação geral do projeto e os espaços intermediários que fazem a interligação entre as alas,
também é fácil perceber que os elementos que compõem a planta baixa possuem a mesma forma, ou
seja, retângulos de diversos tamanhos que de uma maneira harmoniosa formam o conjunto. A
simetria aparece de forma marcante; na ala central, por ser a mais destacada do conjunto,
hierarquicamente está concentrada a circulação vertical porém, não de forma concentrada em um
único ponto.
93
Figura 41- Esquema gráfico mostrando o formato do projeto e os espaços de ligação.
Fonte: Desenho do Autor.
94
2.7. A HORA CERTA
A hora certa na Capital era dada com a utilização de, no mínimo, dois prédios
projetados pelo Dr. Manoel Itaqui, no Campus Central, são eles o Observatório Astronômico em
conjunto com o Instituto Ginasial Júlio de Castilhos e mais um prédio privado, localizado no centro da
Capital, que também recebeu a atenção especial do Dr. Manoel Itaqui, à “Confeitaria Rocco”.
Para que a população tomasse ciência da hora certa, primeiramente foi adotado pelo
Observatório Astronômico, em 1912, a instalação de uma linha de corrente elétrica até a cúpula do
prédio do Instituto Ginasial Júlio de Castilhos ligada a uma lâmpada de 400 velas, na cor vermelha,
que era acesa diariamente antes das vinte horas
22
. Este sinal, com o passar do tempo, acabou por se
tornar tão importante que seis anos mais tarde foi executada nova instalação elétrica, ligando agora o
Observatório Astronômico diretamente com a Intendência Municipal, utilizando um dispositivo
semelhante ao descrito anteriormente porém, com uma lâmpada de 300 velas instalada no torreão da
Intendência.
A hora certa era fornecida pelo Instituto Astronômico e Meteorológico, que tinha a seu
cargo o controle da famosa lanterna. Cinco minutos antes das oito, ou melhor, antes das vinte horas,
acendia-se a luz que era apagada pontualmente às vinte horas.
Sem desativar a primeira instalação, a segunda linha foi instalada com uma extensão
total de 1.300 metros, operação feita graciosamente pela “Companhia Força e Luz”, com a finalidade
de dar o sinal da “hora certa” para toda a vertente norte e o porto da Capital. A preocupação com o
adequado funcionamento do sistema fica evidente na narrativa do Engenheiro Chefe do Observatório
Astronômico em seu relatório anual do Instituto Astronômico e Meteorológico quando escreve:
“. . . Em série com a linha da Intendência está também installado um amperímetro
com o fim de mostrar o funcionamento ou não da lâmpada da Intendência Municipal, a
qual não é visível do Observatório”.
22
Segundo Relatório da Escola de Engenharia de 1913.
95
É inegável a importância a mais que o Observatório adquiriu em conjunto com o
Instituto Ginasial Júlio de Castilhos e com a Confeitaria Rocco por servirem à população da Capital
com a precisão do horário através do sinal da hora certa, sua margem de erro era só de um segundo.
Havia duas lanternas instaladas. Uma na Casa Masson e outra no prédio da Confeitaria
Rocco, considerado, na época, o ponto mais alto da cidade e, portanto, visível à distância no lado
Norte da Capital.
Atenção! Acertem seus relógios! Ao apagar da luz vermelha daquela lanterna ali em
cima, serão pontualmente oito horas da noite (fig. 42).
Esta frase demonstra o quanto era importante o sinal da hora certa já naquela época,
sendo utilizado inclusive como propaganda de conceituada relojoaria de Porto Alegre
23
.
23
Segundo Relatório da Escola de Engenharia de 1918.
96
Figura 42- A lanterna da "Hora Certa" da Casa Masson.
Fonte: Casa Masson.
97
Capítulo 3 SUA ATUAÇÃO
NA CAPITAL GAÚCHA
3.1. A CONFEITARIA ROCCO
Segundo depoimento do Sr. Miguel Irace, o imigrante italiano que fundou a Confeitaria
Rocco chamava-se Nicolau Rocco, seu tio avô; tornou-se conhecido também pelo apelido de “Nicola”,
assim chamado pelos conhecidos, inclusive pelo Dr. Manoel Itaqui, seu grande amigo. Ele viera de
San Martino in Pensilis, província de Campobasso e chegou ao Rio Grande do Sul em 1895, antes de
se estabelecer em Porto Alegre havia trabalhado, ainda muito jovem, na famosa confeitaria “El Molino”
em Buenos Aires. Nicolau Rocco iniciou sua vida profissional no ramo de doces e sua primeira
confeitaria em Porto Alegre, fundada assim que aqui chegou, chamava-se “Confeitaria Sul-Americana”
(fig. 43).
O sucesso alcançado por Nicolau Rocco na especialidade de fazer pães, doces e
salgados foi muito maior do que ele esperava, apesar de muito haver trabalhado para isso. O sucesso
alcançado por Nicolau Rocco na especialidade de fazer pães, doces e salgados foi muito maior do
que ele esperava, apesar de muito haver trabalhado para isso.
Em 1910, Porto Alegre experimentava o desenvolvimento e como empresário de visão
resolveu unir o seu espírito empreendedor ao sucesso adquirido, este somatório de bons fatos aliado
à vontade de continuar progredindo, o levou a mandar construir um dos prédios de destaque na
arquitetura porto-alegrense, bem mais suntuoso do que a modesta confeitaria em que iniciara.
98
Figura 43- Foto da fachada da Confeitaria Sul Americana, a 1ª de Nicola Rocco.
Fonte: Foto do acervo da família do Sr. Miguel Irace, Porto Alegre.
Este prédio deveria lembrar a beleza e a sofisticação dos imponentes cafés e das
charmosas confeitarias de Buenos Aires, para isso mandou projetar um prédio de três pisos e um
subsolo na esquina da Rua Riachuelo com a Praça do Portão, hoje, Conde de Porto Alegre; a menina
dos olhos do Sr. Nicolau Rocco nascia com festa na manhã de 20 de setembro de 1912, era a
Confeitaria Rocco (fig. 44).
Quase todos os grandes eventos da cidade a partir de então, a começar pelos
banquetes oficiais presididos por Borges de Medeiros, tinham a confeitaria como palco. Fica flagrante
que a cidade, ou melhor, seus “cidadãos de bem” transformaram este espaço em local de relevante
importância para seus eventos, como por exemplo, em 28 de janeiro de 1917, compareceram em
memorável assembléia nos altos da Confeitaria Rocco cem cidadãos, residentes na Capital, de
nacionalidade portuguesa que, unidos em torno de uma idéia, fundaram o Clube de Regatas Vasco da
Gama de Porto Alegre.
