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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Selma Aparecida Leite de Andrade
Responsabilidade Socioambiental Empresarial na Loja Extra
Hipermercado Santa Rosália do Grupo Pão de Açúcar:
uma experiência em questão
Sorocaba/SP
2000/2009
MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL
SÃO PAULO
2009
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Selma Aparecida Leite de Andrade
Responsabilidade Socioambiental Empresarial na Loja Extra
Hipermercado Santa Rosália do Grupo Pão de Açúcar:
uma experiência em questão
Sorocaba/SP
2000/2009
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como
exigência parcial, para obtenção do título de MESTRE
em Serviço Social sob a orientação da Professora
Doutora Maria Lucia Carvalho da Silva
SÃO PAULO
2009
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Banca Examinadora
________________________________________
________________________________________
________________________________________
Aos meus pais Heitor e Nina (in memoriam)
Aos quais devo os princípios que me norteiam
e meu filho Arthur, ar que minha alma respira
AGRADECIMENTOS
À Deus, é óbvio, cujo amparo e consolo enxugou dia após dia minhas insistentes
lágrimas, fazendo-me acreditar que vale a pena.
Aos meus irmãos Sandra, Duarte e suas famílias e em especial ao meu irmão Danilo
Dias de Andrade que acreditou e possibilitou minha integração neste processo.
À Professora orientadora Maria Lucia Carvalho da Silva, Malu querida, paciente,
confiante e persistente. Sem este impulso seria impossível.
À Professora Marta Campos pelas oportunas sugestões durante o Exame de Qualificação.
Ao professor Ladislau Dowbor, da PUC-SP Programa de Administração, a quem devo
uma reviravolta que me possibilitou saber que nada sei...
À CAPES, CNPq e à PUC pela participação no programa de bolsa de estudo.
Aos professores Evaldo Vieira, Maria Lucia Martinelli, Maria Carmelita Yazbeck,
Raquel Raichellis, Maria Lúcia Rangel, com quem tive a honra de desfrutar junto a colegas
maravilhosos momentos de sabedoria inesquecíveis. À Cátia e Vania, peças fundamentais e
de equilíbrio. À Paula Leão, Mailiz e Andréa em especial às eternas amigas queridas Verinha
e Ana Luíza –Trio Parada Dura,.
À Diretoria da Seccional do CRESS/Sorocaba- gestão 2008/2011- que compreendeu
minha ausência física e desta forma apoiou esta caminhada. À querida amiga confidente,
paciente, perseverante Maria Helena Severiano e sua família maravilhosa.
Aos colegas docentes Luis Albino por brilhantes sugestões, Estevam e Sandra.
Especialmente à Carla Agda Gonçalves pela paciência, dedicação e inestimáveis
sugestões.
À pronta disposição de Luiz Rossi, Marcio Cardoso, do Supermercado Cardoso de
Jequié na Bahia; Roberto Galassi Amaral, Paulo Rogério dos Santos Lima e Maurício Turra
que pacientemente ignoraram minhas limitações de conhecimento.
A todos e a todas que direta ou indiretamente participaram de minhas angústias e
repetidas indagações
Aos sujeitos da pesquisa que incondicionalmente possibilitaram a efetivação deste
trabalho.
À Leme Produções, que através de Roberto Leme e Gabriel possibilitaram a
visualização de um pensamento.
Enfim, a todos amigos e familiares que acreditaram que seria possível.
O rico e o pobre se encontraram: a todos fez o Senhor
Provérbios:22
RESUMO
ANDRADE, Selma Aparecida Leite de. Responsabilidade Socioambiental Empresarial na
Loja Extra Hipermercado Santa Rosália do Grupo Pão de Açúcar: uma experiência em
questão Sorocaba/SP-2000/2009
A presente dissertação visou identificar e analisar as ações de Responsabilidade
Socioambiental no Varejo de Auto-Serviço. A abordagem do tema compreendeu o período de
2000 a 2009, a partir do estudo de caso na Loja Extra Hipermercado Santa Rosália de
Sorocaba/SP do Grupo Pão de Açúcar. A metodologia abrangeu a Pesquisa Bibliográfica
sobre a produção conceitual referente a Responsabilidade Socioambiental Empresarial,
Balanço Social, Comércio, Varejo, Varejo de Auto-Serviço; a Pesquisa Documental (Leis,
Relatórios de sustentabilidade, Balanço Social e outros) e a Pesquisa de Campo. Na pesquisa,
de caráter qualitativo, foram utilizados como procedimentos metodológicos a entrevista semi-
estruturada com sete sujeitos: colaboradores, representantes da sociedade civil organizada de
Sorocaba e parceiros das ações de Responsabilidade Socioambiental desenvolvidas pela loja
Extra, bem como a Observação Participante e recursos tecnológicos, como filmagem de um
vídeo e acesso a sites específicos na perspectiva de retratar as ações de Responsabilidade
Socioambiental Empresarial em sua dinâmica de funcionamento. A análise dos dados
empíricos enfatizou conteúdos e significados dos relatos dos sujeitos. Os resultados da
pesquisa evidenciaram que as ações desenvolvidas estão principalmente focalizadas em uma
estratégia de captação de clientes e marketing de varejo, contudo, envolvem ações educativas
e contém possibilidades de disseminar hábitos saudáveis objetivando a melhoria da qualidade
de vida da população local. Denotaram, ainda, fragilidades face às características de
descontinuidade e fragmentação das ações, com destaque à ausência de planejamento,
monitoramento, avaliação e participação de todos os envolvidos na efetivação compartilhada
da Responsabilidade Socioambiental Empresarial.
Palavras-chave: Responsabilidade Socioambiental Empresarial; Balanço Social; Varejo;
Varejo de Auto-Serviço; Super e Hipermercado.
ABSTRACT
ANDRADE, Selma Aparecida Leite de. Corporate Social and Environmental
Responsibility on the Self-Service Retail: An experience of Pão de Açúcar Group Extra
Hypermarket Store – Santa Rosália – Sorocaba/SP - 2000/2009
This dissertation aimed to identify and analyze the Social and Environmental Responsibility
actions on the Self-Service Retail. The theme approach comprised the period between 2000
and 2009, starting from the case study on Extra Hypermarket Santa Rosália in Sorocaba/ SP
that belongs to Pão de Açúcar Group. The methodology included the Bibliographic Research
about conceptual production referring to Corporate Social and Environmental Responsibility,
Social Balance, Commerce, Retail, Self-Service Retail; the Documental Research (Laws,
Sustainability Reports, Social Balance and others) and the Field Research. On the research,
with qualitative features, it was used for the methodological procedures the semi-structured
interview with seven subjects: collaborators, organized Sorocaba civil society representatives
and partners of the Social and Environmental Responsibility actions developed by Extra store,
as well as the Participant Observation and technological resources, as filming a video and
access to specific websites on the perspective of describing such actions on its working
dynamics. The analysis of the empirical data emphasized the content and meaning of the
people reports. The research results evidenced that the developed actions are mainly focalized
in a strategy of customer gaining and retail marketing, however, they involve educative
actions and have the possibility of spreading healthy habits aiming the life quality
improvement of the local population. The results indicate, yet, fragility considering the
discontinuity features and fragmentation of these actions and in evidence the absence of
planning, monitoring, checking and the participation of everyone involved on the shared
effectuation of the Corporate Social and Environmental Responsibility.
Keywords: Corporate Social and Environmental Responsibility; Social Balance; Retail; Self-
Service Retail; Hypermarket
LISTA DE FIGURAS E MAPAS
Figura 1 - Tropa Solta de Muares ............................................................................................. 23
Figura 2 - Sustentabilidade e Responsabilidade empresarial ................................................... 71
Figura 3 - Dinâmica .................................................................................................................. 75
Figura 4 - Classificação das Instituições Varejistas ................................................................. 78
Figura 5 - Número de empresas por segmento do comércio .................................................... 81
Figura 6 - Receita total por segmento do comércio ................................................................. 81
Figura 7 - Pessoal ocupado por segmento do comércio ........................................................... 82
Figura 8 - Salários retiradas e outras remunerações por segmento .......................................... 82
Figura 9 - Classificação do auto-serviço .................................................................................. 84
Figura 10 - CNAE 1.0 .............................................................................................................. 85
Figura 11 - Estrutura Multiformato Gpa 2008 ....................................................................... 100
Figura 12 - GPA 2009 ............................................................................................................ 101
Figura 13 - Loja Extra Hipermercado Santa Rosália ............................................................. 106
Figura 14 - Coral de LIBRAS ................................................................................................ 110
Figura 15 - Movimento de Mulheres Negras de Sorocaba MOMUNES ............................... 111
Figura 16 - Ônibus da Mulher, conhecido como Ônibus Rosa .............................................. 111
Mapa 1 - Localização de Sorocaba ................................................................................. 19
Mapa 2 - No Caminho das Tropas .................................................................................. 22
Mapa 3 - Região Administrativa de Sorocaba ............................................................. 27
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Território e População – Grau de Urbanização (em %) – 2005 – Estado de São
Paulo, Região Administrativa de Sorocaba e Município de Sorocaba .................. 29
Gráfico 2 - Crescimento populacional de 1996 a 2006, próprio e por processo migratório.
Sorocaba
– SP ......................................................................................................... 30
Gráfico 3 - Território e População – Taxa Geométrica de Crescimento Anual da População
(em % a. a.) – 2000/2005 – Estado de São Paulo, Região Administrativa de
Sorocaba e Município de Sorocaba ....................................................................... 31
Gráfico 4 - Participação dos segmentos do comércio nas principais variáveis do comércio
total - Brasil – 2006 ............................................................................................... 80
Gráfico 5 -
Participação das Grandes Regiões na receita bruta de revenda das empresas comerciais
com 250 ou mais pessoas ocupadas – 2000/2006
........................................................ 83
Gráfico 6 - Participação dos segmentos do comércio varejista – Brasil – 2006 ................................ 93
LISTA DE QUADROS E TABELAS
Quadro 1 - Ranking Dos 8 Municípios Que Fazem Divisa Com Sorocaba – 2006 ................. 34
Quadro 2 - Indicadores Ethos x Escala Akatu Comparação de Enfoques e Objetivos ............ 68
Quadro 3 – Década de 1950 – Brasil -Segmento Hipermercado e Supermercados ................. 89
Quadro 4 - As três primeiras colocadas Ranking 500 ABRAS ................................................ 95
Tabela 1- Relação dos doze Municípios mais populosos do Estado de
São Paulo 2006 ....................................................................................................... 29
Tabela 2 - Situação dos Jovens Sorocabanos Referente à Educação ....................................... 33
Tabela 3 - Evolução da Arrecadação dos Impostos Municipais de Sorocaba .......................... 37
Tabela 4 - Formatação atual do GPA 2009 ........................................................................... 102
Tabela 5 - Campanhas Solidárias 2008 – GPA e Extra Hipermercado Santa Rosália
Sorocaba/SP ........................................................................................................... 113
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 13
CAPÍTULO I - Marcos Contextuais de Sorocaba/SP ...................................................... 19
1 Origem e desenvolvimento .................................................................................................... 19
2 Olhando a Realidade Atual ................................................................................................... 27
CAPÍTULO II - Aproximações Históricas e Conceituais de Responsabilidade
Socioambiental Empresarial ................................................................................................. 42
1 Antecedentes históricos ......................................................................................................... 42
2 Principais abordagens conceituais de Responsabilidade Socioambiental Empresarial ....... 60
CAPÍTULO III - O Setor de Varejo e o Segmento Supermercados .................................. 77
1 O setor de varejo na cadeia de distribuição ........................................................................... 77
2 Breve contextualização sobre o surgimento dos Supermercados .......................................... 87
3 O Segmento Supermercadista como operador do comércio de produtos de largo consumo 93
CAPÍTULO IV - O Grupo Pão de Açúcar e a Loja Extra Hipermercado Santa Rosália
de Sorocaba/SP: uma experiência de Responsabilidade Socioambiental Empresarial ... 97
1 Surgimento, Estrutura e Localização do Grupo Pão de Açúcar no Comércio Varejista
Brasileiro .................................................................................................................................. 97
2 Caracterização da Loja Extra-Hipermercado Santa Rosália de Sorocaba/SP e das ações de
Responsabilidade Socioambiental Empresarial : percepções dos sujeitos ............................ 106
3 Refletindo sobre os significados da experiência empreendida de Responsabilidade
Socioambiental Empresarial ................................................................................................... 118
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 123
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 125
ANEXO I ............................................................................................................................... 140
ANEXO II ............................................................................................................................ 141
ANEXO III ............................................................................................................................ 144
ANEXO IV ............................................................................................................................ 147
13
INTRODUÇÃO
Somos, ao mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de
um mundo no qual as dimensões local e global estão ligadas
.
Carta da Terra, Haia, Junho de 2000
A Responsabilidade Socioambiental Empresarial desde os anos 1990 vem sendo
crescentemente incorporada pelas organizações privadas. Desde então, o agir responsável que
se distancia do imediatismo do lucro como único sentido para a existência da empresa, não é
mais uma questão de competitividade, mas de sobrevivência do negócio.
É nesse contexto que a RSAE toma vulto
1
e longe de ser um modismo, torna-se uma
questão estratégica de negócios diretamente envolvida no desenvolvimento e imagem da
empresa. Para isso faz-se necessário a adoção de relações éticas e transparentes com todos os
seus Stakeholders
2
.
Suscitar o debate e proporcionar espaços para a discussão acerca das reais demandas
dos Stakeholders, aproxima a empresa da comunidade em que está inserida e fortalece os
projetos a serem implementados coletivamente.
Neste contexto emergiram nossas inquietações para o presente estudo de Mestrado, em
continuidade aos estudos da graduação em Serviço Social realizados na área empresarial,
inicialmente como estagiária e, posteriormente, como Assistente Social. Ao fazer um recorte
para a RSAE percebeu-se que são iniciativas inovadoras que se abrem para o Serviço Social,
como espaços ocupacionais emergentes.
Nessa pesquisa elegemos o setor de varejo de auto-serviço, em razão da limitada
produção investigativa no Serviço Social relativa à RSAE nesse setor.
1
Em maio de 2009, 700 CEOs reuniram-se na capital da Dinamarca, na Cúpula Empresarial de Mudanças Climáticas, para debaterem o
papel das empresas na redução das emissões de carbono. Ban Ki-moon e Al Gore deram o tom: Copenhagen terá que ser o marco zero de
uma nova economia e visão de desenvolvimento. O objetivo é levar no final do ano, uma agenda do mundo corporativo para a reunião COP
15 (Conferência Mundial sobre Clima das Nações Unidas). Embora com objetivo nobre, o artigo ressalta a qualidade sofrível do debate dos
CEOs. Disponível em
http://www1.ethos.org.br/EthosWeb/pt/2500/servicos_do_portal/noticias/itens/direto_de_copenhague,_ricardo_young_comenta_a_cupula_e
mpresarial_de_mudancas_climaticas_.aspx Acesso em 30/05/09
2
Stakeholder ou partes interessadas, são públicos relevantes com interesses pertinentes à companhia ou ainda, indivíduos ou entidades que
assumam algum tipo de risco, direto ou indireto, em face da sociedade. Entre outros, destacam-se: acionistas, funcionarios, comunidade,
clientes, fornecedores, credores, governos e organizacões não governamentais Também conhecido como Publicos Estratégicos
2
Disponível
em http://www.ces.fgvsp.br/gvces/index.php?page=Conteudo&id=63&expanddiv=dv3 Acesso em 25/09/2009
14
Neste sentido, a escolha do tema recaiu sobre a “Responsabilidade Socioambiental
Empresarial na loja Extra Hipermercado Santa Rosália do Grupo Pão de Açúcar de
Sorocaba/SP no período de 2000 a 2009.
Esta pesquisa, de natureza qualitativa, entendida por Antonio Chizzotti (2008 p. 78)
como “a análise dos vínculos indissociáveis das ações particulares com o contexto social em
que estas se dão”, buscou analisar as ações de RSAE na loja Extra Hipermercado Santa
Rosália de Sorocaba não desligando-as do Grupo Pão de Açúcar.
Dessa forma, definimos como questão norteadora de pesquisa:
¾ As ações de RSAE desenvolvidas nas áreas da educação, cultura, assistência
social e meio ambiente pela loja Extra Hipermercado Santa Rosália de
Sorocaba/SP – de 2000 a 2009, objetivaram melhorias locais e caminharam para
a consolidação da Responsabilidade Socioambiental Empresarial no Varejo de
Auto-Serviço?
A partir desta questão foi construída como fio condutor para o direcionamento da
pesquisa a seguinte hipótese:
¾ As ações de RSAE desenvolvidas pela loja Extra Hipermercado Santa
Rosália estão focalizadas em uma estratégia de captação de clientes e marketing
de varejo, embora perpassem algumas ações de cunho educativo que contém
possibilidades de disseminar hábitos saudáveis objetivando a melhoria da
qualidade de vida da população local.
Definidos os direcionamentos da pesquisa, o Objeto do Estudo delimitou-se às ações
de Responsabilidade Socioambiental Empresarial do Grupo Pão de Açúcar na loja Extra
Hipermercado Santa Rosália em Sorocaba/SP, no período de 2000 a 2009.
Esta delimitação do objeto deu-se em virtude do desenvolvimento peculiar no
território nacional do Grupo Pão de Açúcar GPA pelo fato de sua posição dentre os 3
primeiros colocados no ranking deste segmento no Brasil. Outra razão complementar para a
delimitação do objeto é que a loja Extra Hipermercado Santa Rosália é a maior do gênero em
Sorocaba, concorrendo com o Wal Mart e Carrefour.
15
A pesquisa tem como objetivo geral:
¾ Identificar e Analisar as ações de Responsabilidade Socioambiental
desenvolvidas na loja Extra Hipermercado Santa Rosália de Sorocaba/SP do
GPA no período de 2000 a 2009.
Desdobram-se deste objetivo geral, os seguintes Objetivos Específicos:
¾ Conhecer as ações de RSAE desenvolvidas pelo GPA;
¾ Analisar o histórico das ações de RSAE desenvolvidas na loja Extra Hipermercado
Santa Rosália de Sorocaba/SP;
¾ Levantar as ações desenvolvidas à luz da RSAE do GPA na loja Extra
Hipermercado Santa Rosália de Sorocaba/SP, considerando seus Stakeholders e as
peculiaridades culturais, sociais e econômicas da realidade local.
¾ Refletir a dinâmica e os significados das ações de RSAE desenvolvidas.
Elegemos como conceitos de referência: Responsabilidade Socioambiental
Empresarial, Balanço Social, Comércio, Varejo, Varejo de Auto-Serviço, Super e
Hipermercado, elaborados nas áreas de Administração, Economia, Direito e Ciências Sociais,
com destaque , respectivamente, para os seguintes autores, dentre outros: Idalberto
Chiavenato, Juracy Parente, Ladislau Dowbor, Robert Henry Srour, José Damião de Lima
Trindade.
Do ponto de vista metodológico foram realizadas pesquisa bibliográfica, pesquisa
documental e pesquisa de campo. O levantamento bibliográfico foi realizado durante todo o
processo da pesquisa e compreendeu produção acadêmica, periódicos de Sorocaba como:
Jornal Cruzeiro do Sul e Diário de Sorocaba, e acesso a sites relacionados.
A Pesquisa Documental se deu através de levantamentos de Leis, Relatórios de
Sustentabilidade, Balanço Social e outros através de consultas à biblioteca da PUC-SP,
Biblioteca Municipal de Sorocaba, Museu Histórico de Sorocaba, sites institucionais do GPA
e outros. A pesquisa Documental teve como objetivo resgatar o processo histórico da RSAE e
correlacioná-lo à realidade atual.
A Pesquisa de Campo, buscou identificar as peculiaridades das ações de RSAE da loja
Extra Hipermercado Santa Rosália, implementadas em Sorocaba, não desconsiderando sua
ligação maior com o Grupo Pão de Açúcar, idealizador das ações.
16
Neste sentido, primeiramente, foram selecionados 7 sujeitos da pesquisa, segundo os
critérios já anteriormente enunciados:
M.O. Gerente Geral da loja Extra Santa Rosália Sorocaba/SP
Sexo Masculino
Há 7 anos na Loja Extra Hipermercado Santa Rosália
Formação: Administrador de Empresas
Y.E. Assistente Social da Intelimed
Sexo Feminino
Há 5 anos na Intelimed
Formação:Assistente Social
F.A. Presidente da Associação Amigos de Bairro Santa Rosália
Sexo Masculino
Há 19 anos é Voluntário da SABS desde sua fundação em 1990
Formação Professor do SESI, aposentado
F. R. Assistente Administrativa do Bethel Casas lares
Sexo Feminino
Há 3 anos na Associação Bethel Casas Lares
Formação: Enfermeira
L.B. Assistente Social do Bethel Casas lares
Sexo Feminino
Há 1 ano Bethel Casas Lares
Formação:Assistente Social
M.L. Administradora do Centro de Convivência para Idosos
Sexo Feminino
Há 7 anos na administração no Centro de Convivência para Idosos
Formação: Diaconisa da Igreja Presbiteriana
S.J. Administrador da Cooperativa Reviver.
Sexo Masculino
Há 3 anos na administração da Cooperativa Reviver
Formação:Gestor de RH, aposentado
17
A coleta de dados ocorreu através de entrevista previamente agendada com cada um
dos sujeitos e conforme sua disponibilidade, entre os meses de julho de 2008 e julho de 2009,
após aceitação e assinatura do Termo de Livre Consentimento (Anexo I) de acordo com as
exigências éticas da pesquisa.
As entrevistas realizadas foram semi-estruturadas, isto é, com apoio de um roteiro com
tópicos específicos, e gravadas para registro das falas dos sujeitos.
Após a coleta, as falas foram transcritas na íntegra e tornaram-se objeto de repetidas
leituras para sua organização e posterior construção da análise de seus significados.
Outro procedimento metodológico foi a Observação Participante com a utilização do
caderno de campo para as devidas anotações consideradas relevantes para a pesquisa.
Do ponto de vista da utilização de recurso tecnológico, foi feita uma filmagem de um
vídeo sobre as ações de RSAE do GPA na loja Extra Hipermercado Santa Rosália tendo em
vista retratar tais ações em sua dinâmica de funcionamento.
Para a análise dos dados foi utilizada a técnica de Análise de Conteúdo, cujo objetivo
contemplou, segundo Antonio Chizzotti (2008 p.98) : “compreender criticamente o sentido
das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas”.
Esta dissertação está estruturada em quatro capítulos, a saber:
O Capítulo I denominado Marcos Contextuais de Sorocaba/SP aborda à
caracterização da cidade locus desta pesquisa, contextualizando historicamente sua realidade.
O Capítulo II intitulado Aproximações Históricas e Conceituais de
Responsabilidade Socioambiental Empresarial traz os antecedentes históricos e principais
abordagens conceituais sobre o tema.
O Capítulo III O Setor de Varejo e o Segmento Supermercados apresenta o setor
de varejo, varejo de auto-serviço e o segmento supermercadista, bem como seu surgimento e
desenvolvimento até seu status atual.
O Capítulo IV nomeado O Grupo Pão de açúcar e a Loja Extra Hipermercado
Santa Rosália de Sorocaba/SP: uma experiência de Responsabilidade Socioambiental
Empresarial contextualiza o cenário da pesquisa, com a caracterização do Grupo Pão de
Açúcar e da loja Extra Hipermercado Santa Rosália Sorocaba/SP, assim como apresenta pelas
18
percepções dos sujeitos entrevistados, as ações de Responsabilidade Socioambiental
Empresarial desenvolvidas. Em seguida, são apresentadas reflexões analíticas sobre os
principais significados dessas ações.
As Considerações Finais, a partir dos resultados da experiência de Responsabilidade
Socioambiental Empresarial da loja Extra Hipermercado Santa Rosália de Sorocaba/SP, são
destacados possibilidades e limites, bem como apresentadas algumas indicações para a sua
consolidação.
19
CAPÍTULO I
Marcos Contextuais de Sorocaba/SP
Sorocaba, berço do tropeirismo, nunca teve uma aristocracia rural. Foi sempre
uma cidade essencialmente mercantil.Viajar, comprar e vender são as maiores
características de uma sociedade tropeira. Assim, Sorocaba é uma cidade de
comerciantes natos, negociantes natos. Isso nos faz diferentes.
Prof. Luiz Almeida Marins Filho
1 - Origem e Desenvolvimento
Este capítulo caracteriza-se por uma breve contextualização histórica, no intuito de
compreender a realidade da cidade de Sorocaba/SP, locus desta pesquisa .
A cidade de Sorocaba está localizada na região sudoeste do Estado de São Paulo, a 96
km de distância da Capital, conforme pode ser observado no mapa a seguir:
Mapa 1 – Localização de Sorocaba
Fonte: Memória Viva
20
Sua localização na rota de passagem para o Oeste paulista e para os Estados do Sul e
Centro-Oeste do país é considerada privilegiada e entrelaça-se a história de sua fundação. Sob
o Trópico de Capricórnio e a uma altitude de 601 metros, as principais vias de acesso para a
cidade de Sorocaba são as Rodovias Castelo Branco-SP 280, Raposo Tavares-SP 270, Santos
Dumont- SP 075 e Rodovia do Açúcar.
O nome de Sorocaba tem origem Tupi-guarani e significa “a terra rasgada” formada
pelas erosões das chuvas que levam para o rio as águas barrentas, explicando um fenômeno da
natureza como era comum nos tempos remotos dos índios (FRIOLI, 2003 p.10).
A origem de sua fundação deu-se após duas tentativas frustradas de implantar um
povoado próximo a cidade de São Paulo, no caminho ou trilha utilizado pelos índios que
habitavam a região conhecido por caminho de São Thomé ou “Peabiru”
3
.
Mesmo com o insucesso na busca de ouro neste local, o octogenário bandeirante
Baltazar Fernandes, movido pelo desejo de imortalidade, por volta de 1654
4
, instala-se com
sua família e escravatura à margem do rio Sorocaba
5
e manda construir a Igreja Nossa
Senhora da Ponte.
Baltazar Fernandes, posteriormente, doa terras aos monges beneditinos para a
construção do Mosteiro de São Bento e manutenção de uma escola. A igreja católica exercia
grande influência na vida social da colônia, pois procedia a registros de nascimento, de
casamentos e de óbitos, e em cujos pátios ocorriam encontros sociais e comerciais, que
atraiam vizinhança e contribuem para o desenvolvimento do povoado. Este, por articulação
ativa de seu fundador, em 1661 é elevado à categoria de Vila de Nossa Senhora da Ponte e,
mais tarde, em 05 de fevereiro de 1842 é promovida à categoria de cidade.
Esta origem de Sorocaba retrata a forma histórica de ocupação territorial que, no
Brasil, desde a colônia, privilegia os grandes proprietários de terra. Estes recebiam terras
doadas, sesmarias, para em sua ocupação privilegiar o verdadeiro capital à época: a
3
Peabiru ou caminho de São Thomé –conhecida rede de caminhos pré-históricos que ligavam os dois oceanos – Atlântico e Pacífico. (DIAS,
2002 p. 9-10)
4
Frente às controvérsias com relação à data exata da fundação da cidade, a Câmara Municipal criou uma lei convencionando a data para
comemorações: 15 de agosto por ser o dia de Nossa Senhora da Ponte, padroeira de Sorocaba, e 1654 o ano em que se redigiu o testamento
da segunda esposa de Balthazar Fernandes, Izabel de Proença, já se referindo à casa-grande e à capela da fazenda (FRIOLI, 2003)
5
O Rio Sorocaba, considerado o maior e principal afluente da margem esquerda do rio Tietê, oficialmente não tem nascente, é fruto da
confluência dos rios Sorocamirim e Sorocabuçu em Ibiúna e com extensão de aproximadamente 250km, até sua foz na cidade de Laranjal
Paulista Disponível em http://www.caturro.org/
. Caturro Navegantes é um grupo formado em Sorocaba com objetivo de percorrer o Rio
Sorocaba Acesso em 27/02/09
21
propriedade de escravos. Vale ressaltar que o bandeirante fundador de Sorocaba procedia da
família Fernandes, fundadores das vilas de Santana do Parnaíba, em 1580 e de Itu em 1610.
No início da fundação de Sorocaba, a principal atividade econômica local, até a
metade do século XVIII era o tráfico, escravização e venda de índios. Após a proibição por
Portugal destas práticas, outra atividade mercantil passa a ter influência nos rumos do
desenvolvimento econômico, social e cultural de Sorocaba, transformando-a radicalmente: a
Feira de Muares
6
.
A Feira de Muares tem início em Sorocaba em 1733, quando o Coronel Cristóvão
Pereira de Abreu, considerado o fundador do Rio Grande do Sul, atravessa a cidade
conduzindo 2000 animais A partir daí, a cidade tornou-se centro das transações deste
comércio, atraindo fazendeiros do Norte e Centro-Oeste que vinham em busca dos muares
para suas lavouras, dando início ao Tropeirismo.
