Download PDF
ads:
ISSN 1809-4694
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
EXPEDIENTE
Expediente
Conselho editorial
Ivone Maria Elias Moreyra, Patrícia Barcelos,
Solange Moreira Corrêa, Sonia Ana C. Leszczynski
Coordenação editorial
Cinara Barbosa
Produção Executiva
Cinara Barbosa e Sandra Branchine
Reportagens e Fotografias
Rodrigo Farhat
Revisão
Lunde Braghini
Impressão e Projeto Gráfico
Gráfica e Editora Qualidade
Impresso no Brasil
A exatidão das informações, os conceitos e opiniões emitidos
nos artigos científicos e nos resumos estendidos são de exclu-
siva responsabilidade dos autores
2006 Ministério da Educação
É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde
que citada a fonte
Série Cadernos Temáticos
Tiragem: 5.000 exemplares
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
Esplanada dos Ministérios, Edifício Sede, bloco L, 4º andar
70047-900 – Brasília/DF
Tel: (61) 2104-8127/9526
Fax: (61) 2104-9744
www.mec.gov.br
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Centro de Informação e Biblioteca em Educação (CIBEC)
Cadernos temáticos / Secretaria de Educação Pro ssional e Tecnológica. –
N. 8, (jan. 2006). – Brasília : Secretaria de Educação Pro ssional
e Tecnológica, 2004-.
1. Educação Pro ssional. 2. Práticas Educativas. 3. Prática Pedagógica.
4. Experiências Pedagógicas.
CDU 377
ads:
Arquivo
SUMÁRIO
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Editorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Reportagens
Albergados são ressocializados em Manaus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
Aluno especial se prepara para vestibular em Belém . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Manaus forma novos cidadãos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
Povos indígenas são beneficiados por energia solar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Artigos
Projetos Sociais: Um Princípio Educativo nos
Currículos dos Cursos Superiores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
Tereza Cristina Valverde A. Alves
Diagnóstico e Prevenção do Diabetes
com os Recursos Tecnológicos da Informática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Paulo C. Paulino, Fellipe R. de Almeida, Ícaro A. Fernandes, Bruno C. de Medeiros, Stephanie P.
D. Oliveira, Silas Parmezan, Karin B. Senra, Fábio B. Suzuki, Mayara Z. Tiwata e Igor V. B. Tromel
A Gestão do Lixo no Espaço Rural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Giancarla Salamoni, Ana Paula de Araújo Cunha, Ricardo Pereira Costa
e Adão José Vital da Costa
Projeto Interdisciplinar de Política Sanitária Ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Edilene Rocha Guimarães, Marcos Valença e Maria Elizabete de Figueredo
Triatomíneos Vetores da Doença de Chagas no
Assentamento de Reforma Agrária Ezequias dos Reis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Jureth Couto Lemos, Baltazar Casagrande, Jaqueline Aida Ferrete, Jakson Arlam Ferrete, Kênia
Rezende e Maria Inês Machado
A Participação da Comunidade na
Construção de um Projeto Político-Pedagógico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Laíze Márcia Porto Alegre
Notas sobre a Capoeira em São Luis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Leopoldo Gil Dulcio Vaz
Resumos Estendidos, Relatos de Experiência e Práticas Pedagógicas
Proposta Curricular de Primeiros Socorros para
Curso Técnico em Agropecuária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Francisco Salviano Sales Nobre
A Educação Ambiental para Comunidades do
Entorno de Parques e Reservas Urbanas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Geraldo Antônio G. Almeida
Plantas Medicinais: Saberes e Práticas do Cerrado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Aparecida de Fátima Soane Lomônaco
Sala de Espera em Odontologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Beatriz Lemos Stutz, Inês Laluci Durighetto, Maria Helena Ribeiro Godoy, Maria das Graças
Alencar Urquiza e Marisa Martins da Silva Prado
A Integração de Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais . . . . . . . . . . . . . 68
Nadson C. dos Reis e Venina dos Santos
Contatos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
Foco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 6 NOV. 2005
6
Cinara Barbosa
Cinara Barbosa
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
7
APRESENTAÇÃO
Apresentação
Professor,
A equipe da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do
MEC produziu mais cinco volumes dos Cadernos Temáticos sobre
educação profissional. Neste número sobre comunidade, a equipe de
comunicação da Setec foi a Belém, no Pará, a Boa Vista, em Roraima,
e a Manaus, no Amazonas, para produzir matérias sobre os aspectos
do trabalho realizado pelas escolas da rede federal de educação técni-
ca e tecnológica.
Para citar apenas três artigos deste volume, destaco as notas so-
bre a capoeira, em São Luís, no Maranhão, do professor Leopoldo
Gil Dúlcio Vaz; o relato sobre os saberes e as práticas com plantas
medicinais do cerrado, de Aparecida de Fátima Soane Lomônaco, da
Escola Técnica de Saúde de Uberlândia, em Minas Gerais; e a gestão
do lixo no espaço rural, dos pesquisadores Adão José Vital da Costa,
Ana Paula de Araújo Cunha, Giancarla Salamoni e Ricardo Pereira
Costa, do Centro Federal de Educação Tecnológica de Pelotas, no Rio
Grande do Sul.
Em 2007, ano em que publicaremos os volumes de números 11 a 15
dos Cadernos Temáticos, a rede federal de educação técnica e tecnológi-
ca terá crescido 29%. O Brasil terá, então, em vez das atuais 144 escolas,
186 instituições formadoras, diferentes experiências poderão ser publi-
cadas pela Setec para mostrar a diversidade da realidade brasileira.
A expansão da rede – ao lado do Proeja, que integra os ensinos mé-
dio e técnico para jovens e adultos, e da Escola de Fábrica, que capacita
trabalhadores dentro das empresas – ampliará o número de vagas para
formação de profissionais, fortalecerá municípios, estados e, principal-
mente, vocações regionais do país. Afinal, educação e trabalho são con-
dições essenciais na formação das cidadanias participativas.
Boa leitura.
Eliezer Pacheco
Secretário de Educação Profissional e Tecnológica do MEC
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 6 NOV. 2005
8
Cinara Barbosa
EDITORIAL
Editorial
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
9
A Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
do MEC tem o prazer de trazer ao público brasileiro
mais cinco volumes dos Cadernos Temáticos, no mesmo
momento em que a Casa Civil da Presidência da Repúbli-
ca encaminha ao Congresso Nacional projeto de lei para
a criação de escolas de formação profissional. Nessas pu-
blicações, reportagens, práticas pedagógicas e relatos de
experiências mostram o fortalecimento da rede federal de
educação técnica e tecnológica.
As novas instituições que estão sendo criadas pelo Go-
verno Federal estão incluídas na primeira etapa do plano
de expansão da rede federal de educação profissional e
tecnológica. A estratégia prevê, nos próximos dois anos,
a criação de 33 unidades descentralizadas dos Centros
Federais de Educação Tecnológica (Cefets), de cinco es-
colas técnicas e de quatro agrotécnicas. O investimento
do Governo Federal para implementação dessas institui-
ções será de R$ 57 milhões.
As escolas técnicas federais serão criadas nos estados
do Acre, Amapá, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do
Sul e Rondônia. As agrotécnicas serão instaladas em Bra-
sília (DF), Marabá (PA), Nova Andradina (MS) e São
Raimundo das Mangabeiras (MA) e as 33 unidades de
ensino descentralizadas serão instaladas em 17 estados.
A escolha das localidades seguiu três critérios: unida-
des federadas sem instituição federal de educação pro-
fissional; regiões interioranas do território nacional; e
periferias dos grandes centros urbanos.
A rede federal de educação tecnológica, que hoje tem
144 unidades de ensino, possuirá ao final de 2007 cer-
ca de 186 unidades, com um crescimento de 29%. Em
2009, quando todos os novos cursos estiverem em fun-
cionamento, estima-se que seja superada a marca de 300
mil matrículas nos cursos técnicos, superiores e de edu-
cação de jovens e adultos, exatamente no ano em que
a rede completará um século. Em termos percentuais, o
total de matrículas deverá ser ampliado em mais de 30%
em relação aos números de 2006.
Parte da produção atual das escolas da rede está aqui, nas
páginas desses cinco volumes dos Cadernos Temáticos.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
10
Formação Profissional
Formação Profissional
Albergados são
ressocializados em Manaus
Professores do Cefet AM
ensinam uma profissão para ex-detentos
Rubenik Soares de Araújo tem 25 anos e foi condena-
do por tráfico de drogas a dois anos, oito meses e um dia
em regime semi-aberto. Ediney Salvador Rodrigues tem 23
anos e também cumpre pena, porém de sete anos, por as-
salto à mão armada. Embora ambos não tenham terminado
o ensino fundamental, agora têm se encontrado na escola,
durante as aulas do engenheiro civil Laerte Barros. O pro-
fessor ensina Rubenik e Ediney a pintar paredes.
Além de Rubenick e Ediney, há outros 18 albergados nas
aulas de pintura que o Centro Federal de Educação Tecno-
lógica do Amazonas (Cefet/AM) oferece para detentos e
egressos do sistema penal.
As aulas começaram recentemente. Em sala, alguns alu-
nos ouvem o professor Laerte explicar como calcular um
orçamento para a pintura de uma determinada área. “É as-
sim que se inicia o cálculo do preço do serviço”, explica
De acordo com o Código Penal
Brasileiro (Art. 35), as regras do
regime semi-aberto são: o condenado
fica sujeito a trabalho durante o dia,
em colônia agrícola ou industrial. O
trabalho externo é permitido, assim
como a freqüência a cursos supletivos
profissionalizantes, de instrução de
segundo grau ou superior. Já no regime
fechado (Art. 34), o condenado fica
sujeito a trabalho durante o dia e a iso-
lamento à noite. O ofício será exercido
em comum dentro do estabelecimento,
conforme suas aptidões ou ocupações
anteriores à condenação.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
11
Laerte para os alunos. Depois, multiplica-se esse valor pelo
preço da mão-de-obra, que em Manaus varia de R$ 5,00 a
R$ 15,00.
Com a explicação, Rubenick reconhece com um erro
que cometeu certa vez. Ao estipular o preço da pintura
do pátio da casa de um parente, calculou o orçamento
por baixo e somente tomou consciência do prejuízo ao
terminar a tarefa. Agora que decidiu fazer o curso, está
descobrindo, além de novos conhecimentos, o gosto
pelo retorno às aulas. “Tem ainda o diploma e o desejo
de voltar a estudar”, diz.
Seu colega Ednei ficou um ano no regime fechado,
seis meses e 23 dias no semi-aberto e agora está há um
mês na Casa do Albergado. Diz querer largar a vida
da malandragem, “que não dá certo”. Nunca trabalhou
como pintor, mas agora que está aprendendo o ofício,
quer arranjar algo para fazer quando terminar de cum-
prir sua pena.
A Casa do Albergado foi criada em julho de
1985. É um estabelecimento de segurança
mínima, destinado ao cumprimento de
penas em regime aberto e da pena de limi-
tação de fim de semana. Está subordinada
à Secretaria de Estado de Justiça e Direitos
Humanos (Sejus) do Amazonas.
A unidade acolhe, no período noturno e nos
feriados, o condenado até quatro anos de
privação da pena de liberdade; o condenado
a mais de quatro anos e até oito anos, após
o cumprimento de um sexto da pena em
regime semi-aberto; o condenado a mais de
oito anos que tenha cumprido dois sextos em
regime mais rigoroso. A casa também acolhe
os condenados à pena restritiva de direitos, a
chamada prisão de fim de semana.
Suas metas são dar continuidade à reeduca-
ção dos condenados, por meio do trabalho,
da orientação profissional, da religião, da
autodisciplina e do senso de responsabili-
dade, como explica o diretor Fabiano Souza
Fabrício Júnior. Para ele, os presos têm que
sair dali diferentes de quando entraram. “Se
eles não tiveram uma oportunidade lá fora,
temos que dá-la aqui”, diz.
ESSE NÃO É o primeiro curso que o Cefet/AM pro-
move dentro de presídios e albergues. O projeto de quali-
ficação e requalificação profissional de detentos e egressos
do sistema penal da instituição existe desde 1998, como
explica a diretora de Relações Empresariais e Comunitárias,
Sandra Magni Darwich. Desde então, já foram oferecidos
14 cursos, em três unidades penitenciárias do Amazonas e
no próprio Cefet, para 795 presos.
O projeto do Cefet/AM, além de propiciar alternati-
vas de geração de renda, de melhoria das condições de
vida dos presos e de suas famílias, contribui para o res-
gate da auto-estima e o desenvolvimento da consciência
de cidadania dos condenados. Sandra diz que os maio-
res adversários do ex-presidiário que procura emprego
são a rejeição e o preconceito da sociedade e também
a falta de escolaridade e de formação profissional. Ela
lembra que os presos que participam de atividades edu-
cativas e de formação profissional têm mais condições
de se reintegrar à sociedade. Porém, de acordo com uma
avaliação de 2003 do Tribunal de Contas da União so-
bre profissionalização do preso, as ações de educação
profissional no Brasil ainda são muito tímidas e não
beneficiam mais que 10% da população carcerária.
Os cursos do Cefet são oferecidos em parceria com as
secretarias de Trabalho e Cidadania do Estado do Amazo-
nas (Setraci), de Justiça e Direitos Humanos (Sejus), com
recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), do
Ministério do Trabalho e Emprego.
Já foram ofertados cursos nas áreas de
refrigeração comercial, pequenos reparos
domésticos, artífice da construção civil,
armador de ferramentas em obra de cons-
trução civil, pintor, pátina em revestimento,
carpinteiro de forma, cartões em papel ve-
getal e pintura em gesso, roupas de banho,
culinária, eletricista, bombeiro hidráulico,
eletrônica básica e serigrafia.
O sistema prisional do Estado do Amazonas é
integrado pelo Complexo Penitenciário Anísio
Jobim (450 vagas em regime fechado e 138
no semi-aberto), Complexo Penitenciário
Unidade Prisional do Puraquequara (com
614 vagas), pela Penitenciária Feminina (87
vagas), pela Cadeia Pública Raimundo Vidal
Pessoa (104 vagas), pelo Hospital de Custó-
dia e Tratamento Psiquiátrico (30 vagas) e
pela Casa do Albergado (64 vagas). Segundo
estimativas da Secretaria de Justiça e Direitos
Humanos do Estado do Amazonas (Sejus),
há cerca de 1,6 mil presos em Manaus e
aproximadamente três mil no estado.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
12
O curso de pintura de paredes oferecido pelo Cefet/AM
tem 40 horas-aula. São três horas de ensinamentos teóri-
cos e o restante é pura prática, de segunda a sexta-feira.
O professor Laerte Barros tem experiência em en-
sinar uma profissão para detentos. Já ministrou vários
cursos na área da construção civil, tanto na Penitenci-
ária Anísio Jobim, quanto na Vidal Pessoa. “É minha
parcela de contribuição à sociedade”, esclarece.
No início dos cursos, ele tenta levantar o moral dos
alunos. “Começo estimulando a auto-estima dos estu-
dantes. Tento mostrar que as oportunidades existem e
que é preciso se preparar para ocupar os espaços que são
nossos na sociedade”, conta. Laerte lembra que muitos
de seus alunos já são profissionais, mas como não têm
qualificação, têm mais dificuldade para ingressar no
mundo do trabalho.
Curso tem 40 horas
Professor Laerte ensina a fazer um orçamento
Rubenick redescobre o gosto
pelas aulas
Ediney está aprendendo um
novo ofício
Segundo a Human Rights Watch
(http://www.hrw.org/portugue-
se/reports/presos/prefacio.htm) “o
Brasil encarcera mais pessoas do que
qualquer outro país na América Latina,
possui um número de agentes peniten-
ciários maior que o número de presos
em muitos países [e sua] população
carcerária, como no resto do mundo,
é formada basicamente por jovens,
pobres, homens com baixo nível de
escolaridade. Pesquisas sobre o sistema
prisional indicam que mais da metade
dos presos têm menos de 30 anos;
95% são pobres; 95% são do sexo
masculino; e dois terços não comple-
taram o primeiro grau (cerca de 12%
são analfabetos). Devido a pobreza e
antecedentes à margem da sociedade,
eles e seus familiares possuem pouca
influência política, o que se traduz em
poucas chances de obter apoio para
colocar um fim nos abusos cometidos
contra eles.
“O crime mais comum entre os deten-
tos é o roubo, tendo cerca de 35% dos
detentos sido presos ou condenados por
isso; outros crimes comuns são furtos,
homicídios e tráfico de drogas. Nos es-
tados nos quais informação sobre a cor
da pele dos detentos está disponível,
parece que a distribuição por raça não
difere significativamente da distribui-
ção do país como um todo, exceto pelo
fato de estarem os pretos super-repre-
sentados: aproximadamente metade
dos presos é de brancos enquanto 17%
são pretos e 30% são pardos ou mu-
latos. Apenas cerca de mil estrangeiros
são mantidos presos, incluindo presos
da Bolívia, Nigéria, Uruguai, África do
Sul e Argentina.”
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
13
Compromisso com a sociedade. Essa é a idéia que nor-
teia o projeto Vestibular Solidário, criado pelas professoras
Maria Olinda Bastos, Rita Gil e Solange Cristo, do Centro
Federal de Educação Tecnológica do Pará (Cefet/PA), em
2002. Os 240 alunos inscritos no programa têm acesso às
matérias cobradas para o ingresso nas universidades e, des-
sa forma, ficam mais bem preparados para o vestibular.
Do total de vagas, 110 são isentas de pagamento e os
alunos restantes contribuem, mensalmente, com R$ 20.
Das vagas gratuitas, dez são destinadas a portadores de ne-
cessidades especiais: cinco para deficientes físicos e cinco
para estudantes com problemas de visão. A seleção dos alu-
nos isentos é baseada em análise da comprovação de resi-
dência e renda familiar.
Yolanda Yuko Miyake Nogueira, de 49 anos, é uma das
estudantes com necessidades especiais do projeto Vestibu-
Projeto do Cefet/PA envolve estudantes
na formação de portador de necessidades especiais
Aluno especial se prepara
para vestibular em Belém
Educação Especial
Cada uma das seis turmas tem
40 alunos.
Fotos: Cinara Barbosa
Educação Especial
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
14
lar Solidário. Portadora de retinose pigmentar, uma dege-
neração da retina, é casada e tem três filhos.
Para ela, a educação é o “carro da frente” e, sem for-
mação, não há possibilidade de crescimento. Mesmo as-
sim, não se sentia segura em estudar, pois, geralmente,
as escolas não têm quadros e material didático adap-
tados. Isso era o que mais a desestimulava. Soube do
programa no Instituto José Alvarez de Azevedo em Be-
lém, especializado em acompanhamento de deficientes
visuais.
Ela revela que o maior problema, agora, é rever a matéria
estudada mais tarde, o que lhe consome muita energia. No
futuro, quer ser pedagoga e acredita que possa dar aula
para deficientes visuais e até para estudantes sem proble-
mas como o seu.
O núcleo de Educação e Tecnologia para Portado-
res de Necessidades Especiais (Tecnep) do Cefet/PA
fornece os recursos e a orientação técnica para os pro-
fessores bolsistas que atuam com os alunos especiais.
Esses docentes são auxiliados por 15 estagiários dos
últimos períodos dos cursos de licenciatura em Biolo-
gia, Física, Geografia, Matemática e Química, do Ce-
fet/PA, e de Ciências Sociais, História e línguas, da
Universidade Federal do Pará (UFPA). Todos os es-
tagiários são orientados por professores do Cefet/PA,
que os auxiliam a planejar e selecionar os conteúdos a
serem transmitidos. Pelo trabalho, os estagiários rece-
bem uma bolsa de R$ 260,00.
Andréia Cristina Santa Rosa Farias, de 19 anos, também
estuda no Vestibular Solidário. Foi jogada contra uma cerca
quando estava na sétima série, teve traumatismo craniano,
ficou tetraplégica e, por três anos, não freqüentou a escola.
Ela conta que foi difícil voltar a estudar, pois se esquecia
de tudo muito facilmente.
Com esforço, concluiu o ensino fundamental em
dois anos e meio em um curso para jovens e adultos.
Soube do programa do Cefet/PA na Associação dos
Deficientes Físicos do Pará (ADFPA) e hoje se sente
incentivada: “é um estímulo os professores serem tão
jovens quanto eu”.
No Cefet/PA, tudo é adaptado. “A infra-estrutura da
escola permite que eu tenha acesso a todos os ambien-
tes”, revela. “Quem não é cadeirante, não imagina como
as condições de acesso são importantes”, diz. Andréia
gosta muito de biologia, sonha em cursar medicina e
se especializar em cardiologia, apesar da concorrência,
que é alta.
O programa Tecnep busca o atendi-
mento, pelas instituições federais de
educação tecnológica, de pessoas com
necessidades educacionais especiais.
Atua em cursos de nível básico, técnico
e tecnológico, em parceria com os siste-
mas estaduais e municipais de ensino,
e também com escolas do segmento
comunitário.
Yolanda Yuko Miyake é um
exemplo para os colegas
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
15
OS ESTUDANTES QUE participam do projeto Ves-
tibular Solidário são alunos que concluíram o ensino mé-
dio nas escolas do estado e têm interesse em ingressar nas
universidades do Estado do Pará (Uepa), Federal do Pará
(UFPA) e Rural da Amazônia (Ufra), além, do Cefet/PA,
como explica a professora Solange Cristo, coordenadora
do projeto.
As instituições de ensino públicas devem manter prá-
ticas que possibilitem a busca de um equilíbrio entre as
demandas que lhes são socialmente exigidas e os saberes e
as inovações pedagógicas e tecnológicas contemporâneas,
diz a coordenadora.
Ela lembra que a iniciativa de criação do projeto foi de
membros do Diretório Central dos Estudantes (DCE) do
Cefet/PA e da Gerência dos Cursos Superiores, que viabili-
zou sua execução, por meio da concessão de bolsas.
A rampa garante o acesso às salas de aula
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
16
A monitora Elisa se identifi ca
com o projeto
A coordenadora do projeto Vestibular Solidário, Solan-
ge Cristo, diz que para os estagiários do programa é um
duplo aprendizado, pois além da prática do ensino em sala
de aula, eles têm que levar em consideração as diferenças
e as necessidades de cada um, tanto as intelectuais quanto
as físicas. “Ao dar uma aula, eles precisam lembrar que há
entre os alunos pessoas com deficiência visual, que não en-
xergam direito o quadro-negro. Por isso, têm que escrever
com letras grandes”.
Elisa Martins, de 20 anos, é uma das monitoras de tur-
ma. Acredita que a experiência é enriquecedora. Conta que
admira muito sua amiga Yolanda, que, apesar da baixa visão,
é uma das melhores alunas da turma. “Yolanda obteve uma
das melhores notas do simulado realizado recentemente
pelo Cefet/PA”, conta. “Tenho aprendido coisas que não
tinha visto antes e me sinto identificada”, diz a monitora,
que deseja cursar Serviço Social mais tarde.
