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fância ou na escola elementar. Ele criticava o fato de inexistir uma
escola normal a cargo do Estado no Brasil. A escola normal pri-
mária existente não possuía caráter técnico, realidade profissional
ou ação pedagógica. O professor deveria dominar, com clareza, o
método de ensino
10
. Entendia que, para o sucesso da nova pro-
posta, era importante a participação do professor.
“Muito importa o método de ensino, diz um conhecido pedagogo inglês,
mas de muito mais importância é a qualidade do mestre”. Por mais racional,
com efeito, que seja um método, por mais eficazes que sejam as suas
propriedades educadoras, não podem constituir nem um complexo
de fórmulas algébricas, que se resolvam em soluções precisas e infa-
líveis para cada dificuldade, nem um aparelho, que obedeça fatalmen-
te a certas combinações mecânicas de força e movimento. O método,
em pedagogia, não é senão o sistema, indicado pela natureza, de
cultivar a vida física, moral, intelectual, no período inicial e decisivo
do seu desenvolvimento humano; e a vida pode ser encaminhada
senão pela vida. Neste sentido, pois, não é menor o preço do mestre
que o do método, porque, sem o mestre o método seria uma con-
cepção ideal; porque o método é inseparável do mestre; porque o
mestre é o método animado, o método em ação, o método vivo.
(Barbosa, v. X, tomo III, 1947a, p. 119).
Frente à sua importância, condenava as escolas normais noturnas
por não permitir ao futuro professor a prática do que estava apren-
dendo; fixou, também, um detalhado programa para elas, recorren-
do a um minucioso exame dos programas adotados em vários paí-
10
Sobre esta questão, Rui Barbosa escreveu: “O mestre, o verdadeiro mestre, é como uma
encarnação pessoal do método: dependem mutuamente um do outro; e seria mais ou menos
igual, de parte a parte, a reciprocidade, se aos requisitos intelectuais que o método impõe,
e dirige, não acrescessem, no tipo do educador, as qualidades morais, que não entram no
sistema do método, mas a que os frutos deste, em grande parte, estão subordinados. Por
isto escreveu um célebre metodizador e organizador em matéria de ensino que ‘de resultados
melhores é capaz, com um mau método, a índole afetuosa, dedicada e simpática do
professor, do que o melhor dos métodos, se o professor é mau’. É não só a assimilação
completa do gênio, permite-nos a expressão, do gênio do método, como a formação desses
dotes morais e do senso educativo, sexto sentido, por assim dizer peculiar à vocação do
professorado, – é isso o que torna a preparação do educador primário tão difícil, quanto
fundamental, numa reforma sincera” (BARBOSA, v. X, tomo III, 1947a, pp. 120-121).
RuiBarbosa_fev2010.pmd 21/10/2010, 08:3732