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"Ordem do Dia
De conformidade com o ordenado pelo Ex.
mo
Sr. Dr. Presidente deste Tiro-
de-Guerra e depois de ouvir seis testemunhas oculares e auditivas acerca do
deplorável fato ontem acontecido nesta sede do qual resultou levar uma lapada na
face direita o inscrito Guilherme Schwertz, n.
0
81, comunico que fica o citado inscrito
Guilherme Schwertz, n.
0
81, desligado das fileiras do Exército, digo, deste Tiro-de-
Guerra visto ter-se mostrado indigno de ostentar a farda gloriosa de soldado
nacional Delas injúrias infamérrimas que ousou levantar contra a honra imaculada da
mulher brasileira e principalmente da Mãe, acrescendo que cometeu semelhante ato
delituoso contra a honra nacional no momento sagrado em que se cantava nesta
sede o nosso imortal hino nacional. Comunico também que por necessidade de
disciplina, que é o alicerce em que se firma toda corporação militar, o inscrito
Aristodemo Guggiani, n.
0
117, único responsável pela lapada acima referida
acompanhada de equimoses graves, fica suspenso por um dia a partir desta data.
Dura lex sed lex. Aproveito porém no entretanto a feliz oportunidade para apontar
como exemplo o supracitado inscrito Aristodemo Guggiani, n.
0
117, que deve ser
seguido sob o ponto de vista do patriotismo, embora com menos violência apesar da
limpeza, digo, da limpidez das intenções.
Aproveito ainda a oportunidade para declarar que fica expressamente
proibido no pátio desta sede o jogo de futebol. Aqui só devemos cuidar da defesa da
Pátria!
São Paulo, 23 de agosto de 1926.
(a) Sargento-Inspetor Aristóteles Camarão de Medeiros."
Aristodemo Guggiani logo depois apresentou sua demissão do cargo de
cobrador da Companhia Autoviação Gabrielle d'Anunuzio. Sob aplausos e a
conselho do Sargento Aristóteles Camarão de Medeiros. Trabalha agora na
Sociedade de Transportes Rui Barbosa, Ltda.
Na mesma linha: Praça do Patriarca — Lapa.
AMOR E SANGUE
Sua impressão: a rua é que andava, não ele. Passou entre o verdureiro de
grandes bigodes e a mulher de cabelo despenteado.
— Vá roubar no inferno, Seu Corrado!
Vá sofrer no inferno, Seu Nicolino! Foi o que ele ouviu de si mesmo.
— Pronto! Fica por quatrocentão.
— Mas é tomate podre, Seu Conrado!
Ia indo na manhã. A professora pública estranhou aquele ar tão triste. As
bananas na porta da QUITANDA TRIPOLI ITALIANA eram de ouro por causa do sol.
O Ford derrapou, maxixou, continuou bamboleando. E as chaminés das fábricas
apitavam na Rua Brigadeiro Machado.
Não adiantava nada que o céu estivesse azul porque a alma de Nicolino
estava negra.
— Ei, Nicolino! NICOLINO!
— Que é?