
Idéias, ideologias e política exterior na Argentina
DIPLOMACIA, ESTRATÉGIA E POLÍTICA – JANEIRO/MARÇO 2007
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indígenas da selva amazônica –, cada uma delas com crenças, costumes e tradições
diferentes, que precisam ser compreendidos, respeitados e, assim, valorizados.
Foi essa necessária consciência que levou a Odebrecht a adotar procedimentos
especiais ao desenvolver a construção de dois grandes acampamentos para as
obras da Interoceânica em Ccatca e Ocongate, na chamada região de Serra Alta.
Ali vivem comunidades que cultivam hábitos, tradições e rituais anteriores
à chegada dos colonizadores espanhóis. Falam o quíchua, a língua geral do antigo
império inca, e acreditam, como seus ancestrais, que não é a terra que pertence
ao morador, e, sim, o contrário – por isso, julgam necessário fazer-lhe oferendas
para retribuir o que ela lhes concede. Montanhas, por exemplo, são sagradas, e
escavá-las para tirar pedras que se destinem à obra pode ser interpretado como
a invasão de uma catedral, por exemplo.
Em qualquer lugar, a abertura de uma estrada fatalmente altera aspectos
físicos do ambiente por onde ela passará – e, no caso das populações andinas,
haveria a possibilidade de que isso fosse interpretado pelos moradores da área
como uma espécie de profanação. Assim, não se trata apenas de chegar com
máquinas e pessoal, uma vez que o número de trabalhadores, no pico da obra,
alcançará a marca de 1.500 homens. Antes de montar os acampamentos, a
construtora participou, em Ccatca e Ocongate, de duas cerimônias de oferenda,
ou seja, de pago a la Pachamama, a “mãe-terra” – ritual milenar dos antepassados
das comunidades diretamente relacionadas ao empreendimento –, procurando
a assimilação e a integração com as culturas locais.
Não é menor a prioridade de outra frente de trabalho da Odebrecht no
Peru: a construção do eixo de transporte multimodal – fluvial e rodoviário –,
conhecido como Corredor Viário IIRSA Norte, que, a exemplo da rodovia
Interoceânica Sul, proporcionará ao Brasil uma saída para o Pacífico. Ele vai
ligar Manaus ao porto peruano de Paita, o que permitirá, entre outras vantagens,
escoar a produção da Zona Franca da capital amazonense em condições de
tempo e custo muito mais favoráveis do que as atuais.
Hoje, para chegar a um porto do Pacífico, um contêiner de 20 pés
embarcado em Manaus tem de subir até o Atlântico e atravessar o canal do
Panamá, numa viagem que não dura menos de 42 dias (incluídos dois, em média,
de espera no canal) e custa, em média, US$ 7.140. Quando o eixo multimodal
estiver pronto, esse mesmo contêiner poderá ir, por transporte fluvial, de Manaus
a Iquitos, no Peru, e de lá a Yurimaguas, de onde prosseguirá, por rodovia, até o