Esta atividade, durante quase 150 anos, vai manter a cidade conectada com o restante
do país, num intercâmbio constante através das expedições oriundas de várias regiões. Entre
os meses de abril a junho, em que aconteciam as Feiras de Muares, desenvolve-se um
comércio paralelo destinado inicialmente ao abastecimento dos tropeiros, em que se destacam
os produtos artesanais como facas, facões, redes e outros artefatos de couro e prata para celas,
arreios e cabos de chicotes. A qualidade dos produtos é reconhecida pelos freqüentadores da
Feira e espalhada pelo país, consolidando a vocação comercial da cidade.
O caminho percorrido por tropeiros e a capilaridade geográfica favorável à localização
de Sorocaba sedimenta a cidade como lugar de trânsito e comércio.
Esta fluidez pode ser apreciada no mapa a seguir:
6
Os Muares são produto do cruzamento de jumentos e jumentas com cavalos e éguas de diversas raças, gerando burros e mulas. Animais de
tração, rústicos e resistentes a terrenos acidentados e temperaturas altas. Apropriados para o trabalhos no campo, lazer, turismo eqüestre e
cavalgadas. Ainda hoje são comercializados a um preço médio de R$ 9.320,19. Disponível no site
http://www.mercadodecavalos.com.br/index_01.php?menu=11&id=14
. Acesso em 15/02/2009.
22
Mapa 2: No Caminho das Tropas
Fonte: Memória Viva
Devido ao sucesso alcançado pela Feira de Muares, no ano de 1750 o Registro de
Animais no intuito de recolher impostos desta transação, passa a ser feito na cidade,
alavancando seu desenvolvimento.
Outro fator relevante para a cidade são as constantes mudanças internas nas rotas das
tropas de muares que influenciam na ampliação da malha urbana.
A importância da Feira de Muares na época foi comparada ao ciclo do ouro no Brasil e
é imortalizada na obra de Debret
7
em 1820, como pode se observar na figura:
7
Em 1816, chegou ao Brasil a Missão Artística Francesa, que teria grande influência sobre as Artes Plásticas. Destacou-se o pintor Jean
Baptiste Debret, que retratou os costumes brasileiros o início do século XIX. História do Brasil 1 Colônia-Editora OSE COC -2007-p.52
23
Figura 1 : Tropa solta de muares
Fonte: Câmara Municipal de Sorocaba
Tem início em 1818 a diversificação econômica na cidade quando D João VI inaugura
a primeira Siderúrgica da América Latina, denominada Real Fábrica de Ferro São João do
Ipanema
8
. Este episódio tem importância ao deslocar o país de papel de consumidor para
produtor, possível através da revogação por D. João VI do alvará em que D. Maria I proibia o
estabelecimento de fábricas industriais, favorecendo a hegemonia dos países colonizadores e
detentores dos meios de produção à época.
Na Real fábrica de Ferro, trabalhavam suecos e alemães que disseminam na sociedade
local seus hábitos e cultura, entre eles, o culto protestante.
Prosseguem a diversificação e o pioneirismo. Em 1856 inicia-se na cidade a plantação
de algodão herbáceo de qualidade superior ao algodão arbóreo que era plantado no restante do
país. Esta atividade abre o comércio deste produto diretamente de Sorocaba para a Inglaterra,
numa época em que os EUA, seus principais fornecedores, estavam em guerra civil, o sul
contra o norte, a chamada Guerra de Secessão. Este fato vai impulsionar a inauguração em
1875 da Estrada de Ferro Sorocabana, que irá prosperar e se tornar uma das mais importantes
companhias ferroviárias do Brasil.
8
São fundidas três cruzes de ferro que hoje podem ser vistas: 1- no Museu Histórico Sorocabano, na 2-Fazenda Ipanema e 3- no final da
Avenida Ipanema, em Sorocaba/SP. História do Brasil 1- Colônia-Editora OSE COC -2007-p.5
24
O fim do império no Brasil, a produção local de algodão e a diminuição das
exportações, dão início em 1882 ao ciclo de industrialização têxtil de Sorocaba, com a
inauguração da Fábrica de Tecidos Nossa Senhora da Ponte, seguida pelas Fábricas Santa
Rosália e Votorantim em 1890. Este evento vai destacar Sorocaba na tradição das tecelagens e
com isso, começa a atrair imigrantes portugueses, italianos e espanhóis
9
. Referindo-se à este
momento, citado em periódico Jornal Cruzeiro do Sul, Aluísio de Azevedo declara que : “Em
Sorocaba foram aproveitados os tempos da iniciativa privada sem óbices do liberalismo
econômico mais completo, e até a inflação do Encilhamento
10
, para se firmar como a
“Manchester Paulista”, codinome sugerido numa alusão à importante cidade industrial
inglesa, com predominância no ramo têxtil.
Enfraquecido, o comércio de animais é afetado com a primeira epidemia de febre
amarela. A população de Sorocaba foi quase toda dizimada no ano de 1897, em que ocorre a
última Feira de Muares de Sorocaba. A epidemia irá se repetir no final do século, mais
precisamente durante o natal de 1899 com a mesma intensidade, interrompendo a marcha de
progresso industrial e comercial de Sorocaba.
Com a implantação de serviços de infra-estrutura como instalação de água potável
encanada e o serviço de coleta de esgotos, tem início a reação sorocabana em 1903, ano em
que a maior indústria de fiação e tecelagem, a Fábrica Santa Rosália, anuncia o aumento de
150 teares, totalizando 450 teares em funcionamento.
O progresso tem seu preço, e o jornal “A Conquista do Bem” do Partido Democrático
Socialista denuncia jornadas de trabalho extensas e o escritor Jacob Penteado, morador da vila
industrial de Santa Rosália descrevia poeticamente a rotina trágica dos trabalhadores: ”os
operários entravam às cinco da manhã, com as estrelas ainda visíveis. Tinham 45 minutos
para almoço às onze horas. Depois continuavam na sua faina que ia até às 8 horas da noite,
voltando para seus tugúrios ainda sob a luz das estrelas”.
Constata-se que o desenvolvimento econômico e o crescimento urbano ocorrido
durante o século XIX não acompanharam o oferecimento de serviços básicos para a
9
A retomada brasileira dos esforços para atrair imigrantes ocorreu a partir de 1871, coincidindo com a aprovação da Lei do Ventre Livre.
Através de subvenção, que incluía hospedagem por 8 dias na capital, em um prédio construído pelo governo (hospedaria do Bom Retiro
substituída pela Hospedaria do Brás em 1888, com capacidade para cerca de 4.000 pessoas) mostrava a ligação entre elite política e os
fazendeiros . História do Brasil 2 Império-Editora OSE COC -2007-p.32
10
Crise econômico-financeira resultado da iniciativa de Rui Barbosa, Ministro da Fazenda, em industrializar o Brasil, tentativa malograda de
transformá-lo de uma grande fazenda num país moderno e desenvolvido. História do Brasil 3 Império-Editora OSE COC -2007-p.10
25
população. Isto demonstra que a cidade percorreu os mesmos caminhos do restante do país:
desenvolvimento econômico pautado na exploração do trabalhador, ampliação da
desigualdade social, insalubridade e descaso do poder público.
A recente libertação dos escravos proporciona, além de novas relações entre capital x
trabalho, uma diversificação social, política e religiosa na cidade que irá influenciar
diretamente em sua história. Em 1906 o ex-escravo João de Camargo torna-se líder religioso e
constrói a Igreja Bom Jesus da Água Vermelha para realizar curas e dar conselhos, atraindo
muitos seguidores fora dos limites geográficos de Sorocaba. Sua importância será contada
mais tarde no filme “O Cafundó” dirigido pelo sorocabano Paulo Betti.
Vencida a epidemia
11
, a economia retoma seu curso através do desenvolvimento
industrial apostando ainda no ramo têxtil, quando são construídas as Fábricas São Paulo de
Estamparia e Santo Antonio.
O discurso liberal toma fôlego e dissemina a apologia ao capitalismo como forma de
desenvolvimento igualitário, estratégia esta constatada pelo pesquisador Arnaldo Pinto Junior
ao verificar as diversas publicações de autoria elitista entre 1903 e 1914. Realizando o que
denomina “educação política dos sentidos”, o discurso burguês enaltecia “as benesses
proporcionadas pela implantação das indústrias, como também o comportamento ordeiro dos
trabalhadores sorocabanos e a alta capacidade destes para a produção”.
O autor destaca como contraponto a edição do jornal “O Operário” em que a classe
trabalhadora denunciava os efeitos negativos do progresso e da modernidade como “emprego
de crianças nas linhas de produção das fábricas, o assédio sexual contra mulheres, baixos
salários e o cumprimento de extensas e exaustivas jornadas de trabalho”. A dicotomia nos
discursos evidencia que a cidade acompanha a assimilação do capitalismo imposta pela
burguesia de forma heterogênea, aprofundando a desigualdade de acessos já iniciada desde
sua fundação.
Ratificando o clima de insatisfação vivido à época, no mês de julho de 1917
aproximadamente 10 mil operários paralisaram suas tarefas numa greve que reivindicava
redução de jornada e melhores condições de trabalho e salários. Este evento demonstra a
11
Sorocaba é a primeira cidade do mundo a eliminar a moléstia combatendo o mosquito transmissor – Aedes aegypti, a pedido do chefe da
Saúde Pública do Estado de São Paulo, Dr Emílio Ribas em 1901.
26
organização dos trabalhadores, porém, o Sindicato dos Operários Metalúrgicos e Classes
Anexas de Sorocaba irá surgir através de Assembléia somente anos mais tarde, em 1939.
Tempos de Guerra e Pós-Guerra, a partir de 1945, modificam o cenário de
desenvolvimento mundial e o desemprego e miséria disseminam pessimismo nos países
subdesenvolvidos e em desenvolvimento que deixam de ser alvos de investimentos pelos
países ricos. Silenciada por quase uma década, somente em 1950 a luta pela defesa dos
direitos dos operários sorocabanos se recompõe através da Associação Profissional dos
Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas de Sorocaba.
Aprofundam-se a desigualdade e o desequilíbrio político e econômico que mergulham
o país na paralisia intelectual da ditadura a seguir a 1964, e interfere nos mecanismos de luta
dos trabalhadores com a prisão, tortura e morte de seus principais protagonistas. As sequelas
da discrepância entre o desenvolvimento tecnológico, político, econômico e social no mundo
se revelam.
Uma recessão econômica sem precedentes se instala no Brasil e em 1979 greves se
sucedem em diversas categorias, situação que culmina em 1983 no início da campanha para
eleições diretas para Presidente – alcunhada de Diretas Já.
Sorocaba neste momento ressente-se dos acontecimentos em âmbito nacional e
mundial. Suas principais indústrias vão entrar em declínio e milhares de trabalhadores perdem
seus postos de trabalho. Somente as Fábricas Santa Rosália, a Cianê e Votoran, empregaram
em seu período áureo, mais de 5.000 funcionários. A abertura do mercado foi um baque nas
áreas têxtil e metalúrgica e para a economia local que cai da 12ª maior economia do Estado
para o posto de 16ª posição, conforme o periódico Diário de Sorocaba (1998) durante a
década de 1990.
Um novo ciclo se apresenta para o resiliente povo sorocabano às portas do século
XXI. Diversificam-se os ramos industriais e o progresso segue o ritmo do país incluindo a
entrada de empresas multinacionais, inclusive no ramo do comércio: em 1998, 110 novas
empresas são registradas por mês em média, no cadastro do ISS da Prefeitura, em 1997
foram 3 mil no total [...]. Sorocaba, aos 343 anos, chega às portas de um novo século entre as
40 maiores cidades brasileiras (VIVA Sorocaba, 1998).
27
2 - Olhando a Realidade Atual
A Região Administrativa denominada RA de Sorocaba é composta de 79 municípios
(ANEXO II) em que habitam 2.807.090 pessoas, 6,8% do total do Estado, sua contribuição no
Produto Interno Bruto PIB do Estado de São Paulo é de R$ 34,37 bilhões de reais, segundo
dados do Seade 2008.
O mapa a seguir retrata a RA de Sorocaba com seus respectivos municípios. Este
mapa explana um mosaico que destaca as diferenças geográficas, econômicas e sociais
levantadas através de critérios do Índice Paulista de Responsabilidade Social IPRS
12
.
Mapa 3 Região Administrativa de Sorocaba
12
O IPRS surge como proposta durante o Forum São Paulo Século XXI, realizado pela Assembléia Legislativa em 2000, como parte
integrante das atividades e objetivos do Instituto do Legislativo Paulista ILP, com objetivos de estudar, pesquisar e dar subsídios para os
trabalhos parlamentares e ações legislativas na área de políticas públicas; capacitar gestores e integrar a sociedade com o Poder Legislativo e
cultivar a cidadania em todos os seus aspectos. Síntese das Regiões Administrativas –O Estado dos Municípios 2004-2006- IPRS/SEADE
Disponível em http://www.seade.gov.br/projetos/iprs/
Acesso em 27/07/2009
28
Os 79 municípios que compõem a região apresentam diferentes performances nos
critérios Riqueza, Longevidade e Escolaridade, o que permite enquadrá-los em cinco grupos
de acordo com as categorias:
Critérios Adotados para a Formação dos Grupos de Municípios
Observa-se que apenas 5 municípios da RA de Sorocaba, destacados na cor azul,
pertencem ao Grupo 1, ou seja, possuem níveis satisfatórios e equilibrados nos critérios:
Riqueza, Longevidade e Escolaridade. Destacados no mapa na cor verde, 8 municípios
enquadram-se no Grupo 2; a seguir, 10 municípios pertencem ao grupo 3, destacado na cor
amarela. Os outros 70% dos municípios da RA enquadram-se nos Grupos 4 e 5, em laranja e
vermelho, com pior desempenho nos índices apontados. Este dado revela a desigualdade
conjuntural interna brasileira que atinge territórios geograficamente unidos.
A cidade de Sorocaba situa-se em uma área da unidade territorial de 449,12 Km², com
predominância da área urbana de 249,2 km, superior nesta categoria aos índices de sua RA e
29
ao Estado, conforme sinopse preliminar do censo demográfico 2000 do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística IBGE e com clareza demonstrado no gráfico a seguir referente ao grau
de urbanização no ano de 2005.
Gráfico 1 : Território e População – Grau de Urbanização (em %) – 2005 – Estado de São Paulo,
Região Administrativa de Sorocaba e Município de Sorocaba.
Fonte: SEADE
Segundo projeção populacional do IBGE, Sorocaba é composta em 2007 por 559.157
habitantes, sendo considerado o terceiro município mais populoso do interior paulista, sendo
que no Estado de São Paulo, ocupa a 8ª colocação entre os municípios mais populosos.
Estes dados aparecem expressos no ranking da Tabela 1 que relaciona os 12
municípios mais populosos.
Tabela 1: Relação dos doze Municípios mais populosos do Estado de São Paulo 2006
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Sorocaba - Plano Municipal de Saúde de Sorocaba 2006-2009 p.12
30
Seu crescimento demográfico significativo pode ser constatado na última década do
século XX. Em 1991 a cidade contava com 379.006 mil habitantes, com um aumento
substancial de mais de 180 mil habitantes em 16 anos, quase 70 mil somente nos últimos 7
anos, de 2000 a 2007.
No gráfico abaixo nota-se grandes picos de imigração nos anos 1996, 2000, 2001 e
2005:
Gráfico 2: Crescimento populacional de 1996 a 2006, próprio e por processo migratório. Sorocaba – SP
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Sorocaba - Plano Municipal de Saúde de Sorocaba 2006-2009 p.15
As mudanças econômicas e políticas implementadas no país, o modelo neoliberal em
que ocorrem profundos cortes de investimentos sociais, a globalização e superespecialização
do trabalho exigida pelas empresas multinacionais, movimenta internamente o povo brasileiro
que caminha em busca de emprego.
O crescimento populacional de Sorocaba, segundo o gráfico, deve-se, portanto, a dois
fatores concomitantes: crescimento vegetativo e a migração. Interessante notar que o
crescimento vegetativo se mantém inalterado, até mesmo declina, a partir do ano 2000, em
detrimento do aumento da população.
Projeta-se este fenômeno na estimativa de crescimento demográfico de Sorocaba, no
gráfico comparativo com o Estado e sua RA que se segue:
31
Gráfico 3: Território e População – Taxa Geométrica de Crescimento Anual da População (em % a. a.) –
2000/2005 – Estado de São Paulo, Região Administrativa de Sorocaba e Município de Sorocaba.
Fonte: SEADE
As características de pólo industrial e comercial, a proximidade da capital e a
qualidade de vida hipoteticamente elevada e típica do interior paulista em comparação aos
grandes centros urbanos das capitais, tornam-se atrativos irrefutáveis a quem procura emprego
e melhores condições de vida.
Acrescenta-se a este dados, que seguem na contramão da tranquilidade típica do
interior, a predominância da área urbana e vislumbra-se a demanda por equipamentos de infra
estrutura e atenção à qualidade de vida desta população.
Na categoria longevidade, Sorocaba apresenta-se com aproximadamente 8% da
população composta por pessoas acima de 60 anos assim distribuídas: 18.419 homens com 60
anos ou mais e 24.339 mulheres, conforme dados do IBGE
13
. Sua colocação frente ao Estado
e região administrativa a que pertence apresenta situação menos privilegiada aos idosos,
prevalecendo esta fragilidade ao sexo masculino. A expectativa de vida da população de
Sorocaba em 70 anos, coloca a cidade na penúltima colocação no ranking do Estado,
juntamente com as RAs de Araçatuba, Registro e São José dos Campos, conforme dados da
SEADE (2008).
13
Disponível em http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=355220# Acesso 24/06/09
32
A cidade conta com o Conselho do Idoso, e a preocupação com a atenção ao idoso se
estende e é constatada no Plano Futuridade do Governo do Estado de São Paulo
14
. Outro dado
relevante é o número de idosos que recebem o Benefício de Prestação Continuada BPC
15
em
2009. O total de 1440 beneficiários do município
16
, corresponde a menos que 5% das 29.231
pessoas na faixa etária acima de 65 anos, que estão divididos em 17.268 mulheres e 11.963
homens, segundo pirâmide etária do IBGE.
Em cinco anos o alcance do benefício se estendeu a pouco mais que o dobro de idosos.
As hipóteses que justificam estes números se desdobram em : poder aquisitivo acima da faixa
estipulada para concessão do benefício – ¼ do salário mínimo per capita – e ,
desconhecimento do programa de transferência de renda não contributivo pelos munícipes.
Quanto ao número de jovens residentes na cidade de Sorocaba, a pirâmide etária do
IBGE demonstra dados sobre esta população na faixa de 15 a 29 anos de idade que totaliza
142.868 pessoas e que é composta paritariamente por Homens e Mulheres.
Diante desta pirâmide, é mister observar que a proporção de habitantes homens tende a
diminuir proporcionalmente ao avanço na faixa etária. Várias hipóteses podem contribuir na
explicação deste fenômeno: transferência funcional para outras localidades; taxa de
mortalidade, migração em busca de melhores oportunidades de trabalho e estudo.
As matrículas efetuadas no ensino médio em Sorocaba correspondem a 21, 2% das
matrículas por série, segundo dados do IBGE (2007)
17
, enquanto no ensino fundamental as
matrículas representam 64,9% do total com 82.150 inscrições.
Subsidiando estes dados, foi efetuada uma pesquisa a pedido da Secretaria da
Juventude SEJUV com 1.200 jovens sorocabanos, entre novembro de 2006 e janeiro de 2007,
que apresentou os seguintes resultados:
14
Lançado em novembro de 2008, iniciativa da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social SEADS, objetiva fortalecer a rede de
atenção à pessoa idosa e promover a qualidade de vida dessa população, através da atuação nos eixos de fortalecimento dos municípios,
incentivando a criação de redes de atenção e desenvolvimento, e no segundo eixo a educação, incluindo o tema do envelhecimento no
currículo de todas as escolas do estado e ampliando a inclusão digital
14
(SEADS, 2009)
15
A idade - acima de 65 anos - e a renda per capita até ¼ do salário mínimo, são os requisitos para o acesso a este benefício o
contributivo, instituído através da Lei Orgânica de Assistência Social LOAS em 1993
16
Disponível em http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/miv/miv.php acesso em 20/08/2009
17
Disponível em http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=355220# Acesso 24/06/09
33
Tabela 2 : Situação dos Jovens Sorocabanos Referente à Educação
Jovens que não estão mais estudando
75,6% 18 a 23 anos
92,5% 24 a 29 anos
Jovens cursando ensino superior
11,6% 18 a 29 anos
Sonham cursar o ensino superior
91,8% 14 a 29 anos
Fonte: SEJUV
Nota-se que o desejo de frequentar o curso superior é quase unanimidade entre os
jovens. Sorocaba possui 02 universidades públicas, sendo uma federal e uma estadual. Dentro
destes limites, mais da metade dos jovens entrevistados respondeu que “a oportunidade de ter
um emprego” é o que o faria feliz nos dias de hoje.
O Índice de Desenvolvimento Humano IDH
18
de Sorocaba corresponde a 8,28 , 40º
posição no Ranking dos municípios do Estado de São Paulo e 157º no país, segundo o Atlas
de Desenvolvimento Humano no Brasil do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento PNUD
19
. Segundo referência do PNUD, o índice superior a 0,800 classifica
Sorocaba como local de Alto Desenvolvimento Humano. As dimensões avançadas em
Riqueza e Educação equilibram a dimensão Longevidade que se apresenta, como já
demonstrado neste estudo, insatisfatória.
18
O IDH nasceu em 1990 como um contraponto à utilização do Produto Interno Bruto (PIB) per capta. O índice considera três dimensões: a
renda, medida pelo PIB per capta (corrigido pelo poder de compra de cada país), a longevidade, para a qual é utilizada a expectativa de vida
ao nascer, e a educação, em que se consideram a taxa de analfabetismo e a de matrículas. Criado por Mahbub ul Haq com a colaboração do
economista indiano Amartya Sen,.Disponível em http://www.pnud.org.br/idh/ Acesso 24/02/09
19
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) é a rede global de desenvolvimento da ONU cujo mandato central é o
combate à pobreza.. Disponível em http://www.pnud.org.br/pnud/ Acesso em 24/02/09
34
O Mapa da Pobreza e Desigualdade dos Municípios Brasileiros do IBGE em 2003
apresenta que Sorocaba atinge a incidência de pobreza em 14,94%, com índice GINI
20
de
0,41
21
.
O Quadro 1 a seguir demonstra os principais índices pautados em indicadores de
condições de vida dos municípios vizinhos com os quais Sorocaba faz divisa:
Quadro 1: Ranking dos 8 municípios que fazem divisa com Sorocaba – 2006
IBGE RANKING RA SOROCABA
MUNICÍPIO
POPULAÇÃO % POBREZA GINI IDH RIQUEZA LONGEVIDADE ESCOLARIDADE
SOROCABA
ITU
VOTORANTIM
PORTO FELIZ
MAIRINQUE
SALTO DE PIRAPORA
IPERÓ
ARAÇOIABA DA SERRA
559.157
155.457
104.413
47.774
43.349
39.224
26.696
26.012
14,94
20,03
20,6
20,42
20,53
29,26
25,94
14,38
0,41
0,42
0,38
0,39
0,38
0,38
0,42
0,41
0,828
0,815
0,814
0,8
0,801
0,771
0,779
0,785
7
2
16
15
6
21
18
28
32
15
20
11
48
22
39
12
7
48
52
34
45
67
31
9
Fonte: Quadro elaborado pela autora baseado no IBGE Cidades
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1
e IPRS 2006 Ranking dos 79 municípios da RA de
Sorocaba – Assembléia Legislativa de São Paulo p.45 – 46
20
Mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita. Seu valor varia de 0, quando
não há desigualdade (a renda de todos os indivíduos tem o mesmo valor), a 1, quando a desigualdade é máxima (apenas um um indivíduo
detém toda a renda da sociedade e a renda de todos os outros indivíduos é nula). Disponível em http://www.pnud.org.br/pnud/ Acesso em
24/02/09
21
Disponível em http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 Acesso em 23/02/09
35
Esta visão panorâmica fornece indicativos de que Sorocaba ocupa uma posição
privilegiada, com maior número de habitantes e índice de pobreza inferior à maioria dos
municípios.
No entanto, a desigualdade apontada pelo índice GINI demonstra que a riqueza da
cidade está distribuída de forma sensivelmente heterogênea, considerando-se a relação a
quatro outros municípios vizinhos.
Constata-se também que embora a cidade se apresente com IDH superior aos outros
municípios, nota-se no indicador Longevidade uma discrepância em sua colocação frente aos
índices Riqueza e Escolaridade dentro da Região Administrativa de Sorocaba.
Considerada de grande porte, conforme consta na Matriz de Informações Sociais do
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome MDS, a cidade está na gestão
básica do Sistema Único de Assistência Social SUAS e constam do Cadastro Único -
CadÚnico
22
, dentro do Programa Bolsa Família PBF que 15.623 famílias recebem este
benefício no ano de 2009.
Estes dados revelam que a desigualdade social polariza uma parcela significativa da
população, distanciada do acesso ao desenvolvimento econômico preconizado pelo município.
Quanto à infra-estrutura, a cidade de Sorocaba é composta por uma rede coletora de
esgotos de 1.030 km de extensão com capacidade para atendimento de 98% da população,
segundo dados do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Sorocaba. A porcentagem de
domicílios particulares permanentes urbanos ligados à rede geral de abastecimento de água
atinge 99,31% na cidade. Segundo dados do IBGE (2007) 99,49% dos domicílios são
atendidos pela coleta de lixo.
Estes dados demonstram que o município recupera a defasagem de serviços constatada
no início do século XIX, quando epidemias devastavam a população e retraia seu
desenvolvimento.
O crescimento econômico pode ser constatado na soma de todos os bens e serviços
produzidos pelas unidades produtoras da cidade, que resulta no Produto Interno Bruto PIB de
R$ 10.162,98 milhões de reais, sendo que o PIB per capita resulta no valor de R$ 17.580,93
22
CadÚnico instrumento de identificação e caracterização sócio-econômica das famílias cuja renda per capita seja igual ou inferior a meio
salário mínimo. Disponível em http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/miv/miv.php Acesso em 112/07/2009
36
reais, segundo dados do IBGE e Fundação Seade de 2006. A agropecuária tem um
desempenho tímido na economia local representado por R$ 6,74 milhões de reais.
Interessante observar que em apenas 4 anos o PIB de Sorocaba praticamente duplicou
seu valor. No ano de 2002 o PIB era de R$ 5.935,55 milhões de reais
23
, no entanto, o PIB per
capita em R$ 11.296,75 reais não acompanha esta mesma proporção seu progresso.
Sorocaba possui 1.820 indústrias de transformação instaladas, que ocupam 46.903
pessoas assalariadas, e segundo a SEADE a participação dos Vínculos Empregatícios na
Indústria em 2007 foi de 34,64% do total da população, com rendimento médio de R$
1.912,13, demonstrando alta em comparação com 23,94% do Estado e rendimentos de R$
1.800,36.
A cidade dispõe de um Distrito Industrial com 25 milhões de m2 dinamizado e com
planos de expansão que inclui a instalação do Parque Tecnológico Incentivado PTI
24
entre os
km 84,35, até o km 95 da Rodovia Castelo Branco, atingindo uma área de 20 milhões de m2.
Para a consecução deste projeto, a prefeitura apresenta uma previsão de investimentos de mais
de R$ 62,1 milhões em equipamentos públicos e infra-estrutura, além de uma gama de
Incentivos Fiscais com o propósito de atrair indústrias e abertura de postos de trabalho,
pressupondo desenvolvimento para a cidade e região.
O crescimento industrial, comercial e o desenvolvimento para um grande centro
urbano é visível. A Tabela 3 demonstra o percurso do desenvolvimento econômico da cidade
que praticamente triplica sua arrecadação em menos de uma década:
23
Disponível em http://www.seade.gov.br/produtos/pibmun/index.php Acesso em 26/06/2009
24
O PTI é uma ação de política pública , inserida no Plano Diretor do Município, através da Lei nº 7.122/04 alterado pela Lei nº 8.181/07
Disponível em ttp://www.sorocaba.sp.gov.br/PortalGOV/do/conhecendoCidade?op=viewForm&coEstruturaPai=12&coConteudo=26622
Acesso em 28/06/2009
37
Tabela 3: Evolução da Arrecadação dos Impostos Municipais de Sorocaba
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Sorocaba - Plano Municipal de Saúde de Sorocaba 2006-2009 p. 31
A atividade comercial, segundo o IBGE, conta com mais de 12 mil unidades na cidade
e o total de pessoas assalariadas é composto por 19.896 homens e 12.200 mulheres, sendo que
estas recebem em média salário inferior em R$ 170,00 aproximadamente
25
.
Este contingente aponta a importância do setor no cotidiano do sorocabano e percebe-
se a diferença de gênero no indicador rendimento.