99
Figura 44- Vista do antigo prédio da Confeitaria Rocco.
Fonte: Foto do acervo do Autor.
Existe uma controvérsia quanto à autoria do projeto da Confeitaria Rocco, segundo o
pesquisador Fernando Corona
24
, Nicolau Rocco teria contratado o Dr. Manoel Itaqui, professor da
Escola de Engenharia e colega de Salvador Lambertini, para executar o projeto e a obra da
confeitaria. Alguns historiadores, como por exemplo, DOBERSTEIN (1992, p.56) levanta dúvidas
quanto a esta contratação, “creditando ao Dr. Lambertini o projeto inicial” e que Manoel Itaqui
somente teria fiscalizado a obra, tanto que DOBERSTEIN deixa a pergunta: “ . . . não teria sido
Lambertini o autor do projeto?
24
Enciclopédia Rio Grandense, vol. 3 p.226
100
Ë certo porém que o Dr. Salvador Lambertini faleceu em 5 de abril de 1911, portanto
antes do começo da obra
25
; bem poderia a mesma ter passado a ser executada então por Manoel
Itaqui.
Uma série de dados e fatos, porém, acaba por elucidar ou dirimir qualquer dúvida que
possa haver sobre a autoria do projeto e construção do prédio, o próprio Corona refere-se ao Dr.
Manoel Itaqui como autor quando diz :
“ . . . Pelo estilo das molduras e ornamentos de muitos edifícios anexos à Escola de
Engenharia, e pelo traçado Arte Nova de sua arquitetura, o crítico pode constatar por
analogia, que o autor dos projetos com certeza foi o Dr. Manoel Itaqui”. . . e ainda
complementa:
“Este ilustre engenheiro, em 1912, projetou a Confeitaria Rocco, com estrutura
mista de alvenaria de tijolo e vigamento de ferro duplo”.
Apesar de cometer um pequeno deslize quanto ao ano, já que 1912 foi o ano de
inauguração, Corona atesta, sem sombra de dúvidas, que o Dr. Manoel Itaqui é de fato o autor. Além
do mais, Corona teve o privilégio de conviver com ambos já que iniciou sua carreira de escultor na
construção deste prédio conforme sua declaração (CORONA, loc. cit.).
O ITP também prestava serviços à comunidade além de ensinar, não se restringindo a
atender somente as necessidades internas.
E em seu relatório para a direção da Escola de Engenharia o responsável pelo ITP cita
inclusive quem solicitou, o que foi solicitado e qual seria sua destinação, como por exemplo :
“ . . . Os trabalhos foram executados também por encomendas . . . “, e ele ainda faz
a descrição dizendo “ . . . a solicitação do Dr. Ahrons de caixilhos e esquadrias . . . ”; ou
mesmo “ . . . o Dr. Manoel Itaqui, com o pedido de esquadrias para a obra da Confeitaria
Rocco “.
Isto reforça a tese de que o projeto e obra são realmente de autoria do Dr. Manoel
Itaqui, senão porque o mesmo teria tanto empenho para que as esquadrias, que haviam sido
projetadas por ele em estilo “Art Nouveau”, estilo no qual foi concebido o projeto, fossem executadas
no ITP (fig. 45).
25
Conforme Relatório da Escola de Engenharia de 1911, p.13 no capítulo referente ao Instituto de Engenharia.
101
Figura 45- Porta da Confeitaria Rocco fabricada no ITP.
Fonte: Foto de um dos Relatórios da Escola de Engenharia (1911), UFRGS.
Não bastassem os dados citados, no processo de tombamento a EPHAC possui
documento, mais precisamente a memória do projeto histórico
26
, onde constam os dados históricos e
está escrito:
“. . . Dr. Manoel Itaqui, projetou a famosa Confeitaria Rocco que ( . . . ) é
considerada ( . . . ) dos mais belos prédios da Capital”.
26
Cópia do Documento datado de 6 de julho de 1990 encontra-se no acervo do Sr. Miguel Irace, sobrinho neto de Nicolau
Rocco a quem entrevistamos em 2003, em Porto Alegre.
102
O elegante prédio, projetado e construído pelo Dr. Manoel Itaqui, além de possuir uma
linguagem no estilo “Art Nouveau”, expresso nas sacadas com gradis ricamente decorados, pelo fato
de possuir elementos florais bem destacados em suas fachadas, nas pilastras, nas separações das
cortinas metálicas, agregando além disso, elementos ecléticos, como as grandes colunas encimadas
por cabeças de leões que ligam os andares superiores e a decoração com elementos característicos
dos edifícios do período dos governos positivistas, como a figura feminina emoldurada por uma lira
ladeada por duas crianças segurando cada uma, um elemento que lembra uma tocha. Internamente
era ricamente decorado, hoje, muito pouco sobrou de original.
Mais de um mestre escultor teria trabalhado nesta obra, além do iniciante Corona. Os
grandes “atlantis”, colocados sobre as pilastras, que fingem suportar o balcão da esquina seriam
esculturas do Professor Giuseppe Gaudenzi, e as figuras do frontispício, que receberam o nome de
“Luz,” seriam de Frederico Pellarin, já os afrescos pintados em seu interior teriam sido,
provavelmente, obras de um estilista alemão
27
.
A hipótese mais provável seria a do Dr. Manoel Itaqui estar sobrecarregado de projetos,
inclusive este, não havendo portanto condições de fiscalizar a obra motivo pelo qual solicitou ao
amigo e colega professor da Escola de Engenharia, Lambertini, que o fizesse. Infelizmente com o
falecimento deste, o Dr. Manoel Itaqui viu-se forçado a efetuar também esta tarefa, o que resultou nas
contradições até agora levantadas. Levando-se em conta que o Dr. Manoel Itaqui executou vários
projetos para outras localidades como Pelotas e Santa Maria, por exemplo, é fácil de se chegar a
mesma conclusão.
No subsolo do prédio ficava instalada a “Fábrica de massas e doces”, havendo ali
instalado o mais moderno equipamento da época, cozinha completa com dois grandes fornos, mais
Depósitos e Serviços; no térreo o Salão de atendimento normal ao público com serviço de confeitaria,
chá e café, atendimento por garçons nas mesas com tampos em mármore, Copa e Toaletes; no
103
segundo pavimento o famoso Salão de Festas para bailes, banquetes e festas de casamentos; no
terceiro piso o terraço, espaço para comemoração ao ar livre, local que, mais tarde, receberá a
moradia do proprietário e onde se encontrava a famosa lanterna vermelha da hora certa.
O Sr. Nicolau Rocco não era apenas um bom empresário, era um excelente cidadão,
tanto que se orgulhava de, durante a gripe espanhola, em 1918, ter colocado sua casa à disposição
das autoridades para socorrer as pessoas carentes. Foi por demonstrar o grande cidadão que era que
recebeu o título de “Filantropo da Colônia Italiana”, em Porto Alegre, lamentavelmente a data deste
fato não pode ser levantada.