A coordenadora Solange explica que é preciso dar con-
dições de acesso e aprendizado aos alunos com necessida-
des especiais e, portanto, várias adaptações são necessárias.
Desde o material didático às instalações físicas. Tanto é
que os exercícios impressos entregues em sala têm uma ver-
são ampliada para aqueles com baixa acuidade visual. Há,
ainda, apostilas em braile e rampa e elevador de acesso para
os cadeirantes. “Sem essa estrutura, o aluno corre o risco
de se sentir desmotivado e abandonar os estudos”, diz.
José Roberto Farias, de 35 anos, entrou para o curso
em agosto de 2005. Teve poliomielite aos dois anos e tem
dificuldade de se locomover. Um colega de cursinho lhe
contou sobre o projeto do Cefet/PA e ele decidiu trocar
de escola. Apesar de considerar bom o antigo curso que
freqüentava, os problemas de locomoção e transporte lhe
causavam muitos transtornos.
Farias teve bom desempenho no último Exame Nacional
de Ensino Médio (Enem) para a Unidade de Ensino Su-
perior da Amazônia (Unama). Pretende ser administrador
e diz, com convicção: “estudar é importante para todos os
brasileiros”.
Aprendizado é duplo
Colaborou: Cinara Barbosa
Solange Cristo mostra o
material didático com
versão ampliada
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
17
Jovens e Adultos
Projeto do Cefet/AM capacitará pedreiros no canteiro de obras
Manaus forma novos cidadãos
Padiola, betoneira, cimento e martelo. Com palavras
simples assim, Valdenise Costa, 19 anos, estudante do
quarto módulo do curso de Edificações do Centro Federal
de Educação Tecnológica do Amazonas (Cefet/AM), ini-
cia a aula para pedreiros e serventes da construção civil no
campus da instituição. A prática integra o projeto De Lápis
e Colher na Mão, vencedor da etapa regional do Prêmio
Técnico Empreendedor MEC/Sebrae de 2004. Ainda são
os primeiros passos da equipe do Cefet/AM na área, pois
as aulas nos canteiros de obras da RD Engenharia estão
previstas para começar em 2006.
Valdenise fala da seca de 2005 no Norte do país. Ela
sabe da realidade daqueles homens. Seu colega Moisés Ca-
bral Bessa, 27 anos, estudante do mesmo curso, assume a
“sala de aula” e relaciona a seca com a construção civil. Ele
está no projeto para ganhar experiência na área e também
por sua vivência no setor.
Moisés trabalha a partir de conhecimentos que os pe-
dreiros já têm. Ele explica como calcular a área de paredes
e assim ensina geometria aos trabalhadores. Ele também
Jovens e Adultos
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
18
explica as proporções. Mostra que o traço para assenta-
mento de tijolos é de 1:5, ou seja, uma parte de cimento
para cinco partes de areia. Os pedreiros reconhecem sua re-
alidade diária naqueles ensinamentos teóricos, pois fazem
isso todos os dias.
MOISÉS SABE DO que fala. Ele conta que aos 6 anos
já carregava pedra e tijolo para ajudar o pai, pedreiro. Pa-
rou de estudar aos 16 e agora que retomou os estudos
quer concluir o curso técnico de Edificações, fazer o de
tecnologia em Gestão de Obras e, mais tarde, ingressar em
uma faculdade de Arquitetura. Enquanto isso, dá sua con-
tribuição para fazer o país crescer. “Nosso futuro está na
educação”, acredita.
Thammy Rodrigues, de 19 anos, a estudante-professora
da aula seguinte, aprofunda questões relacionadas às pala-
vras geradoras do início. A de hoje é padiola. Padiola serve
como instrumento no preparo e no manuseio do concreto.
Todos sabem disso, inclusive ela, que escreve no quadro
negro a palavra dividida em sílabas. Pa-di-o-la. Pa – Pe – Pi
– Po – Pu. Da – De – Di – Do – Du. La – Le – Li – Lo
– Lu. Depois, novas palavras são formadas a partir daque-
las primeiras sílabas.
Thammy diz que a construção civil é o setor que mais
emprega mão-de-obra não qualificada e com baixa esco-
laridade. Como seus colegas de curso, ela quer ajudar a
aumentar a auto-estima dos estudantes-trabalhadores do
projeto. “Eles não sabem ler, mas constroem casas”. Um
deles, certa vez, disse uma grande verdade para ela: “Nós
construímos o mundo”.
DO UNIVERSO DE todos aqueles homens, a equipe
da professora Núbia Cintrão, coordenadora pedagógica do
projeto, vai colocar em debate, na “sala de aula”, alguns
temas importantes para a humanidade: clima, economia,
meio ambiente, transporte, qualidade de vida, alimentação
e efeito estufa. Desse cenário, outros conteúdos serão dis-
cutidos durante o curso, que terá duração de cinco me-
ses, como a identidade, os meios de comunicação e as lin-
guagens oral e escrita. Durante as aulas práticas, medidas,
porcentagens e estatística também serão abordadas, assim
como instalações hidráulicas e elétricas, cobertura, alvena-
ria revestimento, esquadrias e acabamento.
Zequias Farias de Castro, de 56 anos, é um dos alunos.
Ele diz que o curso o ajuda a se lembrar de conhecimentos
que já esqueceu. “Aprendi tudo o que sei na prática”, conta
ele, que conseguiu terminar a quarta série do ensino fun-
damental. Seu colega Tanael Jesus de Andrade, de 39 anos,
teve mais sorte, pois chegou à oitava série. Ele também des-
Thammy usa a palavra padiola
como tema da aula
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
19
cobriu na prática os segredos da construção civil. Começou
com 15 anos, como ajudante. Aos 20 anos, fez toda a casa
onde hoje mora seu pai, como conta, orgulhoso.
Neudo Dias dos Santos, de 52 anos, não foi alfabeti-
zado. “Sei somente assinar o nome”, reconhece. “Aprendi
a profissão ralando, pagando as ferramentas que perdia”,
diz. Como não sabe ler, sempre precisa da ajuda de alguém
para pequenas coisas do dia-a-dia, como tirar dinheiro de
um caixa eletrônico ou ler um pequeno bilhete.
A estudante-professora Rosângela Souza dos Santos,
21, conta que no início do curso tenta identificar as di-
ficuldades de cada aluno-pedreiro. Ao final do programa,
revela, os trabalhadores estarão mais confiantes, pois sa-
berão calcular a área de um quarto, uma sala ou um ba-
nheiro, o traço e a quantidade de tijolo, cimento e areia
que a construção de uma parede demandará. “Como eu
tenho a teoria e eles, a prática, a troca é inevitável e todos
sempre sairão ganhando”.
Os alunos do curso do projeto De Lápis e Colher na
Mão têm histórias de vida semelhantes, mas cada uma tem
sua singularidade. Cada um tem algo diferente para contar.
José Batista de França, de 41 anos, estudou até a oitava
série do ensino fundamental. “Vim do interior e aprendi a
profissão na prática, com meus irmãos, fazendo massa e car-
regando tijolo”, conta. “Como aprendi no dia-a-dia, a teoria
que vou aprender no curso do Cefet/ AM vai me mostrar o
porquê das coisas. Assim, meu serviço ficará melhor”.
Odilon Batista dos Santos tem 60 anos. Estudou um
pouco menos que José Batista. Completou até a quarta sé-
rie. “Aprendi a profissão de pedreiro depois de velho e hoje
sou encarregado de obra”. Antes de vir para a capital, aos 30
anos, Odilon trabalhava na roça, como agricultor. Ele sabe
calcular a área de uma figura, mas aprendeu na marra, assim
como aprendeu a fazer a massa e tudo o mais da construção
civil. “Vou aprender a teoria no curso”, comemora.
A história de Francisco José dos Santos, de 28 anos, auxi-
liar de serviços gerais, não é tão diferente da de seus outros
colegas de curso. Ele estudou até a segunda série. Largou a
escola para dar sustento à mãe, que tinha sido abandonada
pelo marido. Antes, Francisco vendia peixe no mercado.
OS 53 ANOS de vida da pedagoga Maria Ieda da Silva
Batista também são singulares. Hoje integrante da equipe
do projeto De Lápis e Colher na Mão, ela começou a vida
profissional na linha de montagem de empresas como a
Sanyo e a CCE, na Zona Franca de Manaus, aos 17 anos.
Ficou nas fábricas por 14 anos.
Histórias de vida são parecidas porém singulares
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
20
As pedagogas Núbia Cintrão e Maria Ieda da Silva Batis-
ta explicam que a metodologia do projeto “pressupõe três
turmas de estudantes, em um total de 60, com diferentes
níveis de escolaridade”. Haverá a turma dos alfabetizados,
mas que largaram os estudos há muito tempo, a dos que
estão em processo de alfabetização e a dos que não foram
alfabetizados.
Serão 200 horas, divididas em 60 horas para conteúdos
de construção civil e 140 para temas relacionados à alfa-
betização. “Mas tudo será feito de forma interdisciplinar”,
avisa Maria Ieda.
Núbia diz que os recursos didáticos utilizados serão
cartazes, letras móveis, maquetes e apostilas.
As aulas serão destinadas, preferencialmente, para
trabalhadores com mais tempo de casa e com menor
nível de escolaridade na RD Engenharia. Ao final do
curso, os estudantes-trabalhadores receberão um certi-
ficado de qualificação básica em pedreiro de acabamento
e revestimento”.
A RD Engenharia vai pagar R$ 400 para os monitores,
o transporte e o lanche dos estudantes do Cefet/AM até
à obra, além, é claro, de liberar seus trabalhadores para as
aulas, que serão sempre ministradas pela manhã, das 7h às
8h30. As sextas-feiras serão reservadas para palestras so-
bre prevenção de acidentes, tabagismo e alcoolismo, gestão
ambiental e psicologia do trabalho.
O gerente de Marketing da construtora, Fábio Rafael,
diz que a empresa investirá R$ 10 mil no curso que será
ministrado pelo Cefet/AM em seus canteiros de obras. A
empresa, diz o gerente, faturou em 2004 R$ 45 milhões e
acredita em sua função social e também na importância da
qualificação de seus trabalhadores para a melhoria da qua-
lidade de suas obras. “Não há nada mais gratificante que
entregar um diploma a um homem de 60 anos”, lembra
ele, ao recordar de experiência semelhante de alfabetização
de 40 trabalhadores da companhia, que tem cerca de 600
funcionários.
O professor Rosenberg Mendes Zogahib, gerente de
Construção Civil do Cefet/AM e membro da equipe de
Depois, decidiu mudar de vida e fez um concurso para
servente no Cefet/AM. Passou, mas nunca exerceu de fato o
novo cargo. Ao contrário, fez de tudo um pouco.
Depois, pôs na cabeça que seria uma pedagoga. Não só
fez o curso no Cefet, como se formou em 2002 e concluiu
a pós-graduação em docência no ensino profissionalizante
algum tempo depois. Hoje, integra a equipe da professora
Núbia e diz que seu desafio é articular trabalho e estudo.
Curso terá 5 meses de duração
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
21
apoio do projeto, diz que o Amazonas é uma bolha e “se
as parcerias não são estabelecidas, fica-se sempre a ver as
coisas acontecerem lá fora”.
A filosofia adotada pelos professores do projeto De Lá-
pis e Colher na Mão utiliza, na prática, os saberes do co-
tidiano dos pedreiros. Essas não são idéias novas. Foram
retiradas dos pensamentos elaborados pelos educadores
Paulo Freire e Emília Ferrero.
O tema gerador escolhido no curso do Cefet/AM foi a
construção de uma casa popular. Do universo dos termos
utilizados na construção civil, os educadores escolheram
18 palavras geradoras: Padiola, betoneira, martelo, ferro,
vidro, tijolo, desempenadeira, seixo, cimento, zinco, ladri-
lho, reboco, nível, janela, xadrez, cal, guindaste e quarto.
Paulo Freire ensinou, em 1963, 300 adultos a ler e a
escrever, em 45 dias, na cidade de Angicos, no Rio Gran-
de do Norte. A alfabetização, para Paulo Freire, exige uma
pesquisa sobre o “universo vocabular mínimo” dos alfabe-
tizandos. Essas palavras, cerca de 17, chamadas de “pala-
vras geradoras”, devem ser de grande riqueza fonêmica e
colocadas em ordem crescente das menores para as maiores
dificuldades fonéticas para os alunos.
Quando o estudante consegue articular as sílabas e for-
mar palavras, ele está alfabetizado, acreditava Paulo Freire.
O processo, logicamente, requer um aprofundamento, a
chamada pós-alfabetização.
Para Paulo Freire, o importante não é a transmissão de
conteúdos específicos, mas o despertar para uma nova for-
ma de relação com a experiência vivida. A transmissão de
conteúdos estruturados fora do contexto social do educan-
do era considerada por ele como uma “invasão cultural” ou
um “depósito de informações”, por não emergir do saber
popular. Por isso, antes de qualquer coisa, é preciso co-
nhecer o aluno; conhecê-lo enquanto indivíduo dentro de
um contexto social de onde deverá sair o “conteúdo” a ser
trabalhado.
Para o educador, o ato educativo deve ser sempre uma
recriação, uma re-significação de significados.
Seu método tem, conforme mostrado em um de seus
livros mais famosos, Educação como Prática da Liberdade,
algumas fases distintas: na investigação temática, é feito
um estudo do universo vocabular e dos modos de vida dos
estudantes. Na tematização, temas e palavras geradoras
são selecionados. Por meio do tema gerador geral é que
será possível avançar para além do limite de conhecimento
O curso trabalha com o
cotidiano dos profi ssionais
Tema é a construção de uma casa popular
As contibuições de Paulo Freire e Emília Ferrero
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
22
que os educandos têm de sua própria realidade. Assim, eles
podem melhor compreendê-la e intervir criticamente. Do
tema gerador geral é que sairão as palavras geradoras. Cada
uma deverá ter sua ilustração. Por último, são feitas fichas
com a decomposição das famílias fonéticas corresponden-
tes aos vocábulos geradores.
A PSICOLINGÜISTA EMÍLIA Ferrero parte do pres-
suposto de que o aluno é sujeito da construção de seu pró-
prio conhecimento. Para ela, no ato de ensinar, o processo
se desloca para o ato de aprender, por meio da construção
de um conhecimento realizado pelo estudante, que deixa
de ser considerado alguém passivo que recebe e absorve
passivamente o que lhe é ensinado.
Emília Ferrero acreditou que para a alfabetização ter
sentido e ser um processo interativo, a escola tem que
trabalhar com o contexto do estudante, com histórias e
intervenções dos próprios alunos. Não é porque o estu-
dante participa de forma direta da construção do seu co-
nhecimento, dizia a educadora, que o professor não precisa
ensiná-lo. Sua grande contribuição foi encontrar uma ex-
plicação segundo a qual, “por trás da mão que pega o lápis,
dos olhos que olham, dos ouvidos que escutam”, há um
estudante que pensa.
Em conjunto com Ana Teberosky, Emília Ferrero publi-
cou, em 1979, Los Sistemas de Escritura en el desarrollo
del Niño (no Brasil, traduzido como Psicogênese da Lín-
gua Escrita), obra que reuniu os resultados de um estudo
de três anos sobre o processo de aprendizagem. Discípulas
do pesquisador suíço Jean Piaget, as autoras partiram da
realidade da América Latina, continente com um grande
número de crianças com dificuldades para ler e escrever,
para desenvolver suas teorias.
Equipe do projeto trabalha com palavras geradoras
A seleção das palavras geradoras
obedece a três critérios básicos: devem
estar inseridas no contexto social
dos educandos; devem abrigar uma
pluralidade de engajamento em uma
realidade social, cultural e política; e
devem ser selecionadas de maneira que
sua seqüência englobe todos os fonemas
da língua.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
23
Povos indígenas são
beneficiados por energia solar
Professores do Cefet/RR ajudam a iluminar escola indígena em
comunidade de Alto Alegre
Na terra indígena Serra da Moça, no município de
Alto Alegre, distante 45 minutos de Boa Vista, em Ro-
raima, os povos Makuxi e Wapixana têm uma escola ilu-
minada por energia solar desde 2002. O equipamento
foi doado pelas Centrais Elétricas do Norte do Brasil
(Eletronorte) e instalado por professores e estudantes
do Centro Federal de Educação Tecnológica de Roraima
(Cefet/Roraima), também responsáveis pela manuten-
ção periódica do equipamento.
O sistema foi instalado pelos estudantes do curso
de Eletrotécnica do Cefet, sob supervisão do professor
Paulo Soares, que explica que a proposta é atender as
comunidades sem energia elétrica convencional e às ne-
cessidades práticas do laboratório de Eletrotécnica. É lá
que os alunos fazem estágio e aprendem a especificar,
Os Makuxi são 15 mil em Roraima,
distribuídos por 21 aldeias, segundo o
Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
Já os Wapixana são 5 mil no estado,
presentes em 19 aldeias.
Foram utilizadas 12 placas fotovoltaicas,
cada uma com dimensão de 1 metro
por 60 centímetros. Além dos painéis
fotovoltaicos, o sistema, basicamente,
é composto de baterias (na aldeia,
Vida Alternativa
Vida Alternativa
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
24
montar e manter um sistema de captação de energia so-
lar por placas fotovoltaicas.
O estudante Vaneuton Barbosa Alencar, de 22 anos,
do quarto módulo do curso de Eletrotécnica, diz que fa-
zer a manutenção no sistema de energia solar da Escola
Estadual Índio Ajuricaba possibilita ganhar experiência
e um futuro profissional. Seu projeto de vida inclui, ao
se formar, instalar um sistema semelhante em sua casa
e trabalhar na área em Roraima. O estado é privilegiado
pela altitude e localização geográfica. Um sistema de
energia solar semelhante ao instalado na escola paga-se
em três anos e tem vida útil de 25 anos.
A ALDEIA TEM 172 pessoas, das quais 35 são crianças.
O vice-diretor da escola, Reinaldo Peres Santana, explica
que antes da energia elétrica, as aulas eram dadas somente
durante o dia na escola. Por isso, somente funcionavam
classes do ensino fundamental.
São cinco turmas de primeira a oitava série e duas do
ensino médio. Existem ainda duas classes de educação de
jovens e adultos. No total, a escola, único estabelecimento
da aldeia com energia elétrica, tem 117 alunos, pois atende
também as comunidades indígenas Truaru e Morcego.
A luz foi ligada pela primeira vez na escola durante o
jogo entre as seleções brasileira e inglesa, na Copa do Mun-
do de 2002, em 21 de junho. Naquela disputa, o Brasil
venceu os ingleses por 2 a 1, no estádio Shizuoka, no Japão,
e o feito pôde também ser assistido e comemorado lá.
Energia movimenta sonhos
A professora Patrícia de Souza Lima veio de Campina
Grande para lecionar para os Makuxi e os Wapixana em
Roraima. Com a energia, diz esperar que seu sonho de con-
sumo seja realizado: ligar um ventilador na casa em que
mora, construída ao lado da escola.
Professora do ensino médio, ela ensina todas as dis-
ciplinas na escola indígena, com exceção de Matemática
e Física. Tem 35 alunos de diferentes idades, dos 15 aos
45 anos.
Formada em Geografia pela Universidade Estadual da
Paraíba, Patrícia foi para o estado a convite da irmã, então
supervisora escolar, em abril de 2005. Apesar de seu con-
trato ser temporário, quer ficar ali. Diz que sua vida tem
sido uma aventura desde então e que suas maiores dificul-
dades têm sido a solidão e a escuridão da vida no campo.
Bem humorada, fala que, no início, os curumins riam
de seu forte sotaque nordestino e “só pararam quando co-
mecei a rir do acento deles”. Conta ainda que seus amigos
diziam que ela iria ser comida pelos indígenas.
foram instaladas oito), onde a energia
é armazenada para uso quando não
há luz solar; um controlador de carga,
para gerir a “entrada” e a “saída” de
energia das baterias; e um inversor
de corrente, pois os painéis produzem
corrente contínua e os eletrodomésticos
utilizam corrente alternada. Alguns
sistemas usam ainda um sistema de
apoio, para quando a energia solar for
insuficiente.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
25
Seu colega de profissão, o makuxi Alexandro Carlos de
Chagas é professor de Língua Materna. Nascido e criado
na comunidade, ele conta que, antes da energia solar, as
turmas do ensino médio e de jovens e adultos não existiam.
Agora podemos ir mais longe”, diz.
Saiba como funciona um painel fotovoltaico
A luz solar é formada por partículas de energia, os fó-
tons. Quando partículas de fótons com energia suficiente
atingem uma célula solar, que é construída com silício, fa-
zem com que elétrons se movimentem e gerem corrente elé-
trica. A energia, então, é retirada da estrutura de cristal de
silício do painel fotovoltaico para um circuito externo, que
pode ser uma bateria ou uma carga de corrente contínua.
A energia fotovoltaica tem várias vantagens, como não
utilizar combustível, requerer pouca manutenção, ter fun-
cionamento limpo, livre de vibração e barulhos, e funcionar
em operação contínua, não necessitando ser ativada. A vida
útil dos painéis também é alta, cerca de 25 anos.
O aproveitamento dessa energia começou em 1959, nos
Estados Unidos da América, que precisavam gerar energia
elétrica para os satélites. Atualmente, é uma solução para a
eletrificação rural. A energia elétrica obtida a partir de painéis
fotovoltaicos pode ser usada de maneira direta, como para
se retirar água de um poço com uma bomba elétrica, ou ser
armazenada em baterias para ser utilizada durante a noite.
Roraima tem 30.715 índigenas
De acordo com dados da Fundação Nacional do Índio
(Funai), a população indígena em Roraima tem 30.715
pessoas, das etnias Ingaricô, Makuxi, Patamona, Taurepang,
Waimiri-Atroari, Wapixana, Waiwaí, Yanomami e Ye’kuana.
No Brasil, são cerca de 345 mil índios, distribuídos en-
tre 215 sociedades indígenas, constituindo 0,2% da po-
pulação brasileira. Além desses indígenas, que vivem em
aldeias, há entre 100 mil e 190 mil vivendo fora das terras
indígenas, inclusive em áreas urbanas. Existem também, se-
gundo a Funai, indícios da existência de aproximadamente
53 grupos ainda não contatados, além de grupos que estão
requerendo o reconhecimento de sua condição indígena.
