
“Há um outro mundo, e está neste”
210 DIPLOMACIA, ESTRATÉGIA E POLÍTICA – ABRIL/JUNHO 2006
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sem precipitações, sem cair em provocações. Este é um caso concreto. Poderíamos
citar muitos mais, através da história do país e do mundo.
Se os que se auto-intitulam oposição são incapazes de fazê-la, perdem a
legitimidade. São tudo, menos oposição, que é o que sucede atualmente no país.
O governo e os partidos que apóiam o processo revolucionário reúnem-se,
realizam mesas de trabalho, dialogam, discutem em Miraflores, na vice-
presidência da República, nos ministérios, nos centros onde se realizam reuniões
de caráter civil, com partidos, organizações sindicais, operários, profissionais;
com diversos setores da sociedade; com empresários, com os da Fedecâmaras
(com alguém que, por exemplo, violou a Lei de Terras) e com os “pesos pesados”
da economia, com os produtores rurais, criadores de gado, proprietários de
fazendas, trabalhadores, estudantes, reitores de universidades, profissionais
acadêmicos; com a hierarquia católica, as igrejas evangélicas, os representantes
da comunidade judaica e todas as colônias que vivem em nosso país. Entretanto,
não é possível reunir-se com os chamados partidos e dirigentes da oposição,
que, por sua vez, não hesitam em encontrar-se com os membros da embaixada
norte-americana e com todos os adversários de Chávez que nos visitam. Em
conseqüência, trata-se de uma oposição que não faz política, que não dialoga,
que, portanto, não é percebida, a não ser nos meios de comunicação. Hoje, por
exemplo, não estão presentes neste hemiciclo porque renunciaram, por vontade
própria, a participar e a representar um setor da população, mas tampouco
estiveram presentes antes, quando eram deputados eleitos de pleno direito,
deixando de cumprir com o dever ético de pelo menos assistir às sessões da
Câmara. Sua ausência, portanto, não se nota. Não podemos notá-la.
Conseqüentemente, vou dizer algo que talvez por prudência não devesse
expressar, mas, às vezes, convém ser levemente imprudente. Atitudes
irresponsáveis como as que sustenta a oposição político-partidária acabam
gerando repulsa entre os cidadãos, porque se corre o risco de que o país se
acostume a funcionar sem oposição, o que é mau, é indesejável, e o que todo
democrata deveria rechaçar. Não porque o governo a elimine, já que durante o
governo de Chávez nenhum partido foi posto na ilegalidade e ninguém é
perseguido por expressar-se e manifestar-se, como aconteceu durante o tempo
do punto fijo. Por exemplo: o fechamento do Partido Comunista, do (Movimiento
de Izquierda Revolucionaria) MIR e de outras organizações políticas e sociais.
Tampouco porque a representação parlamentar tenha sido objeto de medidas