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A Geometria, as crianças e a realidade
desses, que mais parece uma bula de remédio.
Entretanto, era assim que se ensinava Geometria
há cinqüenta anos. Felizmente, os estudos modernos
trouxeram idéias importantes para entender a manei-
ra pela qual as crianças aprendem. E isso mudou o
ensino de Geometria.
Ao entrar na escola, as crianças já sabem muitas coi-
sas de Geometria.
Talvez você esteja se perguntando: Mas, o que tudo
isso tem a ver com meus alunos e com minhas aulas?
Para responder, vamos ‘fazer de conta’. Pense em
um aluno imaginário, que talvez não seja tão imagi-
nário assim. Vamos chamá-lo de Juca.
Nosso Juca adora jogar futebol. No jogo, ele corre, se des-
loca para a frente, para trás e para os lados; se orienta para
fugir da marcação; procura não deixar a bola passar da li-
nha lateral; reconhece as fronteiras do campo; dá chutes
em diagonal para o vizinho à esquerda; sabe que, para
marcar o gol, precisa colocar a bola dentro daquele retân-
gulo que todo mundo chama de trave; corre em direção à
meta e chuta no canto direito do goleiro; depois do gol, ele
coloca a bola embaixo do braço e corre em direção ao
círculo central no meio do campo.
Vamos parar um pouco e analisar o que ele fez:
deslocamento para a frente, para trás, para os lados,
orientação, direção, linha lateral, diagonal, vizinhan-
ça, esquerda, direita, dentro, fora, retângulo, círculo,
meio do campo. Quanta Geometria junto!
Diante de todo esse conhecimento geométrico do
Juca e de outras crianças, só cabe recomendar aos
professores muita atenção, para reconhecer e explo-
rar as situações da vida real, que podem contribuir
muito para a aprendizagem.
E que outras coisas faz nosso Juca?
Juca brinca de pega-pega, faz pipa e aviãozinho, constrói
caminhõezinhos de papelão, ajuda seu irmão na construção
de um carrinho de rolimã, xereta o trabalho do pai na oficina,
e, com brinquedos estruturados, de montar, constrói coisas
que ele copia do manual de instruções e outras que inventa.
Vamos analisar novamente: o Juca constrói coisas,
imagina objetos tridimensionais na cabeça e os mon-
ta, constrói pipas que são formas geométricas bem
conhecidas, tem consciência das diagonais da pipa,
mesmo sem saber formalmente o que é uma
diagonal. Enquanto constrói aviõezinhos, faz
dobraduras relacionadas à simetria da construção.
Taí. O Juca sabe muitas coisas de natureza geométri-
ca, tem muitas habilidades de natureza geométrica. É
fácil imaginar que ele seja igualzinho a seus alunos.
Ele não vai aprender melhor Geometria se a es-
cola desprezar as coisas que ele já sabe e já faz. Ele
não vai aprender Geometria significativa só por ou-
vir uma definição de hexágono, diagonal ou outra
qualquer. É por isso que, como dissemos, não se
aprende Geometria com os ouvidos.
As crianças aprendem Geometria observando e fazen-
do coisas cujo significado compreendem.
Talvez você esteja de novo se perguntando: Como
ensinar Geometria levando tudo isso em conta?
Não é difícil. O papel do professor é promover situa-
ções que levem os alunos a expressar tudo isso que eles
já sabem (sem nunca ter pensado nisso), conversar a
respeito e fazer coisas de natureza geométrica.
O professor ajuda a criança a organizar os conhe-
cimentos que ela já tem para ampliá-los, refiná-los e
avançar para novos conceitos, mais complexos.
Uma criança em idade escolar não precisa que os
adultos lhe digam o que é um ponto, uma reta ou um
círculo. Ela já absorveu essas idéias de algum modo. O