Nicolau Rocco faleceu em 1931, assumindo a direção da confeitaria seu sobrinho José
Rocco Irace. Em 1946, seu filho, o Arquiteto Miguel Irace reforma o andar superior adaptando metade
do mesmo para residência. Em 1968 a Confeitaria Rocco encerra definitivamente suas atividades
como ponto comercial e hoje, apesar do tombamento do prédio pelo EPAHC, o prédio aguarda
restauração.
Este seria, provavelmente, o primeiro prédio de função comercial projetado pelo
Engenheiro-Arquiteto Manoel Itaqui em Porto Alegre e, mais uma vez, sem documentação que ateste
realmente este fato. Porém, o acesso que tivemos às cópias do projeto em posse do Sr. Miguel Irace
demonstram que a suposição da existência de mais de um projeto é bem possível, visto que o
desenho da fachada, que se encontra neste jogo de cópias, é diferente da que está construída,
havendo portanto a possibilidade de serem as cópias do projeto de autoria do Sr. Lambertini. Devido a
má qualidade destas, e por não acrescentar nada de novo à pesquisa, optamos por não apresentá-
las.
A análise do projeto, neste caso, é feita através das visitas realizadas ao prédio e em
comparação ao projeto do Instituto José Montaury ou da Eletro-Técnica, pelas suas semelhanças em
planta. Ou seja, prédio em terreno de esquina, entrada principal feita em forma de chanfro, com
27
Autor de identidade desconhecida; não foi possível localizar a identificação do Autor nem na documentação enviada à
Secretaria Municipal da Cultura.
104
estrutura mista de alvenaria e vigamento em ferro duplo, cobertura em telhas do tipo francesa na ala
residencial. A utilização de clarabóia no pátio interno foi adotada para suprir de iluminação parte do
subsolo, ou seja, a cozinha.
Um detalhe da decoração no forro do salão da antiga confeitaria chama a atenção, são
as placas metálicas que o compõe, forro este, muito usado para decorar os ambientes nas casas
antigas da cidade de Itaqui, no Rio Grande do Sul.
Apesar da farta decoração “Art Nouveau” o prédio foi construído com elementos do
ecletismo da época, como as pilastras imitando colunas sustentadas por estátuas representando
atlantis e no alto encimadas por cabeças de leões.
3.2. O VIADUTO OTÁVIO ROCHA
A área urbana de Porto Alegre necessitava com urgência se organizar, expandir e a
oportunidade surgiu com a criação da “Comissão de Melhoramentos e Embelezamento da Capital
que aprovou oPlano Moreira Maciel”, de 1914. É o primeiro plano que teve um caráter geral, com a
preocupação de procurar soluções e prever, futuros problemas, antecipando soluções para uma
Capital que crescia e se desenvolvia a olhos vistos.
Em seu plano o Arquiteto João Moreira Maciel previa, dentre tantos outros
melhoramentos, a criação do “Parque da Redenção” no local do antigo “Campo da Várzea”,
transformando-a em área de lazer e integrando-a à área central.
Buscava, por outro lado, uma forma de ligar o lado mais desenvolvido e já bastante
densificado da Capital Gaúcha, ou seja, o lado da cidade que estava fronteiro ao porto, com o lado
oposto do maciço que forma a península que necessitava se desenvolver e, também, dar condições
105
para se atingir mais rapidamente partes da cidade como a Cidade Baixa, Azenha e zona Sul. Naquele
tempo isso era feito contornando-se a curva do Gasômetro, o que demandava muito tempo para se
chegar até estes locais.
Moreira Maciel propunha, através de seu plano, uma ligação do centro com a Zona Sul
projetando a Av. Borges de Medeiros, utilizando-se da rua já existente, denominada à época de
General Paranhos, rasgando o maciço e assim permitindo a passagem direta de um lado ao outro.
Assim descreve Moreira Maciel o projeto desta artéria urbana:
“ Prolongamos a rua do Commercio até Duque de Caxias, alargamos em toda a sua
extensão a rua General Paranhos, prolongando-a também desde a rua General Andrade
Neves até a praça 15 de novembro “
28
.
Assim estava lançada a abertura da futura Av. Borges de Medeiros (fig. 46) que
possibilitaria a implantação, anos depois, do viaduto conhecido por muitos como “Viaduto da Borges”.
Figura 46- Mapa esquemático localizando a Rua Gal. Paranhos, atual Av. Borges de Medeiros.
Fonte: Desenho do Autor.
As obras para a abertura da avenida iniciaram na gestão do Intendente Municipal
Otávio Rocha, no início do ano de 1926, sofrendo uma longa paralisação, sendo reiniciadas na gestão
do Dr. Alberto Bins e só foram concluídas em 1932.
28
Revista EGATEA de novembro-dezembro de 1914, vol. I n.º 3 p.124-128, texto assinado pelo Arquiteto João Moreira
Maciel.
106
Assim, além dos prédios da UFRGS e da Confeitaria Rocco, o Engenheiro-Arquiteto
Manoel Itaqui deixou para os porto-alegrenses uma obra de grande valor, o Viaduto Otávio Rocha. Foi
o primeiro viaduto construído em Porto Alegre e assim se manteve por mais de 30 anos.
Interessante e estranha coincidência liga a história do viaduto com a história do Palácio
Piratini. Para ambos os prédios foram realizados concursos públicos; a inusitada coincidência não
está neste fato, uma vez que sendo prédios públicos a realização de um concurso para a escolha do
melhor projeto seria a maneira mais democrática e acertada para satisfazer esta contingência, porém
em ambos os casos, tanto para o Palácio quanto para o Viaduto, apresentaram-se somente dois
arquitetos concorrentes, sendo “Augustin Rey e A. Jardin” para o primeiro e “Christiano de La Paix
Gelbert (fig. 47) e Duílio Bernardi” (fig. 48) para o segundo. Mais estranha torna- se a coincidência
quando nenhum dos vencedores do concurso conseguiu ver seu projeto executado porque um
terceiro personagem que, não havia participado do concurso, teve seu projeto escolhido e executado,
foram eles: Maurice Grás no caso do Palácio Piratini e Manoel Itaqui no Viaduto para a Avenida
Borges de Medeiros.
107
Figura 47- Projeto de Christiano de La Paix Gelbert para o Viaduto.
Fonte: EPAHC.
Figura 48- Projeto de Duílio Bernardi para o Viaduto.
Fonte: EPAHC.