Apesar de as populações indígenas serem ainda objeto de
preconceito ou idealização por parte dos brasileiros, ambas
as sociedades são contemporâneas. “Vivem no mesmo país,
participam da elaboração de leis, elegem candidatos e têm
problemas semelhantes, como as conseqüências da poluição
ambiental e das diretrizes e ações do governo nas áreas da
política, economia, saúde, educação e administração pública
em geral”, como explica a Funai em sua página na Internet.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
26
ARTIGOS
Artigos
André Vilaron
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
27
Projetos Sociais: Um Princípio Educativo nos
Currículos dos Cursos Superiores
ALVES, Tereza Cristina V. A.
Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará
Palavra-chave: Inclusão Social, Sociedade, Prática Pedagógica.
RESUMO
Pretende-se com este artigo apresentar uma experiência pedagógica desenvolvida
com alunos dos cursos tecnológicos e de licenciatura do Centro Federal de Edu-
cação Tecnológica do Ceará, voltada a promover uma ação social voluntária em
áreas carentes da grande Fortaleza e região metropolitana, objetivando à melhoria
da qualidade de vida dessa população por meio de atividade sócio-educativa e de
capacitação profissional.
A pretensão deste artigo é resgatar a trajetória dos Projetos
Sociais, enfocando seu marco inicial, a sua razão de ser, enfim, sua
gênese na instituição. Confesso que a tarefa não é fácil, consi-
derando o papel que os projetos sociais vêm desempenhando há
exatamente cinco anos na construção diuturna de uma sociedade
menos desigual. Segundo o relato de sua existência no cenário ce-
fetiano, o desenvolvimento dos projetos sociais tem transcorrido
sem grandes problemas de ordem estrutural, uma vez que foram
institucionalizados como disciplina obrigatória nos currículos
dos cursos tecnológicos – inicialmente nos cursos de mecatrônica
e telemática – no ano 2000, época propícia a novos desafios. Hoje
os projetos sociais já abrangem 16 cursos superiores, inclusive os
cursos de licenciatura.
A dificuldade de se traçar o perfil dos projetos sociais reside em
abordar seus múltiplos aspectos – conceituais, pragmáticos, peda-
gógicos, filosóficos e sociais – fazendo-se a devida caracterização
de cada um deles.
Comecemos pelo seu marco conceitual. O diretor à época, pro-
fessor Mauro Barbosa, junto com uma equipe de professores e pe-
dagogos, vislumbrou a possibilidade efetiva de implementar uma
ação voltada à promoção humana a ser desenvolvida pelos alunos,
numa ótica revolucionária de intervenção social, tendo como pú-
blico-alvo, comunidades carentes da grande Fortaleza e área me-
tropolitana. A idéia que permeou os projetos sociais foi a neces-
sidade de retribuir à sociedade não simplesmente bons técnicos
e tecnólogos, mas sobretudo cidadãos comprometidos com uma
sociedade democrática, na qual sejam partícipes na construção de
bens e valores socialmente compartilhados.
Pragmaticamente, os projetos sociais alcançaram no primeiro se-
mestre de sua implantação no ano de 2000, além de bairros e insti-
tuições sociais da cidade de Fortaleza, o município de Aracati, onde
um programa extensivo de cursos e minicursos foi desenvolvido du-
rante três dias, com várias atividades sócio-educativas, abrangendo
uma clientela eclética, em termos de faixa etária e tendo-se carac-
Tereza Cristina V. A. Alves
é professora dos cursos
superiores em tecnologia e
licenciatura, nas disciplinas
de Projetos Sociais e Estrutura
e Funcionamento do Ensino
e Metodologia da Pesquisa
Científica. Mestre em Gestão e
Negócios Turísticos pela Uni-
versidade Estadual do Ceará,
autora de um estudo de caso
sobre os aspectos motivacio-
nais na cultura organizacional
do Cefet/CE, publicado na
Revista Idéias, nº 25, 2003.
Área de pesquisa: Educação à
Distância e Inclusão Social.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
28
terizado como experiência bem sucedida. A equipe de professores
responsável pela implantação dos projetos, deparou, no início de seus
trabalhos, com certa resistência dos alunos a participar do programa,
considerando que a inclusão da disciplina não fôra prevista no currí-
culo original; tal obstáculo, porém, foi superado após um trabalho de
conscientização pela equipe de professores mediante visitas às salas
de aula, de modo que a disciplina foi definitivamente inserida no
currículo e absorvida pela ação solidária dos alunos nas comunidades
por eles trabalhadas.
De fato, essa inserção foi a mola propulsora para a superação dos
obstáculos pelos alunos que, apesar de terem “boa vontade”, care-
ciam de uma fundamentação teórico-metodológica para a execução
do projeto. Começou assim a formatação de uma estratégia educativa
que ou se constituiu o arcabouço pedagógico e epistemológico da
disciplina. Foram planejadas duas horas-aula semanais para discutir
temas como protagonismo social, cidadania no estado brasileiro, so-
ciedade democrática, mecanismos de participação popular, políticas
públicas e sociais, metodologia de elaboração de projeto, entre ou-
tros assuntos de relevância para a capacitação acadêmica.
É oportuno registrar que, no ano de 2000, dirigentes de outras
universidades e faculdades da cidade também foram mobilizados a
pactuar com essa idéia, visando consolidar no nível superior uma
rede de ações voltadas à inclusão social, uma construção coletiva, po-
rém, a convergência de esforços não vingou. Entre os motivos alega-
dos por aquelas entidades estava a dificuldade de ser implementada
a disciplina no currículo dos cursos superiores, com todos os pres-
supostos a ela inerentes, sem confundi-la com Estágio, esse focado
no exercício profissional. Sem o apoio das instituições congêneres, o
Cefet/CE partiu sozinho na empreitada, e somente três anos depois,
algumas faculdades isoladas passaram adotar em sua programação
os Projetos Sociais como atividade curricular, talvez, motivadas por
uma estratégia mercadológica onde a responsabilidade social, hoje
tão em voga, agrega valor.
Prosseguimos, consubstanciando, no plano pedagógico, a fusão
intercomplementar da formação tecnológica com a humanística
como principal desafio, pois havia necessidade de se incluir nos
cursos já iniciados, uma carga horária intensiva em sala de aula, em
forma de seminário bem como atividades de campo, avaliação de de-
sempenho dos alunos, workshop no final do semestre. Além da já re-
latada resistência configurada a princípio pelos alunos, vários óbices
advieram: escassez de professores para disciplina, remanejamento da
carga horária do curso, inclusão da disciplina no horário de aula se-
manal, entre outros, que só puderam ser e estão sendo superados de
forma gradativa e processual.
Adotou-se, como metodologia, o incentivo aos alunos para ma-
pear as atividades que compõem seu elenco de potencialidades e ha-
bilidades pessoais independentes de sua formação técnica, a fim de
serem disponibilizadas junto às comunidades. O fio condutor dessa
proposta torna o aluno protagonista de sua ação social. Assim ele
Fotos: Divulgação Cefet /CE
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
29
concebe a idéia de intervenção, elabora estratégias de execução e as
avalia, bem como dá e recebe feedback. O papel do professor da dis-
ciplina consiste em midiatizar e subsidiar o aluno nos aspectos da
fundamentação teórica e na prática social, objetivando o princípio
educativo dessa formação. Cabe ao docente não ser o mentor e res-
ponsável pela proposta da ação social, mas um facilitador ou coadju-
vante no processo.
No prisma filosófico, concordamos com Rodrigues (1988,
p.55-56) ao conceber a escola hoje como uma instituição cada vez
mais complexa
que deve preparar o cidadão para se tornar um governante, capaz de usar seu co-
nhecimento individual e potencialidades de maneira efetiva numa relação com o
social, isto é, com outros indivíduos e com a natureza. Nesse sentido o desenvol-
vimento do indivíduo deve trazer contribuições ao desenvolvimento da sociedade.
O processo educacional deve necessariamente ser um processo que introduz o
indivíduo na atualidade histórica e social de sua época, possibilitando a cada um
conhecer e relacionar-se com a realidade social e cultural de seu povo.
Neste mundo célere de transformações, a ética a ser considerada
nos currículos de formação profissional passa necessariamente pelo
comprometimento do cidadão-profissional com o mundo que o cer-
ca, seus pares, sua família, seus colegas. E na sua parcela de contri-
buição que foi hipotecada durante os anos em que estudou numa es-
cola pública de qualidade, a que tão poucos têm acesso, chamaríamos
os projetos sociais de hipoteca social a ser resgatada pelos alunos no
momento de sua ação no seio de uma comunidade ávida por educa-
ção, saúde, apoio material, psicológico e tantas outras demandas a
serem contempladas na medida do possível pelos mesmos. Portanto,
o princípio filosófico que norteia os projetos sociais vai além da
ajuda filantrópica, eventual pois implica o estabelecimento de um
compromisso e uma leitura dessa sociedade desigual feita por eles
de maneira direta, sem intermediários, buscando identificar soluções
para questões comunitárias que exigem uma atuação consistente e
sem camuflagem ideológica.
Hoje, no plano social, contabilizam-se inúmeras ações capitane-
adas por cerca de 400 alunos, primeiro que, durante o semestre de
2005, desenvolveram atividades lúdicas e sócio-educativas e de capa-
citação profissional, com cursos de instalações elétricas; fabricação
de produtos domissanitários; customização de roupas e materiais reci-
cláveis; noções de nutrição e valor protéico e vitamínico de alimentos
que normalmente são desperdiçados, tais como cascas de frutas e
frutas com excesso de amadurecimento; noções de informática; aulas
de inclusão digital para a terceira idade; reforço escolar em escolas
públicas; cursinho preparatório nas disciplinas; física e matemática,
para alunos moradores em áreas periféricas; aulas de teatro; oficinas
de Corel Draw; doações de gêneros alimentícios e material de higiene
pessoal em entidades filantrópicas, como abrigos para moradores de
rua; contadores de estórias e dinâmicas recreativas para crianças in-
ternadas em hospitais etc.
Destacamos algumas instituições beneficiadas nesse semestre:
Casa Menino Jesus, que abriga crianças do interior para tratamento
produtos de limpeza de
fabricação doméstica
Arquivo
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
30
clínico em Fortaleza; Toca de Assis; Centro de Formação Profissional
Parque do Tapuio/Eusébio, Lar Tia Júlia; Comunidade Emaús/Piram-
bu; escolas da rede pública e municípios como Caucaia, Maranguape,
Maracanaú, que fazem parte da região metropolitana de Fortaleza.
E mais teríamos a contar e ilustrar com dezenas de fotos, CD e
filmagem sobre projetos sociais, realizados ao longo desses cinco
anos, que legitimam a importância da inclusão dessa proposta de in-
tervenção social na missão e filosofia do Cefe/CE que, no seu quase
centenário, traça uma marca indelével em seu paradigma institucio-
nal e na história de Fortaleza pelo inédito que ousou empreender.
Eu, uma das professoras partícipes que orientam a proposta dos pro-
jetos sociais, sinto-me à vontade ao relatar uma pequena parte das
inúmeras ações encetadas, síntese de uma gama expressiva do papel
transformador de uma nova política humanitária e humanizante da
educação, que deve contemplar não apenas competências cognitivas
e técnicas laborais, mas essencialmente resgatar no homem a “beleza
de ser um eterno aprendiz” comprometido com uma sociedade mais
justa e fraterna.
Referências
MEC-CNE. Diretrizes curriculares nacionais – Educação Profissional. Brasília: 2001.
RODRIGUES, N. Lições do Príncipe e outras lições. São Paulo: Cortez/Autores associados,1988.
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA. Gestão Democrática e Protagonismo Cidadão. Fortaleza: Fascículos nºs 03, 05
e 10, 2005.
Diagnóstico e Prevenção do Diabetes
com os Recursos Tecnológicos da Informática
PAULINO, Paulo C.; ALMEIDA, Fellipe R. de; FERNANDES, Ícaro A.;
MEDEIROS, Bruno C. de; OLIVEIRA, Stephanie P. D.; PARMEZAN, Silas; SENRA, Karin B.;
SUZUKI, Fábio B.; TIWATA, Mayara Z.; TROMEL, Igor V. B.
Universidade Federal Tecnológica do Paraná
Campus Cornélio Procópio
Palavras-chave: Obesidade, Índice de Massa Corpórea (IMC), Relação Cintura/
Quadril (RCQ), Medida de Cintura.
RESUMO
Este estudo foi realizado no primeiro semestre de 2005, com pessoas que partici-
param da comemoração do Dia do Trabalho. Critérios como idade, sexo, peso e al-
tura não foram pré-determinados. Foi feita uma pesquisa de campo com o objetivo
de confirmar a hipótese de que pessoas portadoras de diabetes possuem Índices de
Massa Corpórea (IMC), Relação Cintura/Quadril (RCQ) e medidas de cintura
maiores que os de pessoas não diabéticas. Testes como IMC, RCQ e Medida de
Cintura foram utilizados para a realização da pesquisa. Os índices médios dos
diabéticos avaliados (6,34%) foram superiores aos dos não diabéticos. Conclui-se
que os diabéticos têm índices médios de IMC, RQC e Medida de Cintura acima
dos índices médios dos não diabéticos.
Introdução
No Brasil, segundo a revista Veja, em sua edição de setembro de
2005, 83% da população é sedentária, 60% está acima do peso, e 57%
da população adulta apresenta acúmulo de gordura visceral (barriga
Paulo César Paulino é professor
de Educação Física graduado
na Unimar/Marília/SP (1980),
docente da Universidade
Federal Tecnológica do Paraná,
Campus Cornélio Procópio;
especialista em Metodologia
do Ensino Tecnológico, coor-
denador do Grupo de Pesquisa
e Estudos de Informática em
Atividade Física (GEPIAF), área
de atuação em qualidade de
vida e informática.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
31
Material e Métodos
O presente experimento foi realizado na Praça Botafogo / Coro-
nel Francisco Moreira da Costa, em Cornélio Procópio, durante as
comemorações alusivas ao Dia do Trabalho, em primeiro de maio de
2005, entre as 8 horas e as 18 horas.
A amostra dessa pesquisa foi composta por pessoas que desejavam
fazer as avaliações, sem critérios pré-determinantes. Foram realizadas
142 avaliações, sendo apenas 6,34% (9 pessoas) de diabéticos.
Os equipamentos utilizados foram: uma balança Filizzola com
toesa, fitas antropométricas, um computador e uma impressora.
As pessoas interessadas em realizar o teste preenchiam um for-
mulário indicando idade, sexo, se eram ativas fisicamente e se eram
portadoras de diabetes; e a esses dados os avaliadores acrescentavam
as medidas de estatura, peso, cintura e quadril. Submetidos ao pro-
grama de avaliação do grupo (www.cp.cefetpr.br/gepiaf), após rece-
berem a impressão com os cálculos e resultados, as pessoas eram
orientadas por um professor de Educação Física.
Utilizou-se o protocolo de Farinatti (1992) para a escolha dos
pontos anatômicos das medidas, sendo o IMC a divisão do peso cor-
poral em quilogramas pela estatura ao quadrado em metros, IMC= P/
de chope). Esses fatores de risco – se não diagnosticados e preveni-
dos – podem contribuir para que o diabetes se torne uma verdadeira
catástrofe, com conseqüências desastrosas.
Segundo Martins (2000), diabetes é a “síndrome metabólica que
se caracteriza por um excesso de glicose (açúcar) no sangue (hiper-
glicemia), devido à falta ou ineficácia da insulina, hormônio produ-
zido pelo pâncreas endócrino”.
Essa doença e suas conseqüências preocupam instituições como o
Serviço Social do Comércio de Cornélio Procópio (Sesc), que busca
através de suas promoções levar à população oportunidades de mu-
dança na qualidade de vida e incentivo à prática de atividades físicas.
Com esse propósito, convidou o Grupo de Estudo e Pesquisa de
Informática em Atividade Física (Gepiaf) da Universidade Federal
Tecnológica do Paraná/Campus Cornélio Procópio (UTFPR/CP),
que também tem como objetivo principal conscientizar e orientar a
população sobre a importância da prática regular de exercícios físi-
cos, fazendo isso através da tecnologia que a informática proporcio-
na, para participar, no dia primeiro de maio de 2005 da comemora-
ção do Dia do Trabalho.
O Gepiaf aceitou o convite e se propôs a realizar três testes que
poderiam identificar os fatores de risco acima e também verificar
se os portadores de diabetes possuíam esses índices maiores que os
não-diabéticos: Índice de Massa Corpórea (IMC), Relação Cintura
Quadril (RCQ) e Medida de Cintura.
O IMC pode indicar níveis de obesidade, o RCQ e a Medida de
Cintura indicam a concentração de gordura visceral (barriga de chope).
Normalmente aliados ao sedentarismo, esses fatores podem pode levar
ao diagnóstico do diabetes tipo II, que responde por 90% dos casos.
Arquivo
Fotos: Paulo Cesar Paulino
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
32
Masculino Feminino
Magro < 20,1 < 18,7
Adequado 20,1 - 25 18,7 - 23,8
Sobrepeso 25,1 - 29,9 23,9 - 28,5
Obesidade > 30 > 28,6
TABELA 1 - ÍNDICE DE MASSA CORPÓREA (IMC)
TABELA 3 - MEDIDA DE CINTURA
IDEAL RISCO
Homem <= 1,0 > 1,0
Mulher <= 0,8 > 0,8
IDEAL RISCO
Homem <= 94 cm > 94 cm
Mulher <= 80 cm > 80 cm
Resultados e Discussões
Os dados obtidos mostram que a população diabética, homens e
mulheres, têm os índices médios de IMC (gráfico 1), RCQ (gráfico
2) e Medida de Cintura (gráfico 3) maiores que os indivíduos não
portadores de Diabetes.
A análise dos dados mostra ainda que homens diabéticos possuem
o RCQ na faixa de normalidade, os não-diabéticos sobrepeso; já as
mulheres não diabéticas também apresentaram sobrepeso e risco no
RCQ (tabela 4).
TABELA 2 - RELAÇÃO CINTURA QUADRIL (RCQ)
GRÁFICO 1 -
IMC - DESVIO PA-
DRÃO: 2,60
Obs:
A) HOMEM DIABÉTICO
B) HOMEM NÃO DIABÉTICO
C) MULHER DIABÉTICA
D) MULHER NÃO DIABÉTICA
E) AMOSTRA DIABÉTICA
F) AMOSTRA NÃO DIABÉTICA
GRÁFICO 2 -
RCQ - DESVIO
PADRÃO: 0,07
Obs:
A) HOMEM DIABÉTICO
B) HOMEM NÃO DIABÉTICO
C) MULHER DIABÉTICA
D) MULHER NÃO DIABÉTICA
E) AMOSTRA DIABÉTICA
F) AMOSTRA NÃO DIABÉTICA
GRÁFICO 03
- MEDIDA DE
CINTURA - DESVIO
PADRÃO: 17,42
Obs:
A) HOMEM DIABÉTICO
B) HOMEM NÃO DIABÉTICO
C) MULHER DIABÉTICA
D) MULHER NÃO DIABÉTICA
E) AMOSTRA DIABÉTICA
F) AMOSTRA NÃO DIABÉTICA
E2 (tabela 1), o RCQ é obtido pela divisão da medida cintura em cen-
tímetros pela medida do quadril em centímetros (tabela 2) e a Medida
da Cintura em centímetros, segundo padrões utilizados nas palestras
realizadas na Feira Cultural da Universidade Federal Tecnológica do
Paraná/Campus Cornélio Procópio, em junho de 2005, pelo Dr. Fábio
F. Gomes e pela nutricionista Soraya D. Rodrigues (tabela 3).
TABELA 4 – DADOS GERAIS (VALORES MÉDIOS)
Idade Quantidade % IMC RCQ Cintura
Homem diabético 59,0 4 2,82 26,84 0,96 98,5
Homem não diabético 37,62 55 38,73 26,19 0,90 86,41
Mulher diabética 49,8 5 3,52 32,98 1,10 112,2
Mulher não diabética 37,97 78 54,93 27,44 0,94 66,99
Diabéticos (H e M) 54,4 9 6,34 29,91 1,03 105,35
Não Diabéticos (H e M) 37,79 133 93,66 26,81 0,92 76,54
Total 46,09 142 100 28,36 0,97 90,94
Como a amostra de dados de pessoas que possuem diabetes
foi muito pequena e de diferentes faixas etárias, sugere-se que
novos estudos sobre a temática sejam realizados com uma amostra
contendo a mesma proporção de diabéticos e não-diabéticos e da
mesma faixa etária.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
33
Considerações Finais
Com a constatação de que diabéticos têm índices de massa IMC,
RCQ e Medidas de Cintura maiores que o restante das pessoas que
não possuem a doença, além de também estarem acima dos índices de
normalidade desses testes, recomenda-se a eles que tenham cuidados
especiais com a alimentação e com a prática regular de atividades fí-
sicas. Podemos perceber que, no mundo moderno, a procura por uma
vida saudável deixou de ser apenas uma medida de estética ou trata-
mento, passando a ter um papel imprescindível na prevenção de do-
enças causadas pela indisciplina alimentar e inatividade física. É por
esse motivo que promoções como essa, da qual o Gepiaf participou a
convite do Sesc, devem ser feitas e mostram-se de suma importância
na conscientização e prevenção de doenças como o diabetes.
Referências
FARINATTI, P. de T. V.;MONTEIRO, W. D. Fisiologia e avaliação funcional. Rio de Janeiro: Sprint, 1992.
GEPIAF (Grupo de Estudo e Pesquisa de Informática em Atividade Física). Avaliação Antropomética. Universidade Federal
Tecnológica do Paraná - Campus Cornélio Procópio, 2005. Disponível em www.cp.cefetpr.br/gepiaf
GOMES, F. F. Diabesidade. Palestra proferida na 1. Feira Cultural do Universidade Federal Tecnológica do Paraná /Campus
Cornélio Procópio, 16 jun. 2005.
HALPEN, A.; MATOS, A. F. de G.; SUPLICY, H. L.; MANCINI, M. C.; ZANELLA, M. T. Obesidade, São Paulo: Lemos
Editorial, 1998.
MARTINS, D. M. Exercício Físico no controle da Diabetes Mellitus. Prorte Editora, 2000.
NEIVA, P. Diabetes: O início de uma revolução. Veja ed. 1.924, ano 38, nº 39, set. 2005.
RODRIGUES, S. D. Nutrição, atividade física e qualidade de vida. Palestra proferida na 1ª Feira Cultural da Universidade
Federal Tecnológica do Paraná /Campus Cornélio Procópio, 15 jun. 2005.
A Gestão do Lixo no Espaço Rural
SALAMONI, Giancarla; CUNHA, Ana Paula de A.;
COSTA, Adão José V. da; COSTA, Ricardo P.
Centro Federal de Educação Tecnológica de Pelotas/ RS
Palavras-chave: Educação Ambiental, Lixo, Desenvolvimento Sustentável.
