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pouco se manifestaram sobre as peças marinhas, como as chamou Mauro Mota que nela
soube observar o que lhe era peculiar: sua linguagem.
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Evidente que para os que faziam o Teatro Popular do Nordeste (TPN), a Dramática
de Luiz Marinho estava distante demais do que haviam presumido ser o “teatro
nordestino”, e uma das condições estabelecidas era ser este teatro, um teatro fiel à
teatralidade, logo, “antiilusionista”. Pelos cânones estabelecidos pelo grupo tepenístico, a
priori, o teatro de Luiz Marinho não existiria. Ou não tinha qualidade artística para
ombrear-se com aquele grupo que produzia peças com um Manifesto
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([1961] 1980: 64-
65) na mão, não conseguindo vislumbrar que muito do que se propunha como ideário
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Numa das poucas vezes que Hermilo Borba Filho (1968:133-135), em nível nacional, faz menção a
Marinho é num artigo publicado pela Revista Civilização Brasileira, no qual retoma as idéias do Teatro do
Estudante de Pernambuco que ressoaram no Teatro Popular do Nordeste: a construção de um “teatro popular
nordestino”, no qual incluem, como já sabemos “os trágicos gregos, o elisabetano, a tragédia francesa, o
mundo de Molière e Gil Vicente, o século de ouro espanhol, o teatro de Goldoni, o drama romântico francês,
Goethe e Schiller”, mas também “Antônio José, Martins Pena e todos aqueles que no Brasil e principalmente
no Nordeste vêm procurando e realizando um teatro dentro da seiva popular coletiva, como além dos já
citados [Ariano Suassuna, José de Moraes Pinho, Aristóteles Soares, José Carlos Cavalcanti Borges] , Sylvio
Rabello, Osman Lins e Luiz Marinho”. Porém, antes desta menção, por duas vezes Hermilo Borba Filho
referiu-se a Luiz Marinho e, por coincidência, sempre a classificar sua dramaturgia, como sendo “teatro de
costumes”. A primeira menção dá-se em 1965, quando os dois autores foram laureados pela Academia
Pernambucana de Letras. Em seu discurso, Borba Filho inicia agradecendo ao público que se fazia presente à
solenidade e à entidade doadora dos prêmios [Othon Bezerra de Mello] concedidos a ele e a Luiz Marinho, e
depois: “Faço, portanto, de início, o agradecimento à Academia Pernambucana de Letras. Não sei o que diria
o meu colega beneficiado nesta ocasião. Dele, porém, posso dizer que é um dramaturgo honesto, trabalhador,
entregando-se com entusiasmo ao seu teatro de costumes, com os tipos e usos de sua cidade de Timbaúba.
Nisto somos idênticos: ambos escritores do interior e, o que é mais, da zona-da-mata”. (BORBA FILHO
1965:103). Provavelmente em 1967, numa revista paraguaia publica um artigo denominado “Sobre el teatro
del nordeste brasileño” em que traça um breve panorama da literatura e do teatro no Nordeste, com ênfase no
Romance de 30 e no Teatro do Estudante de Pernambuco, que renovou o teatro nordestino e nele surgiu o seu
mais importante dramaturgo: Ariano Suassuna. Depois de elencar os grupos mais atuantes como o Teatro
Adolescente, o Teatro de Amadores de Pernambuco, o Teatro Universitário e o Teatro de Arena constata que
nenhum deles preocupou-se como o TEP se preocupara com “el fijación del autor nacional y de los asuntos
de la región” (“a fixação do autor nacional e dos assuntos da região”). Em seguida, finaliza: “Recientemente
en la década del 60, el Teatro de Cultura Popular revela un autor de costumbres importante: Luiz Marinho,
dueño de un lenguaje poderoso, presentando una galería de tipos importantes, y principalmente, explorando
los temas conocidos del pueblo, aunque recreados. Sus obras más importantes son: La excelencia y Un
sábado en treinta”. (“Recentemente, na década de 60, o Teatro de Cultura Popular revela um importante
autor de costumes: Luiz Marinho, dono de uma poderosa linguagem, apresenta uma galeria de tipos
importantes e, principalmente, explora temas conhecidos do povo, embora recriados. Suas mais importantes
obras são A incelença e Um sábado em 30”). BORBA FILHO (1967?:7). Mas também encontramos uma
referência a Luiz Marinho, numa entrevista concedida por Ariano Suassuna: “PERGUNTA - Existe um teatro
nordestino? / RESPOSTA – Creio que sim. Senão de onde viria seu interesse em me entrevistar a mim, autor
nordestino? Hermilo Borba Filho, Luiz Marinho, Isaac Gondim Filho, José Carlos Cavalcanti Borges, Osman
Lins e Aristóteles Soares são excelentes autores”. (ARIANO 1966:s.p.). (Devemos a Luís Augusto da Veiga
Pessoa Reis as declarações de Hermilo Borba Filho, feitas em 1965 e 1967(?), a quem agradecemos).
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O Teatro Popular do Nordeste foi fundado em 1960, mas apenas em 1961 apresenta seu primeiro
espetáculo e seu Manifesto, redigido por Ariano Suassuna conforme depoimento em: BACCARELLI,
Milton (1994:35), no qual esclarece: “Esse Manifesto do TPN tem sido dado como feito por Hermilo, mas
não o foi. Quem fez o Manifesto do TPN fui eu, o Manifesto que foi lançado quando da estréia do Teatro
Popular do Nordeste”. Nosso texto parafraseia o Manifesto, usando de suas palavras, para atestar o quanto
Marinho estava em sintonia com aquele grupo, que nunca o encenou. Está em itálico, como grifo nosso. Cf.
MANIFESTO do Teatro Popular do Nordeste ([1961] 1980:64-65).