108
São construções de épocas diferentes, o Palácio Piratini teve suas obras iniciadas em
1909 e foi concluído em 1921. Maurice Grás projetou e esteve com as obras sob sua orientação até
1912. E o curioso é que o Dr. Manoel Itaqui acaba por tornar-se um elo de ligação entre ambas uma
vez que no concurso do Palácio Piratini ele foi o único Engenheiro civil que fazia parte da comissão
que escolheu o melhor projeto, os outros eram também Engenheiros porém militares, e no segundo
caso, ou seja, no Viaduto ele realizou o projeto sem concurso.
Figura 49- Cópia do croqui feito por Manoel Itaqui para o Dr. Otávio Rocha.
Fonte: Acervo pessoal do Dr. Eduardo Luiz Vianna Raupp, Rio de Janeiro.
109
Segundo relato do Engenheiro RAUPP
29
, mesmo sem haver participado com projeto
no concurso, em um encontro casual com o Intendente Municipal, munido com um lápis e em um
pedaço de papel de embrulho, o Dr. Manoel Itaqui, rabiscou outro projeto na hora (fig. 49) e
mostrou-o ao Dr. Otávio Rocha, Intendente Municipal na época e seu amigo pessoal. O Dr. Otávio
Rocha teria aprovado a idéia no ato e hoje, o viaduto construído à Av. Borges de Medeiros é aquele
com a maioria dos detalhes que Itaqui havia desenhado durante uma conversa informal com um
amigo, em plena rua. Um belo projeto, foi desenvolvido mas, como parece ser o destino das obras do
Dr. Manoel Itaqui, pouco restou de documentação original (fig. 50).
Torna-se importante salientar que o projeto original para a abertura da Av. Borges de
Medeiros, conforme previa o plano Moreira Maciel, foi ligeiramente alterado pela “Comissão de Obras
Novas” que, ao estudar com maior atenção o anteprojeto, verificou que o mesmo poderia ser
aprimorado visando dois pontos, considerados por esta comissão, importantes e que seriam:
Primeiro ponto - uma melhor adequação do traçado ao local de sua implantação, já que
a linha resultante das divisas naturais dos terrenos particulares adjacentes ao traçado original
possibilitaria tal adequação.
Segundo ponto – procurar deixar em evidência o viaduto tornando-o ponto focal da
perspectiva a partir de qualquer um dos dois sentidos principais de visão, Norte e Sul.
Tais alterações fariam com que o traçado da avenida, antes previsto em linha reta e que
culminaria na antiga Rua do Porto, onde hoje é o início da Av. Voluntários da Pátria, sofresse uma
inflexão no sentido do Paço Municipal terminando por tangenciá-lo, isto conseguido através da
introdução de uma curva entre a Rua Riachuelo e Rua dos Andradas, com um raio de
aproximadamente 450 m; outras pequenas alterações foram introduzidas, como por exemplo o
aumento da caixa da rua de 21 para 24 m e a diminuição da declividade da, então General Paranhos,
para 7%, o que favoreceu a redução da altura do corte onde está o viaduto em 3 m, fazendo com que
o somatório destas medidas adotadas tornassem as proporções, entre o corte e o viaduto, mais
29
Engenheiro Eduardo Luiz Vianna Raupp, bisneto do Dr. Manoel Itaqui a quem entrevistamos em 2002, no Rio de Janeiro.
110
adequadas com a diminuição da desproporção existente entre ambos. Desta forma podemos afirmar
que houve uma inversão, neste caso específico, “o local foi adequado ao projeto”.
111
Figura 50- Perspectiva do projeto aprovado para o Viaduto da Av. Borges de Medeiros.
Fonte: Acervo pessoal do Dr. Eduardo Luiz Vianna Raupp, Rio de Janeiro.
112
Com estas alterações e a satisfação das duas condições, consideradas necessárias
pela Comissão, esta acabou por privilegiar o projeto do Engenheiro-Arquiteto Manoel Itaqui (fig. 51)
porém o mesmo não estava de acordo, o que fica bem caracterizado na nota do “Correio do Povo”
(1945)
30
onde consta:
“ . . . Grande amigo dos homens de imprensa, Manoel Itaqui, naquela época, fazia
questão de expor in-loco seu ponto de vista, contrário à curva que se estabeleceu naquela bela artéria
Porto-Alegrense” , assim fica clara a sua insatisfação com as alterações realizadas pela Comissão de
Obras Novas acreditando ele que o traçado original, em linha reta, seria a melhor solução.
Figura 51- Planta Baixa esquemática do projeto de Manoel Itaqui para o Viaduto.
Fonte: Desenho do Autor.
O contrato firmado entre a Intendência Municipal e o Dr. Manoel Itaqui está datado de
31 de dezembro de 1928 e deixa explicita a utilização de seu projeto pela Intendência Municipal e
também a fiscalização da obra pelo mesmo, onde está escrito:
Contracto que entre si fazem a Intendência Municipal de Porto Alegre e o Engenheiro
Civil Manoel Itaquy, para utilização, por parte da primeira, do projecto e a ideia do Viaducto e rampas
de accesso na Avenida Borges de Medeiros e cruzamento da rua Duque de Caxias”.
Em 22 de janeiro de 1929, o Dr. Manoel Itaqui concluiu o edital para que as empresas
interessadas nas obras do viaduto participassem; a 31 de outubro de 1929 a empresa “Dyekerhoff &
Widmann firmam contrato com a Intendência Municipal, contrato esse que foi impresso nas “Officinas
Graphicas d” A Federação”, jornal republicano, e em sua capa está assim descrito:
30
Jornal Correio do Povo, edição de 7 de junho de 1945, p.8 (contracapa).
113
“Contracto que entre si fazem a Intendência Municipal de Porto Alegre e a firma
Constructora Dyekerhoff & Widmann S.A., para construcção do viaducto e rampas de
accesso da Avenida Borges de Medeiros, bem como o escoramento dos prédios n.º
1.304, 1.321, 1.348 e 1.363, da rua Duque de Caxias”.
E que em sua cláusula I, à página 4 explicita:
“ . . . Construcção do Viaducto ( . . . ), de accordo com o projecto approvado pela
Municipalidade, da autoria do Engenheiro Manoel Itaquy e que serviu de base para a
concurrencia de 1º de julho do corrente anno . . . “
Em ambas as assinaturas dos contratos estavam presentes além dos interessados
principais que eram o Major Alberto Bins e Intendente Municipal, o Dr. Manoel Itaqui, representantes
da imprensa como o Sr. Arno Von Müller, representante do “Diário de Notícias” e o Sr. Archimedes
Fortini, representante do “Correio do Povo”; assinou pela empresa Dyekerhoff & Widmann o Sr.Edwin
Kurts; também se fazia presente o Dr. Acylino de Carvalho, representante da Comissão de Obras
Novas.