O comércio varejista de mercadorias em geral, com predominância de produtos
alimentícios, representada por supermercados e hipermercados, segundo dados do Atlas de
Competitividade da Indústria Paulista, encontra-se em funcionamento em Sorocaba através de
75 estabelecimentos neste formato, com vínculo empregatício de 1.892 pessoas.
A presença de grandes redes de supermercados e hipermercados na cidade é recente e
cabe aqui fazer um breve resgate histórico deste segmento, tema desta pesquisa.
Em 1939 foi inaugurado o mercado municipal de Sorocaba
26
, que ocupa até os dias de
hoje a região central da cidade. Um ano depois, durante o mês de agosto, a Supermercearia
São Bento inicia sua trajetória como um pequeno armazém e se torna pioneira no interior do
Estado no auto-atendimento, modalidade que inicia seus passos no país
27
. Este
estabelecimento irá ultrapassar os anos e sobreviver à concorrência modernizando-se porém,
25
Disponível em -http://www.seade.gov.br/produtos/imp/index.php?page=tabela
Acesso em 28/06/2009
26
Jornal Cruzeiro do Sul - 24/08/86 –reportagem de Nilson Ribeiro-“Posso servi-lo, Senhor?”
27
Jornal Cruzeiro do Sul – 28/08/2000 –p. C-3
38
mantendo o charme do atendimento individualizado, que por sua localização é direcionado a
um seleto grupo de sorocabanos
Anos mais tarde, por volta de 1962, surge o empório e mercearia da família Molina,
que após quinze anos de funcionamento transforma-se para atender a uma demanda crescente
no Supermercado Molina com características peculiares do pequeno comércio, que pode ser
constatada na declaração à época da inauguração do Supermercado publicada por seus
proprietários:
28
“...sempre preocupado com seu cliente [...]os nossos maiores patrimônios”.
Durante a década de 1970 Sorocaba irá abrigar um hipermercado que surge também a
partir de uma mercearia. O Santo hipermercado é então inaugurado em 1978 com uma área de
15 mil metros quadrados e 2 mil para a área de vendas. A inovação na informatização, a
galeria de serviços complementares como bancos eletrônicos, não lhe tiram o “aspecto
familiar...e o jeito simples de atender”, como enfatizam os irmãos proprietários do
estabelecimento
29
.
As grandes redes que se formam a partir dos grandes centros urbanos enxergam em
Sorocaba a oportunidade para expandir-se e em 1984 acontece a inauguração do
Supermercado Real, natural de Porto alegre/RS. Instalado no interior do Shopping Sorocaba,
o supermercado pertence ao Grupo Joaquim Oliveira S/A, que agrega 13 empresas e 75
lojas
30
de propriedade um português radicalizado no Brasil e seu sócio e genro americano.
É um novo perfil, de origem externa, que em forma de Grupo e com idéias importadas
penetra na economia local, não mais o empresário sorocabano que progride. É a abertura às
novas redes de supermercados.
O segmento varejista prossegue em seu crescimento e o movimento na economia e sua
importância na cidade se faz perceber quando o prefeito comparece à inauguração da loja de
propriedade da Rede de Supermercados Supertuba, que acontece em 1986 no piso superior da
rodoviária.
A presença de representantes políticos será constante nos próximos eventos ligados ao
setor do comércio varejista supermercadista.
28
Jornal Cruzeiro do Sul – 1977- Suplemento “Quem Somos Nós-Sorocaba 324 anos”
29
Jornal Cruzeiro do Sul- 17/04/200 – p.B-2 “Aniversário do Sonho”
30
Diário de Sorocaba – 05/10/1984 –“Inaugurado no Shopping o maior supermercado da cidade”
39
A década de 1990 inaugura em Sorocaba a era do hipermercado internacional. A 12ª
loja do Grupo Carrefour de origem francesa se instala no interior do Esplanada Shopping e
durante 10 anos irá manter-se única neste formato na cidade.
A instalação em área nobre da cidade faz com que o conceito de compras para
abastecimento do lar adquira status e torne-se programa da família. Sua localização privilegia
o acesso às famílias das classes A, B e C que passam a apreciar eletroeletrônicos e produtos
diversos na loja, embora a predominância continue alimentícia nos itens adquiridos, segundo
informações de periódicos da época.
Em 1999 Sorocaba já ocupa a 10ª colocação do estado no Índice Potencial Consumo
IPC, segundo estudo Brasil em Foco da Target, dado que faz vislumbrar que o foco de
grandes empresas do setor de varejo no segmento supermercados voltem-se para a cidade,
num anúncio de “uma hiperguerra à vista”, disputando a simpatia do consumidor residente
em Sorocaba e região, segundo o Suplemento Investimento do Diário de Sorocaba
(11/12/1999 p. 3).
Confirmando a tendência, em 2000 é divulgada a inauguração de mais dois
hipermercados na cidade, ambos com a mesma peculiaridade: iriam ocupar o espaço
anteriormente destinado a duas indústrias têxteis.
A 29ª loja do Hipermercado Comper da rede originária do Mato Grosso do Sul,
instala-se na antiga fábrica de tecidos da Teba, numa área de 26.000m2 com o diferencial de
funcionamento 24horas, seguindo um padrão norte-americano de atendimento mais rápido e
personalizado. Em pouco tempo a empresa percebe que a região não está preparada para o
hábito noturno de compras e retrocede quanto ao horário de funcionamento. Em 3 anos esta
loja irá encerrar suas atividades na cidade.
Simultaneamente, o Grupo Pão de Açúcar também de origem nacional, adquire no
ano 2000, através de leilão, por R$ 11milhões, o prédio da antiga fabrica Santa Rosália, com
área de 50.000m2 onde pretende instalar o Hipermercado Extra.
Ambos empreendimentos apresentam previsão de investimentos na ordem de R$ 60
milhões e a promessa de geração de mais de 1000 vagas de empregos diretos
31
. Os
31
Diário de Sorocaba – 11/12/1999 – “Um Hiperguerra à Vista” p.3
40
empreendimentos são bem vindos e acontecem no momento em que o aumento demográfico
vegetativo e migratório, totaliza em média 27 mil pessoas, o maior pico entre 1996 e 2006.
Os prédios que outrora abrigavam as indústrias têxteis e justificavam o codinome de
“Manchester Paulista” definitivamente cedem lugar na economia local ao setor varejista
supermercadista, inaugurando uma nova fase na história da cidade.
Para a Associação Comercial e Industrial de Sorocaba ACIS
32
, o segmento de
supermercados trava uma concorrência benéfica ao consumidor e requer do comerciante local
iniciativas urgentes. Diante disto, novas articulações são empreendidas e 16 supermercados
de menor porte de Sorocaba e região se unem e dão início à Associação dos Supermercados
de Sorocaba e Região – Rede Bom Lugar, com enfoque na redução de custos e qualidade no
atendimento aos consumidores, valendo-se de sua proximidade com o cliente
33
. Esta
estratégia irá garantir a perenidade das lojas envolvidas e o consumidor é contemplado com o
comércio em seu bairro.
A conquista do consumidor passa a ser o foco das estratégias empreendidas pelas
redes locais e grandes redes, proporcionando um discreto favorecimento no acesso a produtos
essenciais, como comprova uma pesquisa realizada pelo Jornal Cruzeiro do Sul em 2001, que
aponta a redução de 3,08% no preço da cesta básica.
No ano de 2003 Sorocaba já conta com a 2ª loja do Grupo francês Carrefour, que se
instala, após meses de negociação, em uma antiga chácara próxima ao aeroporto de Sorocaba.
Com foco em área popular a Cooperativa de Consumo Coop já mantém 2 lojas na cidade, uma
delas ocupa o prédio onde funcionava o hipermercado Comper.
Em 2006 é a vez da rede Wal Mart marcar presença instalando-se na região nobre da
cidade, anunciando investimentos de R$ 40 milhões no empreendimento com abertura de 300
vagas para empregos diretos e outros 500 indiretos. As vagas disponibilizadas de operadores
de caixa, patinadores, empacotadores, auxiliares de limpeza e outros requerem o 2º grau
completo.
Destaque para anúncio em periódico local de que esta empresa irá executar ações de
cunho social habilitando-se como parceira do programa “emprego jovem” em que 10% dos
32
Diário de Sorocaba – 24/06/2000 – p. A-5 “Hipermercados baixam preço para disputar consumidor”
33
Diário de Sorocaba – 26/11/2000 – p. C-1
41
postos de trabalho serão destinados a quem não possuir experiência profissional e também aos
portadores de necessidades especiais, conforme anúncio no Jornal Cruzeiro do Sul
(01/11/2005 p.A-5). Este fato demonstra que a rede americana já assimila como diferencial a
prática de ações voltadas às necessidades da comunidade.
Passados 2 anos o Grupo Pão de Açúcar GPA inaugura sua 2ª loja do Hipermercado
Extra na cidade e a região nobre da cidade conta agora, num raio de 2km com lojas das 3
maiores empresas do país, segundo classificação da Associação Brasileira de Supermercados
ABRAS: Carrefour, GPA e Wal Mart.
Percebe-se que o movimento de imigração das grandes empresas do comércio varejista
pertencentes ao segmento de supermercados na cidade, entrelaça-se à sua história mais
recente modificando paisagens, hábitos, cultura enfim, acopla-se ao cotidiano do povo
sorocabano e da região.
42
CAPÍTULO II
APROXIMAÇÕES HISTÓRICAS E CONCEITUAIS DE RESPONSABILIDADE
SOCIAMBIENTAL EMPRESARIAL
Porque o homem branco é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo
quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga e depois de exauri-la ele
vai embora”
Carta do Cacique Seattle, 1855
34
1 - Antecedentes Históricos
Para entender o significado e desvendar a idéia propostos pelo termo Responsabilidade
Sociambiental Empresarial atualmente tão difundido, interpretado e presente nos mais
variados discursos com diferentes conotações, convém, como pontua Maria Lucia Martinelli
(2007, p.27) “procurá-los na dinâmica do processo histórico, descobri-los nas tramas
constitutivas do real”. Trata-se de identificar em sua raiz, ou o mais próximo a ela, os
elementos que forjam tal conceito.
A realidade contemporânea colhe frutos de uma Revolução Industrial que remexeu a
ordem das classes sem, no entanto, inverter a ordem da pirâmide social. Reinventou a
escravidão, desta vez com o consentimento do escravizado e sedimentou a desigualdade.
Explorou de forma ilimitada os recursos naturais e se eximiu diante da ausência de controle
no ciclo de vida de seus produtos e de seu processo de produção.
Ressurgiu a filantropia num contexto internacional em que temas como direitos
humanos, direitos do trabalho, meio ambiente e desenvolvimento sustentável ganham
destaque, aliados à satisfação de um consumidor que começa a descobrir sua força. Estes
elementos inspiram e orientam na formulação deste conceito que reaparece denominado ou
renomeado de Responsabilidade Social Empresarial.
A sociedade organizada em torno da produção e da lucratividade foi sedimentada
desde o século XVIII, com a cisão social entre os detentores dos meios de produção e o
34
Carta do Cacique Seattle Universidade Federal do Pará UFPADisponível em thttp://www.ufpa.br/permacultura/carta_cacique.htm Acesso
em 11/09/2009
43
operariado, proprietários da força produtiva. Os primeiros apropriavam-se dos lucros e
detinham, além dos recursos e o poder, as possibilidades de reverter um quadro de
desigualdade social que se colocava. A inabilidade social e ganância, direcionou os detentores
da riqueza desde a Revolução Industrial , limitando o acesso aos benefícios econômicos e
sociais à maioria da população formada por operários e que se instalava nas áreas urbanas em
busca de trabalho e inacessível ascensão.
O operariado, uma grande massa urbana, advinda dos campos e desprovida de
especialização, fazia frente a uma demanda industrial que progredia a largos passos através de
avanços tecnológicos nas áreas industrial, de comunicação e transportes. A parcela absorvida
pela indústria, longe de ser privilegiada, era exposta a longas jornadas de trabalho em
ambientes insalubres, em que se misturavam mulheres e crianças sem direitos reservados e
sem a necessária organização para reivindicá-los.
O patrão se utilizava da livre concorrência, postulado principal do liberalismo
econômico que vigorava nas primeiras décadas do século XIX, para justificar seu
comportamento. Neste período de desenvolvimento da economia capitalista baseado no
individualismo e no jogo das leis econômicas naturais a idéia central era a competição. Os
direitos sociais e humanos dos que lhe cediam sua força de trabalho em troca de qualquer
salário, são negligenciados diante da farta oferta de mão-de-obra.
O homem do campo, recém chegado à área urbana, como operário ou desempregado,
vai contar com a própria sorte, sem interferência do Estado, cujo papel vai se limitar a servir a
burguesia na repressão ao insurgimento contra a lei e a ordem. Adam Smith, economista
escocês, fundador da economia clássica, defende que o governo deve garantir a lei e a ordem
como seus atributos básicos, tendo como papel econômico a intervenção no caso da
inexistência do mercado ou de sua ineficiência. Os mercados, segundo este economista,
baseados na competição, funcionariam espontaneamente, sob a “mão invisível que governa o
mercado garantindo a alocação mais eficiente dos recursos e da produção, sem que haja
excesso de lucros”(CHIAVENATO, 2003, p.36).
44
Triunfa a burguesia e os intelectuais do liberalismo argumentavam sobre a
desigualdade social como necessária e justa. José Damião de LimaTrindade
35
(2006 ) cita
Patrick Colquhoun em 1806, que descreve o oportuno pensamento da época em A Treatise on
Indigence, como segue:
Sem uma grande proporção de pobres não poderia haver ricos, já que os ricos são
produto do trabalho, ao passo que o trabalho pode resultar somente de um estado de
pobreza. A pobreza, portanto, é um ingrediente indispensável e por demais
necessário da sociedade, sem o qual as nações e comunidades não poderiam existir
num estado de civilização (TRINDADE, 2006 p.34)
Agrava-se a situação do trabalhador. O fenômeno da especialização dilui sua
possibilidade de organização, condição primordial para a implantação de mudanças. Com
característica de operações parciais, em que cada setor fabrica uma parte e desconhece o
processo como um todo, este fator resulta, segundo Idalberto Chiavenatto em : “Apagar da
mente do operário o veículo social mais intenso, ou seja, o sentimento de estar produzindo e
contribuindo para o bem da sociedade” (CHIAVENATO, 2003 p.35 ) O trabalhador assim
alienado, retarda seu reconhecimento de poder e capacidade de articulação e possibilita à sua
revelia, o aprofundamento da exploração de seu trabalho e do abismo social que se deflagra.
Nesta dialética a marcha capitalista prossegue num modelo de pandemia e atinge o
Terceiro Mundo. Disseminada por grandes corporações
36
isentas de limites legais e
geográficos, internacionaliza a exploração através da utilização de mão de obra barata e
escrava dos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Estas empresas, que abastecem
prioritariamente sua matriz, sucateiam a economia e a cultura local, imprimindo um modelo
de consumo surreal praticado no primeiro mundo reproduzindo exclusão e frustração.
A manifestação dos efeitos colaterais da industrialização é evidenciada no século XIX
através do neocolonialismo, cujas motivações como ampliação de mercados consumidores,
exploração de matéria-prima a baixo custo e alternativa frente ao excedente populacional da
Europa, tornam essa prática imperialista aceitável. Países como África, Índia e Japão tornam-
35
José Damião de Lima Trindade- Procurador do Estado de São Paulo, membro do Grupo de Trabalho de Direitos Humanos da
Procuradoria Geral do Estado de São Paulo.Anotações sobre a História Social dos Direitos Humanos –Disponível em
damiao_hist_social_dh.pdf Acesso em 07/09/2009
36
No século XIX, a Siemens, a Remington e a Singer e em 1920, empresas como a Fiat, Ford, Unilever e Shell já haviam se tornado
multinacionais, primeiro passo para a chamada globalização das corporações multinacionais CMs (CABRAL, 2006 p.17)
45
se soluções das nações industriais e sua superprodução, gerando conflitos ainda maiores que
culminam na Primeira Guerra Mundial.
Após o conflito, a Conferência de Paz criou em 1919 a Organização Internacional do
Trabalho OIT, cuja constituição converteu-se na Parte XIII, Artigos 387 a 399 do Tratado de
Versalhes
37
. As raízes da OIT constam do início do século XIX, quando líderes industriais
como Robert Owen e Daniel Le Grand apoiaram o desenvolvimento e harmonização da
legislação trabalhista e melhorias nas relações de trabalho, baseados em argumentos
Humanitários, quanto às condições injustas e difíceis vividas pelos trabalhadores; Políticos
enfatizando a ameaça à Paz que os conflitos ensejavam e Econômicos, onde as condições
desumanas de trabalho de alguns países se constituiriam em dificuldades de melhores
condições em outras nações
38
.
Tida como uma das raras criações institucionais das quais a raça humana podia orgulhar-se, a
OIT recebe em 1969 o Prêmio Nobel da Paz.
Apesar das iniciativas de coibir a exploração do trabalhador, regulando a conduta das
empresas, esta prática vai perdurar e ultrapassar a passagem para o século XXI. O Relatório Violência
contra Povos Indígenas no Brasil 2006-2007, elaborado pelo Conselho Indigenista Missionário CIMI e
organizado pela antropóloga Lúcia Rangel, aponta o aumento de assassinatos e flagrantes de trabalho
escravo:
Em março de 2007, 150 indígenas que trabalhavam no corte de cana na Destilaria
Centro Oeste Iguatemi Ltda (Dcoil) foram libertados por fiscais da Delegacia
Regional do Trabalho/MS. Em novembro do mesmo ano,o Grupo Especial de
Fiscalização Móvel do Ministério do Trabalho e Emprego MTE descobriu 1.011
indígenas vivendo em condições degradantes na usina Debrasa. A maioria dos
resgatados pertencia ao povo Guarani-Kaiowá e inúmeros pertenciam ao povo
Terena (CIMI 2006-2007
39
)
Cada dia em maior número e organizados como novos sujeitos ativos da
transformação social anticapitalista, entre avanços e retiradas, os trabalhadores irão integrar
37
Tratado de Versalhes ou Tratado de Versailles - Tratado de Paz entre Aliados e Potências Associadas e a Alemanha, assinado em 28 de
junho de 1919 em Versalhes, na França, encerrando oficialmente a Primeira Guerra Mundial. Disponível em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Versalhes_(1919) Acesso em 10/08/2009
38
Disponível em www.oit.org.br ou www.oitbrasil.org.br ou http://www.ilo.org/global/lang--en/index.htm ou
http://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_Internacional_do_Trabalho
39
Conselho Indigenista Missionário CIMI- Relatório 2006-2007- Relatório Contra os Povos Indígenas no Brasil. Disponível em
http://www.cimi.org.br/?system=news&action=read&id=3134&eid=274
46
uma luta marcada por chacinas e massacres cujo intuito é coibir sua movimentação
principalmente no terreno político que se gestava com o marxismo no final do século XIX. As
idéias amadureciam para a análise concreta e a crítica real sobre a forma como a sociedade se
compunha: “Acumulação de riqueza num pólo é ao mesmo tempo acumulação de miséria, de
trabalho atormentado, de escravatura, ignorância, brutalização e degradação moral no pólo
oposto constituído pelo classe cujo produto vira capital” (MARX, 1980:749 apud CFESS,
Ética e Sociedade, 2007 p.42).
Cresce a pobreza e seu potencial numérico, surge então a caridade para amenizar o
sofrimento dos menos favorecidos como forma de compensação, numa pró-atividade exercida
pelos detentores da riqueza acumulada em parceria com a Igreja Católica, assumindo um
caráter de boa ação voluntária individual, creditando ao doador os méritos tradicionalmente
cristãos de desapego e solidariedade.
No Brasil, a insuficiência dessas iniciativas na regulação entre as classes sociais vai
culminar na década de 1930, no momento em que entra em cena o Estado com sua postura
paternalista e domesticadora, deslocando o eixo da questão social para onde pudesse controlá-
la, como pontua Maria Carmelita Yazbek (2006):
Ao reconhecer a legitimidade da questão social no âmbito das relações entre capital
e trabalho o governo Vargas busca enquadrá-la juridicamente visando à
desmobilização da classe operária e a regulação das tensões entre as classes sociais
mediante a Consolidação das Leis do Trabalho CLT, o Salário Mínimo, a
valorização da saúde do trabalhador e outras medidas de cunho controlador e
paternalista. Como mostra Ianni (1990) o Estado brasileiro transformou a questão
social em problema de administração desenvolvendo políticas e agências de poder
estatal nos mais diversos setores da vida nacional (YAZBEK, 2006)
Assim, a questão social não é trabalhada oportunamente em toda sua complexidade,
favorecendo seu enraizamento e reprodução por gerações. Resgatar o enfoque do tema para o
centro das discussões torna-se a bandeira de luta dos grupos em defesa dos excluídos e
ressentidos pela desigualdade social estrutural que se apresenta no país.
Hoje são nomeados de violações dos direitos humanos os atos de violência e
atrocidade que acompanharam a história da humanidade. No Brasil, estas violações estão
expressas pelo massacre e escravização dos povos indígenas e africanos, exploração do
47
trabalhador e imigrantes, desigualdade social cuja trajetória inclui propriedade de terras
determinada pelo latifúndio, aqui entendido como vasta propriedade territorial pouco
explorada, cultivada por trabalhadores agrícolas por conta de um proprietário não residente
40
.
O conflito em razão do território envolve forças conservadoras e agricultores que na
contemporaneidade empenham sua vida tentando corrigir os rumos que o país historicamente
toma.
Mundialmente, as atrocidades pautadas no preconceito atingem seu ápice na Segunda
Guerra Mundial, em que mais de 30 milhões de civis perdem a vida, além do exorbitante
número de soldados mortos. Estes acontecimentos motivam a refundação da Organização das
Nações Unidas ONU, anteriormente Liga das Nações, e Convenção de Genebra, para a
revisão das leis que regem as guerras.
A seguir, a Declaração Universal dos Direitos Humanos é proclamada pela ONU em
1948, com objetivo de impedir que tragédias como as geradas no conflito da Segunda Guerra
se repetissem. Esta Declaração, baseada nos princípios de Dignidade, expressa pela
consciência de si e o reconhecimento da comunidade deste valor; na Igualdade, na Liberdade
e na Justiça, é expressa por Dom Pedro Casaldáliga (2002, p.85) que a resume desta forma:
apenas gente, todo homem e toda mulher são pessoas [...] não é um cara; é uma pessoa.
Não é uma vagabunda; é uma pessoa. Não é um estrangeiro; é uma pessoa; não é um
mendigo (para brincar de fogo com ele!); é uma pessoa”.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos tem seu ideal como diretriz para
resolução de conflitos de forma pacífica, localiza vítima e violador. Conflitos, entendidos aqui
como na definição de Norberto Bobbio (2004 apud ITS Brasil): “Uma forma de interação
entre indivíduos, grupos, organizações e coletividades que implica choques para o acesso à
distribuição de bens escassos”; conflito que expressa desejos, valores e necessidades
incompatíveis.
Isto posto, pressupõe-se que qualquer iniciativa por parte do poder público, sociedade
civil organizada ou não, empresas ou por qualquer cidadão, que não prime pela preservação
dos direitos humanos, visto como acesso aos meios de suprir as necessidades básicas do ser
humano como direito à vida, à alimentação saudável, à moradia, à educação, à liberdade de
40
Disponível em http://www.priberam.pt/DLPO/default.aspx?pal=latif%C3%BAndio Acesso em 14/07/2009
48
expressão, à liberdade política sem discriminação quanto a sexo, raça, idade, etnia, opção
religiosa, orientação religiosa ou qualquer forma que promova a desigualdade, poderá estar
fadada à derrota, não será sustentável e pode tornar-se uma violação.
Observa-se que todos são chamados a participar da implantação e aperfeiçoamento da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, posto que sua formulação está em permanente
construção, de acordo com o surgimento de necessidades a serem supridas, como por exemplo
a inclusão digital na contemporaneidade. Wagner D’Angelis, em seu artigo “Os Direitos dos
Povos ou da Solidariedade” indica que: A nível individual, os três primeiros mandamentos
dos que desejam a paz e a justiça são: descruzar os braços, jamais perder a esperança e
nunca caminhar sozinho”. Atitude pró-ativa na busca de conhecimento que ampare
estratégias e a formação de redes são indispensáveis ferramentas para a luta em prol do bem
comum.
A realidade mundial do pós-guerra apresenta-se na consolidação da hegemonia norte-
americana no âmbito capitalista, na formação e consolidação das corporações transnacionais
41
cuja tecnologia baseia-se primordialmente na automação do processo produtivo, e a
demarcação nítida entre países desenvolvidos do Norte e seus mercados regionais que se
disseminam no planeta e, por outro lado os países subdesenvolvidos do Sul.
A globalização expande-se sem limites de onde e como penetrar no mercado,
ampliando o ambiente competitivo e acirrando a disputa que pressiona pela redução dos
custos, o que vai comprometer as relações de trabalho, segundo o Instituto Observatório
Social IOS:
A globalização também estimula uma divisão internacional do trabalho entre dois
tipos de trabalhadores: os que estão articulados às redes de produção de
conhecimento intensivas em capital intelectual e aqueles trabalhadores vinculados
às cadeias de baixo valor agregado. Por receberem baixos salários, este últimos são
colocados, na atual lógica, na condição de cidadãos de segunda classe (IOS, 2004 p.
12)
41
Empresas Transnacionais- têm sua matriz em um país. ,as grande parte de suas operações ocorre em outros países, que não os de origem.
Empresas Internacionais –estão baseadas em um país, mas comercializam em outros países. Empresas Multinacionais – podem estar
baseadas em um país, mas ter bases em outros países para gerência, fabricação ou distribuição. Empresas Globaispodem também ser
transnacionais ou supranacionais, que fabricam componentes diferentes em diversos países para depois manufaturar um produto final que é
então vendido globalmente. Instituto Observatório Social IOS -Responsabilidade Social Empresarial: perspectivas para a Ação Sindical-
Florianópolis: IOS, 2004 p19.
49
Dividida a classe trabalhadora é enfraquecida no seu potencial de luta até o início dos
anos 1980. Neste momento, a desigualdade social e sua nitidez motivam alguns grupos a
pensar no fenômeno da globalização como produtor de polarização de condições de vida
ultrapassando seu caráter inicial tido como sinônimo de desenvolvimento acessível a todos.
Questiona-se a partir daí a forma de produção e o custo social desta prosperidade unívoca.
A legislação no âmbito trabalhista e ambiental não acompanha neste momento o
acelerado processo de globalização, e os países subdesenvolvidos e em desenvolvimento
tornam-se atraentes na oferta de mão-de-obra barata e recursos naturais abundantes e
precários em sua regulamentação, excelente opção de destino das multinacionais.
A idéia inicial de progresso científico e tecnológico acionado por esta hospitalidade é
substituída pelo aumento da desigualdade numa distribuição de renda matematicamente
incompreensível.
Segundo Maria do Carmo Brant Carvalho (2005) isto repercute no cotidiano e na
prática social diretamente como:
Enfraquecimento da classe trabalhadora como sujeito político real. O esvaziamento
quase total de um processo de solidariedade espontânea por um processo de
solidariedade mecânica emanada do Estado. A perda de visibilidade dos valores
essenciais ao desenvolvimento do homem enquanto ser singular e social e, com eles,
a perda de referências para a transformação da sociedade. (CARVALHO, 2005 p.35)
Para a referida autora, o Estado como mediador econômico e social conduz de forma
autoritária os serviços sociais de forma fragmentada, consagrando a desarticulação dos
excluídos e sua conseqüente alienação no momento em que a esquerda mantém-se atada a
antigas fórmulas ineficazes frente a necessidade de um “novo arranque revolucionário [...]
como se todo um povo dormisse um sono profundo do qual não quer acordar”(Carvalho,
2005 p.36).
A constatação de que a redução do custo tem a função de aumento do lucro, desperta
questionamentos quanto à função social da empresa mudando seu eixo de análise. A empresa
desce do trono no ideário mundial
42
e sua perenidade passa a ser conectada ao ser humano a
42
As empresas alemãs Daimler-Benz AG maior companhia industrial do país, e a Bosch, fabricante de componentes eletrônicos e
automobilísticos, a indústria automobilística Volkswagen e a empresa Siemens AG foram denunciadas pelo sindicato dos metalúrgicos por
lucros obtidos com a utilização de mão de obra escrava durante a Segunda Guerra Mundial. Segundo o sindicato, no final do conflito a
50
quem ela serve ou deveria servir. (BAISAGOITI 1999 p. 28 apud LIMA, 2005 p.68-131)
ilustra esta constatação quando cita que: “A empresa, por natureza antes de mais nada, é um
ente social, um ente que nasce com uma necessidade social para servir à sociedade; um ente
que morre no momento em que não cumprir esse requisito[...] a empresa existe a partir do
homem a quem ela serve” .
