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A Quimbanda aparece como magia negra – e, desta vez, mais vinculada às
influências africanas – também no “Dicionário de Cultos Afro-brasileiros” de Olga
Cacciatore, que traz uma extensa definição:
Quimbanda – Linha ritual da Umbanda que pratica a magia negra. Essa linha é assim
chamada pelos umbandistas de “linha branca”, pois os praticantes se dizem apenas
umbandistas. A Quimbanda, influenciada mais diretamente pelos negros bantos –
cabindas, benguelas, congos, angolas, moçambiques etc. – chegados dos portos
africanos ao Rio de Janeiro, não fugiu ao sincretismo. (...) Mediante encomenda
realizam feitiços ou contra-feitiços, visando favorecer ou prejudicar determinadas
pessoas. (...) As giras de Exu são freqüentes, realizadas comumente a partir da meia-
noite de 6ª feira. Exus e Pombagiras diversos “baixam”, dançam, fumam charutos ou
cigarrilhas, bebem aguardente (marafo), dizem gentilezas ou palavrões aos assistentes e
dão consultas sobre saúde ou problemas pessoais. (...) A Quimbanda cultua muito
Omolu, orixá ligado à terra e à morte, considerando-o “Rei do Cemitério”. No cemitério
é feita uma parte da iniciação de muitos quimbandeiros, devendo o iniciando deitar
algumas horas sobre um túmulo, entre velas e cânticos do Pai ou Mãe-de-santo e
iniciados do terreiro, tendo de cumprir, antes e depois, diversas obrigações. (...) São
muito usados os “trabalhos” com pólvora, pós e ervas mágicos, dentes e unhas, cabelos
(animais e humanos), galos e galinhas pretos (que são, às vezes, estraçalhados entre os
dentes do iniciado incorporado com um exu (...). Os despachos são colocados em
encruzilhadas em cruz (macho) ou em T (fêmea), com velas, flores e fitas vermelhas,
pipocas, milho etc. e animais de duas ou quatro patas, de penas ou pelos pretos ou
vermelhos, em alguidares de barro, não sendo, porém, negativos todo os despachos de
rua. (...) Os terreiros quase sempre são pobres, localizados em morros ou locais
afastados
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.
Por sua vez, o pesquisador Nei Lopes, em seu “Novo Dicionário Banto do
Brasil”, traz a seguinte definição de Quimbanda:
QUIMBANDA – (1) Linha ritual da umbanda que trabalha principalmente com exus.
(2) Sacerdote de cultos de origem banta – Do quimbundo kimbanda, sacerdote e médico
ritual correspondente ao quicongo nganga. (...) Estranhamente, no Brasil, a quimbanda
(primeira acepção) é tida como linha de práticas também maléficas. Terá a palavra nesta
acepção alguma relacao com o quicongo kimbanda, víbora?
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Exus, magia negra e quimbanda são temas bastante controversos. Normalmente,
as manifestações de exus e pombas-giras e práticas como o sacrifício de animais
contribuem para uma visão pejorativa a respeito da Umbanda e de outras religiões afro-
brasileiras. Por isso, tais assuntos são tratados com muito cuidado – muitas vezes, são
até mesmo evitados – e geram intensas polêmicas entre os próprios umbandistas.
Provavelmente por este motivo, somente em sua 5ª edição, publicada em 2004, a
Revista Espiritual de Umbanda abriu espaço de forma mais direta para o assunto. Algo
bastante compreensível, uma vez que seus editores, ao defenderem uma concepção de
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CACCIATORE, Olga Gudolle. Op. cit. pp. 218-219.
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LOPES, Nei. Op. cit. p. 187. Citados nesta referência, Quimbundo e Quicongo são duas línguas
bantos, de acordo com o mesmo Dicionário de autoria de Nei Lopes.