Fica evidente a publicidade dada às assinaturas de contrato, colocando a população ao
par dos acontecimentos importantes pelos quais Porto Alegre estava passando.
Figura 52- Vista do Viaduto Otávio Rocha.
Fonte: Acervo do Museu José Felizardo / Fototeca Siomara Breitman.
114
Por solicitação do Intendente Municipal, o Dr. Alberto Bins, veio a Porto Alegre o
Urbanista Alfredo Agache para dar seu parecer sobre o novo traçado proposto para a Av. Borges de
Medeiros e ao projeto do Dr. Manoel Itaqui, o qual aprovou sem restrições ambos os projetos sendo
que, ao final de 1929, iniciaram-se as obras. Em setembro de 1931 a construtora estava com as obras
bastante avançadas e já estava concluído o viaduto e três das quatro rampas de acesso; a
Intendência Municipal havia providenciado concomitantemente a construção da infra-estrutura como
rede de água e esgotos, tanto pluviais como cloacais, para evitar problemas com as construções
futuras, estando já instalado o serviço sob as rampas de acesso (fig. 52).
As informações sobre o material empregado e as formas de construir, segundo dados
publicados pelo Correio do Povo
31
, dão uma idéia das dificuldades desta obra:
“ . . . foram gastos em sua construção cerca de 1.000 metros cúbicos de concreto,
ou seja, 2.400.000 kilos de concreto. Gastaram-se 350.000 kilos de cimento, 80.000 kilos
de ferro e foi feito em 30 horas contínuas de trabalho.
O systema adoptado foi um pórtico com três vãos e dois pilares centrais, oscilantes,
e dois encontros articulados na base. Tem elle 12 vigas, de 1,50 m de altura e 40
centímetros de largura”.
O mesmo jornal acrescenta que faltando apenas a desapropriação dos terrenos
necessários para a construção da quarta e última rampa e alguns poucos trabalhos de ornamentação,
o viaduto passou por duas provas, sendo a primeira de resistência ou solidez, constando que:
“foram utilizados dois bondes carregados de cascalho, pesando cada um 19
toneladas ( . . . ) mais seis caminhões carregados de pedras, tendo cada um cinco
toneladas ( . . . ) perfaziam um total de 68 toneladas”.
Obtendo-se como resultado nenhuma deformação aparente. Na segunda prova, que
consistia da passagem dos bondes carregados e em velocidade máxima sobre o viaduto, o resultado
foi a deformação de 1/10 de milímetro, medida através de um aparelho chamado flexímetro, o que
atestou a alta competência dos profissionais envolvidos nesta obra.
31
Jornal Correio do Povo, edição de 1º de outubro de 1931 Noticiário p.21
115
Após a conclusão total da obra, ou seja, terminadas todas ornamentações e a rampa
que faltava, como a população já estava utilizando o viaduto há bastante tempo, o mesmo “nunca foi
inaugurado oficialmente”.
Este foi o último projeto e obra executados pelo Engenheiro-Arquiteto Manoel Itaqui em
Porto Alegre (fig. 53).
Neste mesmo ano, portanto 1932, o Dr. Manoel Itaqui recebe o convite de um grande
amigo seu, o Dr. Artur de Souza Costa, Ministro da Fazenda, para com ele trabalhar na Capital
Federal; aceito o convite, muda-se com a família, em fevereiro de 1936, para o Rio de Janeiro. Os
Porto-alegrenses só terão notícias suas em junho de 1945 quando, em uma nota no jornal Correio do
Povo
32
, é noticiado o seu falecimento :
“Faleceu, no Rio, o Engenheiro Manoel Itaqui
Rio, 6 (C.P.) – Faleceu, na noite de ontem, na Beneficência Portuguesa, o Dr.
Manoel Itaqui, natural deste Estado e que aqui residia há vários anos.
O Dr. Manoel Itaqui era vastamente conhecido nesta Capital, onde época houve em
que se tornou figura central de todas as demarches e providências necessárias à
construção da Av. Borges de Medeiros.
Grande amigo dos homens de imprensa, Manoel Itaqui, naquela época, fazia
questão de expor in-loco seu ponto de vista, contrário à curva que se estabeleceu
naquela bela artéria porto-alegrense.
E, por isso, rara era a noite em que não convidava este ou aquele representante da
imprensa para acompanhá-lo num passeio pela avenida então em início de construção,
para com seu guarda-chuva riscar no solo as linhas do verdadeiro projeto mais tarde
mutilado.
Seu sepultamento foi efetuado esta tarde, com grande acompanhamento, vendo-se
entre os presentes o Ministro Souza Costa, seu grande amigo”.
32
Jornal Correio do Povo, edição de 7 de junho de 1945, p.8 (contracapa).
116
Figura 53- Esquema de disposição das lojas e escadas de acesso no Viaduto Otávio Rocha.
Fonte: Desenho do Autor.
O projeto do Viaduto Otávio Rocha traz em sua decoração a influência do “Art Déco” com a utilização
de elementos geométricos e o abandono total da excessiva decoração do “Art Nouveau”, muito
utilizada por Manoel Itaqui até o projeto da Confeitaria Rocco.
3.3. OUTRAS OBRAS, OUTRAS PARTICIPAÇÕES
Colégio Ernesto Dornelles
O Dr. Manoel Itaqui, por ser um Engenheiro-Arquiteto bem conceituado, esteve
trabalhando em algumas obras de relevante importância para a Capital, não na qualidade de projetista
mas como Engenheiro Fiscal das mesmas, cujos projetos foram executados por colegas seus. Por
exemplo, o antigo Colégio “Fernando Gomes”, situado junto à praça General Osório, hoje “Colégio
Ernesto Dornelles”, projetado por Afonso Hebert que era diretor da Divisão de Obras Públicas do
117
Governo do Estado, o qual segundo WEIMER (2003, p.191) não teria condição de projetar todas
aquelas obras, recebendo a sua assinatura para manter o controle sobre o que ali se produzia; é certo
porém, que em todo o serviço público o superior responsável assina a documentação devido à sua
responsabilidade perante seus superiores e que o resguardo do direito autoral, ou melhor, a garantia
da paternidade de um projeto só viria a ser confirmada através da Anotação de Responsabilidade
Técnica, ART, criada muito tempo depois, mais precisamente em 1977 através da Lei Federal n.º
6496.
O Dr. Manoel Itaqui participou da concorrência pública para fiscalizar a obra do referido
colégio junto com dois outros engenheiros, o Dr. João Cattani e o Dr. Walter Dreschsler,
respectivamente segundo e terceiro colocados
33
, foi co-participante desta fiscalização com o Dr.
Manoel Itaqui o também Engenheiro Roberto Roncoli
34
.
