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Brincar é também aprenderPrograma 2
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Quanto mais variados forem os recursos de leitura do
mundo, maiores serão as chances de conhecê-lo e de
transformá-lo.
Essa característica humana não deve ser negada pela
escola, mas colocada a serviço da aprendizagem. Piaget
afirma que toda ação, isto é, todo movimento, pensa-
mento ou sentimento, corresponde a uma necessidade:
O encontro com o objeto exterior desencadeará a necessi-
dade de manipulá-lo; sua utilização para fins práticos susci-
tará uma pergunta ou um problema teórico. [] A cada ins-
tante, pode-se dizer, a ação é desequilibrada pelas transfor-
mações que aparecem no mundo, exterior ou interior.
E, nesse jogo de equilíbrio e desequilíbrio, a criança vai
passando por diferentes estágios de desenvolvimento
intelectual. Ela põe seu pensamento em confronto na re-
lação com o outro (que pode ser representado por pes-
soas, objetos, fenômenos, processos etc.) e descobre a
necessidade de verificar suas idéias.
A compreensão de um sistema de signos produzi-
dos culturalmente provoca mudanças nos processos
mentais do sujeito, já que é na interação social que a
criança constrói sua subjetividade.
Segundo Vygotsky, é o contexto que dá sentido à
palavra; ou, como diz Paulo Freire, precisamos apren-
der a ler a palavramundo.
Se a criança puder ver e saber como se faz a mis-
tura de argamassa que será usada para construir uma
casa, ou se entender como se forma a imagem na má-
quina fotográfica ou na câmara de cinema, ela enten-
derá melhor o mundo em que vive.
A escola do século 20A escola do século 20
A escola do século 20A escola do século 20
A escola do século 20
Em 1942, Celestin Freinet já observava que a criança,
outrora entretida com o cavalo e a carroça, passava
então a animar um automóvel imaginário. Hoje, no
final do século, a criança brinca de herói da televisão,
de satélites, viagens espaciais e microcomputadores.
Quer queiramos, quer não, a criança vive, age e reage
num meio que é o do século 20. A escola deve prepará-
la para viver o mais intensamente, o mais poderosamen-
te, o mais inteligentemente possível, e com um mínimo
de riscos e danos nesse meio real.
A escola, tal qual a conhecemos hoje, nasceu a partir
da mídia impressa e da divulgação do pensamento ra-
cional e científico, especializando-se na análise dos
elementos formais do código lingüístico (morfologia,
sintaxe e estética) e do código matemático-dedutivo.
Enfatizando principalmente o raciocínio lógico e
verbal, a escola privilegia crianças que têm mais ha-
bilidade nessas áreas intelectuais.
Em suas recentes pesquisas na Universidade de
Harvard (1985), Howard Gardner nos mostra que to-
dos os indivíduos são capazes de uma atuação em
pelo menos sete diferentes áreas intelectuais: lingüís-
tica (verbal), lógico-matemática, musical, espacial,
cinestésica, interpessoal e intrapessoal.
Segundo esse pesquisador, os seres humanos têm
a seu dispor, em graus variados, cada uma dessas áre-
as de inteligência e diferentes formas de combiná-las.
Desse modo, cada indivíduo utiliza essas capacidades
e as organiza para resolver problemas e criar soluções
significativas em um ou mais ambientes culturais.
Os pescadores desenvolvem muito a inteligência espa-
cial, para aprender a se localizar no mar. Os atletas, a
cinestésica. O político e o animador cultural, a interpessoal.
A cultura também é um dado importante para o
desenvolvimento da inteligência – a criança tende a
buscar se aprimorar nas áreas nas quais ela própria
demonstra maior eficácia, no desempenho de ativi-
dades valorizadas pelo grupo cultural.