É a partir desta reflexão que a Responsabilidade Socioambiental Empresarial surge
como resposta a provocação da sociedade, que se utiliza da condição de consumidor para agir
neste cenário como protagonista. Enquanto a competitividade livre de restrições favorecia as
empresas, a força inegável da opinião pública vai julgar seu comportamento tendo como
balizador as normas sociais aceitas, local e globalmente, repercutindo na sua reputação
43
.
Robert Henry Srour (2005) descreve a reputação como ativo intangível, cujo valor pode
significar uma porcentagem importante do empreendimento; sua consistência está diretamente
ligada à satisfação da expecttativa dos clientes. “Os clientes compram e pagam mais pelas
reputações, imagens e marcas” (SROUR, 2005 p. 319)
O “Caso Nike” torna-se um clássico que aponta como a pressão da sociedade pode
redirecionar as estratégias de uma organização. A empresa foi acusada do uso de trabalho
infantil na manufatura de bolas de futebol no Paquistão, afetando suas operações em âmbito
global. A queda no preço de suas ações na Bolsa de Valores despencou de US$ 74 para US$
36, durante o processo. Isso demonstra como a responsabilidade da empresa está diretamente
ligada à sua cadeia produtiva. Embora tenha sido favorável o resultado final, o desgaste da
imagem e os custos para a recondução ao eixo original demandaram tempo, recursos
financeiros e humanos para a organização.
São inúmeros os exemplos em que o consumidor influenciou a entrada ou saída do
lucro dos cofres das empresas. Cabe aqui discorrer, a título de exemplo, o caso da Botica ao
Veado D´Ouro. Desde 1858 a empresa funcionava como farmácia de manipulação e em 1998
envolveu-se com falsificação de medicação indicada para tratamento de câncer de próstata,
com suspeita de dez óbitos em virtude desta atividade, detonando boicote por parte dos
clientes e seu proeminente colapso.
Daimler tinha 25.000 trabalhadores escravos e a Volks que foi explicou uma das doze mil empresas alemãs que usaram trabalho escravo
naquela época (José Damião de Lima Trindade, Anotações sobre a História Social dos Direitos Humanos) damiao_hist_social_dh.pdf
43
Reputação é um recurso intangível que não pode ser imitada e replicada pelos concorrentes; as empresas têm uma imagem a resguardar,
patrimônio essencial para a continuidade dos negócios. (RUSSO e FOUTS, 1997 apud BORGER, 2001 p.27).
51
Recentemente, a empresa de consultoria Arthur Andersen, que em 2001 estava
presente em muitos países empregando uma média de 85 mil pessoas e detentora de uma
receita mundial anual de US$9,3 bilhões, foi a bancarrota no ano seguinte após denúncias de
manipulação de balanços contábeis envolvida com a Enron e WorldCom. Mais do que o
patrimônio financeiro, seu patrimônio moral havia se dilapidado.
Assim sucedeu de forma mais branda e mais rapidamente resolvida com a Danone na
França, frente a uma demissão em massa; a Coca-cola nos Estados Unidos quando denunciada
por racismo; Unilever, Procter & Gamble, da Reckitt-Colman, por uso de animais silvestres
em seus testes de laboratório; Reebok e Gap, esta última empresa envolvida em utilização de
mão-de-obra escrava no Sudeste Asiático através de fornecedores terceirizados.
Robert Henry Srour (2005) destaca que essencialmente a competição econômica e a
farta concorrência; a legislação e organização em torno do consumidor e a visibilidade global
da mídia atenta quanto a atitudes nocivas ao ser humano, possibilitam a rápida resposta da
sociedade às empresas, de forma positiva ou negativa, porém, decisiva.
É neste sentido, para resguardar sua imagem e reter o movimento antiglobalização,
que as empresas vão reagir através de ações que respondam às expectativas da sociedade,
expectativas estas que dizem respeito à padronização no atendimento às normas e
regulamentos já estabelecidos legalmente e, ir além e inovar na busca de novas tecnologias
sociais.
Os conceitos em geral sobre a RSAE combinam quatro funções atribuídas às
empresas, segundo o IOS (2004):
Responsabilidade Econômica – a principal função das empresas é produzir bens e serviços que a
sociedade demanda e vendê-los com lucro;
Responsabilidade Legal – as empresas devem exercer sua atividade produtiva respeitando a
legislação vigente;
Responsabilidade Ética – são comportamentos e normas éticas que a sociedade espera que sejam
seguidos pelas empresas;
52
Responsabilidade Filantrópica – o papel social das empresas assumido voluntariamente, sem clara
expectativa da sociedade. As ações são escolhas individuais de administradores e corporações, que
julgam onde devem investir tempo, dinheiro e talento (Carrol, 1999 apud IOS, 2004 p. 17)
A empresa é constituída para gerar lucros e paga impostos para que o governo atue na
assistência social em socorro ao restante da população que não detém os meios de
sobrevivência incluindo os empregados afastados por licença médica e aposentados cuja
remuneração não permita acesso à saúde, educação, lazer etc. Esta visão endógena vai sofrer
modificações quando os movimentos sociais se posicionam contra o lucro a qualquer preço
praticado até então.
Nos Estados Unidos, na década de 1960, a bióloga Rachel Caron publicou o livro
Primavera silenciosa, no qual denunciava a utilização de pesticidas e inseticidas químicos
sintéticos, a exemplo do DDT, como nocivo à saúde humana e ao meio ambiente, evocando
um amplo debate em torno da responsabilidade empresarial (PARENTE, 2004).
No circuito global surgem diretrizes para a RSAE ao lado da Declaração Universal dos
Direitos Humanos. Na década de 1970 as Diretrizes da Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico OCDE para empresas multinacionais e a Declaração Tripartite
da OIT para Empresas Multinacionais e Política Social vêm ao encontro das necessidades das
empresas quanto ao direcionamento estratégico que atenda às reivindicações desta nova
sociedade mais madura que adquire o status de parte interessada ou Stakeholder.
A pressão da sociedade também é exercida sobre o governo no sentido de que políticas
sociais corrijam a desigualdade social instituída. A visão míope de desenvolvimento e
progresso que atende apenas uma parcela da população já não convence. O IDH é criado por
Mahbub Ul Haq com a colaboração do economista indiano Amartya Sen como contraponto ao
PIB na década de 1990 e acrescenta ao indicador econômico, a expectativa de vida e educação
como dimensões de desenvolvimento.
No entanto, o debate que se trava sobre a RSAE considera as interpretações diversas
em que as partes interessadas se pautam. A universalidade dos direitos não é contemplada
neste escopo de iniciativas, da sociedade e da empresa, que privilegiam sua área de atuação e
53
seus stakeholders imediatos. Nesta discussão sobre responsabilidades o IOS (2004) apresenta
que:
No centro deste debate está o confronto Welfare State x Welfare Capitalism (Estado
de bem-estar social x bem-estar social promovido pela iniciativa privada): é dever
do Estado garantir e assegurar o bem-estar de toda a população, e não atribuir a um
reduzido número de empresas a garantia de algumas poucas vantagens para suas
principais partes interessadas (IOS, 2004 p.25).
No Brasil a RSAE segundo os autores Paulo Rogério dos Santos Lima (2005); Ilana
Goldstein (2007); Anne Louette (2006 e 2009) encaminha-se no tempo.(ANEXO III).
A Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT foi convidada a liderar junto ao
Instituto Sueco de Normalização SIS o Grupo de Trabalho sobre Responsabilidade Social da
Organização Internacional de Normalização ISO para definir a ISO 26000 – Guidance on
Social Responsability.
São muitos os avanços na área da RSAE, porém, o desafio de impor regras ao jogo já
iniciado exige uma revisão de valores e mudanças de paradigmas, processos que envolvem
vontades, atitudes e opções. Adentrar no campo das relações sociais requer disposição e
entendimento de sua complexidade.
Explorar o contexto em que a reflexão sobre a Responsabilidade Socioambiental se
efetiva exige mencionar as iniciativas do poder público e da sociedade civil que marcam o
século XX e a vida de todos os brasileiros.
No Brasil, após 20 anos de ditadura militar, é promulgada a nova Constituição Federal
de 1988 que confere novo status à Assistência Social, tratada agora como dever do Estado e
direito do cidadão. Os direitos sociais a educação, a saúde, ao trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados foram expandidos e reconhecidos como direitos fundamentais, tornando-a
conhecida como a “Constituição Cidadã”.
Esta Constituição, ao inovar no campo da assistência social afirma que: “A assistência
social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade
social e tendo por objetivos”:
54
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
I - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à
vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.(ART. 203
CF/88)
Uma nova agenda é proposta pela Política Nacional de Assistência Social a partir da
CF/88 que após o período de preparação para sua implantação, se inicia em meados do século
XXI. Os Programas de Transferência de Renda como Programa Bolsa Família PBF e
Benefício de Prestação Continuada BPC vão remexer toda a base da pirâmide.
As condicionalidades do PBF
44
movimentam os indicadores favoravelmente. Embora
apresente resultados positivos, de acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2007/2008), constata-se que apesar de
resgatar 14 milhões de pessoas da condição de pobreza, a desigualdade prevalece no país onde
: “os 20% mais pobres do Brasil apropriam-se de apenas 2,8% da renda nacional. De outro
lado, os 20% mais ricos detém 61,1% dessa renda” (IDH, 2007/2008). Não é mais possível
ignorar em todo território brasileiro o problema da desigualdade social e a consequente
dificuldade de acesso à satisfação de necessidades básicas para a maioria da população.
No entanto, durante a década de 1990 dentro do projeto neoliberal, retrocede o Estado
e toda sociedade é chamada a participar no conserto de um erro histórico que demandou a
desigualdade social no Brasil, que com suas dimensões profundas destaca o país neste quesito
frente ao restante do mundo.
44
As condicionalidades são compromissos nas áreas de Educação, referente à frequência escolar de crianças e adolescentes; Saúde, que
inclui calendário vacinal, pré-natal das gestantes e nutrizes, e Assistência Social, com frequência mínima de 85% relativa aos serviços
socioeducativos para crianças e adolescentes de até 15 anos em risco ou retiradas do trabalho infantil. Disponível em
http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/condicionalidades/o-que-sao-condicionalidades Acesso em 10/08/2009
55
Esta evolução da RSAE abrange principalmente a partir dos anos 1970 a discussão
sobre meio ambiente diante do enorme esgotamento dos recursos naturais. Nesse sentido, em
1972 o Clube de Roma
45
apresenta o documento World Scientists’ Warning to Humanity,
assinado por 1.600 cientistas de 70 países incluindo 102 laureados com o Prêmio Nobel e
expõe o panorama desenhado por um modelo econômico voraz e inconseqüente. A indicação
é de que: “Os seres humanos e o mundo natural estão em rota de colisão [...].A alteração da
biosfera é de tamanha forma que a própria pode se tornar incapaz de sustentar a vida na
forma que a conhecemos”.
Os dados do Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008 – Combatendo a
Mudança Climática : Solidariedade Humana num Mundo Dividido, alertam que os países
pobres que pouco influem para o aquecimento global, serão os mais afetados por suas
consequências.
A necessária reorganização da sociedade requer uma nova postura e urgente quebra de
paradigmas frente a efetiva desigualdade social. A finitude dos recursos naturais e da
biodiversidade, bem como a necessária administração dos resíduos produzidos faz surgir
inúmeras iniciativas em âmbito mundial apresentados em forma de padrões, normas,
referências, certificações, indicadores, princípios orientadores, modelos de relatórios etc.
Precedida no Brasil pela criação em 1974 da Secretaria Especial do Meio Ambiente e
em 1981 pela lei federal da Política Nacional do Meio Ambiente, a Constituição Federal de
1988 dedica um Capítulo ao direito fundamental de um meio ambiente ecologicamente
equilibrado.
Esta legislação mostra-se alinhada às iniciativas internacionais quando no caput do
artigo 225 elenca a sustentabilidade e distribui em seus parágrafos a responsabilidade entre o
Poder Público, pessoas físicas ou jurídicas, envolvendo toda a sociedade. Em especial, o § 1º
Artigo VI , que trata da incumbência do Poder Público na promoção da educação ambiental
nas escolas e espaços públicos, vem ao encontro da real necessidade de que todos participem,
pois não há preservação ambiental sem a colaboração efetiva da população mudando seus
45
Um grupo de lideranças de vários segmentos da sociedade se reuniram na década de 1960, num vilarejo em Roma, na Itália, em torno de
discussões sobre problemas globais de longo prazo, conceituados pelo grupo como World Problematique. Disponível no site institucional do
Capítulo Brasileiro do Clube de Roma, - http://www.clubofrome.at/brasil/archive/index.html Acesso em 02/05/2009
56
hábitos, reivindicando, participando e buscando informações a respeito da preservação do
meio ambiente.
Tratando-se da Responsabilidade Social Empresarial, entende-se que o cumprimento
da legislação é um pressuposto para sua prática, em sua linha de produção e em sua cadeia
produtiva.
O atendimento, ou a disposição para o atendimento a alguns critérios nacionais e
internacionais torna-se a forma de diferenciar as empresas que se dispõem a atender um
padrão mínimo proposto globalmente que a classifiquem como sociamente responsável.
Dentre outros critérios, foram elencados os que significativamente compuseram os
antecedentes históricos da R S E sem a pretensão de esgotar seu escopo
46
:
Iniciativas Globais
Diretrizes da OCDE para Empresas Multinacionais
Agenda 21
Princípios do Global Compact
Objetivos do Desenvolvimento do Milênio ODM
Carta da Terra
Convenção da ONU Contra Corrupção
Direitos Humanos -
Declaração Universal dos Direitos Humanos
Normas das Responsabilidades de Corporações Transnacionais e Outras Empresas em Relação aos
Direitos Humanos
46
Os critérios citados neste trabalho foram extraídos da publicação Critérios Essenciais de R S E e seus Mecanismos de Indução no
Brasil-realizada peloInstituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social-2006. Disponível em www.ethos.org.br
Acesso em 17/07/2009
57
Direitos das Relações de Trabalho
Guia de Normas Internacionais do Trabalho
AS 8000 – social Accountabillity 8000
Princípios e Direitos Fundamentais do Trabalho e seu Segmento
OHSAS 18001 Occupational Health Safety Assesment Series
Diretrizes sobre Sistemas de Gestão de Saúde e Segurança Ocupacional (ILO – OSH 2001)
Proteção das Relações de consumo
Diretrizes da ONU para Proteção do Consumidor
Meio Ambiente
The Natural Step TNS
Convenção sobre Diversidade Biológica CDB
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
Princípios do FSC
Série ISO 14000
Convenção – Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima
Convenção de Viena para Proteção da Camada de Ozônio
Convenção de Estocolmo sobre os Poluentes Orgânicos Persistentes
Governança Corporativa
OCDE – Princípios de Governança Corporativa
IBGC Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa
Recomendações da CVM sobre Governança Corporativa
Iniciativa Setorial Internacional – Setor Financeiro
Princípios do Equador
58
Iniciativa Setorial Nacional
Princípios Básicos de Responsabilidade Social – Associação Brasileira das Entidades Fechadas de
Previdência Complementar (Abraapp) / Ethos
Índice de Sustentabilidade Empresarial ISE Bovespa
Implementação de R S E
Balanço Social Ibase
AA 1000
Indicadores Ethos
Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade da Global Reporting Initiative GRI
ABNT-NBR 16001-2004–Norma Brasileira:Responsabilidade Social–Sistema de Gestão-Requisitos
(ETHOS, 2006)
Embora ampla, esta listagem de critérios exprime o que basicamente uma empresa
deve balizar para tornar-se apta a responder como empresa socialmente responsável,
pressupondo-se aqui que esta empresa cumpra a legislação pertinente à sua atividade.
No Brasil, pode-se supor frente às iniciativas global e localmente implantadas que o
movimento para a RSAE tenha se fortalecido, contudo, estas atividades são insuficientes
diante do desafio que se apresenta, segundo Relatório de Pesquisa RP0702 da Fundação Dom
Cabral :
As ações combinadas dos governos, empresas e sociedade civil para o
desenvolvimento sustentável estão sendo atropeladas pela escalada de problemas – a
maioria dessas iniciativas ainda está desconectada das principais estratégias de
negócios, resultando em atividades conflitantes, tais como adotar medidas de
responsabilidade corporativa e, ao mesmo tempo, atuar em lobbies para reduzir os
padrões ambientais e sociais (FDC, 2007 p.14-15)
No Brasil, 75% das emissões de gases de efeito estufa vêm de desmatamento e
queimadas. Com maior expansão de pastos localizada na região amazônica, entre 1990 e 2005
a pecuária ocupou entre 75% e 81% do total desmatado para abrigar um rebanho bovino que
59
chega a 207 milhões de cabeças. O desmatamento cresce com o aumento do preço da carne e
80% da madeira vendida no país sai de áreas de desmatamento
47
.
Para o IOS (2004) existem dois modelos de RSAE: o primeiro, considerado
dominante é baseado nas experiências norte-americanas dos anos 1950 com as características
de ser elaborado pelas empresas e não dividir esta tarefa com seus stakeholders, reservando
unicamente aos trabalhadores a função de voluntários nos programas sociais sem mudanças
efetivas e não tecendo junto a sua cadeia produtiva e de fornecedores um padrão mínimo de
atitudes com respeito a legislação e atuação socialmente responsável; as ações pautam-se em
atividades filantrópicas desvinculadas de seu processo de produção e o balanço social não são
verificados e sua publicidade está direcionado ao marketing.
O segundo modelo nomeado emergente reconhece o trabalhador como stakeholder,
admite a RSAE nos seus processos de produção e gestão, estendendo este conceito a sua
cadeia de produção; busca complementar as ações públicas; inclui em seus balanços temas
relevantes a todos os interessados, com transparência e referindo-se a normas e padrões
internacionais posicionando-se de forma peremptória quanto ao assunto. (IOS, 2004)
Os limites e desafios para a implantação da RSAE permeiam a história e encontram na
atualidade o conservadorismo amparado no capitalismo pautado no lucro acima de qualquer
outro valor, inclusive o da própria sobrevivência.
Faz-se necessário adentrar nas tramas que envolvem a elaboração de suas principais
abordagens conceituais, numa aproximação que demonstre o que hoje está em pauta. Esta é a
proposta de que se incumbe tratar a seguir.
47
Movimento Nossa São Paulo –Sucesso do Plano Nacional sobre Mudança de Clima dependerá também de ações do consumidor
Instituto Akatu 20/01/2009. Disponível em http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/node/2363 Acesso em 17/07/2009
60
2 – Principais Abordagens Conceituais de Responsabilidade Socioambiental
Empresarial
O termo Responsabilidade Sociambiental Empresarial é pauta de discussões e
reflexões em que teorias contemporâneas buscam uma definição que contemple seu amplo
escopo. A complexidade e subjetividade que envolve as questões éticas e sociais tornam a
tarefa árdua, pois diz respeito a valores, culturas, comportamentos e implicam em mudança de
paradigmas.
Responder a questões de ordem prática no cotidiano como: “O que é a RSAE ?”;
“Qual a forma correta de aplicá-la?” ou “Como verificar sua efetividade?” longe de serem
questões de fácil solução, apontam para a recente inserção do termo no mundo dos negócios e
o amplo leque de possibilidades que o cerca.
A literatura converge e diverge num movimento uniforme a fim de administrar o
terreno contraditório em que se dá esse debate. Sem a pretensão de esgotar o assunto, buscou-
se a fonte das abordagens de RSAE utilizadas pelos principais Institutos brasileiros que
trabalham a questão na atualidade, ratificados por autores ligados ao tema.
A caminho do consenso, o Grupo de Trabalho ISO 26000 constituído por 78 países
liderados por Suécia e Brasil, representado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABNT, aponta para o conceito preliminar em que a Responsabilidade Socioambiental
Empresarial se define por:
Ações de uma organização (empresas, poder público ou organizações da sociedade
civil organizada) para assumir responsabilidades pelos impactos de suas atividades
sobre a sociedade e o meio ambiente. Estas ações precisam ser: consistentes com os
interesses da sociedade e do desenvolvimento sustentável; baseadas no
comportamento ético, em conformidade com a legislação aplicável e instrumentos
intergovernamentais e integradas às atividades cotidianas da organização (ETHOS,
2008)
Esta abordagem pressupõe a pró-atividade da organização diante dos efeitos
produzidos por sua atividade, assumindo práticas que demonstrem o retorno à sociedade e
meio ambiente. Dispõe ainda, sobre a efetividade destas ações pressupondo comportamento
ético em seu cotidiano na garantia de sua perenidade. O destaque para essas qualidades ao se
61
falar em R S E, que incluem ações éticas, juridicamente satisfatórias, efetivas em sua
intervenção e perenidade está pontuado por Patrícia Almeida Ashley (2001), detalhando-as
na definição a seguir:
Trata-se do compromisso contínuo nos negócios pelo comportamento ético que
contribua para o desenvolvimento econômico, social e ambiental, pressupondo a
realização de decisões dos agentes econômicos (stakeholders) que sejam resultado
da reflexão quanto aos seus impactos sobre a qualidade de vida atual e futura de
todos os que sejam afetados por estas decisões ( ASHLEY, P. A. 2001)
Para a autora, uma linguagem para a RSAE deve partir de 3 perguntas: Para quem?
Até que ponto? E Em que sentido a empresa deve ser ou entende ser socialmente responsável?
Na visão de Falconer (1999 apud LIMA, 2005 p.73) ainda é possível encontrar o que
denomina Cidadania Empresarial como um termo que vem sendo utilizado para descrever o
papel da Responsabilidade social e Ambiental das empresas:
Não se trata exclusivamente de filantropia no sentido de caridade desinteressada,
mas de enlightened self-interest, ou investimento estratégico: um comportamento de
aparência altruísta, como a doação a uma organização sem fins lucrativos, que
atende também a interesses (mesmo que indiretos) da empresa, como a contribuição
à formação de uma imagem institucional positiva ou o fortalecimento de mercados
consumidores futuros
.Na defesa de seu próprio interesse de longo prazo,
empresas adotam a prática de apoiar atividades como projetos de
proteção ambiental, promoção social no campo da educação e saúde,
dentre outros. O envolvimento de empresas se realiza tipicamente
através de doações de recursos, da operação direta de programas ou
através das relações genericamente denominadas “parcerias” com as
organizações da sociedade civil.
Numa visão sistêmica e atuação coletiva, com a incorporação de novos rumos de
gestão, a mediação com os stakeholders e uma postura ética e transparente, compõem na
visão da Associação Paulista de Supermercados APAS que em seu site institucional define a
RSAE :
62
Ser socialmente responsável implica em considerar sempre, em quaisquer
circunstâncias, a possibilidade de substituir a parte pelo todo, a visão única pelo
olhar abrangente, a ação isolada pela atuação coletiva. No âmbito corporativo, a
Responsabilidade Social trouxe para as empresas uma nova forma de administração
e de condução dos negócios. Ela impõe um compromisso com o desenvolvimento
social, abrangendo os múltiplos relacionamentos da empresa, como acionistas,
funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade,
governo e meio-ambiente. Os princípios e valores passam a ser guiados pela ética e a
linha de atuação
da empresa passa a ser a busca permanente pela coerência entre o
discurso e a ação (APAS, 2009)
A qualidade da relação com os públicos que afetam ou são afetados pelas atividades da
empresa, como resultado das práticas de diálogo e gestão empreendidas é um desafio a ser
enfrentado ao lado da acirrada competitividade. A RSAE movimenta o empresariado no
sentido de deslocar-se do discurso da boa vontade para ações efetivas, planejadas, monitoras e
avaliadas, garantindo sua continuidade através de sua assimilação nos processos de gestão. A
mensuração e publicização dessas ações tornam-se condições para sua validação frente à
sociedade.
A demanda por diretrizes leva empresas brasileiras de vários portes e setores de
atividades a fundar em 1998 a organização sem fins lucrativos com denominação de Instituto
Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Com foco na gestão, a definição do conceito
de RSAE disponível no site do Instituto Ethos perpassa a disseminação das metas e
convicções desta por todos os públicos interessados, com enfoque para a qualidade desta
relação que se pauta em um código de ética próprio em que a empresa interessada vislumbra
sua visão ou missão de forma clara e precisa :
Responsabilidade Social Empresarial é a forma de gestão que se define pela relação
ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona
e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento
sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as
gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das
desigualdades sociais (ETHOS, 2007)
No sentido de elevar a qualidade de vida presente e futura e agindo de forma a
diminuir as desigualdades sociais, com enfoque nas relações construídas, atitude ética frente
aos Stakeholders e meio ambiente, bem como o respeito à diversidade, Srour ( 1998 apud
Cardoso, 2006 p.50) aduz que a empresa socialmente responsável exige:
63
Relações de parceria entre clientes e fornecedores, produção com qualidade ou
adequação ao uso com plena satisfação dos usuários, contribuições para o
desenvolvimento da comunidade, investimentos em pesquisa tecnológica,
conservação do meio ambiente mediante intervenções não predatórias, participação
dos trabalhadores nos resultados e nas decisões da empresa, respeito ao direito dos
cidadãos, não discriminação dos gêneros, raças, idades, etnias, religiões, ocupações,
preferências sexuais, investimentos em segurança do trabalho e em desenvolvimento
profissional. (
SROUR1998 apud CARDOSO, 2006 p.50)
A Responsabilidade Socioambiental Corporativa, é descrita como um patamar em que
as expectativas são superadas em relação a todos os compromissos da empresa no que tange à
legislação, planejamento estratégico e relacionamento com os Stakeholders. Seu caráter de
compromisso ético permeia os setores econômico, ambiental e social de suas atividades
focando o local e o global, como segue:
[...]comprometimento permanente dos empresários em adotar um comportamento
ético e contribuir para o desenvolvimento econômico, melhorando,
simultaneamente, a qualidade ambiental e a qualidade de vida de seus empregados,
de suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo
(NASCIMENTO; LEMOS; MELLO, 2008 apud DIAS, 2008 p.20)
A demanda das empresas por ferramentas de monitoramento e avaliação leva o
Instituto Ethos a conceber no ano 2000 os Indicadores
48
Ethos como um sistema de avaliação
do estágio em que se encontram as práticas de responsabilidade social nas empresas. Segundo
o Instituto Ethos, esta ferramenta possibilita o auto-diagnóstico no sentido de mensurar as
práticas empresariais no terreno da RSAE, como estabelecimento de compromissos públicos,
envolvimento com instituições que representam interesses variados, capacidade de atrair e
manter talentos, entre outros, subsidiando-a em sua gestão e planejamento.
O Instituto Ethos disponibiliza Indicadores Setoriais contemplando os seguintes
setores:Franquias; Jornais; Financeiro; Mineração; Papel e Celulose; Construção Civil;
Transportes de Passageiros Terrestres; Petróleo e Gás; Panificação; Restaurante e Bar e
Varejo. Segundo o Instituto Ethos (2008) Os 7 temas abordados pelos Indicadores de
Responsabilidade Social nas Empresas Varejistas englobam:
48
Um Indicador é uma variável que serve para dar conta de uma realidade... Compêndio para a Sustentabilidade –Ferramentas de Gestão de
Responsabilidade Socioambiental – orgaização Anne Louette – Antakarana Cultura Arte e Ciência – 2007 –p.186
64
VALORES, TRANSPARÊNCIA E GOVERNANÇA:
PÚBLICO INTERNO:
MEIO AMBIENTE
65
FORNECEDORES :
CONSUMIDORES E CLIENTES :
COMUNIDADE:
GOVERNO E SOCIEDADE:
A aplicação desta ferramenta é precedida de vários passos indicados pelo Instituto
Ethos como fundamentais para que a RSAE seja efetivamente dimensionada. O que se
66
observa é a seriedade dirigida ao envolvimento e capacitação dos stackholders, bem como a
abertura de espaço para debates e reflexões sobre os indicadores propostos. A participação
dos envolvidos é sugerida no momento de análise do Relatório de Diagnóstico obtido como
produto dos dados enviados, com destaque para a elaboração de metas, estabelecimento de
prioridades e planejamento de ações futuras, elaboração do Balanço Social e, reinício do
processo.
Estas prerrogativas indicam às empresas o caminho para ações que atendam às
diretrizes da RSAE, contudo, sua aplicação fica à mercê da boa vontade do responsável pela
iniciativa de responder aos indicadores. A motivação poderá ser a obtenção de um diagnóstico
confiável para um melhor aproveitamento dos esforços na implantação da R SAE , bem como,
obter publicidade de seu ato, inserir-se no rol dos que debatem o tema em busca de promoção
pessoal e outras. Embora o referido Instituto não forneça certificação ou prêmio, nem
apresente ranking das empresas, torna-se comercialmente viável estabelecer um elo com o
mesmo. A atenção dos Stackeholders tem o poder de coibir esta ação.