RESUMO
Esse projeto é uma proposta de trabalho interdisciplinar com a finali-
dade de desenvolver atividades de pesquisa e extensão, visando promo-
ver a educação ambiental nas comunidades rurais, desenvolvendo um
conceito mais amplo de territorialidade, o qual inclui a preservação
tanto do patrimônio cultural material e imaterial (memória), quanto
do patrimônio natural (paisagem). O projeto tem por objetivos: a)
melhorar as relações entre sociedade e ambiente, de modo integrado
e sustentável; b) promover, por meio de ensino formal e informal, a
conscientização sobre a questão do lixo no espaço rural; e c) difundir
a idéia sustentável de que o lixo é fonte de renda e economia da natu-
reza. A fim de viabilizar o desenvolvimento das atividades propostas,
procedeu-se à seguinte sistematização: inicialmente, foi escolhida a
comunidade da Colônia Maciel – Distrito de Rincão da Cruz – Pelo-
tas, como locus para a construção do conhecimento e das estratégias
de ação acerca de um problema específico: o lixo em áreas rurais. Para
tanto, a participação da Escola Municipal Giuseppe Garibaldi per-
mitiu que se elaborasse um diagnóstico dos problemas associados à
questão do lixo, tanto os impactos ambientais quanto os relacionados
à saúde humana. Como etapa seguinte, foram organizados banners, os
quais compõem a proposta do projeto itinerante a ser implementado
nas escolas localizadas na zona rural.
ArquivoArquivo
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
34
Introdução
Diante da crise ambiental provocada pelo modelo agrícola implan-
tado no mundo a partir das décadas de 50 e 60, cientistas, governos,
organizações não governamentais e parte da população consciente
encontram-se preocupados em encontrar alternativas de desenvol-
vimento que propiciem ao ambiente a sua preservação e recupera-
ção gradual e sistemática, tendo em vista a sustentabilidade da vida
humana na Terra. Assim, impõe-se, agora, mais do que nunca, um
desenvolvimento regional responsável. Responsabilidade com a sus-
tentabilidade do processo produtivo, que vai além de sua dimensão
ecológica, ou seja, uma sustentabilidade econômica, social, cultural,
política e tecnológica do processo de desenvolvimento de cada local,
de cada região (SALAMONI ; GERARDI, 2001).
É importante ressaltar que a palavra ambiente pode ter inúmeras
definições. No senso comum, refere-se ao ambiente físico ou “na-
tural”, que contém os seres humanos e demais espécies vivas. Para
fins deste estudo, no entanto, o conceito é expandido para englobar
não apenas o entorno físico, mas também os aspectos sociais, cultu-
rais, econômicos e políticos inter-relacionados. Em conseqüência, por
educação ambiental entende-se a dimensão dada ao conteúdo e à prá-
tica da educação orientada para a resolução dos problemas concretos
do meio ambiente, através de enfoques interdisciplinares e de uma
participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade.
Nesse sentido, a educação ambiental surge como um paradigma,
uma nova maneira de encarar o papel do ser humano no mundo, bus-
cando alternativas que alterem as relações entre sociedade e natureza.
Com uma visão ecossistêmica, adota modelos de inserção e parti-
cipação onde a comunidade é estimulada a exercitar, holisticamen-
te, a plenitude de sua cidadania. Desse modo, a educação ambiental
apresenta-se como o despertar de uma nova consciência solidária,
um desejo de cooperar para uma melhor qualidade ambiental, que se
materializa a partir de ações locais e preocupações globais.
Desenvolver um cidadão consciente do ambiente total, preocu-
pado com os problemas associados a esse ambiente e que tenha o
conhecimento, as atitudes, motivações, envolvimento e habilidades
para trabalhar, individual e coletivamente, em busca de soluções para
resolver os problemas atuais e prevenir os futuros, configura-se em
uma importante meta a ser alcançada.
Cabe ressaltar que a integração de conhecimentos, valores e ca-
pacidades permite gerar atitudes comunitárias coerentes com os
pressupostos da educação ambiental. É tarefa do educador ambiental
desenvolver o associativismo, difundir o conhecimento e sugerir téc-
nicas e instrumentos que inspirem o engajamento da comunidade,
em prol da manutenção de sistemas ambientais sustentáveis e que
gerenciem eco-eficientemente seus resíduos.
Baseados em um modelo econômico capitalista, que leva ao con-
sumismo crescente, os processos de urbanização, industrialização e a
consolidação de padrões modernos nas atividades do espaço agrário, de-
Giancarla Salamoni é doutora
em Geografia pela Unesp. Pro-
fessora do curso de graduação
em Geografia e da Pós-Gradua-
ção em Geografia da Univer-
sidade Federal de Pelotas/RS.
Suas linhas de pesquisa são:
Geografia Agrária, Desenvolvi-
mento Regional e Sustentável e
Agricultura Familiar.
Ana Paula de A. Cunha é
doutora em Letras pela UFRGS.
Professora de inglês nos níveis
médio, técnico e superior do
Cefet/Pelotas/RS e de Proces-
sos Educacionais do curso de
pós-graduação em Educação
Profissional. Suas áreas de
atuação são: Lingüística
Aplicada, Educação Ambiental
e Profissional.
Adão José V. da Costa é mestre
em Educação Ambiental pela
FURG. Professor do curso de
graduação em Geografia e da
Pós-Graduação em Geografia
da Universidade federal de
Pelotas-RS. Suas linhas de
pesquisa são: Geografia
Humana, Geografia Econômica
e Geografia Regional.
Ricardo P. Costa é doutor em
Antigüidade e Humanismo
pela Universidade de Léon,
Espanha. Professor de Geogra-
fia nos níveis médio, técnico e
superior do Cefet/Pelotas/RS
e de Tópicos de Dinâmica
da Natureza do Curso de
Pós-Graduação em Educação
Ambiental. Suas áreas de
atuação são: Meio Ambiente e
Cartografia.
Outra instituição:
Universidade Federal de
Pelotas
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
35
terminaram a ocorrência de problemas ligados à produção de lixo, tanto
nas cidades quanto no campo (KICKHOFEL ; SALAMONI, 2004).
As palavras de Campos esclarecem que:
as sociedades industriais contemporâneas têm como pressuposto a colocação de
produtos no mercado cuja obsolescência é atingida em tempos cada vez mais
curtos. Os avanços tecnológicos incorporados aos novos modelos são vendidos
utilizando-se uma estrutura globalizada de marketing que tende a transformar
supérfluos em necessidades básicas do consumidor (CAMPOS, 1999, p.19).
No que se refere ao meio rural, as alterações nos padrões de con-
sumo, decorrentes da modernização da agricultura, fazem com que
cada vez mais se produzam resíduos domésticos e, também, que se
descartem embalagens de produtos utilizados nas atividades agríco-
las que se encontram sem destino adequado.
Por isso, a questão do lixo também deve ser pensada na fonte.
Organizações comunitárias, por meio da educação, podem alterar o
fluxo de oferta e consumo de produtos de alto teor de embalagens
descartáveis. O lixo depositado inadequadamente provoca poluição
visual, prejudicando o turismo rural (estética das paisagens), oca-
sionando degradação ambiental, obstrução de rios, córregos e ca-
nais, proliferação de insetos e roedores que causam doenças como
dengue e leptospirose.
Além de ser um problema de saneamento básico, o lixo é uma
problemática social, pois, se adequadamente gerenciado, gera em-
pregos e economiza a natureza: uma tonelada de papel reaproveitado
preserva dezenove árvores.
Entretanto, ao pensarmos na elaboração e implementação de pro-
postas e medidas reparadoras para problemas ambientais, torna-se
fundamental, entre outras ações, um processo profundo e efetivo
de educação ambiental e alfabetização ecológica, que nos permita
melhorar a qualidade ambiental das comunidades rurais (CALLEN-
BACH, 2001).
Para tanto, promover a educação ambiental na Colônia Maciel
significa compreender o quadro global que cerca um problema es-
pecífico, como é o caso da destinação do lixo produzido por essa
comunidade.
Com a finalidade de desenvolver atividades de extensão relacio-
nadas à questão ambiental, tomou-se como ponto de partida a ins-
talação do Museu Etnográfico na Colônia Maciel e suas propostas
de atuação junto à comunidade, trabalhando com um conceito mais
amplo de territorialidade, o qual inclui a preservação, tanto do patri-
mônio cultural, quanto dos recursos naturais.
Nas palavras de Reigota (1995, p.14) o território denota
o lugar determinado ou percebido, onde os elementos naturais e sociais estão em
relações dinâmicas e em interação. Essas relações implicam processos de criação
cultural e tecnológica e processos históricos e sociais de transformação do meio
natural e construído.
Diante do exposto, o projeto interdisciplinar promovido pelo La-
boratório de Estudos Agrários e Ambientais (LEAA) do Instituto de
Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e
pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Pelotas em parceria
Fotos: Divulgação Cefet Pelotas e UFPEL
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
36
com a comunidade do referido local e outras instituições públicas,
tendo por objetivo precípuo a promoção do associativismo e da e
Educação Ambiental junto às comunidades rurais.
Quanto aos objetivos gerais abrangidos com esse tipo de ação po-
demos mencionar a melhoria das relações entre sociedade e ambiente,
de modo integrado e sustentável; a previsão e prevenção de desastres
ambientais, especialmente aqueles irreversíveis; a possibilidade de que
as pessoas se tornem cidadãs e cidadãos informados e produtivos do
mundo moderno; e a promoção de um ambiente enriquecedor que
dê segurança e alegria às pessoas, no qual elas se sintam econômica,
emocional e espiritualmente conectadas.
Especificamente o foco no problema da destinação do lixo permi-
te promover, por meio de ensino formal e informal, a conscientização
sobre a questão do lixo no espaço rural; difundir a idéia sustentável
de que o lixo é fonte de renda e “economia da natureza”; organi-
zar campanhas comunitárias de redução, reciclagem e reutilização de
lixo; e aprender com os exemplos de outros procurando evitar seus
erros e imitar seus sucessos.
Metodologia
O Laboratório de Estudos Agrários e Ambientais (Leaa – ICH)
tem como temática de pesquisa e extensão elaborar projetos que
contemplem questões relacionadas ao espaço rural, nas dimensões
econômica e sócio-ambiental, bem como nas tangentes a políticas
públicas. Para tanto, o referido laboratório subsidiou trabalhos de
pesquisa de alunos dos cursos de graduação em Geografia, Economia,
Ciências Sociais e, ainda, nos cursos de pós-graduação em Geografia
e História, da Universidade Federal de Pelotas, sobre a temática em
foco, a fim estabelecer os pressupostos teóricos a serem adotados nas
atividades de extensão. Outrossim, os referidos trabalhos fornece-
ram um diagnóstico acerca da realidade local, principalmente sobre a
questão da produção e do destino do lixo em áreas rurais e, também,
a respeito da percepção das famílias residentes nesse espaço quanto
à problemática do lixo.
A fim de viabilizar o desenvolvimento das atividades propostas,
procedeu-se à seguinte sistematização: inicialmente, foi escolhida
a comunidade da Colônia Maciel, Distrito de Rincão da Cruz em
Pelotas/RS, como locus para a construção do conhecimento e das
estratégias de ação acerca de um problema específico – o lixo em
áreas rurais. A participação da Escola Municipal Giuseppe Gari-
baldi permitiu que se elaborasse um diagnóstico dos problemas
associados à questão do lixo, tanto os impactos ambientais quanto
os relacionados à saúde humana. Como etapa seguinte, as infor-
mações teórico-metodológicas foram organizadas no formato de
banners, os quais compõem a proposta do projeto itinerante a ser
implementado nas escolas localizadas na zona rural.
A produção de conhecimento sobre realidade local e regional obje-
tiva ser acompanhada de propostas que permitam a integração entre
universidade e comunidade, por meio de atividades de pesquisa e
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
37
extensão, a exemplo de palestras que abordem a educação ambiental
na rede escolar localizada na área rural; implementação de programas
educativos por meio de rádios comunitárias; oficinas de educação
ambiental junto às comunidades rurais; implementação de convênios
com órgãos de extensão rural, como Emater, o Sindicato dos Traba-
lhadores Rurais e organizações não governamentais; e produção de
material didático-pedagógico sobre a gestão do lixo.
Por fim, por meio de atividades de campo (levantamento foto-
gráfico e produção de vídeos), evidenciar atrativos paisagísticos e
culturais que colaborem para a caracterização das potencialidades
locais no que se refere ao turismo rural.
Considerações Finais
O contexto atual que abrange as inter-relações entre sociedade e
ambiente não poderia ser mais intrincado, revelando o grau de com-
plexidade dos problemas resultantes dos desequilíbrios estabelecidos
ao longo do tempo, principalmente no que se refere à produção de
resíduos e consumo dos recursos naturais.
Por outro lado, é digno de nota que, diante desse cenário com-
plexo, um conjunto de eventos e ações venha sendo desenvolvido no
sentido de minorar – ou até mesmo resolver – as mazelas sócio-eco-
nômicas e de recompor as características dos ambientes naturais. É
o caso das grandes conferências internacionais sobre meio ambiente,
saúde, desenvolvimento – Estocolmo, Alma-Ata, Ottawa, Rio de Ja-
neiro, Johanesburgo –, ao construir linhas de ação em escala plane-
tária, dentro das quais governos, organizações sociais e instituições
de ensino podem promover iniciativas e realizar projetos a ser imple-
mentados em escala regional e local.
Desse modo, a escolha da questão do lixo como temática de estu-
do e de ações diretas junto à comunidade é fruto do reconhecimento
da importância da sustentabilidade na relação homem versus meio. A
produção de lixo tem atingido índices insustentáveis, a tal ponto que
a proliferação de vetores de doenças e a contaminação dos recursos
hídricos estão entre as principais conseqüências dessa situação. Em
contrapartida, a conscientização das novas gerações e a reciclagem do
lixo vêm se apresentando como estratégia eficiente e eficaz na reso-
lução dos problemas, trazendo enormes contribuições para a redução
do volume do lixo a ser tratado e para a diminuição do desperdício
de matérias-primas e energia.
Nesse sentido, propostas de educação ambiental desenvolvidas
junto às comunidades rurais, a partir da ação nas escolas, podem
difundir o conhecimento e promover os princípios da sustentabili-
dade, na busca por mudanças de atitudes em relação aos problemas
econômicos, sociais e ambientais que cercam a gestão do lixo.
Finalmente, o que se busca são condições de vida digna para
todos, o que pode ser resumido numa expressão bem atual: qua-
lidade de vida. Para atingir tais resultados, pressupõem-se pa-
drões mínimos de saúde individual e coletiva e meio ambiente
equilibrado.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
38
Referências
CALLENBACH, E. Ecologia: um guia de bolso. São Paulo: Peirópolis, 2001.
CAMPOS, H. K. T. Lixo é espelhos das sociedades humanas. Revista Ciência e Ambiente, UFSM: Santa Maria, 1999
COSTA, A. J. V. Tout – a- la –rue. Jornal Diário Popular, 30 de abril de 2001, Pelotas.
HUTCHISON, D. Educação Ecológica- idéias sobre consciência ambiental. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
JAMES, B. Lixo e Reciclagem. São Paulo: Scipione, 1997.
KICKHOFEL, M. K.; SALAMONI, G. Produção familiar e as transformações nos padrões de consumo: o exemplo do Dis-
trito de Rincão da Cruz. Pelotas -RS. Pelotas: UFPEL, 2004.
REIGOTA, M. Meio ambiente e representação social. São Paulo: Cortez, 1995.
RODRIGUES, L. R. ; CAVINATTO, V. M. Lixo: de onde vem? para onde vai? São Paulo: Moderna, 1997.
SALAMONI, G. e GERARDI, L. H. O. Princípios sobre o Ecodesenvolvimento e suas relações com a agricultura familiar.
In: GERARDI, L. H. O. e MENDES, I. I. Teorias, Técnicas, Espaços e Atividades – temas da Geografia contemporânea.
Rio Claro – SP: AGETEO, 2001.
SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE. Conceitos para se fazer educação ambiental. São Paulo: Coordenadoria de Edu-
cação Ambiental, 1997.
RESUMO
O artigo apresenta a metodologia de integração utilizada no desenvolvimento de
um projeto interdisciplinar de política sanitária ambiental, desenvolvido por pro-
fessores e alunos do curso superior de Tecnologia em Sistema de Gestão Ambien-
tal do Cefet/PE. O curso tem proposta interdisciplinar e foca o diálogo entre as
disciplinas, estabelecendo uma integração entre ensino, pesquisa e extensão. Des-
taca-se que o diagnóstico ambiental realizado, como parte da atividade interdis-
ciplinar, visava à construção de uma proposta de intervenção na política sanitária
ambiental institucional, como forma de promover a melhoria das condições de
saúde e da qualidade de vida da comunidade cefetiana. A idéia do tema surgiu dos
alunos e todo o planejamento do projeto foi realizado coletivamente com a parti-
cipação de alunos e professores. A metodologia utilizada foi a análise qualitativa e
quantitativa de dados colhidos por meio da leitura de documentos, da realização
de observações diretas e registros fotográficos; da aplicação de questionário misto
com alunos, professores e administrativos; e de entrevistas semi-estruturadas com
funcionários da prestadora de serviço de limpeza. Os resultados levam a constatar
a ausência de uma política sanitária ambiental institucional e a urgente necessidade
de implantação e implementação de instrumentos de intervenção de política de
educação ambiental comunitária no Cefet/PE. Concluiu-se que o desenvolvimento
de projetos interdisciplinares pode viabilizar a integração entre ensino, pesquisa e
extensão, além de promover o prazer cultural, ou seja, o prazer do conhecimento, e
provocar uma postura crítica e criativa. Destaca-se que dificuldades foram encon-
tradas relacionadas ao desenvolvimento do projeto interdisciplinar no interior da
instituição, devido à comunidade ter apresentado resistência às atividades realiza-
das pelos professores e alunos
Projeto Interdisciplinar
de Política Sanitária Ambiental
GUIMARÃES, Edilene; VALENÇA, Marcos; FIGUEREDO, Maria Elizabete de
Centro Federal de Educação Tecnológica de Pernambuco
Palavras-chave: Projeto Interdisciplinar, Política Sanitária Ambiental, Gestão
Ambiental, Metodologia de Integração.
Introdução
Este artigo tem como objetivo apresentar a metodologia de inte-
gração utilizada no desenvolvimento de um projeto interdisciplinar
de política sanitária ambiental, desenvolvido por professores e alunos
do Módulo de Política Ambiental do Curso Superior de Tecnologia
em Sistema de Gestão Ambiental do Cefet/PE, o qual visava res-
ponder à seguinte questão: As instalações hidrossanitárias atuais do
Edilene Guimarães é mestre
em Educação (UFPE, 1998).
Linhas de pesquisa: 1. Aspectos
Sócio-ambientais dos Ecossis-
temas Nordestinos – Núcleo de
Pesquisa em Ecologia e Gestão
Sócio-Ambiental de Ecossiste-
mas Nordestinos (Cefet/PE);
2. A Escola e a Formação
Profissional – Núcleo de Pes-
quisa em Educação Profissional
(Cefet/CE).
Marcos Valença é mestre em
Educação (UFPE, 2000). Linha
de pesquisa: Aspectos Sócio-
ambientais dos Ecossistemas
Nordestinos – Núcleo de
Pesquisa em Ecologia e Gestão
Sócio-Ambiental de Ecossiste-
mas Nordestinos Cefet/PE.
Maria Elizabete Figueredo
é especialista em Educação
Ambiental (SENTEC/ MEC e
UNESCO, 1997). Linha de
pesquisa: Aspectos Sócio-
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
39
Cefet/PE promovem a saúde ambiental da comunidade que o cons-
titui?. Na elaboração e execução do projeto interdisciplinar foram
envolvidas as seguintes disciplinas: Aspectos da Economia Ambien-
tal; Avaliação de Aspectos e Impactos Ambientais; Administração e
Marketing Aplicados; Fundamentos de Geologia; Comunicação em
Educação Ambiental; Saúde e Saneamento Ambiental; Projeto Inter-
disciplinar de Política Ambiental.
Freitas (2000) destaca que a interdisciplinaridade equivale à in-
tegração, que é entendida como interpenetração de métodos e con-
teúdos de disciplinas, que se propõem a trabalhar conjuntamente
determinado objeto de estudo. Kopinn destaca que, por integração,
deve-se entender não a unificação dos sistemas existentes em algo único, não a
soma impar do conhecimento ancorado por várias ciências sobre um objeto de
grande interesse para o homem (...), mas a tendência, no processo de inter-rela-
cionamento, a assimilarem-se a outro e os próprios métodos e linguagens, para
aplicá-los no estudo do seu objeto (KOPINN apud, FREITAS, 2000, p.91).
Visando um caminho metodológico que priorizasse a integração
entre ensino, pesquisa e extensão, compreendeu-se que “o conheci-
mento sempre busca a verdade, mesmo se essa verdade, como nas
ciências, nunca é permanente, mas uma veracidade provisória que
esperamos trocar por outras mais acuradas à medida que o conheci-
mento progride” (ARENDT, 1992, p. 48).
Assim, considerou-se que o conhecimento é provisório e que se
renova a partir do diálogo entre as diversas áreas do saber e o senso
comum. Também considerou-se que na construção do conhecimen-
to a interdisciplinaridade pode possibilitar prazer cultural (VALEN-
ÇA, 2000), ou seja, prazer do conhecimento, e provocar uma postu-
ra crítica e criativa.
Segundo Snyders (1993), o prazer cultural vem a ser adquirido
quando o aluno se aproxima das obras-primas que tanto podem ser
técnicas, científicas ou literárias. Portanto, compreende-se que este
artigo configura-se como a materialização do prazer cultural viven-
ciado pelos alunos e professores na construção do conhecimento.
A opção por um projeto interdisciplinar relacionado à política
sanitária ambiental institucional vem de experiências vividas pelos
alunos, no interior do Cefet/PE, relacionadas com o uso da água
nos bebedouros e sanitários. Essa água que em parte era proveniente
do poço artesiano existente no local e em parte era proveniente da
Companhia Pernambucana de Saneamento S.A. (Compesa). Devido
à possibilidade de contaminação da água oriunda do poço artesiano,
decorrente da localização do Cefet/PE em um terreno de mangue-
zal aterrado – rico em matéria orgânica e em elementos químicos
como ferro e enxofre – e com presença de fossas sépticas na região,
pensou-se nas condições de saúde da comunidade relacionadas à
potabilidade e à qualidade da água como o ponto de partida para o
planejamento da pesquisa.
Por isso, partiu-se do pressuposto de que o Cefet/PE deveria ga-
rantir um nível razoável de conforto para a comunidade cefetiana,
desmistificando a questão das condições de potabilidade e qualidade
da água distribuída para o consumo nessa instituição, influenciando
ambientais dos Ecossistemas
Nordestinos – Núcleo de
Pesquisa em Ecologia e Gestão
Sócio-Ambiental de Ecossiste-
mas Nordestinos (Cefet/PE).
