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elas ditam a moda, o comportamento e a “realidade” atual. Da mesma
forma podemos citar os programas infantis que ditam regras e modas às
crianças, o melhor jogo, a ideal roupa, o brinquedo mais legal e até
mesmo a melhor forma de se expressar. Entretanto, é importante
ressaltar que essa alteração comportamental real em grande parte é
sazonal e ocorre apenas no período em que a novela está sendo
veiculada.
Este raciocínio é reforçado inclusive na relação cultural entre a
elite
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e a massa
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. É interessante verificar que a elite, que crítica a
cultura da massa, utiliza este formato para proferir o seu discurso de
dominação. E em contrapartida propõe a idéia de televisão cultural
como fórmula intelectual para a sua própria massificação.
Isso quer dizer, na verdade, que a televisão faz parte do cotidiano
da sociedade, reescrevendo, narrando, produzindo, persuadindo e
noticiando um universo de sensações que integram e interagem a partir
da própria experiência cotidiana da audiência e vice-versa.
Esse universo co-produzido pela TV pode ser interpretado como
um mundo paralelo ao mundo real que por meio de manifestações
concretas das necessidades e desejos sociais funcionam como espelho
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O conceito de elite está diretamentamente ligado "[...] a influência de duas características marcantes desse
grupo localizado no topo da pirâmide social: a idéia de que os melhores pertencem à elite e de que ela não é
aberta a qualquer pessoa. Nesse caso, as elites promovem barreiras à entrada de neófitos de acordo com a
sua respectiva permeabilidade. Por exemplo, na França dificilmente um egresso que não seja de uma Grande
École consegue entrar num setor de elite. Em contrapartida, existem sistemas de financiamento, como nos
Estados Unidos, para aqueles que não têm condições de pagar os seus estudos em uma universidade de elite
(Barros, 1977)". Portanto, "[...] a que a elite brasileira é majoritariamente branca, metade dela é migrante,
tem apenas um emprego no setor privado e insere-se de maneira precoce no mercado de trabalho (...) Este
perfil não se repete com os seus pais, que apresentam um perfil educacional bem heterogêneo". FERREIRA,
Marcelo Costa. PERMEÁVEL, MA NON TROPPO? A mobilidade social em setores de elite, Brasil.
In:Revista
Brasileira de Ciências Sociais.
vol.16 no.47 São Paulo, Oct. 2001. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69092001000300009>. Acesso em
06/07/2006.
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Apesar de nos dias atuais ser um conceito dos mais amplos, ora utiliza-se o termo cultura de massa como
toda e qualquer expressão cultural, geralmente ideológica, produzida para as massas, sem considerar as
diferenças sociais, étnicas, etárias, sexuais ou psicológicas, que é propagada pelos diversos veículos de
comunicação massiva. Este termo é utilizado por diversos autores de acordo com suas linhas teóricas. No
campo da Comunicação seu crítico mais mordaz foi Adorno, o qual, em "Dialética do Iluminismo"
(1947), desenvolveu o conceito de “indústria cultural” a fim de substituir cultura de massa, tendo em vista
que esta era utilizada por seus defensores como uma cultura nascida espontaneamente das próprias massas
e não como ele define, uma cultura imposta de cima para baixo gerando consumidores indefesos.