Apresentou-se também para a outra concorrência pública, só que na condição de
projetista, não como fiscal, para ampliação da Biblioteca Pública ficando em sétima colocação
35
.
Correio do Povo
Durante a pesquisa foi levantada a hipótese de haver o Dr. Manoel Itaqui projetado o
prédio do jornal “Correio do Povo”, ou melhor, parte do mesmo, o que foi confirmado por um de seus
Diretores o Dr. Carlos Alberto Bastos Ribeiro
36
, também arquiteto, que salienta ser o prédio onde hoje
está a garagem do referido jornal, com fachada para a rua Sete de Setembro, que teve seu projeto
feito por este Engenheiro-Arquiteto, na época da expansão do “Correio do Povo”, uma vez que o
prédio que tem sua fachada voltada para a rua Caldas Júnior é bem mais antigo (fig. 54).
33
Conforme Relatório da SOP de 27 de agosto de 1919, p.9
34
Conforme Relatório da SOP de 25 de agosto de 1914, p.12
35
Conforme Relatório da SOP de 27 de agosto de 1919, p.7
118
Figura 54- Fachada do prédio da garagem do Jornal "Correio do Povo" à rua Sete de Setembro.
Fonte: Foto Acad. de Arquitetura Rute Angela Driemeyer
36
Em entrevista realizada em 2002, em Porto Alegre.
119
Alfândega
Segundo o Livro Tombo da Administração do Domínio da União, no Estado do Rio
Grande do Sul, o Dr. Manoel Itaqui foi contratado como Engenheiro Fiscal para as obras do prédio da
Alfândega (Fig. 55), onde encontra-se escrito:
“ Os trabalhos de construcção do edifício desta Alfândega foram iniciados em 19 de
maio de 1911, sendo constructores a firma João Correa e Irmão e fiscal o engenheiro
Manoel Itaquy “.
Destaca-se a forma como está grafado o sobrenome com a letra “y”.
Figura 55- Cópia da Planta Baixa original do prédio da Alfândega.
Fonte: Acervo do Autor.
120
As obras sofreram várias paralisações, sendo que em 1913 o projeto acabou sofrendo
modificações, em 1915 nova interrupção e, segundo consta no texto do Livro Tombo, em 1917:
“ . . . foi pago ao Dr. Manoel Itaquy a quantia de 7:300$000, correspondente á
fiscalização das obras durante o exercício de 1915 ”.
Avançando-se no texto, na parte referente à descrição do prédio, encontramos alguns
dados muito interessantes a respeito da situação e do projeto onde consta:
“ . . . este prédio situado em optimo local da cidade e forma com a Delegacia
Fiscal, Thesouro do Estado, Correios e Telegraphos e Secretaria de Obras Públicas, esta
em construcção atualmente, um grupo de cinco amplos e imponentes edificios . . . ”
Sem dúvida nenhuma a descrição feita, no Livro Tombo, evidencia o que mais se
destacava na Capital, naquela área, da melhor Arquitetura Oficial (fig. 56 e 57). Com relação à
descrição do prédio o texto enfatiza:
“ Tem a Alfândega quatro extensas fachadas, sendo duas pelas ruas Sepulveda e
Capitão Montanha, com 56,10 m. cada e duas pela Avenida do Porto e rua das Flores
com 44,60 m. cada uma, separada da Delegacia Fiscal por esta última rua.
O edifício está construído sobre estacas, as paredes são de alvenaria de tijollo, o
piso de concreto armado, sendo a cobertura da parte principal constituida por uma laje de
concreto armado, que tendo ficado muito danificada com as interrupções, o engenheiro
fiscal viu-se forçado a sobrepor-lhe uma cobertura de zinco, de ponto mais baixo,
para ficar oculta pelas platibandas; o restante do edificio é coberto com telhas francesas.”
(grifo nosso)
Salienta-se o descontentamento do Inspetor da Alfândega para com o projeto quando
no texto diz o seguinte:
“ . . . nota-se desde logo, a absurda movimentação da fachada principal com seus
tres corpos salientes, formando reentrâncias de 6,40 m. de profundidade . . .” (fig. 58).
e mais adiante justifica a modificação da seguinte forma:
“ Por solicitação de Sr. Inspector da Alfândega, organizou esta Administração um
projeto de remodelação da fachada, que modificando muito pouco da actual e corrigindo
os defeitos apontados, lhe dá um aspecto mais proprio ao fim a que se destina, mais
imponencia e belleza, não destuando assim do grupo de construcção que o rodeia.
Fizemos desaparecer as reentrancias e com isso adquiriu a Alfândega mais quatro
magnificos salões de 6,40 x 9,20 m . . . ”
Assim, pode-se observar que as alterações no projeto nada tem a ver com o
Engenheiro Fiscal, exceção feita para com a cobertura de zinco descrita cima. Em 30 de agosto de
121
1927, foi aberta nova concorrência pública para conclusão das obras, vencendo a firma Azevedo
Moura & Gertum, tendo como Engenheiro Fiscal o Dr. Teophilo Borges de Barros.
Após sucessivas paradas por problemas financeiros e novas concorrências
administrativas, finalmente concluiu-se a obra que teve seu assentamento no Livro Tombo da
Administração do Domínio da União neste Estado, em 26 de fevereiro de 1935 (fig. 59).
Por não ser um projeto do Dr. Manoel Itaqui e haver sofrido mínima interferência sua,
para resolver um problema de cobertura, não será feita a análise deste prédio, ficando este tópico
marcado como registro de sua atuação como Engenheiro Fiscal da obra.
Figura 56- Cópia da Planta de Situação.
Fonte: Acervo do Autor.
Figura 57- Esquema da Situação do prédio da Alfândega e demais prédios importantes.
Fonte: Desenho do Autor.
122
Figura 58- Cópia da foto da fachada do prédio da Alfândega antes da alteração.
Fonte: Acervo do Autor.
Figura 59- Cópia da foto da fachada do prédio da Alfândega após a alteração.
Fonte: Acervo do Autor.
123
Barão do Rio Branco
O Dr. Manoel Itaqui teve uma participação importante no episódio da homenagem
prestada por Porto Alegre, através do Clube Militar dos Oficiais da Guarda Nacional, ao Barão do Rio
Branco.
Com o falecimento do Barão do Rio Branco em 1912, mais precisamente no mês de
fevereiro, e com as manifestações que surgiram em toda parte, iniciadas no Rio de Janeiro, com o
intuito de homenageá-lo através de um monumento, o Dr. Manoel Itaqui foi convidado a fazer parte da
comissão julgadora da concorrência pública, junto com o Dr. Sylvio Barbedo e Giuseppe Gaudenzi,
colegas seus da Escola de Engenharia, para a escolha do projeto de um monumento em homenagem
ao ilustre diplomata, a ser erguido aqui na Capital. Hoje o monumento está instalado na praça da
Alfândega (fig. 60), e segundo DOBERSTEIN (1992 p.50), só conseguiu ser fundido na Alemanha, em
bronze, tendo sua vinda para o Brasil retardada devido à I Guerra Mundial.
