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Presença
suave para um estilo de vida que os americanos tão bem definem
na expressão intraduzível: gracious living.
Sacha Rubin, que começou a estudar música na primeira
infância, aos 17 anos já era profissional. Pianista romântico, seu
estilo encantou Viena, Zurique, Carlsbad, Baden-Baden,
Chamoniz, Saint-Moritz, Budapeste, Cairo, Alexandria, Beirute,
Damasco, Bagdá, Istambul, Ancara, Londres e, provavelmente,
todos os outros nomes do mapa, se não tivesse vindo de Londres
para o Rio, onde fixou-se para sempre. Recentemente fui com o
Bernard Campos ouvi-lo em Petrópolis, no restaurante Le Moulin.
Foi uma noite de saudade e nostalgia. Na melhor forma de ontem,
de hoje, de sempre, seus dedos eternos, brincando com as teclas,
tocaram para nosso enlevo doces noturnos de Chopin.
E, antes que esmoreça a noite e se anuncie o raiar do dia,
preciso recordar meus tumultuados amores com Teda Diamant.
Não me lembro mais em que madrugada nossos caminhos se
cruzaram, se foi no Vogue, no Sacha’s ou, mais provavelmente, no
verdadeiro e supremo templo da boemia que era a boate do Assírio.
Sei apenas que me encantei com a sua beleza loura, com o sonoro
nome francês a encobrir o sangue quente italiano. Me encantei
tanto, me envolvi tanto, que comecei a cobri-la de presentes: flores,
bombons, perfumes, e até jóias. O escritório de advocacia do João
Neves da Fontoura, com o qual eu colaborava, terminara a
liquidação do Banco Pelotense de Minas Gerais e eu entrara num
bom dinheiro, como pagamento dos meus serviços. Sentia-me rico
e agia como tal. Eis senão quando, estava eu, uma tarde, conversando
no Amarelinho da Avenida Rio Branco numa roda de amigos, e
um homem se aproximava e nos oferecia para comprar uma placa