Os resultados da pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral em 2007, com
empresas formalmente engajadas com a sustentabilidade, indicam a fragilidade do canal de
comunicação e influência entre as áreas responsáveis pela sustentabilidade corporativa e a
área de formulação de estratégia da empresa: “A grande maioria das empresas avalia seus
impactos (tanto diretos quanto indiretos) nos desafios da sustentabilidade como positivos, e
muito raramente como negativos. Isso pode indicar uma percepção inadequada do papel da
empresa no cenário atual” (FDC, 2007, p.51). Reconhecer os impactos negativos de suas
atividades constitui-se condição para a reversão desses efeitos.
A peculiaridade do comércio varejista de estar em contato direto com seus
stackholders, coloca este setor como estratégico quanto a RSAE. A interação com produtores,
fornecedores, distribuidores, colaboradores e inclusive clientes, cuja ossuíaar às
instalações da empresa em busca da satisfação de suas necessidades ou desejos pode ser
diária, contém a possibilidade de acesso às aspirações da comunidade.
Uma vez conhecida a demanda, surge a oportunidade de desenvolver parcerias e
contribuir para um ambiente saudável o que proporciona crescimento a todos os envolvidos.
67
De acordo com Juracy Parente (2004):
O desenvolvimento da Responsabilidade Social no varejo ajuda também a estender
as práticas Socialmente Responsáveis a toda a cadeia de valor, estabelecendo
relações que vão desde a fabricação de um produto, passando pelos compromissos
éticos dos fornecedores e distribuidores, pela forma de comercialização determinada
pelos varejistas e, finalmente, chegando a decisão de compra consciente do
consumidor, que privilegia uma empresa em detrimento de outra no mercado
(PARENTE, 2004).
No interior do Instituto Ethos nasce a idéia que se concretiza no Instituto Akatu pelo
Consumo Consciente, uma associação civil sem fins econômicos ou lucrativos. Em seu
Estatuto, no Artigo 1º declara que: “sua finalidade é buscar a ampliação da consciência dos
cidadãos no sentido de considerarem em seus atos de consumo os impactos sobre a
economia, a sociedade e o meio ambiente” (AKATU,2009)
A RSAE na perspectiva do Instituto Akatu, é vista como um meio para o exercício da
cidadania através do Consumo Consciente. Este Instituto disponibiliza os Indicadores Akatu
de Consumo Consciente que permite ao indivíduo mensurar seus valores e comportamento no
sentido de verificar o seu estágio de consciência frente ao consumo e acompanhar sua
evolução.
Concorrer com a padronização de hábitos que as empresas transnacionais
implementam nos países em desenvolvimento, requer da comunidade um posicionamento
consciente e de questionamento sobre os efeitos das atividades dessa empresa em âmbito
local. A passividade favorece às aspirações neoliberais e se constitui em terreno fértil ao
capitalismo:
A empresa capitalista, embora se mova num contexto em que imperam códigos
morais, só passa a comportar-se de modo socialmente responsável quando sua
continuidade está em risco, quando enfrenta a intervenção organizada das
contrapartes com as quais lida ou quando mergulha no cabo-de-guerra das relações
de poder. Sem contrapartes ativas, a maximização do lucro leva a melhor (SROUR,
1998 p. 295 apud BORGER, 2001 p. 35).
Como instrumento de avaliação e com objetivo de subsidiar o consumidor, é proposta
a Escala Akatu de RSAE em parceria com o Instituto Ethos, direcionada à categorização das
68
empresas quanto às suas práticas de responsabilidade social. O resultado é acessível a todos os
consumidores subsidiando sua escolha e fomentando o debate e reflexão sobre o tema.
A distinção entre os Indicadores Ethos de RSAE e a Escala Akatu permeia os
elementos de análise, desde seu campo de influência, objetivos, público alvo etc., detalhados
no seguinte quadro
49
:
QUADRO 2: Indicadores Ethos x Escala Akatu Comparação de Enfoques e Objetivos
Fonte: Instituto Akatu
O consumidor mais informado, solicita informações e transparência quanto a postura
da empresa frente aos desafios ambientais, sociais e econômicos. A ferramenta que vem ao
encontro desta expectativa é o Balanço Social. Na França, através da Lei nº 77.769/77, o
Bilan Social inicialmente voltado para relações de trabalho, tem sua publicação
49
Responsabilidade Social Empresarial: o que o consumidor consciente espera das empresas. Nº 6-Instituto
Akatu Pelo Consumo Consciente parceria Instituto Ethos-Análise Nacional/2005 p.13. Dispon
69
regulamentada. No Brasil, em 1984 foi elaborado o primeiro Balanço Social pela empresa
Nitrofértil
50
.
Em 1997 o Instituto Brasileiro de Análises Sociais IBASE publicou seu próprio
Balanço Social e lançou o primeiro modelo desta ferramenta cuja forma simplificada tem o
propósito de divulgar e multiplicar as práticas de RSAE das empresas. Herbert de Souza, em
1981 participou da fundação do IBASE instituição sem fins lucrativos, sem vinculação
religiosa e partidária que assume como missão: “a construção da democracia, combatendo as
desigualdades e estimulando a participação cidadã” declarada em seu Código Interno de
Relações com Empresas (2007). O envolvimento e proteção de todas as partes interessadas
concretamente compõem as práticas do IBASE e é estimulada nas empresas que a ele se
associam.
A postura divulgada inclui a não participação de mediação junto às empresas, seus
institutos e fundações de produtores de cigarro/fumo/tabaco; armas de fogo/munição; bebidas
alcoólicas; produção de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs ou transgênicos) ou
que violem qualquer dos acordos, tratados e declarações que protejam os direitos humanos.
No Balanço Social deverá constar que a empresa não utiliza mão-de-obra infantil ou trabalho
escravo, não tem envolvimento com prostituição ou exploração sexual de criança ou
adolescente e não está envolvida em corrupção.
Para obtenção do Selo Balanço Social Ibase/Betinho
51
, a empresa interessada deverá
preencher integralmente o Balanço Social, que não aceita respostas evasivas como não
disponível ou não se aplica e seguir os seguintes critérios:
¾ O Balanço Social 2008 deverá ser publicado em jornal e/ou revista de grande circulação
regional e/ou nacional, conforme atuação e abrangência da empresa, bem como ser
disponibilizado em sua página na internet.
¾ Todos funcionários e funcionárias deverão receber a tabela no modelo Ibase de forma
individualizada e nominal em material impresso, publicação ou evento destinado
exclusivamente ao tema da Responsabilidade Social ou Balanço Social. Algumas sugestões:
50
Guia para Elaboração de Balanço Social e Relatório de Sustentabilidade 2007 –Instituto Ethos
51
O Ibase suspendeu em 2008 a entrega do Selo Balanço Social Ibase/Betinho, que está em fase de avaliação e reformulação. Disponível em
www.ibase.org.br
Acesso em 19/07/2009
70
fotocópia anexada ao contracheque, correspondência impressa contendo somente material
sobre Balanço Social, um exemplar do Balanço Social entregue em mãos etc.
¾ No Balanço Social entregue aos funcionários e às funcionárias deverá constar,
adicionalmente, uma mensagem ou carta do (a) presidente/diretor (a) apresentando o
documento e destacando sua relevância para a empresa e a sociedade.
¾ Declaração: “Nossa empresa valoriza e respeita a diversidade interna e externamente”
(IBASE, 2008)
52
A divulgação do Balanço Social tem status destacado neste modelo de ferramenta,
direcionando seu eixo para seu principal objetivo que é a prestação de contas de forma
transparente e democrática, atingindo a todos que estejam envolvidos nas atividades da
empresa ou mesmo que se interessem por suas práticas quanto aos temas relevantes para a
sociedade como educação, saúde, meio ambiente, diversidade e qualidade de vida.
Este modelo de Balanço Social do IBASE, disponibilizado gratuitamente, é
reconhecido e reforçado pelo Instituto Ethos
53
ao afirmar: “Atualmente, é considerado base
para a produção de qualquer balanço social – independente do formato final escolhido para
o documento” (ETHOS, 2004).
Consegue-se alinhar o escopo de práticas das empresas através destes demonstrativos,
porém, é importante que se localize esta responsabilidade no contexto dos sistemas sociais e
naturais em que vivemos visando sua preservação a longo prazo, ou seja, sua sustentabilidade.
O sistema em que as empresas atuam constitui um campo de forças em que elementos
naturais, econômicos e humanos interagem. “O conjunto de responsabilidades de uma
empresa constitui-se justamente nas relações que ela estabelece neste sistema. Para
promover a sustentabilidade, essas percepções vão além de uma visão de curto prazo,
exigindo uma visão de longo prazo”. (FDC, 2007 p.18)
52
Orientações sobre o Preenchimento e Divulgação do Balanço Social 2008. Disponível em www.ibase.org.br
Acesso em 19/07/2009
53
Guia de Compatibilidade de Ferramentas Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social – 2004 –
Disponível em www.ethos.org.br Acesso em 19/07/2009
71
Figura 2 – Sustentabilidade e Responsabilidade empresarial
Fonte: Fundação Dom Cabral FDC RP0702
Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da
geração atual , sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras
gerações, como consta no Relatório Bruntland ou Nosso Futuro Comum elaborado em 1983
pela Comissão Mundial da Organização das Nações Unidas sobre o Meio ambiente e
Desenvolvimento. Segundo a WWF-Brasil
54
, é o desenvolvimento que não esgota os recursos
para o futuro. A RSAE que resulta do equilíbrio nas relações e a visão de longo prazo está
direcionado à sustentabilidade.
O diálogo constante com os Stakeholders constitui-se num ciclo que provê condições
de sobrevivência à empresa frente as constantes mudanças e demandas externas. Através de
uma gestão responsável em que as questões da sustentabilidade estejam inseridas nos
objetivos estratégicos da empresa e a comunicação transparente através de indicadores
confiáveis inseridos em relatórios periódicos, em que estejam expressos os avanços e
desafios, constituem a base de continuidade necessária nos aspectos econômico, social e
ambiental para esta e as futuras gerações.
Alavancada pela demanda é criada uma ferramenta contendo diretrizes para a
elaboração de Relatórios de Sustentabilidade, as Diretrizes para Relatórios de
54
Criada em 1996 e com sede em Brasília/DF, a WWF-Brasil é uma ONG brasileira dedicada a conservação da natureza, integra a rede
WWF presente em mais de 100 países com mais de 5 milhões de pessoas entre associados e voluntários . Disponível em
http://www.wwf.org.br/wwf_brasil/ Acesso em 10/08/2009
72
Sustentabilidade. Atualmente em sua 3ª versão foi lançada em 2000 pela organização
internacional Global Reporting Initiative GRI, com sede em Amsterdã, na Holanda. Estas
diretrizes buscam estabelecer um padrão global em que o desempenho econômico, social e
ambiental, ou tripple botton line, das empresas apresentem-se de forma estruturada. Os
setores Financeiro, Metais e Mineração, Operadores de Turismo, Agências Públicas,
Automotivas, Telecomunicações e outras já desfrutam de diretrizes específicas. (GRI 2000-
2006).
Por tratar-se de um padrão internacional, a possibilidade de comparar seu balanço às
empresas do mundo tornar-se um dos atrativos do GRI e sua adoção é pré-requisito para as
empresas que pleiteiam participar da carteira do Índice Dow Jones de Sustentabilidade, grupo
de empresas socialmente responsáveis cotadas na bolsa de Nova York. No Brasil a empresa
pioneira a utilizar as Diretrizes GRI foi a Natura, empresa de cosméticos.
O Relatório de sustentabilidade baseado nas diretrizes do GRI apresenta 3 níveis, a
saber, C, B e A que contemplam os relatores que se autodeclaram iniciantes, intermediários e
avançados. As empresas podem acrescentar um ponto a mais (+) em seu nível, caso se valha
de verificação externa e ainda, optar por temas que irão abordar.
Embora esteja explícito nas diretrizes que o relatório deve visar o equilíbrio e relatar
pontos positivos e negativos, a não obrigatoriedade de verificação externa e opção por temas,
abre precedentes para que a empresa priorize os tópicos em que se sinta mais atuante, fato que
tende a encobrir suas fragilidades.
Um grupo de princípios foi determinado de forma que possa orientar a definição do
conteúdo e assegurar a qualidade do relatório. Para que a empresa possa definir o escopo do
relatório, deverá ser orientada pelos seguintes princípios da Materialidade, Inclusão dos
Stakeholders, Contexto da sustentabilidade e Abrangência. Estes princípios potencializam a
participação de todos os que afetam ou são afetados pelas atividades da empresa na
construção do relatório como condicionalizante de sua eficácia. Quanto aos aspectos
econômico, social e ambiental, estes princípios visam localizar as ações da empresa no
contexto global e local (GRI 2000-2006) :
73
As organizações que operam em várias localidades e setores, com portes variados,
devem considerar como melhor enquadrar seu desempenho organizacional geral
dentro de um contexto mais amplo de sustentabilidade.Isso pode tornar necessária a
distinção entre os temas ou fatores que causam impactos globais (aquecimento
global) e os que geram impactos regionais ou locais (desenvolvimento da
comunidade). Da mesma forma, pode ser necessário distinguir entre tendências ou
padrões de impacto a longo de todas as operações em contraste com a
contextualização do desempenho de local para local (GRI 2000-2006 p. 11)
Quanto à qualidade do Relatório de Sustentabilidade, seu conteúdo deve seguir os
princípios do Equilíbrio, Comparabilidade, Exatidão, princípios da Periodicidade, Clareza e
Confiabilidade. Estes princípios determinam a facilidade de acesso dos Stakeholders através
de mensagem clara e objetiva do relatório e do equilíbrio entre possibilidades e desafios
relatados.
O grau de complexidade deste relatório requer da empresa interessada um esforço no
sentido de direcionar a uma equipe sua formulação, o que pode explicar a lenta adesão das
empresas às diretrizes do GRI, que em 2006 contava com 1000 empresas no mundo e, no
Brasil, com 15 publicações deste relatório que declaravam a utilização das diretrizes.
O Relatório GRI G3, o Balanço Social do IBASE e os Indicadores Ethos estão
relacionados em alguns temas e se complementam em outros. O uso conjunto dessas
ferramentas contempla de forma abrangente o tema da RSAE e capacita os relatores a se
exercitarem na dinâmica que envolve o processo de planejamento, que segundo Myriam
Veras Baptista (2000) constitui-se das seguintes etapas: Reflexão – Decisão – Ação e
Reflexão, reativando o debate sobre Responsabilidade Social e Sustentabilidade.
Os relatórios não possuem um fim em si próprio mas oferecem ou deveriam oferecer
subsídios para novas estratégias, daí a importância do levantamento de pontos positivos e
negativos, pois segundo a mesma autora: “o acionamento da retomada dinâmica do processo
é que permite ao planejador garantir a perspectiva dialética de reflexão e de permanente
confronto com a realidade, por ocasião de novas tomadas de decisões”(BAPTISTA,2000
p.122). Ao lançar luz sobre os desafios a serem ultrapassados estaria acionada a retomada da
dinâmica do processo em novo patamar potencializando a discussão na perspectiva de
ultrapassar obstáculos reais e conhecidos.
74
Conclui-se que o envolvimento dos Stakeholders na efetividade das ações e na
elaboração dos relatórios, subsidiados por um aporte técnico gerencial, poderá garantir o que
Fernando G. Tenório (2002) denomina de estabelecimento dos ciclos contínuos, que têm
início com o planejamento e terminam com o controle, o qual por sua vez, subsidia uma nova
etapa de planejamento. Juracy Parente (2004) enfatiza que o Gerenciamento dos Stakeholders,
conhecendo quem são estes, quais seus interesses , oportunidades e desafios que representam,
subsidia o planejamento das ações.
É possível levantar os seguintes questionamentos quando se trata de empresas que
possuem capilaridade geográfica no país, como o Grupo Pão de Açúcar: Considerando que a
matriz localiza-se em grandes pólos é possível que a formulação destes relatórios alcancem na
mesma proporção todos os Stakeholders auxiliando-os em seu processo de decisão? As ações
de grande vulto centralizadas na matriz substituem ações cotidianas nas comunidades em que
as filiais se instalam? Qual a repercussão destas ações no ambiente interno da empresa? Como
os Stakeholders das filiais são envolvidos no processo? O planejamento e execução dessas
práticas de responsabilidade social e sustentabilidade seguem um padrão determinado pela
matriz? A cobrança destas ações é proporcional entre cadeia de valor e stakeholders internos,
entendidos aqui como filiais? Os consumidores têm a percepção na comunidade que hospeda
uma filial desta proporção ou desproporção? A prática das ações de responsabilidade social
nas filiais segue a demanda dos seus stakeholders e respeita suas particularidades?
Enfim, quando uma empresa se instala em uma localidade, pressupõe em sua
estratégia de gestão a forma como as ações de responsabilidade social e sustentabilidade
serão desenvolvidas naquela comunidade, determinando em sua composição local o setor
responsável por estas práticas assim como o setor de compras, RH, administração etc? Quais
os desafios para ações implantadas, monitoradas e avaliadas à distância pela matriz? Em que
medida estes desafios constam nos relatórios de sustentabilidade ou Balanço Social?
Convém direcionar estes questionamentos ao Comércio Varejista, tema desta pesquisa,
sem a pretensão de esgotar suas possibilidades. A Responsabilidade Socioambiental e
Consumo Consciente começam a ossuíaar a agenda destas empresas e desperta o interesse
da academia que direciona núcleos específicos ao estudo deste setor: Em 2003, o Programa de
Responsabilidade Social e Sustentabilidade no Varejo foi desenvolvido pelo Centro de
75
Exccelência em Varejo Gvcev da Fundação Getúlio Vargas FVG-EASP e lança o Prêmio de
Responsabilidade Social no Varejo.
Este Centro disponibiliza um Banco de Práticas em que centenas de iniciativas,
premiadas ou não, podem ser visitadas. Em parceria com o Instituto Ethos o Gvcev lançou os
Indicadores de Responsabilidade Social nas Empresas Varejistas, em que um grupo de
trabalho constituído por 64 pessoas de diferentes empresas, instituições e associações
participaram na sua elaboração.
Em 2007, a Fundação Dom Cabral criou o Centro de Desenvolvimento do Varejo
Responsável
55
focando as empresas de varejo e sua cadeia de suprimentos, que produziu a
pesquisa “Identificação dos elementos para construção de um Código de Conduta do Varejo
Responsável e de um Modelo do Varejo do Futuro”.
A formatação dos níveis de relacionamento e das funções gerenciais pode ser
visualizada na Figura a seguir:
Figura 3 : Dinâmica
Fonte: Fundação Dom Cabral –Centro de Desenvolvimento do Varejo Responsável
55
Disponível em http://www.fdc.org.br/pt/pesquisa/sustentabilidade/varejo/Paginas/default.aspx Acesso em
23/07/2009
76
Conforme este modelo, o diálogo com todos os Stakeholders e a gestão das relações
devem percorrer todos os âmbitos da empresa, econômicos, sociais e ambientais de forma
dinâmica.
Faz-se então necessário penetrar nas particularidades deste setor e sua relação com a
responsabilidade social e sustentabilidade pois como Juracy Parente (2004 p.14) aduz: “A
capilaridade territorial e o amplo leque de relações do varejo reforçam seu grande potencial
de tornar-se um agente de transformação social [...] não basta ser apenas um comerciante- é
preciso criar laços de intimidade com os consumidores e com a comunidade”.
77
CAPÍTULO III O COMÉRCIO DE VAREJO E O SEGMENTO HIPERMERCADO
E SUPERMERCADOS
Este capítulo caracteriza o setor de varejo e o segmento supermercadista, seu histórico
e sua atuação como operador de produtos de largo consumo.
1 - O setor de varejo na cadeia de distribuição
Varejo ou retalho56 é a venda de produtos ou a comercialização de serviços em
pequenas quantidades, em oposição ao que ocorre no atacado, que comercializa quantidades
maiores. É a venda por retalho, como por partes de um todo, direta ao comprador final, o
consumidor do produto ou serviço, sem intermediários57.
O varejo engloba as atividades envolvidas no processo de venda de produtos, bens ou
serviços diretamente ao consumidor final, para atender a uma necessidade pessoal desse
consumidor. Último estágio no processo de distribuição, constituído por: matéria-prima e
insumos, indústria, distribuidor, varejo, consumidor e pós-consumo, possibilita o acesso do
consumidor ao que é produzido pela natureza e transformado pelo homem, objeto de seu
desejo ou necessidade. Como mola propulsora desse processo, o varejo desempenha o papel
de mediador, desenvolvendo atividades que proporcionem a ligação entre necessidade,
aspiração e aquisição.58
Entre seleção, exposição dos produtos, negociações de crédito e descontos diretamente
para o consumidor, o varejo vai dar o contorno que lhe convier ao produto a ser oferecido,
tecendo uma linha tênue, imperceptível aos olhos do consumidor, entre indústria e comércio.
Durante a experiência de aquisição, se estabelece a sensação positiva ou negativa que recairá
sobre o produto.
56
A raiz da palavra varejo, que é utilizada no Brasil, vem do português antigo, dos tempos onde a “vara” era a
medida para se fracionarem peças de tecidos, cordas, linhas, madeiras, etc. Ainda hoje, em algumas lojas de
tecidos, usa-se uma régua de madeira com um metro de comprimento para fracionar os produtos. O termo
utilizado hoje para varejo em Portugal é retalho, que também denota claramente o fracionamento de produtos
para venda em pequenas porções ou quantidades.
57
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Varejo>. Acesso em: 10/12/2008.
58
Juracy Parente (2000), Claudio Felisoni de Angelo (2000)
78
Dentre os diversos formatos, a classificação das instituições varejistas que se segue
utiliza critérios de acordo com a propriedade, instituições com lojas e instituições sem lojas,
como mostra a Figura 4:
Figura 4 Classificação Das Instituições Varejistas
Fonte: PARENTE, 2000, p.25
O supermercado como instituição varejista, com loja dos segmentos alimentício e não
alimentício, divide espaço nessa classificação com os bares, mercearias, padarias,
minimercados, lojas de conveniência, supermercados compactos, supermercado convencional,
superlojas, hipermercados e clube atacadista. Quanto à classificação por propriedade, os
hipermercados pertencem às redes, que operam mais de uma loja sob a mesma direção, o que
acentua seu poder de barganha frente aos fornecedores. Juracy Parente (2000)
A globalização influenciou diretamente a atividade do varejo, exigindo transformações
profundas, no sentido de acompanhar com rapidez as mudanças de hábitos dos consumidores.
79
A agilidade sobrepõe-se ao contato direto e simpatia do vendedor. Uma pesquisa da Fundação
Dom Cabral FDC demonstra que a internet influencia uma de cada cinco compras presenciais
nas lojas, fato que pode explicar a difusão do e-commerce, no qual as vendas on line
atingiram US$ 110 bilhões, em 2007.
Outra tendência apontada pelo estudo são as lojas high-tech, nas quais a aparelhagem
tecnológica possibilita que a compra seja efetuada sem nenhum contato humano,
privilegiando a rapidez. Outro modelo, as ecolojas reciclam espaços para outros fins, como a
Nike em Buenos Aires, com uma velha casa e a Georgiam Townhouse, com o ambiente de
uma boate (FDC, 2008).
No Brasil, o varejo desenvolveu-se a partir dos anos 1930, quando houve a
substituição das importações. Após o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945)
intensificou-se e ampliou-se a industrialização nacional, o que provocou, dentre outras
transformações, o surgimento do proletariado industrial, um novo tipo de consumidor, com
maior renda disponível. A modernidade do varejo aconteceu com a chegada no país, em 1949,
das lojas Sears e Mesbla, instaladas nas capitais São Paulo e Rio de Janeiro, com o diferencial
de oferecer estacionamento aos consumidores e assistência técnica aos eletrodomésticos
comercializados.
59
Atualmente, com base nos dados da Pesquisa Anual do Comércio (PAC) de 2006 do
IBGE
60
, pode-se afirmar que o comércio varejista é um importante setor da economia
nacional, que perpassa o cenário social, através de seus proprietários, investidores, acionistas,
mão-de-obra de todos os níveis de especialização e remuneração, fornecedores e
consumidores.
59
ÂNGELO, Cláudio Felisoni de; SILVEIRA, José Augusto Giesbrecht da (Coord.). Varejo competitivo. São
Paulo. Atlas, 2000. v. 4; e CARDOSO, Marcio Nery. A responsabilidade social empresarial na cadeia de
fornecedores do varejo supermercadista: um estudo de caso. cit.
60
PAC contempla as empresas classificadas na seção G da Classificação Nacional das Atividades Econômicas
CNAE 1.0-Comércio de veículos automotores, peças e motocicletas; comércio por atacado e comércio
varejista.Disponível em
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/comercioeservico/pac/2006/default.shtm Acesso em 05/07/09
80
Gráfico 4 – Participação dos segmentos do comércio nas principais variáveis do comércio total –
Brasil – 2006
Fonte: PAC 2006
A amplitude desse comércio, composto por empresas cuja atividade principal é a
revenda de mercadorias, e que integram a seção G da Classificação Nacional de Atividades
Econômicas (CNAE 1.0) do IBGE
61
, na seção Comércio Varejista, é apresentada a seguir.
Em 2006, o comércio varejista era composto por 1.300.000 empresas, representando
83,6% do total das empresas comerciais do Brasil, como mostra a Figura 2, na qual se
visualiza a expressão do setor varejista no cenário nacional.
61
O âmbito da Pesquisa PAC 2006 do IBGE exclui, embora façam parte da Seção G CNAE 1.0 os seguintes
segmentos: Serviços de manutenção e reparação de veículos e motocicletas; reparação de objetos pessoais e
domésticos; e representantes comerciais e agentes do comércio. Disponível em Notas Técnicas
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/comercioeservico/pac/2006/default.shtm Acesso em
31/08/2009
81
Figura 5 Número de empresas por segmento do comércio
62
Com receita líquida de R$443,9 bilhões, o segmento varejista, apesar de contar com
um número superior de empresas em relação ao atacadista (conforme a figura 2), não o supera
na receita total. A Figura 3 aponta o resultado da forma diferenciada de receita entre esses
segmentos.
Figura 6 Receita total por segmento do comércio
62
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/brasil_em_sintese/default.htm>. Acesso em: 04 ago. 2009.
82
No ano 2000 as cifras referentes ao varejo correspondiam a uma receita de R$ 200 bilhões,
algo aproximado a 10% do PIB brasileiro, obtida em 1.000.000 de lojas (PARENTE, 2000 p.16). Em
seis anos a receita do comércio varejista mais que dobrou, apontando crescimento de 30% em número
de lojas.
Aproximadamente 5.760.000 pessoas estavam ocupadas no comércio varejista no ano
de 2006 (Figura 4), segmento que se destaca no contexto de emprego da economia nacional.
Figura 7 Pessoal ocupado por segmento do comércio
Em relação aos salários, retiradas e outras remunerações, esse comércio despendeu R$
39,8 bilhões, segundo demonstra a (Figura 5) abaixo:
Figura 8 Salários retiradas e outras remunerações por segmento
83
A atividade de hipermercados e supermercados demonstrou participação importante
dentro do comércio varejista em todos os itens relacionados, como Receita Total, Pessoal
Ocupado e Salários e Retiradas.
O setor varejista tradicionalmente concentrava-se na Região Sudeste,
contudo,apresenta leve tendência atualmente das grandes empresas em buscar outras regiões,
considerando os Programas de Distribuição de Renda como um dos fatores propulsores deste
fenômeno.
GRÁFICO 5 – Participação das Grandes Regiões na receita bruta de revenda das empresas comerciais
com 250 ou mais pessoas ocupadas – 2000/2006
Fonte: PAC 2006
Na composição do comércio varejista, encontra-se a modalidade de varejo de
autosserviço, em que o consumidor pratica sua ação de compra sem ser assistido por um
atendente.
Quanto ao formato de loja de autosserviço, a classificação através de sua área de
vendas, número de itens, participação de vendas de produtos não alimentícios, número de
check outs e seções é apresentada na Figura 6, que reúne desde lojas de conveniência com 50
m
2
e 1 check out, até hipermercados com 16.000 m
2
e 90 check outs.
84
Figura 9 Classificação do Auto-Serviço
Formato da
loja
Área de
vendas
m2
Médio
de itens
% de
vendas não
alimentos
NºCaixas
Seções
Loja de
Conveniência
50-250 1000 3 1-2 Mercearia, frios e
laticínios, bazar, snacks
Loja de
sortimento-
limitado
200-
400
700 3 2-4 Mercearia, hortifruti,
frios e laticínios e bazar
Supermercad
o Compacto
300-
700
4000 3 2-4 Mercearia, hortifruti,
carnes e aves, frios e
laticínios e bazar
Supermercad
o
Convencional
700-
2500
9000 6 7-20 Mercearia,
hortifruti,bazar, carnes e
aves, peixaria e padaria,
frios e laticínos
Superloja 3000-
5000
14000 12 25-36 Mercearia,
hortifruti,bazar, carnes e
aves, peixaria e padaria,
frios e laticínos, têxtil e
eletrônicos
Hipermercad
o
7000-
16000
45000 30 55-90 Mercearia,
hortifruti,bazar, carnes e
aves, peixaria e padaria,
frios e laticínos, têxtil e
eletrônicos
Loja de
Depósito
4000-
7000
7000 8 30-50 Mercearia,
hortifruti,bazar, carnes e
aves, peixaria e padaria,
frios e laticínos, têxtil e
eletrônicos
Clube
Atacadista
5000-
12000
5000 35 25-35 Mercearia,bazar, carnes
e aves, frios e laticínos,
têxtil e eletrônicos
Fonte: PARENTE (2000)
85
Pode-se observar nesta (Figura 9), que o hipermercado destaca-se por ser o formato de
loja com maior área de vendas, número de caixas e seções.
