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fato, já constatado em estudos realizados por Santos (2000), afirma-se na explicação de que a
doença possibilitou a existência de mais tempo para cuidarem de si e de suas famílias, como é
observado nos relatos abaixo:
“Alguma coisa mudou sim. Antes a minha vida era só trabalhar.
Para sair era a coisa mais difícil... ir em festa.. sair para passear,
chegar final de ano, arrumar as coisas para viajar, então isso aí,
minha vida era corrida, eu não tinha tempo para essas coisas...
então era mais trabalho. Hoje não, hoje eu não sei se é porque eu
fico mais dentro de casa, a gente sai, vai na casa de amigos nossos,
é.. viaja, final de ano a gente viajou, então muda um pouco, você tem
tempo para fazer essas coisas, coisa que a gente não tinha né. Não
tinha tempo. Agora tem tempo, pra gente sair....” (E3)
“Antes eu não tinha tempo para poder enxergar isso, porque a minha
vida era intensa no trabalho, como eu falei, então eu não tinha esse
tempo para a minha família. O tempo que eu tinha era o fim de
semana e no fim de semana você faz o que? É lazer, você quer levar
sua família no parque, você que ir à praia, você quer ir numa
churrascaria, numa pizzaria, você quer passear com sua família, que
às vezes o problema em si, que às vezes tá dentro de sua casa, você
não percebe, problema psicológico que existia dentro de casa,
alguma coisa que acontecia, na escola, ou algum problema que o ..
(esposo) pudesse resolver né, eu não tava sabendo. E agora não, com
o derrame, eu pude participar mais, nesse aspecto, né? O ponto
positivo é esse, pelo fato de eu ter mais tempo pra minha família,
embora não ativamente como eu era antes, mas assim, de uma forma
presente foi bom” (E1).
Cavallari; Zacharais (1998) salientam que, para ocupação do tempo livre, no
qual está o lazer, é necessário que haja uma predisposição ou estado de espírito favorável ao
lúdico, como o que leva uma pessoa a buscar diversão, entretenimento e passatempo. Os
autores ainda refletem que, dentro do tempo livre, as pessoas podem-se dedicar às chamadas
“obrigações sociais”, que são aquelas atividades que somos impelidos a fazer, mesmo que não
sejam de lazer, como compras cotidianas, uma visita de conveniência.
Aprofundando um pouco mais essa questão, Queiroz e Trinca (1983) afirmam
que, tendo-se como objetivo a contribuição para o desenvolvimento pessoal, é importante
para o ser humano ter um lazer mais ativo do que passivo, o que inclui o trabalho e atividade
física e mental. A partir desta premissa, o lazer é intrinsecamente motivado e auto-regulado
pelas mulheres entrevistadas e, dessa forma, contribui para que as mesmas se sintam no
controle de sua própria vida.