Fotos: Edilene Guimarães
Alunos do Módulo de
Política Ambiental em
atividade interdisci-
plinar.
Lagos resultantes do
aterro em terreiro de
mangue.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
40
o bem-estar comum dos consumidores – corpo discente, funcioná-
rios e corpo docente.
A água é um dos recursos naturais mais intensamente utilizados,
sendo fundamental para a existência e manutenção da vida, logo deve
estar presente no ambiente em quantidade e qualidade apropriada
(COSTA FILHO, 2004).
Lippy e Waltrip (1984), a partir de estudos de epidemias veicula-
das pela água entre 1946 e 1980, categorizaram as principais defici-
ências que causaram ou contribuíram para epidemias de hepatite e de
parasitoses. Entre elas, está a água subterrânea não-tratada.
A qualidade da água tem reflexos evidentes no âmbito da Saúde
Pública, haja vista que as doenças diarréicas são a causa principal
de morbidade na maioria dos países em desenvolvimento (COSTA
FILHO, 2004).
Os maiores problemas sanitários que afetam a população mundial,
em particular os países pobres e menos desenvolvidos, têm profun-
da relação com o meio ambiente e a variável saneamento ambiental
está entre as variáveis mais importantes (PIMENTEL, 2000). Por
isso era necessário o levantamento de dados para definir o padrão de
qualidade da água distribuída e consumida no Cefet/PE, baseando-
se nos aspectos de qualidade química e biológica da fonte hídrica;
de eficácia e de eficiência do processo de tratamento, reservatório
(armazenagem) e sistema de distribuição; de idade, tipo, projeto e
manutenção da rede; de qualidade da água tratada; e mistura de dife-
rentes fontes (CLARK; COYLE,1990).
A Agenda XXI estimula a adoção de planos de ação destinados a
adequar as necessidades à prática de viver dentro do conceito que se
estabeleceu de sustentabilidade. A partir da discussão sobre a possi-
bilidade de implantação da Agenda XXI no Cefet/PE, confirmou-se
a necessidade de se desenvolver uma ação voltada para levantamento
das condições das atuais instalações hidrossanitárias da instituição.
Decidiu-se que o primeiro passo era realizar um diagnóstico ambien-
tal Cefet/PE, como forma de viabilizar a implantação e implementa-
ção de ações de política sanitária ambiental institucional.
Portanto, pretendeu-se contribuir com a promoção da melho-
ria das condições de saúde e da qualidade de vida da comunidade
cefetiana, apresentando instrumentos de intervenção de política
sanitária institucional e instrumentos de intervenção de política
de educação ambiental comunitária.
Metodologia de Pesquisa e Resultado
Na elaboração do projeto partiu-se inicialmente da análise dos
resultados de experiências com atividades interdisciplinares desen-
volvidas em turmas anteriores, tais como: aulas de campo no Parque
Estadual de Dois Irmãos, situado na cidade de Recife, para acom-
panhar a atividade Madrugada Ecológica do evento Zooférias; e na
Área de Proteção Ambiental de Guadalupe, localizada no município
de Rio Formoso, para coleta de dados. Além de atividade em sala de
aula com o vídeo Recife de dentro para fora. Procurou-se compreender
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
41
as dificuldades encontradas no desenvolvimento de projetos cole-
tivos interdisciplinares (GUIMARÃES; FRUTUOSO et al. apud
VALENÇA, 2003).
Posteriormente, realizou-se um estudo relacionado a conceitos
teóricos sobre a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade a par-
tir da leitura da carta da transdisciplinaridade (1994).
Como forma de fundamentar os alunos com conceitos oriundos
da metodologia científica, trabalhou-se com textos relacionados com
as fases da pesquisa científica (SANTOS, 2004). Portanto, conside-
rou-se que qualquer projeto interdisciplinar deveria ser desenvolvido
através da metodologia científica, como forma de promover a inte-
gração entre ensino, pesquisa e extensão, visando o diálogo entre a
ciência e o senso comum, e intervindo na realidade.
Como forma de promover a compreensão dos conceitos relacio-
nados às diversas disciplinas, analisaram-se as ementas das disci-
plinas e realizaram-se entrevistas com os professores regentes das
disciplinas, visando responder às seguintes questões: qual a compe-
tência que a disciplina desenvolve e como as bases tecnológicas con-
tribuem para isso? Qual a aplicação na gestão ambiental dos saberes
adquiridos na disciplina?
Na elaboração inicial da proposta os alunos dividiram-se em seis
grupos de alunos, os quais estudaram coletivamente as ementas das
disciplinas e analisaram as respostas dos professores às questões da
entrevista. Dessa etapa surgiram seis propostas de projetos interdis-
ciplinares de política ambiental:
- Educação ambiental: elemento fundamental para a preservação
da Lagoa do Araçá.
- Implantação da Agenda 21 Escolar – política sanitária e am-
biental no Cefet/PE.
- Políticas públicas para mitigar a erosão costeira de Jaboatão dos
Guararapes.
- Consultoria e marketing na estruturação urbana da praia de
Porto de Galinhas.
- Educação ambiental em uma escola estadual.
- Associação de agricultores para produção orgânica.
Após a formatação inicial das seis propostas de projetos inter-
disciplinares, realizaram-se dois encontros coletivos entre alunos e
professores das disciplinas do Módulo de Política Ambiental, nos
quais os conceitos gerais foram aprofundados e as propostas mais
bem estruturadas. Ao final do segundo encontro foram escolhidos de
forma participativa, com a defesa da proposta e votação, dois proje-
tos a serem executados durante o 1º semestre letivo de 2005.
Para melhor compreensão sobre o que seriam projetos interdis-
ciplinares, convidou-se a profª dra. Heloisa Bastos, da Universidade
Rural de Pernambuco (UFRPE), para dialogar com os alunos. Nessa
ocasião, os dois projetos escolhidos foram apresentados pelos alunos
à professora, a qual procurou aprofundar os conceitos teóricos rela-
cionados à interdisciplinaridade, através da construção dos “mapas
conceituais” dos dois projetos.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
42
Devido a dificuldades encontradas para desenvolver os dois pro-
jetos, decidiu-se de forma coletiva e participativa, através de consul-
ta por escrito aos alunos, executar apenas um projeto, sob o título
“Política Sanitária Ambiental no Cefet/PE”, o qual se originou da
proposta inicial denominada “Implantação da Agenda 21 Escolar
– Política Sanitária e Ambiental no Cefet/PE”, das alunas Cássia
Milena da Silva, Cristiane de Carvalho, Daniele de Andrade, Elaine
Maria Ribeiro, Luna Esther Loureiro, Maria Helena Castellar, So-
raya Holder e Silva. Este projeto de política sanitária ambiental é o
objeto deste artigo.
Com a participação de todos os alunos, houve a reconstrução
da temática dos objetivos da proposta, além da reconstrução do
“mapa conceitual” e do detalhamento dos conceitos, por meio
de pesquisa bibliográfica e consulta aos professores das diversas
disciplinas.
Em paralelo à construção do detalhamento dos conceitos presente
no “mapa conceitual”, realizou-se a construção de um plano de ação,
com a participação de todos os alunos e o apoio de professores das
disciplinas envolvidas e dos demais professores colaboradores e do
coordenador do curso. Esse plano foi executado na íntegra pelos
alunos, que se dividiram em cinco equipes; cada uma ficou responsá-
vel por uma das atividades de coleta de dados.
A metodologia utilizada para a interpretação dos dados foi a aná-
lise qualitativa e quantitativa. Os dados foram colhidos por meio de
análise documental; de observações diretas com registro em diário de
campo e registros fotográficos; de aplicação de questionário misto
com alunos, professores e administrativos do Cefet/PE; e de entre-
vistas semi-estruturadas com funcionários da prestadora de serviço
de limpeza, que foram gravadas em áudio e transcritas integralmente
para posterior análise dos dados.
Os dados coletados pelos diversos instrumentos foram mapeados
e confrontados com o cruzamento dos resultados encontrados, rea-
lizado como forma de confirmar as análises realizadas. As questões
encontradas no cruzamento dos resultados foram aprofundadas com
a volta a campo para colher-se novos dados esclarecedores.
Em paralelo à análise e interpretação dos dados iniciou-se a reda-
ção do relatório técnico-científico, que abrangeu todas as informa-
ções do diagnóstico ambiental realizado, as propostas de intervenção
resultantes e os instrumentos educativos. Nessa etapa, a professora
regente da disciplina Projetos Interdisciplinares de Política Ambien-
tal ficou responsável por sistematizar a redação final do relatório.
As equipes responsáveis pelas atividades de coleta de dados – visita
técnica; qualidade da água e desperdício; aplicação de questionários;
entrevistas; levantamento de dados administrativos – ficaram res-
ponsáveis por sistematizar a redação do diagnóstico, dos instrumen-
tos e das propostas de intervenção de suas partes específicas, além
de prepararem as apresentações audiovisuais que foram feitas por
ocasião do evento educativo organizado pela disciplina Comunicação
em Educação Ambiental.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
43
Nas conclusões das atividades, realizou-se o evento educativo
para apresentação dos resultados finais à comunidade cefetiana. O
evento ocorreu no dia 10 de agosto de 2005, das 19h às 22h, no
Auditório do Cefet/PE, com a presença de representantes da Direção
Geral, da Direção da Sede, da Direção de Administração e Planeja-
mento, da Direção de Ensino, da Direção de Relações Empresariais
e Comunitárias, da Gerência de Ensino Técnico, da Gerência de En-
sino Superior, Secretaria de Administração e Manutenção da Sede,
da Unidade de Compras, entre outros. Nessa ocasião, entregou-se ao
representante da Direção Geral uma “Carta com Propostas de Polí-
tica Sanitária Ambiental para o Cefet/PE”, além de um folder infor-
mativo e educativo a ser distribuído internamente como instrumento
de educação ambiental comunitária.
Posteriormente ao evento, o relatório técnico-científico foi en-
tregue pelos alunos diretamente ao diretor geral do Cefet/PE, acom-
panhado por um Cd-rom com toda a apresentação audiovisual dos
resultados do diagnóstico ambiental realizado.
Resultados
Para facilitar a leitura dos resultados da pesquisa, o Diagnóstico
Ambiental foi o instrumento utilizado para agrupar a análise e dis-
cussão dos dados. E foi composto por cinco partes:
– pesquisa interna de opinião pública sobre o “Funcionamento e
funcionalidade das instalações hidrossanitárias”.
– detalhes fotográficos e comentários técnicos sobre “Pontos crí-
ticos x qualidade dos equipamentos hidrossanitários”;
– dados estatísticos, qualitativos e quantitativos sobre “A qua-
lidade da água e o desperdício”;
– entrevistas com empregados da empresa de manutenção sobre
A relação do ‘empregado do sistema hidrossanitário’ com a escola,
com a empresa terceirizada e com o meio ambiente”;
– dados orçamentários, financeiros e administrativos sobre “As
Rubricas para os custos de manutenção e conservação”.
A partir da pesquisa interna de opinião pública, foi possível obser-
var que, devido à falta de confiança nas instalações hidrossanitárias,
a comunidade cefetiana pouco utiliza os sanitários e não consome
água no volume diário necessário, o que pode ocasionar sérios danos
à saúde. Ou, ainda, consome água mineral vendida na cantina ou em
lanchonetes próximas ao Cefet/PE, contribuindo para a elevação do
volume de resíduos sólidos (lixo), com o descarte das embalagens.
De acordo com as observações feitas em campo, foi possível
diagnosticar problemas concretos das instalações hidrossanitárias,
observando-se que não existe um plano de manutenção permanente,
preventiva e corretiva; como também há ausência de equipamentos
adequados para execução das demandas requeridas pela manutenção
das mesmas. Diante desse fato, constatou-se que cerca de 70% do
orçamento destinado à manutenção é perdido com as falhas das
instalações. Um diagnóstico de consumo e uma revisão detalhada
minimizariam o problema.
Sanitários do Bloco A
do Cefet/PE
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
44
Analisando-se as entrevistas com os empregados da empresa de
manutenção, foi possível observar que os mesmos se encontram en-
volvidos com a instituição, no entanto, apresentam-se insatisfeitos
com questões trabalhistas e outras dificuldades encontradas na exe-
cução do seu trabalho, prejudicando assim o seu desempenho em
relação à qualidade dos serviços e à manutenção das instalações.
No levantamento dos dados orçamentários, financeiros e admi-
nistrativos da instituição foi visto que algumas cláusulas do contrato
com a empresa terceirizada não estão sendo cumpridas, o que acarre-
ta uma deficiente prestação de serviços. Também foi observado que
não há participação efetiva da comunidade cefetiana no planejamento
orçamentário da instituição.
Como resposta à questão de estudo – sobre se as instalações hi-
drossanitárias atuais do Cefet/PE promovem a saúde ambiental da co-
munidade que o constitui –, com base nos dados levantados pelos gru-
pos de trabalho em todas as etapas do diagnóstico, constatou-se que
as instalações hidrossanitárias do Cefet/PE não apresentam qualidade
suficiente para promoção da saúde ambiental da comunidade usuária.
Considerações Finais
Em avaliação realizada com professores e alunos envolvidos, con-
cluiu-se que o desenvolvimento de projetos interdisciplinares pode
realmente viabilizar a integração entre o ensino pesquisa e extensão,
além de promover o prazer cultural, ou seja, o prazer do conhecimen-
to, e provocar uma postura crítica e criativa no aluno.
No caso específico de um projeto interdisciplinar de política am-
biental, constatamos que após a entrega da “Carta com Propostas
de Política Sanitária Ambiental para o Cefet/PE” à Direção da Sede,
ações administrativas foram realizadas visando atender às propostas
apresentadas pelos professores e alunos, validando a extensão como
forma de intervir na realidade, e garantido a melhoria das condições
de saúde e da qualidade de vida da comunidade cefetiana.
Destaca-se que dificuldades foram encontradas relacionadas ao pe-
ríodo de coleta de dados no interior da instituição e apresentação dos
resultados através do Evento Educativo, devido à comunidade ter apre-
sentado resistência às atividades realizadas pelos professores e alunos.
Referências
ARENDT, H. A crise na cultura: sua importância social e política. In: ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro.
São Paulo: Perspectiva, 1992.
BRISCOE. In Heller, L. Saneamento e Saúde. Brasília: OPAS / OMS, 1997.
CARTA da Transdisciplinaridade – adotada no Primeiro Congresso Mundial da Transdisciplinaridade, Convento de Arrábi-
da, Portugal, 2-6 novembro 1994. Disponível em: http://www.wwiuma.org.br
CLARK, R. M.; COYLE, J. A. Measuring and modeling variations in distribution system water quality. Journal of the
American Water Works Association
, 1990.
COSTA FILHO, I. de A. Abastecimento de água. In: CAMPOS, J.Q. Ambientalismo e educação ambiental. São Paulo:
Editora Jotacê, 2004.
FEACHMEN; CAIRNCROSS. In: Heller, L. Saneamento e Saúde. Brasília: OPAS / OMS, 1997.
FREITAS, L. C. Crítica da Organização do Trabalho Pedagógico e da Didática. Campinas, SP: Papirus, 2000.
GUIMARÃES, E. R., et al. Gestão Ambiental: uma experiência interdisciplinar. In: XVI – Encontro de Pesquisa Educa-
cional do Norte e Nordeste – EPENN, 2003, São Cristóvão – SE. Anais: Educação, Pesquisa e Diversidade Regio-
nal
. São Cristóvão/SE: Editora Universidade Federal de Sergipe, 2003.
Bebedouro com água
da Compesa.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
45
LIPPY, E. C.; WALTRIP, S. C. Waterborne disease outbreaks - 1946-1980: a thirty-five year perspective. Journal of the
American Water Works Association, 1984, 76(2).
PIMENTEL, F.C.R. Atenção primaria ambiental: uma estratégia para o setor de saneamento ambiental. IV Seminário Na-
cional Sobre Resíduos Sólidos. Anais. Recife/ PE: ABES, 2000.
SANTOS, A. R. dos.
Metodologia Científica: A construção do conhecimento. 6ª Ed. Revisada (conforme NBR
14724:2002). Rio de Janeiro: DP&A, 2004.
SNYDERS, G. Alunos felizes: reflexão sobre a alegria na escola a partir de textos literários. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.
VALENÇA, M. M. Escola: indústria cultural ou espaço do prazer cultural? Recife: Dissertação de Mestrado, UFPE, 2000.
Triatomíneos Vetores da
Doença de Chagas no Assentamento
de Reforma Agrária Ezequias dos Reis
LEMOS, Jureth C.; CASAGRANDE, Baltazar; FERRETE, Jaqueline A.; FERRETE, Jakson A.;
REZENDE, Kênia; MACHADO, Maria I.
Escola Técnica de Saúde da Universidade Federal de Uberlândia /MG
Palavras-chave: Triatomíneos, Doença de Chagas, Assentamentos de Reforma
Agrária.
RESUMO
O objetivo deste artigo é apresentar dados da realização de inquérito entomo-
lógico nos domicílios e peridomicílios do Assentamento Ezequias dos Reis
no Município de Araguari/MG, como pré-requisito para ações de luta antive-
torial preventivas da transmissão da doença de Chagas, endêmica na região. A
investigação teve início em abril de 2005. Previamente ao levantamento dos
triatomíneos intra e peridomociliares, realizaram-se visitas a todas as famí-
lias assentadas para esclarecimentos técnicos quanto à captura e localização
dos triatomíneos. Entregou-se na oportunidade um pote plástico coletor para
acondicionar os espécimes capturados, juntamente com folhetos contendo fi-
guras das principais espécies de triatomíneos hematófagos vetores do Trypano-
soma cruzi. Do total de 58 lotes onde foram entregues os potes, em 4 deles as
famílias encontraram triatomíneos. No lote 3, foram encontrados dois Triato-
ma sordida dentro do domicílio; no lote 12 foram encontrados uma colônia de
Panstrongylus megistus no galinheiro, dois exemplares dentro do domicílio e um
exemplar de Triatoma sordida também dentro do domicílio. No Lote 19 foi
encontrado um Triatoma sordida no galinheiro e no lote 36 foram capturados
três Triatoma sordida, sendo dois em ninho de galinha e um em casca de árvore.
Ao analisar esses dados pode-se concluir que o Assentamento Ezequias dos
Reis oferece risco para a população no que se refere à Doença de Chagas,
considerando o impacto ambiental na região e a presença de moradores chagá-
sicos, podendo ocorrer transmissão vetorial domiciliar.
Introdução
Triatomíneos são insetos pertencentes à ordem hemiptera. O es-
pécime é conhecido vulgarmente como “barbeiro”, “chupão”, “fin-
cão”, “procotó”, “chupança” ou “bicho de parede”. Alguns são fi-
tófagos (alimentam-se de seiva de vegetais), enquanto outros são
predadores (alimentam-se de hemolinfa de outros insetos) e outros
são hematófagos (que alimentam-se do sangue de vertebrados, inclu-
sive o homem) (REY, 1992; BRASIL, 2002; NEVES, 2004).
Os hemípteros hematógafos são transmissores do Trypanosoma cru-
zi, agente causador da Doença de Chagas. Das mais de 120 espécies
conhecidas, 48 foram identificadas no Brasil, das quais 30 já captu-
radas no ambiente domiciliar (BRASIL, 2002).
Este trabalho faz parte do
Programa de Apoio Científico e
Tecnológico aos Assentamentos
da Reforma Agrária (PACTo)
MG/Triângulo Mineiro. É
desenvolvido com recursos do
CNPq, Incra e UFU. Esta pes-
quisa está sendo desenvolvida
nas dependências da Escola
Técnica de Saúde/UFU.
Jureth C. Lemos é mestre e
professora da Escola Técnica
de Saúde da Universidade
Federal de Uberlândia/MG,
doutoranda do Instituto de
Geografia da Universidade
Federal de Uberlândia.
Maria I. Machado é doutora e
professora da União Educacio-
nal Minas Gerais (Uniminas).
Jaqueline A Ferrete é douto-
randa (IG/UFU).
Baltazar Casagrande, Jakson
A. Ferrete e Kênia Rezende são
alunos do Curso de Graduação
em Geografia (IG/UFU).
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
46
Os triatomíneos pertencem à família Reduviidae, subfamília
Triatominae, que é constituída por cinco tribos, nas quais estão
distribuídos 14 gêneros e 118 espécies. Duas dessas tribos con-
tem as espécies de maior relevância para a epidemiologia. São elas:
tribo Rhodniini com dois gêneros: Rhodnius, com 12 espécies, e
Psammolestes, com três espécies; e a tribo Triatomini, com sete gêne-
ros: Triatoma, com 68 espécies; Paratriatoma, com uma espécie; Pans-
trongylus, com 13 espécies; Eratyrus, com uma espécie; Mepraia, com
uma espécie; Linshcosteus, com cinco espécies e Dipetalogaster, com
uma espécie. As outras três tribos não são de importância sanitária
por não apresentarem espécies transmissoras do T. cruzi ao homem
(REY, 1992; NEVES, 2004).
Na transmissão do T. cruzi, são consideradas vetores todas as espé-
cies com potencial, porém é necessário que haja condições ambientais
e epidemiológicas que possam favorecer que uma espécie potencial
seja realmente transmissor da Doença de Chagas humana. Para tanto,
faz-se necessário que triatomíneos se adaptem à habitação e aos seus
anexos; tenham alto grau de antropofilia; e curto espaço de tempo
entre a hematofagia e a defecação.
Pela ordem de importância epidemiológica para a Doença de
Chagas, no Brasil têm-se as seguintes espécies: Triatoma infestans,
Panstrongylus megystus, T. brasiliensis, T. pseudomaculata e T. sordida e,
com menor grau de importância, tem-se o Rhodnius neglectus, T. vit-
ticeps e o T. rubrofasciata (NEVES, 2004).
A doença de Chagas ou Tripanosomíase Americana, primitiva-
mente uma zoonose, passou a se constituir em problema de pato-
logia humana, ou seja, uma antropozoonose, a partir da domicilia-
ção dos vetores, deslocados de seus ecótopos silvestres originais,
pela ação do homem sobre o ambiente. É uma doença infecto-pa-
rasitária e que estava primitivamente restrita aos pequenos ma-
míferos das matas e campos da América, desde a Patagônia até o
Sul dos Estados Unidos. Esses animais (tatus, gambás, roedores)
convivem com “barbeiros” silvestres e, através de um mecanismo
biológico (interação), entre eles circula o Trypanosoma cruzi. Este
protozoário e a doença de Chagas foram descobertos e descri-
tos pelo cientista Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas em 1909
(COURA, 2003).