Como tema deste estudo, o varejo supermercadista receberá foco
diferenciado, com a finalidade de contextualizá-lo, destacando suas principais
características.
Como atividade regulamentada, este segmento consta na estrutura
detalhada da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 1.0):
Códigos e Denominações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBGE, nas seguintes referências quanto à seção, divisão, grupo e classe do
segmento hipermercado e supermercado:
Figura 10 CNAE 1.0
Fonte: CNAE/IBGE
86
Esta classificação utiliza a área de vendas para a definição do comércio varejista.
Localizado entre lojas de conveniência e supermercados, o comércio varejista de mercadorias
em geral, com predominância de produtos alimentícios e área de venda inferior a 300 metros
quadrados, não possui denominação específica como os hipermercados, supermercados e lojas
de conveniência.
A definição contida na Lei nº 7.208 promulgada em 13 de novembro de 1968, no
Brasil, define o segmento Supermercado do Comércio Varejista desta forma: “Supermercado
é o estabelecimento comercial varejista explorado por pessoa física ou jurídica, que,
adotando o sistema de auto-serviço, expõe e vende no mesmo local, permanentemente,
gêneros alimentícios e outras utilidades da vida doméstica”.
O Estabelecimento
63
, considerado como as unidades de cada empresa separadas
espacialmente, ou seja, endereços distintos contido no comércio varejista, abriga a atividade
de mediação entre a necessidade ou desejo do consumidor e sua possibilidade de saciá-la. A
exploração do supermercado será de pessoa física ou jurídica, através da adoção do auto-
serviço, em que o consumidor localiza, seleciona e recolhe o seu objeto de desejo ou
necessidade alimentícia ou da vida doméstica e dirige-se ao check out
64
, ou seja, caixa
registradora, para efetuar o devido pagamento.
A Associação Paulista de Supermercados APAS, criada em 1971, utiliza como
critérios de definição para classificação dos estabelecimentos: a área de vendas, número de
chek-outs e seções delimitadas. Para a APAS Supermercado é: “o estabelecimento comercial
de auto-serviço de no mínimo 250 m² de área de vendas, dois check-outs e cinco seções bem
definidas, como, por exemplo, mercearia, higiene e limpeza, perecíveis,bazar, FLV
65
, etc.” .
O segmento de supermercado no comércio varejista diferencia-se pela adoção do auto-
atendimento com cestas e carrinhos à disposição do cliente, utilização de gôndolas para
exposição dos produtos e também quanto à estratégia que utiliza para obter lucros. Com área
de vendas cada vez maior e custo reduzido, busca atender o consumidor diminuindo sua
margem e elevando seu volume de ofertas. Segundo Kotler (1998 apud Cardoso, 2008 p. 86-
63
Ministério do Trabalho e Emprego - MTE. Relação Anual de Informações Sociais - Rais
64
Para efeito de pesquisas a ABRAS considera integrante do segmento supermercado apenas as lojas que
tenham 2 ou mais chek outs (caixa registradora sobre alcão na saída da loja). Disponível em www.abras.com.br
65
Frutas, Legumes e Verduras. Disponível em
http://www.portalapas.org.br/default.asp?resolucao=1024X768 Acesso em 10/03/2009
87
87) [...] operam com baixo custo, margem pequena, volume elevado, auto-serviço [...].
Operam com lucro operacional de apenas 1% sobre as vendas e obtém lucro de 10% sobre o
patrimônio líquido”.
Desta forma, este segmento do comércio varejista empenha seus ganhos nos itens fora
da promoção e que serão adquiridos por impulso pelo consumidor. A publicidade, a
embalagem e correta exposição terão a função de chamar a atenção sobre o produto,
substituindo o papel desempenhado nos primórdios do varejo pelo vendedor ou o proprietário
do estabelecimento, ou seja, esta função se extingue no processo histórico do
desenvolvimento do auto-serviço, em função principalmente, da redução de custos.
Pelo exposto, pode-se reconhecer que o supermercado, dentro do comércio varejista de
auto-serviço, foi concebido para atender às necessidades totais dos consumidores em termos
de alimentos, produtos de higiene pessoal e de limpeza, produtos para a manutenção do lar e
produtos eletrônicos, constituindo na atualidade, o tipo de loja de varejo mais frequentemente
visitada pelos compradores.
2- Breve contextualização sobre o surgimento dos Supermercados
É relevante contextualizar historicamente o segmento hipermercado e supermercados a
fim de conhecer seu surgimento, desenvolvimento e expansão.
Nas primeiras décadas do século XX nos Estados Unidos as lojas Beta Markets e
Piggly Wiggly inauguram o sistema de auto-serviço ou self service
66
. Posteriormente, como
forma de sobreviver à Grande Depressão nos anos 1930, surgem nos EUA as lojas King
Kuller e a Big Bear em formato de supermercado. O segmento se dissemina assumindo o
auto-serviço como forma de redução de custo: “A cadeia A & P substituiu 933 lojas de
atendimento em balcão por 204 supermercados; a Kroger e Safeway eliminaram juntas 600
lojas substituindo-as por 61 supermercados”. (CYRILLO, 1987 apud SESSO FILHO, 2003
p.6).
66
A expressão auto-serviço ou self –service sistema n qual o cliente escolhe os produtos sem a ajuda de
funcionários foi utilizada pela primeira vez em 1912 por comerciantes do estado da Califórnia (EUA) para
definir a forma de operação de suas lojas (SESSO FILHO, 2003 p. 4)
88
A diversificação na oferta de produtos ocorre durante o período de guerra. A escassez
de gêneros alimentícios produz lacunas nas prateleiras e na intenção de melhorar o aspecto
das lojas, seus proprietários preenchem o vazio com produtos não alimentícios, estratégia que
agrada o consumidor que se acostuma a encontrar variedade no interior dos supermercados e
passa a ter o hábito de adquiri-los em suas compras.
Após a 2ª Guerra Mundial, os EUA cujo território não sofrera bombardeios, tornam-se
a grande potência com sua economia em pleno desenvolvimento, símbolo hegemônico do
capitalismo, modelo a ser seguido. Na tentativa de imitá-los, o restante do mundo que
também se quer capitalista, copia o que recebe através da publicidade na televisão, cinema,
revistas e produtos que exaltavam o padrão de vida americano. Entre os símbolos americanos,
está o supermercado com suas lojas amplas, modernas e sortidas com caixas registradoras
rápidas, e um formato que se dissemina globalmente sob esta ótica. Segundo a ABRAS,
durante os anos 1950 o sistema era empregado em lojas de 52 países.
No Brasil, o segmento de supermercados se desenvolve também durante a década de
1950, quando o país passa por um crescimento urbano e econômico sem precedentes, embora
carregado na mesma proporção de problemas sociais oriundos de uma desigualdade social
instalada e êxodo rural gerado durante a crise na cafeicultura. Os brasileiros contavam com a
herança deixada pelo governo de Getúlio Vargas que incluía a diversificação industrial com a
instalação da Companhia Siderúrgica Nacional CSN em Volta Redonda, a criação da
Companhia Vale do Rio Doce CVRD em Minas Gerais e do Conselho Nacional do Petróleo e
a Petrobrás em 1953.
Em seguida, a política desenvolvimentista e o Plano de Metas de crescer “50 anos em
5” do Presidente Juscelino Kubitschek, vigente durante o período de 1956 a 1961, baseada na
intervenção do Estado na economia e no desenvolvimento industrial dependente de capitais e
tecnologia estrangeiros impulsiona a indústria local, inclusive eletrodomésticos e
automobilística que abre precedentes a outros setores como autopeças, o metalúrgico,
siderúrgico etc. O meio agrário não recebe o mesmo incentivo e acentua-se o êxodo rural, que
movimenta milhares de brasileiros para os grandes centros em busca de emprego, sinônimo de
problemas de habitação, saneamento, produção e distribuição de alimentos e excesso de mão
de obra ociosa nas cidades .
89
Neste interim, o que acontece para o Segmento Supermercado durante a década de
1950 vai influenciar o futuro do comércio varejista. Para ilustrar, segue o (Quadro 3) referente
à década de 1950, que demonstra a instalação concentrada de supermercados nas capitais:
Quadro 3 –Década de 1950 – Brasil –Segmento Hipermercado e Supermercados
ANO CIDADE UF ESTABELECIMENTO
1953
SÃO JOSÉ DOS
CAMPOS SP
COOPERATIVA FUNCIONÁRIOS DA
TECELAGEM PARAYBA
SÃO PAULO SP SUPERMERCADO PEG PAG
SÃO PAULO SP LOJA SIRVA-SE
1956 SÃO PAULO SP COOPERATIVA DE CONSUMO COOP
RIO DE JANEIRO RJ REDE DISCO
1958 PORTO ALEGRE RS REDE REAL
1959 SÃO PAULO SP PÃO DE AÇÚCAR
SALVADOR BA PAES MENDONÇA
Elaborado pela autora, Fonte: SIMÕES (2006)
Conforme este (Quadro 3) a primeira loja a utilizar um sistema completo de auto-
serviço foi instalada na cidade de São José dos Campos – SP, pela Tecelagem Parayba no mês
de janeiro de 1953. A instalação possuía mil metros quadrados de área de vendas e foi
resultado da adaptação de um antigo armazém que passou a funcionar como auto-serviço. As
Cooperativas mantidas por grandes empresas para atender seus funcionários, eram uma opção
à época frente às dificuldades de abastecimento no mercado de alimentos.
Em 24 de Agosto foi inaugurada a loja nº 1 do Supermercado Sirva-se, em São Paulo,
cidade que abriga também a primeira loja do Supermercado Peg-Pag, ambos estabelecimentos
ligados ao empresário Raul Borges que lança um novo modelo de gestão do setor no país. O
90
empresário contrata funcionários altamente especializados e investe em treinamento, além de
comunicação em rádio e televisão, tornando-se vanguarda no setor. Este modelo irá obter o
reconhecimento do empresariado que irá denominar esta rede como “Escola de
Supermercado”
67
.
Novamente uma Cooperativa anuncia sua abertura à comunidade em 1956: a Coop,
que após dois anos de funcionamento exclusivo para os funcionários do Grupo Rhodia,
modifica seu estatuto e entra para o comércio de varejo no segmento supermercado. Ainda em
1956, a cidade do Rio de Janeiro recebe a Rede Disco, seguida por Rio Grande do Sul, que
dois anos mais tarde inaugura na cidade de Porto Alegre a Rede denominada Real.
A concentração se faz presente na região Sudeste e Sul, mas a Bahia terá em sua
capital Salvador a inauguração da Rede Paes Mendonça em 1959, mesmo ano em que o
Grupo Pão de Açúcar inaugura em São Paulo o primeiro Supermercado Pão de Açúcar, marca
que desde 1943 funcionava como Doceria na Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, região central
da capital.
O impulso para as compras em maior escala pelo consumidor do comércio varejista
acontece através da popularização dos refrigeradores e automóveis que passam a ser
produzidos em massa e tornam-se acessíveis a maior número de pessoas, sem no entanto,
afetar a desigualdade social que se impunha. A possibilidade de conservar em casa por mais
tempo gêneros perecíveis, e o deslocamento facilitado pelo automóvel, mudam
definitivamente os hábitos de compras dos brasileiros, ao menos, de uma parte significativa
deles que pode ter acesso a esses bens.
Entraves ao pleno desenvolvimento se impõem ao segmento de supermercados até o
final da década de 1960, tais como: falta de regulamentação legal que inibe investimentos e
determina a carência de linhas de crédito a este comércio; custos imobiliários inerentes à
implantação do estabelecimento; a concorrência que desfrutava de isenções para as
cooperativas e o mercado varejista que praticava a sonegação do Imposto Sobre Vendas e
Consignações IVC, ação impossível ao supermercado que registrava mecanicamente suas
transações e a inflação, são exemplos de dificuldades encontradas para o pleno crescimento
do supermercado.
67
Um Professor da Escola de Carnes de Paris era o responsável pelo setor de carnes.( SIMÕES, 2006)
91
Durante o regime militar, na presidência de Castelo Branco entre 1964 e 1967,
acontece a substituição do Imposto sobre Vendas e Consignações IVC pelo Imposto sobre a
Circulação de Mercadorias ICM. Esta mudança na concepção de um imposto sobre o valor da
mercadoria para o imposto sobre o valor adicionado de cada etapa da comercialização,
elimina sua cobrança acumulativa e torna a sonegação, praticada pela concorrência, menos
compensadora. A simpatia do governo ao segmento de supermercados perdura e se perpetua
com a sua regulamentação através da Lei nº 7.208 de 13 de novembro de 1968.
Quanto ao processo inflacionário à época, apesar da relativa queda no índice (de 80%
a.a. em 1963 para 27% em 1967), os preços ainda apresentavam algum comportamento
persistente para alta. O consumidor ainda é tímido em freqüentar o Supermercado e frente a
alta inflação ainda opta pelo comércio varejista local (SIMÕES, 2006).
Durante o período conhecido como “Milagre Econômico” compreendido entre 1968 e
1973 e pautado no PIB de 11,3% ao ano, delineia-se o futuro promissor do setor
supermercadista, concomitante ao aprofundamento da desigualdade social instalada no país.
Como efeito colateral do plano de combate à inflação do ministro Delfim Netto, que propõe o
endividamento externo para obtenção da tecnologia estrangeira e a concentração de renda
com objetivo fomentar o consumo, a desigualdade é mais uma vez estimulada.
O acesso segue heterogêneo aos bens de consumo, onde o total de 28,5% da produção
industrial é consumida por apenas 6% da população (Simões 2006). Neste contexto, o novo
modelo de varejo, intermediário da produção de alimentos e outros itens, salta de 1448
estabelecimentos em 1968 para 3.743 em apenas cinco anos. Sua concentração nos grandes
centros urbanos corrobora sua intenção em manter-se entre a produção e a satisfação das
necessidades da parcela da população privilegiada pela distribuição de renda.
Com objetivo de modernizar a distribuição de alimentos, a concentração no setor é
estimulada por uma linha de crédito aberta pelo governo através do Programa de
Modernização e Reorganização da Comercialização. Com recursos do Banco Nacional de
Desenvolvimento BNDE e Programa de Integração Social PIS, através da Caixa Econômica
Federal privilegiava o comércio varejista de auto-serviço com área superior a 500m2. Neste
mesmo ano de 1971 são inaugurados os primeiros hipermercados no Brasil, empreendimento
pioneiro da Rede Peg Pag e em seguida o Jumbo do GPA.
92
Com a crise do petróleo, no final de 1973 resulta no aumento significativo da dívida
externa brasileira e conseqüente instabilidade, quando o PIB de 14% cai para 5,6% em 1975.
Em 1976, com a inflação em 46,3% o consumidor torna-se mais atento aos preços,
qualidade dos produtos e começam a se organizar, resultando no surgimento de órgãos de
defesa dos consumidores em vários Estados. Final dos anos 1970 1/3 da população brasileira
vivia na faixa de pobreza absoluta. (ABRAS,2002).
Os supermercados travam uma luta pelos consumidores, mas a inflação de 160%,
enchentes em Santa Catarina, desemprego e outros acontecimentos que tornam os anos 1980
críticos econômica e socialmente, levam a saques nos supermercados.
O cenário no país é de movimentação política, porém, economicamente a década de
1980 ficou conhecida como “a década perdida”, cujas características seriam a recessão,
inflação e desemprego. O poder migra para os civis, porém os 3 sucessivos planos no governo
Sarney, Plano Cruzado (1986), Plano Bresser (1987) e Plano Verão (1989), fracassam
afetando diretamente a classe média com a queda do poder aquisitivo dos salários.
Fernando Collor de Melo é eleito Presidente e mais uma vez os brasileiros vão às ruas
exigir seu afastamento diante de longa lista de corrupção, falcatruas e nepotismo. O
Impeachment pioneiro da América Latina afasta da presidência Collor, contudo, permanece o
neoliberalismo por ele proposto. Através dos presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique
Cardoso prossegue a diminuição da participação do Estado e acontecem as privatizações e a
abertura da economia nacional para o grande capital. O modelo neoliberal imposto,
coordenado pelos países ricos e liderado pelos EUA, gera falências internas frente às
multinacionais.
93
3- O Segmento Hipermercado e Supermercados como operador de
comércio de produtos de largo consumo
Integrante do comércio varejista, o segmento de hipermercado e supermercados gerou
em 2006 uma receita líquida de revenda no total de R$ 100,00 bilhões e ocupação de 722.590
pessoas, como aponta a PAC/2006. Cabe observar que essa performance do ano de 2006 é
resultado de um universo composto por 9.808 empresas desse segmento, o que evidencia
grande concentração dessas empresas em poucas mãos, fenômeno observável na Gráfico 6 a
seguir:
GRÁFICO 6 Participação dos segmentos do comércio varejista – Brasil – 2006
Fonte: PAC 2006
94
O Gráfico 6 aponta para o segmento hipermercado e supermercados como produtor da
segunda maior receita líquida no comércio varejista, perdendo apenas para o segmento de
combustíveis. Interessante observar que esse segmento começa a ser incorporado pelas
grandes redes, com oferta de postos de venda a varejo de combustível nas áreas de grandes
hipermercados e supermercados.
Quanto ao indicador de pessoal ocupado e salários, retiradas e outras remunerações, o
segmento hipermercado e supermercados desce uma colocação e finalmente, no gráfico que
aponta número de empresas, o segmento atinge o último posto, comparado aos outros
segmentos do comércio varejista.
A concentração regional do segmento hipermercado e supermercados é ressaltada na
pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) no ano 2007 em
que os dados demonstram que o setor concentra 54% das lojas na Região Sudeste do Brasil,
com faturamento nessa região superior à soma das regiões restantes Norte-nordeste, Sul e
Centro-oeste.
Luiz Carlos Bresser Pereira já visualizava na década de 1990 essa contradição na
expansão do setor, expresso em seu conceito de “paradoxo do varejo” em que define esta
tendência: “Utilizam-se técnicas de distribuição de massa para um mercado que não era de
massa e sim constituído de segmentos sociais determinados pela concentração de renda.”
68
A concentração prossegue quando considerada a liderança do segmento dominado por
redes em que o capital estrangeiro predomina. No Ranking 2008 das 500 empresas elaborado
pela ABRAS, pode-se observar o destaque das três primeiras colocadas em faturamento bruto
no país. As grandes redes Carrefour, Grupo Pão de Açúcar e Wal Mart, cujo faturamento
bruto resultou no valor de R$ 82.147 bilhões.
68
BRESSER PEREIRA, L. C. Desenvolvimento e crise no Brasil entre 1930 e 1967. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1997. p.136 – 140 apud SIMÕES, Pablo Nostre. Uma análise sobre a estrutura, conduta e desempenho de
supermercados do Brasil, cit., p. 41.
95
O Quadro 4 mostra as três primeiras colocadas e seus respectivos faturamentos;
Quadro 4 As três primeiras colocadas Ranking 500 ABRAS
007 008
Nome Fantasia
F
Faturamento Bruo 2008
R$
Carrefour P 22.470.296.409,27
Grupo Pão de
Açúcar P 20.856.769.010,00
Wal-Mart Brasil P 16.952.431.857,00
Quadro elaborado pela autora adaptado de Fonte: Abras (Disponível em: <os.abras.com.br>).
Em primeiro lugar, nos anos de 2007 e 2008, está a marca Carrefour, criada em 1963,
e conforme Relatório 2007 de Desenvolvimento Sustentável, está presente em 30 países, com
16.607 pontos de venda, em que 490.042 colaboradores exercem suas atividades, para atender
a 3 bilhões de consumidores ao ano. O grupo chegou ao Brasil em 1975 e, em um pouco mais
de 3 décadas, alcançou o total de 512 lojas distribuídas por 16 Estados e 58.000
colaboradores. O Brasil ocupa a 3ª posição do grupo no mundo.
Na 2ª colocação nesse ranking está o Grupo Pão de Açúcar, que desde 2005 tem seu
controle acionário dividido entre o Grupo Diniz, pertencente à família do fundador e o Grupo
Casino
69
, uma das maiores redes francesas do ramo varejista. Essa companhia iniciou suas
atividades no Brasil em 1948, através de uma doceria na cidade de São Paulo e, conforme seu
Relatório de Sustentabilidade 2008, está presente em 14 Estados, com 597 lojas, em que
70.656 colaboradores exercem suas atividades.
69
O Grupo Casino é uma rede francesa com 10.000 lojas em vários países e faturamento de 27,8 bilhões de
euros em 2008. Disponível em; <www.grupopaodeacucar.com.br>. Acesso em: 07 jul. 2009.
96
E ocupando a 3ª colocação, o Grupo Americano Wal-Mart, que iniciou suas atividades
no ramo do varejo em 1962, quando inaugurou sua primeira loja em 1962, no Estado do
Arkansas, EUA. O Relatório de Sustentabilidade 2009 informa que em 2008, o grupo ossuía
7.600 lojas, empregando 2 milhões de funcionários, que atendem aproximadamente a 200
milhões de consumidores por semana. O Wal-Mart está presente no Brasil desde 1995 e conta
com 345 lojas, em 18 Estados, em que 74.456 colaboradores exercem suas atividades.
Essa explanação buscou caracterizar a forma como esse setor se organiza sem a
pretensão de aprofundar a pesquisa de seu comportamento econômico de oligopólio.
70
A evidência da capilaridade e alcance geográfico que esse setor representa coloca a
questão de sua gestão quanto às ações de RSAE, tema desta pesquisa.
Retomando a definição de RSAE discutida no Capítulo II deste trabalho, cuja
legitimação envolve a participação de todas as pessoas interessadas, que afetam ou são
afetadas pelas atividades da empresa, convém analisar a relação destes stakeholders na
dinâmica do cotidiano desses sujeitos, quanto às ações empreendidas, proposta que se
concretiza no próximo Capítulo IV deste trabalho.
70
Este seria um regime de mercado composto por poucas empresas ofertantes e muitos demandantes, de modo
que as ações tomadas pelas empresas do oligopólio são mutuamente afetadas. Os compradores, neste caso,
seriam incapazes individualmente em influenciar os preços e as quantidades ofertadas pela indústria”
(FRIEDMAN, 1982 apud SIMÕES, Pablo Nostre. Uma análise sobre a estrutura, conduta e desempenho de
supermercados do Brasil, cit., p. 2).
97
CAPÍTULO IV
O GRUPO PÃO DE AÇÚCAR E A LOJA EXTRA HIPERMERCADO SANTA
ROSÁLIA DE SOROCABA/SP : UMA EXPERIÊNCIA DE RESPONSABILIDADE
SOCIOAMABIENTAL EMPRESARIAL
Este capítulo busca contextualizar a loja Extra Hipermercado Santa Rosália de
Sorocaba/SP dentro do Grupo Pão de Açúcar, bem como a experiência de RSAE por ela
desenvolvida.
1 - Surgimento, estrutura e localização do Grupo Pão De Açúcar no
Setor Varejista Brasileiro
Quando o imigrante português Valentim dos Santos Diniz com apenas 16 anos
desembarcou no Brasil em 1929, não poderia imaginar tornar-se proprietário de um dos
principais grupos do varejo nacional e em menos de oitenta anos alcançar a cifra de R$ 26
bilhões em vendas efetuadas em mais de 1.055 lojas espalhadas por 18 estados das regiões
Sudeste, Sul, Centro-Oeste, Nordeste e Distrito Federal, com apoio de 28 Centros de
Distribuição e empregando nada menos que 79 mil colaboradores.
A história da fundação do Grupo tem início quando, dezenove anos depois de trabalho
, o “Sr Santos” alcança o reconhecimento dos clientes através do sucesso da inauguração de
sua própria Doceira Pão de Açúcar, no dia 7 de setembro de 1948 na Av. Brigadeiro Luis
Antonio, em São Paulo, Quatro anos mais tarde, a primeira filial da Doceira é aberta na Praça
Clóvis Bevilácqua, seguida da terceira loja na Rua Barão de Paranapiacaba, ambas na região
central da Capital.
Acompanhando a tendência nacional e o crescimento demográfico que aumenta a
demanda por produtos alimentícios, o investimento no segmento de auto-serviço é
conseqüência. Ao lado da Doceira, adquire algumas casas antigas e no dia 14 de Abril de
1959, com a ajuda de seu filho mais velho, Abílio Diniz então com 19 anos, inaugura o
Supermercado Pão de Açúcar.
98
Apesar das dificuldades apresentadas no setor varejista supermercadista, ao final da
década de 1960 o Grupo Pão de Açúcar conta com mais de 50 lojas em 17 cidades de São
Paulo, e em 1970 Sr Santos é convidado pelo governo português para atuar comercialmente
no país, o que culmina com a abertura de lojas em Portugal, e posteriormente Angola e
Espanha.
No Brasil, continua sua expansão e em 28 de maio de 1971 inaugura o Jumbo Santo
André, um novo conceito de auto-serviço: O hipermercado que oferece desde “alfinete até
helicóptero”. O Pão de Açúcar lança o primeiro produto de marca própria no Brasil, o
detergente em pó biodegradável “Alv”. A estratégia de oferecer marca própria vai se expandir
e solidificar no século XXI.
A diversificação de formatos se expande e o Grupo adquire, dentre outras
ramificações, a Eletroradiobras dando início à divisão Eletro, que se fundem em 1981 e
formam a Companhia Brasileira de Distribuição CDB. Ainda nesta década ocorre o
fechamento das lojas Jumbo e o Extra passa a ser o único Hipermercado da rede.
Turbulências econômicas e familiares levam o Grupo a reestrutura-se e a Presidência
da CBD passa para Abílio Diniz e o Sr Santos assume o Conselho Administrativo.
Prossegue então sua expansão através da aquisição da rede Peg Pag, então com 24
lojas e um depósito em São Paulo, uma unidade no Paraná e 13 no Rio de Janeiro. Adquire a
rede Superbom, com 22 lojas em São Paulo, Paraná e Minas Gerais, e da rede Mercantil São
José, a maior do Ceará, com 12 pontos comerciais, consolidando sua presença outras regiões
do país.
No ano de 1995, o Grupo tem as suas ações listadas na Bolsa de Valores de São Paulo
(PCAR4) e figura como empresa de Nível 1 no Índice de Ações com Governança Corporativa
Diferenciada IAGCD da BOVESPA e American Depositary Receipts ADR’s na Bolsa de
Nova York (CBD)
71
, quando em 1997 se associa ao grupo francês varejista Casino72. Desde a
abertura de capital a Companhia apresentou crescimento médio de vendas de 19% ao ano. Em
2005 dividem o controle com 50% para o Grupo Diniz e 50% para o Grupo francês Casino.
71
Para comercializar seus papéis na Bolsa de nova York, o GPA foi certificado através da consultoria internacional
PricewaterhouseCoopers em 2007 como cumpridor da Lei Sarbanes-Oxley , criada em 2002 para garantir a transparência, evitar fraudes e
proporcionar maneiras de identificá-las (GRI, 2008 p.18)
72
O Grupo Casino é uma das maiores redes francesas do ramo varejista. Com mais de 10.000 lojas e faturamento de 27,8 bilhões de euros
em 2008. (GPA,2008)
99
Focando os bairros e classes populares que se tornam estratégicas para o setor por sua
possibilidade de compra aumentada, acontece a aquisição da rede Barateiro, no ano de 1998
hoje Comprebem. Cinco anos mais tarde, o Grupo carioca Sendas é alvo de fusão na
perspectiva de sedimentar presença no Rio de Janeiro.
Desde 2007 o Grupo Pão de Açúcar conta com o Sr Cláudio Galeazzi como presidente
eleito. No site institucional www.grupopaodeaçucar.com.br destacam-se os principais
objetivos do Grupo para 2008:
¾ Crescimento de vendas mesmas lojas
¾ Intensificação do programa já implementado de redução de despesas
¾ Maiores ganhos de eficiência
¾ Melhoria do retorno sobre o capital investido (GPA, 2009)
Cabe aqui discorrer, para melhor entendimento do objeto de estudos, que o Grupo
adota atualmente a Estrutura Multiformato, composta pelos seguintes modelos:
100
Figura 11– Estrutura Multiformato GPA 2008
Fonte: GPA ( 2008 p 12)
Nesta figura encontram-se as bandeiras e respectivos conceitos que compõem a
estrutura multiformato do GPA. Constata-se que o Hipermercado Extra é responsável por uma
participação nas vendas do GPA ( 44,5%) referente à soma das bandeiras: Supermercado Pão
de Açúcar, CompreBem, Sendas e todas as outras modalidades Extra, o que torna explícita
sua importância no Grupo. Confirmando esta tendência, no primeiro semestre de 2009, o total
101
de vendas líquidas do GPA atingiu o total de R$ 10, 298 milhões, dos quais R$ 5.148 milhões
foram gerados pela bandeira Extra
73
com exceção do Extra Eletro.
