
Dip l om a ci a , Es t r a t é g i a & po l ít i ca – Ju l h o /sE t E m b r o 2007
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Isso não signica, porém, que não estejamos desenvolvendo ou que não
pretendamos desenvolver, neles e com eles, uma forte presença brasileira.
Em certo sentido, poder-se-ia dizer que, no seu discurso básico, o
governo Lula retomou, aparentemente com ainda maior ênfase, parte da
visão regional do de Fernando Henrique Cardoso, a cuja iniciativa se deve a
realização da primeira reunião de cúpula dos países da América do Sul. Na
época, em artigo publicado na Carta Internacional
1
, seu Ministro das Relações
Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, deixou claro ter havido uma decisão de não
incluir países “vinculados de forma mais próxima e direta à América do Norte,
em particular aos Estados Unidos”, numa reunião cujo objeto deveria ser um
“projeto pragmático de organização do espaço sul-americano”. Apesar de
quaisquer diferenças de meios e de estilos, há, pois, uma certa continuidade
no sentido do estabelecimento, no continente, de um novo regionalismo, o
sul-americanismo, distinto tanto da noção monroísta de pan-americanismo
quanto do latino-americanismo tradicional, de remota inspiração bolivariana.
Esse novo regionalismo deniria melhor os tipos de atuação adequados a
cada região, mas não excluiria – antes procuraria reforçar – os laços com
outros países da América.
A orientação atual trataria assim de, sem choques ou atritos com a
“hiperpotência” setentrional, contornar o pan-americanismo absorvente, que
tenderia, pela dinâmica das forças em presença, a levar, de maneira mais ou
menos formal, todos os países do continente para a órbita de Washington.
Por outro lado, haveria a intenção de, no dizer de nosso atual Ministro das
Relações Exteriores, Celso Amorim, desenvolver com os Estados Unidos
uma relação madura, de caráter mais estratégico, na qual nosso país seria
visto como “parceiro indispensável para a estabilidade da América do Sul e
mesmo da África”. Tratar-se-ia, pois, de assegurar nossa posição geopolítica
na América do Sul, ao mesmo tempo em que se procuraria dar um salto
qualitativo nas relações com os Estados Unidos e se evitaria uma situação
de manejo mais delicado, ao deixar uma espécie de indenição construtiva à
forma de relacionamento concreto com aquela área já de facto particularmente
vinculada aos Estados Unidos. Com alguma simplicação, poder-se-ia
dizer que nossa visão geopolítica do continente se escalona em círculos
1 “Cúpula da América do Sul”, Carta Internacional, no. 87, ano VIII, maio de 2000.