Com a chegada do homem e com os processos de colonização,
em muitos lugares aconteceram alterações ambientais (desmata-
mento, queimadas, expansão da agricultura, construção de rodo-
vias), e os barbeiros foram desalojados, invadindo as habitações
rústicas e pobres dos lavradores e colonos. Assim, a doença chegou
ao homem e aos mamíferos domésticos, principalmente, cães e
gatos. Hoje, a doença de Chagas afeta de 16 a 18 milhões de pes-
soas na América Latina, onde mais de 100 milhões estão expostos
ao risco da infecção pelo Trypanosoma cruzi (COURA, 2003), com
cerca de 21 mil mortes reportadas anualmente. No Brasil são cin-
co milhões de infectados e, em Minas Gerais, cerca de 8,8% da
população.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
47
A transmissão natural, ou primária, da Doença de Chagas é a
vetorial, que se dá por meio das fezes dos triatomíneos. Esses, ao
picarem os vertebrados, em geral defecam após o repasto sanguí-
neo, eliminando formas infectantes de trypomastigotas metacícli-
cos, presentes em suas fezes, e que penetram pelo orifício da pica-
da, ou por solução de continuidade deixada pelo ato de coçar. Na
transmissão secundária, os mecanismos são por via transfusional
sanguínea, materno-infantil (transplacentária ou por aleitamen-
to), por via oral, transplante de órgãos e por transmissão acidental
(BRASIL, 2002).
A distribuição geográfica da doença está ligada à distribuição dos
vetores e, além disso, da distribuição da pobreza e das condições por
ela geradas, que determinam o convívio do homem com o vetor, no
ambiente domiciliar. A casa mal construída, mal acabada ou mal con-
servada, a desinformação, são algumas dessas condições, e que são
expressão da precária situação de sobrevivência das populações sob o
risco da doença como, por exemplo, a população do assentamento de
Reforma Agrária Ezequias dos Reis (cf. fotos).
SegundoRanieri,
reforma agrária é um termo utilizado para descrever distintos processos que pro-
curam dar acesso à posse da terra e aos meios de produção para os trabalhadores
rurais que não a possuem ou a possuem apenas em pequena quantidade (RANIE-
RI, 2003, p. 5).
Por entender que a Doença de Chagas é um problema sério de
Saúde Pública em nosso país e, principalmente, no Estado de Minas
Gerais, é que se pretende com este trabalho apresentar dados da re-
alização de inquérito entomológico nos domicílios e peridomicílios
do Assentamento Ezequias dos Reis, no Município de Araguari/MG,
como pré-requisito às ações de luta antivetorial preventivas da trans-
missão da doença, endêmica na região.
Materiais e Métodos
Localização e Caracterização da Área em Estudo
O Projeto de Assentamento (PA), Ezequias dos Reis, localizado
na área rural do município de Araguari, foi criado a partir da desa-
propriação da Fazenda Beija Flor, com uma área total de 2.204,1878
ha. Ele está localizado entre as coordenadas UTM: E = 792.799 e
N = 7.968.849 (figura 1). Em 10/06/1999, a Fazenda Beija Flor
foi decretada área de interesse para a reforma agrária, com emissão
de posse ocorrendo em 21/12/2002. Hoje, encontram-se assentadas
58 famílias, com uma população total estimada em 280 pessoas, em
lotes que variam de tamanho, entre 25 e 35 ha. (foto 2).
O clima predominante na área em que o assentamento está inseri-
do é classificado como Tropical de Altitude Cwa (mesotérmico, com
chuvas de verão, verões quentes e invernos brandos), ou seja, apre-
senta temperaturas amenas e o regime de precipitações pluviométri-
cas é dividido em duas estações bem definidas, sendo uma úmida e
outra seca (BRASIL, 2003).
De acordo com dados do Radam (1983, apud BRASIL, 2003),
a área do Assentamento Ezequias dos Reis encontra-se no Planalto
Residência do lote 36
do Assentamento Eze-
quias dos Reis, Municí-
pio de Araguari/ MG.
Setembro de 2005.
Residência do lote 3 do
Assentamento Eze-
quias dos Reis, Municí-
pio de Araguari/MG.
Setembro de 2005.
Fotos: Baltazar Casagrande
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
48
do Alto Paranaíba apresentando relevos de topo convexo, formas
de dissecação muito fracas, variando entre 750 e 1.750m de dis-
tância interfluvial e um aprofundamento de drenagens separadas
por vales de fundo plano. A área abrange também os Planaltos e
Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná, que apresentam formas
de dissecação tabulares e relevos de topo aplainado, com diferen-
tes ordens de grandeza, que variam entre 1.750 m e 3.750 m. O
aprofundamento da drenagem é muito fraco, sendo eventualmente
separado por vales de fundo plano.
A vegetação do assentamento é caracterizada pelo bioma savâ-
nico com domínio de cerrado, com a presença das fitofisionomias
de cerradão, mata ciliar e mata semidescídua, com áreas conserva-
das e áreas utilizadas para pastagens, onde se encontram espécies
dispersas (SANO; ALMEIDA, 1998).
A presente investigação teve início em abril de 2005. Previamen-
te ao levantamento dos triatomíneos intra e peridomociliares, reali-
zaram-se visitas a todas as famílias assentadas para esclarecimentos
técnicos quanto à captura e localização dos triatomíneos. Entre-
gou-se na oportunidade um pote plástico coletor para acondicionar
os espécimes capturados, juntamente com folhetos contendo figu-
ras das principais espécies de triatomíneos hematófagos vetores da
Doença de Chagas e explicações de como ocorre a transmissão da
Doença de Chagas.
Resultados e Discussões
Do total de 58 lotes onde foram entregues os potes, em 4 deles as
famílias já encontraram triatomíneos. No lote 3, foram encontrados
dois T. sordida dentro do domicílio; no lote 12 foram encontrados
uma colônia de P. megistus no galinheiro, dois dentro do domicílio
e um T. sordida também dentro do domicílio; no lote 19 foi encon-
trado um T. sordida no galinheiro; e no lote 36 foram capturados
três T. sordida , sendo dois em ninhos de galinha e um em casca de
árvore (figura 3).
Apesar de muitas moradias do assentamento Ezequias dos Reis
serem de alvenaria, estas são inacabadas e, além disso, possuem
áreas de pau-a-pique, tornando-as ótimos ecótopos para o abrigo
e proliferação dos triatomíneos. Também no peridomicílio encon-
tram-se anexos e entulhos, ambientes favoráveis para a moradia dos
barbeiros (cf. fotos).
O controle da doença de Chagas objetivando interromper a
transmissão intradomiciliar tem-se revelado altamente eficaz e
com apreciável sucesso na eliminação do T. infestans. Entretan-
to, a existência de outras espécies de triatomíneos transmissores
de comportamento silvestre ou em processo de domiciliação, tais
como o T. sordida, o P. megistus e R. neglectus vêm substituindo
os ecótopos naturais pelos artificiais, com conseqüente reinfesta-
ções domiciliares. Situação confirmada pelos resultados do pre-
sente trabalho.
Peridomicílio do lote 3
do Assentamento
Ezequias dos Reis.
Setembro, 2005
Peridomicílio do lote 12
do Assentamento
Ezequias dos Reis.
Setembro, 2005
Peridomicílio do lote 36
do Assentamento
Ezequias dos Reis.
Setembro, 2005
Peridomicílio do lote 19
do Assentamento
Ezequias dos Reis.
Setembro, 2005
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
49
FIGURA 1 - LOCALIZAÇÃO DO ASSENTAMENTO EZEQUIAS DOS REIS, MUNICÍPIO DE ARAGUARI/MG
FIGURA 2 - MAPA DA DIVISÃO DOS LOTES DO ASSENTAMENTO EZEQUIAS DOS REIS,
MUNICÍPIO DE ARAGUARI/ MG
Fonte: BRASIL, 2003.
Fonte: BRASIL, 2003.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
50
Considerações Finais
Ao analisarem-se esses dados, pode-se concluir que o Assenta-
mento Ezequias dos Reis oferece risco a população no que se refere
à Doença de Chagas, pois nesse local há moradores chagásicos, po-
dendo assim, ocorrer transmissão vetorial domiciliar. A Secretaria
Municipal de Saúde do município de Araguari já foi contactada para
que possa tomar as medidas cabíveis de controle vetorial, de acordo
com a orientação da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais,
a fim de evitar danos à saúde dos moradores.
Sendo assim, não basta o governo federal distribuir a terra às
pessoas que querem dela extrair os meios de sobrevivência. É pre-
ciso também oferecer condições financeiras para que os assentados
desenvolvam suas atividades concomitantemente aos programas de
Educação em Saúde, que visam orientá-los quanto às endemias lo-
cais a que estão expostos e sobre as formas de prevenção, para que,
assim, possam atingir uma melhor qualidade de vida a partir da
fixação na terra produtiva.
Considerando o modelo das habitações e anexos do assentamen-
to em questão recomenda-se rastreamento o mais completo pos-
sível, pelo menos a cada seis meses, e nos próximos anos, como
ação essencial para a não instalação de novos focos domiciliares e o
aparecimento de casos novos da Doença de Chagas, à semelhança de
um triste e recente passado.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Guia de vigilância epidemiológica. Brasília: 2002.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Su-
perintendência Regional de Minas Gerais, Sr.06. Divisão de Assentamento. Diagnóstico ambiental e projeto final de As-
sentamento visando à obtenção da licença de operação corretiva. PA Ezequias os Reis, Araguari (MG). Elaborado pela
Universidade Federal de Uberlândia. 2003.
COURA, J. R. Tripanosomose, doença de Chagas. Ciência e Cultura. v. 55, n.1, São Paulo, jan./mar. 2003. Disponível em:
<[email protected]>. Acesso em: 12 de set. 2005.
DIOTAIUTI, L.; PEREIRA, M. H.; ESPÍNOLA, H. N. Hemiptera. In: NEVES, D. P. Parasitologia humana. 10. ed. São
Paulo: Atheneu, 2004.
RANIERI, S. B. L. Retrospecto da reforma agrária no mundo e no Brasil. In: SPAROVEK, G. A qualidade dos assentamen-
tos da reforma agrária brasileira. 2003.
REY, L. Bases da parasitologia médica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1992.
SANO, S. M.; ALMEIDA, S. P. Cerrado: ambiente e flora. Planaltina-DF: Embrapa,1998.
FIGURA 3 - TRIATOMÍNEOS ENCONTRADOS EM LOTES DO ASSENTAMENTO EZEQUIAS DOS
REIS. A E E) T. SORDIDA ADULTO; B) NINFA DE QUARTO ESTÁDIO DE P. MEGYSTUS; C) NINFA
DE QUINTO ESTÁDIO DE T. SORDIDA E D) NINFA DE QUARTO ESTÁDIO DE T. SORDIDA.
Jureth Couto Lemos
ABCDE
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
51
A Participação da Comunidade
na Construção de um Projeto
Político-Pedagógico
ALEGRE, Laíze Márcia P.
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Campus Curitiba
Palavras-chave: Educação, Projeto Político-Pedagógico, Comunidade.
RESUMO
Este trabalho relata parte da pesquisa de doutorado da autora. A pesquisa é sobre
a utilização das tecnologias da informação e da comunicação na prática docente
numa instituição de educação tecnológica. Para que os resultados fossem alcança-
dos foi necessária uma investigação preliminar com os participantes da institui-
ção pesquisada que foram coordenadores das comissões de elaboração do Projeto
Político-Pedagógico com o objetivo de verificar a participação dos professores,
alunos e da comunidade na construção desse documento. Constatou-se que houve
a participação dos professores e alunos de forma bastante discreta. Porém não se
observou a participação da comunidade nem nos registros das reuniões da comis-
são de elaboração do projeto nem na fala dos entrevistados.
A geração de expectativas em vários segmentos da sociedade im-
põe novos horizontes para os sistemas de formação de professores,
isso porque o trabalhador do século XXI necessita ser formado para
atender a exigência dessa “nova” escola.
Essas evidências conduziram-nos à necessidade de investiga-
ção de como estava sendo realizada a elaboração do Projeto Político-
Pedagógico (PPP) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná
(UTFPR) se esse contemplava a prática e saberes docentes; se abor-
dava a capacitação de professores para a assimilação e incorporação
das tecnologias da informação e da comunicação na sua prática peda-
gógica; e verificar a participação de professores, alunos e comunidade
na construção do referido projeto.
A Instituição já tinha um modelo de projeto pedagógico conso-
lidado para a formação do técnico de 2º grau. Mas, após a grande
mudança com a implantação dos Cursos Superiores de Tecnologia,
buscou-se uma averiguação de como surgiu a necessidade de se ela-
borar o PPP direcionado para essa nova realidade.
A fim de entender os significados acerca do que compreendem,
pensam e sentem os docentes, foi utilizada a entrevista para a coleta
de dados, pois é uma técnica que proporciona o aprofundamento nas
informações.
Optou-se pela entrevista semi-estruturada pela vantagem de ser
possível o desenvolvimento de forma espontânea e conduzir para
questões que interessávamos explorar. A entrevista, como um dos
instrumentos deste estudo, foi dirigida aos coordenadores das Co-
missões instituídas para a elaboração do Projeto Pedagógico Institu-
cional. O primeiro coordenador esclareceu-nos, conforme transcri-
ção, como surgiu a necessidade da elaboração do Projeto:
Com os Cursos Superiores de Tecnologia, o Cefet estaria mudando (inclusive
em quantidade) o seu “produto” (...) estaria indo quase que totalmente para o
Laíze Márcia P. Alegre é douto-
ra em educação. Linha de pes-
quisa: Tecnologia e Interação e
Tecnologia e Trabalho. Aborda
reflexões teóricas e práticas da
inserção da tecnologia como
suporte na educação. Enfatiza,
ainda, a formação docente,
aspectos metodológicos e o
processo ensino-aprendiza-
gem, destacando as dimensões
sócio-culturais, políticas e
econômicas.
Arquivo
Até o dia 10 de outubro
de 2005, a instituição era
chamada de Centro Federal
de Educação Tecnológica do
Paraná (Cefet / PR). Neste dia
foi publicada no Diário Oficial
da União, a Lei n
o
11.184,
transformando o Cefet /PR
em Universidade Tecnológica
Federal do Paraná (UTFPR), a
primeira do país.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
52
ensino superior que seria/deveria ser ministrado numa nova proposta de ensino
superior para o país, portanto teríamos que promover essa grande discussão (...)
com toda a comunidade sobre como achávamos que esse nosso novo aluno deveria
ser formado (...)com quais valores(...)para atender quais interesses (...) para se
diferenciar em quê (...) Outro fator era que os cursos superiores de tecnologia es-
tariam sendo ministrados na sua grande maioria por professores oriundos (apesar
da titulação de uma grande maioria) da carreira de 2º grau, isso na minha opinião
era por si só a grande oportunidade para a construção de um intenso e novo pro-
jeto pedagógico (...) (Entrevistado 1).
No ensino superior, a compartimentalização é predominante,
obstruindo a comunicação entre os atores, impedindo que idéias e
experiências tenham fluxo constante e livre. Não há facilidade para
se transformar a reflexão crítica em ação.
Para compreender melhor o exposto, voltamos aos anos
1970, no Brasil. Nessa época, o “saber planejar” era enfatizado pela
abordagem tecnicista da educação. O registro passou a ter mais im-
portância do que o “saber fazer”. A preocupação central do processo
educacional era enfatizada no “saber planejar”.
Reportamo-nos a essa época para diferenciar o projeto político-
pedagógico dos planejamentos daquela década.
Quando nos referimos a projeto de educação, estamos mencionan-
do o modelo, a qualidade e a concepção de homem e de sociedade que
se pretende construir numa instituição de ensino. Podemos observar o
interesse das escolas e sistemas educacionais, de forma muito apressa-
da, em buscar a construção do projeto político-pedagógico. A institui-
ção pesquisada, também da mesma forma, já tinha no seu plano de me-
tas do ano de 2000 a construção do seu projeto político-pedagógico.
Como já havia a existência de um plano, perguntamos ao coordena-
dor se, para a elaboração do Projeto, haviam sido consultadas pessoas
que já passaram pela experiência na instituição ou se haviam utilizado
algum método, o que no foi informado respondido da seguinte forma:
Iniciamos fazendo uma rodada de discussão/apresentação do que cada compo-
nente da comissão pensava e achava que o projeto deveria conter (...) Também
solicitamos uma posição prévia do que pensavam os atuais diretores de ensino e
de pós-graduação (...)Na seqüência produziu-se um esqueleto de roteiro o qual
foi sucessivamente aperfeiçoado, através da troca de informações via internet. Eu
sempre filtrava e anexava as novidades para conhecimento e apreciação de todos da
comissão. De tempos em tempos (aproximadamente 15 a 20 dias) nos reuníamos
presencialmente. Após isso vieram períodos de leituras e discussões e após a ela-
boração inicial do texto (...) por fim decidiu-se anexar o documento denominado
de planejamento estratégico da instituição (gerado pela equipe diretiva atual)
como anexo ao documento (Entrevistado 1).
A segunda informante, responsável pela coordenação, apresentou
a seguinte metodologia de trabalho:
Inicialmente, houve reuniões para discussão conceitual e definição de ações, de
modo a uniformizar o conhecimento do tema e as ações a serem desenvolvidas por
Unidade (Entrevistado 2).
Questionou-se ainda qual era a periodicidade das reuniões, quan-
to tempo duravam e ainda qual foi o período de duração da elabora-
ção do Projeto Pedagógico Institucional (PPI), como era chamado
na primeira versão. Abaixo apresentamos as respostas da segunda
coordenadora:
Existia o problema de que dois componentes não eram de Curitiba (...) mas em
média duas reuniões presenciais por mês...no ínterim das mesmas eram trocadas in-
formações através de lista (e-mails); isso variou conforme ocorreram as solicitações
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
53
dos membros...para por ex. mais tempo para leitura e reflexão (...) Normalmente
ocorriam da metade da tarde ou da manhã até o seu final (aproximadamente 3 horas
por reunião). O período em que aconteceu a elaboração da versão inicial, entre a
data da 1ª Portaria (aquela que me referi no início) 13/09/2000 e a data de entrega
do “boneco” 26/06/01 foi, veja que interessante (...) 9 meses !!. (Entrevistado 1).
Podemos, nesse momento, verificar a necessidade de uma proposta
pedagógica que, fundamentada numa concepção crítica das relações
que existem entre a educação, a sociedade e o trabalho direcionem
para a implantação de uma prática educativa que seja transformadora
e igualmente participativa, com conteúdos significativos e atualiza-
dos sendo repassados com a utilização das tecnologias da informação
e da comunicação, pois sendo o nosso diferencial a ênfase profissio-
nal, essa não deve se concentrar apenas na parte diversificada dos
currículos, mas sim estar presente em todo ele.
Para que se proponham desafios é necessária a troca entre os do-
centes que, a partir desse ato, construam o próprio conhecimento.
Isso significa compreender o ensino como possibilitador de trocas
decorrentes de propostas desafiadoras, para a reflexão e o aprofunda-
mento da relação entre teoria e prática.
De forma global, as universidades são estimuladas a buscar a
transposição de seus conflitos, surgidos de possíveis idéias incom-
patíveis, e partir para a construção de planos de desenvolvimento,
aplicando a interdisciplinaridade, na medida do possível.
As instituições de ensino precisam aprender a facilitar debates e
provocar a interação entre os professores. Na instituição pesquisada
observou-se motivação, conhecimento, conscientização e disposição
dos docentes na construção do ensino superior profissionalizante.
Institucionaliza-se, no contexto atual, uma maior autonomia para
as instituições de ensino. Essa autonomia possibilita a incorporação
de incumbências que já foram de competência de outras instituições,
dentre elas a elaboração, execução e futuramente avaliação do Projeto
Político-Pedagógico.
Para Vasconcelos (2000, p. 173), a autonomia precisa ser vis-
ta com cuidado, pois o poder público a transferir para a escola a
responsabilidade da elaboração do seu projeto político-pedagógico,
transfere também a questão do seu sucesso ou fracasso, podendo ser
uma estratégia de descompromisso e de transferência de responsabi-
lidade por parte do Estado.
Nesse sentido, outro aspecto mais relevante apresentado pelo de-
bate pedagógico, na atualidade, é a relação educacional com as estru-
turas sócioprodutivas da sociedade. Na história da humanidade tal
relação determinou importantes aspectos do processo educativo.
A LDB, em seus artigos 14 e 15, apresenta as seguintes determi-
nações: “I. participação dos profissionais da educação na elaboração
do projeto pedagógico da escola”; II. participação das comunidades
escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. (...) ”
Assim, entende-se que diretor, professores, alunos e demais atores
do processo desconhecem o significado político da autonomia, que é
uma construção contínua, individual e coletiva.
A importância de um projeto político-pedagógico é anterior a de-
Arquivo
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
54
cisões políticas, já que como educadores necessitamos saber aonde
pretendemos chegar com os nossos profissionais em formação, obje-
tivando alcance na comunidade e na sociedade.
Quando são oportunizadas as decisões, essas devem ser efetivadas
e assumidas pelo coletivo da instituição e pela comunidade. A execu-
ção do processo precisa ser democrática requerendo a conscientiza-
ção dos envolvidos para uma participação responsável, com compro-
metimento técnico e político.
Observou-se essa realidade no processo de construção do Proje-
to Político-Pedagógico na instituição. Na fase inicial, foi instituída
uma comissão, designada pelo diretor-geral, que abrangia somente
alguns chefes, coordenadores e professores com cargos administrati-
vos. Quando o coordenador assumiu, percebeu que poderia e deveria
ser mais representativa. Observe o relato:
Inicialmente foi emitida uma portaria de nº 1043 composta por sete nomes sendo
seis de Curitiba (quatro professores + uma pedagoga + uma orientadora educa-
cional) e uma profa. da unidade descentralizada de Pato Branco. Nessa portaria
eu ainda não constava e o prof. dr. João Augusto Bastos era o presidente, mas
posteriormente pediu afastamento por motivos de saúde, momento em que entrei
e passei a presidir os trabalhos da comissão. Sobre a escolha dos nomes anteriores
não sei quais critérios foram adotados. Quando assumi pedi ampliação (apoiado
pelos membros da comissão) buscando a comissão ter mais representatividade
dos segmentos que compunham a instituição. Solicitei a permanência informal
do presidente anterior e este aceitando teve um papel de muita importância para
formatação do documento gerado. Oficialmente solicitei um representante dos
alunos que foi indicado pelo diretório (existe documento de comprovação), um
representante do segmento dos administrativos, o Chefe da Pós-Graduação (que
já estava na comissão o Chefe do Ensino Superior) e um segundo representante
das Uned’s (esse representante bem como o representante dos administrativos
foi decido pelo atual diretor de ensino em reunião com os gerentes de ensino e
diretores das unidades). Com essa contabilidade, a comissão gerou o primeiro
documento trabalhando com doze componentes sendo oito profs, um aluno e três
da carreira administrativa” (Entrevistado 1).
