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O bebê surdo: tornando-se independentePrograma 2
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pelos familiares, ignorando a compreensiva, invisível mas
dedutível? Pensamos que, desde os primeiros choros e
interações com a mãe, a linguagem começa a despontar
como um todo. (Solange Issler, in Corrêa, 1999, pp. 23-24)
O aparelho auditivo
Em alguns casos, o exame audiométrico indica a pos-
sibilidade de adoção de um aparelho de amplificação
sonora individual (A.A.S.I.). Trata-se de um equipamen-
to pequeno, colocado junto ao ouvido da criança, que
amplia a intensidade dos sons e os traz para um nível
confortável para quem precisa usá-lo. Atualmente, há
aparelhos com alto nível de sofisticação, que ampliam
o som de maneira cada vez mais seletiva. Por exem-
plo, nos momentos de comunicação, os sons da fala têm
‘prioridade’ sobre os ruídos ambientais.
Os benefícios advindos do uso do aparelho audi-
tivo não são percebidos de imediato; é necessário um
período de aprendizagem e de adequação auditiva
que, às vezes, desanima a criança e seus familiares.
Mas os pais precisam entender o que esse aparelho
pode representar para o filho, os benefícios que pode
trazer e suas limitações. O uso do aparelho pode ser
comparado com o dos óculos, para quem tem deficiên-
cias de visão, embora neste último caso a aceitação seja
mais fácil, pois o resultado – ver melhor – é imediato.
O aparelho de surdez costuma gerar grandes ex-
pectativas, como se fosse capaz de realizar milagres.
Muitos pais imaginam que, a partir do uso do apare-
lho, seu filho deixará de ser surdo e se transformará
em ouvinte. Mas não é assim.
Para saber quando a criança vai aprender a perceber
os sons com o aparelho auditivo, deve-se levar em conta
a perda auditiva e, mais ainda, a estimulação recebida.
inarticulados de sensação de prazer e desprazer. É como se
estivesse treinando a emissão de sons, sem perceber o que
está fazendo – não precisa da audição, para essa atividade.
O bebê com perda auditiva interrompe o balbu-
cio devido à falta de audição normal; não escuta os
próprios sons, e assim seu desenvolvimento lingüís-
tico não tem estímulos.
Apoio e orientação à família
Identificada a surdez, o primeiro passo consiste em
dar apoio à família e orientá-la em relação às neces-
sidades de seu bebê. A estimulação precoce realizada
no ambiente doméstico, aliada ao trabalho educacio-
nal de profissionais, permitirá que a criança adquira
condições de se comunicar da melhor forma possível,
situando-se de modo adequado na sociedade.
No trabalho com os pais, não basta orientá-los em
relação à melhor forma de estimular a audição dos
filhos. Eles precisam ter a oportunidade de manifes-
tar suas preocupações e receber esclarecimentos su-
ficientes para que se sintam mais seguros. É impor-
tante que possam falar de suas angústias por ter um
filho diferente do esperado.
Os pais precisam aprender a escutar os sons emi-
tidos pelo bebê, sabendo que eles contêm significa-
dos, ou seja, constituem uma linguagem. Essa atitude
equivale à da mãe da criança ouvinte: quando o bebê
emite ‘pá’, a mãe dá um sentido ao som, completando
a palavra de acordo com o que entendeu – ‘papai’,
‘papa’, ‘você quer comer’ etc.
As crianças adquirem a linguagem, obviamente. A questão
agora é a que tipo de linguagem nos referimos quando di-
zemos que só aos 24 meses a criança ‘tem’ linguagem.
Referimo-nos à linguagem expressiva, ouvida e percebida