Quanto ao segmento eletroeletrônico, em 08 de junho de 2009, com objetivo de
fortalecer e ampliar sua atuação, a CBD anuncia a aquisição da Globex Utilidades S.A, há
mais de 60 anos presente no varejo nacional atuando em 10 estados e Distrito Federal através
de 455 lojas com faturamento de R$4,8 bilhões74.
A partir de então, o GPA assume a liderança no varejo brasileiro através do aumento
de seu alcance no território brasileiro como pode ser observado na figura a seguir:
Figura 12: GPA 2009
Fonte: GPA
73
Disponível em http://www.gpari.com.br/port/desempenho/vendas_divisao.asp
74
GPA-Fato Relevante DE 08/06/2009 Disponível em
http://www.gpari.com.br/port/home/aquisicao_ponto_frio.asp Acesso em 18/09/2009
102
Com a aquisição das lojas do Ponto Frio o GPA estende sua presença em mais 4
estados no território nacional
Diante destas mudanças ocorridas em 2009 o GPA passa a apresentar a seguinte
formatação:
Tabela 4: Formatação atual do GPA 2009
TABELA Y : Estrutura Multiformato GPA
HIPERMERCADOS : Extra
SUPERMERCADOS : Pão de Açúcar, Extra Perto, CompreBem e Sendas
LOJAS DE PRODUTOS ELETRÔNICOS/ELETRODOMÉSTICOS: Extra Eletro e Ponto Frio
LOJAS DE PROXIMIDADE: Extra Fácil
ATACAREJO: Assai
OPERAÇÕES DE COMÉRCIO ELETRÔNICO :
extra.com.br
Pão de Açúcar Delivery
www.pontofrio.com.br
POSTOS DE COMBUSTÍVEIS, DROGARIAS E REDE DE DISTRIBUIÇÃO
MARCAS PRÓPRIAS:
Taeq e Qualitá totalizando cerca de 1.500 itens
Casino – linha francesa com mais de 200 itens
Cast – ramo têxtil, segmento adulto feminino e masculino
Boomy e Bambini – linha têxtil infantil
Fonte: Tabela elaborada pela autora adaptada do Relatório de Sustentabilidade 2008
GPA e site institucional : www.grupopaodeacucar.com.br Acesso em 18/09/2009
103
O GPA expressa seu compromisso de liderança no setor de comércio varejista
segmento hipermercados e supermercado quanto à sustentabilidade e reafirma sua constante
busca pela gestão eficiente quanto às práticas de RSAE. Neste sentido, iniciou um Grupo de
Trabalho com o objetivo de criar e reformular os programas focados no desenvolvimento
social, consumo consciente e construção do Relatório de Sustentabilidade GRI 2008,
autodeclarado como pertencente ao nível C
75
que discorre sobre as práticas e avanços, ganhos
e oportunidades na área da sustentabilidade.
Neste relatório o Grupo apresenta sua Missão de: “Garantir a melhor experiência de
compra para todos os nossos clientes, em cada uma de nossas lojas”. E divulga sua Visão: “O
GPA almeja ampliar a participação no mercado brasileiro de varejo e tornar-se a empresa
mais admirada por sua rentabilidade, inovação, eficiência, responsabilidade socioambiental
e contribuição para o desenvolvimento do Brasil”(GPA 2008, p.8)
De acordo com o setor de Responsabilidade Socioambiental, em 2007, foram
aplicados R$ 180 milhões em ações relacionadas às causas protagonizadas pela empresa
envolvendo: sustentabilidade no consumo, desenvolvimento comunitário e bem estar pessoal.
Dentre os programas destacam-se: Estações de reciclagem Pão de Açúcar Unilever; Programa
de Sacolas Retornáveis; Educação para o consumo; Comércio Solidário–Caras do Brasil;
Escola vai ao Extra; Parceria contra o desperdício e Alimenta Bem.
No ano de 2001 o Grupo torna-se signatário do Pacto Global, e segundo declaração de
seu atual Presidente Claudio Galeazzi, o compromisso do GPA com o desenvolvimento
sustentável:
nos leva a buscar continuamente alternativas viáveis e ambientalmente corretas que
nos auxilie no controle de custos e maximização dos recursos operacionais em toda
cadeia de valor, gerando benefícios em prol da sustentabilidade para toda a
sociedade”. E cientes da nossa responsabilidade e dos impactos gerados pelo nosso
negócio, atuamos de maneira uníssona, convidando nossos clientes a praticarem o
consumo consciente e a trabalharem conosco na construção de uma sociedade mais
justa, com melhor qualidade para todos” (GPA,2008 p.5)
75
Para atender às necessidades de relatores Iniciantes, Intermediários e avançados o sistema apresenta três níveis
intitulados C, B e A[...] uma organização poderá autodeclarar um ponto a mais (+) em cada nível caso tenha sido
utilizada verificação externa Diretrizes para Relatório de sustentabilidade 2000-2006 p.5
104
Diante disto, buscando sedimentar sua proposta de sustentabilidade, em 2007 o Grupo
investe R$ 7,5 milhões e inaugura na cidade de Indaiatuba o primeiro supermercado verde da
América Latina. A loja foi concebida segundo os requisitos do LEED – Leadership in Energy
and Environmental que atesta a sustentabilidade da edificação que conta com uma série de
inovações, entre elas: gôndolas com madeira certificada pelo Forest Stewardship Council
FSC
76
.
Esta loja verde com 1.600m2 de área de vendas, conta com a oferta de produtos
orgânicos, naturais e sustentáveis; carrinhos confeccionados com material reciclado; opções
de sacolas retornáveis para compras e vagas especiais para veículos a álcool, bicombustível e
bicicletas, além de contar com o projeto “Caras do Brasil”, através da exposição de
aproximadamente 200 itens oriundos de 87 comunidades do Brasil; o projeto Caixa Verde”
em que os consumidores podem optar pelo descarte pré-consumo das embalagens de papel e
plástico, e a “Estação de Reciclagem” para descarte de pós-consumo. Neste supermercado
verde todos os 110 funcionários são treinados em conceitos de sustentabilidade na
perspectiva de multiplicar seus conhecimentos entre os clientes e fornecedores da loja.
Em 2008 o Programa Alimenta Bem é desenvolvido no Supermercado CompreBem
que enaltece em cursos gratuitos o consumo consciente.
De acordo com dados da planilha IBASE 2008, os Indicadores Sociais Internos, que
incluem segurança e saúde no trabalho, previdência privada, alimentação e outros somaram
R$ 652.803 milhões de investimentos por parte d GPA. Quanto aos Indicadores Sociais
Externos, que envolve saúde, educação, cultura entre outros, totalizaram R$ 971.777 milhões
de investimento neste ano de 2008. Quanto aos indicadores ambientais, foi declarado o total
de R$ 3.445 milhões em investimentos em programas e projetos externos.
Ainda na planilha IBASE 2008 constata-se que a soma de empregados acima dos 45
anos e de negros que trabalham na empresa totalizam 9.284 pessoas, que somados às 439
pessoas com deficiência, totalizam 9725 dentre os 70.656 funcionários neste período.
76
A Certificaçãoa florestal FSC é uma ferramenta voluntária que atesta a origem da matéria-prima florestal em um produto garantindo que a
empresa ou comunidade utilizou-se de manejo florestal responsável, ou seja, utilizou recursos da floresta respeitando os níveis de
sustentação ecológica e os serviços ambientais a fim de gerar benefício sociais para os trabalhadores e para as comunidades locais, além de
promover a conservação ecológica. Dispnível em http://www.fsc.org.br/index.cfm?fuseaction=conteudo&IDsecao=74 Acesso em
20/09/2009
105
O GPA se destaca na área dos esportes com incentivo aos atletas profissionais
brasileiros e desde 1993 realiza na cidade de São Paulo/SP a Maratona Pão de Açúcar de
Revezamento, projeto já replicado em Fortaleza/CE desde 2002 e Brasília/DF em 2008, com
planos de extensão para a cidade do Rio de Janeiro/RJ em 2009. Acontece também na cidade
de São Paulo a corrida Pão de Açúcar Kids para crianças de 2 a 12 anos de idade, cidade que
abriga também o Pão de Açúcar Esporte Clube, clube destinado a formação de 150 jovens a
partir de 13 anos que desejam seguir carreira no futebol; este projeto está presente na cidade
do Rio de Janeiro desde 2005 e atende 120 adolescentes. O projeto Passeio Ciclístico Extra
acontece nas cidades de Santos/SP, Fortaleza/CE, Brasília/DF e Niterói/RJ.
Na área da cultura e educação o Programa de Música e Orquestra acontece nas cidades
de São Paulo/SP, Santos/SP, Fortaleza/CE, Rio de Janeiro/RJ e Brasília/DF com jovens de 12
a 21 anos, através do Instituto Grupo Pão de Açúcar.
Na área da assistência social são promovidas campanhas de arrecadação como a de
brinquedos que há 8 anos acontece nos hipermercados Extra e que a partir de 2008 integra
também o Supermercado Pão de Açúcar, além de arrecadação de livros e agasalhos durante o
inverno. Ao se referir a estas ações, Sr Paulo Pompílio, diretor de Responsabilidade
socioambiental do GPA: “temos como objetivo utilizar nossas lojas como um facilitador para
ações sociais de toda comunidade unindo as duas pontas interessadas: o cliente que
frequenta nosso super e hipermercados e as instituições localizadas no nosso entorno que se
beneficiam dessas ações”
77
Todas estas ações apresentadas estão elencadas no escopo da RSAE do Grupo Pão de
Açúcar.
Dando prosseguimento a este estudo, segue a caracterização da loja Extra
Hipermercado Santa Rosália de Sorocaba/SP e de suas ações de RSAE empreendidas no
período de 2002 a 2009.
77
Extra e Pão de açúcar começam arrecadação de brinquedos para o natal: a ação que é realizada desde 2000 na bandeira /Extra é novidade
na rede Pão de Açúcar. GPA -Relacionamento com a imprensa-Dezembro/2008
106
2 - Caracterização da loja Extra Hipermercado Santa Rosália
Sorocaba/SP e das Ações de Responsabilidade Socioambiental
Empresarial:percepções dos sujeitos
Os teares silenciados e um prédio a caminho da ruína no centro do bairro que outrora
abrigara a próspera Vila Industrial de Santa Rosália é o cenário no final do século XX em que
se encontra a fábrica pertencente a Cia. Nacional de Estamparia Ciane em que 8.000
funcionários exerciam suas funções na fiação, tecelagem e estamparia.
Terminada a época áurea do empreendimento na Manchester Paulista, a nova face da
economia se apresenta na cidade de Sorocaba. Em 5 de Novembro de 1999, em leilão
realizado pela Justiça do Trabalho no Fórum Trabalhista de Sorocaba, para pagamento de
dívidas trabalhistas de 1.500 funcionários da Ciane, o antigo prédio da Fábrica Santa Rosália
é arrematado pelo GPA por R$ 11 milhões de reais.
Em clima formal o anúncio da instalação do Hipermercado Extra no local adquirido
pelo Grupo é oficializado no gabinete do Prefeito em 24 de fevereiro de 2000, pela diretoria
do GPA ao prefeito Sr Renato Amary e outras autoridades presentes.
Figura 13 : Loja Extra Hipermercado Santa Rosália
Fonte: Foto cedida pelo Extra Hipermercado
107
O prédio é reformado seguindo resolução do Conselho Municipal de Defesa do
Patrimônio Histórico de Sorocaba CMDP e 100% da fachada original remanescente da antiga
Fábrica Santa Rosália é preservada e recuperada.
Em 19 de julho de 2000, a inauguração da loja Extra Santa Rosália é feita solenemente
na presença de diversas autoridades políticas e religiosas, com a fita inaugural desatada pela
primeira-dama do município Maria Lucia Amary juntamente com membros da família Diniz,
inclusive Sr Valentim dos Santos Diniz, fundador do GPA.
A grandeza do empreendimento se expressa num terreno de mais de 50 mil metros
quadrados, com área construída de 33.981 metros quadrados e investimento inicial de R$ 23
milhões em obras e equipamentos. Dentro de 9.802 m2 de área de vendas, em média 70 mil
itens são oferecidos aos 10 mil consumidores que diariamente circulam pelo local, atendidos
diretamente por 444 funcionários, e indiretamente por 2.600 pessoas.
A loja Extra Hipermercado Santa Rosália possui uma galeria onde vários outros
serviços são oferecidos como: locadora de vídeos, salão de beleza, Drogaria Extra, Papelaria,
Banco Unibanco e Banco do Brasil, Lojas de roupas, sapatos e acessórios, Armazém de
artigos para banho, Lotérica, Revistaria e Tabacaria, Pet Shop com serviço completo para
animais, Casa do Pão de Queijo, Mc Donald´s, Star Chicken, Churrascaria e Pizzaria, Serviço
de Saúde Intelimed, Salão de jogos eletrônicos e Siber, mais de 10 caixas eletrônicos de
diferentes agências bancárias, sapataria, tinturaria, bordados e serviços de costura, Academia
de Ginástica e Dança, Loja de Câmbio, Pastelaria, em uma ampla praça de alimentação.
Funciona também neste local, a TV de Vidro de Sorocaba, uma inovação na área da
informação, onde programas são gravados ao vivo em uma sala de vidros e todos os que estão
na praça de alimentação da Loja Extra Hipermercados podem apreciar e participar dos debates
durante a programação, que é totalmente direcionada à Sorocaba e região.
Nas galerias estão expostos produtos artesanais da Feirart, espalhados em mais de dez
barracas que oferecem todo tipo de artesanato local entre objetos de decoração, roupas e
alimentos em conserva.
Funcionando há aproximadamente nove anos na cidade, apesar do início festivo, esta
loja enfrentou dificuldades de aceitação nos primeiros anos, entre os anos 2000 e 2002.
108
No que diz respeito às ações de RSAE da loja Extra Hipermercado Santa Rosália, os
sujeitos da pesquisa assim se expressaram:
M.O. O começo dela foi bem difícil para poder ter o público que ela tem hoje. Ela (a
loja) teve os dois anos e meio iniciais bem difíceis, para trazer o fluxo de clientes
pra cá. O pessoal não conhecia, tinha pouco o hábito de vir pra cá, achava a loja
muito nobre pra aquela época. Com lay out bem atualizado, nossa loja chegou
novinha com conceitos novos, ela tinha realmente na época assim um ar de ser uma
loja mais “top” para o cliente, então ela sofreu assim um dois anos e meio”
A participação da empresa na comunidade deu-se inicialmente com a restauração de
um ícone do progresso de Sorocaba, preservando as linhas peculiares arquitetônicas da
construção com seus arcos imponentes preservados e devidamente iluminados. Ainda durante
a reforma, o GPA providencia uma réplica da padroeira Santa Rosália para ser colocada no
nicho da entrada principal da loja Extra Hipermercado
78
.
Na seqüência, painéis fixos de fotos retratando o passado de Sorocaba, em preto e
branco, são expostos no interior da loja e, durante o ano de 2002 é oferecido diariamente um
café manhã para que os moradores pudessem se congratular, bem como aulas de alongamento
direcionadas à terceira idade.
A partir destas atitudes, o movimento no hipermercado se altera. Para M.O.
“a partir do momento em que ela começou a fazer ações na loja e participar de
eventos na cidade, a loja começou a atrair mais público. Esse é o ponto forte dela,
ela começou a guinar para uma loja assim que hoje tem um sucesso muito grande.
Essas ações no início fixaram muito a marca e começaram a trazer muito o cliente
para próximo da marca Extra aqui na cidade, e a gente já faz bem isso [...] na cidade
de Sorocaba o povo, a comunidade pelo menos, simpatiza muito, colabora, é
participante, cobra quando tem que cobrar”
Durante os colóquios proporcionados pelos encontros dos frequentadores no café da
manhã dentro do espaço do Hipermercado, surgiu a discussão sobre a extensão das ações da
empresa para suprir antigas reivindicações dos moradores do bairro, conforme informações de
jornal da época:
78
A imagem original de Santa Rosália, considerada obra de arte sacra rara, com mais de um metro de altura, esculpida em mármore na
província de Palermo, na Sicília, Itália e trazida para o Brasil em 1895 pelos fundadores da Fábrica Santa Rosália, que havia desaparecido do
nicho, foi encontrada sob a proteção dos fiéis na Paróquia Santa Rosália (Jornal Cruzeiro do Sul-31/05/2000 A-8 e 13/06/200-A-8
109
“[...] agora os moradores utilizam aquele espaço para reuniões matinais,
normalmente após caminhadas pelas ruas do bairro, quando se encontram ali para o
desjejum. Num desses encontros, saboreando as delícias oferecidas pelo Pão de
açúcar, alguns deles chegaram a discutir a possibilidade de a empresa estender a sua
ação sócio-comunitária, vindo a adotar a praça Pio XII, conforme permite a
legislação municipal. O centenário logradouro, apesar de ser considerado cartão
postal de Sorocaba, precisa de uma reforma e (principalmente) de quem possa lhe
dar constante manutenção” (Jornal Cruzeiro do Sul, 25/07/2002-p.A-1)
Porém, as ações oferecidas pela loja, como café da manhã e aulas de alongamento,
foram suspensas sem prévio conhecimento dos freqüentadores, expondo uma fratura entre a
possibilidade de interação entre a empresa e entorno e o objetivo de marketing alcançado
através do aumento de fluxo de clientes na loja. Esta cisão pode ser compreendida na fala do
atual Presidente da Sociedade Amigos de Bairro de Santa Rosália:
F.R. “O Extra ele fazia ginástica para a terceira idade, cedia espaço ali mas de
repente tomou este espaço, eram professores habilitados e que atendiam os
frequentadores para fazer um alongamento; oferecia um farto café da manhã, mas o
café era só um detalhe, pois tinha o encontro dos moradores que aproveitavam para
colocar a conversa em dia mas, começou e tomou!
É possível constatar que os frequentadores da loja Extra ressentiram-se da
descontinuidade das atividades e utilizaram-se da Associação Amigos de Bairro para
demonstrar seu descontentamento e reivindicar novas ações, como relata Sr F.R.:
“eu acho que o Extra não tem interesse, também eles se acomodaram. Eles vieram
para o bairro e tiveram 4 ou 5 anos bem difíceis até conseguir o status de hoje, agora
conquistaram o povo sorocabano. Mas, eles precisam se preocupar com o bairro
onde estão inseridos. Nós procuramos, enviamos email, solicitamos reuniões para
reivindicar melhorias na iluminação, no estacionamento, no trânsito local que é mal
organizado e oferece risco aos pedestres tanto para clientes como de moradores que
passam pelas entradas, e até sobre a venda de bebidas alcóolicas para menores de 18
anos durante a madrugada. Nós nos propomos inclusive a ser elemento de ligação, a
parceria é muito bem vinda, se o Extra quiser participar ele encontra!”
No relato de M.O. constatou-se que as atividades foram suspensas até o ano de 2008 e
retomadas a partir do momento em que este assumiu o posto de Gerente Geral da loja. M.O.
entende que Sorocaba: “é uma comunidade responsável no que diz respeito assim, a ter
ações sociais e a participar”, pontua que “em relação às ações de RSAE, a loja possui
110
relativa autonomia no empreendimento de ações próprias da loja desde que não demandem
recursos financeiros”. Então as ações empreendidas não possuem foco nem público-alvo
definido, distribuindo-se em projetos para consumidores, crianças, mulheres e outros. Pautam-
se principalmente na cessão do espaço interno da loja para ONGS, Rotary e Ônibus da Mulher
da Secretaria Municipal de Saúde se apresentarem ao público do Hipermercado: M.O.“Tem
coral de surdos mudos, que eles fazem coral de libras que a gente chama para se
apresentar”.
Figura 14 : Coral de LIBRAS
79
Fonte: Foto cedida pela loja Extra Hipermercado Santa Rosália
M.O. “tem coral de deficiente visual. Recentemente teve o feriado consciência
negra veio um grupo se apresentar de mulheres negras da cidade de Sorocaba para
fazer a dança afro”.
79
A Linguagem Brasileira de Sinais LIBRAS. O coral de LIBRAS é um projeto de uma ONG em Sorocaba.
111
Figura 15: Movimento de Mulheres Negras de Sorocaba MOMUNES
Fonte: Foto cedida pela loja Extra Hipermercado Santa Rosália
M.O. “Toda a quarta feira e final de semana vem o pessoal de enfermagem, para
fazer medição de pressão, teste de diabetes da Intelimed e tem esse ônibus da
mulher, que veio agora”.
Figura 16: Ônibus da Mulher, conhecido como Ônibus Rosa
80
Fonte: Foto cedida pela Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Sorocaba
80
Inaugurado em maio de 2007, o Ônibus da Mulher é totalmente adaptado para funcionar como uma unidade de saúde e pertence à
Secretaria Municipal de Saúde de Sorocaba. Possui sala de exames, consultório e até espaço para trabalho educativo. Sobre rodas, toda essa
estrutura é levada aos bairros mais distantes, eventos ou locais com grande circulação de pessoas. Na unidade são oferecidos vários exames,
o principal deles é a coleta de papanicolau. Durante o ano de 2008, a equipe do ônibus realizou 2.028 prevenções de câncer de colo uterino,
uma média de 169 exames por mês. Foram agendadas ainda 1.133 mamografias e 259 encaminhamentos para consultas com
especialistas.Fonte: Fonte: Prefeitura de Sorocaba – Secretaria de Comunicação
112
M.O. “ [...]há 15 dias esteve na loja um grupo do Rotary e arrecadaram 4 toneladas
de alimentos dos consumidores num sábado. A gente fornece o espaço pra elas, faz a
sinalização e acompanha a entidade para qual é feita a doação. Neste caso, foram
pra várias entidades porque a quantidade foi muito grande. Então, a gente procura
aproveitar bem o espaço e o fluxo de clientes que a gente tem hoje e procura sempre
estar apoiando essas ações”
Outras ações são iniciadas por influência de uma Assistente Social do Plano de Saúde
Intelimed que funciona no interior do Extra Hipermercado Santa Rosália. Parcerias com
empresas, SENAC e outros para prestação de serviços no interior da loja são descritas na fala
desta profissional: Y.E .”nós temos uma equipe para aferir a pressão arterial, diabetes e
testes de acuidade visual de clientes interessados e também para oferecer orientação sobre
alimentação saudável [...]o Extra é um espaço para 30 mil pessoas e ele não precisa
participar com dinheiro”. Durante a aplicação destes projetos preventivos de saúde, nos
meses de Novembro a Dezembro de 2008, foram atendidas 35 mil pessoas, segundo dados do
Extra Hipermercados.
Todas estas ações são descritas como específicas da loja Extra Hipermercado Santa
Rosália e são planejadas internamente, como afirma M.O. na fala seguinte:
“tem algumas pessoas que a gente já conhece aqui na cidade que também a gente
entra em contato e a gente acaba discutindo e cedendo o espaço. Outros os próprios
funcionários acabam trazendo pra gente. Nós nos reunimos: o gerente geral, um
chefe de cada seção, líderes numa reunião diariamente e um dos dias a gente discute
sobre isso, o que vai fazer, quem a gente vai trazer o que a gente vai agregar pra loja
e pra comunidade utilizando o fluxo de pessoas na loja, a idéia aqui é a gente
movimentar obviamente, trazer a comunidade pra cá e mostrar pra comunidade que
o extra esta participando da cidade de alguma forma positiva. Faz parte da estratégia
da empresa ter vários parceiros”
Paralelas a estas ações que acontecem no interior da loja, outras ações sociais são
desenvolvidas a partir de diretrizes do Grupo Pão de Açúcar, que se aproximam mais do
conceito de RSAE e constam do Relatório de Sustentabilidade 2008, como desenvolvimento
comunitário, dentro do indicador Solidariedade, como segue:
113
Campanhas solidárias – O GPA acredita que, com a participação da companhia em
questões comunitárias, é possível fazer a diferença. Pensando nisso, a empresa
promove dezenas de ações para o desenvolvimento comunitário, em que as unidades
do grupo atuam como postos de arrecadação de agasalhos, livros, brinquedos e
alimentos que são doados para instituições localizadas no entorno das lojas.
Anualmente as campanhas promovidas pelo grupo beneficiam cerca de 300
instituições. Só em 2008, foram arrecadados 464 mil livros, 375 mil agasalhos e 64
mil brinquedos (GPA, 2008 p. 54)
Os resultados das Campanhas Solidárias efetuadas localmente pela loja Extra
Hipermercado Santa Rosália em Sorocaba/SP, e os resultados obtidos através do GPA,
segundo Relatório de Sustentabilidade 2008, como desenvolvimento comunitário, dentro do
indicador Solidariedade, bem como os resultados obtidos isoladamente pela loja Extra
Hipermercado Santa Rosália, foram levantados como segue:
Tabela 5: Campanhas Solidárias 2008 – GPA e Extra Hipermercado Santa Rosália Sorocaba/SP
CAMPANHA GPA EXTRA
Arrecadação de agasalhos 375 mil agasalhos 10 mil peças (aproximadamente)
Arrecadação de livros 464 mil livros 4 mil livros (aproximadamente)
Arrecadação de brinquedos 64 mil brinquedos 1,2 mil (aproximadamente)
Parceria Contra Desperdício 600 entidades Extra 1 entidade
Fonte: Tabela elaborada pela autora baseada no GRI 2008/GPA e informações Extra Hipermercado
Diferentemente das ações localmente desenvolvidas, as ações que seguem as diretrizes
do GPA propõem que o Extra Hipermercado tenha sua contrapartida. Neste caso, propondo-se
a doar a mesma quantia arrecadada dos clientes durante a Campanha Natal Para Todos, como
explica M.O.:
114
M.O. “Quanto às ações específicas do GPA, a gente tem agora uma campanha que
começou ontem (26/11/2008) de arrecadação de alimentos de final de ano que é:
“Natal para Todos” em que todas as lojas Extra juntas irão doar 103 toneladas de
alimentos e a gente conta que os clientes vão doar mais 103 toneladas, totalizando
206 toneladas. A gente está incentivando os clientes, nós temos aqui na frente dos
caixas os carrinhos para coleta. Esta loja deverá doar 2 toneladas”.
As ONGs Associação Bethel Casas Lares e o Centro de convivência para Idosos,
beneficiados com as doações de alimentos no final do ano de 2008, estão há aproximadamente
2 anos em parceria na ação de RSAE do Extra Hipermercado Santa Rosália Sorocaba.
Desenvolvida a partir do GPA esta ação junto às ONGs está expressa no Relatório de
Sustentabilidade (2008 p.55), no indicador Cultura/Sustentabilidade – Parceria Contra o
Desperdício, que embora não seja assim enquadrada na fala anterior, possui os requisitos
relativos a este indicador. Esta parceria consiste na doação semanal de alimentos perecíveis
impróprios para a venda devido a alteração em seu aspecto, porém liberados para consumo.
Todas as quintas feiras o motorista Sr João faz a seleção de 200 kg dos produtos que inclui
geralmente frutas e legumes e encaminha às duas instituições, que utilizam a doação nas
refeições diárias.
A importância desta parceria é ressaltada nas seguintes falas dos sujeitos:
F.M. O Bethel está em Sorocaba há 86 anos, e é um abrigo para crianças e
adolescentes em situação de risco. A gente vive aqui em sistema Casas Lares, uma
família que cuida das crianças. Tem uma casa que é de meninos e uma casa de
meninas, a intenção é aproximar do convívio de uma família, de uma casa normal,
tirar aquele aspecto de orfanato, de todo mundo tudo junto, é um cuidado bem
personalizado, individual, o Bethel é isso.[...] temos uma Assistente Social, a L.B. e
ela faz parte do projeto Conviver. o Bethel tem esse projeto que foi aceito pelo
Conselho Municipal Da Criança e do Adolescente CMDCA. Essa verba que vem é
que paga a Assistente Social, aqui ela não é uma funcionária da casa, ela vem todo
ano pelo projeto, o projeto acaba sendo aceito e ela fica com a gente. No projeto
conviver a Assistente Social e a Psicóloga fazem esse trabalho com a família
biológica”.O Extra está desde 2007 conosco e faz doação de frutas, legumes e
verduras e esporadicamente outros produtos que ajudou muito mesmo, e espero que
continue...
115
M.B. declara que: “inaugurada há 7 anos o Centro de Convivência para Idosos
atende em regime de abrigo 15 mulheres na faixa de 60 a 97 anos. As internas
colaboram com 70% de sua renda, que gira em torno de 0 a 2 salários mínimos, e o
custo de cada interna é calculado mensalmente em R$ 1.000,00 que é
complementado com doações da Igreja Presbiteriana e por associados. A instituição
conta com 9 funcionários entre eles o Sr. João, motorista e zelador, que pernoita 6
noites por semana no Centro e toda quinta feira retira no Extra a doação de frutas,
legumes e verduras que há dois anos é muito bem-vinda e complementa a
alimentação das internas.
