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ANTONIO GRAMSCI
duplo objetivo: instruir e desenvolver as “faculdades naturais da
criança”
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. Por essa razão, não é possível deixar de considerar Educação
como livro em que são expostas, explicadas e de algum modo legiti-
madas (dadas sua autoria e a coleção editorial de que é parte) concep-
ções psicológicas e pedagógicas que escolanovistas como Anísio
Teixeira e Lourenço Filho avaliavam, naqueles primeiros anos da
década de 1930, fundamental combater.
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Desse modo, malgrado os estreitos e evidentes vínculos, profissionais
e pessoais, que Dória manteve com o núcleo do grupo que a
historiografia educacional convencionou chamar de Pioneiros da
Educação Nova; malgrado também as muitas afinidades ideológicas
que o vincularam a alguns dos principais integrantes desse grupo,
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Embora pertinente, não é possível, nos limites deste texto, analisar o livro Psychologia,
também de autoria de Sampaio Dória. Quando Educação é publicado, em 1933, Psychologia
já alcançara a sua quarta edição. Publicado como sétimo volume da mesma série –
Livros didáticos – e da mesma coleção Biblioteca Pedagógica Brasileira – que edita
Educação. Talvez avesso às polêmicas teóricas que se instalavam no campo da pedago-
gia, o autor adverte, no prefácio: “Esse livro é o sumário das lições de psicologia que, no
decurso de quase dez anos, professamos na Escola Normal de São Paulo. Não compu-
semos um tratado erudito sobre esta matéria. O que projetamos, foi apenas um compên-
dio de iniciação em psicologia. Na execução deste projeto, evitamos o processo de
apurar a verdade no debate das teorias. No ensino aos que começam, deve-se investigar
a verdade na observação dos fatos. O método intuitivo analítico é definitivo em didática.
Não vai nisto repulsa ao que os outros pensam sobre o assunto que se estuda. Mas,
como processo didático, preferimos, à exposição de doutrinas que se chocam, determi-
nar e orientar a observação pessoal dos estudantes. As opiniões alheias servirão para
ilustrar o assunto, para desbravar o terreno que se observa, para estabelecer a presun-
ção da verdade. Mas nunca para a descobrir e a fixar. Só vencida a fase de iniciação,
vem a propósito o estudo aprofundado e largo dos debates e teorias que sobrevivem aos
séculos”. (Dória, pp. 5-6, 1932)
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Para citar apenas o exemplo de Anísio Teixeira, registre-se aqui o empenho deste,
apenas retornado da viagem que fez, em 1927, aos Estados Unidos, na qualidade de
diretor da Instrução Pública do Estado da Bahia, de dar publicidade às suas observações
de viagem, fazendo-as editar em livro que manda distribuir pelas escolas baianas, no
intuito de “despertar um interesse concreto pela revisão de nossas próprias concepções”
educacionais. Com esse objetivo, publica Aspectos americanos de educação. No livro,
criticando a teoria das faculdades mentais recorre a Dewey, afirmando que o “processo
educativo é um contínuo processo de crescimento e desenvolvimento tendo como fim
uma maior capacidade de desenvolvimento e crescimento”. Tal concepção deveria, no
seu entendimento, ser contraposta a diversas noções vigentes: à “noção meramente
privativa de imaturidade, à noção de educação como o ajustamento estático a um
ambiente fixo ou à noção de hábito rígido e imutável…” Todas essas noções se filiariam
ao “falso conceito de desenvolvimento e crescimento”, como movimento para um alvo ou
finalidade fixa. Cf TEIXEIRA (1928)
SAMPAIO DORIA EDITADO.pmd 21/10/2010, 08:3986