
SEMINÁRIO SOBRE A CRISE FINANCEIRA
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Passado o pânico da década de 70, em que muita gente achou, com razão,
naquela altura, que a hegemonia estava em xeque, por várias razões
(econômicas, políticas, financeiras e até culturais) se verificou uma reafirmação
da hegemonia americana nos anos 80, e, particularmente, nos 90, sem
precedentes. Ou seja, passaram a exercer a hegemonia de uma maneira dura,
endividados até às orelhas, se endividando mais em 90 do que nunca, e, no
entanto, a sua moeda era a moeda reserva internacional. Esse sistema, na
verdade, durou mais do que Bretton Woods. O pessoal dizia que já era um
sistema novo, uma espécie de segundo Bretton Woods. Como deu no que
deu, todo mundo agora quer o terceiro Bretton Woods. Só que eu não vejo
donde, porque o pessoal esquece que, tanto o primeiro quanto o segundo
Bretton Woods se fizeram sob a hegemonia americana. Os Estados Unidos
coordenaram formalmente, no caso do primeiro Bretton Woods, e
informalmente, no caso do segundo Bretton Woods, a partir de 1985. Entre
1985 e 1989, eles tiveram um período de coordenação formal, com os
Acordos de Louvre e Plaza, e em 1989, arrogantemente, tomaram a decisão
de fazer o contrário do que tinham feito em 1979. Em 1979, eles mandaram
para o espaço os países periféricos que estavam endividados. Com o choque
da taxa de juros todos nós quebramos, sem exceção. Dizer que não fomos à
falência nem à moratória é um modo de falar, porque todos nós fomos à
moratória tácita. É claro que o Delfim Neto não proclamou a moratória, mas
bem que ele gostaria. Só o México o fez. Mas isso não quer dizer nada,
porque nós estávamos quebrados, e todo mundo entrou em inadimplência e
em cessação de pagamentos. Nessa altura, a taxa de juros americana era 20,
ou até mais de 20. Em 1989, eles simplesmente levaram a taxa de juros a 4,
e sem a concordância do G-7, sem a concordância dos países ricos. Ou
seja, é uma política já francamente imperialista. Obviamente, isso decorria de
que não tinha mais mundo bipolar. Tudo isso ocorreu porque, objetivamente,
a União Soviética estourou, a China estava começando a entrar nas regras
do jogo do liberalismo econômico, devagarzinho, sem enfrentamento, porque
tinha mudado a ideologia do Mao Tse-Tung para o segundo Governo.
Obviamente, não havia nenhum candidato a se opor aos Estados Unidos em
nada, nem na economia, nem na ideologia, nem na política, e, muito menos,
militarmente. Essa não foi uma hegemonia benigna. Benigna foi a primeira.
No caso da primeira, até se pode dizer que foi uma hegemonia benigna,
porque havia convergência das taxas de crescimento, o mundo
subdesenvolvido começou a fazer o seu desenvolvimento, a convite, no caso