Os depoimentos revelam que a parceria é mantida em caráter formal, sem aproximação
entre as partes, limitando-se o contato à documentação referente ao processo de doação:
M.B “toda documentação referente a esta doação é encaminhada ao Extra que conta
com Atas das reuniões registradas em cartório, não havendo uma relação direta com
pessoas do supermercado
.
F.M. “nós nos encontramos só quando foi feito mesmo a parceria. Vieram aqui
conheceram a instituição, ficaram um tempo com a gente quando vieram fechar esta
parceria com a gente, mas não tem esse encontro, só esse cadastramento mesmo e
acaba sendo virtual. Falta abertura”.
L.B. “a doação que o Extra dá ao Bethel é material. Eu acho que as empresas, não só
as grandes, mas também as pequenas podem se reunir. Um exemplo, um consultor
fez um grupo de empresas e fez a festa Junina com várias barracas em que cada
empresa ficou responsável por uma atividade. Eu e a psicóloga ficamos informando
às pessoas sobre como funciona o abrigo, mostramos as atividades, e que dentro dos
limites, as crianças e adolescentes levam uma vida normal, vão à escola, brincam
etc. As empresas têm que acreditar mais onde estão investindo, para isto precisam
conhecer os projetos, saber que vale a pena e que os resultados finais são
importantes”.
Essas parcerias do Extra com as entidades acima carecem de relações mútuas,
contínuas e participativas, necessárias a um aperfeiçoamento das ações empreendidas.
Dentro deste processo de diretrizes do GPA quanto às ações de RSAE para a Loja
Extra Hipermercado Santa Rosália, uma outra atividade inclui o Programa Estação de
Reciclagem que funciona através da fixação de um coletor de lixo reciclável no
estacionamento da Loja. Para a divulgação do Programa um cooperado que recebe um salário
mínimo, uniforme e almoço dos parceiros do GPA é incumbido de distribuir panfletos e
116
cooptar os freqüentadores do local a encaminharem seu lixo reciclável. Este cooperado separa
os materiais e entrega ao caminhão da Cooperativa.
O Programa Estação de Reciclagem é assim exposto no Relatório de Sustentabilidade
2008 do GPA:
O GPA foi a primeira empresa de varejo a oferecer uma alternativa aos seus clientes
para o descarte de materiais recicláveis. A ação teve início em 2001 com as Estações
de Reciclagem na Rede Pão de Açúcar, implantadas em parceria com a Unilever, o
que contribuiu para a rápida concretização e expansão do programa. As Estações de
Reciclagem atuam em dois focos principais: preservando o meio ambiente e gerando
emprego e renda para as cooperativas participantes. A adesão dos clientes e os
benefícios do programa permitiram a sua expansão para outras 20 lojas em 2008,
totalizando 102 estações Pão de açúcar Unilever. Hoje o Programa é um dos mais
bem-sucedidos programas de reciclagem desenvolvidos pela iniciativa privada do
País, e conta com o reconhecimento das comunidades onde está presente,
registrando crescimento a cada ano. A rede Extra também aderiu à causa no ano
passado e, em parceria com a Pepsico, criou o Programa Estações de Reciclagem
ExtraH2O! O grupo já conta com mais de 140 postos de coleta e arrecadou mais de
26 mil toneladas de lixo reciclável, entre metal, papel, plástico, vidro e óleo de
cozinha, gerando renda para mais de 20 cooperativas no Brasil (GPA, 2008 p. 60)
Em Sorocaba, o Programa é desenvolvido em parceria com a Cooperativa Reviver.
M.O. Temos um outro programa também do GPA que é a Estação de Reciclagem
que para nós aqui começou faz, acho que uns 60 dias mais ou menos. O nosso lixo
específico da loja tem outra empresa que cuida, nós temos o nosso lixo reciclado que
já é uma quantidade bem maior. Tem uma outra empresa de reciclagem, a
cooperativa da cidade de Indaiatuba com pessoas registradas, com quem a gente
também trabalha, nesse sentido então tem coleta para lixo reciclado de cliente que
segue para a Estação de Reciclagem e o que a gente produz, plásticos e madeira do
pallets são retirados pela Cooperativa de Indaiatuba.
Parceira da Loja Extra Santa Rosália no Projeto Estações de Reciclagem, a
Cooperativa Reviver surgiu de uma idéia de geração de renda e resgate de dignidade aliados a
sustentabilidade do planeta no interior da Pastoral Familiar da Igreja São José Operário. Com
o objetivo de substituir as cestas básicas oferecidas mensalmente às pessoas carentes da
comunidade, os integrantes da Pastoral Familiar buscaram parceria junto ao poder público e
às empresas privadas para o desenvolvimento de tecnologias que viabilizassem o projeto da
Cooperativa.
117
A fala a seguir discorre sobre a criação da Cooperativa Reviver e seu
desenvolvimento:
S.J. A Cooperativa Reviver surgiu a partir da idéia lançada na Pastoral da Família,
que através de parcerias com o poder público e apoio direto do prefeito, secretários e
vereadores, além de empresas da região montou uma estrutura que abriga hoje 22
cooperados. O atual Presidente da Cooperativa, Sr Miguel, é cedido por uma
empresa multinacional instalada na cidade e se dedica período integral ao projeto,
inclusive oferecendo assessoria a outras cooperativas e realizando palestras em
escolas sobre reciclagem. O Projeto tem 4 anos, mas oficialmente foi inaugurado em
dezembro de 2007, pois tivemos problemas com empresários de ferro velho que não
queriam que o projeto vingasse, porque aqui o preço que o material é vendido é
repassado para o cooperado, tira a taxa administrativa que não paga as despesas da
cooperativa.
No começo, quando a pastoral estava forte, nós pegamos o pessoal, e em 4 sábados
fizemos palestras sobre meio ambiente, para conhecer os materiais, sobre orçamento
familiar, auto-estima, higiene, segurança etc.
A Cooperativa Reviver tem seu projeto idealizado no seio da Igreja Católica, numa
junção de competências visando a emancipação do munícipe. Visa inclusão econômica e
social através da geração de renda e melhora no meio ambiente através da manipulação de
resíduos.
Quanto a parceria desenvolvida com a Loja Extra Hipermercado Santa Rosália e a
Cooperativa Reviver, na visão de seu administrador, segue a seguinte exposição:
S.J. “O projeto do Extra eu acho que vem a somar. Olha a gente não quer
exclusividade quanto mais a idéia da reciclagem vingar melhor pra todo mundo. O
Extra, a H2O E A BR +10 –parceiros do projeto - não quer ficar com o material
deixado pelos clientes na Estação de Reciclagem que fica no estacionamento do
Extra. O que vem hoje não está pagando as despesas, amanhã acho que vai pagar. O
que é entregue no Extra vai para doação para a manutenção da Cooperativa, o
volume não é tão grande. A BR + 10 paga R$ 415,00, INSS e Vale transporte para
uma cooperada que fica na Estação de Reciclagem divulgando o projeto, o resto é
por nossa conta, uniforme, PIS, COFINS e Taxa Administrativa”.
Este conjunto de ações de RSAE apresentadas evidenciam a disposição da Loja Extra
Hipermercado em atuar na perspectiva de contribuir para a promoção de melhorias locais,
principalmente nas áreas de assistência social, saúde, cultura e meio ambiente, realizadas
sempre nos espaços físicos internos da própria loja.
118
A seguir, considerando resultados dessas ações, são apresentadas algumas reflexões
analíticas.
4.3 Refletindo sobre os Significados da Experiência Empreendida de
Responsabilidade Socioambiental Empresarial
As percepções dos sujeitos da pesquisa sobre as das ações empreendidas pela Loja
Extra Hipermercado Santa Rosália, indicam que sua definição e implementação não foram
resultado de um Plano Diretor, mas foram se efetivando por diferentes circunstâncias da
dinâmica de funcionamento da loja.
Pode-se, desse modo, depreender que: na área da cultura, as apresentações do Coral
de Libras, Coral de Deficiente visual e Dança Afro oportunizaram possibilidades de
divulgação de suas ações de canto e dança, ampliando conhecimento sobre as manifestações
artísticas de Sorocaba.
Na área da saúde, a permanência do ônibus da mulher no estacionamento da Loja
Extra, oportunizou e valorizou a prática da prevenção através da potencialização da
informação e de encaminhamentos efetuados das usuárias aos equipamentos e serviços de
saúde pública do município.
Quanto aos serviços prestados pela Intelimed de aferição de diabetes, pressão arterial e
acuidade visual aos freqüentadores da Loja Extra em espaço especialmente cedido por esta,
vem possibilitando o acesso à informação e orientação sobre saúde e qualidade de vida, bem
como contribuindo para maior divulgação dessa prestadora de serviços de saúde.
No que diz respeito às ações de assistência social referentes à arrecadação de livros,
agasalhos, brinquedos e alimentos destinados às ONGs locais para distribuição aos seus
usuários, expressam o papel mediador da Loja Extra nessas campanhas solidárias.
Quanto às ONGs beneficiadas, expressam que suas atividades assistenciais tornam-se
mais conhecidas na cidade, o que vem motivando outras doações e auxílios de diferentes
pessoas.
119
Em relação ao meio ambiente a Loja Extra através do Programa Estação de
Reciclagem, faz também a mediação entre a entrega pelos freqüentadores do material a ser
reciclado com a Cooperativa Reviver de Sorocaba, que seleciona e distribui esse material às
empresas recicladoras.
Para a Cooperativa Reviver esta mediação da Loja Extra oportuniza maior divulgação
e valorização de seus princípios referentes ao Consumo Consciente, formação de hábitos
saudáveis, além de geração de renda aos cooperados.
Cabe ressaltar que todas essas ações são realizadas pela Loja Extra através de parcerias
com ONGs e entidades sorocabanas.
Refletindo sobre as percepções dos sujeitos acima expostas, considera-se como
aspectos relevantes:
O Grupo Pão de Açúcar possui um histórico antigo de relação com a RSAE e
percebe-se sua preocupação com o tema através da destinação de investimentos na área,
presença de departamento específico locado na administração central, formação de Grupo de
Trabalho, obtenção de certificações, prêmios na área e pioneirismo em diversas ações.
O GPA tem o compromisso social com a RSAE declarado nos respectivos relatórios
de Sustentabilidade e Balanço Social, divulgados através do site institucional. Este histórico
do GPA evidencia um processo de incorporação crescente da RSAE na sua cultura
organizacional. No entanto, esta realidade de RSAE do GPA se reproduz parcialmente no
tocante à Loja Extra Hipermercado Santa Rosália como se pode verificar no projeto Estação
de Reciclagem. Este projeto funciona precariamente e não atinge seu objetivo maior de
informação, educação ambiental e geração de renda.
Constatou-se que a iniciativa e a implantação das ações de RSAE na Loja Extra
Hipermercado Santa Rosália, tiveram por fator desencadeador a competitividade e a captação
de clientes, no sentido de que a imagem institucional e a atração de consumidores aliados ao
baixo investimento é que viabilizaram estas ações e não uma gestão pautada numa cultura
vinculada ao desenvolvimento sustentável e à promoção da redução das desigualdades sociais.
O conjunto dessas ações por parte da loja são ainda incipientes e não estão
consolidadas. Vem sendo realizadas sem um planejamento e uma política definidos, portanto,
120
são ações fragmentadas e pontuais e permeadas pelo marketing de varejo para divulgação e
ampliação de clientela, com objetivo de promoção no ranking da lucratividade.
O processo de construção de RSAE na Loja Extra Hipermercado Santa Rosália se faz
de forma descontínua e limitada pela frágil integração das partes interessadas no processo de
execução das ações, pautadas na ausência de planejamento, monitoramento e avaliação, o que
dificulta uma gestão compartilhada de RSAE.
Reconhece-se porém, que as ações desenvolvidas pela Loja Extra Hipermercado Santa
Rosália possuem potencial de disseminar informações através da utilização do espaço cedido
para campanhas educativas acerca da saúde, qualidade de vida e meio ambiente atingindo
diferentes públicos.
Pode-se considerar que o escopo das ações de RSAE desenvolvidas pela Loja Extra
Hipermercado Santa Rosália permite identificá-las como Cidadania Empresarial na visão de
Falconer (1999) no sentido de que a imagem institucional e a atração de consumidores aliados
ao baixo investimento é que viabilizam estas ações.
No que se refere às apresentações culturais das ações de RSAE, pode-se também
afirmar, com Juracy Parente (2008) que se efetivam dentro de uma estratégia de captação de
clientes ou marketing de varejo, em que o ambiente transforma-se em um palco onde os
sentidos e desejos dos consumidores são estimulados para comprar.
Outrossim, a disponibilização do espaço para a realização de ações educativas contém
a possibilidade de disseminar a formação de hábitos saudáveis objetivando a melhora da
qualidade de vida. De acordo ainda com Juracy Parente (2004) a peculiaridade do comércio
varejista de estar em contato direto com seus Stakeholders no momento da efetivação de sua
atividade econômica, faz surgir a oportunidade de desenvolver parcerias na construção de um
ambiente mais saudável, com o potencial inclusive de estender-se à sua cadeia de valor sua
atividade social.
O conhecimento de causa da vizinhança é negligenciado pela Loja Extra, o que
provoca na Associação Amigos de Bairro de Santa Rosália, ressentimento direcionado à
empresa. Esta conduta compromete possíveis parcerias entre a Loja e a Associação, conforme
palavras de seu Presidente F.R.:
121
eu acho que o Extra não tem interesse, também eles se acomodaram. Eles vieram
para o bairro e tiveram 4 ou 5 anos bem difíceis até conseguir o status de hoje,
agora conquistaram o povo sorocabano. Mas, eles precisam se preocupar com o
bairro onde estão inseridos”
Contudo, cabe ressaltar que em sua maioria os parceiros das ações de RSAE
empreendidas pela Loja, concordam que elas são benéficas e que cumprem sua finalidade,
embora sua dinâmica das ações não represente envolvimento direto e estreito entre os elos
desta rede.
Desse modo, pode-se afirmar que as ações de RSAE vem construindo redes de
relacionamentos entre os parceiros e a Loja Extra, que oferece seu espaço e, em contrapartida,
espera ampliar a movimentação dos clientes.
Quanto as Campanhas de Arrecadação empreendidas pela Loja Extra Hipermercado
Santa Rosália, carecem de rigor quanto à avaliação e monitoramento, o que permite
configurá-las como ações pontuais. Além disso, apresentam-se como ações de cunho
assistencialista e focalista.
As ONGs reconhecem a importância dessas Campanhas de Arrecadação porém,
manifestam insegurança quanto à continuidade dessas doações em razão dessas parcerias
serem informais e não possuírem critérios definidos.
O histórico político da Cooperativa Reviver, que se pauta no acesso a direitos e
emancipação através da geração de renda dos cooperados permite expressar uma visão crítica
sobre o Programa Estação de Reciclagem e reconhece a fragilidade da parceria com a Loja
Extra, que privilegia outra cooperativa da cidade de Indaiatuba em detrimento de Sorocaba.
De fato, a pesquisa revelou que o lixo específico da Loja Extra é encaminhado à uma
cooperativa da cidade de Indaiatuba e que apenas o lixo dos clientes é direcionado à
Cooperativa Reviver. Cabe esclarecer que o lixo da Loja Extra é em quantidade muito maior
que o lixo dos clientes. Daí o sentimento crítico da Cooperativa Reviver.
Esses aspectos relevantes apresentados mostram que as ações de RSAE da Loja Extra
Santa Rosália tem conotações de ações cosméticas ou greenwash ao privilegiarem o
marketing ou a propaganda corporativa em detrimento de programas efetivoss de
desenvolvimento social e ambiental na comunidade local e regional.
122
Cabe, contudo reconhecer que a par dessas conotações de marketing as ações de
RSAE da Loja Extra Hipermercado Santa Rosália de Sorocaba/SP vem significando para a
população de Sorocaba oportunidades de algumas melhorias locais nas áreas de educação,
cultura, assistência social e meio ambiente, e demonstrando a necessidade de consolidar a
RSAE que se encontra no início de uma longa caminhada de construção de uma cultura
organizacional empresarial verdadeiramente cidadã.
123
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante o processo de pesquisa e elaboração da presente Dissertação, procurou-se
compreender a trajetória das Ações de Responsabilidade Socioambiental Empresarial do
Varejo de Auto-Serviço na Loja Extra Hipermercado Santa Rosália de Sorocaba/SP do Grupo
Pão de Açúcar como possibilitadoras de melhorias locais no período de 2000-2009.
O Grupo Pão de Açúcar possui reconhecido pioneirismo e destaque quanto às Ações
de Responsabilidade Socioambiental Empresarial, ratificado por prêmios e certificações
obtidas de organismos nacionais e internacionais. No entanto, a pesquisa revelou uma
fragilização na efetivação das Ações de Responsabilidade Socioambiental Empresarial na
unidade de Sorocaba.
As Ações de Responsabilidade Socioambiental Empresarial da Loja Extra
Hipermercado Santa Rosália de Sorocaba/SP do Grupo Pão de Açúcar significaram uma
inovação no setor com possibilidades de disseminar hábitos saudáveis e melhoria da
qualidade de vida da população.
Contudo, o estudo revelou fragilidade face às características de descontinuidade e
fragmentação dessas ações com destaque à ausência de planejamento, monitoramento,
avaliação e participação de todos os envolvidos na efetivação compartilhada da
Responsabilidade Socioambiental Empresarial, o que compromete seu potencial de
consolidação da Responsabilidade Socioambiental Empresarial na Loja Extra Hipermercado
Santa Rosália.
A ausência de um departamento, de um orçamento e de uma equipe interdisciplinar
especificamente destinados ao desenvolvimento e execução das Ações de Responsabilidade
Socioambiental Empresarial na Loja Extra Hipermercado Santa Rosália de Sorocaba/SP
influenciaram no processo de implantação destas em âmbito local.
Os resultados da pesquisa revelaram ainda que as Ações de Responsabilidade
Socioambiental Empresarial empreendidas na Loja Extra Hipermercado Santa Rosália estão
principalmente focalizadas em uma estratégia de captação de clientes e marketing de varejo,
que não deve ser um fim, mas um meio, entre outros, para sua efetivação.
Entretanto, a utilização do espaço da loja é canal facilitador para disseminação de
informações de cunho educativo nas áreas de educação, cultura, assistência social e meio
124
ambiente, promovendo hábitos saudáveis e objetivando a melhoria da qualidade de vida da
população local.
Uma parceria formal e efetiva entre a Loja Extra Hipermercado Santa Rosália de
Sorocaba/SP e as ONGs e outras Associações e o Serviço Público de Sorocaba poderia
alicerçar resultados consistentes na perspectiva de consolidação das Ações de
Responsabilidade Socioambiental Empresarial.
Assim, o desafio maior que se apresenta a Loja Extra Hipermercado Santa Rosália de
Sorocaba/SP para a consolidação das ações de Responsabilidade Socioambiental Empresarial
repousa na necessidade de definição de uma política específica nessa área com a alocação dos
recursos humanos, materiais, tecnológicos e financeiros para sua viabilização.
Neste sentido, sugere-se aprofundar estudos neste setor de Varejo de Auto-Serviço no
Grupo Pão de Açúcar que contemplem o tema da Responsabilidade Socioambiental
Empresarial e analisem outras experiências em curso além da Loja Extra Hipermercado Santa
Rosália de Sorocaba/SP.
Em relação ao Serviço Social são também sugeridos outros estudos no setor de Varejo
de Auto-Serviço, como um novo campo de atuação profissional que se abre e que requer
debates, conhecimentos e elaborações teórico-metodológicas que o fundamentem no seu
processo de concretização e desenvolvimento.
125
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cal=1
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ZOGBI, Edson. Mantenha-se vivo na cabeça dos clientes. São Paulo: Profibboks, 2007).
YAZBEK, M C. A Fundação da Faculdade de Serviço Social: da influência franco-belga à
americana com a incorporação das teorias funcionalistas, dialogando com a profissão,
contextualizando-a no período de 1936-1950 – Texto produzido por ocasião da comemoração
de 70 anos do Serviço Social PUC 2006
138
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABRAS Associação Brasileira de Supermercados
ACIS Associação Comercial e Industrial de Sorocaba
ADCE Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas
APAS Associação Paulista de Supermercados
BPC Benefício de Prestação Continuada
CFESS Conselho Federal de Serviço Social
CIMI Conselho Indigenista Missionário
CLT Consolidação das Leis do Trabalho
FDC Fundação Dom Cabral
FPM Fundo de Participação dos Municípios
GIFE Grupo de Institutos fundações e Empresas
GPA Grupo Pão de Açúcar
GRI Global Reporting Initiative
IBASE Instituo Brasileiro de Análises Sociais
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
IOS Instituto Observatório Social
IPC Índice Potencial Consumo
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IPRS Índice Paulista de Responsabilidade Social
IPTU Imposto sobre a Propriedade predial e territorial urbana
IPVA Imposto sobre a Propriedade de Veículo Automotor
ISO International Organization for Standardization
ISS Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza
ITBI Imposto sobre a Transmissão Inter-Vivos de Bens e Direitos sobre Imóveis
MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
139
OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OGMs Organismos Geneticamente Modificados
ONG Organização Não Governamental
ONU Organização das Nações Unidas
OIT Organização Internacional do Trabalho
PAC Pesquisa Anual do Comércio
PBF Programa Bolsa Família
PIB Produto Interno Bruto
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PTI Parque Tecnológico Incentivado
RA Região Administrativa
RSAE Responsabilidade Socioambiental Empresarial
SAAE Serviço Autônomo de Água e Esgoto
SEADE Sistema Estadual de Análise de Dados
SEADS Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social
SEJUV Secretaria Municipal da Juventude de Sorocaba
SIS Instituto Sueco de Normalização
SUAS Sistema Único de Assistência Social
140
ANEXO I
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, _______________________________________________________portador (a) do
RG_________________________,declaro para os devidos fins de direito que concordo
com os dados que resultem da minha participação na pesquisa realizada por Selma Apa
-recida Leite de Andrade, na entrevista concedida, e que após apresentação da transcri_
ção da mesma , sejam utilizados para divulgação de trabalho científico (Dissertação de
Mestrado).
Sem mais, firmo o presente
___________________________________
Sorocaba, _____de______________de_____
141
ANEXO II
Municípios da região Administrativa de Sorocaba
www.al.sp.gov.br/web/forum/iprs06/.../iprs_RankingSorocaba.pdf
142
143
144
ANEXO III
EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL EMPRESARIAL NO
BRASIL 1945-2003
1945 com a “Conferência das Classes Produtoras” que decide criar um serviço
social em benefício dos trabalhadores destinando 5% da folha de pagamento para este
fim. Esta iniciativa irá resultar um ano mais tarde na criação através do Decreto Lei
9.853 do então Presidente Gaspar Dutra, do Serviço Social do Comércio SESC,
Serviço Nacional do Comércio SENAC, Serviço Social da indústria SESI e Serviço
Nacional da Indústria SENAI;
1960 quando empresários cristãos filiam-se à entidade internacional e criam a
Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas ADCE, cujos fundamentos de suas
práticas de responsabilidade e Balanço Social, seguem os princípios estabelecidos
pela Doutrina Social da Igreja;
1972 é criado o SEBRAE;
Em 1982, organizado pela Câmara Americana do Comércio, é lançado o Prêmio
Eco
1984 é o ano em que a empresa Nitrofértil, produtora de fertilizantes e atualmente
incorporada pela Petrobrás, publica seu Balanço Social, entendida como primeira
iniciativa neste sentido no país;
1986 ano em que a Fundação de Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social
FIDES
81
é instituída por empresários de são Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Minas
Gerais e rio Grande do Sul, como entidade privada de caráter educativo e cultural sem
fins lucrativos, visando a humanização das empresas e a sua integração com a
sociedade;
1992 é realizada na cidade do Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas para
o Meio Ambiente e Desenvolvimento CNUNAD, conhecida como Eco-92 ou Cúpula
81
Disponível em http://www.fides.org.br/ Acesso em 10/08/2009
145
da Terra que reuniu chefes de Estado para a discussão sobre a sustentabilidade que
resultou na produção da Agenda 21 assinada por 179 países
82
;
1993 é a vez de Herbert de Souza, conhecido como Betinho, com o apoio do
Pensamento Nacional das Bases Empresariais PNBE, lançar a “Ação da Cidadania
Contra a Fome, a Miséria e pela Vida” que terá repercussão em todo o território
nacional, lançando luz sobre a discussão da desigualdade de acessos;
1995 a Fundação Abrinq cria o Programa Empresa Amiga da Criança
83
, que
incentiva o investimento social privado em ações para a infância e adolescência que
coadunem com o Estatuto da Criança e do Adolescente ECA; também em 1995, em 16
de maio é constituído o Grupo de Institutos e Fundações de Empresas GIFE
84
que se
consolida como referência sobre investimento social privado;
1997 o IBASE, Comissão de Valore Mobiliários CVM e Sindicatos lançaram o
primeiro modelo de Balanço Social; neste mesmo ano a Deputada Federal Marta
Suplicy, Maria da Conceição Tavares e Sandra produzem o Projeto de Lei nº 3.116/97
sobre a obrigatoriedade do Balanço Social, este tema suscitará debates e dividirá as
opiniões, porém, sua prática não será compulsória;
1998 Oded Grajew é protagonista na fundação do Instituto Ethos de Empresas e
Responsabilidade Social, uma organização sem fins lucrativos que alcança
credibilidade dentro e fora do país disseminando a prática da R S E; no mesmo ano
acontece o lançamento do Sêlo Empresa Cidadã, através da resolução nº 05/98 da
Câmara Municipal de São Paulo, realizado a cada 2 anos;
1999 lançamento do Prêmio TOP SOCIAL criado pela Associação de Dirigentes de
Vendas e Marketing do Brasil ADVB, através do Instituto ADVB de Responsabilidade
Social IRES que reconhece publicamente programas e ações que incorporem o
conceito de Responsabilidade Social;
82
Disponível em http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/datas/ecologia/eco92.html Acesso em 10/08/2009
83
Disponível em http://www.fundabrinq.org.br/portal/alias__abrinq/lang__en/tabid__340/default.aspx Acesso
em 10/08/2009
84
Disponível em http://www.gife.org.br/ Acesso em 10/08/2009
146
2001 é criado o Fundo Ethical da ABN AMRO ou fundos com o conceito de
Investimentos Socialmente Responsáveis
85
, composto por empresas que possuam
políticas relacionadas ao meio ambiente, R S E e governança corporativa, que em
27/02/2009 apresentava um patrimônio líquido de R$ 265.558.804, 45 segundo dados
da ANBID.
2003 a Bolsa de Valores de São Paulo BOVESPA lança o Índice de
Sustentabilidade Empresarial ISE, com a missão de ser composto por empresas que se
destacaram em RSAE e sustentabilidade; as empresas serão escolhidas por um
Conselho Deliberativo formado pelo Bovespa, Associações, ONGs, Ministério do
Meio Ambiente e Comitê Brasileiro do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente PNUMA que irá classificar no máximo 40 empresas considerando seu
relacionamento com empregados e fornecedores; relacionamento com a comunidade;
governança corporativa e impacto ambiental de suas atividades, com revisão anual.;
ainda em 2003, o Centro de Excelência em Varejo da Escola de Administração de
Empresas de são Paulo da Fundação Getúlio Vargas, lança através do Programa de
Responsabilidade Social no Varejo
86
, o Prêmio de Responsabilidade Social no Varejo,
que reconhece neste setor a vocação de transformador social por seu contato direto
com o consumidor, na capilaridade territorial e amplo leque de relações em sua cadeia
produtiva.
85
Em 1999 foi lançado o Dow Jones Sustainability Index DJSI índice internacional da Bolsa de Nova Iorque que representa o valor de um
grupo de empresas consideradas sustentáveis. Disponível em
http://www.bovespa.com.br/Mercado/RendaVariavel/Indices/FormConsultaApresentacaoP.asp?Indice=ISE
Acesso em 10/08/2009
86
Disponível em http://www.fgv.br/cev/rsnovarejo/premio_5.htm Acesso em 10/08/2009
147
ANEXO IV
CF/88 CAPÍTULO VI DO MEIO AMBIENTE
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, em de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I – Preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas;
II – Preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
III – Definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade;
V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas , métodos e
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os
animais a crueldade;
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio
ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público
competente, na forma da lei.
148
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoa físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
§ 4º - A Floresta Amazônica Brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal
Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á,
na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente,
inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
§ 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadas pelos Estados, por ações
discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida
em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas (BRASIL, 2002)
87
87
BRASIL. Constituição (1988). Constituição Federal: Coletânea de Legislação de Direito Ambiental, São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002
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