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Subvertendo os conceitos saussurianos de significante e significado, Lacan
considera o conceito de significante essencial para o entendimento do conceito de sujeito.
Em Saussure, o significante é a imagem acústica do signo e tem, em relação ao significado
(conceito, conteúdo semântico), absoluta independência, aparecendo como um par
associado, mas estanque e fixo. Em Lacan o significante, mais que autônomo em relação
ao significado, tem importância essencial: os significantes dialogam entre si, revelando
sempre um sentido expresso e outro latente, sendo que o sentido latente só é parcialmente
claro pela emergência de um outro significante. E, a partir dessa noção de significante,
podemos entender que, na psicanálise lacaniana, o sujeito não é o indivíduo biológico, mas
o resultado do efeito da linguagem na relação entre significantes. Importa o
desconhecimento que o sujeito tem daquilo que fala, do que está no inconsciente, “o
inconsciente é o discurso do Outro
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”, preconiza Lacan.
Althusser (1985), por seu turno, leitor de Freud e Lacan, estabelece que não há
como compreender a ideologia sem reconhecer a importância da linguagem no
entendimento lacaniano da castração simbólica
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. Visando ao sujeito da ideologia, afirma
que a ideologia interpela indivíduos como sujeito. E, por meio do mecanismo denominado
pelo pesquisador como interpelação, a ideologia, funcionando nos aspectos materiais da
vida cotidiana, vai operar a transformação de indivíduos em sujeitos. Isso ocorre quando,
inseridos em determinados contextos, indivíduos executam práticas reguladas por
aparelhos ideológicos. Esse reconhecimento, não sendo da ordem do consciente e sim do
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É o termo utilizado por Jacques Lacan para designar um lugar simbólico – o significante, a lei, a linguagem, o
inconsciente, ou, ainda, Deus – que determina o sujeito, ora de maneira externa a ele, ora de maneira intra-
subjetiva em sua relação com o desejo. Pode ser simplesmente escrito com maiúscula, opondo-se então a um
“outro”, com letra minúscula, definido como “outro” imaginário ou lugar da alteridade especular. Mas pode
receber a grafia grande “Outro” ou grande A, opondo-se então quer ao pequeno “outro”, quer ao pequeno a,
definido como objeto (pequeno) a. (ROUDINESCO; PLON, 1998, p. 558).
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Em nota (FINK, 1995, p. 228), Lacan diz: “Castração significa o gozo que deve ser recusado a fim de ser
alcançado sobre a escala inversa da Lei do desejo”. Fink (1995, p. 125) explica que, nas obras de Lacan, “a
castração está intimamente relacionada à alienação e à separação. [...] na alienação o ser falante emerge e é
forçado a renunciar a alguma coisa na medida em que ele vem a ser na linguagem”.