Figura 60- Cópia da foto do Monumento erguido em homenagem ao Barão de Rio Branco.
Fonte: Acervo de Arnoldo Walter Doberstein.
124
A confirmação deste convite está na carta, datada de 7 de fevereiro de 1914, enviada
pelo Diretor da Escola de Engenharia ao Dr. Manoel Itaqui, onde diz :
“Ilmo. Sr. Dr. Manoel Itaqui
O Sr. Coronel Ernesto Theobaldo Jaeger, Presidente do Club de Officiais da
Guarda Nacional, em officio de 30 de janeiro próximo passado pede-me para transmittir-
vos os agradecimentos d”aquelle Club pelo concurso que lhe prestastes acceitando a
incumbência da escolha da maquette do monumento do Barão do Rio Branco a ser
erigido nesta Capital.
Aproveito a opportunidade para apresentar-vos os meus protestos de estima e
consideração.
João José Pereira Parobé
Director da Escola”
O monumento ao Barão do Rio Branco, obra de Alfred Adlof, que deveria ser
inaugurado em 15 de novembro de 1914, só seria inaugurado no dia 7 de setembro de 1916.
Faculdade de Medicina
Segundo WEIMER (2003, p.179), em 1911, o Dr. Manoel Itaqui teria participado de uma
concorrência para projeto e futura construção do prédio a ser ocupado pela Faculdade de Medicina
onde foram apresentados dois projetos, o do Dr. Manoel Itaqui e o de Atílio Trebbi. Ainda conforme
WEIMER (ibid.) seria a confirmação documentada da colaboração entre Manoel Itaqui e Rodolfo
Ahrons, o que não seria impossível, uma vez que ambos trabalharam juntos na Escola de Engenharia.
Apesar do projeto de Trebbi ser considerado vencedor, acabou por não ser executado,
sendo contratado, mais tarde, o Dr. Theodor A. Josef Wiederspahn. O que ocorreu com Wiederspahn
não foi exatamente o mesmo que ocorreu no caso do Palácio Piratini e no Viaduto Otávio Rocha; por
não estar de acordo com o resultado final apresentado por Trebbi, a comissão rescindiu o contrato
que havia firmado com este e buscou outra alternativa. Assim como no caso do Palácio, como em
relação ao Viaduto, os vencedores não chegaram a assinar nenhum contrato mesmo sendo
vencedores. Em ambos os casos, uma nova alternativa surgiu e esta sim foi contratada.
125
Em relação a Faculdade de Medicina, Theo Wiederspahn acabou por ser esta
alternativa e seu projeto foi aprovado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo da Teoria, História e Crítica da Arquitetura possibilitou, através da linha de
pesquisa sobre Arquitetura Brasileira dos séculos XIX e XX, desenvolver este estudo tendo por tema,
o levantamento e análise crítica da obra de Manoel Itaqui e assim ressaltar sua contribuição para a
arquitetura da Capital Gaúcha o que, sem dúvida alguma, julgamos ter demonstrado ser bastante rica
em número de projetos, obras e qualidade.
Após o levantamento dos projetos e realizada a análise de cada obra, procurando
exercê-la tão completa quanto possível, podemos concluir que Manoel Itaqui buscou transmitir em
cada projeto que executou o máximo de conhecimento teórico e prático que adquiriu nos bancos da
Escola de Engenharia, não só através dos livros mas da própria sensibilidade e praticidade que fazia
parte de sua personalidade, pelo que se pode inferir de muitos depoimentos.
Manoel Itaqui iniciou sua carreira projetando para a Arquitetura Oficial, em estilo “Art
Nouveau”, no conjunto de prédios onde estava o Instituto Astronômico e Meteorológico, o Chateau e o
Castelinho; encerrou, com chave de ouro, sua “carreira de projetista”, em sua última obra, utilizando-
se de elementos “Art Déco”, no Viaduto Otávio Rocha.
A procura pelos elementos geométricos, que serviram de base, para a análise dos
projetos de Manoel Itaqui mostraram também que ele dominava a forma e o espaço com extrema
segurança e simplicidade. Sua percepção dos elementos físicos, como a criação de uma perspectiva
no Largo Paganini, o movimento dado à fachada do Chateau com a articulação feita através da torre
hexagonal ou até mesmo a utilização da simetria como espelhamento, colocando o Castelinho quase
128
como imagem refletida de parte do Chateau, tudo isto demonstra muita segurança como projetista, ou
melhor, como Arquiteto.
Um Engenheiro-Arquiteto que sofreu a influência do estilo decorativista do “Art
Nouveau” mas não ficou unicamente no fachadismo. Um exemplo desta afirmação está nas várias
alterações de funções que os prédios, projetados por ele, sofreram ao longo dos anos e se adaptaram
com pouquíssimas alterações. Um prédio bem projetado, segundo meu entendimento, é aquele que
pode sofrer alterações de funções e tenha a capacidade de adaptar-se as novas com o mínimo de
interferência para sua adequação.
A arquitetura do período do Governo Positivista teve sua influência, não só sobre sua
produção mas, também sobre todos aqueles que projetaram naquele período porém, ao analisar-se o
conjunto de obras realizadas por Manoel Itaqui percebe-se, nitidamente, que elas já se
encaminhavam para uma arquitetura mais despojada, praticamente sem detalhes em suas fachadas,
como por exemplo, o prédio do Instituto de Agronomia e Veterinária e que internamente traziam
organizações espaciais ricas. No projeto executado para este Instituto, as fachadas dos prédios do
primeiro Hospital Veterinário e do Laboratório de Biologia são praticamente uma cópia da fachada do
prédio destinado ao Laboratório de Resistência dos Materiais com a supressão de um módulo de cada
lado.
A diversidade das funções destinada à cada edificação transforma sua morfologia
porém, a utilização de elementos de cobertura, como a treliça “Polonceau” está presente em todos os
três prédios citados.
Sua arquitetura não chegou a influenciar nenhum outro Arquiteto ou Engenheiro mas,
ela testemunha a busca por inovações por parte de um Engenheiro-Arquiteto obstinado, que praticava
seu ofício com muito conhecimento e dedicação. Obviamente, outros profissionais também lançaram
mão deste mesmo tipo de tesoura para satisfazer a necessidade de vencer grandes vãos com um
elemento estrutural misto, que utiliza madeira nos pontos de compressão e ferro nos de tração.