Da segunda Comissão, obtivemos a informação de que houve a
preocupação com a representatividade de todas as Unidades de En-
sino da Instituição:
Na primeira Comissão havia representantes de duas Unidades – Pato Branco e
Ponta Grossa... Porém, nessa segunda etapa, cujo objetivo era definir estratégias
para oportunizar a construção coletiva do documento, a participação de repre-
sentantes das Unidades foi essencial, daí porque existiam inclusive dois repre-
sentantes por Unidade... O requisito de escolha era que fossem pessoas que já
viessem trabalhando na área pedagógica dos cursos e que tivessem informações
e representatividade no âmbito dos mesmos. Os representantes foram indicados
pela Gerência de Ensino e Pesquisa de cada Unidade, após solicitação da Diretoria
de Ensino do Sistema (Entrevistado 2).
Verificou-se que a conquista de autonomia direcionou os envolvi-
dos para a importância da construção do Projeto Político-Pedagógi-
co, que confere significado às ações educativas em consonância com
a identidade da instituição, tendo como características “o saber fa-
zer” e o decidir coletivamente o que foi inicialmente proposto, para
que haja direcionamento para o perfil de aluno-profissional que se
pretende formar. Assim, a ação educativa será norteada, formalizando
a finalidade da instituição de ensino.
Segundo Vasconcelos (2000), o projeto pedagógico pode ser a
sistematização de um trabalho coletivo e cooperativo que define a
ação educativa a ser desenvolvida pela instituição com as ações dos
sujeitos que apresentarão necessidades e novas exigências que deve-
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
55
rão sempre ser consideradas, pois nada se torna definitivo.
A construção do PPP somente será possível através de ação con-
junta direcionada para o futuro e com conhecimento amplo da re-
alidade existente através de diagnóstico e análise, estabelecendo-se
objetivos comuns, caminhos e etapas para sua operacionalização, en-
tendendo que as tarefas necessitam ser divididas entre os participan-
tes e a avaliação do processo deve ser contínua.
Tendo em vista o perfil de aluno e futuro profissional que se pre-
tende formar, o Projeto Político-Pedagógico é uma ação em processo
que, como já mencionamos, não está pronta e acabada, mas precisa
considerar as interferências, contradições, ajustes e complementa-
ções que se fizerem necessárias. Ressaltamos que, para tal, os profes-
sores precisam superar a acomodação frente ao seu fazer pedagógico,
pois certamente aparecerão dificuldades na efetivação das propostas
de trabalho pedagógico que enfatizam a autonomia e cooperação por
parte dos envolvidos.
O Projeto Político-Pedagógico é construído de forma conjunta,
cooperativa e participativamente, sendo as competências e formações
específicas somadas com um único objetivo definido coletivamente,
possuindo todos uma característica imprescindível: interessados no
campo de ação da educação. A participação efetiva é condição neces-
sária para a legitimação do Projeto Político-Pedagógico.
Observe o relato do primeiro coordenador com relação a essa
realidade:
O processo deveria ser disponibilizado para todos os segmentos da comunida-
de, inclusive ‘extra-muro’. Na época foi discutido na comissão. Principalmen-
te a família, os pais, para que sejam identificados valores, que alunos a gente
deveria formar sintonizado com estes valores. Enfim, uma visão de sociedade
(Entrevistado 1).
Talvez não estejamos percebendo o rápido passar do tempo e per-
dendo oportunidades de contribuir com nossas experiências, com
receio de más interpretações ou de críticas. Os desafios sempre con-
tinuarão e precisamos estar preparados para enfrentá-los. Se cada
professor estiver cumprindo seu papel, convicto de que sempre po-
derá melhorar, aí sim, conseguiremos atingir o objetivo almejado:
auxiliar a instituição a lidar com os desafios diários.
Para a construção coletiva e permanente exige-se comprometi-
mento e competência pessoal nas dimensões técnica, sócio-política
e humana da educação, levando em consideração as diferenças entre
os participantes do grupo e a assimilação de projetos individuais que
possibilitam a execução do projeto coletivo comum, objetivando-se a
efetivação dos objetivos educacionais.
Acreditamos, como já foi mencionado, que a competência do co-
ordenador de uma comissão de construção de um Projeto Político
Pedagógico, em caso de surgimento de dificuldade, seja de primor-
dial importância. A postura deste agente permitirá a transparência de
todo processo: elaboração, execução e avaliação. Esse personagem or-
ganizará e articulará o coletivo, reavaliará constantemente as priori-
dades, aperfeiçoando o trabalho e permitindo a gestão participativa,
partindo do princípio que a escola também precisa da participação
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
56
da comunidade como usuária consciente deste serviço, não apenas
para servir como instrumento de controle mas para que os muros da
escola sejam rompidos.
Referências
BRASIL. Lei n
o
9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da
União, Brasília, 20 dez. 1996.
VASCONCELOS, C. dos S. Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e projeto político-pedagógico. 7ª. ed. São Paulo:
Libertad, 2000.
Notas sobre a Capoeira em São Luis
VAZ, Leopoldo Gil D.
Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão
Palavras-chave: Capoeira, Tradição, História.
Ao reler o artigo publicado em seis capítulos no Jornal do Capoeira
abordando o tema “Capoeiragem em São Luís do Maranhão”, vejo-me
obrigado a rever alguns pontos ali apresentados. É o que faço a seguir,
uma vez que novas informações vão surgindo sobre esse encantador
fenômeno da capoeiragem, que desde há muito tempo tem percorrido
e participado da história do Brasil. Fenômeno esse que, diga-se de
passagem, jamais foi regional, mas sim nacional.
Para o Livro-Álbum dos Mestres de Capoeira já foram cadastra-
dos mais oitenta mestres que atuam em São Luis do Maranhão. Em
reunião com o contramestre Baé, Florisvaldo Costa, presidente da
Federação de Capoeira do Estado do Maranhão, solicitei-lhe que
desse uma olhada nos cadastrados e identificasse quem efetivamente
era graduado como “mestre” ou “contramestre” dentre aqueles que
se identificaram como tal; tinha a informação de que, na Federação,
apenas 16 (dezesseis) pessoas eram registradas com essas gradua-
ções. Junto com contramestre Baé, outros mestres, contramestres,
e formados, passaram à identificação/ reconhecimento. Sem surpre-
sas, a grande maioria não possuía esse título. Talvez identificaram-se
como mestres porque ensinavam a arte da capoeiragem.
De acordo com Reis, autor da dissertação “Negros e Brancos no
jogo de capoeira: a reinvenção da tradição”,
A existência da capoeira parece remontar aos quilombos brasileiros da época co-
lonial, quando os escravos fugitivos, para se defenderem, fazem do próprio corpo
uma arma. Não há indicações seguras de que a capoeira, tal qual a conhecemos
hoje no Brasil, tenha se desenvolvido em qualquer outra parte do mundo (REIS,
2005).
Em conversa com Mestre Bamba, Kleber Umbelino Lopes Filho
(divulgada na edição 41, de 1º a 7 de agosto, do Jornal do Capoeira),
esse confirmou a existência de movimentos semelhantes aos da capo-
eira em remanescentes quilombolas do Maranhão, da região do Rio
Itapecuru-Mirim. Essa região é ocupada desde o tempo dos france-
ses (1612-1615) e depois holandeses (1640-1643) e portugueses
– desde o início da colonização, quando da reconquista do território
Fotos: Micaela Vermelho
capoeira do mestre
Patinho
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
57
aos franceses, em 1615, e a retomada aos holandeses, em 1643. E, a
partir dos meados dos 1700, recebeu os primeiros escravos negros e,
conseqüentemente, com suas fugas, a formação dos primeiros qui-
lombos naquela região. Mestre Bamba chegou a filmar esses movi-
mentos, que aparecem dentro do Tambor-de-Crioula, denominado
“Punga dos Homens”, com a identificação dos “golpes” pelos “da
terra” e a sua correlação com a capoeira de Bimba. Ainda dentro da
assertiva de Reis:
Como não existem pesquisa históricas a respeito da capoeira para os séculos
XVI a XVIII, não é possível reconstruirmos o processo que levou ao deslo-
camento da capoeira do campo à cidade, o que deve ter ocorrido por volta
do começo do século XIX, posto que datam desse período as primeiras re-
ferências históricas (até agora conhecidas) referentes aos capoeiras urbanos
(REIS, 2005).
Pois bem, em São Luís há uma referência de quando aparecem na
cidade: em 1829, conforme registro de certas atividades lúdicas dos
negros (VAZ, 2002) no jornal “A Estrela do Norte”, onde aparece a
seguinte reclamação de um morador da cidade:
Há muito tempo a esta parte tenho notado um novo costume no Maranhão;
propriamente novo não é, porém em alguma coisa disso; é um certo Batuque que,
nas tardes de Domingo, há ali pelas ruas, e é infalível no largo da Sé, defronte do
palácio do Sr. Presidente; estes batuques não são novos porque os havia, há muito,
nas fábricas de arroz, roça, etc.; porém é novo o uso d”elles no centro da cidade;
indaguem isto: um batuque de oitenta a cem pretos, encachaçados, pode recrear
alguém ? um batuque de danças desonestas pode ser útil a alguém ?
Depois disso, aparece em crônicas policiais como nesta de 6 de
junho de 1835:
A esse respeito em 1855 (sic) um morador das imediações do Apicum da Quinta
reclamava pelas colunas do Eco do Norte1 contra a folgança dos negros que, dizia,
‘ali fazem certas brincadeiras ao costume de suas nações, concorrendo igualmente
para semelhante fim todos pretos que podem escapar ao serviço doméstico de
seus senhores, de maneira tal que com este entretenimento faltam ao seu dever...
(VIEIRA FILHO, 1971, p. 36).
Josué Montello, em seu romance Os Degraus do Paraíso, em que
trata da vida social e dos costumes de São Luiz do Maranhão, na
passagem do século XIX para o século XX, fala-nos de prática da
capoeira no ano de 1863, conforme relato de mestre Eli Pimenta, em
reportagem do Jornal do Capoeira.
O que é confirmado por Vieira Filho, quando relata que, o famoso
Canto-Pequeno, situado na rua Afonso Pena, esquina com José Au-
gusto Correia, era local preferido dos negros de canga ou de ganho em
dias de semana, com suas rodilhas caprichosamente feitas, falastrões e
ruidosos. Afirma esse autor que ali, alguns domingos antes do carna-
val, costumava um magote de pretos se reunir em atordoada medonha,
a ponto de, em 1863, um assinante do Publicador Maranhense recla-
mar a atenção das autoridades para esse fato.
E ainda, Martins (1989, p. 179) aceita a capoeira como o pri-
meiro esporte praticado em Maranhão, tendo encontrado referência
à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877:
JOGO DA CAPOEIRA – Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que,
no canto escuro da rua das Hortas sair para o largo da cadeia, se entretém em
experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acom-
panhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o tornam
recomendável à ação dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que
proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
58
Por fim, e mais emblemático, em Turiaçú, no ano de 1884, é pro-
clamado o Código de Posturas de Turiaçu, Lei n° 1.341, de 17 de
maio em que constava:
Artigo 42 – é proibido o brinquedo denominado Jogo Capoeira ou Carioca. Mul-
ta de 5$000 aos contraventores e se reincidente o dobro e 4 dias de prisão.
(Grifos nossos).
Finalmente, Nascimento de Moraes, em uma crônica que retrata
os costumes e ambientes de São Luís, em fins do século XIX e início
do XX, publicada em 1915, utiliza o termo capoeiragem:
A polícia é mal vista por lá, a cabroeira dos outros também não é bem recebida
e, assim, quando menos se espera, por causa de uma raparigota qualquer, que se
faceira e requebra com indivíduo estranho ali, o rolo fecha, a capoeiragem se de-
senfreia e quem puder que se salve (apud MARTINS, 2005, p. 29).
Outros autores nascidos no Maranhão abordam a Capoeira des-
crevendo-a em outras terras como o Rio de Janeiro. Artur Azevedo
refere-se à Capoeira em uma de suas obras, embora o fato não se
passe em São Luís do Maranhão. Na opereta O Barão de Pituaçu,
narra a conversa de um capoeira (opereta em quatro atos, 1887, In:
CAVALHEIRO, 2005.) Não há necessidade de transcrever os arti-
gos de Coelho Neto: veja-se em nosso Jornal do Capoeira a seção
Clássicos da Literatura, a crônica O Nosso Jogo escrita por Coelho
Neto, em 1922 e publicada no livro Bazar.
Reis (2005) identifica que a capoeira passa a ser aceita como uma
atividade física, de origem nacional, a partir dos anos 30 e 40 do sé-
culo passado, em Salvador, com as primeiras academias com licença
oficial para o ensino da capoeira como uma prática esportiva. O ressur-
gimento da crônica sobre a capoeiragem maranhense ocorre também
por essa época, quando Dilvan de Jesus Fonseca Oliveira2 informa que
seu avô, falecido aos 92 anos, estivador do Porto de São Luís se referia
à “capoeira” como “carioca”, luta praticada em sua juventude. E mestre
Diniz lembra que “ali, na rampa Campos Melo, quando eu era garoto,
meu pai ia comprar na cidade e eu ficava no barco. Eu via de lá os esti-
vadores jogando capoeira”.3 Mestre Firmino Diniz, nascido em 1929,
é considerado o mestre mais antigo de São Luís, teve os primeiros
contatos com a capoeira na infância, através de seus tios Zé Baianinho
e Mané. Lembra ainda de outro capoeirista da época de sua infância,
Caranguejo, apelido vindo de seu trabalho de vendedor dessa iguaria,
que costumava tocar berimbau na “venda” de propriedade de sua mãe,
localizada no bairro do Tirirical. Viu, algumas vezes, brigas desse capo-
eirista com policiais (SOUZA, apud MARTINS, 2005, p. 30).
Reis (2005) observa que há uma crescente “baianização” da ca-
poeira brasileira, que produzirá uma “impureza” das capoeiras de ou-
tros lugares. Esse fenômeno aparece também em São Luis do Mara-
nhão, a partir dos anos 1960/1970, quando da chegada de Roberval
Serejo e da passagem de mestre Canjiquinha (1966), com seu grupo
Aberre, constituído pelo próprio Canjiquinha, Sapo, Brasília e Vitor
Careca esses três últimos, ainda menores de idade e iniciantes na/da
capoeira. Sapo, depois mestre em 1973, por conta de mestre Zumbi
é o “pai” da atual capoeira maranhense, que se deixou “contaminar
num primeiro momento pela “da Bahia”. Aliás, a “capoeira baiana de
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
59
Canjiquinha” já chegou contaminada por aqui, e assim foi ensinada
por Sapo, pois mestre Canjiquinha tinha um estilo próprio de prati-
car a capoeira Angola,
a sua marca registrada - que passava para seus alunos - pois saia do característico
jogo amarrado, lento, às vezes até monótono, para um jogo mais aberto, bonito,
solto, com floreios, quedas, jogando em cima e embaixo com muita malícia e de-
senvoltura, sem jamais esquecer a filosofia e fundamentos da capoeira4.
Mas a capoeira praticada no Maranhão reagiu, tanto que hoje po-
demos falar de uma “Capoeira Maranhense” em função da também
“contaminação” das artes e danças e ritmos maranhenses: tambor-de-
crioula onde “a primitiva capoeira” – ou melhor, uma capoeira primi-
tiva aparece em uma de suas versões, através da “punga dos homens”;
tambor-de-mina, das religiões afro-maranhenses; mesmo o cacuriá, o
lelê, o côco, o maculelê, o próprio bumba-meu-boi em seus diversos
sotaques, conforme informam mestre Bamba (angola), mestre Índio
Maranhão (regional), mestre Acinho de Jesus (a quem se deve a cria-
ção de novo método de ensino da capoeira através do jogo lógico, pe-
dagógico e didático; a fundação do Núcleo Internacional de Estudos
da Capoeira (NIEC) sede no bairro da Cohab e Parque Shalon, onde
ministra aulas já utilizando o jogo pedagógico); ou Mestre Patinho,
que praticava um estilo que chama de “Capoeiragem da Remanecen-
ça”, fundamentada, e hoje utiliza-se de “capoeiragem”; e por aí afora...
sem contar a “Onça Pintada”, mistura de regional com “agarrada ma-
rajoara”, praticada na região do rio Turiaçú, na fronteira com o Pará.
Referências
CAVALHEIRO, C. C. Notas para a História da Capoeira em Sorocaba (1850 - 1930). In Jornal do Capoeira, edição 32,
30 de maio a 05 de junho de 2005, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br
CÓDIGO De Posturas de Turiaçu, Lei 1342, de 17 de maio de 1884. Arquivo Público do Maranhão, vol. 1884-85.
ESTRELLA Do Norte do Brasil, nº 6, 08 de agosto de 1829.
MARTINS, D. Esportes: Um Mergulho no Tempo. São Luís: (s.n.), 1989.
MONTELO, J. Os Degraus do Paraíso. Rio de Janeiro : Martins Fontes, 1965REIS, L. V. de S. Capoeira, Corpo e História.
Jornal da Capoeira. Disponível em: www.capoeira.jex.com.br, capturado em 14 de abril de 2005.
PIMENTA, E. Capoeira em São Luiz do Maranhão. Jornal do Capoeira. Disponível em: http://www.capoeira.jex.com.br.
Acesso em: 26 de abril de 2005.
REIS, L. V. de S. Capoeira, Corpo e História. Jornal da Capoeira. Disponível em: www.capoeira.jex.com.br; acesso em: 14
de abril de 2005.
VAZ, L. G. D.; VAZ, D. D. B. A introdução do esporte (moderno) em Maranhão. Congresso Brasileiro de História da Edu-
cação Física, Esportes, Lazer e Dança, VIII, Ponta Grossa/Pr, 14 a 17 de novembro de 2002. Ponta Grossa : UEPG, 2002.
Publicado em CD-ROM.
VIEIRA FILHO, D. breve história das ruas e praças de São Luís . 2º ed. rev. aum. Maranhão: 1971.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
60
RESUMOS ESTENDIDOS,
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
& PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
Resumos Estendidos,
Relatos de Experiência
& Práticas Pedagógicas
Resumos Estendidos,
Relatos de Experiência
& Práticas Pedagógicas
Detalhe de pintura
mural, Cuiabá/MT
Foto: Cinara Barbosa
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
61
Proposta Curricular de Primeiros Socorros
Para Curso Técnico em Agropecuária
NOBRE, Francisco S. S.
Escola Agrotécnica Federal de Crato/CE
O sistema de mais-valia próprio dos regimes capitalistas determi-
na as imposições de produtividade, expondo o trabalhador às mais
diversas situações propícias ao desenvolvimento de acidentes. A Or-
ganização Internacional do Trabalho (OIT) afirma que o trabalho
rural é significativamente mais perigoso que outras atividades labo-
rais (TEIXEIRA; FREITAS, 2003). De acordo com a Organização
Mundial de Saúde (OMS), em 1994, só por acidente, morreu um
trabalhador a cada três minutos no planeta e, é na agricultura que
se concentra o maior número de acidentes entre todas as atividades
profissionais (COUTO, 2005).
O alto desenvolvimento tecnológico do setor agrário é uma rea-
lidade em algumas regiões do Brasil, porém ainda há o predomínio
das atividades puramente braçais no país. Teixeira e Freitas (2003)
realizaram um estudo sobre acidentes rurais no Estado de São Paulo
e constataram que é na agricultura e na agroindústria que se concen-
tra o maior número de acidentes. 49,9% dos acidentes ocorridos no
setor agrícola foram causados por ferramentas de trabalho contun-
dentes – como facão, foice, machado etc. – e 14,7% dos acidentes
foram provocados por plantas e animais peçonhentos. A esse respei-
to, Feitosa et. al. (1997) dizem que somente com acidentes ofídicos
são registrados aproximadamente 22.000 casos por ano no Brasil,
dos quais 115 com vítimas fatais; e o perfil do acidentado é quase
sempre o mesmo: sexo masculino, entre 10 e 49 anos, agricultor e
com baixa instrução. Bochner e Struchiner (2003) alertam para o
fato de que o alto grau de analfabetismo colabora para ineficiência
de medidas preventivas e para o comprometimento do atendimento
hospitalar, devido à forma inadequada que essa população conduz os
procedimentos de primeiros socorros.
Segundo Nobre (2004), os alunos das Escolas Agrotécnicas Fede-
rais (EAF) apresentam um maior nível de instrução, quando compara-
do à boa parte da população de muitas das comunidades nas quais eles
vivem e/ou trabalham. Para comprovar essas afirmações basta recorrer
aos dados referentes à educação nos últimos indicadores sociais do
IBGE (2005) e constatar que a média de tempo de escolaridade dos
alunos de muitos municípios brasileiros está aquém do ensino médio.
Dessa forma, o objetivo desse trabalho é propor a abordagem dos
primeiros socorros como tópico de estudo da disciplina Educação
Física (EF) e promover a capacitação do Técnico em Agropecuária
(TA) para realizar essas atividades na zona rural.
Desde de 1995, a EAF de Crato/CE vem, por meio do Setor de
EF, desenvolvendo um trabalho no qual de três aulas semanais que
conseguiram manter na grade curricular, duas se destinam a atividades
Fotos: Divulgação Cefet Crato
Arquivo
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
62
de práticas esportivas e recreacionais, e uma se dá na forma de aula
teórica. No terceiro ano do ensino médio, concomitante ao ensino
profissionalizante em TA, os professores optaram por lecionar temas
relacionados a primeiros socorros. As aulas são ministradas de forma
teórica e prática e têm início com o estudo dos sistemas respirató-
rio e cardiocirculatório, considerando que esses sistemas quando são
comprometidos em acidentes põem em risco a vida do ser humano.
São abordados ainda os temas referentes à reanimação cardiorespi-
ratória, imobilização de fraturas, controle de hemorragias, interven-
ções de urgência sobre queimadura, picada de animais peçonhentos e
envenenamento por plantas tóxicas e agrotóxicos. Vislumbrando um
trabalho interdisciplinar, as atividades têm sido desenvolvidas com as
disciplinas de Segurança no Trabalho e Agroecologia.
