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1 [...] NO MEU BAIRRO TEM BOI-DE-MAMÃO [...]
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A BRINCADEIRA
DO BOI-DE-MAMÃO NO BAIRRO ITACORUBI
[...] Ó dono da casa dá sua licença pro meu
boi dançar na sua presença [...]
O folguedo boi-de-mamão, ou boi de pano, assim chamado em algumas comunidades
da Ilha de Santa Catarina é uma pantomima
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representada e vivida por personagens reais e
simbólicos. A brincadeira do boi-de-mamão é cultura popular de tradição oral, sendo
manifestada nas organizações festivas e culturais, “[...] e o espírito criativo do nosso povo se
revela [...] na riqueza das versificações alusivas a cada figura que dança. Essa é a cultura
latente em cada um, cuja herança é fruto de caldeamento étnico da formação do nosso
povo”.
30
Sem creditar de onde ou como surgiu
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, quando a manifestação da brincadeira do boi-
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Entrevista de uma profissional, dona Maricota.
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Segundo o Dicionário Houaiss, pantomima era o nome dado, na Roma Antiga, à representação com um
dançarino solista e um coro narrativo. Segundo o Dicionário Aurélio, é a peça que os atores se manifestam só por
gestos, expressões corporais ou fisionômicas, prescindida da palavra e da música: mímica.
30
SOARES, 2002, p. 20.
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O folguedo do boi-de-mamão, no folclore catarinense, é uma das brincadeiras de maior atração popular. Existe
no folclore brasileiro com os nomes mais diversos: bumba-meu-boi, boi-bumbá, boi-pintadinho, boi-de-reis,
boizinho, boi da cara preta, boi-calemba etc.; entre nós é chamado de boi-de-pano e boi-de-mamão. Antigamente
o folguedo do boi era conhecido como bumba-meu-boi, depois boi-de-pano, mas, com a pressa de se fazer uma
cabeça, foi usado um mamão verde, e quando foi apresentado recebeu o nome de boi-de-mamão. Nome este
mantido até a época atual, onde se vêem bois com cabeças de todos os tipos, até mesmo de boi. Há quem
contrarie essa versão dizendo vir o nome “boi-de-mamão” do boi que mama (SOARES apud GONÇALVES,
2006, p. 46).
Para o museólogo Gelci Coelho dos Santos, o Peninha, estudioso da cultura açoriana na Ilha: "Sabes [...] então
eu tenho uma hipótese como apareceu, [...] que nos meses de dezembro e janeiro, no Norte do Brasil era muito
quente, da festa natalina, e os senhores relaxavam as senzalas, só que as senzalas congregavam africanos de
várias etnias, eles entre si não se entendiam nem na língua, nem nas culturas, mas uma coisa é universal, o culto
ao touro, como símbolo de fertilidade, de vigor, é arcaico essa coisa do touro, nós vamos buscar isso em
arquecivilização, essa relação homem/animal, ele é transformado num deus animal, é cultuado, [...] então é um
culto universal de deificação de um animal, porque ele é suporte, garantia de força de Trabalho, de alimento,
tudo, do boi não se perde nada, tudo é aproveitado em beneficio do homem, enfim então é um animal realmente
sagrado [...] eles aproveitam para fazer folga, acredito eles faziam uma armação e ficavam brincando ali, faziam
as batucadas, essas batucadas atraíam os índios pra ver, e os jesuítas devem ter percebido e transformado aquilo
num auto para catequizar, e a coisa mais importante para a catequização é tentar falar da morte e ressurreição,
que é a grande questão cristã. Então aí eles aproveitam isso e fazem o boi morrer, mas ressuscitar, pra tentar
explicar o processo de ressurreição. Não sabemos, isso não foi registrado, o fato é que se brincava lá e se
espalha, perde o domínio dos jesuítas, cai no gosto popular e se dilui no Norte inteiro; bumba-meu-boi, boi-
bumbá, boi-estrela, boi-pintadinho, boi-calenga e vai e agora como vai aparecer aqui ainda com esse nome
diferente [...].
Então tem folguedo do boi no Brasil inteiro com nomes diferentes, então eu acredito, porque tinha a guerra do
Paraguai muito próxima. O Norte era convocado para a guerra, eu era convocado, mas eu mandava o meu
representante, o meu escravo no meu lugar, com a promessa que dava a alforria quando terminasse a guerra,