129
Função primordial para a utilização deste tipo especial de tesoura, com uma cobertura de telhas do
tipo francesa.
A Capital Gaúcha ganhou prédios exemplares, em uma arquitetura rica, comparável a
Buenos Aires, como ansiava Nicolau Rocco em sua nova Confeitaria, sem dúvida nenhuma, um belo
exemplo de Arquitetura Privada. Arquitetura que, lamentavelmente, perde muito por não possuir mais
documentação primária por fatalidade climática como a enchente de 1941, ou por descaso, desleixo e
negligência de pessoas que deixam a documentação extraviar-se.
A contribuição de Manoel Itaqui para a Arquitetura Gaúcha não poderia ser esquecida
ou conhecida apenas por uma obra na Capital, ela é ampla, e como tal deve ser conhecida e
reconhecida em sua totalidade, os benefícios de sua Arquitetura para a paisagem desta Capital, em
um período do século passado em que seu crescimento era necessário deixou sua marca, apesar das
fatalidades, como uma enchente, quando muitos originais dos projetos que estavam arquivados foram
perdidos, o projeto do prédio do Correio do Povo por exemplo, e atos criminosos de vandalismo, como
no incêndio do Colégio Júlio de Castilhos, único exemplar que só está nos livros, os demais estão
ainda na cidade.
São testemunhas de um passado que tem sua história, que tem nome e sobrenome,
que fazem parte da “História da Universidade” e da “História da Capital”, resistem ao tempo apesar da
especulação imobiliária e do descaso em sua conservação. O “Patrimônio Histórico” deixado por
Manoel Itaqui é hoje de todos nós e como disse o arquiteto Júlio Curtis, ex-diretor regional do Instituto
de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, “ . . . As pessoas só cuidam do que amam. E só amam o
que reconhecem como seu . . . ”, é chegada a hora de reconhecermos o “Acervo Histórico” que
possuímos para podermos amá-lo, protegê-lo, preservá-lo e restaurá-lo quando necessário.
130
ANEXO A
Mapa esquemático da área central de Porto Alegre mostrando as obras, entre 1906 e
1930, nas quais o Dr. Manoel Itaqui atuou como Engenheiro-Arquiteto ou Engenheiro-Fiscal.
Figura 61- Planta esquemática da área central da Capital Gaúcha.
Fonte: Desenho do Autor.
ANEXO B
131
É possível visualizar com clareza o corpo avançado, com formas curvas, e sua fachada
com frontão, ambos ricamente decorados com elementos do estilo “Art Nouveau”, neste prédio de
1904 na cidade de Riga, na Letônia; o que nos traz a lembrança o corpo avançado, com formato muito
semelhante ao do Observatório Astronômico projetado pelo Dr. Manoel Itaqui. Esta foto demonstra a
“forte influência” que o “Art Nouveau” exercia naquela época.
Figura 62- Fachada de um prédio de 1903, na cidade de Riga.
Fonte: Cópia gentilmente cedida do acervo do Dr. Markus Wilimzig.
ANEXO C
132
Como no anexo anterior, este também procura ressaltar a “forte influência” exercida
pelo estilo “Art Nouveau” nos projetos executados pelo Dr. Manoel Itaqui para os prédios da Escola de
Engenharia, no início de sua carreira como Engenheiro-Arquiteto. As aberturas adotadas, pelo Dr.
Manoel Itaqui, para o Observatório Astronômico são praticamente as mesmas em forma e decoração
muito semelhante a adotada neste outro prédio, de 1906, também em estilo “Art Nouveau”, em Riga.
Figura 63- Fachada de um prédio de 1904, na cidade de Riga.
Fonte: Cópia gentilmente cedida do acervo do Dr. Markus Wilimzig.
ANEXO D
133
As aberturas do Observatório Astronômico e suas semelhanças na forma e na farta
decoração dos anexos anteriores porém, a utilização destas formas é meramente uma influência e
não uma cópia.
Figura 64- Detalhes da fachada do Observatório Astronômico.
Fonte: Foto Acad. de Arquitetura Rute Angela Driemeyer
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
1. ALBERTI, L. B. – On the art of building in tem books – traduzido por Leach,
Rykwert e Tavernor. Cambridge: MIT Press,1988.
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21. PAHIM, J. M. B do Butuí ao Ibicuí – Invasão do Exército Paraguaio ao
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APÊNDICE
O CRIME
Um Crime, até hoje não esclarecido, foi cometido na madrugada de 16 de novembro de
1951 contra uma das obras de Manoel Itaqui. Segundo notícia vinculada no jornal Correio do Povo
que dizia:
“ Arderam totalmente 17 salas de aula, inclusive a sua valiosa biblioteca que reunia
volumes antigos, datados do ano de 1700; o museu, que era uma dos mais completos do
Estado, podendo-se avaliar numa análise ainda incompleta em quase dois milhões de
cruzeiros somente aqueles dois departamentos do colégio”.
A notícia referia-se ao incêndio criminoso que destruiu, quase que por completo o
Colégio Júlio de Castilhos (fig. 65 e fig. 66), obra de Manoel Itaqui. Afirmamos como criminoso devido
a uma série de fatos que, inegavelmente, não deixam dúvidas quanto a isto. 24 horas antes do
sinistro, já haviam tentado atear fogo ao prédio onde ficava a secretaria do colégio, localizado defronte
ao mesmo, quebrando um vidro da porta de entrada e jogando para o interior uma bucha de pano
embebida em combustível que foi descoberta por uma servente na manhã seguinte.
O fogo não se propagou porque naquela noite chovia bastante o que acabou auxiliando
na debelação das chamas. Outro fato que chama a atenção é a declaração dos bombeiros quanto a
chave geral da luz estar desligada, o que afasta a possibilidade de curto circuito.
Segundo testemunhas, o fogo havia surgido em três pontos diferentes, ao mesmo
tempo, na cúpula central e nas duas cúpulas secundárias ou laterais, alastrando-se com rapidez, uma
vez que os entrepisos eram de madeira e a maioria do material em seu interior, como cadeiras e
cortinas, era de fácil combustão.
140
Figura 65- Vista do prédio após o incêndio.
Fonte: Acervo do Sr. João A. Lovato.
Figura 66- Vista em outro ângulo do prédio sinistrado.
Fonte: Acervo do Sr. João A. Lovato.
141
Acabou assim a “Luz Oficial” que ainda em 1951 era utilizada pelo Instituto Coussirat de
Araújo para dar a hora certa, acendendo cinco minutos antes das 20 horas, uma lâmpada vermelha
localizada na cúpula central deste prédio. Perdeu-se assim um exemplar da Arquitetura Gaúcha que
em seus 43 anos de existência havia conseguido um valor 15 vezes maior do que seu custo primitivo.
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