Considerando o alto índice de analfabetismo no país, principalmen-
te na zona rural, fica evidente a relevância que esses conhecimentos
têm no currículo do Técnico em Agropecuária. É fato inconteste que
o número de óbitos observados na literatura por ocasião de acidentes
da zona rural não chega a ser assustador, porém o problema deixa de
assumir características meramente relacionadas à saúde e compromete
a economia como um todo, ao se registrar que o número de absen-
teísmo provocado por acidentes sobrecarrega o INSS e as empresas
particulares em geral. Essas medidas, consideradas como de interven-
ção em saúde pública, começaram a mostrar repercussões altamente
positivas nos últimos três anos, quando a Coordenação de Integração
Escola Comunidade (Ciec) da EAT Crato/CE constatou que estes
conhecimentos passaram a ser valorizados pelas empresas, tornando-
se um diferencial nas entrevistas e, por conseguinte viabilizando a
inserção do Técnico em Agropecuária no mercado de trabalho.
Referências
BOCHNER, R.; STRUCHINER, C. J. Epidemiologia dos acidentes ofídicos nos últimos 100 anos no Brasil: Uma
Revisão. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 1, 2003.
COUTO, J. L. V. do. Acidentes. Disponível em: www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/index.htm. Acesso em: 12 de
agosto de 2005.
FEITOSA, R. F. G.; MELO, I. M. L. A e MONTEIRO, H. S. A. Epidemiologia dos Acidentes por Serpentes Peçonhentas
no Estado do Ceará – Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 30, n. 4, 1997.
NOBRE, F. S. S. Educação para um Estilo de Vida Ativo: proposta curricular para aulas de educação física no curso técnico
em agropecuária. Cadernos Temáticos, Secretaria de Educação Média e Tecnológica, Brasília, v. 1, 2004.
TEIXEIRA, M. L. P. ; FREITAS, R. M. V. de. Acidentes do trabalho no interior paulista. São Paulo em Perspectiva, v. 17,
n. 2, 2003.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
63
A Educação Ambiental para Comunidades
do Entorno de Parques e Reservas Urbanas
ALMEIDA, Geraldo Antônio G.
Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso
A microbacia do Barbado está localizada na porção centro-leste
da cidade de Cuiabá, capital do Estado de Mato Grosso, e tem como
principal curso d’água o Córrego do Barbado que percorre uma faixa
total de 9,26 km de extensão. Estritamente urbana, suas principais
nascentes encontram-se nas proximidades da área do Centro Político
Administrativo (CPA), onde se localiza a sede do governo do estado.
Compõem ainda a bacia do Rio Cuiabá, que é a fonte de abasteci-
mento de água da capital e de Várzea Grande, município vizinho, e
um dos importantes rios da rede hídrica do Pantanal.
A Unidade de Conservação foi criada em 6 de Julho de 1989, pela
Lei Municipal 2.681, sendo composta por terras de domínio públi-
co pertencentes ao Estado e ao Município, compreendendo cerca de
172 hectares, com a finalidade de proteção dessas nascentes. A Lei
Municipal n° 3.351, de 20 de julho de 1994, denominou a Reserva
Ecológica do Centro Político Administrativo como Reserva Ecoló-
gica Massairo Okamura, com 86,14 hectares de área, e à inseriu na
categoria de Manejo Sustentável (resolução do Conama). Em 21 de
setembro de 2001, foi transformada em Parque Estadual Massairo
Okamura pela Lei Estadual n° 7.506, e regulamentado pelo Decreto
n° 3.345, de 08 de novembro de 2001, com 53 hectares de área total.
Percebe-se, claramente, uma diminuição considerável das áreas.
O módulo de planejamento ambiental do curso de especialização
em Gestão Ambiental realizado pelo Cefet/MT propôs o estudo
para redução dos impactos ambientais das nascentes de cabeceira do
Córrego do Barbado.
Os alunos do curso são profissionais formados em diversas áreas
do conhecimento, como arquitetura, engenharia sanitária, engenha-
ria florestal, geografia, geologia, direito, biologia, entre outras. Dessa
forma conseguiram desenvolver um trabalho multidisciplinar, em que
cada equipe buscou informação dentro da sua área de conhecimento.
No dia 13 de agosto de 2005, foi realizado um seminário com
a finalidade de mostrar o inventário de informações coletadas e ela-
borar os diagnósticos dos meios físicos, biótico e socioeconômico,
no qual se chegou à conclusão da necessidade de ações corretivas e
preventivas para redução dos impactos.
Uma das ações preventivas propostas ressaltou a necessidade de
implementar a educação ambiental para as comunidades do entorno
do parque Massairo Okamura. Parte da área do parque foi contem-
plada com pistas para caminhadas e equipamentos comunitários por
meio de investimentos do poder público, o qual trouxe como con-
Fotos: Geraldo Almeida
Óleo em área de nascente
Loja mecânica construída
sobre principal nascente
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
64
seqüência a valorização das áreas adjacentes e o envolvimento das
comunidades próximas com as questões referentes à conservação am-
biental. Mas as áreas remanescentes da antiga reserva ecológica, e que
não foram contempladas com essa intervenção, hoje sofrem com as
pressões dessas comunidades, Por conta de invasões e construções ir-
regulares e pela especulação imobiliária, causada principalmente pela
implantação do Shopping Pantanal nas proximidades.
Os impactos ambientais negativos verificados foram a construção
de uma loja maçônica sobre aquela que é considerada a principal
nascente do córrego; a fundação de três torres de apartamentos (fase
de construção), cada uma com 26 andares, sendo que, uma das fun-
dações encontra-se junto a uma importante calha contribuinte do
córrego e dentro do que era considerada a antiga reserva ecológica;
a depredação pela comunidade do entorno, que derruba cercas, faz
queimadas, joga lixo, como eletrodomésticos de grande porte dani-
FIGURA 1 – ÁREA DAS NASCENTES DE CABECEIRA DO CÓRREGO
DO BARBADO
Derrubada de cerca para
jogar lixos e entulhos
Queimadas na área do
parque para "limpeza"
próxima dos terrenos
invadidos
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
65
ficados, entulhos de construções, pneus, sofás velhos, entre outros
objetos, que não são recolhidos pela empresa concessionária ou de
limpeza pública.
Chegou-se à conclusão de que é necessário promover a educação
ambiental contínua das comunidades do entorno dos parques e re-
servas urbanas, objetivando o seu envolvimento com as questões eco-
lógicas e o desenvolvimento sustentável. Além de mitigar os proble-
mas de depredação, a educação ambiental promove a conscientização
e a sensibilização para as questões ambientais, e, com isso, cria uma
poderosa forma de fiscalização, por meio da própria comunidade que
passa a ser atuante, cobrando medidas mais severas contra infratores
e, com isso, coibindo as pressões exercidas pela especulação imobili-
ária sobre o poder público.
Plantas Medicinais:
Saberes e Práticas do Cerrado
LOMÔNACO, Aparecida de Fátima S.
Escola Técnica de Saúde da Universidade Federal de Uberlândia /MG
A utilização de plantas como recursos terapêuticos pode ser com-
provada em várias civilizações desde tempos remotos. Com o advento
da indústria farmacêutica, a alopatia passou a exercer um papel fun-
damental no tratamento das doenças. Porém, os saberes e as práticas
relacionados à utilização de plantas medicinais têm sido repassados de
geração em geração, continuando a ser um patrimônio cultural da co-
munidade. Atualmente, além da medicina baseada nessa tradição, pes-
quisas científicas vêm sendo desenvolvidas nas áreas da química e da
farmacologia, confirmando a eficácia de muitas delas.
Este trabalho é um relato de experiência de um projeto de exten-
são desenvolvido na Escola Técnica de Saúde da Universidade Fede-
ral de Uberlândia há 10 anos, com o nome de “Aspectos culturais da
saúde em Uberlândia – trabalhando com plantas medicinais”, cujos
objetivos são conhecer as práticas e saberes da comunidade em rela-
ção ao uso de plantas medicinais; promover o resgate de informações
etnofarmacológicas; estimular o uso de plantas medicinais e propi-
ciar a educação permanente em relação aos cuidados na utilização de
plantas medicinais, tornando-se assim um instrumento que pode va-
lidar o conhecimento do aluno em relação à comunidade com a qual
irá trabalhar enquanto profissional da equipe de saúde.
O projeto é executado pelos alunos do curso Técnico em Enfer-
magem, incluído nas práticas pedagógicas dos conteúdos de saúde
coletiva, e consta de três etapas. Num primeiro momento, cada aluno
entrevista, aleatoriamente, uma pessoa da comunidade sobre o uso de
plantas medicinais e simpatias relacionadas à saúde. Numa segunda
etapa, há a sistematização dos dados em sala de aula com posterior
acareação com as referências bibliográficas sobre o assunto e discus-
Fotos: Fátima Soane
Lippia alba (falsa
melissa) – calmante
Nascente conservada
dento da área urbanizada
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
66
são acerca dos benefícios e malefícios que possam advir da prática
estudada. Num terceiro momento, os alunos participam de palestras
e eventos na comunidade, demonstrando os cuidados necessários no
consumo de plantas medicinais e a existência de possíveis efeitos cola-
terais. Anualmente, são atendidas em média 200 pessoas no projeto.
Com a experiência, verifica-se que o projeto tem oferecido ao alu-
no a oportunidade de conhecer a população com a qual irá trabalhar
durante as práticas de ensino e também na sua atuação enquanto
profissional de saúde. Em relação à comunidade, verifica-se que o
preparo e a utilização de plantas medicinais são realizados de for-
ma inadequada. Existe um desconhecimento sobre possíveis efeitos
colaterais e mesmo sobre os efeitos benéficos das plantas utilizadas
como medicamentos. Denota-se com isso a necessidade de aprimora-
mento desses conhecimentos por meio de ações de educação perma-
nente em saúde junto à comunidade e da implantação e implementa-
ção de políticas públicas que incentivem o uso de plantas medicinais
com finalidades terapêuticas.
Sala de Espera em Odontologia
STUTZ, Beatriz L.; DURIGHETTO, Inês, L.; GODOY, Maria Helena R.;
URQUIZA, Maria das Graças A.; PRADO, Marisa M. da S.
Escola Técnica de Saúde da Universidade Federal de Uberlândia /MG
A Escola Técnica de Saúde da Universidade Federal de Uberlân-
dia/MG, destinada à formação de profissionais técnicos de nível mé-
dio na área de saúde, tem como parte de suas atividades desenvolvi-
das com alunos do Curso Técnico em Higiene Dental a realização
de práticas supervisionadas na clínica do Hospital Odontológico da
Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia
(Foufo). Tais atividades, realizadas em um período de quatro horas
semanais, têm como clientela a população de baixa renda, residente
no município de Uberlândia, na faixa etária de 5 a 18 anos.
A prática pedagógica centraliza-se na formação do aluno via de-
senvolvimento de competências e habilidades que contribuam para
um exercício profissional que atenda ao perfil solicitado na atuali-
dade. Para Stutz (1999), a globalização e os avanços tecnológicos
exigem do homem um esforço cada vez maior no que se refere ao de-
senvolvimento de mecanismos de assimilação, incorporação e adap-
tação às crescentes mudanças. O autor tabém chama atenção para o
lugar de destaque ocupado pela qualificação e formação em serviço
no mercado de trabalho.
Nesse contexto, a Escola Técnica de Saúde tem procurado desen-
volver práticas educativas capazes de enfrentar o desafio de conduzir
um processo de formação em que, de acordo com Ramos (2002), os
conteúdos disciplinares deixem de ser um fim em si mesmo, cons-
tituindo-se em instrumentos para o desenvolvimento de competên-
Fátima Soane
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
67
cias. Assim, ao refletir sobre o processo de ensino-aprendizagem,
mudanças significativas foram efetivadas na prática educativa do
Curso Técnico em Higiene Dental quanto aos conteúdos abordados
na subfunção Psicologia Aplicada. Num esforço conjunto de docen-
tes, discentes e técnicos administrativos da escola, criou-se um pro-
jeto buscando aproximar ao máximo as capacidades intelectuais das
práticas dos alunos. Nesse sentido observou-se que a sala de espera
da referida clínica era um espaço rico para a formação, principal-
mente no que diz respeito ao relacionamento entre profissional e
comunidade, uma vez que, ao aguardar o atendimento, a clientela, em
sua maioria, fica ociosa. Tal característica torna propícia a criação de
um trabalho educativo voltado para a manutenção da saúde bucal e a
prevenção de novas ocorrências.
Dessa forma, a Estes/UFU, ao desenvolver o Projeto Sala de Es-
pera em Odontologia, desde o ano de 2002, tem objetivado propor-
cionar aos alunos uma ampla formação, que, além de habilidades téc-
nicas específicas da área, seja capaz de contribuir para sua formação
enquanto cidadão, bem como desenvolver habilidades para lidar com
os aspectos emocionais envolvidos no atendimento odontológico,
no atendimento ao público, nos cuidados e na prevenção em higie-
ne bucal. Semanalmente, são desenvolvidas pelos alunos atividades
lúdicas e educativas com pacientes e acompanhantes na sala de espe-
ra da clínica odontológica do hospital anteriormente referido, com
acompanhamento direto da professora responsável pelos conteúdos
referentes à Psicologia Aplicada, e suporte técnico na área de odon-
tologia pelos demais professores do curso. São utilizados recursos
materiais variados, tais como, massa de modelar, lápis de cor, pincéis,
jogos, recursos audiovisuais, livros infantis e fantoches.
Foto: Beatriz Stutz
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
68
A Integração de Pessoas
Portadoras de Necessidades Especiais
REIS, Nadson C. dos; SANTOS, Venina dos
Centro Federal de Educação Tecnológica de Roraima
Referências
LEITÃO, A.C. Buscando caminhos nos processos de formação/autoformação.Revista Brasileira de Educação, n. 27, set/out/
nov/dez/, 2004.
MARKERT, W. Trabalho e comunicação: reflexões sobre um conceito dialético de competência. Educação & Sociedade, ano
XXIII, nº 79, agosto/2002.
RAMOS, M. N. A educação profissional pela pedagogia das competências e a superfície dos documentos oficiais. Educação
& Sociedade, Campinas, vol. 23, n. 80, set./2002.
STUTZ, B. L. Técnico de Enfermagem: o perfil traçado por profissionais da área. Revista Brasileira de Enfermagem, Bra-
sília, v.52, nº4, out./dez., 1999.
Ao realizar esse trabalho, busca-se uma real aproximação entre os
múltiplos saberes e as práticas pedagógicas, cujo ofício de educar,
segundo Leitão (2004), é entendido como prática social em sua re-
lação com a sociedade e os diferentes tempos/espaços da educação.
As experiências vivenciadas pelos alunos durante a elaboração e
execução das atividades acima citadas têm contribuído não apenas
para o desenvolvimento de sua capacidade de comunicação, mas so-
bretudo, para a transferência de conhecimentos em situações novas;
fator apontado por Markert (2002) como um dos objetivos para as
competências do futuro diante das mudanças no mundo do trabalho.
Foto: Divulgação Cefet RR
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
69
Com o início do curso de Licenciatura em Educação Física no Ce-
fet/RR, no ano de 2004, os professores Luciana Leandro e Nadson
Castro dos Reis, especialistas em Educação Especial e apaixonados
pela causa, propuseram um projeto em que se pudesse levar para a
instituição pessoas portadoras de necessidades especiais. A idéia era
proporcionar atividades físicas e treinamentos esportivos e, assim,
dar início a um projeto maior de inclusão social, o qual já era um
velho sonho da instituição.
O trabalho com atividades físicas esportivas adaptadas teve início
em agosto de 2004, com a modalidade de natação, e a incorporação
dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física como monitores.
No primeiro momento, matricularam-se cinco alunos com deficiên-
cia física, no final do ano, o projeto já contava com quinze alunos:
seis deficientes físicos, dois mentais e dois auditivos.
No início de 2005 implementou-se o projeto com a inclusão da
modalidade de tênis de mesa. Hoje o projeto conta com trinta parti-
cipantes, inscritos nas duas modalidades: dois com deficiência men-
tal, vinte com deficiência física, dois com deficiência auditiva, quatro
portadores de Síndrome de Down e dois autistas.
Todas as atividades desenvolvidas têm por objetivo oportunizar
à clientela do projeto a prática desportiva, visando a valorização
das potencialidades dos participantes e a iniciação ao treinamen-
to, com fins de participação em campeonatos e competições de
natação e tênis de mesa. O aluno matriculado tem duas opções:
praticar a modalidade como iniciação ou participar de treinamento
com vistas a competições.
Os participantes inscrevem-se na Gerência de Educação Supe-
rior por meio de preenchimento de ficha, assinatura de termo de
compromisso e apresentação de laudos médicos. Os alunos atletas
que treinam no projeto nas duas modalidades fizeram parte do
grupo de atletas da Associação de Esportes Adaptados de Rorai-
ma, que participaram dos Jogos Regionais da Região Norte em
Manaus (AM) no mês de março de 2005, conquistando um total
de onze medalhas.
O grupo de professores e acadêmicos monitores participam, uma
vez por semana de reuniões para estudos na área de Educação Física
Adaptada. Nessa ocasião buscam estudar e planejar atividades em
que o fim último seja a inserção dos participantes no grupo social do
qual fazem parte, com intuito de melhorar cada vez mais a qualidade
de vida; e, principalmente, atividades de sensibilização e inserção dos
mesmos na rotina do Cefet/RR e na relação deles com os demais
alunos e servidores.
Com a criação do Núcleo de Apoio à Pessoas Portadoras de Ne-
cessidades Educativas Especiais (Napne/TEC NEP) no Cefet/RR, o
projeto ganhou força e, a partir do ano que vem, pretende implantar
as modalidades de bocha adaptada, atletismo e polybaty. Dessa forma,
daremos mais oportunidades para um maior número de pessoas parti-
ciparem e, conseqüentemente, cumprir assim com uma pequena parte
da grande missão que temos na escola com a inclusão social.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
70
CONTATOS
Contatos
CE
PROJETOS SOCIAIS: UM PRINCÍPIO EDUCATIVO
NOS CURRÍCULOS DOS CURSOS SUPERIORES
Tereza Cristina Valverde A. Alves
Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará
Av. 13 de Maio, 2081- Benfica
Fortaleza/-CE CEP: 60040-531
Telefone: 85 288-3666/288-3676/288-3675
Fax: 85 288-3711
E-mail: [email protected] Home Page: www.cefetce.br
PROPOSTA CURRICULAR DE PRIMEIROS SOCOR-
ROS PARA CURSO TÉCNICO EM AGROPECUÁRIA
Francisco Salviano Sales Nobre
Escola Agrotécnica Federal de Crato/CE
Rodovia CE 096, Km 05, Sitio Almécegas- Zona Rural
Crato/CE CEP: 63100-000
Telefone: 88 523-2098
Fax: 88 523-2344
E-mail: [email protected] Home Page: www.eafcrato.com.br
MA
NOTAS SOBRE A CAPOEIRA EM SÃO LUIS
Leopoldo Gil Dulcio Vaz
Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão
Av. Getúlio Vargas, 4- Monte Castelo
São Luís/MA CEP: 65025-001
Telefone: 98 218-9002
Fax: 98 218-9001
E-mail: [email protected] Home Page: www.cefet-ma.br
MG
PLANTAS MEDICINAIS: SABERES E PRÁTICAS DO
CERRADO
Aparecida de Fátima Soane Lomônaco
SALA DE ESPERA EM ODONTOLOGIA
Beatriz Lemos Stutz;
Inês Laluci Durighetto
Maria Helena Ribeiro Godoy
Maria das Graças Alencar Urquiza
Marisa Martins da Silva Prado
TRIATOMÍNEOS VETORES DA
DOENÇA DE CHAGAS NO ASSENTAMENTO
DE REFORMA AGRÁRIA EZEQUIAS DOS REIS
Jureth Couto Lemos
Baltazar Casagrande
Jaqueline Aida Ferrete
Jakson Arlam Ferrete
Kênia Rezende
Maria Inês Machado
Escola Técnica de Saúde
Av. Amazonas, s/nº, Bloco 4K- Campus Umuarama
Uberlândia/MG CEP: 38400-902
Telefone: 34 3218-2318
Fax: 34 3218-2410
E-mail: [email protected] Home Page: www.ufu.br/estes
MT
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA COMUNIDADES DO
ENTORNO DE PARQUES E RESERVAS URBANAS
Geraldo Antônio G. Almeida
Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso
Rua Professora Zulmira Canavarros, 95- Centro
Cuiabá/MT CEP: 78005-390
Telefone: 65 314-3500
Fax: 65 322-6539
Home Page: www.cefetmt.br
PE
PROJETO INTERDISCIPLINAR
DE POLÍTICA SANITÁRIA AMBIENTAL
Edilene Rocha Guimarães
Marcos Valença
Maria Elizabete de Figueredo
Centro Federal de Educação Tecnológica de Pernambuco
Av. Prof. Luiz Freire, 500- Curado
Recife/PE CEP: 50740-540
Telefone: 81 2125-1607 21251610
Fax: 81 2125-1674
E-mail: [email protected] Home Page: www.cefetpe.br
PR
A PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE
NA CONSTRUÇÃO DE UM PROJETO
POLÍTICO-PEDAGÓGICO
Laíze Márcia Porto Alegre
lpalegre@cefetpr.br
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Campus Curitiba
Av. Sete de Setembro, 3165- Rebouças
Curitiba /PR CEP: 80230-901
Telefone: 41310-4545
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
71
Fax: 41 310-4432
E-mail: gadir@cefetpr.br Home Page: www.cefetpr.br
DIAGNÓSTICO E PREVENÇÃO DO DIABETES COM
OS RECURSOS TECNOLÓGICOS DA INFORMÁTICA
Paulo Cesar Paulino
Bruno Colanzi de Medeiros
Fábio Barreto Suzuki
Icaro Amaoka Fernandes
Igor Vilas Boas Tromel
Karin Borges Senra
Mayara Zago Tiwata
Stephanie de Paula Dias Oliveira
Silas Parmezan
Fellipe Roberto de Almeida
Universidade Federal Tecnológica do Paraná
Campus Cornélio Procópio
Av. Alberto Carazzai, 1640- Centro
Cornélio Procópio/PR CEP: 86300-000
Telefone: 43 524-1545
Fax: 43 524-4040
E-mail: [email protected].br Home Page: www.cp.cefetpr.br
RR
A INTEGRAÇÃO DE PESSOAS
PORTADORAS DE NECESSIDADES ESPECIAIS
Nadson C. dos REIS
Venina dos SANTOS
RS
A GESTÃO DO LIXO NO ESPAÇO RURAL
Giancarla Salamoni
Ana Paula de Araújo Cunha
Ricardo Pereira Costa
Adão José Vital da Costa
Centro Federal de Educação Tecnológica de Pelotas
Praça XX de Setembro, 455- Centro
Pelotas/RS CEP: 96015-360
Telefone:53 284-5005
Fax: 53 284-5006
Home Page: www.cefetrs.tche.br
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 8 JAN. 2006
72
FOCO
Foco
André Vilaron
Detalhe de pintura
mural, Cefet/MT
Foto: Cinara Barbosa
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo